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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A IMPORTÂNCIA DO SAL PARA A CIVILIZAÇÃO ..

 Salinas do Saara - lugares feitos de sal

Ibin Batuta - comerciante de sal do Saara

                Ao longo dos séculos, o sal temperou toda a história da humanidade. Este precioso produto começou a ser explorado e usado deliberadamente no início do "Período Paleolítico", cerca de 10 mil anos, quando surgiram os primeiros sinais de agricultura, a pecuária e as primeiras comunidades rurais. 
                 Como não poderia deixar de ser, o sal também temperou as crenças e religiões. Para os Hebreus, era a marca da aliança com Deus. O sal era um elemento purificador, símbolo da perenidade da aliança entre deus e o povo de Israel. 
              Desde muito tempo o ser humano viciou-se em sal; além das carnes assadas, ricas em sal, outras carnes e cereais cozidos, mais insossos, precisando assim ingerir quantidades suplementares de cloreto de sódio. Essa quantidade foi gradativamente aumentando, na medida em que as pessoas buscavam mais comodidades e conforto. Os homens passaram utilizar o sal para tudo. Foi então que surgiu a ideia de que o sal faz mal á saúde.
           Acredita-se que foi observando o gado localizar fontes e poços salgados para saciar-se, que o homem descobriu o sal. Como sabemos, os animais com deficiência de sódio em seu organismo, pelo olfato, são capazes de achar águas salgadas. 
              Com tanta dependência, era inevitável que o homem religioso o incorporasse às suas crenças. Na religião judaica, por exemplo, o sal sempre teve forte presença simbólica. No Antigo Testamento a narração sobre o caso da mulher de Lot, transformada em estátua de sal porque olhou para trás ao fugir de Sodoma e Gomorra; segundo a crença de então, destruídas pela ira divina. O ritual da Igreja Católica Romana, em que grãos de sal são colocados nos lábios dos recém-nascidos, reproduz a crença judaica no sal como elemento purificador. 
           As fantasias e superstições dos crentes, incentivadas pelos líderes religiosos proliferaram; a mais conhecida é a que afirma que desperdiçar sal era mau agouro, além de ignóbil, mas, na verdade é que era um produto que tinha o valor do ouro. 
                O historiador grego Heródoto (484 a.C.) já contava das caravanas que atravessavam os mares Mediterrâneo e Egeu rumo às salinas do Egito e da Líbia. 
                Ibn Battuta (1307 x 1377, considerado o príncipe dos viajantes do deserto viajava milhares de quilômetros com seus camelos e seus companheiros para transportar o sal em blocos que retirava nas salinas do deserto Saara. Ele saída de Marrocos em direção a povos e civilizações ricas  financeira e culturalmente, principalmente Mali, onde o seu produto era vendido por valores astronômicos, literalmente a peso de ouro. O sofrimento para atravessar o deserto era imenso. Uma temperatura que chegava a mais de 57º centígrados abalava profundamente a saúde de todos os viajantes. Além disso são comuns as tempestades de areia no deserto que sufocaram muitos aventureiros. 
                  Naquela época o Saara era era uma barreira natural para as "pestes" que assolavam a humanidade. É que os vírus não conseguiam resistir a altas temperaturas.
                 Os relatos das viagens Ibn pertencem, segundo historiadores, ao estágio da Geografia que começa a se definir a partir do século XII e no qual incluem os dicionários geográficos, as cosmografias e geografias universais, as enciclopédias histórico-geográficas e as rihlat.   
                O sal encontrado no deserto do Saara é realmente muito bonito. Tem colorido variado, mas os principais são três. A causa disso é que existem basicamente três tipos de argila, ou barro, encontrado nesta região, e cada uma empresta sua cor à água altamente salgada. Outros motivos são o nível de salinidade e a presença de algas que crescem em algumas poças de água. 
            Mercadores e nômades vão a esses locais para adquiri-lo no estado bruto. Ali o sal é relativamente barato, mas ao chegar aos mercados das grandes cidades da época como Mali, seu preço se multiplicava por 100 vezes. Tal era a razão que os levava a arriscar a saúde e até  a vida  nessa aventura. 
               Os romanos, ao perceberem que o sal servia para conservar, dar sabor á comida e também curar ferimentos, chegaram à conclusão que os cristais de sal eram uma dádiva de Salus, a deusa da saúde, e, em sua homenagem cunharam o seu nome. Dos muitos caminhos que levavam a Roma, um dos mais conhecidos e movimentados até hoje é justamente a Via Salária, a antiga rota por onde circulavam carros cheiros dos preciosos cristais. Essa "vie salariae" atravessa a Europa de Oeste a leste, alcançavam a atual Turquia e desciam pelo Oriente Médio e norte da África. O sal era tão valioso que os mercadores o trocavam por ouro - um peso pelo outro. Na Abissínia, atual Etiópia , na África Oriental e Central, o sal era a moeda do reino. 
