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domingo, 14 de junho de 2020

MARCO POLO - O GRANDE INVESTIGADOR DO MUNDO


                  Tudo o que sabemos sobre este grande personagem está em seu "Livros das maravilhas", onde ele descreve alimentos, animais, palácios, navios, templos, ritos e minúcias cotidianas que desafiam os historiadores. 
              Marco Polo nasceram em 1254, e, ainda era adolescente quando embarcara, pela primeira vez, rumo ao Oriente. 
              Seu pai Nicoló e seu tio Matteo, patrícios venezianos e grandes comerciantes, tinham avançado, em busca de mercadorias e especiarias preciosas, por toda a Ásia. Em Pequim, tinham gozado do favoritismo de Kublay Khan, o onipotente imperador mongol e, a pedido deste, haviam regressado ao Ocidente, a fim de obter do Pontífice Romano, o papa de então, ou de algum sacerdote ou monge que fosse capaz de falar sobre Cristo aos povos da China. Muitos não sabem, mas o mongo Kublay Khan era admirador de Jesus Cristo. Aguardava-os  em Veneza um rapaz de quinze anos, Marco, que perdera a mãe recentemente e não chegara ainda a conhecer nem seu pai nem seu tio, partidos antes de seu nascimento. E dois anos depois, em 1271, zarparam juntos para a Palestina, primeira etapa de uma nova viagem. Depois, munidos de cartas do Papa para o Grã Kahn, mas privados da companhia dos religiosos que haviam ido buscar, os três ousados viajantes cavalgaram através das montanhas da Armênia, desceram para o sul, pela Mesopotâmia, e atingiram, por mar, Ormuz, no golfo Pérsico. Daqui, seguem para Sava, Yedz, Kirman, pelas gargantas selvagens de Batriana, além das Portas de Ferro. Castelos e aldeias muradas dominam do alto as estradas, ameaçadas continuamente pelas incursões de ferozes cavaleiros de Nogodar, uma espécie de rei-salteador, que vivia de rapina e comércio de escravos. Marco observa e escuta, fixana mamória as imagens de desertos e florestas, de homens de aspecto bizarro e linguagem obscura, que vai encontrando, e as lendas que ouve narrar nas noites em que acampam junto a fogueiras. Não é mais o mercador em busca de fortuna, é um homem novo, que deseja conhecer o mundo para compreender melhor a si mesmo, é o primeiro homem moderno que abre os olhos entre seus semelhantes, ainda mal desperto do sono medieval. 
               Seu livro é uma longa série de notícias, fatos curiosos, pormenores, apanhados com o bom gosto e a atualidade que distinguem os bons jornalistas de nosso tempo. Narra-nos a história do terrível velho da montanha, chefe da seita dos assassinos, do grande planalto solitário, que surge na planície de Balk, da vastidão dos templos de Kirman e Samarcanda, das estranhas "calças" de linho das mulheres de Badaksian, e tudo de modo tão vivo e colorido que parece ter sido escrito hoje. 
              A viagem prossegue, entre dificuldades e imprevisto. Os três Polo são obrigados a escalar as montanhas do Pamir, por entre vertiginosos abismos rochosos, vapores de nuvens e deslumbrantes geleiras, a seguir, rumo à planícies imensas da Mongólia, pelas estepes vastas como o oceano, fechadas a Oriente pela cadeia azul de montanhas, que tomarão o nome de Marco Polo. Prosseguem, sempre sedentos e meio cegos, pela areia do grande deserto de Góbi, onde, à noite, ouvem-se no ar "vozes de fantasmas" e sombrios misteriosos rufares de tambor. E afinal, a Ocidente, divisa-se algo que à distância parece uma longa cordilheira; é a "Grande Muralha", os orgulhoso e inútil baluarte, erigido em defesa da civilização chinesa contra os selvagens Tártaros do interior do continente. Pouco depois de superá-la, a caravana dos nossos viajantes encontra uma comitiva de cavaleiros mongóis, esplendidamente armados e equipados; são os enviados de Grã Khan, informado da chegada dos amigos europeus, que se encarregam de escoltá-los até Pequim. 
               Kublai Khan, o herdeiro do imenso império de Gengis Khan, era, sem dúvida, homem de cultura e engenho superiores ao comum. Bastaria, para demonstrá-lo, seu vivo desejo de estreitar relações político-religiosas com o remoto Ocidente. Ele, provavelmente, vislumbrou logo no jovem Marco, aquela mente ágil e dúctil, que em vão procurava entre seus auxiliares, e o conservou bem junto de si, mandando instruí-lo sobre as línguas e os usos da corte. E aprendeu a estimá-lo tão bem que, aos 24 anos, o nomeou governador de Yang-Chu, e, três anos depois, enviou-o para uma longa viagem de inspeção em suas províncias meridionais. Marco nada desejava de melhor. Penetrou até o Amam e a Birmânia, deslumbrado com o esplendor das velhas cidades chinesas, com a beleza das estradas e com a organização monetária e postal. As maravilhas de Kin-Sai, capital do antigo império Manchu, o entusiasmaram acima de tudo. A descrição desta enorme cidade, fundada sobre a água, talo como Veneza, com doze mil pontes de mármore, com termas e jardins, grandes e ricas mansões, é tão mirabolante que suscitou a incredulidade dos leitores europeus. Ao seu regresso, Marco escreve para o imperador uma descrição tão cuidadosa e fiel, que o soberano nota, prazenteiro, a diferença entre o jovem europeu e outros convidados "que nada mais sabiam dizer senão futilidades sobre seus encargos". 
               Mas a saudade de Veneza se fazia sentir, sempre mais forte, especialmente em Nicoló e Matei, já nos umbrais da velhice. Mas o Grã-Khan não os teria deixado partir se não precisasse deles para acompanhar a princesinha Ko-Ka-Chin, sua parenta distante, que ia casar-se com o rei da Pérsia. Assim, em 1292, uma flotilha de catorze navio zarpava de Zaiton, rumo ao sul, tocando em Java, Sumatra e Ceilão. Tempestades, calmarias, florestas, pagodes, mosteiros, templos budistas e pequenas cortes faustosas, desfilam ante os olhos de Marco Polo, sempre ávidos de novidades como os de um garoto curioso. Em Ormuz, onde a expedição chega dizimada pelas borrascas e pelo escorbuto (de seiscentos homens, restavam apenas dezoito), os Polo deixam a princesa e prosseguem sozinhos para a Itália. E no outono de 1295, desembarcam na Bacia de São Marcos, avançando pelos cais e pelas pontes, admirados ante os palácios novos, que vêem por toda parte, seguidos por uma nuvem de meninos, que admiram aqueles trajes de modelos jamais vistos. 
                Mas, se vinte e quatro anos de ausência tinham mudado os aspecto da cidade, haviam tornado, também, irreconhecíveis os três viajantes, de maneira que os parentes, que de  há muito os julgavam mortos, recusaram restituir-lhes os bens, já repartidos  entre os herdeiros. Toda tentativa de persuasão tornada inútil, os Polo declaram pretender dar um banquete de despedida aos seus presumidos consanguíneos e, durante o ágape, após haverem mudado três vezes de roupa, vestindo sempre outras mais pomposas, mandam trazer seus mantos de viagem. Com poucos golpes de punhal, rasgam os velhos trajes, poidos e sujos, e dos rasgões chove uma verdadeira cascata de brilhantes, safiras, toda a imensa riqueza acumulada na China, um tesouro capaz de cortar a respiração dos estarrecidos convidados. Inútil dizer que o reconhecimento foi imediato e unânime. 
            Passaram-se  dois anos de calma; as narrações de Marco, cronista brilhante e fecundo, reuniam um público cada vez mais numeroso, que ouvia, embevecido, as histórias de palácios de mármore e ouro, de salões incrustados de pedras preciosas, como ouviria fábulas maravilhosas, mas incríveis. Tão incríveis, que o apelido de "Messes Marco", aplicado a Marco, acabou por suplantar-lhe o nome real até mesmo nos documentos oficiais. 
             Entretanto,m para o nosso infatigável viajante, as aventuras ainda não haviam terminado. Em setembro de 1298, vamos encontrá-lo no comando de uma galera, armada às suas custas, na batalha de Curzola, onde a frota veneziana sofreu de parte dos Genoveses, sob o comando de Lamba Dória, clamorosa derrota. 
                Os Genoveses intimam a rendição a Marco, que fica quase só em seu navio. E enquanto o resto da frota veneziana bate em retirada, ele é conduzido para Gênova, prisioneiro; ali permanece um ano, à espera do resgate, em companhia do poeta Rustichello da Pisa, capturado no encontro naval de Melória.  À luz da nesga de céu que ilumina o cárcere, Marco revê, talvez, os imensos horizontes asiáticos. E a pena de Rustichello dá forma aos maravilhosos sonhos do Grande Viajante. 
                E eis-nos ao último ato, isto é, o livro surgido da colaboração desses dois homens famosos, o "O Milhão", sai da Itália e percorre a Europa incendiando os ânimos, como se fora uma labareda. 
                Começara,com Marco Polo, a era dos grandes descobrimentos. Com ele, a adolescente civilização européia parte à conquista do resto do mundo, Inaugurando uma época de imenso progresso: a era moderna. 

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quarta-feira, 3 de junho de 2020

COMO SURGIU OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


Este mapa mostra a situação em que se encontrava a América do Norte antes da revolução das treze colônias, com as possessões britânicas, francesas e espanholas.
As reivindicações territoriais de cada um dos Estados europeus sobre o território americano provocaram atritos entre eles. Além disso foi necessário enfrentar  os índios da região para efetivar a soberania. Com as capitulações de Montreal em 1760, a França cedeu suas extensas colônias na América à Inglaterra. A linha de proclamação de 1763 não conseguindo frear as apropriações de terra indígenas, ou impor uma norma aceitável, ajudou a tornar a "Revolução Americana".
Em 1783, das treze colônias originais, nasceram os Estados Unidos
No princípio foi difícil, cada Estado se conduzia quase como um país independente; os estados vizinhos aplicavam impostos  uns aos outros e a ameaça de uma guerra civil se abatia sobre eles. 
A Constituição, redigida em  1787, pôs fim a estes conflitos.

