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domingo, 31 de janeiro de 2021

AMÉRICA LATINA A PARTIR DE 1930 --

 


             A Grande Depressão de 1929 representou  um duro golpe para a América Latina, cortando o fluxo de capital estrangeiro e baixando os preços dos produtos primários no mercado mundial. Como consequência, muitos países foram levados a implantar  programas de industrialização destinados a substituir importações. Isso provocou situações difíceis em países sem força política para se proteger. A tradicional economia de  exportação primária foi modificada, embora não totalmente,  tanto pela Grande Depressão   como pela Segunda Guerra Mundial. Trabalhadores urbanos perderam confiança em partidos radicais e liberais da classe média, que até então representavam seus interesses, e voltaram-se para líderes populistas - como Getúlio Vargas, no Brasil, e Juan Perón, na Argentina - que acenaram com soluções mágicas imediatas para a situação e aceleraram o processo de industrialização. Com apoio de organizações de trabalhadores, esses líderes cativaram as massas prometendo aumentos salariais, mais empregos e possibilidade de sindicalização (ainda que sob controle do Estado, como foi o caso do Brasil). Mas foram incapazes de opor-se aos interesses dos militares ou de facções da oposição. Em 1954, com o enfraquecimento de sua base de apoio, Getúlio Vargas acabou se suicidando. No ano seguinte, na Argentina, Perón foi deposto pelos  militares. 
           A busca do desenvolvimento econômico e da independência obteve sucesso parcial em alguns países onde foi promovida a substituição de importações. Contudo, a região continuou a depender dos países desenvolvidos para exportação de bens de produção, além da dependência em tecnologia e capitais.
         A perspectiva de reformas começava a minguar até o México, país da revolução. Foi na década de 30 que Lázaro Cárdenas incrementou a distribuição de terras para camponeses e nacionalizou a indústria petrolífera. Nos anos 40, a ênfase dada à industrialização, ao investimento estrangeiro e ao estreitamento dos laços com os EUA enfraqueceu as reformas da década anterior. 
           Em alguns países como Uruguai, México, Brasil e Argentina, as mudanças produziram resultados visíveis. Mas dois fatores limitaram a expansão industrial. Em primeiro lugar, o aumento da população superou o desenvolvimento econômico. Em segundo lugar, com a industrialização durante a Segunda Guerra, grandes lucros foram acumulados, mas pouco sobrou para os trabalhadores, ampliando o abismo entre ricos e pobres. 
          Se a industrialização não resolvia os males econômicos e sociais, o marxismo e o exemplo da URSS forneciam inspiração ideológica alternativa. Os partidos comunistas já existiam na América Latina desde os anos 20, mas tiveram pouca influência até o presidente Árbenz da Guatemala, simpatizante do marxismo, empreender um programa de reforma agrária  em  1951, mas seu projeto teve curta duração. Árbenz foi deposto em 1954 por conservadores apoiados pelos EUA.  A revolução guatemalteca evidenciou  o dilema dos anos 50, de instituir  um estado do bem-estar social sem recursos para sua manutenção. E questionou até que pontos os investimentos em bem-estar social impedem o crescimento econômico em vez de promovê-lo. O problema foi sentido após a revolução nacionalista boliviana, em 1952, quando as minas de estanho foram nacionalizadas e a reforma agrária promovida. Mas a inflação e a queda de produtividade corroeram os ganhos. 
           Em 1959, a revolução cubana buscou conquistar mudanças sociais e crescimento econômico. Durante todo o governo comunista de Fidel Castro, a posse da terras tornou-se coletiva, as empresas foram nacionalizadas, o ensino tornou-se exclusivamente público e a saúde foi disponibilizada para todos. Mas o custo dessas vantagens  foi a perda de liberdade política e a existência de rígido controle centralizador. Apesar dos esforços de Cuba em se industrializar, o açúcar continuou o principal artigo de exportação e cresceu a dependência  de países comunistas. Cuba está falida até hoje.
           Mesmo com o empobrecimento maciço, a revolução cubana tornou-se modelo para movimentos urbanos e rurais na América Latina, no Uruguai, Argentina, Brasil e Bolívia. Na Bolívia, o movimento de guerrilha  rural de Che Guevara representou séria ameaça às forças de segurança  até sua morte em 1967. A guerrilha urbana apresentava um enfoque revolucionário alternativo, mas sua base política era muito limitada para atingir seus objetivos. Ao mesmo tempo, partidos de centro-esquerda tentavam provar  que reforma e liberdade não precisavam ser incompatíveis. Na Venezuela e no Chile, a pressão popular por reformas tornou-se irresistível. Em 1970, a eleição de Salvador Allende, no Chile, significou o retorno de um governo marxista, mostrando que a mudança social podia ser obtida por meios constitucionais. Mas a pressão de latifundiários, da comunidade de negócios e dos EUA resultou num golpe de Estado em 1973 e no regime militar de Pinochet, que durou até 1989. 
            As consequências políticas trazidas pela Grande Depressão foram diferentes em cada país, mas ficou evidente uma tendência para o nacionalismo e para ditaduras de direita ou populistas. Os conflitos ideológicos mundiais, após 1945, refletiam-se nas revoluções da Guatemala, Bolívia e Cuba. A revolução cubana teve seguidores.  Mas nenhum deles foi bem-sucedido. 
          Enquanto isso, a economia dos vinte países latino-americanos passou por mudanças estruturais. Os investimentos na indústria e no comércio se expandiram e as exportações de produtos agrícolas e de mineração perderam terreno. Com isso, outras classes políticas e sociais tomaram o lugar das oligarquias; houve explosão demográfica urbana e a nova concentração de riqueza aumentou as pensões sociais. A dependência da importação de bens de capital, matérias-primas, tecnologia e capitais estrangeiros produziu endividamentos externos que as exportações tradicionais ou de manufaturados não puderam cobrir. Nos anos 70, em diversos países, governos militares combinaram conservadorismo político e social com liberalismo econômico. Regimes mais liberais, como México e Venezuela, governaram com prosperidade econômica graças à elevação dos preços do petróleo em 1973. A queda na demanda de petróleo e gastos excessivos do governo, porém, lançaram uma sombra  sobre seu desenvolvimento. Venezuela, totalmente dependente do petróleo, tentou um regime comunista, mas está totalmente falida. 
             Outros regimes viram suas economias de livre mercado desafiadas pela recessão mundial, após 1973. Dois governos militares (Argentina  e Brasil) reagiram á recessão econômica e à oposição política adotando medidas especiais até os anos 80. Em 1983, fracassou a tentativa da Argentina de ocupar as  ilhas Falklands (Maldivas), em poder da Grã-Bretanha; a pretensão de arregimentar  apoio para uma causa nacional acabou levando à queda do regime militar. 
          Na América central, movimentos de esquerda levaram à derrubada do regime de  Somoza pelos sandinistas, em 1979 na Nicarágua, e a guerra civil em El Salvador, entre o governo apoiado pelos EUA e os guerrilheiros da Frente Farabundo Marti de libertação Nacional (FMLN). Na Nicarágua, os EUA apoiaram os "contras", que buscavam depor o governo sandinista. Em 1989, após acordo, a candidata da oposição, Violeta Chamorro, foi  eleita presidente. 
          Na década de 80, três problemas predominaram na América Latina: a crise das dívidas externas continuou fora de controle; inflação, desemprego e crescimento demográfico ameaçaram com crises os governos  democráticos do Brasil, Argentina, Chile e Peru; e, por fim, a aparentemente insaciável demanda dos EUA e da Europa por narcóticos fez surgir uma economia paralela, que aumentou a tensão entre as áreas de produção e tráfico de drogas: Colômbia, Bolívia, Peru, Panamá e EUA. Em 1989, tropas dos EUA invadiram o Panamá e afastaram o chefe de Estado, Manuel Noriega, para que respondesse num tribunal dos EUA às acusações  de ligação com o tráfico de drogas.              
            O crescimento  demográfico tem sido tão rápido que nem a modernização da agricultura nem a expansão industrial foram capazes de absorvê-lo. A reforma agrária não conseguiu transformar as condições vigentes no campo nem deter a migração das populações rurais para as cidades. 
            Ainda assim, em meados dos anos 90, prevaleceu na América Latina os governos democráticos. No Brasil, o presidente Collor enfrentou um processo de "impeachment" por corrupção. No Peru, o Sendero Luminoso, de extremas esquerda, iniciou uma selvagem guerra civil. O presidente Fujimori suspendeu a Constituição em 1992. O governo do México, após privatizar indústrias-chave, assinou, em 1992, o Acordo de Livre  Comércio  Norte Americano (Nafta), com Canadá e EUA, criando o maior bloco comercial integrado do mundo. Seus efeitos sobre as economias dos três signatários, no entanto, permaneceram incertos. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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O MUNDO A PARTIR DE 1990 --

