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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

FATOS QUE MOLDARAM A CHINA IMPERIAL

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          No ano 304 d.C., nômades Xsiung-nu, primos próximos do hunos, penetraram através da Grande Muralha e saquearam as antigas capitais da China do lo-yang e Ch'ang-an, dando início a quase três séculos de comoção e de governo estrangeiro. Outro povo nômade, os heftalitas ou hunos brancos, arrasou o império Gupta em 455 e, no transcurso de trinta anos, devastou as cidades e mosteiros da Índia Setentrional. Os heftalitas  não se detiveram ali e avançaram  sobre o grande império da Pérsia sassânida que somente sobreviveu graças a concessões territoriais e grandes perdas.
           Ainda que os danos sofridos pelos furiosos ataques e incursões foram considerados e a recuperação total ter demorado centenas de anos, as civilizações clássicas da Ásia Oriental e Meridional sobrevivera. Mesmo sendo temporariamente afetadas, estas civilizações demonstraram seu vigor ressurgindo das cinzas tão logo retornaram a situações mais estáveis.  Assim, estas antigas tradições clássicas trouxeram a maior contribuição individual para as impressionantes civilizações medievais que floresceram na Índia e China.  
               È incontestável que a maior civilização do Oriente Meridional foi a China. mesmo sofrendo séculos de transtornos, a tradição tanto governamental como cultural permaneceu intacta na essência, e os chineses aspiraram à restauração de um império unificado estável como se fosse o estado natural das coisas. Quando o império retornou no fim do século VI, marcou o início de uma nova idade de ouro na qual a civilização chinesa alcançou seu apogeu sob a dinastia dos Tang e dos Sung. 
       Entretanto, a ameaça de incursões vindas da Ásia central continuou a projetar-se sobre as civilizações estabelecidas no perímetro euro-asiáticos e os nômades das estepes fariam uma última tentativa antes que os séculos medievais chegassem ao fim. No ´seculo XIII ocorreu o nascimento de um novo império nômade, os mongóis, que por um momento ameaçou arrasarem as civilizações do leste e do oeste numa orgia de ataques  e destruições. Apesar de suas fantásticas conquistas territoriais, as civilizações continuaram florescendo e o reinado estrangeiro cedeu lugar novamente às dinastias locais na China e no Oriente Próximo. Uma nova e transcendental invenção - a pólvora -, difundida ironicamente no oeste pelos mongóis, faria  com que os cavaleiros nômades das estepes  já não pudessem dominar nem aterrorizar os camponeses e moradores das áreas civilizadas. O desaparecimento dos canatos mongóis representa o fim de uma era de terror iniciada com os ataques dos nômades das estepes às antigas cidades da Mesopotâmia há 4 mil anos. Também marca o início de outra era, onde todas as vantagens militares, políticas e econômicas radicavam nos Estados e impérios estabelecidos na Eurásia urbanizada, desde a China dos Ming no Oriente até a Europa do Renascimento no Ocidente. A extensa luta entre o deserto, as estepes e as cidades tinha terminado com a vitória definitiva destas últimas. 
             Depois de três séculos de fragmentação, a China foi reunificada em 589 pela dinastia Sui, cujo reinado durou apenas  35 anos. Contudo, foi o suficiente para fundar os alicerces duradouros do  Império Tang sobre a base de um sistema centralizado e a divisão em prefeituras para uma melhor administração regional. O Estado também patrocinou um estilo de budismo que foi aceito tanto no norte como no sul e construiu um sistema de canais que ligava Yang-tsé com o Rio Amarelo e a capital Sui em Ch'ang-an. 
           Infelizmente a dinastia Sui não se limitou apenas à reorganização interna e às obras públicas, envolveu-se também em conquistas externas num esforço para reavivar, de um só golpe, os êxitos do período Han. Esta combinação impôs uma caga demasiadamente pesada sobre a nascente administração e a China do Sui foi derrubada por uma rebelião em 1617. isto poderia ter sido prelúdio de outro longo período de fragmentação e de guerras civis, porém, afortunadamente, o Tang, uma família ligada por casamentos com os arruinados Sui, conseguiram, rapidamente, retomar o controle e restituir a ordem.  
         A sua ascensão ao poder marca realmente o início de uma nova idade de ouro. 
