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domingo, 13 de dezembro de 2020

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO RUSSO E SUA RECUPERAÇÃO --

 





              Durante 40 anos, após o Congresso de Viena, a Rússia foi a maior potência militar e em acordo com a Áustria e Prússia, usou a força para manter a ordem estabelecida em 1815. Grã Bretanha e França, porém, abandonaram os princípios que haviam inspirado o Congresso.   A opinião pública britânica abominava o absolutismo e a repressão do sistema russo, enquanto a França irradiava ideias revolucionárias. que ameaçavam as monarquias existentes. Para melhor compreender como aconteceu a decadência desse grande império é preciso saber dos últimos acontecimento de sua época de apogeu. 
               Após 1815, os interesses russos no Ocidente  concentravam-se nos Bálcãs e nos estreitos de Bósforo e Dardanelos, que ligavam o Mar Negro ao Mediterrâneo.  Os balcânicos da Turquia, eram, em sua maioria, eslavos ortodoxos e a Rússia se considerava  sua protetora. Como a Turquia ocupava os  dois lados do acesso da Rússia ao Mediterrâneo, era essencial que Constantinopla fosse favorável aos russos.   Mas França, Áustria e Prússia alimentavam ambições nessas regiões e a Grã-Bretanha  opunha-se a qualquer expansão russa. Em 1841, a Convenção Internacional dos Estreitos fechou o Bósforo aos navios de guerra  russos. Em 1853, a Rússia invadiu as províncias turcas do Danúbio e ganhou o controle do Mar Negro. Em 1854, Gã-Bretanha  e França invadiram a Crimeia. Enquanto isso, a Áustria, após conseguir a retirada dos russos, colocou suas tropas nos Bálcãs. Incapaz de desalojar os invasores, a Rússia, em 1850, aceitou os termos da Paz de Paris; nenhuma força naval nem bases seriam mantidas no Mar Negro. 
              Em 1877 as revoltas dos eslavos balânicos e a repressão pelos turcos provocaram nova invasão russa nos Bálcãs. Diante da oposição unânime das grandes potências, mais uma vez a Rússia  recuou. E no Congresso de Berlim (1878), mesmo tendo libertado os eslavos ortodoxos da opressão, a Rússia ficou isolada, enquanto os frutos da vitória foram para a Áustria ou Turquia.
                 Embora as ações da Rússia no Ocidente tenham falhado, sua expansão para o Oriente teve  êxito. O domínio militar sobre os nômades cazaques a leste do mar Cáspio foi garantido por fortaleza, desde Akmolinsk (1830) até Vernvy (atual -Almaty - Alma-Ata, 1854).
                Entre 1857 e 1864, ações nas montanhas completaram o controle russo do Cáucaso. Na Ásia Central foram subjugados os canatos uzbeques de Kokland, Bukhara e Khiva, os nômades turcomanos e os montanheses tadjiques e quirguizes. A Rússia adquiriu todo norte da Ásia e, para o interior, foi até a cadeia de montanhas que a separa da Pérsia, Afeganistão, Índia e China. A colonização da América do Norte continuou no século XIX, com a construção de fortalezas  ao sul, até a Califórnia (Fort Ross, 1812). Essa penetração durou pouco, mas o Alasca só foi vendido aos EUA em 1867. 
            No Extremo Oriente, os Tratados de Aigun (1858) e Pequim (1860) levaram a fronteira russa ao sul do rio Amur e, na costa do Pacífico, ao sul de Vladivostok (fundada em 1860). A região sul da ilha Sakhalina foi adquirida pelo Japão em troca  das ilhas Kirilas (1875). Em 1891, a ferrovia Transiberiana foi iniciada e, em 1898, a China alugou à Rússia Port Arthur (Lüshun), no mar Amarelo, que podia ser usado o ano todo. Uma ferrovia ligou-o à Transiberiana, concluída e, 1903. 
              A expansão russa, porém, chocou-se com os planos japoneses. As duas potências tinham interesses divergentes na Coréia e no sul da Manchúria, após a vitória japonesa sobre a China em 1894/95. Em 1904, após aliança com a Grã-Bretanha, o Japão atacou a Rússia, prejudicada por ter de lutar  longe de seus centros industriais. O Tratado de Portsmouth (1905) obrigou a Rússia a deixar a Manchúria e devolveu o sul de Sakhalina ao Japão. Essa derrota  no Oriente incentivou a revolução interna. Alexandre II (1855/81) havia iniciado reformas na década de 1860, para compensar o atraso revelado na Guerra da Crimeia; nova organização governamental ("zemstva"), reformas educacionais e mudanças radicais no sistema legal. Foi importante a emancipação dos servos, em 1861. Mas os camponeses, obrigados a ficar em suas comunidades de origem, sentiam-se lesados por ter de adquirir uma área menor do que a terra onde antes trabalhavam. Com o aumento da população rural, cresceu o desejo dos camponeses por mais terra. 
             No início do século XIX o grande Império Russo estava basicamente enfraquecido. Aquele poderoso e imenso Império já  não era mais um estado forte, pois, mesmo sendo rico, com inexorável patrimônio natural, agrícola e minerário, ele estava em decadência como um barco à deriva em mãos inexperientes.  Um sistema que, apesar de recente abolição da escravatura, ou seja, a servidão da gleba, conservava todas as características do regime feudal, com uma aristocracia soberba e um povo despido de qualquer direito cívico; um governo cego, ante o surgir de novas ideias;uma burguesia presa a superstições de uma época ultrapassada, uma agricultura primitiva, uma indústria pesada quase inexistente. Tal o estado da Rússia, nos últimos anos do século  XIX. A causa dessa anacronística situação política e social provocava, entre a juventude estudantil, ideias subversivas e até mesmo anárquicas. O governo tsarista reprimia, talvez debilmente, esses focos de revolta que, em geral,  não passavam de estéreis atos de violência, sem apresentar sequer um programa nem uma organização capaz de substituir o velho estado de coisas. Em todas as grandes obras narrativas russas da época (que deu ao mundo algumas dentre as maiores obras primas de todas as literaturas), percebe-se a impaciência de uma nova geração, sente-se que a massa, imóvel há séculos, já está movimentando; o regime dos Romannoff sustenta-se apenas por milagre, que ao primeiro choque sério ruirá inevitavelmente.
          Para a sorte do soberano e da classe  dominante, a revoltas ainda tinha um aspecto informe. Obrigada a permanecer na obscuridade, os grupos revolucionários não tinham ainda conseguido encontrar uma linha de conduta, nem um chefe. 
            Aquele Vladimir Ilitch Ulianov, que depois seria conhecido como  Nicolai Lenine, era então, apenas um jovem advogado, embebido de ideias marxistas e ninguém, mesmo quando foi ele processado e exilado para a Sibéria, poderia suspeitar nele o futuro animador da maior revolução social que a História  registra. Russo era, frise-se Bakunin, chefe dos anarquistas europeus; da Rússia fora para a Itália e jovem Ana Kulichoff, uma das maiores figuras do mundo anarquista, e depois socialista, da Europa. Mas o governo de Tzar não parecia levar não parecia levar a sério estes pioneiros débeis protestos de seu povo; nem mesmo quando, em 1905, diante do Palácio de Inverno de São Petersburgo, juntou-se uma enorme massa de operários, que gritavam, chefiados por um modesto e obscuro  padre finlandês, o "pepe" Gapon. Então, foi fácil às tropas repelir aquela multidão maltratada, com poucas descargas de fuzilaria. Mas, treze anos depois, aqueles tiros de fuzil seriam pagos com sangue. 
           Entrementes, também a política externa tal como os negócios internos iam à deriva. Depois da guerra sino-japonesa, vencida, como se sabe, pelas tropas do Sol Nascente, a Rússia interviria para diminuir o efeito da derrota chinesa, procurando bloquear a crescente influência do Japão no continente, especialmente na Coréia, para garantir bases militares e profícuas negociações na Manchúria. O episódio principal da guerra russo-japonesa foi a grande batalha de Tsushima. Os russos bateram-se com muita coragem o desprezo pela morte, mas a vitória sorria às naves japonesas, que foram favorecidas por improvisos nevoeiros e pela circunstância de que, aos primeiros tiros de canhão, ficara ferido o comandante em chefe da esquadra russa. 
           Durante  vários anos, as relações entre Rússia e Japão foram tensas, embora com alguns intervalos de tréguas de ambas as partes. Todavia, a Rússia demonstrou, por várias vezes, o desejo de não renunciar às suas idéias de expansão política e militar no Extremo Oriente, em aberto contraste com os precedentes acordos. 
        Finalmente, após longo tergiversar, em fevereiro de 1904, o Japão rompia bruscamente as negociações e, sem qualquer aviso diplomático, atacava, durante a noite, a frota russa ancorada na baia de Porto Artur, danificando-a. Parece que este sistema de atacar sem declaração de guerra, seja uma peculiaridade  oriental discutível, mas que produz, frequentemente, bons resultados. O fato é que, em poucas horas, a frota russa das águas chinesas foi destruída e os japoneses se tornaram senhores do mar, isto é, livres para desembarcar onde quisessem e de reabastecer suas tropas de ocupação. Porto Artur foi atacada por todos os lados pelas tropas do general Nogi, enquanto o corpo expedicionário, chefiado por Oiama, avançava, na Manchúria, contra o exército russo comandado por Kuropatkine. A guerra teve fazes alternadas de movimento e posições, mas não pôde jamais registrar um sucesso digno de nota. Em janeiro de 1905, caiu Porto Artur, após uma heroica defesa; em fevereiro, houve um choque decisivo, perto de Muken, na Manchúria, que terminou com a retirada dos Russos. 
           Desde outubro de 1904, a frota russa do Báltico, comandada pelo almirante Rodzestvensky, movera-se através dos oceanos, rumo ao mar do Japão. Ali chegou, após numerosas vicissitudes, em maio do ano seguinte, e ali, no estreito de Tsushima, encontrou, à sua espera, a esquadra do almirante Tojo. Foi um rápido massacre. os russos foram desbaratados até o último homem, enquanto o Japão se firmava, assim, ante o espanto dos Ocidentais, como uma das maiores potências do mundo. 
           O infeliz resultado da guerra contra o pequeno Japão, tornou muito impopular, na Rússia, Nicolau II, em que se via o responsável pela desgraçada situação do País. O Imperador e sua família estavam na residência estival de Tzasrkoie-Selo, que eles frequentavam até seu trágico fim. 
            A reação popular era inevitável. Em Leningrado, em 22 de janeiro de 1905, uma grande multidão de operários, chefiados pelo Pope Gapon, procurava apresentar-se ao Tzar, para levar-lhe algumas súplicas. A manifestação que, segundo as previsões da polícia, devia desenrolar-se tranquilamente, foi, porém, terminar de maneira trágica, porque as tropas, que estavam diante do palácio imperial, amedrontaram-se com a presença do povo, e começaram a atirar desordenadamente. Muitas mortes foram inevitáveis. 
            Depois desses acontecimentos, densas nuvens cobriam a Rússia em 1916. Suas grandes perdas diante dos germânicos, causaram manifesto mal estar entre o povo, e as revoltas que explodiram por toda parte eram sufocadas no sangue, pela polícia tsarista, com um rigor que beirava as raias da desumanidade. Já fazia mais de um século que a mocidade intelectual russa, orientada pelos anarquistas e pelos comunistas, não dava tréguas aos sustentáculos do regime. O mais importante desses movimentos tinha sido o de 1905, que impeliria Lenine a enunciar os princípios comunistas e que provocara levantes de operários e de tropas, ressaltando-se a famosa rebelião de marinheiros do couraçado "Potenkin". O fracasso desses motins e o exílio dos cabeças servira apenas para incentivar a criação de uma base mais sólida de propaganda, confiante nos fins pre-estabelecidos. Nesse estado de coisas, a guerra foi a faísca que provocou a explosão. A corte, entretanto, não deu a devida importância à onda que ia crescendo. O Tzar julgavas-se fortemente seguro em sua autocracia. Por esse tempo, a família imperial era dominada por singular figura de monge, de olhos acesos e longa barba; Gigorij Efimovic Rasputin, que passava das crises de misticismo ás mais clamorosas orgias, tendo conseguido sugestionar inteiramente a Tzarina e toda a corte. Homem de inegável engenho, Rasputin via na guerra uma ameaça direta ao regime e propugnava pela retirada da Rússia do conflito. A paradoxal situação medieval em que se encontrava a família imperial impressionou a nobreza e os parlamentares que procuravam induzir o Tzar a libertar-se daquele perigoso conselheiro. Foi necessária uma conspiração de nobres para liquidar o terrível monge que, apesar de envenenado, ferido com vários tiros de revolver, morreu somente por afogamento depois que o atiraram ao Neve. A imperatriz mandou erigir-lhe um majestoso túmulo, em Tsarkoe-Selo. 
           Isso tudo ocorreu em 1916. Meses depois, a revolução explodia em todo o seu furor. O Tzar foi levado  para Ecaterimburgo, com sua família. Sua abdicação em prol do arquiduque Miguel, seu irmão (seu filho e herdeiro estava gravemente enfermo)  não foi correta. O governo revolucionário provisório, constituído em 1917, não contava com bolchevistas, mas estes surgiram, vindos da Suíça, tendo á sua frente Lenine. Os alemães facilitaram-lhes o ingresso no país, dentro de um vagão blindado . Dos Estados Unidos, chegou outro grande revolucionário, Leão Trotzki. Ambos derrubaram o governo provisório, assumindo o poder. Para eles, a guerra era um absurdo, que devia cessar. Havia muito que fazer em sua pátria para que se pudesse continuar num conflito que custava sangue e milhões e que não levaria à Rússia vantagem alguma 
        Lenine e Trotzky foram os mais sólidos artífices da reviravolta política que envolveu o governo provisório revolucionário e levou ao poder os bolchevistas, ou seja, a ala extremista do partido. Trotzky, todavia, manifestou tendência mais moderadas. Trotzky foi o mais tenaz defensor da paz a qualquer custo. 
          Rapidamente foram iniciadas negociações com os  alemães - que assim viam, também concretizar-se o sucesso de suas manobras diplomáticas - e, cerca de um ano após o início da revolução, em março de 1918, foi assinada a paz, pelo tratado que recebeu o nome de Bresti-Litovski. 
        Os alemães se aproveitaram, como era lógico, da situação. Conheciam a desastrosa posição em que se encontrava o exército russo e sabiam que aos comunistas interessava a paz acima de tudo. Assim, privaram a Rússia das províncias das fronteiras e apropriaram-se de quanto puderam.
           A família imperial russa foi massacrada em Ecaterimburgo.  A terrível lógica da revolução exigia que desaparecessem os que poderiam ser o centro de uma futura reação. 
            No fim do século XIX, o governo iniciou  um programa de industrialização que priorizava as ferrovias para aperfeiçoar a defesa e reforçar a posição da Rússia na Europa, além de melhorar o transporte de pessoas e mercadorias. A meta principal era facilitar o deslocamento de tropas para a fronteira. O programa facilitou a migração de regiões superpovoadas da Rússia central para o oeste da Sibéria, assim como a ida de camponeses para áreas urbanas, ampliando o proletariado industrial. São Petersburgo e  Moscou tornaram-se centros têxteis e de manufatura em metal, enquanto o setor metalúrgico concentrou-se na Ucrânia. A população urbana cresceu de 6 milhões para 18 milhões entre 1863 e 1914. 
         Uma transformação econômica dessa  dimensão, num país atrasado, produziu descontentamento social e político. A insatisfação dos camponeses continuou e aumentaram os impostos e a pressão sobre a comercialização. Os trabalhadores passaram a protestar contra baixos salários e péssimas condições de trabalho. Os partidos revolucionários exploraram essa situação e novas classes profissionais exigiram uma reforma política. Depois da derrota na Guerra Russo-Japonesa, esse mal-estar culminou na revolução de 1905. O Czar Nicolau II (1894 - 1917) teve que criar um parlamento ("duma") e o primeiro-ministro Stolypin fez várias reformas. Em 1914, a Rússia foi arrasada pela Primeira Guerra Mundial. Após três anos, a inépcia política e militar e uma economia estrangulada provocaram a queda da dinastia Romanov. 
         A Revolução Russa de 1917 abriu nova época na história russa, transformando um país subdesenvolvido em superpotência industrial e militar, e mudou o padrão das relações internacionais. Acima de tudo, inaugurou a era das revoluções modernas. Ao mostrar que marxistas podiam chegar ao poder e iniciar a construção de uma sociedade socialista, os Bolcheviques inspiraram revolucionários no mundo todo. 
          Em fevereiro de 1917, a Primeira Guerra havia enfraquecido o governo czarista. Liberais, socialistas, homens de negócios, generais, nobres - todos conspiraram para sua derrubada. Mas os distúrbios em Petrogrado (São Petersburgo), que em quatro dias destruíram o regime, pouco se deveram à oposição organizada. A fome transformou exigências salariais em greve geral e filas de pão em protestos. Ao receber ordens de dispersar a multidão, as tropas se rebelaram. Nicolau II partiu de seu quartel-general em Mogilev para a capital, mas foi bloqueado pelos ferroviários. Abdicou em Pskov (15 de março) e políticos da "Duna" (Parlamento) instalaram um governo provisório. Mas seu poder estava limitado pelo Soviete (ou Conselho de Representantes dos Trabalhadores e Soldados de São Petersburgo (Petrogrado à época). Este, visto como liderança pelos sovietes de toda a Rússia, constituiu um governo alternativo. No início, esse duplo poder não era visível. Lideres de sovietes, mencheviques moderados e socialistas revolucionários, passaram, em maio, a integrar o governo, no começo apoiado até pelos bolcheviques. 
            A política bolchevique mudou quando Lênin retornou a Petrogrado. Toda a Europa, segundo ele, estava á beira de uma revolução socialista. Os marxistas deveriam derrubar o governo provisório e transferir o poder aos sovietes. Como a guerra se arrastava, generalizou-se o desejo de paz e houve deserções no Exército. Impacientes com a protelação da reforma agrária, camponeses  passaram a ocupar terras. Trabalhadores urbanos se tornaram mais militantes. Um levante popular ("Jornada de Julho") seguiu-se á desastrosa ofensiva do Exército em junho. A população buscava alternativas. Crescia o apoio aos bolcheviques, com sua promessa de paz, pão e terra. Em setembro, eles passaram e controlar os sovietes de Petrogrado e Moscou e, em outubro, ganharam a maioria no Segundo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia. Mas a ameaça também veio da direita. Em setembro, o general Kornilov, comandante-em-chefe, marchou para a capital para restaurar a ordem, mas foi abandonado por suas tropas. dois meses depois, em 25 de outubro (7 de novembro pelo calendário de 1918), os bolcheviques deram o golpe, destituíram o governo provisório e tomaram o poder. 


           Poucos pensavam que fossem capazes de mantê-lo. Os próprios bolcheviques achavam que só a revolução na Europa  Ocidental garantiria sua sobrevivência. Quando a Alemanha exigiu territórios para a volta da paz a maioria quis combater, mesmo sem esperanças. A determinação de Lênin de ganhar tempo prevaleceu e o Tratado de Brest-Litovsk foi assinado em março de 1918. Os exércitos dos russos brancos, apoiados por potências  estrangeiras, atacaram a jovem República Soviética. Aós três anos de guerra civil os bolcheviques saíram vitoriosos, mas a um alto preço: cerca de 13 milhões de mortos, na guerra e de fome; destruição da economia; e substituição da moeda pelo comércio de escambo que, combinado com um esforço de direção estatal da economia, recebeu o título de "comunismo de guera". Na luta com a contra-revolução, o poder ditatorial do partido Comunista substituiu as regras dos sovietes. Com o fim da guerra civil, houve greves e tumultos, culminando no motim da base naval de Kronstadt, em fevereiro de 1921, reprimido pelo regime. Em março, Lênin anunciou a Nova Política Econômica (NEP). O confisco de alimentos foi substituído por um imposto em gêneros e os camponeses puderam vender produtos excedentes no mercado. Empresas privadas foram liberadas  do controle estatal e o comércio varejista voltou  à iniciativa privada. O Estado reteve o controle de setores vitais: indústria pesada, bancos e comércio exterior.   <<<<<<
             Por volta de 1925, os níveis da produção agrícola e industrial pré-guerra estavam quase recuperados. A desconstrução interna foi seguida pela retomada de relações externas. Tratado de comércio com a Grã-Bretanha, em 1921, foi seguido pelo Tratado de Rapallo, de 1922, com a Alemanha, e do reconhecimento diplomático, entre outros, pera Grã-Bretanha e França, em 1924 (ano da criação da URSS). 
        Essa estabilidade temporária viu-se logo  ameaçada. Seria a NEP uma pausa antes  da retomada da ofensiva socialista ou um programa de longo prazo para a aquisição dos pré-requisitos para o socialismo? Lênin não deu a resposta antes de morrer, em janeiro de 1924. Na luta pela sucessão, emergiram duas linhas: a de Trotski, de encorajamento da revolução no exterior e rápida industrialização interna, e a de Stálin, de crescimento econômico gradual mais reconhecimento da manutenção temporária do capitalismo - "revolução permanente" versus "socialismo em um só país". Rotulado de extremista, Trotski, em 1925, foi afastado do governo. Stálin, que se trona secretário-geral em 1922, logo ganhou o controle absoluto. 
            O fracasso na obtenção de alimentos no campo ameaçou as cidades com a fome, pondo em risco o poder bolchevique e a revolução. Em 1929, explorando a imagem de isolamento interno e externo, Stálin iniciou a coletivização forçada da agricultura e a rápida industrialização, iniciando uma nova Revolução Soviética.
Revolução Russa 
                Nenhum outro acontecimento teve um efeito tão decisivo no mundo moderno como a Revolução Russa de 1917, uma vez que deu início a uma nova era na história da Rússia; transformou um país subdesenvolvido em uma superpotência industrial e militar e alterou profundamente o modelo das relações internacionais. Sobretudo, inaugurou a era das revoluções modernas. Ao demostrar que os marxistas podiam conquistar o poder e estabelecer sua "ditadura do proletariado" socialista, os bolcheviques serviram de inspiração aos revolucionários de todo o planeta para emular sua vitória. Depois de 1917, o mundo nuca voltaria a ser o mesmo. 
                  Em fevereiro de 1917, as tensões da guerra enfraqueceram fatalmente o governo czarista; liberais, socialistas, comerciantes, generais e nobres, todos estavam conspirando para destruí-lo. Entretanto,os distúrbios de Petrogrado, que demoliram o regime em quatro dias, não se devem inteiramente a uma oposição organizada. A fome transformou as exigências salariais em uma greve geral e as filas para comprar pão se converteram em manifestações. Quando a guarnição recebeu ordem de dispensar a multidão, amotinou-se. O czar Nicolau II partiu para a capital de seus quartéis em Mogilev, mas os operários ferroviários o impediram de chegar. No dia 15 de março, em Pskov, o czar abdicou e a autoridade passou a um governo provisório formado por importantes políticos da Duma. Contudo seu poder era limitado devido à existência do Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado. Este último, reconhecido como líder pelo resto dos Sovies de toda a Rússia, constituía efetivamente  uma alternativa de governo. Em princípio, a instabilidade produzida por esta dualidade de poder não foi aparente. Os dirigentes moderados do Soviete, mencheviques e socialistas revolucionários, apoiavam o governo e em maio passaram a formar parte dele. Inicialmente, inclusive os bolcheviques lhes deram abertamente seu apoio. Em junho de 1918 o czar Nicolai II e sua família foram assassinados em Ekaterinburg. 
            Em abril, quando Lenin regressou a Petrogrado, esta política reverteu-se completamente. Em sua opinião, toda a Europa estava à beira da revolução socialista. Portanto, os Marxistas deviam destruir o governo provisório e transferir todo o poder aos sovietes. Este foi o momentos decisivo. O governo, que lutava por manter a ordem  em um crescente caos, via-se agora em meio a um caos crescente. À medida  que se prolongava a guerra, espalhava-se o desejo de paz e aumentava as dispersões no Exército. Impacientes com o adiamento oficial da reforma agrária, os camponeses começaram a apoderar-se das terras. Os trabalhadores urbanos, descontentes com os fracassos das tentativas para melhorar suas condições, tornaram-se cada vez mais militantes e aumentou o apoio aos  bolcheviques, com suas promessas de paz, terra e pão. Em setembro, estes ganharam  o controle dos sovietes de Petrogrado e Moscou em e, em outubro, obtiveram a maioria no Segundo Congresso de Sovietes de toda a Rússia. A consequência era inevitável: um golpe de esquerda ou de direita. Em setembro, o comandante-em-chefe, general Kornilov, marchou em direção à capital somente para ser abandonado por suas tropas. Dois meses depois, no dia 7 de novembro (25 de outubro, segundo calendário russo), os bolcheviques atacaram e organizados por Trotsky, capturaram alguns pontos estratégicos em Petrogrado, prenderam os governantes e, em nome dos sovietes, assumiram o poder. 
         Contudo, poucas pessoas acreditavam que eles seriam capazes de manter o poder. Inclusive os bolcheviques pensavam que somente a revolução na Europa Ocidental poderia  garantir sua sobrevivência. Quando a Alemanha pediu humilhantes concessões territoriais em troca da paz, a grande maioria estava disposta e seguir combatendo - ainda que sem esperanças- em lugar de capitular. Entretanto, prevaleceu a determinação de Lenin de ganhar tempo e foi assinado o "Tratado de Brest-Litovsk".  Quase que de imediato, os exércitos russos brancos, ajudados pelas potências estrangeiras, atacaram a nascente República Soviética. <<<<<<<<< Depois de três anos de uma cruel guerra civil, os bolcheviques saíram vitoriosos, mas a um grande custo, já que durante a guerra - e posteriormente devido à fome - pereceram 13 milhões de pessoas. A economia estava destruída e, em 1920, a produção industrial alcançava apernas um sétimo de seu nível em 1913. O dinheiro perdeu todo o valor e foi substituído por um sistema de troca (escambo), o qual combinado com uma tentativa de direção estatal da economia, foi dignificado com o título de "comunismo de guerra". <<<<<<<<<A democracia pareceu na luta contra-revolucionária e o poder ditatorial exercido pelo Partido Comunista substituiu o governo dos sovietes em tudo, exceto no nome. Quando terminou a guerra, eclodiu uma onda de greves e distúrbios que culminaram em fevereiro de 1921 com um motim na base naval de Kronstadt. O regime não estava disposto a ceder e arrasou sem piedade a rebelião, mas as concessões econômicas foram mantidas. Em março de 1921, Lenin anunciou a "Nova Política Econômica (NPE)". A política de expropriação foi substituída por um "imposto em espécies" e foi permitido, aos camponeses, vender o excedente no mercado livre. As empresas privadas foram liberadas do controle governamental e o comércio varejista, na sua maioria, regressou às mãos particulares e, como consequência, a economia de mercado foi restaurada. Novamente os bolcheviques obtiveram uma trégua.  <<<<<<<

            No final de 1925, a produção industrial praticamente recuperou o nível que possuía antes aguerra e a relativa prosperidade criava uma atmosfera mais tranquila, que se refletia especialmente na vida cultural. Apesar do fracasso dos movimentos revolucionários em outros ligares, o reinício das relações com o mundo exterior produziu uma maior segurança. Em 1921 foi assinado um acordo comercial com a Grã-Bretanha, logo seguido pelo Tratado de Rapallo, em 1922, com a Alemanha. Finalmente, em 1924, foi obtido o reconhecimento diplomático  por parte da Grã-Bretanha, França e outros países europeus. 
           Entretanto, a Rússia Soviética estava isolada e rodeada de potências capitalistas hostis. A maioria da população era formada por camponeses dedicados à terra e compartilhava muito pouco dos objetivos de seus governantes socialistas, Isso tudo nos mostra que essa nova estabilidade não podia durar por muito tempo. 
          Portanto, a Nova Política Econômica foi apenas uma pausa antes que se renovasse a ofensiva socialista e não um programa de longo prazo para conseguir as condições econômicas prometidas pelo socialismo. è bom lembrar que Lenin não deu nenhuma previsão ou proposta antes da sua morte, ocorrida em janeiro de 1924.
            Durante a luta pela sucessão, surgiram duas linhas diferentes. Por um lado, a política de Trotsky, que incitava a revolução  no exterior e uma rápida industrialização interna, e, por outro lado, a estratégia de Stalin, que propunha o desenvolvimento econômico gradativo além do reconhecimento da estabilização temporária do capitalismo, isto é, a "revolução permanente" versus "o socialismo de um só país". 
                Qualificado de extremista, Trotsky foi afastado dos altos cargos do governo em 1925.  Agora, Stalin e Bukharin dominavam a política soviética e, ao que parecia, havia triunfado a moderação. 
             Como sabemos, a  meta de Trotsky era estender o comunismo a outros países; em troca, o triunfo de Stálin implicava em resolver os problemas internos do país, para o qual pôs em marcha o primeiro plano de industrialização em 1928. A Rússia voltou a olhar para os seus vastos territórios, a fim de obter os recursos necessários; a nova  meta econômica era o auto-abastecimento. Entretanto, uma de suas maiores dificuldades era a produção de alimentos. As cidades soviéticas sofreram um agudeza escassez em 1927/1928 e, novamente em 1929. Hoje, todos sabem que isto se devia à falta de conhecimento do regime para resolver os problemas agrícolas, mas, naquele momento, culpou-se os agricultores capitalistas ou kulaks de esconder o trigo para forçar os preços. No final de 1929, Stálin decidiu expropriar todos os campos privados, em um processo conhecido como "coletivização da agricultura" cujos resultados foram desastrosos. Os camponeses, por não terem forragem para seus animais, os sacrificaram; suas colheitas de grão foram requisitadas  e o estado inundou o mercado internacional como trigo a preços baixíssimos para poder importar maquinaria. A consequência destas medidas foi a grande fome de 1932/1933, afetando especialmente a Ucrânia  e causando a morte de milhões de pessoas. 
           Na década de 1930, devido à convulsionada situação da agricultura, cerca de 40 milhões de camponeses emigraram para outras cidades. Esta nova mão-de-obra foi empregada principalmente  na construção, o que provocou taxas de crescimento econômico extraordinárias e sem precedentes nos anos compreendidos no primeiro e segundo plano quinquenal.  A economia era sustentada pelas indústrias criadas na época dos últimos czares, quando a Rússia já era reconhecida como a quarta potência econômica do mundo.  Entretanto, em pouco tempo, surgiu um programa de capacitação técnica de emergência. Importou-se mais maquinaria com o produto das exportações de grãos e outros mecanismos. O resultado foi um grande crescimento das  indústrias do carvão, do ferro e do aço. Em 1928, existia uma indústria siderúrgica na Ucrânia e outra no centro dos Urais. Por volta de 1940, ambas foram expandidas e modernizadas. Criaram-se dois novos centros do ferro e do aço: um próximo à enorme jazida de ferro no sul dos Urais, na nova cidade de Magnitogorsk, e outro nos campos carboníferos de Kuzbass, em Stalinsk (atual Novokuzenetsk). 

               Esta  tarefa requeria um aparelho repressivo e, em 1936, Nikolai Yeshov, o diretor de KNCD, (Comissariado do Povo para Assuntos Internos), instaurou uma onda de terror conhecida como a "Grande Depuração", levando milhões de seres  humanos aos campos de trabalho forçados ou a morte no paredão. 
           Quando a Alemanha atacou em 1941, quase ninguém imaginava que a Rússia pudesse sobreviver mais do que duas semanas. Contudo, grande parte da industrialização dos primeiros planos quinquenais fora desenvolvida nas regiões orientais, portando,m longe do alcance dos alemães, o que se tornou um fator decisivo para a sobrevivência soviética. Durante a guerra acelerou-se a industrialização destas áreas estrategicamente  seguras, contudo, as regiões ocidentais do país foram devastadas. A agricultura foi muito afetada pela destruição das instalações e maquinaria agrícola. 
             Entretanto, a reconstrução econômica foi notável. Depois de 1950, a indústria pesada continuou aumentando sua produção e a indústria leve, abandonada na época de Stálin (1928 a 1953), também progrediu. Na Sibéria destruíram-se reservas de petróleo, gás, jazidas minerais que foram exploradas e construíram-se poderosas centrais hidrelétricas e termelétrica a carvão na Sibéria Oriental e Cazaquistão. A economia soviética uniu-se à dos demais países da Europa Oriental que caíram sob o poder comunista após a guerra, e a produção industrial de alta qualidade desta nações foi muito importante para o desenvolvimento tecnológico da União Soviética. 
           Os sucessores de Stálin foram obrigados a reconhecer a magnitude do problema agrícola. Uma população cada vez mais numerosa esperava melhorar sua qualidade de vida, como lhes prometeram em reiteradas oportunidades, mas a agricultura não dava sinais de aumentar sua produtividade além do que havia alcançado antes da revolução. Sob o regime de Khruschov, a produção de cereais aumentou consideravelmente e, em 1965, durante o governo de Brezhnev, fizeram-se esforços para melhorar a situação dos camponeses das fazendas coletivas. 
            Em 1980, a União Soviética foi reconhecida como "superpotência", tal qual os Estados Unidos da América, e com uma capacidade militar semelhante. Embora o produto interno bruto dos soviéticos fosse ainda muito menor do que o dos norte-americanos, o país ultrapassou os Estados Unidos na produção de ferro, cimento, aço e petróleo e logo começou a explorar as maiores reservas de gás do mundo. Apesar disto, a economia soviética entrou em crise no final dos anos 70. A corrida armamentista exigiu um esforço cada vez maior e agravou-se quando os Estados Unidos ameaçaram criar um sistema defensivo contra mísseis, conhecido como "Guerra das estrelas", o fato causou um grande alarme. Em 1985, um novo governante, Mikhail S. Gorbachov, assumiu o poder com um programa de reformas anunciado como "a revolução dentro da revolução". 
          A chegada de Putin.

CONTINUAREI BREVEMENTE

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