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sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

O HOMO SAPIENS E A RELIGIÃO ..





                  Quando o homem descobriu a morte sentiu medo, mas também esperança. Ele percebe que é finito, mas não se conforma e busca uma solução que possa garantir-lhe a eternidade. Era o medo pelos acontecimentos cósmicos que poderiam por fim à sua vida. A expectativa era pouco mais de 20 anos.  Já nessa fase evolutiva ele passou a procurar uma maneira de contornar tudo o que originava seu pavor, e buscou ajuda nos sinais celestes onde, imaginariamente, encontrou deuses que controlavam tudo na terra. 
                  Estava formada a base para o surgimento de crenças e religiões, cujos pilares têm sua sustentação, não na ciência, mas na fé. Esse medo da morte fez surgir as mais estranhas crenças religiosas pelo mundo todo.
                   A vida em sociedade é feita de regras e leis; e quando os seres humanos passaram a viver em tribos, ou seja, em sociedade surgiu a necessidade de uma organização com leis e normas para garantir a ordem e o respeito entre seus membros.
               Quando o rei Hamurábi (1750 ou talvez 1730 x 1665 a.C.) criador do Império Babilônico, criou as primeiras leis de que se tem notícia. Seu "Código de Hamurábi" é uma das leis mais antigas da humanidade e está gravado em uma estela cilíndrica de diorito, descoberta em Susa e conservada no Museu do Louvre. Foram leis feitas para proteger a propriedade, a família, o trabalho e a vida humana. 
                 Mas não são apenas as leis criadas pela sociedade que garantem uma convivência harmoniosa.  Existem leis que são regidas pela natureza e também pelos acontecimentos do dia-a-dia. 
                 Contudo, as leis humanas não são instrumentos capazes de garantir a ordem num mundo tão complexo e com tanta diversidade. O homem sempre teve uma natureza rebelde e só respeita a lei por temor, e assim, para complementar estas leis civis, surgiram as leis divinas que garantem que a justiça será feita por um poder superior que nunca pode ser enganado. As religiões criaram suas leis para doutrinar os povos e orientá-los a não cometer crimes (pecados), incutindo em seus membros que, mesmo crimes não conhecidos serão punidos por Deus. Dessa forma ficou muito mais fácil manter sob controle a crescente massa humana, cuja expansão demográfica não podia ser ordenada apenas pelas frágeis leis que só atingem crimes conhecidos. Com as leis divinas descritas por "sábios" nos livros sagrados, o homem passou a respeitar as ordens supostamente vindas de um poder supremo, que lhe garante saúde, paz e prosperidade. 
                  Para o homem simples é mais fácil acreditar no sagrado do que compreendê-lo. Ele procura passar a responsabilidade para outro e é por isso que sempre diz: "foi Deus que quis assim".  Bem poucos são os que conseguem reunir os conhecimentos necessários que lhes permitam ver mais longe e assim o cárcere que os aprisionam a convicções e superstições continuam até nossos dias. É mais cômodo esperar a recompensa de uma vida melhor após a morte, mas para isso é necessário obedecer as  leis divinas. 
                  Os babilônios não se interessavam por literatura; seus escritos eram um instrumento para facilitar os negócios. Apesar disso, foram encontrados fábulas em versos, hinos divididos em linhas e estâncias; uns tantos versos profanos, rituais religiosos que pressagiavam o drama, embora não dessem importância a eles. Mas não podemos julgar uma civilização pelos simples fragmentos que se salvaram do naufrágio do tempo. Esses fragmentos são sobretudo litúrgicos, mágicos e comerciais. Seja por acidente, seja por pobreza cultural, a Babilônia, bem como  a Assíria e a Pérsia, pouco nos legaram em literatura, em comparação com o Egito e a Palestina. 
                  Os sumérios e babilônios, povos mesopotâmicos , têm sua fé preservada em obras literárias como os poemas de Gilgamesh e Enuma Elis; nelas a criação é representada em um processo de procriação, em que os deuses seriam elementos naturais que formam o universo. 
                   A serpente era dorada por muitos povos como símbolo da imortalidade, por causa do seu aparente poder de escapar á morte com a mudança da pele. 
                   Os sumérios adoraram uma deusa mitológica chamada Ishtar; era deusa dos acádios ou Namu, dos antecessores sumérios, cognata da deusa dos filisteus, de Ísis dos egípcios e da Astarte dos fenícios. Quando passou a ser parte da mitologia nórdica ficou conhecida como a deusa do amor e seu nome era Easter.
                   O culto aos deuses, ainda hoje, sempre é feito por rituais. No caso de Ishtar (deusa do amor), muitos rituais tinham caráter orgiástico porque ela  representava a deusa da fertilidade.