               A situação da América entre dois grande oceanos, a 5.000 quilômetros da Europa e a 8.000 quilômetros da Ásia,  fez com que o duplo continente tivesse podido viver a sua pré-história e os alvores da sua história na mais completa independência em relação ao resto do mundo. 
                Cerca de 40.000 anos a.C. até o fim da última Era Glacial, hordas de emigrantes mongóis atravessaram os estreito de Bering e penetraram no vasto território. Ao longo de milhares de anos, tribos americanas do interior acompanhá-los-ão através das montanhas Rochosas. Por volta de 3.000 a.C., já existem alguns núcleos primitivos de agricultores, estabelecidos em regiões onde predomina a cultura da Idade da pedra e da Olaria. No entanto, numerosas tribos são compostas de simples caçadores, nômades e habitantes das cavernas, que vagueiam nas terras, em busca de caça e pesca, e vivem em grupos muito disseminados. 
              Apenas três territórios do continente mostram possuir formas superiores de civilização e estão organizados politicamente. Entre os séculos II e IX da nossa era, floresce no México a civilização do Teotihuacán, à qual sucede, entre os séculos IX e XIII, a refinada civilização dos toltecas. Segue-se, no início do século XII, a dominação dos chichimecas, após a qual sobrevém o império dos astecas de Tenochtitlán, cujo apogeu é atingido em cerca de 1390. Essa civilização pré-colombiana, inicialmente de características rudimentares, virá a ocupar um lugar privilegiado entre os povos do vale do México, devido ás vitórias militares alcançadas pelos guerreiros astecas no século XV; mas sucumbe aos golpes dos invasores espanhóis, sob a chefia de Hernán  Cortês, equipados com material bélico incontestavelmente superior. Em poucos anos, a vitória militar espanhola traduzir-se-ia na destruição do império asteca e da sua civilização. 
             Nas regiões do norte, próximas aos limites do império asteca do México, existem outras civilizações menos importantes, além de pequenas tribos nômades, que vivem de caça, da agricultura ou de pesca, e fabricam cerâmica. Mas os imensos espaços ocupados por montanhas, lagos, rios savanas admiráveis, colinas e terras de pradaria, que se estendem do pacífico até o Atlântico, são meros territórios de caça e de migração, mal delimitados entre várias tribos que se distinguem entre si pelas respectivas concepções de vida, pelo dialeto que falam e pelo tipo de combate que preferem. Quase  todas essas tribos são nômades e guerreiras, mas não desprezam os benefícios da agricultura, da caça e da pesca, num país particularmente abundante em riquezas naturais. 
                Há algumas vagas alianças entre os povos indígenas, mas nenhuma organização merece o nome de "Estado", uma vez que não existe administração, nem jurisdição escrita, nem exército organizado, nem forma espiritual de religião que se eleve acima do natural primitivo, nem tampouco sentimentos de coesão das diversas tribos ou dos homens de pele vermelha. O encontro com uma civilização mais refinada será um golpe mortal para esses seres que vivem, por assim dizer, no fim da Idade da pedra, e se chocam com a cultura européia, a qual, tendo entrado no Renascimento e no início da Idade Moderna, dispõe de um pensamento nacionalista, de uma técnica aperfeiçoada, e está consciente da sua grande força. 
                 A diferença de organização, de pensamento político e de disciplina, mais que a diferença entre o arco e flecha e a espingarda, torna os índios as vítimas diretas dos conquistadores. 
                 Quando surgem os europeus, imediatamente os índios se dão conta da diferença entre o modo inglês e o modo francês de penetrar nos seus territórios. Enquanto os franceses chegam como viajantes, aventureiros, caçadores de peles, exploradores , missionários e mercadores, sem ameaçar diretamente o espaço vital dos indígenas, os ingleses constroem fazendas, revolvem o solo, cultivam cereais, fundam aglomerações urbanas e conquistam, palmo a palmo, o solo onde os índios, até então, costumavam caçar. É por isso que, nos inevitáveis combates que se sucedem, as tribos tomam, muitas vezes, o partido dos franceses. Para estabelecer alianças com os índios, os ingleses são obrigados a recorrer à troca de presentes: escalpos e tecidos variegados por fuzis e bebidas.
                Entre franceses e ingleses, nasce, desde o início, uma rivalidade e uma luta pela posse do continente americano. Os primeiros sobem na Nova Escócia em direção aos Grandes Lagos, ao longo do rio São Lourenço, e penetram no Canadá; depois, descendo o Mississípi, avançam pelo delta, onde se desenvolvem as jovens colônias da Louisiana e do Mississípi; por seu turno, o avanço dos ingleses parte da costa oriental ((Massachusetts e Virgínia) e da planície costeira para os montes Apalaches, isto é, de oriente para ocidente. Os dois povos, seguindo direções diferentes (norte-sul para os franceses e leste-oeste  para os ingleses), encontrar-se-ão num momento crucial, que atesta o combate de vida ou morte pela posse do novo continente, pouco tempo após a sua descoberta. Ingleses e franceses, tendo embora um inimigo comum - a população indígena primitiva -, envolvem-se numa longa guerra, que acaba por ser vencida por uma terceira força: a dos americanos, colonos desalojados da Europa. 
               Havia decorrido mais de um século da descoberta do continente, quando os primeiros barcos de emigrantes , partindo do norte da  Europa , chegaram à América. Entretanto, apenas os espanhóis haviam aproveitado o tempo para fundar colônias florescentes no México, Peru Venezuela e Antilhas. 
                Os colonos ingleses, holandeses e franceses que então chegavam à América, a bordo de barcos frágeis e pequenos, amontoavam-se nessas "cascas de nozes" e, alimentados com ração exígua, eram obrigados a enfrentar, não raro, grandes tempestades. A travessia tanto podia durar seis semanas como três meses, e as condições de sobrevivência eram mínimas. 
                 A costa norte-americana apresentava-se geralmente com aspecto de uma densa floresta virgem, rica em madeiras de construção para obras de carpintaria, fortes e paliçadas. Também não faltava matéria-prima para construção naval, assim como o combustível e os fornos de tinturaria. O fundador da Virgínia (assim chamada em homenagem à jovem rainha Elisabete), podia escrever: "Por toda parte, o céu e a terra dão as mãos para oferecer ao homem uma bela residência!" E Willian Penn, fundador da Pensilvânia, que tinha obtido de Carlos II, em 1681, autorização para fundar uma colônia com a sua seita de "quakers". 
        Os colonos em breve verificaram que os cereais, as frutas e a vinha evoluíam magnificamente, que o gado tinha um aspecto vigoro e que as propriedades rurais eram prósperas. Os índios amigos trocavam peles excelentes por objetos de variada natureza. Muitos eram os locais que davam crédito às promessas feitas aos parisienses  candidatos à emigração pelos cartazes de John Law; um país onde manavam o leite, o mel e as riquezas, vasto e pronto a receber homens e mulheres desejosos de trabalhar, a quem a Europa, mesquinha e sufocada pela tirania feudal, já não dava sequer um sopro de ar. Esse mesmo John Law, proprietário de um banco privado e, mais tarde, banqueiro de Sua majestade, fazia publicidade do Ohio e do Mississípi para as suas companhias, emitindo obrigações; foi ele que inventou o papel-moeda na França, acenando aos espectadores com grandes benefícios, a troco do ouro investido em títulos das companhias ultramarinas ou cédulas bancárias. 
                 O primeiro aglomerado urbano fixo e estável formado no Novo Mundo foi Jamestown, na Virgínia. Em dezembro de 1606, uma sociedade uma sociedade comercial londrina de emigração, construída por alguns capitalistas sedentos de lucro, fazia transportar para a América uma centena de pessoas, de proveniência diversa, que incumbiu de pesquisar ouro, pedras preciosas e outros produtos exóticos de grande valor comercial. 
              Os emigrantes, porém, encontraram uma terra selvagem, revestida de florestas e habitada por índios hostis; em parte alguma via-se cair dinheiro do céu. Os capitalistas ingleses, entretanto, exigiam a entrega de madeiras de construção para os estaleiros navais, não dando tempo aos colonos para se dedicarem à agricultura e a criação de gado. As rivalidades, as querelas com a metrópole e a ameaça dos índios fizeram do capitão John Smith o chefe da colônia; a seu pedido, a companhia londrina deu autorização para que os colonos repartissem as terras entre si. 
                   É bom lembrar que tudo começou com as provocações, Estado Igreja que responderam com perseguições, embora de maneira não grave; assim, muitos puritanos viram-se obrigados a tomar o caminho do exílio. Alguns resolveram isolar-se de vez do mundo civilizado, para ir  correr às ondas, em uma terra onde sobre a qual não pesassem séculos de história e de preconceitos, uma nova e livre sociedade humana; e vê-se, então, na primavera de 1607, um navio atravessar o Atlântico-Norte e desembarcar, na costa americana, pouco mais de uma centena de colonos Ingleses. Quanto ao país em que desembarcavam, aqueles homens, certamente, possuíam apenas escassas e fragmentadas notícias.
                 O clima parecia clemente, os indígenas não perigosos; assim, aquele exíguo grupo de pioneiros se lançou alegremente ao trabalho e, bem cedo, na zona do desembarque, na praia de Chesapeake, à vista dos montes Alleghny, surgiu uma cidade,  Jamestown. (Aqui usa-se o nome cidade apenas como força de expressão). Na verdade, trata-se de barracas, diversas paliçadas e uma ponte de madeira, que servia de trapiche. Infelizmente, os colonos perceberam que, se a primavera e o verão eram cálidos, naquelas terras o inverno era bastante rigoroso; nem todos os imigrantes eram moços e robustos, de maneira que o frio e as privações da primeira invernada ceifaram a metade dos pioneiros. Mas a primeira expedição estava realizada, a cabeça de ponta  fora estabelecida, e resistia; àqueles cinquenta supérstites (sobreviventes) virem juntar-se muitos correligionários, de maneira que a nova colônia, a colônia de Virgínia, começou a expandir-se. Naqueles  primeiros anos, a emigração para a América era feita segundo um sistema nitidamente britânico; isto é, o governo entregava, sob condições, a companhias comerciais, um determinado território, confiando-lhes a exploração e a defesa do mesmo território, embora considerando os colonos como cidadãos ingleses no lato sentido do vocábulo. Depois da primeira expedição da Virgínia, as Companhias comerciais multiplicaram-se e, com elas, os novos postos ingleses; o rei da Inglaterra, por força da viagem de descobrimento efetuada por João Cabot, em 1497, tinha conquistado direitos de soberania sobre toda a imensa região compreendida entre "Terra Nova, o Labrador e Flórida, de maneira que as colônias se difundiram gradualmente, ao longo de toda a costa atlântica da América setentrional. O maior afluxo ocorreu, porém, para aquela zona, que recebeu o nome de Nova Inglaterra. O maior centro de imigração puritana tornou-se, em 1620, a colônia de Massachusetts, onde surgiu a cidade de Boston. Os Estados Unidos da América nasceu, assim, da aventura de grupos de protestantes dissidentes ou de colonizadores ávidos de lucros.
                 Mas não só os ingleses foram os colonizadores do Novo Mundo; um forte grupo de Holandeses, por exemplo, estabeleceu-se , desde 1624, à foz do Hudson, ali fundando a cidade de Nova Amsterdã; parece que o primeiro governador da colônia comprara a península, em que depois surgiu a cidade, por sessenta florins de ouro. Sobre aquela pequena península, denominada, depois, Manhattan, está hoje concentrada a maior organização financeira e econômica do mundo: o centro de Nova York. Lá pela metade do século, os ingleses ocuparam pacificamente a cidade, importantíssima como meio de comunicação com a hinterlândia, dela fazendo o porto mais ativo de todo o continente. Como os ingleses basearam seu direito de posse nas descobertas de Cabot, assim os Franceses apresentavam direitos sobre vastos territórios do Novo Mundo descobertos e descritos por Giovani da Verrazzano, a quem Francisco I fornecera os recursos para a viagem; destas tão discutidas pretensões, nasceram as muitas guerras que, por quase dois séculos, se viram empenhadas os Franceses, que se haviam estabelecido ao longo do Mississípi e o Ohio, e os ingleses da Nova Inglaterra. 
                A avidez dos Europeus, que consideravam terra de conquista do lugar onde surgisse um seu forte, um entreposto comercial, levou-os bem depressa a um choque  com as populações indígenas que, consideravam-se senhores do país, atacaram repetidamente os invasores. 
               Os verdadeiros senhores das terras, os índios, assistiam impotentes àqueles choques; em seguida, acabaram por se dividirem entre os dois campos, procurando obter, na discórdia entre os invasores, qualquer modesta vantagem para as tribos. Contra os Europeus, os índios não demonstraram, porém, a princípio, nenhuma hostilidade; se, mais tarde, os combateram foi somente para defender seus pastos e seus direitos da indiscriminada sede de rapina dos brancos. Povo de tradições altivas e independentes, eles se recusaram, todavia, a trabalhar nas plantações coloniais a soldo dos brancos, e, por isso, estes trataram de engajar, nada mais nada menos do que, como escravos, outros homens de cor, ou sejam, os negros, que se podiam "comprar" por pouco dinheiro, dos chefes de tribos africanas. Em 1619, desembarcara, nas costas da Virgínia, os primeiros negros; o tráfico de homens de cor assinala o início da prosperidade americana, mas trouxe consigo a "chaga", ainda hoje, mais do que nunca aberta, do ódio de raça e de escravagismo. 
                      Em 1612, punha-se em prática na Virgínia um método de fermentação do tabaco ao gosto europeu, o que abriu o mercado londrino ao produto, a partir de 1614. Mas o tabaco exigia solos novos, de três em três anos; tornava-se necessário, portanto, conquistar novas terras para a sua cultura. Com as plantações disseminadas, os fazendeiros da Virgínia subiram os cursos de água, até chegarem às florestas, instalando-se em novas propriedades isoladas, ao redor das quais se formavam algumas aldeias. 