         No início da década de 90, uma profunda mudança estrutural transformou o sistema político internacional, levando à reorganização da economia mundial. O principal acontecimento foi o fim da Guerra  Fria com o colapso do bloco soviético em 1989 e a desintegração da própria URSS em 1991. Os EUA já não dominavam a economia  mundial. Esta estava cada vez mais globalizada, contribuindo para isso a redução de barreiras ao livre fluxo de capital e o incentivo à distribuição e à produção em larga escala, graças ao desenvolvimento das comunicações e da computação. No entanto, uma tendência ao regionalismo produziu a incipiente "tríade" de blocos comerciais, centralizada na América do Norte, Europa (Comunidade Européia) e Japão. Desigualdades na distribuição da riqueza continuaram e se agravaram com o advento de tecnologias avançadas, que marginalizaram a economia dos países em desenvolvimento. 
       Apesar do aumento sem precedentes da prosperidade após a Segunda Guerra, entre 1960 e 1992, dobrou em todo o mundo a diferença entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres. O fraco desempenho econômico dos países em desenvolvimento pode ser atribuído, em parte, ao rápido crescimento da população, não acompanhado de um adequado crescimento da renda. O crescimento populacional perdeu força no final da década de 80, mas, a longo prazo, permanece preocupante. Cuidados com a saúde reduziram as taxas de mortalidade infantil e aumentaram a expectativa de vida, mas em áreas de alimentação escassa, como a África subsaariana, a fome crescia no início da década de 90.  
        O processo resultante da globalização afetou o mundo em desenvolvimento, especialmente porque a concorrência econômica deslocou-se, no final dos anos 80, do comércio para o capital. Entre 1984 e 1989, o fluxo de Investimento Externo Direto (IED) aumentou em 29% ao ano - três vezes mais que o comércio - para alcançar um total de U$$ 1,5 trilhão. O crescimento do comércio mundial de mercadorias, por outro lado, caiu de 8,5% em 1988 para 3% em 1991, o pior resultado desde 1983.
         O investimento externo direto - em atividade produtiva em outro país - implica na estabilidade e na economia do país anfitrião e é indicador-chave  das tendências de desenvolvimento. No início dos anos 80, os países em desenvolvimento perceberam ser cada vez mais difícil atrair IED e financiar dívidas com exportações.
             Fluxos de Investimento Externo Direto (IED) revelaram que a globalização da economia mundial tem sido limitada aos países mais ricos, organizados progressivamente como uma "tríade" de blocos econômicos. 70% do IED da "tríade" foi destinado a outros países desses blocos, o que reflete a falta de confiança em projetos de crescimento econômico  sustentado a longo prazo em outros países. Ao se comparar o fluxo das drogas e o IED, vê-se que a eliminação do tráfico  de drogas será difícil sem a redução da demanda em países ricos, o que faz o tráfico ser tão lucrativo, especialmente para países onde é difícil atrair investimentos a longo prazo.  
            Durante as décadas de 60 e 70, os países em desenvolvimento atraíram grandes somas de IED, principalmente pelo baixo custo da mão-de-obra. Com as inovações reduzindo os ciclos de produção e com uso de máquinas computadorizadas, o baixo custo da mão de obra ficou em segundo plano. Esse fator e a política das multinacionais para acesso aos mercados das economias da "tríade" levaram o IED nos países em desenvolvimento a níveis reduzidos - de 25% do total mundial no início dos anos 80 para 17% entre 1985 e 1990. À medida em que ocorria a integração econômica entre os países da "tríade", barreiras econômicas externas restringiam o acesso aos mercados mundiais, penalizando os países em desenvolvimento com perdas de U$$ 500 bilhões  por ano.  
         Alguns países em desenvolvimento tinham vantagem competitiva na produção e distribuição de drogas ilícitas, um negócio  de U$$ 500 bilhões anuais (números da ONU de 1992), perdendo somente para o comércio mundial de armas. O comércio ilegal de drogas prosperou numa economia mundial integrada, com a desregulamentação financeira facilitando a "lavagem" de dinheiro. Em 1988, cerca de USS 85 bilhões  originários de tráfico foram "lavados" nos EUA e Europa. Em 1992, esse número subiu  para U$$ 250 bilhões. 
          A produção de drogas é fonte vital de dinheiro e emprego. Na Bolívia, nos anos 90, cerca de 400 mil dos 6,5 milhões de habitantes trabalhavam com o comércio  de drogas. Atualmente o país tem cerca de 10 milhões de habitantes, e grande parte da população ativa continua trabalhando no cultivo de drogas. Embora  o crime organizado seja o mais beneficiado, os indivíduos também lucram. No Peru, cultivadores  de coca ganham em média  de U$$ 1,500 mil a U$$ 2 mil em 1990. Seu faturamento bruto por acre foi dez vezes maior que o de um produtor de café. Em 1991, a Colômbia exportou cerca de 200 toneladas  de cocaína para a Europa. As apreensões europeias de cocaína saltaram de 1,5 tonelada em 1986 pata 16  toneladas em 1991. 
        A transição pós-comunista para economias de mercado e o controle menos rigoroso das fronteiras estimulou a produção de drogas na Europa Oriental e na Rússia e abriu novas vias de acesso para fornecedores tradicionais. Em 1992, agricultores da URSS cultivavam cerca de 3 milhões de acres de maconha e um número crescente de acres de papoula. Na Ucrânia, agricultores pobres cultivam esses produtos até em "zonas proibidas"ao redor do reator de Tchernobil, local de explosão nuclear em 1986. Nem todos os governos pós-comunistas ratificaram a convenção de Viena de 1988, que considerou crime a "lavagem" de dinheiro e declarou os anos 90 como a década da ONU de combate às drogas.  
       As Nações Unidas também se destaram na luta contra a degradação ambiental. A Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro  em junho de 1992, foi um divisor de águas. A Eco 92 teve a adesão de mais governos (185) e a participação de mais chefes  de Estado (131) do que qualquer outro encontro internacional anterior. Os resultados da conferência foram variados, mas a preocupação com a poluição e a mudança do clima colocou o desenvolvimento sustentável na agenda internacional. 
          A emissão de poluentes e de gases que provocam o efeito-estufa, resultantes da dependência de combustíveis fósseis como fonte de energia barata, colocam a possibilidade de aparecimento desastroso do clima terrestre. Os países industrializados, que produziram grande parte da atual contaminação , estão mais aptos a adaptar-se  a tecnologias menos poluentes. Mas os países em desenvolvimento, também responsáveis  por essa contaminação, temem criar obstáculos onerosos a suas economias em crescimento e, na falta de compensação por parte dos países ricos, muitos relutaram em alterar suas estratégias de desenvolvimento. Na realidade, os países mais ricos do hemisfério Norte deram cerca de U$$ 55 bilhões de ajuda ao mundo em desenvolvimento (0,45% de sua renda). As Nações Unidas propuseram U$$ 125 bilhões (ou 0,7% da renda) apara apoiar o desenvolvimento sustentado, mas essa diretriz tem pouco apoio no hemisfério Norte.    
            A estagnação econômica, e a repressão  política em algumas regiões levaram ao crescimento de migrações fronteiriças  e a deslocamentos internos de populações. A maior parte desses movimentos ocorreu no mundo em desenvolvimento, onde em 1992 cerca de 30 milhões de pessoas permaneciam deslocadas, contra apenas  8  milhões no mundo desenvolvido. 
          Dois acontecimentos centralizaram a atenção nos refugiados: a avalanche de alemães orientais para a Alemanha Ocidental, após a abertura da fronteira, em 1989, e a fuga dos curdos do Iraque para escapar da repressão governamental após a derrota  iraquiana Guerra do Golfo, em 1991. O primeiro caso precipitou a reunificação das Alemanha, em 1990; o segundo ameaçou a estabilidade do Oriente Médio, onde os curdos formam o quarto maior grupo étnico, mas permaneceram dispersos por quatro países que se opõem à formação de um Estado curdo independente. A gravidade do êxodo curdo para a Turquia, onde 400 mil pessoas morreram de fome e frio, levou a comunidade internacional a intervir nos assuntos internos do Iraque, ficando claro que a divisão entre as políticas interna e externa de um país não é absoluta.  

Nicéas Romeo Zanchett 
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sábado, 30 de janeiro de 2021

A GUERRA FRIA - DE 1949 A 1990 --



           O "termo" Guerra Fria  foi cunhado em abril de 1974 por Bernard Baruch, estadista norte-americano, para definir a crescente tensão entre EUA e URSS, cujos antecedentes eram anteriores ao final da Segunda Guerra Mundial.          
       A divisão do mundo  em dois campos armados, deu origem à era da bipolaridade  e consequentemente a Guerra Fria.  A URSS temia que os EUA tentassem restaurar o sistema  político-econômico liberal na Europa Oriental, enquanto os norte-americanos receavam que os soviéticos dominassem a Europa Ocidental. Os dois buscavam defender-se através da formação de alianças. Os EUA procuravam conter a URSS criando bases militares (especialmente para seus bombardeiros nucleares) em torno do perímetro soviético. Mas o desenvolvimento  de sistemas de lançamento e orientação de ogivas nucleares tomou tal política obsoleta. A rigidez dos blocos monolíticos começou com intensidade, especialmente após 1958, quando a rança, no governo do general De Gaulle, recusou-se a aceitar a liderança política norte-americana, e em 1960, quando o conflito sino-soviético veio à tona. 