            O Estado Tang  foi um império forte e centralizado, dotado de um sistema administrativo simples, mas eficaz, dirigido por funcionários públicos que eram admitidos nos cargos após terem sido aprovados em exames públicos. No início, observaram a lição de seus predecessores Sui e se concentraram na consolidação interna. A ameaça  dos nômades do  norte ainda estava presente na memória de muitos chineses e os T'ang adotaram medidas para completar a reconstrução da Grande Muralha, inciada pelos Sui. O imenso Exército permanente estacionado ao longo da Muralha recebia equipamentos e alimentos vindos de todas as regiões da China através da rede fluvial e de canais. Entretanto, passados cinquentaa nos desde sua ascensão ao poder, os T'ang não ficaram satisfeitos com a consolidação das fronteiras existentes e iniciaram uma série de campanhas militares em grande escala com o intuito de estender o seu reinado até o Vietnã, Coréia e Ásia Central. estas campanhas envolveram grandes contingentes de tropas - 150 mil homens participaram nas campanhas da Coréia no ano de 660 -, mas, finalmente as pressões provocaram a ruína dos T'ang, como antes acontecera com os Sui. No entanto, durante algum tempo, todos os acontecimentos evoluíram favoravelmente, e no auge do seu poder, por volta de 700, o controle chinês compreendia  um território nunca antes alcançado. 
            Todo esse avanço territorial deve-se, sem dúvida ao considerado fundador da dinastia T'ang. Ele distinguiu-sem por ser e obstinado militar e, ao mesmo tempo, um brilhante administrador. Durante seu reinado, se estabeleceram contados comas civilizações da Pérsia e da Índia e floresceram as artes e as letras. 
             O vasto império T'ang, com uma população aproximada de 60 milhões de habitantes, deixou inexplicavelmente poucos vestígios. Os mais impressionantes  são os colossais túmulos reais  ao norte da capital T'ang, Ch'ng-an, que ainda não foram totalmente escavados. Contudo, as escavações na própria cidade de Ch'ang-an tê revelado muitos detalhes do seu desenho, muralhas, entradas, mercados, ruas e prédios públicos que, somados às fontes literárias, possibilitam obter muma descrição apurada da antiga cidade.  Entrem as descobertas mais importantes estão as ruínas do palácio real e três túmulos imperiais que continham valiosos objetos funerários e magníficas pinturas murais da vida na corte. 
            Os monumentos mais espetaculares, porém, são talvez os templos budistas ricamente adornados, escavados na rocha, encontrados nos territórios da Ásia Central. Em Tung-huang, perto do ponto onde o Caminho da Seda abandona a China e penetra no deserto, sobrevivem centenas de santuários escavados nas rochas com elaboradas decorações. Tn-huang prodigalizou um valioso tesouro em livros e documentos, escondidos durante uma invasão do século XI, que incluía o Sutra Diamante, o exemplar impresso mais antigo encontrado até agora, datado do anmo de 868. Trata-se de uma coleção de orações budistas chinesas impressas não por impressão tipográfica (inventada somente no século XIV na Coréia), mas com blocos de madeira. Somente alguns poucos séculos depois, a mesma tecnologia de blocos de madeira foi utilizada pelos Sung para imprimir o primeiro papel-moeda do mundo. 
             A próspera economia da China T'ang estimulou um amplo comércio exterior, os mercadores vinham para ch'ang-on oriundos de lugares tão remotos como a Índia. Pérsia, Arábia e o Japão. Os artistas chineses captaram com precisão a aparência diferente e pouco familiar desses estrangeiros nas suas pinturas, desenhos e, o mais surpreendente, em figuras de cerâmicas. os artistas também, deixaram registrados os gostos dos aristocratas T'ang pela caça e o pólo em ricas pinturas funerárias e nos vistosos cavalos de cerâmica vitrificada que estão entre suas  obras-mestras mais valorizadas.
          O século VIII foi uma época de crise. O enorme império T'ang estava seriamente enfraquecido por reveses sofridos no estrangeiro e revoltas internas. A insurreição foi controlada com dificuldades, porém, sem poder evitar que os insurretos destruíssem Ch'ang-an, a capital T'ang, que era a maior cidade do mundo, com mais de um milhão de habitantes. Diante desses acontecimentos, a China começou a se orientar rumo sul, cada vez mais longe do tradicional Rio Amarelo. Entretanto, embora as políticas centralizadas do século VII fossem abandonadas, a China, no seu conjunto, continuou prosperando. O poder foi transferido para as províncias, estimulando a transformação das capitais provinciais em grandes e opulentas metrópoles. Houve também u,ma massiva movimentação da população rumo ao fértil vale do Yang-tsé, onde novos métodos agrícolas produziam enormes excedentes de grãos. O comércio se desenvolveu rapidamente, formando-se numa rede de pequenas cidades mercados por todo o país. 