               De 1620 a 1635, a Inglaterra luta com graves dificuldades econômicas. Os proprietários de condição nobre começam a ocupar terras dos camponeses, a fim de aumentar a área de pastos para o gado ovino, enquanto as fábricas de laticínios prosperam na mesma época, e então surgem novas seitas religiosas, como a dos puritanos, que entram em conflito com os reis da casa Stuart, de orientação católica. 
                 Foi nessa época de perturbações e de angústia que uma pequena comunidade puritana decidiu emigrar para a Holanda, acolhendo-se à proteção da cidade de Leide. Mas também aqui o comportamento religioso da seita foi objeto de críticas, o que levou os puritanos a embarcar para a América, na companhia de alguns holandeses. Em 1620, chegavam ao porto de New Plymouth esses "pais peregrinos", cujo nome é bem elucidativo das razões religiosas que os levavam a emigrar.         
                Cerca de 1630, quando as perseguições aos puritanos se alastraram na Inglaterra, outras comunidades  resolvem transferir-se para o Novo Mundo. São elas que fundam a Colônia da baía de Massachusetts e constroem Boston, além de localidades urbanas menores, aí levando uma vida patriarcal, pautada por leis religiosas e por uma ética severa, e olhando com pavor o desprezo para os holandeses das imediações, que, depois de 1624, passaram a levar em Nova Amsterdam (Nova York) uma vida social animada e despreocupada. 
              Motivos religiosos provocaram também a expulsão para o ultramar dos religiosos quakers de William Penn ou dos católicos de Mayrland, enquanto a revolução de Cromwell fez aportar á Virgínia numerosos "cavaleiros"vencidos, isto é, nobres da corte dos Stuart, oque contribuiu para acentuar o caráter feudalizante da colônia. 
               Em New Plymouth e em Boston, começou a prosperar uma classe de colonos freneticamente voltada para a busca da riqueza, dos bens terrenos e da consideração social, esmando com desprezo todos os pequenos. Massachusetts pôde desenvolver rapidamente os primeiros estaleiros navais, assim como casas comerciais, manufaturas, empresas diversas e, por fim, indústrias. 
              