           O primeiro conflito entre Estados Unidos  e Rússia ocorreu no final do século XIX, envolvendo as políticas dos dois países em relação à China. Após a revolução russa de 1917, incorporou-se a rivalidade geopolítica  o fator ideológico. Além de inimigo imperialista na Ásia Oriental, o novo Estado soviético, comunista, era ameaça ao sistema capitalista mundial que os norte-americanos passavam a liderar. 
          Dois fatores evitaram o agravamento do conflito no período entre as duas guerras mundiais. De um lado, EUA e URSS estavam envolvidos com problemas internos. De outro, os dois países enfrentavam ameaças  externas iminentes: a Alemanha nazista e o Japão imperial. Durante a Segunda Guerra, EUA e URSS se alinharam contra esses dois inimigos comuns, mesmo os soviéticos tendo declarado guerra ao Japão somente no último mês do conflito.   
        Com esse passado hostil, o termino da aliança entre os dois países após 1945 não surpreendeu. As demais potências mundiais estavam tão debilitadas pela guerra que EUA e URSS viram-se elevados à condição de superpotências (outra expressão inventada nos EUA, pelo escritor William Fox, em 1943), com interesses sempre conflitantes.
            Entre 1946, quando as forças britânicas e soviéticas se retiraram do Irã, em 1955, o Oriente Médio foi pouco afetado pela Guerra Fria entre as superpotências.  Após o Pacto de Bagdá, em 1955 - que a União Soviética considerou uma ameaça às suas fronteiras meridionais - e a guerra de Suez, em 1956, a situação mudou. Quando os Estados Unidos intervieram no Líbano, em 1958, a URSS retaliou oferecendo apoio à Síria. Moscou também ajudou os Estados árabes contra Israel durante a guerra árabe-israelense, em 1967, e concentrou forças navais no leste do mar Mediterrâneo na tentativa de contrabalançar o poderio da Sexta frota norte-americana. Embora a instabilidade da política praticada pelos países árabes tenha impedido a formação de alianças duradouras, a Guerra Fria dividiu o Oriente Médio em grupos pró-Ocidente, pró-soviéticos e neutros, esses últimos buscando não se envolver em alianças com uma das duas superpotências. 
           O conflito ganhou força porque cada um  dos lados acreditava que o outro fosse totalmente hostil. Diferenciou-se de conflitos internacionais anteriores por caráter global e representar, com o advento das armas nucleares, a possibilidade real do fim da maioria das formas de vida na Terra. O caráter global da Guerra fria revelou-se com a disputa pela influência na China, Oriente Médio e Europa e, mais tarde, no restante  da Ásia, América Latina e África. Na Europa, a situação logo estabilizou-se, mas em outras regiões mostrou-se mais instável. Muitos países-independentes  do Terceiro Mundo, liderados pela Índia, procuraram não se comprometer e adotaram  uma política de neutralidade. A URSS parecia ter obtido enorme vantagem com a vitória comunista na guerra civil chinesa, em 1949. Mas por volta de 1963, russos e chineses  divergiam sobre  território e ideologia. A China, potência nuclear desde 1964, já não estava entre os aliados da URSS. As alianças lideradas pelos EUA no sudeste da Ásia (Seato) e no Oriente Médio (Centro), estabelecidas em 1954 e 1959, respectivamente, foram desfeitas na década de 70 pela saída de vários países participantes. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sobreviveu ao fim da Guerra fria em 1990.   
               Em janeiro de 1961, dois anos após a revolução cubana, Washington rompeu relações diplomáticas com o governo de Fidel  Castro. Três meses depois, falhou a invasão de Cuba por exilados cubanos  da Flórida, patrocinada pela Agência Central de Inteligência (CIA). Após uma missão aérea norte-americana de reconhecimento ter descoberto mísseis e bases de mísseis russos perto de San Cristóbal, em 14 de outubro  de 1962, o presidente Kennedy bloqueou Cuba, ao mesmo tempo em que advertia o dirigente soviético Kruschov de que os EUA imediatamente retaliariam se os mísseis tossem disparados. Em 26 de outubro, Kruschov concordou em retirar os mísseis de Cuba. Mas a ameaça de um holocausto nuclear foi um momento decisivo na Guerra Fria. A partir de então, EUA e URSS evitaram a confrontação direta e os riscos que ela implicaria. 
          A fraqueza inicial soviética foi substituída pelo "equilíbrio do terror" nuclear, que contribuiu para evitar que as duas superpotências se enfrentassem de fato. O maior perigo  de conflito aberto ocorreu em outubro de 1962, quando URSS tentou instalar mísseis  nucleares de médio alcance em Cuba. Os EUA responderam com um bloqueio naval  da ilha, levando a URSS a concordar com a retirada dos mísseis em troca da promessa norte-americana de remover da Turquia alguns mísseis da OTAN. Os dois países, porém exploraram ou se envolveram em conflitos localizados, cada um armando, equipando e treinando a parte aliada. Em três ocasiões importantes lutaram contra os que consideravam representantes do inimigo: Os EUA contra Chineses e norte-coreanos na Guerra da Coréia (1950/53); os EUA contra Vietnã do Norte na segunda Guerra da Indochina (1961/75); e URSS contra os rebeldes na guerra civil do Afeganistão (1979/889). Além disso, ambos interferiram para influenciar e, se necessário, subverter processos políticos em outros países por meio de suas mais importantes agências de informações, a CIA dos EUA e o KGB da URSS. 
            Com o objetivo de evitar a ameaça representada pelas táticas bélicas inimigas, convencionais ou nucleares, as superpotências precisaram de eficazes sistemas de informação, os clamados sistemas de inteligência, que podem ser divididos em uma série de categorias. O Humint (inteligência humana) engloba todas as informações colhidas por espiões; o Comint (inteligência aplicada às comunicações) envolve a interceptação de todos os tipos de comunicações; o Sigint (inteligência aplicada aos sinais) destina-se à interceptação de mensagens criptográficas; o Elint (inteligência eletrônica) destina-se à interceptação e análise de todos os tipos de emissão eletromagnética (radar, pontos de controle de mísseis etc); e o Imint (inteligência aplicada às imagens), que tem por objetivo fotografar as atividades do inimigo. Essas fotografias podem mostrar, por exemplo,  a construção de um porta-aviões nuclear em qualquer parte do mundo. A foto tirada por um satélite espião norte-americano do porta-aviões nuclear em Nicolaiev, Ucrânia, sendo construído secretamente,  mostra bem a atividade desenvolvida pela URSS. 
          A decisão dos EUA de lançar duas bombas atômicas sobre o Japão, em agosto de 1945, inaugurou nova era na história bélica. Por quatro anos, os EUA mantiveram o monopólio das armas nucleares. A URSS testou sua primeira bomba nuclear em agosto de 1949. O primeiro teste norte-americano da bomba de hidrogênio, ou termonuclear (770 vezes mais potente do que a de Hiroshima), aconteceu em novembro de 1952. Os soviéticos explodiram a primeira  bomba termonuclear em agosto de 1953. 
          Inicialmente, tais armas só podiam ser lançadas de aeronaves, o que dava vantagem  aos EUA, por disporem de acesso a bases próximas à URSS. Mas depois os dois países desenvolveram mísseis balísticos para carregar ogivas nucleares. Os mísseis balísticos de alcance internacional (ICBMs) e os mísseis balísticos lançados de submarinos (SLBMs) - ambos disponíveis no início da década de 60 - permitiram à URSS equiparar-se aos EUA. Em meados da década de 80, o arsenal nuclear das duas superpotências foi "enriquecido" com o desenvolvimento das ogivas multidirecionais, equivalente a cerca de 9 bilhões de toneladas de TNT - o potencial explosivo das bombas atômicas lançadas sobre o Japão  foi equivalente a 35 mil toneladas de TNT. 
           O desejo de se limitar o desenvolvimento de armas nucleares levou a um tratado parcial de proibição de testes, em 1963, e o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, em 1968.Mas nem todas as potências nucleares ou países candidatos a esse "clube" assinaram esses acordos (por exemplo, França, Chaina, Índia), enquanto outros países acabaram abandonando o compromisso assumido (por exemplo, o Iraque).
          Apesar das esperanças (falsas) surgidas  coma morte de Stálin, em 1953, dos acordos de limitação de armas estratégicas e dos acordos de Helsique, em 1972 e 1975, a Guerra Fria continuou. Seu fim foi, sem dúvida, precipitado pelas dificuldades econômicas e políticas enfrentadas pela URSS. Na visão de Mikhail Gorbatchov, líder soviético de 1985 a 1991, essas dificuldades só poderiam ser resolvidas com a redução do peso das despesas militares. Finalmente  em 90, após a queda dos regimes comunistas na Europa Oriental, tanto a OTAN quanto o Pacto de Varsóvia declararam não mais ser inimigos um em relação ao outro. Logo surgiram acordos para a redução dos arsenais bélicos - convencionais e nucleares. 
            A liderança soviética em mísseis de longo alcance  (ICBMs), evidenciada pelo Sputinik, em 1957, e a dependência norte-americana  do bombardeiro tripulado prejudicaram os EUA quando agitações políticas no exterior colocaram em risco suas bases. Mas os EUA logo desenvolveram  seus ICBMs. Na época do mais sério confronto da Guerra Fria a crise cubana, o equilíbrio nuclear era de 5 para 1 a favor dos Estados Unidos. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

ESTADOS UNIDOS A PARTIR DE 1933 --

 