              Porém o êxito econômico não foi capaz de salvar os T'ang e, em 907, a dinastia finalmente desapareceu. Logo se seguiram várias décadas de comoção e a China novamente se fragmentou em pequenos reinos independentes. Somente em 979 uma nova dinastia, os Sung, conseguiu restaurar a unidade, porém as afastadas províncias do domínio dos T'ang se haviam perdido. A Ásia Central já não fazia parte do império dos Sung e o Vietnã do Norte se emancipou como reino independente.  Por outro lado, os liaos, um povo mongol localizado além da Grande Muralha, assolaram parte do nordeste da China, e os tangutes, de língua tibetana,fizeram o mesmo na zona fronteiriça do noroeste. 
          Ch'ang-an, a antiga capital imperial dos T'ang, era também o centro cultural e econômico do seu vasto império. Era uma cidade enorme, com um milhão de habitantes que moravam em mais de uma centena de distritos murados, fechados à noite. existiam mais de cem templos budistas, taoistas, e no bairro estrangeiro, zoroástricos e nestorianos. Com mais de uma centena de grêmios de comerciantes, Ch'ang-an era uma importante cidade comercial e seus mercados vendiam todas as variedades de artigos exóticos e comuns. Os mercados foram parcialmente escavados, revelando moedas de prata de Bizâncio e da Pérsia e os sulcos deixados pelas carroças ha 1200 anos atrás. 
            A corte T'ang foi profundamente influenciada pela cultura estrangeira e pelo ágil estilo de vida dos povos fronteiriços. A elite T'ang era formada por exímios cavaleiros dedicados à caça e ao pólo. 
             Sob os T'ang as redes comerciais se estenderam até a Índia, Pérsia, Japão e Arábia  e a economia desenvolveu-se. Osa mercadores viajavam em camelos desde o Oriente Médio pela Rota da Seda buscando mercadorias exóticas. 
           Ali estavam também o Grande Vestíbulo do templo Nandan, Shensi, o edifício de madeira mais antigo da China. Somente os edifícios da mesma época que sobreviveram em outros lugares dão uma ideia de como brilhava Ch'anf-an na sua glória.
          Contudo, dentro destas fronteiras reduzidas, a China prosperava como nunca. A população, que no século VII alcançava os 60 milhões de habitantes, chegou a mais de 100 milhões no ano 1100, sendo que quase a metade habitava agora no centro e no sul. O predomínio econômico do Yang-tsé estava finalmente estabelecido, embora a capital Sung ainda permanecesse por algum tempo no norte, na grande cidade comercial de Kai-feng. Esta cidade li8gava-se por canais com o litoral do pacífico e as caravanas de  camelos chegavam até ali desde a Ásia Central, como acontecera em Ch'ang-an em tempos passados. Entreetanto, as rotas navegáveis da China até a Índia e o Golfo Pérsico eram agora mais importantes. No período Sung, a China era uma potência marítima de primeira magnitude, e sua frota sulcava livremente os mares do sudeste da Ásia e o Ocenao Índico. Moedas e porcelana chinesa têm sido encontradas no litoral da Arábia e perto do estreito de Ormuz. Tudo isso devido á invenção chinesa da bússola. Ainda assim, em termos gerais, a China da dinastia Sung manteve-se muito mais afastada  do mundo exterior que a dos T'ang. as influências estrangeiras tinham sido visíveis em muitos aspectos da vida diária, desde a música até as cepas de vinho e a filosofia budista. A cultura Sunga foi significativamente mais introvertida e receosa do mundo além de suas fronteiras. Essa seria uma característica principal da China nos ´seculos posteriores. 
         Sob a dinastia Sung, a China foi muito mais rica e populosa do que sob os T'ang. As regiões como Fukien, atrasadas no século VIII, chegaram a ser centros importantes e de refinada cultura. O próspero sul sobreviveu inclusive à crise do século XII, quando os Chin, nortistas oriundos da Manchúria, devastaram a maior parte da China Setentrional e tomaram a capital K'aifeng. mesmo com dois terços do seu tamanho  original, a China Sung era uma sólida forla política e econômica. Hang-chou, perto do delta do Yang-tsé, converteu-se na nova capital e logo superou  K'ai-feng em beleza e refinamento. Um século depois, Marco Polo diria que um passeio pelo belo Lago Ocidental de Hang-chou produzia "maior refresco" e deleite que qualquer outra experiência na Terra. 