                 Na China, em muitos lugares, ainda se acredita que  a entidade mítica Pan Gu deu origem a todas as coisas. Para eles, no começo não havia nada; depois de longas eras o nada se transformou em uma unidade que ao longo do tempo se dividiu em duas partes: feminina e masculina para unidas darem origem à vida. 
                A mitologia Hindu descreve que tudo era caótico e escuro. Nos versos do  livro sagrado Rig Veda, temos a seguinte descrição: "No começo não havia existência; não havia atmosfera, céus e reinos celestiais; não havia nada além de Deus."  Para o Hindus o mundo está sempre sendo recriado e o deus Brahma é o grande criador e tudo se dá a partir de um "ovo dourado". Vishnu preserva e Shiva destrói tudo para que o círculo recomece. 
                   Para os Incas a criação do universo envolve vários mitos. A maior parte desses mitos estão vinculados ao seu deus criador Viracocha.
                    Para os Maias o processo de criação do mundo estava sujeito a um cadeia cíclica de eras cósmicas de criação e destruição do Universo dando origem ao mundo e ao homem atual. 
               Na mitologia nórdica a criação do mundo também tem início com o nada. Segundo ela, do caos foram criadas duas regiões distintas. A região sul, repleta de luz e calor que era governada pelo fogo cósmico, e a região norte que era dominada pelas trevas e governada pelo gelo cósmico. 
              Os gregos tem vários mitos sobre a criação do mundo, mas o mais conhecido e considerado o mais didático é o descrito em Teogonia, de Hesíodo. Segundo ele, no princípio só havia o Caos (o Universo). Dele surgiu Gaia (Terra) e outros seres primordiais e divinos, com Eros (atração, amor) e Tártaro (mundo inferior). Do Caos também nasceram Érebo (escuridão) e Nix ( a noite). Da Noite nasceram Hemera (o dia) e Éter (o ar). Gaia, sem interferência de um ser masculino, deu à luz a Urano (o céu) que em seguida fertilizou. Da união do Céu e Gaia nasceram os Titãs, formados por seis homens e seis mulheres (Oceano, Céus, Créosim, Hiperião, Theia, Reia, Têmis, Mnemosine, Febe, Tétis e Cronos. 
                 Os egípcios possuíam diversos mitos. Em seu panteão, cerca de dez deuses são associados à criação do mundo. Conta-se que antes existia apenas Trevas e a água primordial (Nun), semelhante ao Rio Nilo, que continha todas as sementes da vida. A partir de Nun surgiu Atun, que teve um casal de gêmeos. O filho Chu representava o ar seco, enquanto a filha Tefnut representava o ar úmido. Os dois uniram-se e separaram o céu das águas e criaram Gebv, a terra seca, e Nut, o céu. 
                  Apesar da aparente ingenuidade ou fantasia de muitas dessas explicações, elas contém valores de sociedades de diversas culturas. A Filosofia, a Tecnologia e a própria história tem muito de seus fundamentos nessas lendas e mitos. 
               Para os judeus e cristãos o mundo foi criado por um Deus em seis dias.  O livro sagrado dos judeus , o Torá, assim como a Bíblia dos cristãos nos versículos 1 a 19 do primeiro capítulo do livro Gênesis, nos relata a criação dos céus e da Terra. Javé, o único e onipotente Deus, teria criado o mundo em seis dias e descansado no sétimo. 
                    O estudo do fenômeno religioso, comum aos povos, sempre teve grande influência na evolução da sociedade humana, assumindo aspectos e praticas diferentes segundo as diversas civilizações. 
              A guerra e o desenvolvimento das navegações pelo mundo, exerceram grande influência sobre as religiões. Essa nova possibilidade de contato entre povos permitiu a influência sobre a vida e também sobre as crenças religiosas de todos. 
                A ciência, a partir de então, também teve enorme influência dos egípcios; dela se ocuparam apenas os "livros sagrados", que além dos dogmas e cerimônias da religião, continham conhecimentos acerca do sistema do mundo, da geografia, do Sol e das estrelas. Em tudo intervinha a magia; isso produziu uma enorme regressão, não só no Egito, mas em todo o mundo que hoje conhecemos como "civilizado". As lendas falam de homens piedosos e sábios, que eram grandes feiticeiros e autores de textos mágicos com palavras de deuses. Especialmente no cristianismo fala-se muito na palavra de Deus e isso vem influenciando a permanência de superstições até nossos dias. 