             O "NEW DEAL" do presidente Franklin Roosevelt, de 1933 a 1940, fracassou objetivo de restabelecer nos EUA os níveis de emprego e produção industrial de 1929. Mas os investimentos públicos a reestruturação da economia e, acima de tudo, a convivência da população com as novas diretrizes econômicas prepararam o país para assumir, diante do mundo, o papel que lhe impôs a Segunda Guerra Mundial, trazendo-lhe a vitória e a recuperação econômica. 
           A exigência de maior produção em tempo de guerra resolveu o problema do desemprego. A atividade econômica para atender ao Exército, à Marinha e aos aliados foi gigantesca. Isso mostrou que as possibilidades econômicas, se aproveitadas, podem conduzir à prosperidade e ao poder.
           A paz não interrompeu essa tendência ascendente por mais vinte anos. O Produto Nacional Bruto, entre 1950 a 1980, quase triplicou, enquanto a renda per capita quase duplicou. Para isso contribuíram inúmeros fatores, entre eles o crescimento demográfico; os avanços tecnológicos acompanhados do surgimento de novos bens de consumo; estímulos de reconversão econômica da guerra à paz; e os programas de rearmamento ligados à "Guerra Fria" e à Guerra da Coreia (1948 a 1953). Com base nessa riqueza, a população norte-americana começou a mudar seu modo de vida.  
         As expectativas de progresso formaram uma verdadeira força revolucionária. Houve um "baby boom" um grande incentivo à demanda, iniciado na Segunda Guerra Mundial, e uma segunda migração para o oeste norte-americano. Após 1945, a imigração cresceu. Nos anos 80, os imigrantes  de língua espanhola eram o grupo predominante do sul e sudoeste. Miami tornara-se uma cidade latino-americana. Mas a mudança mais notável foi talvez a expansão dos subúrbios. Crédito  fácil e combustível barato (para residências e carros), construção de casas e fabricação em massa de automóveis e implementação pelos governos federal e estadual de programas para a construção de estradas estimularam milhões de norte-americanos a se mudarem das fazendas e centros urbanos para os subúrbios. Assim, embora a população das principais cidades tenha crescido de 48 milhões para 64 milhões entre 1950 e 1970, a população dos subúrbios cresceu de 21 milhões para 55 milhões no mesmo período. O total da população passou de 132 milhões em 1940 para quase 250 milhões  em 1980. 
          O rápido crescimento dos subúrbios levou à união de áreas urbanas antes separadas , criando "supercidades", nenhuma tão surpreendentemente quanto a de Los Angeles. Um sistema de auto-estradas interestaduais, totalizando cerca de 64.400 quilômetros (por volta de 1980,  facilitou a movimentação de pessoas  vindas de locais distantes e a ampliação  de uma complexa rede residencial e de áreas comerciais.  
           A população das fazendas caiu de 30,5 milhões em 1940 para 9 milhões em 1974. Mas devido aos aumentos excepcionais de produtividade, os Estados Unidos permanecem como o maior fornecedor mundial de alimentos. 
          Dese a Segunda Guerra Mundial, uma intensa migração fez da Califórnia o Estado mais populoso dos EUA. Os Estados industrializados  detém a renda média mais alta, enquanto os Estados do sul mostraram ser os de menor renda e menor crescimento populacional. A população negra mostrou tendência de crescimento mais rápido do que abranca. 
         Na base dessa prosperidade, de um lado, estavam o dólar forte, amplos recursos nacionais e investimentos do governo em pesquisas e educação; de outro lado, minando essa mesma prosperidade, estavam o insaciável "apetite" da sociedade de consumo norte-americana; a tendência dos capitalistas dos EUA de gastarem seus lucros em vez de reinvestir; a tendência dos operários de reivindicarem aumentos salariais e melhores condições de trabalho sem levar em conta os efeitos sobre os preços e a competitividade internacional da indústria norte-americana; e a crescente incapacidade de camadas favorecidas do país em acreditarem que as coisas poderiam vir a ser diferentes. Essa última característica levou os responsáveis pela política e os cidadãos  a certa imprudência, que quase colocou um risco a posição do país. A Guerra do Vietnã (de 1965 a 1973) já seria por si só inflacionária, mas  o foi ainda mais devido à recusa dos governos  Johnson e Nixon  em frear rendimentos e consumo. O resultado foi a grande crise  de 1973, quando o cartel formado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tirou proveito da demanda norte-americana para aumentar os preços em cerca de 250%. A indústria dos EUA teve de submeter-se e baratear seus produtos diante de exportadores estrangeiros mais agressivos, para equilibrar as exportações em queda com as importações. A derrota no Vietnã e a incerteza na economia fizeram com que o final dos anos 70 fosse conturbado. O nacionalismo, a revolta dos contribuintes e um desejo de bem-estar e tranquilidade levaram Ronald Reagan à presidência, em 1980. Com a concordância de seus eleitores, ele cortou os impostos em um terço - ampliando o poder aquisitivo - e aumentou os gastos em armamentos, criando o maior déficit da história do país. Reagan  nada fez para sanar os defeitos estruturais da indústria norte-americana, desviando o poder de compra para os produtos importados e provocando também um déficit sem precedentes no comércio exterior. Ao mesmo tempo, as tentativas bem-sucedidas do Fed (o banco norte-americano) de combate à inflação facilitaram a entrada do capital estrangeiro, financiando déficits e mantendo um florescente comércio doméstico e internacional.  
          A política econômica de Reagan contribuiu para a queda nas Bolsas em outubro  de 1987 e para uma corrida por dólares. A administração George Bush, de 1989 a 1993, deu continuidade ao programa de Reagan. Apesar do sucesso de empreendimentos externos, como a Guerra do Golfo (1991), cresceu nos eleitores a preocupação com problemas econômicos básicos, com a rapidez da decadência urbana e com problemas ambientais. Bill Clinton, eleito em 1992, assumiu um governo com muitos desafios. 
            Esses 60 anos, porem, trouxeram conquistas notáveis: vitória da Segunda Guerra Mundial; reconstrução da Europa Ocidental através do Plano Marshall; programa de exploração do espaço; avanços nos direitos das minorias com a aprovação da Lei dos Direitos Civis, em 1964, e da Lei dos Direitos  Eleitorais, em 1965; e a resistência ao expansionismo soviético sem nenhuma grande guerra e o fim da Guerra Fria. 
          A alta tecnologia e as técnicas de administração, que ajudaram os Estados Unidos a se manterem como a potência industrial mais sofisticada do mundo, ficaram demonstrados pela rapidez com que o país respondeu  à liderança inicial dos soviéticos na área dos foguetes. Propulsionados pelo foguete Saturno 5º, os astronautas norte-americanos desembarcaram na Lua em 20 de julho de 1969. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O DESENVOLVIMENTO DA UNIÃO SOVIÉTICA DEPOIS DE 1939 --

 


           As Repúblicas Socialistas Soviéticas Autônomas (RSSA) foram criadas para abrigar importantes grupos de diferentes nacionalidades dentro das Repúblicas Socialistas Soviéticas (RSS): a finlandesa da Carélia tornou-se RUSSA e a RSS da Crimeia foi incorporada na RSS da Ucrânia, enquanto a RSSA alemã do Volga foi dissolvida. As regiões orientais estão na República Federativa Socialista Soviética Russa (RFSSR) e abrangem duas Repúblicas autônomas: a RSSA da Burátia (Capital Ulan-Ude) e a RSSA da Yokútia (capital Iakutsk).
           No final de 1939, após ter lançado o primeiro plano quinquenal de industrialização  em 1928, Stálin iniciou o processo de coletivização forçada da agricultura, transformando o conjunto de pequenos proprietários rurais em Enormes fazendas do Estado e em fazendas coletivas. O resultado foi desastroso. Sem condições de alimentar o gado, os camponeses abatiam os animais. As sementes do trigo eram confiscadas e colocadas à venda no mercado internacional, a preço irrisório, para financiar a compra de máquinas estrangeiras. As fazendas coletivas não funcionaram: o maquinário era insuficiente (278 mil tratores em 1934), os camponeses recebiam baixos salários e estavam desmoralizados. Isso resultou na grande fome de 1932/33, principalmente na Ucrânia, matando milhões de pessoas. Essa tentativa comunista resultou num verdadeiro genocídio. 
           Na década de 30, a catástrofe rural provocou o êxodo do 40 milhões de pessoas para as cidades (em especial para a construção civil), elevando enormemente as taxas de crescimento da economia soviética no primeiro e segundo planos quinquenais (1928/32 e 1933/37. Mas a economia ainda se baseava em indústrias e Know-how do reinado do último czar, quando a Rússia era a quarta maior potência econômica mundial. Assim, um programa para desenvolver tecnologia foi implementado. Maquinaria estrangeira foi adquirida com recursos da exportação de cereais e de operações como a venda de 40 telas do Museu Hermitage a milionários dos EUA. Nos últimos dias dos anos 30, alemães e norte-americanos concederam empréstimos que estimularam os setores do carvão, ferro e aço. Por volta de 1940, a indústria metalúrgica estabelecida em 1928 na Ucrânia e Urais Centrais, foi ampliada e modernizada. Criaram-se dois novos centros de ferro e aço - um próximo à reserva de minério de ferro de Magnitogorsk, no sul dos Urais, e outro na zona de mineração de carvão de Kuzbass, em Stalinsk (Novokuznetsk).
           Mas esse crescimento teve que se basear no controle da força de trabalho. Yezhov, chefe da NKVD (Comissariado do Povo para assuntos internos), lançou em 1936 o "Grande Terror", movimento que enviou milhões de pessoas aos campos de trabalho forçado ou de execução, e matou dois terços dos oficiais, enfraquecendo o Exército Vermelho. Assim, quando a Alemanha atacou em 1941, a URSS parecia fadada à derrota. 
           Mas grande parte do desenvolvimento industrial nos primeiros planos quinquenais ocorreu nas regiões orientais, fora do alcance alemão, fator fundamental para a sobrevivência soviética. Durante a Segunda Guerra, acelerou-se a industrialização dessas regiões, enquanto as áreas ocidentais eram devastadas. O setor agrícola, já pouco desenvolvido, assistiu à destruição de propriedades e equipamentos. 
       Uma notável recuperação econômica ocorreu após a guerra. A produção da indústria pesada cresceu na década de 50 e a indústria de bens de consumo também progrediu. Reservas siberianas de petróleo, gás  e minério foram descobertas e exploradas. Hidrelétricas e termelétricas surgiram no leste da Sibéria e no Cazaquistão. A economia soviética estava ligada às economias de Estado satélites, no Leste Europeu, cujos produtos de alta tecnologia  foram valiosos para o progresso tecnológico da URSS. 
           Mas após a morte de Stálin, em 1953, seus sucessores foram forçados a reconhecer a magnitude do problema agrícola: uma população crescente esperava pela prometida melhoria do padrão de vida, enquanto a agricultura permanecia quase tão pouco produtiva quanto antes da revolução. A produção de grãos somente cresceu no governo Khruschov e foi Brejnev quem, em 1965, colocou em prática medidas para melhorar as condições das fazendas coletivas. 
         Na década de 60, a URSS e os EUA foram reconhecidos como superpotências, com um nível comparável de poderio militar. Embora o Produto Nacional Bruto estivesse abaixo do de seu rival, a URSS superou os EUA na produção de minério de ferro, cimento, aço e petróleo e descobriu as maiores reservas  mundiais de gás natural. A economia soviética começou  a entrar em crise no final da década de 70, com a intensa situação da corrida armamentista, que afetou mais a URSS do que os EUA. O alerta econômico disparou quando os EUA ameaçaram implantar seu sistema de defesa antimíssil "Guerra nas Estrelas". Em 1985, Gorbatchov assumiu o poder com um programa de reformas que visava promover uma revolução dentro da revolução. 
          De 1985 a 1990, Gorbatchov ampliou as relações  com a China e com o Ocidente para garantir condições externas necessárias à reconstrução. Introduziu a "glasnost" (transparência) para encorajar a crítica aberta aos problemas da economia e da sociedade. Implantou uma limitada democracia  na expectativa de introduzir mudanças  com apoio popular. Mas as cidades tiveram que enfrentar alta de preços e escassez de víveres; aumentou a dependência de alimentos  e de ajuda técnica do exterior. Gorbatchov limitou o papel do Partido Comunista e ampliou os poderes presidenciais; nas Repúblicas, porém, novos Legislativos resistiram ao poder do estado central, tornando difícil a implementação das reformas econômicas. Sem alternativas, a URSS retirou-se da Europa Oriental e Central, esperando reduzir custos e melhorar a situação  interna. Mas o ressurgimento do nacionalismo em muitas Repúblicas que constituíram a URSS colocou a União em perigo. 
           Essas medidas irritaram a velha guarda do partido e a oposição a Gorbatchov cristalizou-se após 1989. Em agosto de 1991, uma coalizão de conservadores do governo tentou um golpe de Estado. Foi o rival de Gorbatchov, Boris Ieltsin, quem desafiou os conspiradores e liderou o presidente. Como em 1917, uma tentativa contra-revolucionária precipitou a nova revolução. No final da 1991, essa revolução anticomunista presenciou a ascensão de Ieltsin ao poder e a dissolução da URSS. O governo Ieltsin  continuou as reformas econômicas e procurou salvaguardar o que restava de integração política e econômica da ex-URSS. Mesmo assim, a Comunidade de Estados Independentes (CEI), resultante desse processo, mostrou ser apenas uma sobra do Estado que a precedera. A própria Rússia foi vítima de conflitos entre nacionalidades, mantendo incerto o sucesso das reformas econômicas e, com ele, a existência de formas democráticas de governo. 