                   Os outros colonos chegavam, em geral , em condições muito menos favoráveis. Como se tratava, na maioria dos casos, de pessoas modestas, de perseguidos ou banidos, nenhum deles tinha dinheiro para o financiamento da grande aventura americana, isto é, para a viagem, a compra de terra ou a nova instalação no interior de um país coberto de florestas.  
                Num país onde tudo estava por fazer, os homens eram matéria-prima mais preciosa. Os assalariados, entretanto, tinham de suportar dez ou quinze anos de escravatura, a fim de poder pagar a viagem, a manutenção pessoa, e a futura liberdade. Mas nem por isso o fluxo de emigrantes estancou temporariamente devido ás guerras religiosas na Europa. Mas, ao longo do século XVII, assistiu-se à chegada maciça de ingleses, seguidos de alemães e suecos. Mas chegaram também pequenos burgueses franceses, a quem o Novo Mundo prometia a liberdade religiosa. 
               Em 1690, cerca de 250.000 europeus viviam nas colônias norte-americanas. Esse número duplicou a cada 25 anos; em 1775, já havia cerca de dois milhões e meio vindos de diversos locais. 
               De fato, terras não faltavam, mas seu valor dependia da existência de mão-de-obra capaz de assegurar as plantações e as colheitas. As grandes plantações do sul exigiam numerosa mão-de-obra, e os nativos, acostumados à vida em liberdade total, não se adaptavam à vida de agricultores. Nesse momento surge o negro escravo como solução. Além disso vinham de um local onde estavam acostumados ao intenso calor, à poeira e a sede dos campos de tabaco; como também da plantação de algodão a partir de 1775. Portanto eram muito melhores que os brancos. 
                Nessa época havia nascido a "Estrada do Ouro". Em Liverpool, seu porto de embarque, os barcos carregavam contas de vidro, bugigangas, cutelarias de Leeds e de Sheffield, tecidos de Birmingham. Depois, zarpavam para o golfo da Guiné, em direção à costa africana dos escravos, e trocavam as suas mercadorias pelo "marfim negro" que os caçadores árabes e alguns chefes tribais sedentos de lucro haviam previamente arrebatado. O carregamento humano da África seguia então para os mercados americanos, onde era trocado por tabaco, cana-de-açúcar, cereais, resinas e madeiras para construção naval. Cada viajem proporcionava  um ganho de  1.000 por cento e terminava em Liverpool, por onde se escoava o fluxo dos produtos coloniais. 
            Entre 1680 e 1688, chegaram á América 249 barcos carregados de escravos, principalmente aos portos de Savannah e Charleston, aí descarregado 60.787 negros; durante a travessia morreram 14.387, sufocados e acorrentados em porões nauseabundos. A partir de 1.700, transportaram-se anualmente para os mercados americanos cerca de 25.000 negros africanos. Alguns proprietários de plantações dedicavam-se à criação de mão-de-obra negra, que vendiam com lucro em leilões. Para essa produção eram escolhidos os negros mais fortes, sadios e bonitos. Para aumentar a produção esses negros eram muito bem tratados e alimentados por seus donos. 
                Contudo, o aumento da população em geral suscitou problemas de ordem pública e social nas colônias. A Massachusetts chegaram, no decurso do primeiro decênio da sua existência, cerca de 65 padres, quase todos calvinistas e teólogos qualificados. Nessa colônia, as autoridades eclesiásticas ocupavam-se também da administração civil; faziam-no, porém, de uma forma tão severa e tão intolerante que, dia após dia, eram cada vez mais numerosos os grupos de colonos que partiam para o norte (Maine e New Hampshire)  ou em direção ao sul (Rhode Island e Connecticut), em busca de maior liberdade. Esses últimos territórios viviam no regime de "separação da Igreja e do Estado" e respeitavam o "direito eleitoral independente do vínculo à igreja". 
                 A pesca à baleia enriquecia as povoações costeiras, enquanto as indústrias de papel, as serrarias e outras empresas madeireiras dominavam o mercado. 
              Com a geração de tanta riqueza, a Filadélfia, centro da colônia,  logo tornou-se uma cidade com aspecto europeu, muito atraente, que tinha cerca de 30.000 habitantes já em 1690. A primeira escola pública da cidade surgiu em 1638, e o Colégio Universitário William Penn dava aos estudantes a possibilidade de adquirirem uma formação superior; por outro lado criaram-se numerosas escolas privadas bem como escolas noturas para atender aqueles que trabalhavam durante o dia. 
                Por volta de 1680, já havia livrarias em Boston. Em 1704, fundou-se em Cambridge, Massachusetts, uma grande tipografia, onde também se imprimia um jornal. Depois surgiram outros periódicos; um  dos mais lidos era o New York Weekly Journal, fundado em 1733. 
                É importante lembrar que até aqui  esse Novo Mundo americano era uma colônia inglesa. O rei da Inglaterra havia delegado direitos de soberania a sociedades comerciais ou pessoas privadas, reservando para si, tão somente, uma espécie de direito de fiscalização; mas os "procuradores" geralmente residiam na Inglaterra e entregavam a governos o exercício das suas funções. 
               O alto respeito á justiça era sublinhado, em 1782, pelo escritor francês J.Hector St. John Crèvecoeur, nas suas "Cartas de um fazendeiro americano", escrevia: "É americano aquele que, tendo deixado atras de si preconceitos e hábitos tradicionais, aceita a nova maneira de viver e os novos hábitos, com o novo governo a que obedece e com a nova atitude que adota". 
               Todos esses progressos, o desenvolvimento dos Estados da Nova Inglaterra e o crescimento de grandes territórios coloniais ingleses no solo norte-americano, não decorreram sem permanente conflitos com a população indígena nem tampouco sem tensões na política mundial, com as nações européias estendendo a sua influência sobre a América. Nada, nesta terra, era conseguido sem luta; os homens fugidos da Europa, procedentes de diversas pátrias, levaram para o Novo Mundo as suas ideias, as suas emoções e as suas querelas. 
               Desde 1603, os colonos franceses da Nova Escócia haviam começado a subir o rio São Lourenço. Em 1608, edificaram a cidade fortificada de Quebec, sobre as rochas que dominavam o rio. De início, como acontecera na parte inglesa da América do Norte, a região estava nas mãos de grupos de caçadores e aventureiros , mas logo apareceram também missionários. Em 1627, as companhias comerciais aí instaladas obtiveram, através do cardeal Richelieu, uma carta de privilégio real. 
               Em 1674, o vasto território situado entre as margens do rio São Lourenço e os Grandes lagos, ainda mal delimitado, tornava-se propriedade do Estado francês. O território, batizado com o nome de "Canadá", era objeto do zelo apostólico e missionário dos jesuítas, responsáveis pela fundação, em 1636, da Universidade de Quebec e, três anos depois, após a expansão para os Grandes lagos, pela edificação do convento de Santa Maria do Huron. 
                Nas fortificações levantadas em comum pelos padres da Companhia  de Jesus e pelos caçadores, havia lojas onde se expunham peles e produtos vindos da Europa. As fazendas e os aglomerados urbanos escasseavam, mas periodicamente realizavam-se feiras, pontos de encontro de Índios e brancos. Até 1700, o numero de habitantes franceses do gigantesco território não ultrapassava os 50.000. 
            Em 1673, Jollliet e Marquette desceram o rio Mississípi, cuja foz seria atingida em 1682, por La Salle. 
             Para proteger as áreas de caça e os terrenos das missões, os franceses construíram fortes de madeira: de Detroit, Miami, Santo Inácio e Wayne, o cinturão fortificado ia até Crèvecoeur  e St. Louis, atingindo o Kentucky, na margem ocidental do rio, onde se erguia o Forte de Chartres. No delta do Mississípi, surgiram os postos de apoio de Natchez, Rouge, Nova Orleans e Mobile; ao norte, entretanto, os fortes de Montreal, Frontenac, Oswego e Niagara, habitualmente ocupados pelo exército, asseguravam a tranquilidade da fronteira, para além da qual se erguiam as localidades inglesas de Boston, Nova York e Filadélfia. Em 1690, um oficial ambicioso chamado Iberville chegou a ocupar uma pequena parte do território inglês; mas as forças britânicas da América reagiram imediatamente. 
           Na confusão e no tumulto que as guerras de Luiz XIV provocam na Europa, a luta se propaga também à América do Norte. As tropas do governador Frontenac  entram no território dos iroqueses, aliados dos ingleses, e fazem-no de forma tão violenta que os chefes índios pedem a paz, unicamente para salvar o que resta do seu povo. O acordo de Risvique obriga os franceses a restituir as regiões conquistadas na Nova Inglaterra, mas mantem-nos na posse da baía de Hudson, tomada por Iberville. 
               A partir desse momento, fica claro que a lenta colonização leste-oeste dos ingleses entra em choque com a progressão norte-sul dos franceses e que a Inglaterra resistirá a qualquer tentativa da França para aumentar o seu poderio colonial na América ou na Índia. As guerras européias provocam,porém, o recrudescimento das lutas coloniais, e estas envolvem a participação dos povos indígenas, de há muito pressionados pelos brancos, seus inimigos mortais. Daí algumas companhias militares de pequeno vulto: combates de tropas de batedores, ataques a fortes, incêndios de fazendas isoladas e pilhagem de povoações. 
                 Com as forças regulares enviadas pela mãe pátria intervém raramente e em pequeno número, a defesa dos territórios fica a cargo dos próprios habitantes locais, e nessa luta destacam-se homens que irão desempenhar importantes papéis na história americana; assim acontece, em  1754, com um fuzileiro da Virgínia chamado George Washington, que, à testa de um punhado de homens, impede a penetração francesa a Ohio e levanta o Forte Necessity. Porém o bravo virginiano tem de se render às tropas francesas, nitidamente superiores, que transformam o reduto americano em Forte Duquesne . 
                A luta da Inglaterra e da França pelo domínio dos mares e pela supremacia mundial entra finalmente numa fase decisiva. Na Europa, é a "Guerra dos Sete Anos", dirigida por Frederico, o Grande, da Prússia, contra a imperatriz maria Teresa, da Áustria, pela posse da Silésia. A Inglaterra assume, na ocasião, o papel de aliada da Prússia, contra a oposição da França. As tropas francesas são batidas em Rossbach em 1757, enquanto, na América do Norte, a Inglaterra conquista Luisbourg e o Forte Duquesne, do qual nascerá Pittesburg, em honra de William Pitt. 