              A capital Sung K'ai-feng, era uma grande cidade comercial convertida  em capital, enquanto Ch'ang-an foi construída pelos T'ang especialmente como a sede simbólica do poder. K'ai-feng, localizada ao longo do canal que levava ao sul, era o centro de uma região produtora importante dotada de uma indústria de ferro que utilizava o cavalo para fundição. Os Sung construíram pagodes pré-fabricados de ferro fundido. Durante o período Sung, o centro de gravidade da China  - político,cultural e econômico - se deslocou desde a China Setentrional até o Yang-tsé. A rede comercial ainda incluía caravanas de camelos até a Ásia interior, porém, o tráfego fluvial se fez predominantemente. 
             A china  no século XIII era ainda mais populosa, produtiva e próspera do que a Europa Ocidental da época. Apesar das derrotas militares  e de fronteiras reduzidas, as realizações culturais e o êxito econômico dos Sung ainda se incluíam entre as maravilhas da época.; No  entanto, enquanto os dignitários chineses comemoravam e se divertiam nos seus "barcos do prazer" no Lago Ocidental de Hang-chou, ameaçadoras nuvens de tempestade projetavam-se  no horizonte setentrional. Muito longo, na Ásia Central, uma nova onda de invasores das estepes começava a se formar, e destruiria não só os Sung, mas também o Califado de Bagdá e os reinos cristãos da Europa Oriental: eram os mongóis. Este primitivo povo nômade das estepes da Ásia Central, causaram uma tremendo impacto na história mundial. Muito lembrados pela ferocidade de sua investida, estabeleceram um império de grande extensão que abrangia desde a Hungria até o pacífico. Esta foi a última, e provavelmente  a mais violenta, das incursões nômades que a civilização teve de suportar e seus efeitos foram consideráveis. A organização política da Ásia e de uma grande parte da Europa foi alterada; povos inteiros foram expulsos e dispersos; milhões foram assassinados ou morreram de fome e a influência e destruição das principais religiões do mundo foram decididamente modificadas. Eram verdadeiras feras selvagens; matavam por prazer e estupraram e engravidaram tantas mulheres que hoje, cerca milhões de pessoas possuem traços de seu DNA. 
            Embora tenham sido um trágico episódio na história dosa países afetados, as invasões mongóis trouxeram uma nova unidade para a maior parte da Eurásia, que permitiu o acesso europeu à Ásia e ao Extremo Oriente; foi assim que Marco Polo pôde viajar para a China em 1271. Da mesma forma, foram os mongóis que cederam à Europa e ao Ocidente uma nova invenção militar que ironicamente traria o fim da era das invasões vindas das estepes: as armas de fogo, com o uso da pólvora inventada pelos chineses. 
               Ainda falando sobre os mongóis, é importante lembrar  que Gengis Khan, seu maior líder, começou sua campanha para dominar o mundo em 1211, quando invadiu o Império Chin da China Setentrional, penetrando através da Grande Muralha. Nem as maciças fortificações de 12 metros de altura por 12 metros de largura puderam salvar Pequim, a capital Chin, que caiu perante os invasores em 1215. Seus edifícios foram saqueados e queimados e seus habitantes assassinados ou escravizado de acordo com a estratégia bélica habitual dos mongóis: a campanha do terror. 
              De fato, os mongóis causaram uma imensa destruição na China Setentrional no começo do século XIII. A maior parte das terras deixaram de ser cultivadas e as cidades e indústrias foram devastadas. Sob o domínio mongol, os chineses foram explorados de forma cruel, a produtividade diminuiu e o comércio foi interrompido. O resultado final foi a revolta dos súditos chineses contra os amos mongóis, que acabaram  derrotados, a criação de uma nova dinastia  chinesa  em 1368: os Ming. 
             Chu Yuan-chang, o primeiro imperador Ming, foi uma exceção na história chinesa: um humilde camponês que fundou uma dinastia imperial. Nascido em 1328 num ambiente de profunda pobreza, Chu abriu caminho rumo ao cume do mundo político chinês. Ao longo de sua vida foi monge budista, bandido e comandante militar. Talvez o seu instável passado explique por que,como imperador, visse conspirações em toda  a parte. 
               O seu temor a uma insurreição era tal que, em 1380, Chu destituiu todos os seus principais conselheiros, assumindo pessoalmente quase todas as funções executivas do governo. Esse sistema funcionou bem para Chu e para alguns dos seus mais vigorosos sucessores; porém, quando estiveram no trono homens menos capazes ou menos dedicados à sua tarefa, as atividades de governo podiam chegar a uma virtual paralisação devido à falta de direção central. 