                 O cristianismo é uma religião muito recente, mas hoje domina a maior parte do mundo civilizado. Foi criado e idealizado na Judeia, região habitada pelo povo semita, buscando informações nas lendas e mitos de crenças antigas. Grande parte delas foram criadas a partir das lendas egípcias. O povo semita  foi um grupo étnico que disputava com os sumérios as regiões mais férteis da Mesopotâmia e impunha novos sistemas de vida e de pensamento filosófico. Embora o cristianismo não tenha sido criado por Jesus Cristo, ele é o centro de toda a fé cristã. Essa religião teve seu grande crescimento e poder graças ao Imperador  Romano Constantino. Com a queda do Império essa religião passou a ser a principal herdeira do poder romano, tornando-se a mais poderosa e hoje é  multinacional e tornou-se uma das maiores empresas financeira do mundo. Ela investe na indústria do petróleo, de produtos farmacêuticos especulativos e até na lucrativa indústria armamentista, como também nos negócios da Máfia italiana. Mas sua grande sustentação ainda é a fé de seus fiéis que continuam contribuindo com dízimos pelo mundo todo. 
                 Na evolução da espécie, o homem aos poucos vai tomando consciência da dependência mútua pela qual as influências circulam entre o universo e o corpo humano. Tentando a todo o momento intensificar a vida, experimenta o encontro com seu interior, como uma vida de maior profundidade e riqueza. 
               O começo, tanto do tempo como da criação, permanece no centro e a partir deste ponto irradiam manifestações em círculos concêntricos.  Essa experiência universal encontrou sua expansão através de incontáveis danças e ritos religiosos celebrando as mais diversas tradições sagradas de toda a Terra. 
               O espaço sagrado facilita a orientação do devoto no tempo e no espaço cósmico, enquanto proporciona o marco central no "Axis Mundi" ou centro do mundo, para o culto que transforma o caos em cosmos e torna possível a vida. 
                O homem sente-se como medida de todas as coisas e no encontro consigo mesmo, busca a revelação divina que nele adquire forma e cor. Vendo seu copro como instrumento para encontro com o deus, segue as regras ditadas pelos "pseudos sábios" que considera em estágio superior de evolução que lhes orienta e dá direito a um contado direto com o divino. 
                  A anatomia humana, com seus seis pontos de orientação no  espaço, dispõem de um sétimo ponto, invisível, onde se cruzam os eixos, o centro no homem, - lugar do coração - que serve de campo de batalha para as duas forças da vida: o bem e o mal. Através de rituais, o homem atinge um estado que o torna útil em sua tarefa de vida, o que implica na morte para posterior ressurreição num estágio superior de bem estar e bem servir ao "poderoso do universo". O tema da morte como vida discorre como um fio através da história das tradições sagradas em todas as partes da terra. O núcleo de todos os cultos está no grande ciclo da vida, do nascimento à morte. A morte seguida da vida aparece como transformação de uma força indestrutível e única. A ideia fundamental é que a morte é a fonte de uma nova vida que consiste na ressurreição da matéria. Em termos religiosos isto significa o auto-sacrifício periódico em vista de uma vida superior. Até nos documentos do cristianismo o apóstolo Paulo teria dito: "Se semear um corpo natural, surge um corpo espiritual". 
                    Em todas as crenças o criador é encarado como Deus que dita os princípios da ordem e justiça. No mundo cristão, o mal surge exclusivamente do mundo criado, finito, o qual se submete à justiça divina. A obediência e sacrifício constituem elementos fundamentais das religiões com expressão total ao divino. A viajem tortuosa dos mortos é consequência primordial para a entrada no mundo superior. 
                  Na sociedades matriarcais venerava-se o feminino sob a forma de grande deusa, cujo corpo, em matéria tecida pelo tempo, dava continuidade ao universo inteiro. Era o símbolo de todos os processos de transformação, pois nele se uniram a terra, a água, o ar e o fogo. As ocasiões do nascimento, matrimônio (união sexual) e da morte eram consagrados e celebrados em sua honra. O fato da mulher ter o poder de criar uma vida em seu ventre sempre incomodou os lideres da religião católica; por essa razão sempre a consideraram impura. A própria Maria mãe de Jesus só passou a ser venerada recentemente e mesmo assim na forma de virgem para não ser considerada impura. 
                  Durante muitos século acreditou-se que o homem era produto do sobre-natural e que a maioria dos animais tinham origem na geração espontânea. Aos poucos foi-se comprovando que, numa ordem de dimensões crescentes, cada ser vivo tem seus próprios progenitores. A ideia de que a vida tem como base o sobre-natural faz parte de quase todas as religiões e é defendida em todos os movimentos idealistas. Mas essa é mais uma forma de garantir poder e arrecadar dinheiro dos fiéis. 