         Quando a América do Norte era Britânica    
     
                Enquanto a Europa, abalada pelas últimas guerras de religião, ia procurando endireitar suas condições políticas e espirituais, a Inglaterra preparava-se para enfrentar uma crise dinástica e parlamentar da mais alta importância. Fermento e origem de tanta confusão eram as ideias puritanas, isto é, aquela corrente religiosa, firmada na austeridade calvinista, que se formara aos poucos no seio da igreja anglicana. Os puritanos, já fortes nos últimos decênios do século XVI, e mantidos no freio somente pelo respeito que Elisabete incutia em seus súditos, começaram a fazer ouvir sua voz, sob o reinado de James I, hostilizando-lhe abertamente a política. 
               Do Canadá ao Ohio, as tribos indígenas revoltam-se contra os ingleses e, sob o comando do chefe Pontiac, colocam-se ao lado dos franceses. Mas a Inglaterra leva a melhor; em 1759, comandando os regimentos ingleses e batedores americanos, o general Wolf toma a cidadela de Quebec, até então considerada invencível. Um ano depois, cai Montreal; o Canadá já está perdido para a França, e os índios são massacrados. É nessa época que surge o lamentável ditado: The beste Indian is a dead Indian" ("O melhor índio é o índio morto").  Os escalpos dos franceses eram, então, comprados pelos ingleses, que, para apressarem o extermínio dos índios ,  chegavam a oferecer às tribos presentes previamente "tratados" com vírus da Varíola
              A paz de 1763 deu a vitória total à Inglaterra, na Europa, na Índia e na América. O Canadá e a Acádia foram cedidos pela França aos ingleses. Nesse mesmo ano morria Pontiac, um dos últimos grandes chefes das tribos indígenas. 
               A revolta das treze colônias britânicas da costa atlântica em em 1776 pode parecer como inevitável, mas a realidade do momento era outra. Os colonos e o governo britânico se sentiram igualmente orgulhosos após derrotarem juntos a França e a Espanha. Além disso, quanto a seu sangue, idioma, religião, cultura e organização econômica, os britânicos e os norte-americanos brancos eram um mesmo povo; as distintas colônias sempre buscavam em Londres, mais do que entre si mesmas, o apoio, a identidade política e as oportunidades comerciais. Entretanto, a magnitude dos avanços alcançados com a Paz de Paris se resolveu alguns problemas, acabou por criar outros. Por um lado, uma vez eliminada a ameaça de um ataque francês, os colonos começaram a ressentir-se da intervenção britânica em seus assuntos; buscavam maior grau de autonomia. Por outro lado, a aquisição de territórios incentivou o governo em Londres a tomar decisões para controlar mais rigorosamente a organização do império. Cobravam-se novos impostos às colônias para financiar a defesa de seus territórios. Também promulgou-se uma lei para proibir a livre colonização em direção ao Oeste; os ministros em Londres queriam vender os direitos sobre as novas terras a quem melhor pagasse. 
               As colônias tinham uma tradição de desobediência e inclusive de resistência aos editais do governo. Todas contavam com suas próprias assembleias eleitas, a maioria delas com uma longa história de choques com os governantes e outros representantes enviados de Londres. Mas as discussões do passado não eram relevantes em comparação com a oposição que enfrentavam as novas medidas dos britânicos na década seguintes a 1763. Houve acaloradas reuniões de assembleias; decisões irresponsáveis tomadas pelas cortes condenando os impostos e violentas manifestações populares. Finalmente, o governo britânico respondeu com medidas drásticas para restabelecer a ordem. E os norte-americanos reagiram convocando um congresso de representantes de todas as assembleias coloniais coloniais (setembro de 1774), organizando um boicote às importações britânicas. 
                   Quando no outono de 1774 chegaram à Europa as primeiras notícias sobre a insurreição dos colonos americanos, que lutavam pela independência dos Estados Unidos, a opinião pública do Velho Continente mostrou-se desconcertada; quem era essa gente? Como ousavam contestar o direito das potências européias de manter o controle absoluto sobre suas colônias?
          A tensão foi crescendo e em abril de 1775 ocorreu uma confrontação armada entre manifestantes locais e tropas britânicas em Lexington, Massachusetts, terminando em massacre. 
              No mês seguinte reuniu-se um segundo congresso continental na Filadélfia, onde buscou-se angustiosamente um acordo. 
                Em junho de 1775 houve um ataque a Bunker Hill e o incêndio de Charlestown. Este foi um dos encontros mais sangrentos entre os colonos estabelecidos nas costas americanas e os ingleses. A vitória foi para estes últimos; entretanto, tivera de lamentar a morte de mil de seus soldados. A feroz resistência dos colonos inflamou o patriotismo dos norte-americanos. 
             À medida que cada uma das fórmulas de conciliação foram recusadas por Londres, uma facção de colonos radicais encontrou apoio generalizado à ideia de romper com a Grã-Bretanha. 
A Independência dos Estados Unidos
         No dia 4 de julho de 1776, depois de muitos debates, adotou-se uma "Declaração de Independência" unilateral, redigida por "Thomas Jefferson"da Virgínia. Em 2 de agosto, os membros do Congresso assinaram um a um: John Hancock, presidente do Congresso, fê-lo primeiro com uma assinatura enorme e destacada para assegurar-se (segundo ele próprio explicou) de que o rei Jorge pudesse lê-la sem óculos. Quando o texto chegou ao comandante-em-chefe americano, George Washington, este mandou que fosse lido a cada uma das companhias de suas tropas para que soubessem por que lutavam. Desta maneira, nasceu um "novo país", os Estados Unidos da América do Norte, uma República comprometida com a declaração de Jefferson de que "todos os homens são criados iguais". 
                Entretanto, em 1776 esta nova nação necessitava notoriamente de uma organização para sobreviver. O Congresso era quase uma conferencia diplomática permanente de Estados soberanos. O exército, criado com muitas dificuldades e mal equipado, teria se desintegrado totalmente se não fosse a coragem, sabedoria e vigor ferrenho do general George Washington. Contudo, houve muitas derrotas: perdeu-se Nova York em 17765, Filadélfia em 1777, Savannah em 1778, Charleston em 1780. Mas os comandantes britânicos pareciam ter a estranha habilidade de transformar em derrotas suas vitórias. Em 1777, um exército britânico, que se dirigia ao sul a partir do Canadá, avançou afastando-se demasiadamente de sua base de abastecimento e, isolado, teve de render-se de maneira humilhante em Saratoga. Este fato levou os franceses, que ainda não tinham se recuperado de sua humilhação da Guerra dos Sete Anos, a declarar gerra à Grã-Bretanha. Em 1781, as últimas forças combatentes britânicas, surpreendidas na Península  de Yorktown  por uma frota francesa e um exército franco-americano, renderam-se. 
              Conta-se que os soldados britânicos foram marchando para o cativeiro tocando uma melodia chamada "O Mundo Está ao Contrário". Assim lhes deve ter parecido, porque Yorktown marcou a derrota do maior império do mundo de então, derrota que foi formalizada em 1783 com um tratado de paz (Tratado de Versalhes) que reconhecia explicitamente a independência dos Estados Unidos da América do Norte. Contudo, a República era pequena e fraca; sua população  era de cerca de 3 milhões  de habitantes, metade de seu território estava nas mãos de vizinhos hostis, sua economia colonial ainda pagava tributos à metrópole e a organização do Estado era bastante caótica. 
             Os vencedores seguiam sem uma Constituição adequada. Esta foi obtida, finalmente, em 1787, em uma convenção especial da Filadélfia, onde, em vários meses de difíceis negociações secretas, se redigiu a Constituição que até hoje vigora nos estados Unidos da América. 
                 Trata-se de um documento cheio de sábios detalhes práticos, que em parte explica sua sobrevivência; mas seu êxito deveu-se, principalmente, a seus três princípios reguladores. Primeiro, que a República estava destinada a ser uma nação. As palavras iniciais do prefácio são: "Nós, o povo dos Estados Unidos, com a finalidade de formar uma União mais perfeita...." Portanto, foi reconhecida a lógica de insurreição contra a Grã-Bretanha. Esta uniu os norte-americanos para resistir à opressão e agora não deixaria que os submetessem. Mas o segundo princípio é que seguiam sendo uma Confederação. Os treze Estados estavam demasiado consolidados para serem abordados ou submeter-se por completo a um novo governo central;além do mais, era lógico dar a maior liberdade possível aos governos locais. A viagem em diligência de Charleston a Boston durava várias semanas e mais ainda cruzar os territórios virgens entre o Maine e a região do Mississípi. De maneira que a união chamou-ser "federal", o que significa que uniria os Estados livremente, não de maneira estrita, e que trataria a todos por igual ; no Senado norte-americano, cada Estado, não importando sua dimensão, estaria representado por dois senadores. <
              A nova Constituição também deu andamento ao famoso princípio de separação dos poderes: a autoridade federal dividiu-se entre o Executivo (chefiado por um presidente eleito a cada quatro anos), o Legislativo (Congresso bicameral) e o Judiciário) Corte Suprema). Todos tinham métodos de eleição diferentes para nomeação de seus membros, o que tornava quase impossível que uma só pessoa, ou inclusive um pequeno grupo, tivesse o controle dos três ramos do governo federal de forma simultânea. Finalmente a Constituição, em suas primeiras dez emendas, garantiu certos direitos básicos de indivíduo, como o direito de todos os cidadãos carregarem armas, gozar de liberdade religiosa e de liberdade de expressão. Estas emendas, conhecidas coletivamente como a Declaração de Direitos (Bill of Rights), ajudaram a evitar que os presidentes (o primeiro foi George Washington), o Congresso ou os Estados abusassem de seu poder, como fizeram o rei e o primeiro-ministro britânicos, contra os quais os colonizadores rebelaram-se. 
                   Em menos de cem anos a nova nação tornou-se um gigante; em 1890 sua população tinha crescido mais do que a de qualquer país europeu, com exceção da Rússia, e sua economia era a mais produtiva do mundo. O território dos EUA cresceu em proporções continentais, enquanto seu governo republicano tornou-se forte, centralizado e estável. 
              A expansão da República americana foi sustentada pela abundância de recursos naturais. Enquanto as grandes potências européias perseguiam seus sonhos imperialistas  na África e na Ásia, os EUA deram-se ao luxo de construir um império nacional. A marcha para oeste pode ser entendida como um tipo de imperialismo nacional, com motivos semelhantes, mas resultados diferentes do imperialismo europeu. A cultura nativa da América do Norte não foi apenas conquistada, mas destruída, e uma democracia capitalista desenvolveu-se em seu lugar. 
                Em 1783, quando sua independência foi oficialmente reconhecida, os EUA ocupavam uma área de 2.072.000 Km² de terras, quase todas ricas e aráveis. Por meio de vários tratados, esse imenso território foi ampliado com áreas maiores e mais férteis. A compra de 2.142.000 Km² da Lusiania em 1803, foi um fato de sorte para o presidente Thomas Jefferson. A Flórida Ocidental foi tomada à força na administração de James Madison e a Flórida Oriental, com 155.400 Km², foi comprada durante o governo de James Monroe. 
              Um grupo  de aquisições , entre 1845 a 1853, completou a área continental.Negociações pelo território do Oregon, com 738.150 Km² acabaram somente em 1846. A República do Texas, com 1.010.000 Km², foi foi anexada em 1845 e a vasta cessão mexicana, com 1.370.110 Km², foi espólio de guerra em 1848. Finalmente em 1853, ocorreu a aquisição de Gadsden, comprado do México para controlar uma promissora ferrovia. Comparada a outras aquisições, seu tamanho era ínfimo - 77.700 Km². 
               Esta massa de terra foi ocupada quase na mesma velocidade com que foi adquirida.  Antes de 1776, os americanos foram lentos para colonizar o interior, ade "interior atrasado", Após 1.800, a designação tornou-se "fronteira" e a colonização avançou logo para o oeste. Pela definição americana, "fronteira" é a borda exterior da área com densidade demográfica de, pelo menos, duas pessoas por Km². Antes de 1783, exceto por uma pequena povoação no Kentucky, essa linha permaneceu à leste dos montes Apalaches. Apenas 30 anos depois, a área central do continente estava ocupada. Em 1820, a fronteira tinha cruzado 0 Mississipi e, perto de 1840, tinha atingido o meridiano 100º. que divide Dakota do Norte, e se deslocava para o centro do Texas. Além dessa linha, as chuvas de menos de 508 mm insuficientes para sustentar as culturas tradicionais de regiões úmidas. A aridez diferenciava o oeste, exceto a região noroeste da costa do Pacífico, do resto do país e o ritmo da expansão diminuiu até que os colonos tivessem meios para continuar com as culturas de trigo e a criação de gado. As planícies ("Grteat Plains") só foram conquistadas após 1865,com o auxílio de novas tecnologias - ferrovias, arado de aço, revolver de seis tiros, cerca de arame farpado e moinhos de vento, feitos de aço. O superintendente do censo de 1890 observou que, pela primeira vez  na história norte-americana, uma linha de fronteira única era mais visível no seu mapa. De certa maneira a fronteira havia terminado. 

A expansão dos EUA para o Oeste
                  O vasto território conhecido como o Oeste americano oferecia grandes oportunidades e perigos aos colonos. O chefe apache Jerônimo, um grande guerreiro e líder dos levantes indígenas entre os anos 1880 e 1886. A diligência era utilizada pelos pioneiros que começaram a instalar-se nos territórios do Oeste em meados do século XIX. A caça ao búfalo significava para os índios uma fonte de alimentos e abrigo indispensável. que os levava a viajar grandes distâncias atrás de suas manadas. 
                  A migração para oeste em carroças cobertas teve início em fins do século XVIII e ganhou força após a travessia dos montes Allegheny e da entrada de imigrantes no Meio-Oeste, via Grandes Lagos e no Mississípi. Esse retrato idealizado abaixo, complementado com índios pacíficos, mostra uma uma carava saindo das montanhas rochosas. Na verdade, os imigrantes 
foram objeto de resistência por parte das tribos indígenas, deslocadas para oeste pela pressão sempre crescente.
                  A colonização foi uma experiência extremamente negativa, sob a perspectiva dos povos indígenas; a expansão tornou-se retração, a democracia transformou-se em tirania, a prosperidade em pobreza e a liberdade em confinamento. Possivelmente, antes de 1600, 10 milhões de índios viviam ao norte do Rio Grande, falando mais de duas mil línguas e morando em pequenas aldeias ou em grupos nômades, subsistindo do milho, da caça, da pesca e dos frutos da floresta. A chegada dos europeus trouxe mudanças fundamentais. Deles, os "sioux" obtiveram seus cavalos;os "navajos", suas ovelhas; e os "iroqueses" suas armas de fogo. Mas o impacto foi muito desvantajoso: as tribos da Nova Inglaterra, devastadas por doenças, foram destruídas na Guerra Pequot em 1636, e na Guerra do rei Felipe I, entre 1675 e 1676; nas colônias centrais a nação delaware foi derrotada pelos holandeses nas Guerras de Esopus entre 1660 e 1663. As tribos sulinas, apesar de terem adotado hábitos "civilizados", não se saíram melhor. Agricultores, liderados pelo presidente Andrew Jackson, conseguiram uma lei para a sua remoção e, embora a Suprema Corte tenha se oposto, em 1838 aproximadamente 50 mil Cherokees foram enviados em pleno inverno para o árido Oklahoma. Muitos morreram no caminho. Os Choctaw Creek e Chickasaw tiveram destino semelhante. Mesmo os seminotes, isolados nos pântanos da Flórida, puderam resistir por apenas uma década, ou menos. 
                  Nas grandes planícies, a base econômica e espiritual da cultura indígena foi destruída quando as manadas de búfalos foram, inicialmente, divididas em duas pela primeira ferrovia transcontinental em 1869 e, depois, dizimadas numa campanha deliberada para matar os "sioux" de fome. Na década de 1890, os búfalos e os índios sobreviviam apenas em reservas. 
                 À medida em que a base material da cultura indígena desintegrou-se, sua estrutura espiritual foi substituída por diversas formas novas de crença. A "Dança dos espíritos" era uma religião de resistência, desenvolvida primeiramente de forma não-violenta pelo pajé paiute Wovoke, desde a década de 1890. Os "sioux" a transformaram numa crença de guerreiros, que conduziu inevitavelmente à batalha de Wounded Knee em 1890. O culto da mescalina, por outro lado, era uma religião do sincretismo que tirava suas doutrinas de fontes indígenas e européias e servia de ponte espiritual de uma cultura para a outra. 
                O surgimento dos índios na América deve ter ocorrido há cerca de vinte ou vinte e cinco mil anos, quando povos sem nome, através das intermináveis estepes, chegaram ao limite extremo da Sibéria, passaram em ondas sucessivas por aquele que hoje é o estreito de Bering , tocaram o Alasca, e daqui se espalharam pelo continente americano. Com o decorrer do tempo, essa gente primitiva se diferenciou sempre mais entre seus componentes, e ficaram conhecidos como Peles Vermelhas. 
                Enquanto alguns grupos da América Central e Meridional, como os Maias, os Incas, haviam-se organizado em grandes estados e possuíam ricas cidades, estradas e  me monumentos, os indígenas do Norte estavam, ao invés, divididos em muitíssimas tribos autônomas, que levavam vida primitiva e por vezes nômade. Mas, por muitos aspectos, também estas tribos se distinguiam umas das outras; antes de tudo, a coloração da pele que, em algumas, era morena e olivácea como aquela de certos povos africanos, em outras, amarela, como aquela dos Maláios e, em outras ainda, tendiam para o branco, como a dos Europeus. A denominação de Peles-Vermelhas é, portanto, bastante inexata. 
                Neste mapa dos estados unidos da América do Norte, estão indicadas as principais tribos dos Peles-Vermelhas, na época das guerras indianas, depois das quais os remanescentes foram relegados às "reservas" formadas pelo Governo. 
                 A canoa era leve e o único e prático meio de comunicação pelos rios, lagos e alagadiços. Quando um curso de água era interrompido pela forte correnteza ou cachoeiras, a ligeira canoa podia se transportar facilmente  aos ombros até ao ponto em que fosse posta novamente a flutuar. 
               Os índios americanos falavam mais de cem dialetos, que se podem reagrupar em sete idiomas principais. As várias formas religiosas eram ricas de cerimônias sacras, de danças rituais,de lendas e mitos, diferentes de tribo para tribo, mas todos inspirados em um constante amor à vida e na crença em uma força misteriosa que protege os homens. Diversos eram também seus hábitos e seu modo de viver, determinados, sobretudo, pelo clima e pelos recursos naturais do ambiente. Por isso, os Ameríndios,  que viviam no espaço ocupado atualmente pelos Estados Unidos da América do Norte, podem dividir-se em grandes grupos, segundo os territórios que habitavam. 
                 Havia os índios do Leste, os Caçadores das Florestas, que praticavam a agricultura, mas especialmente a caça. Na costa atlântica, viviam os Delamare e os orgulhosos Penobsco.  Na bacia do São Francisco, e em torno do lago Ontário, dominava a poderosa Liga dos Iroqueses, que reunia os Cayuga, os Mohawak, os Oneidas, os Onondagas,  os Sênecas e os Tuscarora. Na região dos Grandes Lagos, onde as florestas se alternavam com os pântanos, viviam os Chippewas, os Menôminos, os Fox.  Na Flórida, vagavam as estranhas e indomáveis tribos dos Seminolas. Depois, havia ainda os índios dos prados, os Caçadores de Búfalos. Suas tribos pertenciam às grandes nações dos Sioux, dos Alonquins, dos Shoshoni,  dos Caddos, e usavam nomes que os tornaram famosos: Corvos, Osage, Arapaho, Cheyennes, Pés Negros, Pawnee, Comanches, Serpentes. Ocupavam o mesmo território central, que hoje hospeda treze Estados da Confederação, muitos dos quais mais extensos do que certos países europeus. Eram nômades e habitavam as características barracas cônicas, recobertas de peles; movimentavam-se seguindo as migrações das manadas de búfalos, que constituíam seu único recurso. Os Caçadores das Florestas, que habitam a zona Leste dos Estados Unidos, viviam quase que exclusivamente da caça, como indica o próprio nome desses Peles-Vermelhas. Os alces, os cabritos, os perus, que povoavam abundantemente os bosques serviam-lhe como alimento e meio de permuta com as outras tribos. 
              Para os índios dos prados, o cavalo, levado ao Novo Mundo pelos Espanhóis, foi um aliado precioso. 
              Havia os índios do Oeste, que viviam nas regiões do Pacífico e nas montanhas; pescadores de salmões, caçadores, pastores. Alguns eram nômades, outros possuíam barracas cônicas ou casas de madeira. Algumas tribos, como os Haida e os Tsimshiam, costumavam erigir, à entrada de suas habitações, os portes de "Totem", de cedro entalhado, representando máscaras e figuras de animais. Ao Sul, no hodierno território do Arizona e no Novo México, viviam as tribos mais evoluídas, que os Espanhóis denominavam Pueblos (aldeias) porque habitavam casas de pau-a-pique, superpostas em dois e até quatro andares, até formar estranhos povoados. Os Pueblos sabiam irrigar os campos e cultivavam algodão; criavam perus, eram hábeis em fabricar vasos de cerâmica. 
            Todas estas tribos, algumas centenas, atingiram, em conjunto, cerca de um milhão de indivíduos, ou talvez mais. Então, o território dos Estados Unidos era, em geral, pouco habitado e, aqui ou acolá, apareciam vastas regiões, de todo desabitadas ou quase. E pensar que hoje, na mesma área, vivem cerca de 300 milhões de habitantes, devido à abundância de recursos, ali poderiam viver mais pessoas. 
                 Os Peles-Vermelhas não conheciam a roda nem os metais, nem o arado, nem tampouco a escrita alfabética. Tinham inventado a canoa, que é uma embarcação tecnicamente perfeita para navegar nos rios, mas não haviam passado disso. Todavia, não se tratava de selvagens ululantes e desenfreados. Em geral, levavam vida pacífica; breves e não frequentes eram as guerras entre tribo e tribo. Possuíam, além disso, ótimas qualidades: inteligência viva, firmeza de caráter, coragem estoica e generosidade. Mais do que qualquer outro povo, sabiam manter a palavra dada e consideravam a amizade como coisa sagrada. 
                 Os primeiros estabelecimentos europeus, nas costas atlânticas dos estados Unidos  e do Canadá, surgiram cerca do início do século XVII.
               Os colonos tinham atrás de si as densas florestas, de onde silenciosos e imprevistos, mas nem sempre hostis, apareciam os índios, em seus pitorescos trajes. Somente os caçadores e os compradores de peles se arriscavam pelo interior das matas e, então, mais frequentemente, encontravam os indígenas, com os quais, comumente, ,mantinham boas relações; ofereciam-lhes seus tecidos, armas-de-fogo, facas, bebidas alcoólicas e recebiam, em troca, peles preciosas. 
                 Sob o impulso de uma forte corrente migratória, que provinha de muitos países da Europa, os estabelecimentos se ampliaram sempre mais e constituíram uma liga denominada "Colônias Unidas da Nova Inglaterra". Estas colônias tinham um inimigo comum, de que deviam defender-se: os índios, que consideram agora os Brancos como invasores de suas terras. Dos brancos, tinham experimentado também os enganos e a pouca lealdade na observância dos tratados de paz, após os breves conflitos. Os encontros tornaram-se mais frequentes e sangrentos. Aos súbitos ataques dos índios, os pioneiros respondiam com represálias indiscriminadas. As etapas da colonização foram assinaladas por matanças, emboscadas, massacres, incêndios de fazendas, destruições de aldeias. 
                Houve, contudo, exceções. Willian Penn, o fundador da Pensilvânia, soube cativar a amizade dos índios, formou com eles acordos, que honestamente observou, e manteve tranquilas as relações de boa vizinhança. A constante rivalidade entre França e Inglaterra, na conquista do Continente, levou-os a numerosos conflitos e concluiu-se com uma guerra que durou oito anos. 
                E, assim, as tribos de índios acabaram sendo envolvidas também nas guerras entre os Brancos. Algumas nações indígenas delas participaram, umas como aliadas dos Ingleses e outras como aliadas dos Franceses. A paz de 1763 sancionou a derrota da França, mas as tribos indígenas continuaram combatendo entre si. 