               Depois da morte de Chu, em 1398, aos 70 anos, houve uma disputa pela sucessão, da qual saiu vitorioso seu quarto filho, que chegou a ser conhecido como o imperador Yung-lo. Durante a vida do seu pai, Yung0lo encarregou-se de Pequim, a antiga capital dos mongóis, no norte do país. Rapidamente transformou-a na capital Ming. Utilizando  mais de 200 mil operários, reconstruiu as muralhas de adobe empregando , pela primeira vez, pedras e tijolos, criando a que atualmente é chamada "A Cidade Proibida", que converteu no seu quartel-general. Yung-lo lançou também uma série de campanhas contra os mongóis, na tentativa de estabelecer uma defesa contra as tribos das estepes. Apesar disso, não conseguiu capturar nenhum dos seus líderes, o quem o levou a construir novas muralhas defensivas e reforçar as guarnições do norte. Para administrar as tropas e os residentes da capital, aperfeiçoou e alargou o Grande canal, que se estendeu por 1600 quilômetros, desde Hang-chou até o sul de Pequim, tornando-o uma das maravilhas do mundo. Cerca de 20 mil embarcações chegaram a transportar anualmente mais de 200 milo toneladas de grãos para o norte pelo Grande Canal e seus numerosos diques, protegidos por 160 mil guardas mantidos pela dinastia Ming para garantir essa vital linha de abastecimento do seu império.  
               Aproximadamente de 1400 até 1600, Pequim, a principal capital do Império Ming, foi a maior e a mais populosa cidade da Terra. Estudos detalhados baseados em escavações, registros literários e visuais e mapas posteriores têm remitido aos arqueólogos reconstituírem a cidade tal como se erguia  no ano 1600. A cidade atual conserva o traçado básico da capital Ming, que compreendia originalmente três recintos murados. No centro estava localizada a cidade do palácio (agora denominada de Cidade Proibida), que compreende os palácios imperiais residenciais e de audiências. Ao redor deles estava a Cidade Imperial com os escritórios burocráticos dos eunucos, jardins, parques, depósitos e fábricas. Uma muralha de terra batida resvestida com tijolos cercava a cidade. Em 1553 foi construída outra muralha para proteger os subúrbios do sul da cidade e o Altar do Céu, que haviam sido saqueados pelos mongóis quando atacaram Pequim em 1550. A partir dai ma parte norte da cidade foi designada como a cidade interior, e a parte sul cercada pela nova muralha, como a cidade exterior. As muralhas da cidade interior estendiam-se por  6,5 quilômetros de leste a oeste e 5,5 quilômetros de norte a sul. As muralhas da cidade exterior percorriam 8 quilômetros de leste a oeste. À leste da cidade do palácio estavam os lagos e jardins do parque imperial. Depois de 1500, muitos imperadores Ming decidiram residir nesse parque e não na cidade do palácio. A maioria dos escritores burocráticos dos eunucos estava ao norte e nordeste  dela, enquanto os principais escritórios militares  e civis do governo imperial estavam localizados imediatamente ao sul, em ambos os lados da avenida principal que percorria desde a entrada  principal na cidade interior até a entrada principal da cidade do palácio. As audiências se realizavam geralmente no pátio localizado no extremo sul da cidade do palácio. O centro comercial mais importante da cidade ficava ao sul da cidade interior. Eram destinados muito mais espaços nas cidades para as áreas comerciais e residenciais do que nos tempos Han e T'ang, o que reflete uma tendência iniciada no período Sung.
               A Cidade Proibida com o palácio residencial e de audiência  está localizada num recinto murado no centro da cidade imperial de Pequim. 
            A residência do imperador, feita de prédios de madeira vermelha e amarela cercados de terraços, escadas e balaustradas de mármore branco, contrastava com o meio natural. A maior porta do palácio é a do Meio-dia, composta de grande  saguão central e quatro pavilhões. Mais para o norte está o pavilhão através do qual se ingressa no Palácio do Céu, residência privada do  imperador. As habitações exclusivamente imperiais estavam ao lado oeste do palácio, bem como os pavilhões para a imperatriz e a concubina imperial. 
            Um dos aspectos mais característicos da arquitetura aristocrática chinesa eram as construções com terraços em diferentes níveis. 
             Na Cidade Proibida encontram-se também os retângulos  concêntricos a da proibição: uma ordem arquitetônica onde tudo é defesa de outra defesa e cada elemento é o parapeito do seguinte, terminando no centro com a Cidade Proibida de aproximadamente 720 milo metros quadrados, onde foram construídas 9.999 habitações. 
           No coração da Cidade Proibida, cerado por 72 pilares adornados com dragões enrodilhados, está o trono de ouro do imperador, local onde só ele tinha acesso. 

