Total de visualizações de página

domingo, 19 de janeiro de 2020

A CIVILIZAÇÃO E A HISTÓRIA DA ESCRITA . .


                  O homem pré-histórico figurou, com desenhos mais ou menos rudes, executados nas paredes das cavernas, suas caçadas,seus combates, seus ritos. Estes desenhos foram a primeira "escrita", que nos transmitiram nossos ancestrais. Na mente do homem primitivo, surgiu vivo o desejo de deixar aos posteres os traços de sua passagem pela vida terrena e, então ele recorreu aos símbolos, para descrever os fatos mais importantes de sua existência e, pouco a pouco, encontrou na escrita o meio mais adequado de expressão. 
              A história da escrita tem pelo menos seis mil anos. Durante metade desse período o centro dos negócios humanos, ao que sabemos, foi o Oriente Próximo. Por essa expressão aqui significamos todo o sudoeste da Ásia ao sul da Rússia e do Mar Negro, como também o oeste da Índia e do Afeganistão e do Egito. A agricultura e o comércio desenvolveram-se nesse palco fervilhante de populações.  Com ele vieram também o cavalo e o carro (biga), a cunhagem de moedas e as letras de crédito, as artes e as indústrias, a lei e o governo, as matemáticas e a medicina, o calendário, o relógio e o zodíaco, o alfabeto e a escrita, o papel, os livros, as bibliotecas e as escolas, a literatura e a música, a escultura e a arquitetura, a cerâmica vidrada e o belo mobiliário, a poligamia, os cosméticos e a joalheria, o xadrez e os dados, o jogo de bola e o imposto sobre a renda, as amas de leite e a cerveja. É donde as culturas europeias e americanas derivam, via Grécia e Roma. Os arianos não criaram a civilização - tomaram-na da Babilônia e do Egito. A Grécia não começou a civilização, mas herdou-a, foi o receptáculo de três milênios de arte e ciências trazidas do Oriente Próximo pelo comércio e pela guerra. Portanto, o povo do Oriente Próximo foi o grande fundador da civilização ocidental. De fato, para fazermos justiça ao falar em civilização, precisamos nos curvar à sabedoria sumeriana a quem muito devemos. 
              Em meio a muitas lutas, essas variadas cepas raciais misturavam-se inconscientemente, talvez até involuntariamente, e cooperavam para produzir a primeira civilização da história - uma das mais criadoras e originais. 
             A exumação dessa esquecida cultura  é um dos romances da arqueologia. Para os gregos, romanos e judeus era desconhecida. O próprio sábio Heródoto não a menciona. Berosio, historiador babilônico de 250 a.C., entreviu a Suméria sob um véu de lenda. Descreveu-lhe o povo como uma raça de monstros, chefiada por um Oanes vindo do Golfo Pérsico, que introduziu a agricultura, a metalurgia e a escrita; "todas as coisas que melhoraram a vida", diz ele, "foram introduzidas por Oanes, e desde esse tempo nenhuma outra invenção apareceu".  Em 1850 Hincks admitiu que a escrita cuneiforme proviera dum povo de língua não-semita; e Oppert deu a esse hipotético povo o nome de "Sumérios". Por esse tempo Rawlinson encontrou, nas ruínas da Babilônia, tabletas com vocabulário da língua sumeriana, com tradução interlinear em velho babilônico. Em 1854 dois ingleses descobriram o sítio de "Ur", Eridu e Uruk; e exploradores franceses revelaram os remanescentes de Lagash, com tabletas em que vinha a história dos reis sumerianos. Há pouco tempo o americano Woolley e outros exumaram a cidade de "Ur", em que os sumérios alcançaram alta civilização em 1.500 a.C. Os trabalhos continuam e é de esperar que a exumação da Suméria se aproxime, em proporções, da do Egito - tão opulenta em achado. 
               Sem dúvida, o mais importante passo para a civilização foi a escrita. Fragmentos de cerâmica da era neolítica mostram linhas pintadas que os estudiosos interpretam como sinais. Achamos a interpretação  bastante duvidosa; mas é possível que a escrita começa com marcas na argila mole, para identificação do produto. Nos primitivos hieroglifos da Sumeriana pictografia de pássaros mostra sugestiva semelhança com a decoração também de pássaros da antiga cerâmica de Susa, em Elam; e a mais antiga representação pictográfica do grão vem diretamente da geométrica decoração granária dos vasos de Susa e da Suméria. A escrita linear da Suméria (3.600 a.C.) é aparentemente uma forma abreviada dos sinais e pinturas da primitiva cerâmica da Mesopotâmia e de elam. A escrita, como a pintura e a escultura, foi na origem um produto da cerâmica; começa sob a forma de desenho e gravação, e o mesmo material do objeto, do escultor e do construtor, passa a ser usado pelo escriba. Destes começos à escola cuneiforme da mesopotâmia, o desenvolvimento aparece logico e intangível. 