              O problema da origem da vida ocupa um lugar central em todas as perguntas biológicas e filosóficas. Esta questão é de fundamental importância quando se fala da vida extra-terrestre. São inúmeras as teorias que tentam explicar esta origem, mas podemos sintetizar em três: 
  1. A vida não pode ser descrita em termos físicos e nem químicos, pois seria de origem sobre-natural;
  2. A vida teria origem na geração espontânea e a partir da matéria inerte, podendo surgir em qualquer lugar onda haja combinações químicas que permitem sua existência; 
  3. A vida seria eterna, assim como a matéria. Nessa condição, ela teria surgido de uma espécie de combinações químicas progressivas.
                    A vida é um poder invisível, mas todos sabem que existe e é real. Não se pode confundir corpo com vida. Não haverá dificuldade de entender nossa origem e nosso destino se aceitarmos o fato de que somos simples energia em constante transformação. Portanto, somos parte da mente cósmica universal que sempre foi e sempre será vida. 

                    O Cristianismo e Jesus de Nazaré - histórico
                    Na Palestina havia uns dois e meio milhões de criaturas, das quais talvez 100 mil em jerusalém. A maioria falava o aramaico; os sacerdotes e sábios conheciam o Hebreu; os funcionários e estrangeiros, bem como a maior parte dos autores, usavam o grego. O povo compunha-se sobretudo de camponeses que lavravam a terra, cuidavam dos pomares, dos vinhedos e do gado. 
                   No tempo de Jesus a Palestina chegou a exportar um pouco de trigo; suas tâmaras, seu vinho e seu óleo, eram encontrados em todo o Mediterrâneo. 
                   A religião para os judeus era a fonte da lei, do Estado e a grande esperança de todos; deixá-la dessoar-se na onda do helenismo seria, na opinião deles, o suicídio nacional. Daí o ódio mútuo entre judeus e pagãos, sentimento que conservou o pequenino país numa perpétua luta racial e política. Ademais os judeus da Judeia desprezavam os galileus com gente atrasada, como os galileus desprezavam os da Judeia como escravos manietados na tela da Lei. E havia também o perpétuo atrito entre judeus e samaritanos; diziam estes que o monte de Gerizim, não o de Sião, fora escolhido por Jeová para sua morada, e repudiavam todas as Escrituras, exceto o Pentateuco. Mas as várias facções concordavam num ponto - em odiar o poder de Roma, que fazia pagar um preço muito pesado pela paz à força. Aguardavam a vinda de um Messias que estabelecesse na terra o comunismo igualitário do Reino do Céu (Malchuth Shamayim), no qual só entrassem os homens de vida perfeita.
                   Saduceus, fariseus e essênios eram, uma geração antes de Cristo, as principais seitas da Judeia. Os escribas (hakamin - cultos), que Jesus frequentemente ligava aos fariseus, não constituíam uma seita e sim uma profissão; eram homens instruídos na lei, que sobre ela prelecionavam nas sinagogas, que a ensinavam nas escolas, que a debatiam em público ou em particular e a aplicavam no julgamento de casos específicos. Alguns entre eles eram sacerdotes, em número maior saduceus e em grande maioria fariseus; correspondiam nos dois séculos anteriores a Hillel ao que os rabinos passaram a ser depois deles. Os verdadeiros iurisprudentes (juristas) da Judeia, cujas opiniões legais, selecionadas pelo tempo e transmitidas verbalmente de professores a discípulos, tornavam-se parte daquela tradição oral que os fariseus honravam conjuntamente com a Lei escrita. Sob a influência dos escribas o Código de Moisés desdobrou-se em mil preceitos minuciosos, designados a atender a todas as circunstâncias. Nenhum povo na história jamais lutou tanto pela liberdade e contra tantas dificuldades como o judeu. De Judas Macabeu a Simeão Bar Cocheba, e ainda nos tempos de hoje, a luta dos judeus pela reconquista da liberdade muitas vezes os dizimou, mas nunca lhes quebrou o ânimo nem lhes matou as esperanças. 
                    Existiu Cristo realmente? Não será a história daquele, que muitos consideram o criador do cristianismo, um produto da ficção, da imaginação e da esperança humana - um mito comparável às lendas de Krishna, Osíris, Atis, Adônis, Dionísio e Mitras?  
                  O que a história tem provado é que nenhuma religião tem duração eterna. Hoje o Cristianismo continua em evidência. Mas ele existe há dois mil anos devido ao fato do imperador romano Constantino tê-la imposta como a religião oficial do império. Com a queda do Império Romano, os papas assumiram a liderança e continuaram impondo a religião pela espada por todo o mundo conhecido da época. Criaram uma organização administrativa e um sistema muito inteligente de arrecadação de seus fieis que hoje está em muitos lugares. Dessa forma o paganismo foi pouco-a-pouco sendo substituído pela nova religião. No início os papas dominavam toda a Itália, mas hoje estão confinados ao Vaticano. Até quando, ninguém sabe. O que fica bem evidente é sua contínua decadência.