Nicéas Romeo Zanchett  
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

A EUROPA DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL --






       A partir de 1945, em consequência da gerra mundial, o cenário da Europa era de desorganização política e prostração econômica. Deslocamentos de população em larga escala, agravavam a situação. O panorama era desolador; a incerteza política, instigada pelo antagonismo entre EUA e URSS, tolhia os esforços de recuperação.
             A Alemanha pós-guerra não apenas perdeu territórios; em 1945 para a Polônia e URSS, como também foi dividida em zonas britânica, norte-americana, soviética e francesa. Berlim foi dividida  em quatro setores, com cada um governado por uma das potências de ocupação. Os vencedores pretendiam tratar  o país como uma unidade, mas em 1948 a cooperação entre eles havia se deteriorado. Grã-Bretanha e EUA já haviam unido suas zonas em 1947 e, junto com a França, começaram a preparar a formação do governo da Alemanha  Ocidental. A URSS reagiu por meio de um bloqueio, tentando forçar as potências ocidentais a abandonarem Berlim. Mas esse bloqueio foi  rompido através de uma ponte, que levou suprimentos para Berlim Ocidental em 1948/49. Em 1958, os soviéticos fizeram nova tentativa  de bloqueio. A crise culminou, em agosto de  1961, com a construção do Muro de Berlim. 
            Com o fim do Terceiro Reich de Hitler, em 1945, foram libertados milhares de prisioneiros de guerra e trabalhadores escravos encarcerados na Alemanha durante o conflito. Cerca de 5 milhões de prisioneiros russos, refugiados, militares e homens a serviço do governo foram repatriados à força. A expulsão dos alemães de alguns de seus territórios anteriores à guerra, especialmente na Europa Oriental, e de terras anexadas no fim da década de 30 constituíram movimentos populacionais marcantes. Outro movimento populacional, no fim do conflito, foi resultado da expansão da URSS para oeste, particularmente a anexação dos Estados bálticos: Estônia, Letônia e Lituânia.  
             O desmantelamento da "Nova Ordem" alemã e a reconstrução política da Europa ocorria à sombra do conflito americano-soviético. As fronteiras da Europa foram estabelecidas nas conferências de Yalta e de Potsdam, entre URSS, Reino Unido e EUA, em fevereiro, julho e agosto de 1945, respectivamente. A Alemanha e a Áustria -  a"Anschluss "(anexação) de 1938 foi anulada - foram divididas em zonas de ocupação sob controle de quatro potências.  Só em 1955 a Áustria ressurgiu como Estado independente e a Alemanha Ocidental  recuperou plena soberania. Havia ainda um Conselho de Controle Interaliado em Berlim que, embora dentro da região soviética, era dividida em zonas. Isso criou problemas para as potências ocidentais, culminando nas crises da "ponte aérea" de 1948/49 e 1958/61, quando os soviéticos tentaram anexar a parte ocidental de Berlim para transformá-la em cidade "livre" desmilitarizada. A última crise culminou na construção do Muro de Berlim, em agosto de 1961.  
             Os dois novos Estados alemães foram constituídos em 1949. A Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha - RFA) juntou-se à Comunidade Européia do Carvão e do Aço (Ceca) em 1952 e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1955. A Alemanha Oriental comunista (República Democráticas da Alemanha - RDA) juntou-se ao novo Pacto de Varsóvia em 1955. Por muitos anos, as potências ocidentais recusaram-se a reconhecer a RDA. Em 1972, a Alemanha concedeu o reconhecimento seguida em 1975 pelas demais potências ocidentais. 
            As duas partes da Europa se  desenvolveram de modo diferente: na Ocidental, democracia e avanço sem precedentes de consumo, com os problemas decorrentes; na Oriental, opressão, privação e miséria. Desde 1947, quando os EUA lançaram o Plano Marshall para recuperação econômica, a Europa Ocidental viveu um milagre econômico. Nesse processo - liderado pela Alemanha Ocidental, forçada a reconstruir suas  indústrias-, integração de mercados, mobilidade de mão-de-obra e respostas flexíveis à tecnologia asseguraram a prosperidade.  
          Os seis países da Ceca, formada em 1952,  reuniram-se para construir, em 1957, a Comunidade Econômica Européia (CEE), que depois se tornou a Comunidade Europeia (CE), à qual se juntaram, em 1973, Reino Unido, Irlanda e Dinamarca. A CEE sustentou o renascimento da Europa Ocidental. Entre 1958 e 1962, o comércio entre países membros cresceu 130%. Em sete anos, a produção industrial italiana cresceu 103%. Mas os benefícios se restringiram aos países centrais. Permaneciam atrasados países de áreas periféricas, como a Grécia e países ocidentais não-participantes da CEE, como Espanha e Portugal. Havia também bolsões de depressão persistentes. A Irlanda do Norte, próspera depois da grande guerra, foi atrasando-se após 1969, com a escalada do terrorismo. Na França houve agitação na Bretanha, onde a renda média era de apenas 60% em relação à registrada em Paris; o mesmo ocorreu na Córsega. O crescimento foi refreado em 1973, quando o petróleo barato, que sustentara a prosperidade do Ocidente, subiu 250%, um aumento imposto pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). 
              A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, em 1949) é mostrada em confronto com o Pacto de Varsóvia de 1955. As organizações  econômicas foram a CEE, formada em 1957, e o Comecon, organizado em 1949. 
          Entre 1960 e 1981 houve muitas mudanças na estrutura econômica da Europa. Houve considerável declínio  no número  de trabalhadores dedicados à agricultura. Mesmo nos lugares em que a principal  fonte de emprego, no início de 1960, essa atividade foi mais tarde superada por setores industriais e de serviços. Embora no bloco oriental  e em outros países, antes predominantemente  agrícolas, tenha aumentado o número de empregados na indústria, a maior parte da Europa Ocidental sofreu uma depressão industrial  com o aumento dos empregados no setor de serviços. Mesmo onde  não era a principal fonte de emprego, esse setor  cresceu muito após a guerra.  
            Apesar das dificuldades de suas economias centralizadas, a Europa comunista também registrou altos índices de crescimento. Não foram acompanhados, porém, de surtos de consumo e a população provocada por indústrias pesadas tornou-se um problema sério em muitas regiões. Além  disso, ocorreram agitações contra dirigentes comunistas no Leste e contra a presença soviética. Esta levou a revoltas violentas.  Em 1953 na Alemanha Oriental; em 1956 na Polônia e na Hungria, onde a repressão foi mais sangrenta; em 1967/68 na Tcheco-Eslováquia  e em 1970 outra vez nas Polônia. Todas foram esmagadas pelo Exército soviético ou polícia e Exército locais. 
            Em 1970, ainda dividida em três blocos - ocidental, comunista e neutro -, a Europa havia, politicamente, entrado em novo período. As antigas tensões estavam afastadas e nova era de cooperação foi inaugurada.  
             Os regimes fascistas surgidos antes da  Segunda Guerra Mundial sobreviveram  até os anos 70 em dois países europeus: Portugal e Espanha. A democracia foi restaurada nesses dois países no espaço de  um ano: em 1974, em Portugal, em consequência da derrota nas guerras coloniais na África; em 1975, na Espanha, em decorrência  da morte do general Franco. O processo de mudança foi mais fácil na Espanha onde, apesar da tentativa de golpe da direita em 1981, o rei Juan Carlos exerceu um poder  moderador. A Espanha entrou na OTAN em 1982; em 1986, os dois países ingressaram na Comunidade Européia (EC). O ano de 1974 também testemunhou a restauração da democracia na Grécia, até então governada  por uma junta de direita que tomara o poder em 1967. A Grécia juntou-se à CE em 1981. 