               Os mais velhos símbolo gráficos são os que Petria encontrou nos vasos e pedras dos túmulos pré-históricos do Egito, da Espanha e do Oriente Próximo, aos quais ele dá a idade de sete mil anos. Esta "Sinaria Mediterrânea" compunha-se de trezentos sinais, pela maioria os mesmo em todas as localidades. Não passavam de marcas mercantis, ou seja, marcas de propriedade, de qualidade e outras; não eram letras, mas representações de palavras internas ou ideias, muitas se assemelham extraordinariamente às letras do alfabeto fenício. Conclui Petrie que nos tempos primitivos um vasto corpo de sinais foi gradualmente entrando em uso para vários propósitos. O comércio os espalhava de terra em terra... até que um conjuntos de doze sinais triunfou e se tornou propriedade comum dum grupo de comunidades mercantis, enquanto outros permaneceram locais e por fim desapareceram. Que esta "sinaria" foi a fonte do alfabeto constitui uma interessante teoria que o professor Petrie teve a honra de sustentar sozinho.
               Qualquer que tenha sido o desenvolvimento dos primeiros símbolos comerciais, deles saiu uma forma de escrita, ramo de desenho e de pinturas, destinada a transmitir ideias por meio de representações gráficas. os rochedos do Lago Superior ainda conservam restos das rudes pinturas com que os índios americanos orgulhosamente narravam a travessia do grande lago. Uma similar evolução do desenho em escrita parece ter ocorrido no mundo mediterrâneo no fim da Idade Neolítica. Em 3.600 a.C, e talvez antes, Elam, Suméria e o Egito desenvolveram um sistema de símbolos ideais ou hieroglifos, assim chamados por serem de uso sacerdotal. Sistema similar aparece em Creta, em 2.500 a.C.  Veremos adiante como estes "hieroglifos", representando idéias, foram, pela corrupção do uso, esquematizados e reduzidos a silabários, isto é, a uma coleção de sinais indicando sílabas; e como, por fim, os sinais passaram a indicar apenas letras, ou o som inicial da sílaba. Tal escrita alfabética data de antes de 3.000 a.C., no Egito, e em Creta aparece apenas em 1600 a.C.  Os fenícios não criaram o alfabeto, mas espalharam-no; levaram-no do Egito a Creta e outros centros do Mediterrâneo.  No tempo de Homero os gregos estavam assimilando esse alfabeto "fenício", ou Aramaico, passando a conhecê-lo pelo nome de semítico das duas primeiras letras (Alfa e Beta - ou em hebraico,  Aleph e Beth). 
               A escrita parece ser um produto da conveniência comercial; aqui e ali a cultura percebe o quanto deve ao comércio. Quando os sacerdotes organizaram um sistema de desenhos com que fixar suas formular mágicas e a isso se restringiram os seculares, sempre em conflito, ligaram-se por um instante e criaram a coisa mais fecunda para os destinos humanos depois da fala. O desenvolvimento da escrita criou a civilização provendo o meio de fixar e transmitir os conhecimentos, e só assim a civilização poderia encetar a sua marcha para frente. 
                Os humanos sempre tiveram o desejo de deixar suas marcas para conhecimento das futuras gerações.
                   Os Maias representavam os números desenhando cabeças; cada cabeça representava um número. É de se imaginar a quantidade de cabeças e o quanto esta forma de expressão deveria  ser complicada numa simples soma. 
                 Na mente do homem primitivo surgiu vivo o desejo de deixar aos pósteros, os traços de sua passagem pela vida terrena e, então, ele recorre aos símbolos, para descrever os fatos mais importantes de sua existência e, pouco a pouco, encontrou na escrita o meio mais adequado de expressão. 
                Quando os egípcios descobriram a possibilidade de escrever nos papiros, deram início a uma nova forma de escrever, mais simples e mais rápida: a escrita hierática.  