        Yung-lo não restringiu apenas ao norte suas políticas expansivas. Enviou também exércitos para Anam (Vietnã), onde, embora tivessem conseguido anexar temporariamente as regiões setentrionais, logo estiveram envolvidos numa confusa guerra de guerrilha. Com muito mais êxito, Yung-lo começou a estender sua influência marítima. Enormes frotas de "barcos coletores" foram construídos em Nanking e enviadas numa sucessão de sete viagens para o Sudeste Asiático, Índia, Ceilão, Arábia e inclusive para o litoral  oriental da Árica. Projetadas em parte para exibir a bandeira Ming e anunciar a posição de Yung-lo como o máximo governante do mundo, essas expedições marítimas eram de uma envergadura  fantástica. Na quarta viagem, realizada nos anos 1413 - 1415, zarparam 63 ou mais grandes barcos com aproximadamente 28 mil homens na tripulação. As demais viagens não foram menos Importantes. Em contraposição, o navegante português  Vasco da Gama entrou no Oceano Índico em 1498 com apenas quatro pequenos barcos e escassos 500 homens. As frotas chinesas, comandadas pelo eunuco muçulmano Cheng Ho, retornaram com valiosos tributos, governantes submissos, incluindo, em 411, o rei do ceilão, e raridades, como girafas, leões e espécimes exóticos. 
          Mas, mesmo que essas viagens estimulassem a vaidade de Yung-lo e excitassem sua curiosidade, seu custo superava em muito o valor dos tributos conseguidos. Pouco depois de sua morte, em 1424, as viagens e colônias, como Anam, foram abandonadas. 
         Quase imediatamente os recursos do império tiveram de ser redistribuídos para enfrentar uma nova ameaça vinda no norte. Em 1449, o descendente de Yung-lo, Cheng-t'ung, um jovem imperador  com ambições de grandeza e cercado de péssimos conselheiros, liderou uma expedição para o norte de Pequim que terminou em desastre. Não longe da capital, o próprio imperador foi capturado de maneira humilhante pelos mongóis e destronado por seus indignados súditos. Os mongóis deixaram de pagar tributos aos Ming e, em troca, pressionaram os chineses com uma série de exigências políticas e econômicas. Quando estas eram desobedecidas, lançavam ataques ao império, atingindo em muitos casos os subúrbios de Pequim. O  governo imperial respondeu renovando e entendendo o que conhecemos como a Grande Muralha, até que alcançasse as impressionantes  dimensões atuais: mais de 5 mil quilômetros. Certamente constituiu uma prova incontestável das habilidades logísticas e tenológicas da dinastia Ming. Porém,, mesmo assim, nem sempre conseguiu manteve afastados os mongóis. Desde então, a dinastia teve de manter-se na defensiva.   
          A fronteira norte não era o único problema da China dos Ming. Depois que as viagens oceânicas  terminaram na década de 1430, as defesas litorâneas  foram descuidadas e o comércio ultramarino  proibido, exceto aquele realizado sob estrito controle do governo. Não é surpreendente, pois, que no ano 1500 o contrabando viesse a se tornar um problema frequente nas províncias a sudeste de Chekiang, Fukien e Kwangting. Por volta de 1550, os mares próximos á China estavam infestados de bandos de contrabandistas e piratas fortemente armados que aterrorizavam os habitantes das regiões litorâneas do país. Esses indivíduos são frequentemente aludidos em relatos chineses como "piratas japoneses", porém de fato em sua maioria eram marinheiros chineses  cujas fontes de trabalho e de sobrevivência tinham sido ameaçadas pelas políticas governamentais. Pela primeira vez na história da China,m o litoral do Sudeste Asiático tornou-se uma fronteira de fundamental importância militar. 
          A primeira prioridade dos Ming foi a restauração da vida normal. Os sistemas de irrigação e de esgoto foram reconstruídos, foi realizado o reflorestamento em grande escala e enormes quantidades de pessoas foram deslocadas para o norte para povoar novamente as áreas devastadas. Ao contrário dos Sung, que tinham dependido fortemente do comércio da manufatura como fonte de renda, os Ming retornaram ao sistema anterior baseado na produção agrícola. Da mesma forma, abandonaram o papel-moeda, do qual os mongóis tinham feito mau uso. Foi reorganizado o Exército nas fronteiras com colônias militares, reconstruindo-se a Grande Muralha. Também foi restaurada a rede  de canais, construindo-se outros para ligar Pequim com a capital Ming e com os centros povoados e agrícolas do vale de Yang-tsé. 