             Essas mudanças no sul da Europa foram pequenas se comparadas aos acontecimentos  na Europa Oriental no final dos anos 80, incluindo a desintegração da URSS e a queda do compromisso na Iugoslávia e Albânia. Tão notável quanto o fim de um sistema que parecia permanente foi a criação, no vazio deixado, de 15 novos países. 
            As razões de mudanças tão imensas foram políticas e econômicas. Nas décadas de 70 e 80, as economias do bloco comunista sofreram rápido declínio. Taxas de crescimento zero e dívidas volumosas decretaram a falência econômica. Sem condições de garantir a sobrevivência dos aliados, a URSS os abandonou. Em abril de 1987, em Praga, Gorbatchov declarou que "todo o sistema de relações políticas existentes entre os países socialistas pode e deve ser construído de maneira inabalável sobre os alicerces da igualdade e da mútua responsabilidade. Nenhuma nação tem o direito de exigir privilégios especiais no mundo socialista. A independência de cada partido, sua responsabilidade para com seu povo, o direito de resolver de forma soberana, questões relativas ao desenvolvimento do país - esses são para nós princípios inquestionáveis". Não poderia haver indicação mais clara para os líderes da Europa Ocidental de que deveriam agir por conta própria. A doutrina Brejnev, formulada após a invasão soviética da Tcheco-Eslováquia em 1968, através da qual a URSS reivindicava o direito de intervir nos assuntos internos dos Estados-satélites caso ameaçassem romper com Moscou, passou a ser repudiada. 
              A sucessão de fatos que levou à queda do comunismo começou em agosto de 1988 com greves e manifestações na Polônia, exigindo o reconhecimento do sindicato Solidariedade. Até por volta de 1991, houve eleições livres nos países da região, inclusive na URSS, e as duas Alemanhas foram reunificadas. Exceto na Romênia, a mudança foi pacífica, embora a tentativa de golpe na URSS, em agosto de 1991, tenha ameaçado deflagrar uma guerra civil. Era inevitável que mudanças tão rápidas trouxessem problemas: instabilidade política, com ex-comunistas buscando assegurar sua autoridade; conflitos étnicos, com velhos nacionalistas procurando reafirmar-se; e crises econômicas, com novos governos buscando recuperar as economias de seus países, passando do comunismo ao capitalismo. 
             A rapidez com que o comunismo se deteriorou na Europa Oriental e na própria União Soviética depois de 1988 foi extraordinária. O que foi interpretado como um sistema definitivo provou ser uma ilusão. Após a dissolução formal da URSS, em dezembro de 1991, a grande experiência de Lênin chegou ao fim. Entre os fatos que se seguiram, destacando-se a quantidade de novos países formados e os conflitos étnicos sobretudo na antiga Iugoslávia, que reapareceram  quando antigas identidades puderam manifestar-se livremente. A reconstrução da região tem sido dificultada por serias crises  econômicas em cada ex país comunista, pela fragilidade das novas instituições democráticas e pela tentativa de muitos ex-comunistas em recuperar a autoridade perdida. A luta pelo controle dos enormes arsenais convencionais e nucleares da ex-URSS contribuiu para a instabilidade.  
           A mudança foi mais avassaladora na Iugoslávia que, em 1991, se desintegrou sob pressão de rivalidades até então contidas entre os grupos étnicos. Em junho de 1991, a independência da Eslovênia e da Croácia foi seguida por uma guerra civil de sete meses entre croatas e sérvios. Em janeiro de 1992, irrompeu a guerra envolvendo sérvios, croatas e muçulmanos na Bósnia-Herzegóvina. Diante da luta feroz e da evidência de "limpeza étnica", novo nome para a remoção sistemática e, às vezes, extermínio de etnias rivais, a ONU impôs sanções à Servia. Tentativas de acordo fracassaram. Na Tcheco-Eslováquia, a eleição de junho de 1992 revelou tensões entre tchecos e eslovacos e, no final daquele ano, o país dividiu-se em dois, a República Tcheca e a Eslováquia.  Mesmo na ex- Alemanha Oriental sustentada por seu parceiro ocidental e onde a queda do Muro de Berlim gerara entusiasmo em relação ao futuro, o retorno à democracia foi doloroso. Apesar do desejo de sucesso da democracia e das reformas econômicas, permaneceram insolúveis problemas decorrentes da reestruturação de sociedades empobrecias pelo comunismo.
          Os antigos países comunistas visavam, a longo prazo, a participação na Comunidade Europeia, que continuou a expandir-se nas décadas de 70 e 80. As primeiras eleições diretas para o Parlamento Europeu aconteceram em junho de 1979. Em 1985, na tentativa de garantir futuro próspero, a CE estabeleceu um cronograma de trabalho que previa a criação de um mercado comum europeu, em que a CE seria uma única zona de livre comércio. Alguns países membros quiseram avançar mais rapidamente para a integração e, em 1989, propostas para uma união monetária e uma carta de direitos sociais foram colocadas em discussão. Apesar do temor da substituição da soberania nacional por uma burocracia autônoma, ainda que bem intencionada, que sufocaria a competitividade internacional dos países  da comunidade, os membros da CE concordaram, em Maastricht, em dezembro de 1991, em empenhar-se na integração econômica e monetária e no estabelecimento de políticas comuns  de relações exteriores e segurança. Apesar de os dinamarqueses terem rejeitado  tal proposta no plebiscito de 1992 (voltaram atrás na decisão em novo plebiscito, um ano depois) e do ceticismo de alguns ex-entusiasmados defensores da ideia, a CE  manteve seu objetivo. Os problemas enfrentados resultaram de dificuldades em atingir a "convergência" econômica entre os países membros. O Sistema Monetário Europeu, vinculado as moedas existentes na comunidade a bandas cambiais preestabelecidas, essenciais, para a existência de uma moeda única, quase fracassou com a saída do sistema da Itália e Grã-Bretanha, no segundo semestre de 1992. Do mesmo modo fracassaram tentativas de formular uma política  comum de relações exteriores. A euforia  dos meses que se seguiram à queda do Muro de Berlim deu lugar à incerteza e ao temor: recessão, conflitos étnicos e guerras civis voltaram à Europa.  
               O  terrorismo tem atormentado parte da Europa intermitentemente desde 1973. Em nenhum lugar tem sido tão implacável quanto na Irlanda do Norte. Posições profundamente arraigadas, tanto da parte dos nacionalistas, principalmente do IRA - que exige a união com a república da Irlanda - quanto dos legalistas - determinados a manter as ligações da província com a Grã-Bretanha -, estimulam a violência sectária , resistente a qualquer acordo político. Enquanto outras organizações terroristas na Europa foram desmanteladas as da Irlanda do Norte estão enraizadas na estrutura da vida  da província. 
              Os diversos pedidos de admissão na Comunidade Europeia comprovam sua importância econômica na Europa. Os países da Associação Européia de Livre Comércio, menos Suíça e Islândia, pediram sua admissão em 1994/95, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Romênia também se candidataram à admissão. Acordos comerciais já existentes com Turquia., Malta e Chipre também podem levar esses países a integrar a CE. A Ucrânia foi o único ex-Estado soviético a pedir admissão, mas outros já fizeram consultas informais sobre a questão. 
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Nicéas Romeo Zanchett  
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sábado, 23 de janeiro de 2021