                No início do século XVIII a roda de Bolingbrook , chocando ao próprio Voltaire, discutia na intimidade  e hipótese da não existência histórica de Jesus. Volney revelou a mesma dúvida nas Ruínas do Império Romano, em 1791. E encontrando-se em 1808 com o sábio Wieland, Napoleão, em vez de assuntos de guerra e da política, perguntou-lhe se acreditava na historicidade de Cristo. 
                     Uma das atividades do espírito moderno de maior projeção foi a "Alta Critica" da Bíblia - o impetuoso ataque à autenticidade e veracidade desse livro, ao qual se opôs a heroica tentativa de salvar os fundamentos históricos da fé cristã; os resultados podem, com o tempo, mostrar-se ainda mais revolucionários que o próprio Cristianismo. O primeiro assalto nessa guerra de duzentos anos operou-se em silêncio; por ocasião de sua morte em 1768 foi encontrado nos papéis de Hermann Reimarus, professor de línguas orientais em Hamburgo, um manuscrito de 1400 páginas sobre a vida de Cristo. Seis anos mais tarde Gotthold-Lessing, apesar do protesto de seus amigos, publicou trechos dessa obra no Wolfenbittel Fragments. Reinarus arguía que Jesus não pode ser considerado como fundador do Cristianismo, pois é apenas a figura final e dominante da escatologia mística dos Judeus, isto é, Cristo não pensou em estabeleceu um novo credo, mas em preparar os homens para a iminente destruição do mundo e o julgamento final de todas as almas. Em 1796 Herder assinalou as irreconciliáveis diferenças entre o Cristo de mateus, Marcos e Lucas e o Cristo do Evangelho de São João. Em 1828 Heinrich Paulus, resumindo a vida de Jesus em 1.192 páginas, propôs uma interpretação racionalista dos milagres - isto é, aceitá-los como ocorridos, mas produzidos por causas e forças naturais. No seu livro Vida de Jesus que fez época (1835 x 1836), David Strauss rejeitou essa proposta; os elementos sobrenaturais dos evangelhos, dizia ele, devem ser classificados como mitos, e a verdadeira vida de Jesus tem que ser reconstruída sem, de nenhuma forma, recorrer a esses elementos. Os maciços volumes de Strauss fizeram da crítica da Bíblia o núcleo central do pensamento germânico por uma geração. No mesmo ano Ferdinand Christian Baur atacou as Epístolas de Paulo, rejeitando-as como falsas, com exceção das que falam dos gálatas, corintos e romanos.  Em 1840 Bruno Bauer deu começo e uma série de obras apaixonadamente críticas , tendentes a mostrar que Jesus era um mito, forma personalizada de um culto que no século II emergiu da fusão das teologias judaicas, romana e grega. Em  1863 a Vida de Jesus de Ernest Renan alarmou milhões de pessoas com seu racionalismo e encantou outros milhões com a sua prosa; Renan reunia os resultados da crítica alemã e punha o problema dos evangelhos diante dos olhos de todo o mundo educado. A escola francesa atingiu o seu clímax no fim do século, quando o padre Loisy submeteu o Novo Testamento a tão rigorosa análise que a igreja Católica se sentiu compelida a excomungá-lo - a ele e outros "modernistas". Nessa ocasião a escola holandesa de Pierson, Naber e Matthas levou o movimento às extremas com a laboriosa negação da realidade histórica de Jesus. Na Alemanha Arthus Drews deu a esta negação a sua forma definitiva; e na Inglaterra W.B. Smith e J.M. Robertson concluíram por uma negação semelhante. O resultado de dois séculos de discussão parecia ser a aniquilação de Cristo. 
                 Mas quais as provas da real existência de Cristo?  A mais remota referência não-cristã ocorre nas Antiguidades dos Judeus,de Josefo (ano de 93 d.C.). 
            Ele assim se refere: " Nesse tempo viveu Jesus, um homem santo, se homem pode ser chamado, porque fez coisas admiráveis, e ensinou aos homens, e alegremente recebeu a verdade. Era seguido por muitos judeus e muitos gregos. Foi o Messias."