            Com esses esforços, a população tornou a crescer  mais uma vez. Em 1393, o número de habitantes chegava a 60 milhões, 40% menos do que nas últimas épocas dos Sung. Em 1580, depois de dois séculos de governo Ming, tinha atingido 130 milhões, introduzindo-se novos cultivos e técnicas agrícolas melhoradas para alimentar a crescente população. Com o florescimento econômico, o comércio e a indústria revigoraram e  as grandes cidades do delta do Yang-tsé - Nanking, Suchou, Wuxi, Sungiang e hang-chou - se tornaram centros industriais, principalmente de têxteis. No fim do século XVI, o comércio recebeu outros estímulos graças ao fluxo de prata vindo do Novo Mundo, recebia como pagamento pelas exportações de chá, seda e cerâmica. 
             A riqueza da corte Ming se reflete no grande complexo palaciano criado no centro de Pequim,cidade que sob essa dinastia chegou a ser, por algum tempo, a maior e mais populosa da Terra. Sua magnificência é também observada nos túmulos dos imperadores Ming, localizados no norte de Pequim. Ali,m com uma disposição que lembra o Vale dos Reis, no Egito, treze imperadores  Ming descansam em túmulos ricamente adornados. Um dos mais valiosos e melhor conhecidos é o de Wan-li, imperador de 1573 até 1620. Os artigos funerários incluíam numerosos utensílios de ouro e prata, tecidos de brocado, roupas e objetos pessoais do imperador e suas esposas e as insígnias reais. Um túmulo mais antigo, do príncipe Chu Tan em Chou-shian, no sul de Pequim, continha uma comitiva de mais de 400 estatuetas de madeira e uma coleção de valiosos livros impressos nos séculos XIII e XIV. 
        Lentamente, a opulenta corte dos Ming começou a se isolar cada vez mais do resto da China. Depois de 1582, os imperadores se negaram a realizar as tarefas imperiais e inclusive a se reunir com seus ministros. O poder passou às mãos dou eunucos que, com seu próprio Exército e polícia secreta, podiam, sem distinção, aterrorizar a plebe e os funcionários. O resultado era previsível. Em 1644, a dinastia Ming acabou, como tantas outras, devido a uma grande revolta popular, deixando espaço para um povo da Manchúria que não era chinês entrar em cena e estabelecer a última dinastia da China imperial: os Ch'ing. 
                Partindo de suas terras localizadas nas montanhas do sudeste da Manchúria, esse povo expandiu-se  gradualmente, nas primeiras décadas  do século XVII, até as autuais províncias de Liaoning e Kirin. Com a ajuda de um grande número de chineses, estabeleceram um governo estável de estilo chinês com capital em Mukden (atual Shenyang) entre 1625 e 1644. A paretir deste ponto invadiram a Coréia, reduzindo-a a vassalagem em 1637, e a Mongólia Interior, que se converteu em colônia manchu entre 1624 e 1635. Quando os Ming foram derrotados pelo rebelde Li Tsu-ch'eng em 1644, os manchus invadiram a China er proclamaram uma nova dinastia. Próximo ao ano de 1652, apesare da resistência dos partidários dos Ming no sul, a maior parte do país estava sob o controle manchu. A resistência continuou no sudoeste até 1659 e, na costa sudeste, os partidários dos Ming ocuparam Taiwan em 1662 (que antes nunca havia estado sob controle chinês), onde permaneceram até 1683. 
             Logo que a rebelião dos Três Vassalos foi reprimida, os Ch'ing desfrutaram de um século de paz e prosperidade  sob uma sucessão de governantes muito capazes. Os manchus mantiveram um lugar preponderante do governo e, sobretudo, no Exército, e foram capazes de estabelecer uma boa relação de trabalho com os funcionários chineses, sendo que até o final do século XVIII, profundamente influenciados pela educação e cultura chinesas, começaram a perder sua marcada identidade. Houve uma série de insurreição das minorias étnicas que foram cruelmente exploradas tanto pelos chineses como pelos manchus. Houve rebeliões tribais em Yunnan (1726 - 1729), entre os miao de Kueichou (1795 - 1797) e novamente em 1829, e entre os yao de Kuangsi em 1790. A maioria muçulmana chinesa rebelou-se em Kansu entre 1781 e 1784. As rebeliões tribais massivas de Chin-ch'uan na parte ocidental de Sechuan foram mais sérias. Estas eclodiram pela primeira vez em 1746 - 1749, e após  alguns anos de calma, renovaram-se em 1746 - 1779. Finalmente, restaurou-se a ordem depois de custos das operações militares. ocorreu uma nova rebelião entre 1787 e 1788, no território recentemente ocupado de Taiwan. Entretanto, todos estes distúrbios ocorreram em áreas periféricas e não apresentaram maiores ameaças para a dinastia. 