ORIENTE MÉDIO E SEUS CONFLITOS --

 


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            A partir de 1945, o Oriente Médio vem sendo alvo de atenção mundial: Israel e seus vizinhos árabes se enfrentam em quatro grandes guerras; Israel invadiu o Líbano duas vezes; o Golfo passou por duas guerras; golpes militares reforçaram um modelo regional de repressão interna; e muitos refugiados foram forçados a fugir de Chipre ao Afeganistão. No período pós guerra, uma combinação de fatores - desgaste trazido pela guerra, pressões financeiras e oposição local - fez com que Grã-Bretanha e França abandonassem o controle formal da área, enquanto o nacionalismo e o envolvimento soviético crescentes ampliaram o interesse dos EUA pela região. 
            Com exceção dos pequenos Estados da península Arábica (que se tornaram independentes por volta de 1971), a maioria dos países do Oriente Médio já havia conquistado a independência formal da Grã-Bretanha ou da França por volta de 1950. Mas esses dois países europeus continuaram tentando manter sua influência por meio de alianças militares ou políticas. Na década de 50, muitas  das monarquias constitucionais e dos regimes republicanos deixados pela Grã-Bretanha e pela França nos anos 30 foram derrubados por golpes militares de inspiração nacionalista. Para muitos líderes do mundo árabe, o êxito de Nasser foi um modelo para as aspirações pela verdadeira independência, principalmente após seu êxito na nacionalização do canal de Suez, em 1956. Entretanto, o nacionalismo pan-árabe e os apelos à unidade árabe mostraram-se frágeis demais para levar a um acordo sobre os problemas da área, particularmente os contrastes gritantes entre ricos e pobres, a ausência virtual de democracia econômica do resto  do mundo. Quase todos os países mais pobres (em especial Jordânia, Síria e Egito) enfrentaram inflação crônica e êxodo rural em massa. Na maioria dos casos até mesmo países mais férteis são importadores de alimentos.  
           Nas décadas de 50 e 60, os EUA exerciam a influência externa mais poderosa no Oriente Médio e usavam o medo da expansão soviética para ampliar seu apoio a Israel que, com Arábia Saudita e Irã (este até 1979), atuou como o principal representante  dos interesses norte-americanos. A URSS apoiou o Egito, o Iraque e a Síria. Embora os líderes desses e de outros regimes locais reiterassem seu compromisso com o anti-imperialismo, com a unidade  árabe, com a causa palestina e com o socialismo revolucionário, a realidade era diferente. Os países árabes foram incapazes de se unir nas guerras contra Israel em 1948, 1956 e 1967. Mas em 1973, embora a vitória sobre Israel não tenha sido alcançada, eles conseguiram pôr em dúvida a reputação de invencibilidade desse país.  
         Apesar da oposição contínua dos árabes, o Estado de Israel se expandiu, desde sua fundação em 1948, para a Cisjordânia e Gaza (1967), Sinai (1956, 1967 e 1982) e colinas do Golã (1967, incorporadas unilateralmente a Israel em 1981). Passou a controlar ainda, desde 1978, uma zona estratégia no sul do Líbano. Mas a visita inesperada do presidente egípcio Anuar Sadat a Israel em 1977 e o tratado posterior entre  Egito e Israel, deram de novo ao Egito, em 1982, a posse da península do Sinai. 
          Para melhor entender Israel e Palestina, é importante lembrar que por muitos séculos a palestina foi composta por uma maioria muçulmana de língua árabe e uma minoria cristã e judaica. Mas, no final do século XIX, as proporções começaram a mudar na medida em que os judeus da Europa Oriental começaram a emigrar, sob pressão da perseguição russa e levados pelo novo ideal "sionista" da recriação de um Estado nacional judaico. Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial o governo britânico se declarou favorável à fundação de um lar nacional judaico na Palestina, desde que a população não-judaica não fosse prejudicada. Essas condições foram incluídas nas cláusulas do mandato pelo qual a Grã-Bretanha administrava o país, sob supervisão da Liga das nações. Mas esse objetivo tornou-se difícil de ser conciliado, principalmente após a ascensão de Hitler, quando a emigração de judeus da Europa para a Palestina aumentou rapidamente (em 1922 os judeus eram 11% da população; em 1936, 29% e em 1946, 32%) Os temores árabes levaram a uma séria revolta antes  da Segunda Guerra Mundial. Após aguerra e o Holocausto, a exigência dos judeus, apoiada pelos norte-americanos, de que  os sobreviventes pudessem imigrar, e o receio dos árabes de que tal imigração levasse a sua submissão ou às expropriação fizeram com que o governo britânico declarasse sua intenção de retirar-se da Palestina. Um plano para dividir a Palestina em um Estado judeu e árabe, com Jerusalém sob controle internacional, foi adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 29 de novembro de 1947, mas foi rejeitado pelos árabes. No dia da retirada britânica, 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclamou o Estado de Israel. Seguiu-se uma guerra entre judeus e árabes palestinos, apoiados pelos Estados árabes vizinhos, cujos exércitos foram derrotados. A maior parte da Palestina tornou-se o Estado judeu de Israel e quase toda a parte restante foi unida à Transjordânia para tornar-se a Jordânia. A Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito. Durante e após os combates, dois tersos dos árabes palestinos  refugiaram-se na Jordânia, em Gaza, na Síria e no Líbano. Depois de 1948, mais três guerras foram deflagradas na região, provocadas pelo desejo dos refugiados de retornarem a seus locais de origem, pelo desejo dos palestinos de  terem seu próprio Estado, pela de Israel em aceitar as reivindicações palestinas, pela recusa dos Estados árabes em reconhecer Israel e pela intervenção de forças externas. A primeira ocorreu em 1956, quando os israelenses, preocupados com incursões de guerrilheiros em seu território, atacaram o Egito em acordo secreto com a Grã-Bretanha e França, mas foram pressionados por EUA e URSS a se retirarem. Na segunda guerra, em junho de 1967, os israelenses ocuparam a margem ocidental do Jordão, a faixa de Gaza, o Sinai e as colinas de Golã, na Síria. Esse segundo conflito foi provocado pela decisão do presidente Nasser do Egito de fechar o estreito de Tiran à frota mercante israelense, o que Israel considerou uma ameaça à sua existência. No terceiro conflito, em 1973, um ataque no Egito e da Síria a Israel obteve êxito limitado e acabou levando a uma nova fase de relacionamento e negociações. Aos poucos, tornou-se evidente que o presidente Sadat do Egito não tinha interesse em manter a luta. Sua visita a Jerusalém em novembro de 1977, e os acordos de Camp David entre Egito e Israel (1978) confirmaram esse fato. Entretanto, o governo do Likud, de Menachen Begin, ampliou o controle sobre a Cisjordânia (ou margem ocidental do Jordão, que reivindicava como parte do Israel bíblico), estimulado a criação de colônias judaicas, procedimento já iniciado por seus antecessores do Partido Trabalhista. O cenário do conflito mudou em 1978, quando Israel  invadiu o sul do Líbano para deter a atividade  dos guerrilheiros palestinos avançando até Beirute em 1982. Neste mesmo ano Israel retirou-se do Sinai, aplicando o acordo de Camp David. Em 1987, começou na Cisjordânia e em Gaza um período de resistência a Israel, conhecido como "Intifada". Entretanto, por volta de 1991, a ênfase recaiu sobre a diplomacia. Após a Guerra do Golfo, os EUA conseguiram envolver Israel e seus vizinhos árabes em negociações de paz.
        Centenas de civis israelenses foram assassinados em ataques guerrilheiros palestinos e milhares de civis libaneses e palestinos morreram nos ataques israelenses ao Líbano, especialmente na invasão que levou israelenses até Beirute, em 1982. Mas enquanto o conflito entre árabes e israelenses parece encaminhar-se para uma possível solução, outras hostilidades no Oriente Médio mostram-se mais mortais. A guerra contra o Irã, lançada pelo presidente do Iraque Saddam Hussein, em 1980, transformou-se numa campanha fatal, que lembrou a guerra de trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Em agosto de 1990, o líder iraquiano envolveu o país em outra guerra, considerada a mais unilateral da história, ao invadir o Kuait e recusar-se a sair, mesmo diante das pressões da ONU lideradas pelos EUA. Esquadrilhas dos EUA e europeias bombardearam o Iraque durante quase seis semanas e depois lançaram um ataque terrestre de cem horas contra as forças iraquianas, em fevereiro de 1991, até sua expulsão do Kuait. O esforço tardio de Saddam em invocar a causa islâmica fracassou e a Arábia Saudita tornou-se base temporária para as forças dos EUA. Grã-Bretanha e França. Mesmo o Egito e a Síria contribuíram com tropas para a coalizão anti-Saddam. O nacionalismo árabe logo após a Segunda Guerra foi laico e seu herói o presidente Nasser do Egito. Mas nos últimos 25 anos do século 20, foi significativa a renovação muçulmana no Oriente Médio; a revolução de 1978/79 no Irã, com a queda do Xá Mohammed Reza Pahlavi, a Revolução Islâmica deu lugar a uma República Islâmica liderada pelo Aiatolá Khomeini estabeleceu uma teocracia islâmica e o fundamentalismo conquistou o interesse de muçulmanos xiitas e sunitas. Tornou-se um símbolo de hostilidade ao Oriente no Irã, aos russos no Afeganistão e a regimes no poder em outros lugares. O fervor islâmico também arraigou-se nos territórios árabes ocupados por Israel após a guerra de 1967, embora a força política dominante ainda seja a organização para a Libertação da Palestina (OLP). Mas enquanto Israel rejeitava, no final de 1991, a inclusão da OLP nas negociações de paz para o Oriente Médio, medidas pelos EUA, outros países perceberam que as lideranças palestinas eram leais a OLP. As negociações representaram um marco nas relações entre árabes e israelenses: a pressão dos EUA e as mudanças regionais após a Guerra do Golfo levaram Israel a negociar com seus vizinhos. 
               Em 2001, como resposta aos ataques terroristas do "11 de setembro", George W Bush (EUA) incluiu o Iraque como "eixo do mal" e abriu caminho para uma campanha militar norte-americana contra o país.  Saddam Hussein foi preso pelos norte-americanos e entregue a seus executores iraquianos, que o enforcaram em 30 de dezembro, daquele mesmo ano, em Bagdá. 
          Ao mesmo tempo, as disparidades sociais aumentaram muito no Oriente Médio. Com exceção de Irã e Argélia, onde não houve avanço na redução das altas taxas de natalidade, a riqueza do petróleo e as pequenas populações proporcionaram aos países do Golfo algumas das rendas per capta mais altas do mundo. Mas transformou-os (como Arábia Saudita e Líbia) em pontos de atração de imigrantes do Egito, Jordânia, Iêmen e subcontinente indiano. O crescimento urbano descontrolado no cairo, por exemplo, em 12 a 15 milhões de habitantes, provocou a mudança de muitos egípcios para países ricos em petróleo, escapando das duras condições de vida em seu país. Mas as pressões demográficas têm sido mais intensas no Líbano, onde o êxodo rural dos muçulmanos xiitas para beirute, iniciado na década de 50, levou à criação de mais favelas além das dos campos de refugiados palestino, um ingrediente a mais para a receita de uma guerra civil. 
          O petróleo é a riqueza natural mais valiosa da região. A produção e as rendas cresceram com o aumento dos preços decretado pela OPEP em 1973. Entretanto, os números mais recentes mostram o impacto provocado pela guerra entre Irã e Iraque. Ironicamente, a abundância de petróleo contribuiu para agravar a inflação em países mais pobres. Além disso, a escassez local de mão-de-obra especializada transformou a imigração em grande escala  e a presença de grande proporção de trabalhadores estrangeiros em  características permanentes da região. 
           O Golfo Pérsico permanece a região de petróleo e gás natural mais explorado do mundo. Entretanto a participação da área na produção mundial caiu de 41% em 1979, para 26% em 1991. Na década de 80, a guerra entre o Irã e o Iraque interrompeu, em parte, a exportação de petróleo do Golfo. A invasão do Kuwait pelo Iraque teve como efeito imediato a quase eliminação da produção nesses dois países. Mas outros países, notadamente a Arábia  Saudita, aumentou a produção em quantidade suficiente para preencher o vazio deixado pela guerra. 
            Nos anos 70 surgiu a crise no Líbano. O sistema político libanês baseava-se na distribuição de cargos entre as diversas  comunidades (as cristãs maronita, ortodoxa, católica e armênia, as muçulmanas sunita e xiita e a drusa), privilegiando os maronitas (embora, na década de 70, estes, de longe, não constituíssem a maior comunidade). As forças  de oposição muçulmanas, às quais se somaram, na década de 70, os guerrilheiros palestinos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), deflagraram uma guerra civil com o objetivo de alterar o equilíbrio do poder. A Síria interveio em 1976 e suas tropas permaneceram no país como força de ocupação. 
           O Líbano acabou se transformando no principal palco do conflito árabe-israelense. Israel invadiu o Líbano em 1978 e, de forma mais contundente, em 1982, quando expulsou de beirute a liderança  da OLP. Em 1985, após a retirada das forças israelenses  de todas as áreas ocupadas, exceto de uma zona de segurança no sul, a luta entre as facções continuou e tornou-se violenta entre as milícias cristãs. As eleições realizadas em 1992, após acordo précio sobre a divisão  de poder (obtido nas negociações de Taif, Arábia Saudita), foram boicotadas pelos cristãos, que fizeram objeção à permanência no país das tropas sírias. 
           É pouco provável que as potências ocidentais deixem de tentar exercer influência no Oriente Médio, seja para garantir o fornecimento de petróleo ou para a possível proteção de povos perseguidos, como os curdo do norte do Iraque. O fim da URSS pode ter encerrado rivalidades entre super potências, mas o surgimento de novos Estados com populações muçulmanas na região antes ocupadas pela URSS não aliviou as ansiedades ocidentais em relação à região. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