                Pode haver verdade nessas estranhas linhas;  mas tão alto louvor dado à Cristo por um autor sempre atento em agradar aos romanos e aos judeus - dois povos em guerra contra o Cristianismo naquele tempo - torna a passagem suspeita; os eruditos cristãos repelem-na como um evidente enxerto. também há referências a "Yeshua de nazaréth" no Talmude, mas muito tardias e com probabilidades de serem um eco do pensamento cristão. Lembrando que Cristo era Judeu. A mais remota menção de Cristo na literatura pagã, temo-la em Plínio -o Moço - no ano 110 d.C., na carta em que pede o parecer de Trajano sobre o tratamento a ser dado aos cristãos. Cinco anos mais tarde, Tácito descreve a perseguição dos Cherestiani (cristãos) em Roma feita por Nero no ano 64 d.C, e pinta-os como já numerosos em todo o Império; O parágrafo é então de Tácito no estilo, na força e nos preconceitos, que de todos os críticos da Bíblia, só Dews duvidou da sua autenticidade. No ano 1235 foi encontrado um escrito de  Suetônio que refere-se à mesma perseguição, e conta o banimento (ano 52 d.C.), no tempo de Claudio, dos judeus que, agitados por Cristo, estavam causando perturbações públicas, passagem bem de acordo com os Atos dos Apóstolos quando menciona o decreto de Cláudio manando que "os judeus deixassem Roma. Isso, segundo a história foi no ano 52, mas Cristo teria morrido por volta do ano 30 da nossa era. Portanto, essas referência provam mais a existência de cristãos do que de Cristo; mas a não ser que admitamos Cristo, somos levados à improvável hipótese de que Jesus foi inventado em uma geração para atender a interesses políticos; além disso temos de supor que para merecer a atenção de um decreto imperial, a comunidade cristã em Roma tinha de ser estabelecida alguns anos antes de 52. Lá pelo meio do século I um pagão de nome Thallus, num fragmento  preservado por Júlio Africano, opina que a estranha obscuridade sobre a morte de Cristo foi um fenômeno puramente natural e uma coincidência; de nenhum modo o argumento põe em dúvida a existência de Cristo, mas  há dúvidas sobre sua crucificação. A negação dessa existência parece não ter ocorrido nem mesmo aos mais severos oponentes do novo credo, judeus ou pagãos. 
                  As provas cristãs começam com as cartas atribuídas a São Paulo. Algumas são de autoria incerta; outras, anteriores ao ano 64, são quase universalmente tidas como genuínas na substância. Ninguém jamais duvidou da existência de Paulo e de seus repetidos encontros com Pedro, Tiago e João; e era com inveja que Paulo admitia terem aqueles homens conhecido Cristo em carne e osso. As epístolas aceitas frequentemente se referem à Última Ceia e á crucificação. 
                A matéria já não é tão simples quando abordamos o Evangelho. Os quatro que chegaram até nós os sobreviventes de um número muito maior, que circulavam entre os cristãos dos dois primeiros séculos. O termo inglês Gospel (godspel, boas novas no Velho inglês) equivale a uma tradução do evangelion grego, que é a palavra de abertura do de Marcos; significa "boas novas", isto é, que o Messias tinha vindo e o Reino do Céu estava à mão. Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são "sinóticos"; o conteúdo e os episódios permitem a disposição em colunas paralelas e o "exame juntos". Foram escritos no Koiné grego do falar do povo, e não eram modelos de acabamento literário; não obstante, o direito e a força daquele estilo simples, o vívido poder das analogias e cenas, a profundez do sentimento e a intensa fascinação da história dão a esses rudes originais um encanto único, imensamente realçado para o mundo inglês pela incorreta, mas senhoril versão feita para o rei Jaime. 
               As mais velhas cópias dos evangelhos que sobreviveram são do século III. As composições originais foram aparentemente escritas entre os anos 60 e 120, ficando, portanto, sujeitas a dois séculos de erros nas transcrições e a possíveis alterações para ajeitamento à teologia ou alvo da seita do copista ou dos tempos. O escritos anteriores ao ano 100 citam o Velho Testamento, nunca o Novo testamento. 
                  É claro que há muitas contradições entre um evangelho e outro, muitas afirmações históricas dúbias, muita semelhança suspeita com as lendas em curso dos deuses pagãos, muitos incidentes na aparência prepostos a provar a realização das profecias do velho Testamento, muitas passagens que talvez visassem estabelecer uma base histórica para futuras doutrinas ou futuros rituais da Igreja. Os evangelistas compartilhavam com Cícero, Salústio e Tácito da concepção da história como veículo de ideias morais. E presumivelmente as falas reportadas nos evangelhos estavam sujeitas às deficiências de memórias incultas e a erros e alterações de copistas. 
              Diz um dos grandes mestres judeus, talvez com exagero: "Se para a história de Alexandre  o Grande ou César tivéssemos fontes antigas como a dos evangelhos, não lhe oporíamos nenhuma dúvida".  Klauser, De Jesus a Paulo.