              Em 1763, as colônias inglesas concluíram a luta pela sua independência e delas surgiram os Estados Unidos da América do Norte.  Nos anos seguintes, a colonização recebeu novo impulso. 
                Na zona do Lagos, um hábil chefe, Pequena Rôla, orientou a resistência dos guerreiros Miami e Iroqueses e, durante cinco anos, conseguiu infligir duros golpes nas tropas do jovem exército norte-americano. Depois, em 1760, foi obrigado a ceder os territórios de Ohia. Mas, a paz não podia durar. Alguns anos após, os Chippewa, os Menaminos, os Sauk, os Winnebogo, não mais toleraram o tratamento desumano a que estavam sendo submetidos e reiniciaram as hostilidades. Mas, embora tendo obtido algumas vitórias parciais, foram dominados. 
               Em 1830, os colonos ocuparam o território que o Governo entregara aos Sauk e destruíram-lhes as aldeias. A ocupação foi efetuada nos meses de verão, enquanto aqueles índios estavam em outras terras, devido à estação de caça. Ao regressarem, foram recebidos a tiros. Falcão Negro, o velho chefe, que já vinte anos antes tanto trabalho dera aos Brancos, procurou acalmar a ira de seus homens e convenceu-os a obedecer ao Governo, que os intimidava a irem para novo território designado para além do Mississípi, nas campinas. Mas, aqui, a neve e o gelo tornavam impossível a vida; a fome começou logo a ceifar suas vítimas, principalmente entre as mulheres e as crianças. Ao fim do inverno, os Sauk voltaram a atravessar o Mississípi, resolvidos a conquistar, com as armas em punho, suas terras, às margens dos lagos ou morrer. Duas vezes desbarataram as tropas do exército, que lhes contrastaram os passos, mas, diante de reforços de muito superiores, tiveram que, afinal, retirar-se para o rio. O general americano prometeu a Falcão Negro que lhes deixaria livre a retirada. Os Sauk prepararam-se nas jangadas e nelas subiram todos, guerreiros, mulheres, crianças, com seus pertences. Mal havia deixado a margem, os esquadrões de cavalaria abriram fogo contra eles. A tribo inteira foi massacrada, e os poucos que conseguiram salvar-se foram esfolados. 
                Os Seminolas continuaram a combater. Em 1842, o Governo desistiu da luta e retirou as tropas. 
                  Entrementes, nas pegadas dos mercadores de peles, os Brancos se haviam instalado no Oregon; tinha sido descoberto ouro na califórnia e no Colorado, e prata no Nevada. 
                O ano de 1835 representa ma vez dos Seminolas na Flórida. O Governo americano resolvera transferir para Oeste do Mississípi  também as pacíficas tribos que viviam na península. Deveria alcançar Oklahoma, mas significaria a guerra em os  Creeek. Os Seminolas rebelaram-se ante a intimação e acabaram com seu chefe "Osceola". Este deu ordem ao seu povo para que abandonasse as aldeias e se refugiasse nos pântanos do interior onde, a seguir, todas as expedições dos soldados americanos fracassariam miseravelmente. Durante três anos, os Seminolas massacraram patrulhas, espalhando o terror nas terras dos colonos. Afinal, o general Jesup recorreu a uma tradição, que foi a mais vergonhosa de todas quantas foram perpetuadas a dano dos Peles-Vermelhas. Convocou Osceola para negociar a paz. Osceola não quis aceitar o conselho de quem o exortava a desconfiar. Jesup procurou fazer com que ele aceitasse uma rendição sem condições. Osceola recusou; foi chicoteado e encarcerado em um buraco lamacento, onde morreu alguns meses depois. 
                 As longas caravanas de carros cobertos representavam o avanço dos Brancos. Aos índios das planícies foi assegurado o direito de posse de certos territórios, dominados "reservas", onde poderiam caçar e viver sossegados. Mas os limites das reservas eram continuamente violados pelos Brancosa, e o Governo não dava ouvido aos protestos dos Chefes, que tentavam defender os direitos de sua gente, sancionados por tantas promessa e tratados. 
                 No Colorado, viviam os Cheyennes,  de Caldeira Negra. em um dia de março de 1864, o major Downing, à frente de um batalhão de cavalaria, entra em seu território e ali destrói uma aldeia, matando cerca de vinte índios. Tratava-se de uma "expedição punitiva"; um colono havia acusado os Cheyennes do furto de uma vaca. Caldeira Negra e Antílope Branco contiveram os guerreiros que desejavam vingança e declararam ao major americano que queriam evitar a guerra. O major aconselhou-os a acampar nas proximidades de um Forte, à espera de um acordo. Mas o coronel Chivington considerou muito humana tal decisão: mandou circundar o acampamento e ordenou um massacre indiscriminado. Sobre a barraca de caldeira Negra, flutuava a bandeira norte-americana, sinal de proteção concedida pelo major. Caldeira Negra conseguiu escapar, com poucos supérstites (sobreviventes). Em 1867, foi assinada a paz, mas, no dia seguinte, o general Custer repetiu a tradição de Chivington. (General Custe, apelidado de "Cabelos Amarelos", o homem mais odiado pelos Peles-vermelhas, depois do massacre dos Cheyennes, de Caldeira Negra. Foi um comandante medíocre; ambicioso e cruel, procurou conquistar, "à custa dos cães vermelhos", a glória que não soubera obter na guerra de Secessão".)
Também Caldeira Negra foi morto. Entretanto, uma revolta explodira ao Norte.
                 Em  1865, o grande chefe Nuvem Vermelha, opô-se à construção de uma estrada de ferro para Montana. O general Carrington mandou iniciar, assim mesmo, os trabalhos. Recomeçaram as emboscadas, os assaltos aos canteiros de trabalho e às diligências, os massacres de patrulhas. Nestes combates, foram usadas, pela primeira vez, as metralhadoras.  Quatro mil guerreiros de Nuvem Vermelha atiraram-se, com desesperada coragem, contra as novas e terríveis armas, mas afinal, foram obrigados a se retirarem, dizimados. Nuvem Vermelha prosseguiu nas guerrilhas, e somente em 1868 foi assinada a paz. 
                  No outono de 1870, Nuvem Vermelha foi recebido em Washington pelo presidente dos Estados Unidos. A regressas de lá, o chefe índio, que dois anos antes assinara a paz, reuniu-se com Touro Sentado, Urso Veloz e Cauda Manchada, e disse: "O Papai Grande explicou-me, palavra por palavra, as cláusulas do tratado. Os Intérpretes enganaram-me. Eu queo apenas justiça. estou pobre e nu, mas sou o chefe da nação Sioux."
                Com a assinatura do tratado do Forte Laramie, encerrava-se a primeira guerra contra os Sioux. O chefe índio Nuvem Vermelha procurou negociar a paz com os Brancos, mas, tendo visto que seria vã qualquer sua tentativa, decidiu agir pela força. Dessa forma, ele obteve a conquista do Forte Kearny, que foi incendiado pelos guerreiros. Mas, compreendendo que a vitória dos Caras Pálidas, no final, seria inevitável, preferiu tratar da paz. 
               Muitos Brancos de Sioux recusaram entrar nas reservas e entregaram sua confiança a Touro Sentado, da tribo dos Hunkappas. Em 1874, os pesquisadores invadiram as Colinas
Negras. Depois, o inverno de 1875/1876 foi particularmente rígido e outras tribos tiveram que sair das reservas, para caçar. E isso foi a volta à guerra. Sioux, Hurões, Cheyennes, Arapahos e Pés Negros uniram-se, sob as  ordens de Touro Sentado. Mas o verdadeiro protagonista desta nova luta foi Cavalo Louro, que obrigou à retirada o general Crook e, no verão de 1876, massacrou o regimento do general Custer, às margens do Litte Big Horn. 
                   Em junho de 1870, na Batalha de Litlte Big Horn, em Montana, o comandante chefe da cavalaria americana, general Terry, formulou um plano para surpreender os guerreiros de Touro Sentado. Custer, que comandava o "Sétimo Regimento de Lanceiros"não se ateve às ordens recebidas, na esperança de poder atribuir a si o mérito de uma vitória que considerava certa, mas as sentinelas de Touro Sentado  controlavam-lhe perfeitamente os movimentos. Encontrou-se, portanto, cercado pelos Peles-Vermelhas, sem esperança de socorros, e acabou sendo morto, com 370 de seus homens. Terry teve que se retirar. Touro Sentado , Cavalo Louco e Gall haviam batidos os generais. "A batalha durara menos tempo do que o que se emprega para acender um cachimbo", disseram os Índios. A notícia provocou enorme impressão em todos os Estados Unidos da União.
                Cavalo Louro foi, mais tarde, derrotado pelo general Miles. Outro general que, ao contrário de seus predecessores, soube manter sempre, em suas relações com os Peles-Vermelhas, muita lealdade e senso de humana generosidade, foi Crook, denominado Raposa Cinzenta. Crook derrotara o Chefe dos Apaches, Mescaleros, o indomável Cochiss, que concordou em retirar-se para uma reserva, e os inatingíveis bandos de Jerônimo, ao qual prestou honras militares; Jerônimo prisioneiro, passou entre duas alas de soldados, em posição de sentido. Em 1886, Jerônimo se encontra na senda da guerra. Não pode tolerar os maus tratos que então sendo infligidos à sua gente, na reserva, e dali saiu semeando o terror por todo o Arizona. Alguns destacamentos de cavalaria são destruídos. Mas agora  já é um exército inteiro, sob as ordens de Miles, que estreita em suas malhas as poucas dezenas de homens famintos de Jerônimo. É o último episódio e é, também , o fim das "guerras índias". 
                  Finalmente, depois de muitas lutas, os índios acabaram recebendo pleno conhecimento de seus direitos de parte do Governo. Segundo o último senso feito em 2010, existem nos Estados Unidos cerca de 2.932.248 índios, além de outros  106.660 índios no Alasca, incluindo os esquimós - (senso de 2006). 

                   A história dos Estados Unidos sempre foi marcada por muito sangue e destruição da fauna e flora em larga escala. Um episódio que merce ser destacado foi o caso do Buffalo Bill,(William Frederick Cody). Começara sua careira aos 14 anos, como estafeta a cavalo de serviço postal do Oeste. Participou da guerra civil, como guia. Depois, recebeu a incumbência de caçar pelo menos 12 búfalos por dia, necessários à manutenção dos trabalhadores de uma estrada de ferro em construção. Buffalo Bill, durante o tempo todo dos trabalhos, superou de muito a quantia estabelecida. Retornou ao exército, com a patente de coronel, às ordens de Miles, e tomou parte em vários combates contra os Sioux e os Cheyennes; matou, em 1876, em um singular desafio, o chefe índio Mão Amarela. Foi, ainda, deputado ao Parlamento. Organizou um circo equestre, com o qual visitou a Europa. Morreu em 1917, aos setenta anos. 
                   Todos os anos são organizadas grandes reuniões nacionais, e os índios para lá acorrem, das reservas, percorrendo por vezes muitos quilômetros. Nessas ocasiões, reaparecem as danças antigas e os pitorescos ornamentos: as penas de águia, as peles de arminho, os colares, as decorações e, então, os Peles-Vermelhas permutam visitas entre si e toam parte de desfiles ou de rodeios.  
O massacre promovido contra os bisões

               A história de três séculos de colonização do Oeste, como nos foi narrada pelos relatórios de viagens, pelos romances de aventuras, sempre despertando curiosidade e interesse, pensando nas intermináveis planícies, onde imensa manadas de Bisões e Búfalos sofreram uma verdadeira hecatombe.
                  Ainda hoje, todos nós conhecemos o nome de Búfalo Bill, o famoso, quase lendário William Cody, o cavaleiro do Far west. Ele foi essencialmente um grande destruidor de bisões, que matava por conta da ferroviária. Suas proezas, e sobretudo sua coragem, foram cantadas em prosa e verso. Até trens especiais eram organizados para que os turistas pudessem assistir às suas matanças. Na verdade, Búfalo Bill  jamais matou um búfalo, porque este animal não existiu na América do Norte. 
                  Os primeiros viajantes que, das margens do Atlântico,avançaram até ao Ocidente, ao longo dos imensos rios da América do Norte, ficaram espantados ao verem rebanhos numerosos de enormes bois selvagens, de pelo escuro e aveludado, vagar livremente pelas pradarias; e eram tantos que parecia não ter lugar para mais ninguém a não ser eles, naquela interminável região, e que os homens devessem abrir caminho com dificuldade através de seus compactos grupos. De perto, eram animais espantosos à vista, verdadeira encarnação da força bruta: largos e maciços, com um metro e oitenta  de altura, gibosos e arrogantes, olhos pequenos e semiocultos na espessa crina, cabeça sempre baixa, como em ato de investir. Uma manada em plena corrida, durante as frequentes migrações desses colossos, era uma força primordial desencadeada, irresistível como uma cachoeira ou uma avalancha. Os exploradores europeus reconheceram nesses animais, que na realidade jamais tinham visto, algo de vagamente familiar; a lembrança dos gigantescos bisões que viviam em estado manso, porque agora já reduzidos a poucos exemplares, nas florestas da Europa Central, permitia-lhes reconhecer a espécie. O bisão americano é mais pesado e imponente do que aquele euro-asiático, possui chifres mais curtos e crina mais rica; a própria vastidão do território em que vive parece haver-lhe exaltado as características nômades  e belicosas. Quando a colonização começou a estender-se, rumo às zonas centrais e ocidentais do continente norte-americano, isto é, a invadir o reino inviolado dos bisões, os enormes rebanhos serviram de ajuda e de obstáculo aos pioneiros; de ajuda, porque constituíam uma reserva de carne praticamente inexaurível; de obstáculo, porque esterilizavam e ocupavam, fisicamente, o terreno. Calcula-se que entre o Canadá e o México, seu número beirasse os setenta milhões de cabeças; no outono, a passagem das manadas , que do norte iam hibernar em regiões mais cálidas, interrompiam o trânsito pelas estradas durante dias e dias. 

           A caça sistemática começou lá pelos fins do século XVIII; a carne e o couro do bisão tinham-se tornado um lucrativo meio de comércio para os índios, que não percebiam que, ao destruí-lo, tornavam árida sua única fonte de vida e riqueza.  De fato, o extermínio dos bisões procedia pari passo com a extinção das tribos selvagens, inadaptáveis a qualquer espécie de trabalho que não fosse a caça ou a guerra. Para os brancos, os enormes bovinos eram somente um obstáculo, visto que não era possível criá-los ou reduzi-los à domesticidade (o bisão, especialmente quando adulto, é inaproximável e rebelde a qualquer forma de escravidão). Com o decorrer dos anos, a caça se intensificou, tornando-se um verdadeiro massacre; lá pelos fins do século XIX, as linhas ferroviárias começaram a estender-se que nem serpentes de aço, rumo ao Far West, mobilizando milhares de operários e soldados, que tinham necessidade de providenciar alimentos para si no próprio local de trabalho e que não encontravam nada de melhor do que abater aquela grossa e fácil caça. As sociedades ferroviárias encarregavam caçadores especializados, recrutados entre os primeiros do Far West, para conseguir a carne e expulsar dali, ao mesmo tempo, as manadas perturbadoras. Dentro todos, o "coronel" William Cody, se tornou famoso e conquistou o apelido de "Búfalo Bill", justamente pelo número exorbitante de bis]ões que matou durante sua longa carreira; cerca de quatro mil são calculados os animais que tombaram varados pelas balas de seu rifle covarde e infalível. O massacre era tão vistoso e tão ingloriamente fácil que se organizava trens com turistas famintos de assistir a matança. Sentados comodamente em suas poltronas assistiam as proezas  venatórias de Búfalo Bill, que, ao lado de seus auxiliares selvagens, coloria os prados com sangue para o bel prazer dos visitantes. 
              Depois de semelhante carnificina, não é de admirar, que o número desses magníficos animais tenham se reduzido a ponto de quase desaparecer; ao final das grandes caçadas, quando já o domínio do homem branco se estendia incontrastado desde o Atlântico ao Pacífico, os animais sobreviventes eram talvez poucas centenas. Somente então os americanos perceberam que irreparável dano tinha sido praticado e procuraram remediar recolhendo os pequenos rebanhos que permanecem naqueles grandiosos parques nacionais, que são um pouco os museus naturais da flora e da fauna da América do Norte. Hoje, os bisões que ali vivem são cerca de 500 mil., graças ao trabalho de resgate e preservação feito pelos índios nativos que vivem nas planícies americanas. 

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