EMANCIPAÇÃO DA ÁFRICA --

 


         Em 1939, o controle europeu sobre a maior parte do continente africano parecia garantido, mas em um período de 40 anos o controle dos brancos restringiu-se a um "laager" sul-africano. A Segunda Guerra e as mudanças que dela resultaram em geral acompanhadas por intensa conscientização política, fortaleceram o poder dos líderes africanos empenhados no progresso social e político de seus países. 
           Os anos de emancipação política da maior parte da África do controle colonial e os anos que se seguiram foram um período de rápidas mudanças, marcado por instabilidade. Muitos governos civis foram varridos por regimes militares. Alguns países, como a Nigéria, obtiveram grandes progressos econômicos, mas muitos outros permaneceram pobres. Difíceis conflitos  militares foram solucionados, como na Nigéria e no Zaire, mas outros persistiram, principalmente no Chifre da África. 
           Importantes foram também as mudanças ocorridas fora da África. A vitória dos aliados elevou o prestígio da URSS, enquanto os EUA procuraram eliminar barreiras à ampliação de sua importância. Na França e Grã-Bretanha, liberais e socialistas favoráveis à causa africana iniciaram programas de reformas sociais e políticas, enfrentando às vezes interesses de colonizadores brancos. Os próprios reformadores, no entanto, não deixaram de apoiar a Gã-Bretanha e França a recuperarem sua influência econômica e política. A partir de 1947, o início da "Guerra Fria" e a escassez de dólares apontaram para um ressurgimento do colonialismo; a repressão da França à rebelião em Madagascar evidenciou esse fato. 
           Mesmo assim, movimentos nacionalistas desafiaram tais políticas de forma eficaz. Em 1948, tumultos em Acra e outras cidades da Costa do Ouro forçaram o governo britânico a iniciar reformas constitucionais que, três anos depois, permitiram ao Partido da Assembléia do Povo de Kwame Nkrumah obter sucesso eleitoral. Na Costa  do Marfim, conflitos levaram o governo francês a buscar a reconciliação com a Assembléia Democrática Africana, até então considerada comunista. Por volta de 1960, a França e Grã-Bretanha começaram a transferir responsabilidade a governos eleitos em suas colônias na África Ocidental. 
           Os movimentos nacionalistas no norte da  África muçulmana foram incentivados pelo  fim da monarquia egípcia em 1932 e a ascensão  de Gamal Abdel Nascer. Em 1953/54, a Grã-Bretanha concordou em retirar suas  tropas do canal de Suez e em apressar a independência do Sudão; em 1956, a França reconheceu a independência do Marrocos e Tunísia. Mas na Argélia, o desejo francês de manter o controle era evidente desde a repressão de um levante popular em 1945; em novembro de 1954, a Frente de Libertação Nacional iniciou  a guerra que se prolongou  até a independência, em 1962. Em 1956, Grã-Bretanha e França (em acordo com Israel) a zona do Canal de Suez para proteger interesses e reassegurar o poder na região. A oposição dos EUA, URSS e ONU demonstrou a ineficácia de tal método. 
                No sul e no leste, o acontecimento crucial  do pós-guerra foi a eleição de um governo  nacionalista na África do Sul, encabeçado  por D.F. Malan, com o objetivo de estabelecer  uma República Afrikaner e política  de segregação racial (apartheid). No Quênia, os cerca de 40 mil colonos quiseram impor  seu domínio na África Oriental, mas perderam  suas esperanças após 1952, quando os britânicos assumiram o combate à insurreição Mau Mau, contra os colonos. 
            Em 1945, a França acreditava que a Argélia seria reincorporada à Quarta República. Mas essa esperança  foi desafiada pelos manifestantes nacionalistas que antecederam um violenta repressão. As reformas que se seguiram não satisfizeram os nacionalistas argelinos; em 1954, eles formaram a Frente de Libertação Nacional (FLN) e, no mesmo ano, em 1º de novembro, atacaram posições francesas em toda a Argélia. A França se comprometeu a proteger os recursos de petróleo e gás, mas enfrentou um exército clandestino formidável - uma organização revolucionária de inspiração socialista capaz de eliminar até seu rival, o Movimento Nacional Argelino (MNA). Em 1958, a ameaça de golpe militar pelo Exército francês levou De Gaule ao poder na França. Manter a Argélia só seria possível a um preço inaceitável, uma vez que a FLN não poderia ser desmantelada e ao mesmo tempo recusava ofertas de negociação de paz que não incluíssem a independência. Nos acordo de Evian, em março de 1962. De Gaule reconheceu a soberania argelina, mas assegurando a manutenção dos interesses franceses. 
           Em 1953, na África Central, os ingleses criaram a federação  da Nyasalândia e da Rodésia do Norte e do Sul, sob domínio branco. A federação sucumbiu após 1960, não resistindo ao que o primeiro-ministro britânico Harold Macmillan chamou de "ventos de mudança". A independência de Gana incentivou os nacionalistas africanos; Hastings Banda regressou de uma conferência pan-africana em Acra (1958) para chefiar o movimento anti-federação na Nyasalândia (Malaui), enquanto o entusiasmo de Patrice Lumumba acertou a campanha de independência no Congo Belga, atual Zaire. Com a independência da Nigéria e da maior parte das antigas colônias francesas,  1956 parecia ser o ano da África. 
            Durante a década de 60 esse estado de euforia desapareceu. A economia africana mostrou-se frágil; rivalidades étnicas e conflitos políticos no Zaire repetiram-se em outros países; golpes militares e tomadas de poder tornaram-se comuns e levaram, em 1967, à guerra civil na Nigéria. A conquista da independência pelos revolucionários argelinos em 1962, após uma guerra de oito anos, não serviu de lição ao governo português. Os nacionalistas foram levados à guerras revolucionárias nas colinas portuguesas de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Em 1965, Ian Smith declarou ilegalmente a independência da Rodésia, mantendo-a sob domínio branco; o governo britânico não conseguiu sufocar a rebelião de Smith e na década de 70 os nacionalistas também recorreram à rebelião armada na Rodésia (atual Zimbábue). Por trás desses regimes coloniais remanescentes estava o crescente poder econômico e militar da África do Sul que, desde 1961, sem pertencer à Comunidade Britânica, era uma república engajada em medidas contra os nacionalistas africanos. 
          Em 1974, com o fim da ditadura, Portugal abriu caminho à independência das colônias africanas. Em abril de 1980, a luta armada dos nacionalistas, o apoio da Organização da Unidade Africana (OUA) e pressões internacionais por meio do governo britânico levariam à substituição do regime rebelde na Rodésia pela República do Zimbábue. A África do Sul tentou se proteger fortalecendo o controle ilegal sobre a Namíbia e concedendo às reservas de mão-de-obra sul-africanas, conhecidas como bantustões, uma independência aparente. Mas no fim da década de 80 estava claro que o apartheid não sobreviveria. O acontecimento-chave foi a liberação de Nelson Mandela, em fevereiro de 1990, e a abertura de negociações com o Congresso Nacional Africano. 
           Quanto aos novos países, as perspectivas econômicas imediatas eram insatisfatórias. Para alguns, a exploração de petróleo e outros minerais ajudaram a curto prazo, embora muitas vezes às custas do desvio de recursos destinados à produção de alimentos para populações crescentes. Os governo eleitos mostraram-se incapazes de controlar problemas como pobreza e rivalidades étnicas, sendo substituídas por ditaduras militares ou regimes de partido único. Na década de 90, guerra civil, miséria, seca e problemas com refugiados tornaram-se assuntos predominantes no leste e sul da África.
            Entre os anos 1960/65 houve uma série crise no Congo Belga. Facções tribais e regionais no Congo Belga (atual Zaire, independente em 20 de junho de 1960) exigiram uma Constituição federalista. Mas o Movimento Nacional Congolês (MNC), centralista e liderado por Patrice Lumumba, fez oposição ao líder federalista Kasavubu, do partido tribal Bakongo (Abako). Após acordo, criou-se um governo central, mas o Exército, submetido aos belgas, rebelou-se em 4 de julho. A Bélgica enviou tropas para proteger os civis e seus interesses. Em 11 de julho, a província de Katanga, rica em minérios, separou-se sob o governo de Moise Tshombe.  Lumumba e Kasavubu, convencidos de que a Bélgica queria recuperar  seu domínio, pediram ajuda à ONU. Após a exoneração de Lubumba e seu assassinato em Katanga, a ONU interveio com apoio dos EUA, mas a tentativa de acordo com Katanga foi abandonada. Em 1963, Katanga foi ocupada pela ONU. Tshombe, que havia se retirado para Angola, assumiu a presidência  em 1964 e, com auxílio de Bélgica e EUA, abafou nova revolta. Mas ele e Ksavubu  foram depostos pelo Exército de Mobutu em novembro de 1965. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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