                 Mateus e Lucas aceitam Jesus como nascido em Belém, cinco milhas ao sul de Jerusalém; de lá, dizem-nos eles, a família mudou-se para Nazaré, na Galileia.  Marcos não faz menção de Belém e chama Cristo de "Jesus de Nazaré" Seus pais deram-lhe o nome muito vulgar de Yeshua (o Joshua em inglês) "o ajudante de Jeová"; os gregos diziam Iesous, e os romanos Iesus.
                   Aparentemente  Jesus pertencia a uma família numerosa, porque seus vizinhos, espantados com o vigor dos seus ensinamentos, perguntavam: "Donde lhe vem essa sabedoria e o poder de operar maravilhas? Ele não é o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E não vivem entre nós as suas irmãs? "
                  Lucas conta com alguma arte literária a história da Anunciação e põe na boca de Míriam - Maria - aquele Magnificat que é um dos grandes poemas do Novo Testamento. 
                   Maria, a mãe de Jesus, depois de seu filho, é a mais comovente figura  do drama até hoje não totalmente compreendido. Cita seu filho com todas as dores e júbilos  da maternidade, orgulhosa de sua sabedoria juvenil, mas preocupada com seu destino naqueles tempos politicamente tão difíceis. Mais tarde, quando percebe  o alcance da doutrina de seu filho Jesus, deseja afastá-lo da multidão de seguidores; quer trazê-lo para junto da família, onde teria a paz da casa.
                Naquele tempo, principalmente entre os hebreus, a mulher não tinha influência e era totalmente dependente da vontade do seu marido. Mas Maria parece ter sido muito decidida, independente e liberal. Sempre tinha bons argumentos e talvez tenha sido essa a principal herança genética que deu a seu filho pregador. 
                  Certos críticos suspeitam que Lucas e Mateus escolheram Belém, como a cidade de Jesus para fortalecer a pretensão de que ele era o Messias e provinha, como fora profetizado pelos judeus, da casa de Davi, cuja família tinha morado em Belém; mas esta suspeita não tem nenhuma prova a seu favor. 
                Os evangelistas pouco falam da juventude de Cristo. Conta-se que com oito anos foi circuncidado. Era José, seu pai,  um carpinteiro e por algum tempo Jesus tinha se dedicado a ajudá-lo nos trabalhos artesanais. Conhecia os artesãos da sua aldeia, os proprietários, os criados, os inquilinos e escravos das redondezas; a eles se refere com frequência. Era muito sensível à beleza natural do campo, à graça e cor das flores, à serena frutificação das flores. Tudo indica que a história de sua disputa com os sábios do templo foi verídica, já que tinha espírito claro e inquisitivo e no Oriente Próximo um menino de doze anos é quase um homem feito. Jesus deixara a casa dos pais para juntar-se aos sábios judeus no templo. Maria e José foram à sua procura e foi ela que  lhe interpelou: "teu pai e eu te procuramos aflitos". Mas Jesus não teve educação formal. "-Como é", perguntavam os vizinhos, "que esse homem (menino) sabe ler se nunca esteve em escola?" Frequentava a sinagoga e com evidente gosto ouvia ler as escrituras; os Profetas e os Santos calaram-lhe fundo na memória e contribuíram para a sua formação. É bem provável que tenha lido livros de Daniel e Enoch, porque em seus últimos ensinamentos aparecem as visões do Messias, do Juízo Final e do próximo Reino de Deus. 
                Com uma vida totalmente dedicada à pregação, tudo em redor de Jesus revivia a excitação religiosa. Nessa época, milhares de judeus aguardavam ansiosos a vinda do Redentor de Israel. Magia e feitiçaria, demônios e anjos, "possessão" e exorcismo, milagres e profecias, astrologia e adivinhação eram coisas aceitas em toda parte; Muito provavelmente a história dos reis magos foi uma concessão necessária às crenças astrológicas da época. Taumaturgos - operadores de maravilhas - andavam de cidade em cidade. Nas peregrinações anuais que, por ocasião da Páscoa, todos os bons judeus faziam a Jerusalém, Jesus deve ter aprendido alguma coisa dos assêmios e de seu viver semi-monástico, praticamente budístico; Ashoka tinha enviado os seus missionários budistas até o Egito e Cirene; e muito provavelmente também ao Oriente Próximo. 
              Josefo conta com minúcias a história de João. Existe a tendência de descrever o Batista como um velho; mas, na verdade, era mais ou menos da mesma idade de Jesus. Marcos e Mateus descrevem-no na sua testemunha, vivendo de gafanhotos secos e mel e localizado à margem do Jordão, onde conclamava as pessoas para o arrependimento. Cultivava o asceticismo dos essênios, mas diferia deles no achar um só batismo suficiente; seu nome de "Batista" parece equivaler à palavra grega "essene", ou "aquele que banha". Ao rio essênio de purificação simbólica, João acrescentava uma severíssima condenação da hipocrisia e da vida solta; insistia com os pecadores para que se preparassem para o Juízo Final e proclamava o breve advento do reino de Deus. É bem provável, também, que tivesse ouvido falar duma seita de "nazarenos" existente além do Jordão, em Pereia,  que repudiava a adoração no Templo e negava o caráter congregante da lei. Mas, certamente, a experiência que mais despertou o fervor religioso de Jesus foi a pregação de João, o filho de Isabel, primo de Maria. 