                 Muito fraca, de fato, é nossa memória, para que a ela se possa confiar a veracidade dos fatos, das nossas ideias, de nossos sentimentos. Entretanto, comunicar com os homens que vivem em nossa época e que viverão depois de nós, vencer o tempo e a distância, dando forma duradoura ao pensamento, é uma das necessidades que, em primeiro lugar, se manifestou nos homens. O miraculoso prodígio, que faz com que os mortos sobrevivam na recordação dos vivos e que os distantes se aproximem, transpondo a barreira do tempo e do espaço, foi conseguido pela escrita. Nós, homens modernos, que desde tanto tempo possuímos o segredo de escrever, na forma mais exata, aquilo que sabemos dizer, não podemos deixar de sentirmo-nos, ao pensar nos primeiros homens que se empenham na busca de uma forma de escrita e no trabalho daqueles antiquíssimos ancestrais nos parece heroico e benéfico ao  mesmo tempo. O homem primitivo, para traduzir de maneira indelével o próprio pensamento, não escreveu, mas desenhou nas paredes das cavernas, nas rochas expostas à intempéries, nas lajes de pedra dura; ele apresentou, por meio de um desenho mais ou menos rude, os fatos mais importantes da sua vida: suas caçadas, seus seus combates, suas crenças e ritos; em seguida, aos poucos, firmou-se em sua mente a ideia de transcrever tais fatos de maneira mais rápida e mais concisa. Seu cérebro, nesse ínterim, já evoluíra, sua linguagem se enriquecera notavelmente e muitos pensamentos não se podiam representar, agora, com apenas símbolos. Para significar "manhã", por exemplo, desenhou um sol radioso; para exprimir a ação de comer, serviu-se da figura de um homem levando a mão à boca; para dizer "nada", representou um homem de braços abertos, e para dar maior clareza ao próprio pensamento, não lhe era mais preciso representar a cena inteira, mas sim, apenas indicar o gesto do homem numa certa circunstância. Poucas figuras bastavam, assim, para transmitir uma narrativa, para sugerir os versos ao cantor, ou para ensinar ao caçador as operações que deveriam ser executadas durante a caçada. Depois, também esta forma de escrita mudou, tornando-se ainda mais rápida e complexa; para escrever "caminhar", por exemplo, não foi mais necessário um homem andando, mas apenas desenhar um pé; a princípio, fiel ao verdadeiro, e depois simplificados, isto é, estilizado. 
         As grandes civilizações da era antiga usaram este tipo de escrita simbólica"; empregaram-na todos, Chineses, Sumerianos, Hititas e Egípcios, embora os sinais por estes usados fossem diferentes, porque diferente era sua linguagem e o material empregado para escrever e sobre o qual escrever;  os Sumerianos e os Assírios, por exemplo, a diferença dos Chineses e dos Egípcios, em pleno florescer de sua civilização, confiaram suas memórias à pedra e a certos tijolos de argila, secos ao sol ou cozidos ao fogo, e inventaram, portanto, a escrita "cuneiforme", própria para ser "incisa" na pedra. Os Egípcios, ao invés, quando descobriram a possibilidade de escrever em papiro, modificaram sua escrita de "hieróglifos", própria também para pedra, e deram forma a um novo processo, mais simples e rápido: a escrita hierática. A escrita hieroglífica surgiu no Egito entre os VI e IV milênios a.C.; antes também os Egípcios representavam o homem, suas ações, os animais e os vegetais, de modo bastante real; em seguida, recorreram aos símbolos e, mais tarde, foram além, dando o primeiro passo para a escrita fonética, ou seja, aquela que usamos. Eis aqui um exemplo que explicará isso melhor: para simplificar "casa", um homem primitivo esforçar-sei-a por desenhar uma casa; o egípcio não traçou uma figura semelhante à casa, mas estabeleceu um sinal que indicasse, porém, em artigo egípcio, casa. Como os Egípcios não usavam sinais para vogais, mas somente para consoantes, este sinal ficou tendo valor de "pr". Necessitando de escrever  outras palavras que iniciassem ou contivessem o grupo "pr", o Egípcio recorreu ao símbolo que antes indicava apenas a palavra desejada. Com os Egípcios, chegou-se pois, a uma escrita completa de sílabas, não em simples consoantes e vogais, como hoje fazemos; o mérito da descoberta do alfabeto cabe a outros povos, talvez aos Fenícios, que o aprenderam, provavelmente, do povo hebraico, e que o ensinamento aos Gregos e aos Itálicos.
              A escrita chinesa moderna, que conta cerca de 40.000 sinais, é assas semelhante à escrita chinesa antiga. 
              Lenta e progressivamente a escrita modificou-se sempre mais, os sinais transformaram-se, tornaram-se mais fáceis, mais claros, mais diferentes entre si, porque os homens logo lhe compreenderam a importância. Na época moderna, na Renascença e no século XVII, sobre tudo, os homens dedicaram-se, com grande empenho, à escrita, este meio tão importante para comunicar e instruir, para transpor os limites que o tempo e o espaço nos impõem. E chegou-se, assim, ao moderno alfabeto, ao nosso tipo de escrita. 
              À amorosa e paciente diligência dos monges beneditinos, na Idade Média, devemos a transcrição e conservação de numerosas obras literárias da antiguidade. 
                Deixar um traço de nossa passagem pela terra, essa necessidade que o homem sentiu e que sentirá sempre, encontrou na escrita o meio mais adequado, mais rápido e mais difuso de expressão. 
                 Em nossas escolas elementares, a criança é inciada nos mistérios, passando, tais como nossos pais, dos sinais simples às letras. 

PARA LER DESDE O INÍCIO 
 clique no link abaixo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário