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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

AS POTÊNCIAS EUROPÉIAS DEPOIS DO SÉCULO XVI

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            A característica principal da história do mundo entre 1500 e 1815 foi a expansão da Europa e a propagação de sua civilização por todo o globo. Antes de 1500, o resto do mundo exerceu pressão sobre a Europa; depois de 1500, a Europa pressionou o mundo. Próximo ao ano de 1775, existia um novo equilíbrio global . 

           Em 1500, a Europa Ocidental ainda se encontrava na periferia do mundo civilizado, ofuscada pelo Império Ming da China, o Estado mais poderoso e avançado da época, e pelos nascentes impérios otomano e safávida no Oriente Médio. Tanto em riquezas como em população, achina, com mais de 100 milhões de habitantes (superior ao total de toda a Europa), estava muito adiante, enquanto o Islã era a religião mais divulgada e encontrava-se  em expansão no cewntro sudeste da Ásia e entre os povos da África do Subsaara. 
              A a´rea ocupada pelas principais civilizações, aproximadamente equivalente á área cultivada com arado, era ainda relativamente pequena em 1.500. Mais de três quartas partes da superfície da terra estavam habitadas por povos recoletores ou pastores nômades - como na Austrália e na maior parte da Sibéria, América do Norte - ou por agricultores que não conheciam o arado, especialmente no Sudeste Asiático, África e América Central e do Sul. A agricultura com arado era muito mais produtiva, e parece provável que entre dois terços ou três quartos da população total estivessem concentrados na área relativamente pequena na qual o arado era conhecido. 
           Esta concentração, tanto de população como de riqueza, coincide com a localização das principais civilizações euro-asiáticas. A comparativa fragilidade das civilizações asteca e inca na América ou dos reinos africanos ao sul do Saara, que se destacavam em muitos aspectos, pode ser explicada em parte por seu isolamento geográfico e falta de estímulos externos, o que produziu um retardamento, como por sua dependência dos cultivos artesanais. Após 1500, quando a expansão da Europa começou pela primeira vez todos os continentes entre si, estas civilizações não euro-asiáticas foram incapazes de opor resistência. 
             É importante, entretanto, não exagerar quanto ao ritmo da mudança. Ainda que na América as civilizações asteca e inca tenham sido destruídas  em 1521 e 1535, respectivamente, o impacto político na Europa foi muitíssimo limitado antes da segunda metade do século XVIII. A china e o Japão permaneceram intactos e na Índia os europeus foram mantidos a uma distância prudente durante os 250 anos posteriores á chegada de Vasco da Gama, em 1498. Ali, como no oeste da África e no Sudeste Asiático, a presença européia esteve reduzida a feitorias comerciais ao longo da costa. A influência cultural da Europa foi inclusive mais insignificante, e o cristianismo teve pouca influência, exceto quando foi imposto pelos conquistadores espanhóis nas Filipinas e América Latina, até que no século XIX recebeu a proteção dos recursos da tecnologia ocidental. 
                 Por outro lado, os descobrimentos europeus não somente abriram novos horizontes, mas levaram a uma redistribuição das raças e até à difusão de animais e plantas, o que foi de muita importância.  A difusão das raças supôs uma expansão paralela de religiões, animais domésticos (cavalos, gado e ovelhas chegavam ao Novo Mundo vindos do Velho Mundo)  e plantas de cultivo. A difusão de plantas comestíveis - quase todas domesticadas pelo homem pré-histórico em diferentes partes do planeta - foi lenta até 1500,quando foram  transplantadas a todos os continentes. Por sua vez, os índios americanos foram os responsáveis por dois importantes cultivos: tabaco e algodão (derivados em grande parte de sua prática comercial de variedades que eles domesticaram, ainda que algumas espécies fossem conhecidas e utilizadas no oriente antes de 1500). A cana-de-açúcar, introduzida pelos europeus no Brasil e nas Índias Ocidentais ao redor do ano de 1640, também chegou a ser básica no comércio exterior. 
             Este intercâmbio de plantas originou um grande aumento no fornecimento de alimentos, tornando possível o crescimento sem precedentes da população humana nos tempos modernos.
          Foi iniciada também uma expansão no comércio internacional.  Antes de 1500, este comércio encontrava-se limitado à Eurásia e África re compreendia principalmente produtos de luxo; depois de 1500, a combinação de uma especialização econômica regional e as melhorias do sistema de transporte marítimo possibilitou a transformação do limitado comércio de artigos de luxo medieval ao moderno comércio massivo de novas necessidades. Daí, o florescente "comércio triangular" de rum, tecidos, armas e outros produtos de metal da Europa para a África; escravos da África  até o Novo Mundo, e açúcar, tabaco, prata e ouro do Novo Mundo para a Europa. 
             Foi somente no século XIX, com a abertura dos canais de Suez e Panamá e a construção das estradas de ferro transcontinentais no Canadá, estados Unidos, Sibéria e África, que as áreas e rotas comerciais, antes separadas, fundiram-se em uma economia única em escala mundial. Porém as primeiras etapas desta integração completaram-se em apenas dois séculos a partir do ano de 1500. 
              No sudeste asiático, as potencias européias continuaram seus movimentos com avanços e retrocessos em suas conquistas e expansão.  Reino Kmer. 
              No início de século XVI, a Birmânia compunha-se de quatro monarquias. AArakan (capital Myohaung); Ava birmanesa, dominando o vale principal do Irrawaddy; Toungoo birmanês, denominado o vale do Sittang; e Mon Pegu, dominando o delta do Irrawaddy e o Tenasserim. Para norte e leste de Ava, uma série de poderosos estados Shan ameaçava a independ~encia birmanesa, mas meio século depois a dinastia  Toungoo conquistou os Estados Sha e Mon.  No vale do Chao Phraya, Ayutthaya, poderoso governadore do Reino Thai, controlava a maior parte da costa oriental da península da Malásia; o reino do laos, de LKuang Prabang, estendia-se no médio e alto vale do rio Mekong. os vietnamitas de Tonquim e norte de annam anexaram em 1471 os territórios  Cha até Qui Nhon e depois incorporaram as terras restantes de Cham ao sul antes de tomar o delta do do Mekongdo Camboja, deixando Phnom Penh, a capital do reduzido Reino Khimer. No arquipélago javanês, o Império Majapahit se desmembrou em centenas de pequenos estados pouco coesos. Mas o Islã espalhava-se por Su,matra, Java, e Bornéu, principalmente a partir de Málaga, que dominava os estados malaios  da península e a costa de Sumatra. 
           Em 1511, em nome do rei de Portugal, Afonso de Albuquerque conquistou o entreeposto de Málaga (Malaca). Mas a família governante fugiu e fundou o Sultanato de Jahore no interior, com o mesmo poder que Málaga exercia sobre os estados da Malásia continental e costa de Sumatra. Portugal queria dominar o coméwrcio das especiarias através de uma cadeia de fortes  unidos pelo poder naval,  Aceh lutava em Suamatra contra Jahore pela liderança do mundo malaio. Coube à Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, fundada em 1602, conquistar os povoados portugueses.
            Os espanhóis se estabeleceram  nas Filipinas e capturaram Manila em 1571, tornando-a capital. Na época da ocupação, as Filipinas não tinham organização política, exceto os estados muçulmanos em Mindanao que, aliados aos sultões do arquipélago de Sulu, mantiveram a independência até o século XIX. De Batávia, seu quartel-general, os holandeses controlavam as Molucas e as ilhas Banda - as ilhas das especiarias. Em 1641, os holandeses tomaram Málagá dos portugueses, mas não conseguiram tomar Manila dos espanhóis. 
             Já os holandeses começaram com postos fortificados protegidos pelo poder naval. O sultão Agung de Mataram (1613 - 1646), lutando pela supremacia de Java, tentou duas vezes sem êxito, conquistar a Batávia. Após 1670, seus sucessores tornaram-se dependentes dos holandeses nas lutas pelo poder, pagando tributo com a cessão de territórios. O Sultanato de Bantam, valioso pelo comércio da pimenta, passou ao controle holandês em 1684. Os funcionários de sua rival mais fraca, a Companhia Inglesa das Índias Orientais, foram expulsos da feitoria e transferidos para o porto da pimenta de Benkulen, na costa oeste de Sumatra. Após o massacre de Amboina, em 1623, a companhia abandonou o comércio com as ilhas das especiarias e passou a depender do abastecimento indireto por Makassar, nas Ilhas Célebes (Sulawesi). Mas em 1667 essa rota foi desativada com a tomada do porto pelos holandeses. 
         As monarquias continentais de Arakan,  Birmânia, Sião, Camboja, Luang Parabang e Annam tinham pouco interesse no comércio europeu. No século 16, elas empregavam aventureiros portugueses como mercenários, mas a tentativa desses em tomar o poder na baixa Birmânia e no Camboja no fim do século gerou xenofobia. No século seguinte, o comportamento dos piratas ('feringhi') portugueses e a tentativa dos holandeses em monopolizar o comércio exterior do Sião acirrou os ânimos. Para enfrentar os holandeses, o rei Narai (1661 - 1688) e seu conselheiro grego Constant Phaulkon pediram ajuda á França. O auxílio de Luiz XIV, com a colocação de guarnições francesas em Bancoc e Mergui, gerou reação popular, que levou à mudança da dinastia governante e à expulsão dos franceses, com muitas mortes. 
             Na Birmânia, os mons se rebelaram em 1740 e elegeram seu próprio rei, em Pegu. A conquista da capital Ava, em 1752, trouxe à cena novo dirigente birmanês, Alangpaya. De Pondicherry, o francês Joseph Dupleix apoiou os mons. De Madras, os ingleses da Companhia das Índias Orientais responderam tomando o cabo Negrais e transformando-o em base naval.  Alaungpaya derrotou os mons e seus aliados franceses. Em 1755, fundou Yangon (ex-Rangum) como porto do sul da Birmânia reunificada e, em 1759, capturou Negrais dos ingleses, que abandonaram a Birmânia. 
            Nessa ocasião, a Companhia Inglesa das Índias Orientais aumentou o comércio com a China e se interessava por um posto naval mais ao sul; em 1786, adquiriu Penang do sultão de Kedah. A conquista da Holanda pelo exército revolucionário francês, em 1795, levou a Inglaterra a ocupar Málaga e vários territórios holandeses no arquipélago. Em 1811, Java foi conquistada, mas após a queda de napoleão em 1815, os ingleses devolveram os territórios ocupados aos holandeses. Os problemas continuaram quando Raffles adquiriu Cingapura para os britânicos. O conflito só terminou com o tratado anglo-holandês de 1824, que traçou uma linha divisória no estreito de Málaga. os ingleses abandonaram os povoamentos no oeste de Sumatra; os holandeses devolveram Málaga e reconheceram Cingapura como possessão britânica. Bornéu foi omitido do tratado, mas em 1840 James Brooke  assumiu o título de rajá de Saawak. 
             A dinastia agressiva do birmanês  Alaungpaya, após ter fracassado em conquistar o Sião em 1767, voltou-se para o Ocidente, conquistando Arakan, Manipur e Assam; dali ameaçoum  Bengala. A primeira Guerra Anglo-Birmanesa, de 1824 a 1826, levouà anexação de Assam, Arakan e Tenasserim pela Índia britânica, para estabilizar a fronteira nordeste da Índia. a Orizicultura de Arakan reviveu em contato com a Índia, mas a grande expansão da produção birmanesa de arroz e a exploração das florestas de teca só começaram com a ocupação britânica do delta do Irrawady, após a segunda Guerra Anglo-Birmanesa. 
          As atividades européias tiveram pouca influência sobre a economia dos estados do Sudeste Asiático, antes do século XIX, quando a Revolução Industrial criou uma demanda de matéria-prima, mercados e oportunidades de investimento. O impacto do Reino Unido foi mínimo até a fundação de Cingapura, em 1819, como porto de livre comércio. Os espanhóis tentaram isolar as Filipinas, mas os galeões de Manila, comercializando com Acapulco (México), trouxeram o dólar de prata ao comércio do Pacífico Ocidental. Após a ocupação britânica de 1762 a 1764 e a abertura temporária de manila ao comércio, os espanhóis incentivaram o cultivo do tabaco, açúcar, cânhamo e outros produtos; alguns ficaram importantes  no mercado mundial, embora Manila não estivesse oficialmente aberta ao comércio estrangeiro até 1834. 
           No primeiro estágio, portugueses e holandeses forçaram sua entrada no comércio de especiarias e seus concorrentes ingleses, a incorporação  de têxteis indianos para o sudeste da Ásia. Noséculo XVIII, holandeses iniciaram o cultivo do café em Java. Mas a política de comprar barato e vender caro  prejudicava os camponeses. O livre cultivo se manteve até 1830, quando o sistema de culturas foi introduzido e os javaneses obrigados a dedicar um quinto das terras para culturas de exportação designadas pelo governo. 
           A economia agrícola européia, nos primórdios da história moderna, desenvolveu-se lentamente, atendendo basicamente às necessidades geradas pelos crescimento da população, que passou de 70 milhões para 190 milhões entre 1500 e 1800. No noroeste da Europa, em particular na Inglaterra e Holanda, a revolução agrícola, iniciada no século XVI, produziria em 1800  um sistema de comercialização altamente eficiente. Mas, a maioria dos agricultores europeus praticava uma economia de subsistência, em propriedades de 2 a 10 hectares. A maior parte das propriedades estava dispersa entre os vilarejos. Em geral, tinham um pasto adjacente, cercado, e às vezes um pomar. As técnicas e níveis de produtividade pouco haviam mudado desde a época dos romanos e, a cada ano, os camponeses produziam só cerca de 20% mais do que o necessário para alimentar as famílias e o gado, e para armazenar sementes para a próxima safra. Cerca de 80% da população trabalhava na terra. No fim do século XVIII, na Inglaterra e Holanda, a proporção caiu para 33% na Inglaterra  em 1811, pois o desenvolvimento da agricultura permitiu fornecer os alimentos para as cidades industriais em crescimento. 
            Neste período, exceto na Inglaterra e Holanda, o progresso veio com a introdução de culturas mais produtivas, provenientes em geral da América. A batata tornou-se alimento de subsistência na Europa Ocidental. Foi primeiro introduzida na Espanha e Itália. Na Irlanda, permitiu um aumento da população de 2,5 milhões para 8 milhões. O milho americano, assim como a batata, tinha produtividade maior do que a dos cereais comuns - cevada , painço e sorgo - e foi amplamente adotado no sul da Europa.
          O trigo sarraceno, adequado a solos pouco férteis, chegou ao norte da Europa, vindo da Rússia. No mediterrâneo, antes de 1500, vieram da Ásia cana-de-açúcar, arroz e frutas cítricas. Mas a produção de açúcar declinou após 1550, devido à competição da Ilha da madeira e das Canárias e, após 1600, do Caribe e Brasil. 
             A lenta mudança das colheitas contrastava com o rápido desenvolvimento no noroeste. Os holandeses iniciaram o progresso de resgatar terras ao mar. Para não deixar  a terra sem cultivo a cada três anos (sistema tradicional), descobriram que a fertilidade podia ser mantida só pelo rodízio das colheitas, com o plantio alternado de pastos  aráveis e artificiais e plantações para uso industrial, como semente de colza, linho e vegetais para matérias corantes, especialmente a garança. O nabo, alimento das ovelhas, produtoras de adubo, carne e lã, era especialmente importante: assim como ervilha, feijão e trevo, restituía nitrogênio ao solo. |Os agricultores ingleses, encorajados por proprietários de terra progressistas, imitavam e desenvolviam inovações. A irrigação, os sistemas de drenagem e o desdobramento de florestas ampliaram as áreas produtivas; a delimitação do campo e o tratamento do solo (especialmente com esterco ou cal) incentivaram o aperfeiçoamento da lavoura. Na década de 1740, o comércio de cereais era responsável por 1/10 da renda  das exportações inglesas. 
           As  técnicas se difundiram à medida que o crescimento das cidades encorajou a especialização na produção de alimentos. A Holanda concentrou-se na produção de laticínios e, em 1700, exportava 90¢ de seu queijo. Os dinamarqueses enviavam 80 mil cabeças de gado por ano à Alemanha e as indústrias de tecido holandesas, alemães e italianas recebiam importações maciças de lã espanhola. Cresceu o intercâmbio de cereais e madeira do norte da Europa por frutas, vinho e azeite das terras mediterrâneas. Danzig (Gdansk)  e Livorno eram os principais entrepostos.  
                O aumento da produtividade dependia da desagregação das antigas relações feudais, que oprimiam os camponeses. Havia uma divisão  nítida entre leste e oeste. Antes de 1500, o feudalismo se radica com mais força nas antigas áreas povoadas da Europa Ocidental do que nas terras escassamente povoadas da Europa Oriental e da Rússia. Após 1500, a situação mudou; os camponeses do noroeste da Europa trocaram as tradicionais obrigações em serviços, devidas aos senhores feudais, pelo pagamento em dinheiro pelas terras arrendadas (especialmente na Inglaterra e Holanda) e, na França e mais ao sul, pelo sistema de propriedades arrendadas a meeiros. 
             Ao contrário, o poder feudal se difundiu no leste da Europa até se tornar quase uma forma de escravidão. Os senhores feudais ganharam poder, impedindo a migração para as terras desabitadas do extremo leste (como ocorreu na Rússia) e aumentando os lucros através da exportação de cereais (como no leste da Alemanha e da Polônia-Lituânia). Camponeses livres só sobreviviam nas novas terras conquistadas se concordassem em prestar serviço militar, em vez de pagar pelo uso da terra. 
             Os camponeses do oeste da Alemanha ocupavam posição intermediária. Em 1525, tentaram ganhar liberdade total com uma grande revolta e, por pouco tempo, controlaram a maior parte do sul da Alemanha, até seres violentamente derrotados. Entre 1600 e 1800, o camponeses alcançaram maior liberdade. Mas essa lenta emancipação atrasou a revolução industrial alemã. 
               Como já vimos, a população da Europa cresceu rapidamente no século XVI; foi contida pela fome, peste e guerra no século XVII; e não registrou crescimento rápido até meados do século XVIII. Mesmo assim, nesse período, a população total quase duplicou, e as cidades cresceram. Em 1500, apenas cinco cidades: Constantinopla (a maior), paris, Milão, Nápoles e Veneza, tinham mais de cem mil habitantes. Em 1700, este número triplicara, e Londres, paris e Constantinopla haviam ultrapassado a marca do meio milhão de habitantes. 
             Os governo estavam cada vez mais complexos; comércio e finanças se desenvolviam; cresciam o sentimento de que a sobrevivência era  mais garantida nas cidades.  Também surgiram problemas em especial a necessidade de garantir suprimentos abundantes e confiáveis. Até meados do século XVII, havia grande demanda de trigo e centeio do leste da Europa. Grandes carregamentos foram para oeste, alcançando Portugal, Espanha e Itália. Esse  comércio alimentou a crescente força econômica holandesa, que praticamente monopolizava o comércio báltico de transporte de carga.
             Armadores, comerciantes e fabricantes dos Países Baixos (Holanda), em posição de liderança, criaram as condições para uma mudança gradual, mas decisiva do poder comercial. Em 1500, a indústria continuava concentrada no estreito corredor que ia der Antuérpia e Bruges, através de Ulm e Augsburgo, até florença e Milão. Embora os artigos de lã ingleses, os de linho franceses e o ferro espanhol tivessem reputação e mercados internacionais, as atividades não-agrícolas principais - artigos têxteis, armas, papel, vidro e manufatura de roupas - concentravam-se nessa linha norte-sul. Em 1700, esse eixo havia oscilado. Em um dos lados, estavam Inglaterra e Holanda, centro dos maiores produtores têxteis, da maior frota mercante, dos mercadores mais ativos, dos mais avançados fabricantes  de navios e de produtos de metal da Europa. A leste, a linha se estendia pelas zonas de produtos de metal e artigos de lã do Baixo Reno até as concentrações industriais das colônias da Saxônia, Boêmia e Silésia. Por outro lado, as grandes cidades  mercantis do norte da Itália e do sul  da Holanda, poderosas há dois séculos, estavam quase estagnadas. 
               O avanço da tecnologia foi disperso intermitente. As fábricas de seda, movidas pela energia dos moinhos do vale do Pó, foram a maravilha mecânica do século 17, embora pouco imitadas. No início do século XVIII, a expansão da relojoaria criou um conjunto de técnicas de precisão; e abomba para minas, de Newcomen, abriu caminho para o aprimoramento da máquina a vapor. Mas a inovação fundamental da era a vapor, o condensador isolado de James Watt (1769), só terá impacto industrial no fim do século. A expansão da indústria aconteceu com maior número de trabalhadores, usando velhos métodos. Mesmo assim, a organização industrial melhorou com a separação dos processos de produção, o desenvolvimento da produção nas áreas rurais isentas das restrições urbanas e o aproveitamento parcial de mão-de-obra barata das famílias camponesas. A manufatura de lã e linho - e parte da de metal - era controlada por comerciantes, usando força de trabalho caseira dispersa. No século XVIII, esse sistema se tornara a forma típica de produção, excluindo a indústria local e de luxo. 
             Mais impressionante que o crescimento lento e irregular da indústria foi o aumento do comércio internacional. Não mais confinadas à Europa, as potências marítimas, com colônias e portos comerciais na Ásia e nas Américas, atraíram novos produtos tropicais exóticos: chá, café, açúcar, chocolate, tabaco. Eram adquiridos com a troca de manufaturados europeus. As indústrias britânicas de linho e metais prosperaram nos mercados coloniais em expansão. Com os serviços de carregamento, seguro e comércio, os portos ocidentais enriqueceram, de Bordeaux a Londres, de Glasgow a Hamburgo. Tornaram-se sede de ricas empresas  comerciais e grandes interesses navais.  
            Os governos apoiavam os setores de atividade econômica que os favorecessem. Holanda e Inglaterra travaram batalhas para proteger e expandir  interesses comerciais e navais. A França e os países da Europa Central fundaram novas indústrias e subsidiaram as  mais antigas. Mas as guerras custosas exigiam pesados impostos, com ônus sobre as classes produtoras e grandes empréstimos, que minavam a estabilidade precária dos sistemas monetários  europeus, ainda em evolução. As guerras foram nocivas para a Espanha e prejudiciais para a França e países menores. Apenas Inglaterra e Holanda mantiveram os encargos militares dentro de limites financeiros realistas. 
          Comércio e guerra também geraram uma demanda por dinheiro sem precedentes. Após 1550, as colônias espanholas do México e do Peru passaram a fornecer ouro e prata e após 1690, o ouro era proveniente do Brasil. Os lingotes eram redistribuídos na Europa pelos mercadores e pelas transações do governo espanhol, a maior parte para financiar os prejuízos financeiros europeus nas Índias Orientais e no Levante. A quantidade de moeda também aumentou graças  ao crescimento bancário do oeste da Europa; afastando-se dos antigos métodos bancários das cidades da Índia e Alemanha, dependentes dos empréstimos governamentais, os bancos holandeses e ingleses atendiam a interesses privados oferecendo operações de câmbio e de crédito a curto prazo. Por um século - quase desde a fundação em 1609 - o Exchange Bank de Amsterdã ligado aos centros comerciais de importância, foi o foco do comércio continental; a Grã-Bretanha só pode competir quando, após 1694, o Banco da Inglaterra tornou-se um centro para empresas bancárias particulares mais antigas. 
           Com baixas taxas de juros, livre movimentação de capital, pagamento de seguros internacionais e fluxo de depósitos garantido, foram lançadas as bases do sistema  financeiro moderno na Inglaterra e Holanda. 
            Até 1660, as novas monarquias da Europa não haviam se libertado da estrutura de governo que haviam herdado. Riqueza, burocracia, controle da religião e exercícios permanentes não foram suficientes para romper os padrões que caracterizaram a monarquia no período feudal. O Estado ainda dependia da boa vontade dos nobres para fazer obedecer e a incapacidade de conservar este apoio provocava revoltas (na Inglaterra, os Tudor dependiam de juízes de paz não-remunerados, proprietários de terras locais, para fazer aplicar as leis). A aristocracia francesa organizou diversas rebeliões contra a Coroa, culminando com a Fronda (1643 a 1653); parte da aristocracia inglesa se rebelou contra Elizabeth I em 1569/70 (a sublevação do norte) e muitos nobres ingleses apoiaram a resistência do Parlamento a Carlos I após 1640; nobres da Holanda se opuseram ao príncipe, Filipe II da Espanha,  em 1566, 1572 e 1576. 
             Essas rebeliões foram as mais importantes entre as que ameaçaram as novas monarquias do noroeste europeu; insurreições contra o Estado eram constantes nos éculos XVI e XVII. Algumas revoltas nasceram de ataques aos privilégios dos Estados; outras foram causadas por opressão econômica - impostos cobrados em tempos de preços altos e desemprego, como na maioria das revoltas populares da França, ou anexação de terras de uso comum, que causou as revoltas de 1549 e 1607 na Inglaterra. Outras insurreições (a peregrinação da Graça na Inglaterra, em 1536, e a Liga nacional na Escócia, em 1638) foram desencadeadas por políticas religiosas impopulares. Mas as revoltas foram uma resposta a tentativas de inovação. Jaime VI da Escócia disse, pouco antes de se tornar rei da Inglaterra em 1603, que os governos queriam "adoração a Deus, um reino governado  como um todo, uniformidade de leis". O problema eram os meios, não os fins. Nenhum soberano tinha recursos para implantar políticas tão ambiciosas. Careciam de receita e funcionários. Mesmo na França, com o mais numeroso serviço civil da Europa, a maioria dos 40 mil oficiais reais comprara o posto ou o adquirira por hereditariedade, podendo seguir um curso independente da Coroa. Tornaram-se uma casta aristocrática distinta - a nobreza de toga. 
              As barreiras para a centralização eram imensas. Muitos súditos não falavam a mesma língua dos governantes (bretão e provençal na França, córnico e galês na Inglaterra, frísio na Holanda); havia "zonas negras", inacessíveis para serem governadas com eficiência; algumas corporações, como a Igreja, tinham privilégios que as protegiam contra a interferência do Estado;províncias recém-anexadas pela coroa  estavam protegidas por cartas régias que garantiam seu mode de vida tradicional. As mais sérias convulsões políticas ocorreram quando o estado tentou minar ou remover privilégios; os holandeses se rebelaram em 1566, 1572 e 1576 em parte porque acreditavam que o governo central, controlado da Espanha, ameaçava as liberdades tradicionais; mantiveram oposição armada até 1609 quando a Espanha reconheceu a independência das sete províncias ainda rebeldes. Assim nasceu a "Rebelião Holandesa". Na Inglaterra, o Parlamento iniciou uma guerra civil contra Carlos I em 1642 por acreditar que ele pretendia destruir os direitos dos "homens livres" ingleses; esses, com ajuda dos escoceses, mantiveram resistência armada até derrubar o rei. Carlos foi julgado e executado  em 1649. A República Inglesa, que sobreviveu  por anos, logo começou a reduzir a independência da Escócia e Irlanda e criou pela primeira vez um governo unificado para as ilhas Britânicas. O filho de Carlos voltou ao trono, em 1660, com plenos poderes e até um pequeno exército permanente, mas outra revolta em 1688, apoiada pelos holandeses, levou Jaime II ao exílio e garantiu que o poder da coroa na Inglaterra nunca mais seria absoluto. na França, em bora a oposição não tenha ido tão longe, as políticas absolutistas e os impostos abusivos do cardeal Mazarino (1602 a 1661), primeiro ministro  de Luiz XIV, indispuseram os oficiais  da coroa, os nobres e os parisienses; em 1649 eles desalojaram o "rei da capital e o forçaram a fazer concessões. O controle real só foi totalmente restaurado em 1655. 
             Nos três países, porém, a estrutura do Estado sobreviveu. nenhum rebelde questionou seriamente a necessidade de governos fortes, apenas a localização desta força. "A questão nunca foi se devíamos ser governados  por um poder arbitrário, mas em quais mãos ele deveria estar", escreveu  um republicano inglês em 1653. Na Inglaterra, a grande rebelião deu origem a um estrado surpreendentemente moderno. Após 1660, e mais ainda após 1688, o poder foi repartido entre o Parlamento, representando mercadores e proprietários de terras, e a coroa; mas o poder continuou absoluto mesmo  após 1707, quando a escócia foi incorporada para formar a Grã-Bretanha. na França, o fracasso da Fronda abriu caminho para o absolutismo de Luiz XIV. Na França e Inglaterra, o último esforço para resistir à ascensão do poder central e defender a autonomia local fracassara; não haveria outras grandes rebeliões por mais de um século. Já a revolta holandesa conseguiu proteger a independência local contra os abusos centrais. A despeito da preponderância da Holanda na República, as outras seis províncias mantiveram considerável harmonia. Mas o sistema centralizado, remanescente do século XV, enfraqueceu os holandeses, particularmente na concorrência comercial com a França e Inglaterra. estavam em desvantagem num mundo que não permitia lucro sem poder, segurança sem guerra. Quando se libertaram da Espanha (a independência reivindicada em 1609 foi reconhecida em 1648), os holandeses foram atacados por terra pela França (1672/78 e 1689 a 1713) e por mar pela Inglaterra (1652/53 e 1671/74). A pressão e as despesas das guerra foram excessivas e o poder holandês diminuiu. O século XVIII e seus lucros - particularmente no mundo colonial - pertenceriam aos estados modernos recém-unificados, França e Gã-Bretanha.  

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