             Os romanos foram os inventores da palavra "salário", que hoje é a base para a economia mundial. Parte do pagamento de seus soldados era sempre feita em sal que, como vimos, valia seu peso em ouro. 
                   Muito antes de existir as, hoje tão comuns, "geladeiras" o sal também era utilizado para conservar alimentos. Essa prática, como exclusividade, durou até o século XIX, mas, ainda hoje é utilizada para essa finalidade. "quem não ouviu falar da carne de sol
              O sal mais comum é o cloreto de sódio (NaCI) e pode vir de três fontes: do mar, das minas de sal-gema, que geralmente são depósitos subterrâneo, também conhecidos como salmouras de subsolo, decorrentes da forte concentração de sal de mares ou lagos interiores, como o Mar Morto, que tem tanto sal concentrado que nele quase tudo flutua naturalmente. 
              Em sua famosa obra "A Última Ceia", o genial e irônico Leonardo Da Vinci (1452 x 1519), pintou um saleiro derrubado diante do Judas. Na época havia uma crendice de que se uma pessoa derramasse sal, deveria pegar alguns grãos caídos e jogá-los para trás do ombro esquerdo - o lado que representava o mal. 
               As crendices sempre estiveram presentes, principalmente incentivadas por religiosos. No Brasil tivemos aquela ocorrida em 1792, quando da condenação de Tiradentes; os juízes portugueses mandaram salgar o chão da casa do nosso mártir da Inconfidência para que ali nada mais tornasse a nascer. 
                Mas não foi apenas a ambição dos religiosos e crentes que o sal instigou. Os políticos também se aproveitaram de seu alto valor para cobrar extorsivos impostos. A partir do século XIII, os estados passaram a se ocupar gulosamente dos impostos que o sal podia levar para seus cofres. O produto passou a ser a única mercadoria que podia ser taxada em absurdos .2000% (isso mesmo, dois mil por cento), sem que as pessoas pudessem deixar de consumi-lo. Alguns estados até se deram ao luxo de abrir mão dos impostos cobrados sobre o tabaco compensando a perda com escorchantes impostos sobre o sal. 
           Na Europa, especialmente na França, reinos e impérios financiaram seu luxo e as guerras. A guerra dos 100 anos (1337 a 1453) entre a França e a Inglaterra foi financiada pelos gordos impostos sobre o sal. 
               Hoje os países costumam fazer reservas de dólares, mas naquela época os governos, reinados e impérios acumulavam grandes quantidades de sal como reserva para evitar um possível bloqueio do produto em seu território, que por certo os levaria a capitular em poucos meses. 
              Em 1378, os escorchantes impostos geraram um estado de revolta que instalou-se entre as populações urbanas do norte da França até Paris, além das populações rurais do sul do Maciço Central francês, e ainda entre os artífices e operários das cidades da florença (na França, Bélgica e Holanda). 
               A onda de protestos culminou com a revolta dos açougueiros (grandes consumidores de sal - por razões óbvias) - em 27 de abril de 1413 em Paris que terminou com um código com 259  artigos estabelecendo regrar para a cobrança de impostos, que naturalmente não foi respeitado pelos donos do poder. Mas a ganância dos soberanos franceses não tinha limites nem prudência. Os reis continuaram a fazer do sal a sua maior renda. Pode-se dizer que todo o luxo da corte de Versalhes era garantido pelo sal. Às vésperas da Revolução Francesa, o imposto sobre o produto representava 13% do total das receitas do Tesouro real. Isso só alimentou o ódio popular à monarquia e, por essa razão, teve fundamental importância na deflagração da Revolução Francesa que lançaria as bases da democracia moderna.
          Outro episódio importante foi a luta contra o colonialismo na Índia. Em 1930, em protesto contra o aumento da taxação sobre o sal, imposto pela Inglaterra, o advogado Mahatma Gandhi (líder da não violência) conduziu levas de peregrinos até o litoral para ali fazerem seu próprio sal. Este episódio foi um passo decisivo que culminaria com a independência da Índia em 1948. 
A IMPORTÂNCIA DO SAL NA INDÚSTRIA MODERNA
               Para centenas de atividades industriais, o sal é matéria prima básica. É com ele que se produz a soda cáustica e o cloreto tão utilizado para tornar nossas poluídas águas em potável. É a soda cáustica e o cloro que permitem o clareamento do papel. Tintas, vidros, vernizes, cosméticos, porcelanas e até explosivos são totalmente dependentes do sal para serem produzidos. O cloro e o sódio são de vital importância para a produção de tecidos, películas, aditivos, produtos metalúrgicos e farmacêuticos. O PVC, material básico para  a indústria de plásticos é "cloreto de polivinila". As nossas dores e cirurgias dependem do sal, pois o clorofórmio é a base dos anestésicos. O cloreto de cálcio também está presente nos refrigerantes, fungicidas e combustíveis. Os óleos vegetais, sabão e tecidos são também alguns produtos derivados do sódio. Sem o nitrato de sódio não se poderia produzir fertilizantes químicos, fogos de artifício e até dinamites. 




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