               Logo depois do quinto ano do governo de Tibério, diz Lucas, Jesus veio ao Jordão para ser batizado.  Estava então com  cerca de trinta anos; este passo mostra a aceitação do ensinamento de Batista por Jesus; o seu ensino seria essencialmente o mesmo, mas o método e o caráter de Jesus eram diferentes; ele não batizava ninguém e não vivia no deserto, mas sim na sociedade local. Logo depois do encontro de Jesus e João, segundo a história oficial, Herodes Antipas, tetrarca (governador de quatro cidades) da Galileia, ordenou a prisão do pregador Batista. Os evangelistas atribuem essa prisão à crítica que este  fazia a Herodes pelo fato dele ter-se divorciado de sua mulher e, logo em seguida,  casar-se com Herodias estando ainda viva a esposa de seu irmão Felipe. Josefo atribui essa prisão ao medo de que, sob disfarce de reforma religiosa, o Batista estivesse fomentando um levante político. Marcos e mateus contam a história de Salomé, filha de Herodias; tão sedutoramente ela dançou em sua presença que, em agradecimento, o tetrarca ofereceu-lhe o que ela quisesse. Por sugestão de Herodias Salomé indicou a cabeça de João Batista; Herodes, então, relutantemente, teve de cumprir a palavra. Não há nada nos evangelhos sobre algum amor de Salomé por Batista, e Josefo não se refere à coparticipação da jovem na tragédia. 
 
O Islamismo
                 A segunda das grandes religiões do mundo, quanto ao número de fiéis, é o Islã; palavra que  significa submissão; de fato, a base da religião de Maomé, está a total e inelutável submissão à vontade do deus islâmico, Alá.Islamitas ou Muçulmanos (a raiz  é a mesma) são adeptos desta fé, "aqueles que se submetem". 
              Desde a fuga de Maomé para Medina, ocorrida em 622, no período de poucos decênios, a nova religião realizou progressos gigantescos e desenvolveu-se com uma velocidade impressionante. A força que levou o islamismo a difundir-se sobre metade do globo, conquistando para mais de trezentos milhões de fiéis, está contida na própria simplicidade de sua doutrina, que não é apenas ensinamento teórico, mas, sobretudo, uma síntese de pensamento e ação. A religião, já em 2010 contava com cerca de u bilhão e 600 milhões de adeptos, espalhados sobre o globo, cuja fraternidade não leva em conta nem limites nacionais nem raças.
               Já há poucos anos da morte de Maomé, o entusiasmo dos primeiros fiéis dera início à formação do imenso império árabe e à vastíssima difusão da religião islamita. Atualmente, são islamitas as populações da África ocidental e oriental, e também as populações a noroeste da Índia. Milhões de islamitas vivem nas ilhas da Indonésia, e também na Europa, os Turcos, muitos dos Bosnianos e dos Albaneses seguem a religião de Maomé. 
                 O Islã possui uma pátria de origem, a Arábia, e sua era (Héjira, que significa migração) teve início em 622 depois de  Cristo, ano da fuga de Maomé da Meca. Atualmente, a Héjira se aproxima do término de seu XV século de vida. 
              Maomé não foi homem de cultura, mas sua eloquência, ardente e apaixonada, arrebatou massas. Ele conseguiu dar um exemplo único na história, conduzindo à conquista do mundo uma gente primitiva, que permanecerá fechada durante milênios nos limites de sua própria terra. 
                Para compreender o significado e a origem do Islã, será conveniente mencionar o que foi a antiga religião dos Árabes. Esta foi considerada uma estranha mistura de fetichismo e de naturismo, variável de tribo para tribo, porquanto algumas adoravam os astros e as forças da natureza, ao passo que outras acreditavam em determinadas divindades locais, representadas em forma humana ou de animais. Cada um destes ídolos tinha seu templo. O mais importante de todos era a Caaba (Ka'bak, que significa cubo), o grande sacrário que surgia em Meca, aonde, uma vez por ano, as tribos iam para adorar, além dos seus cem ídolos tutelares, também a pedra negra, um grande meteorito, que diziam ter sido enviado a Abraão pelo arcanjo Gabriel, para que ali fundasse um templo em honra ao deus supremo (Alá). 

                  

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