             Ao finalizar o século XVIII, o conflito adquiriu uma nova dimensão. Nessa época, ainda  que a China fosse imensamente poderosa, produtiva e muito povoada, vislumbrava-se uma grande crise econômica. A área adequada para a agricultura, que se ampliou graças à introdução de novos cultivos (milho, batata-doce, amendoim e tabaco) nos séculos XVI e XVII, estava agora totalmente ocupada. A única região apta para o tipo de agricultura chinesa era a Manchúria, sendo preservada deliberadamente como terra natal dos manchus, ficando proibido o estabelecimento chinês nesta região. Entretanto, a população - cujo crescimento foi contido pelas epidemias no final dos séculos XVI e XVII e pelas rebeliões e guerras no final da época Ming e começo da Ch1'ing -triplicou, entre 1650 e 1800, de 100 para 300 milhões, e continuou crescendo em ritmo acelerado. Ao redor do ano de 1850 era de 420 milhões de habitantes. Esta população em constante crescimento precisava ser alimentada mediante o cultivo  intensivo de uma área limitada e, no final do século XVIII, a pressão demográfica começava a gerar privações e um empobrecimento geral. 
              Estas privações começaram a produzir ventes e rebeliões entre a população chinesa, geralmente incitados por sociedades secretas. A primeira deflagração importante foi uma série de motins conhecida como a Rebelião do Lótus Branco, que se originou nas regiões montanhosas de Sechuan, Shensi e Hupeh em 1795 - 1804 e, novamente, ainda que em menor escala, alguns anos mais tarde. Em 1786 - 1788 eclodiu em Shantung uma rebelião da seita dos da seita dos Oito Trigramas e em 1811, um levante de grande proporção da seita da Doutrina Celestial em Honan, Hopeh (Chihli) e Shantung,  acompanhado por um golpe de Estado em Pequim, finalmente destruída em 1814. Desencadearam-se mais levantes entre os povos fronteiriços: os tibetanos perto de Kuku Nor em 1807, os yaos em Kueichou (1833), e em Sinkiang, onde os oásis de Yarkand e Kashgar permaneceram em franca insurreição entre 1825 e 1828. 
              Os problemas econômicos básicos do país intensificaram-se devido à política de expansão, gerando grandes tensões na ineficiente administração financeira do império. Outro fator que contribuiu foi o comércio exterior. Durante os ´seculos XVII e XVII, um ativo comércio de exportação, especialmente de chá, seda, porcelana e produtos artesanais, desenvolveu-se sob a licença do governo de Cantão e com os russos em Kyakhta. Ainda que a economia chinesa fosse auto-suficiente, estas exportações eram remuneradas principalmente com prata, a medida padrão de pagamento na China. No fim do século XVIII, as potências estrangeiras começavam a introduzir ´´opio na China, desde a Índia e o Oriente Médio, para pagar suas exportações. Em 1830, as importações de ópio, ultrapassavam as exportações chinesas de chá e seda e começou uma fuga de prata para o exterior, causando efeitos cada vez mais negativos sobre a economia chinesa, prejudicando ainda mais as finanças estatais. 
               Além disso, e eficiência do governo Ch'ing começou a declinar rapidamente. No final do século XVIII, a corrupção dominava todos os níveis do governo, afetando tanto a corte como a administração civil e os exércitos manchus, cuja desmoralização, falta de provisões  e equipamentos ficaram demonstrados na rebelião do Lótus Branco. Por outro lado,a administração não se modernizou o suficiente para contrabalançar o ritmo do grande crescimento demográfico; no  princípio do século XIX, a burocracia imperial era insuficiente  e o governo delegava cada vez mais suas funções aos membros da nobreza local, atuando como seus agentes não recebendo nenhuma remuneração. 
               Em 1820 a China manchu era o maior e o mais povoado império do mundo. Ela controlava diretamente grandes territórios no interior da Ásia e dominava extensas áreas como Estados tributários: Coréia, Indochina, Sião, Birmânia e Nepal. Porém, dentro deste imenso império, o controle administrativo e militar da dinastia Ch'ing declinava gradualmente, à proporção que as pressões econômicas exigiam medidas que poderiam ser, alternativamente, uma inovação tecnológica em grande escala ou uma reorganização radical do país. nenhuma das duas soluções foi alvitada e, enquanto isso, a China enfrentava novas pressões das potências expansionistas ocidentais. 


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