Por muito tempo os chineses foram um povo auto-suficiente, que conseguiu, mesmo sob dominações estrangeiras, preservar uma cultura própria altamente desenvolvida.
Durante mais de trinta séculos, a China não conhecera outra civilização a não ser a própria, por isso os chineses se consideravam o centro do universo. Um certo desprezo pela inegável supremacia técnica dos Ocidentais, diversidade de usos, rudeza dos indivíduos com que tinham contato, serviam para mais confirmar tal convicção. A primeira desilusão os Chineses tiveram-na com a "guerra do ópio", quando imperador Tao-Kuang proibira a importação de tal entorpecente (que, diga-se de passagem: com razão), que estava matando milhares de Chineses, e os Ingleses reagiram com suas armas modernas, da época. Essa guerra foi, sem dúvida, um nefasto crime. E, então, os Chineses perceberam que suas armas eram um brinquedo ante as européias e começaram a duvidar, também, da "divindade" do seu imperador, então chamado "Filho do Céu". Em fins do século XIX, o poder da dinastia estava liquidado. E quando Esien-Fung morreu, o trono passou para uma de suas esposas, Tze-Hsi, mãe do novo imperador, Tung-Chih. Mulher de rara energia, sem preconceitos, cruel, ela soube manter uma posição de preeminência, contribuindo para a ruína total da dinastia e da Nação. Embora a lição da guerra do ópio houvesse sido dura, a China continuou cega ante o progresso comercial dos Europeus, mantendo-se hostil aos estrangeiros, ao contrário do Japão, que enviava seus estudantes aos estrados Unidos e à Europa.
Era inevitável, pois, que os japoneses, iniciando sua industrialização, olhassem para o continente amarelo como presa fácil., e, testando seu primeiro salto expansionista, o japão invadisse a Coréia. Os exércitos do imperador Kuang-Hsu, que sucedera, fazia cinco anos, ao seu tio Tung-Chih, ou melhor, às tutora deste, dissolveram-se como neve ao sol ante a artilharia dos japoneses; os generais renderam-se, sem empunhar armas, os oficiais fugiam tão logo viam a inimigo. Enquanto, em Pequim, lavrava a revolta, o Imperador e sua família fugiram, de carro, com toa a corte, preocupado apenas em salvar-se, sem pensar no povo, entregue ao seu destino. A família real voltou somente no ano seguinte, quando as tropas europeias já haviam dominado a situação. O tratado de Shimonoseki de 1895 ratificou a derrota chinesa, mas, ainda uma vez,não conseguiu mudar o pensamento dos governantes. Poucos anos depois, a hostilidade aos estrangeiros impelia a velha imperatriz a favorecer os membros de uma das muitas sociedades secretas que, desde muito tempo, floresciam na China, os I-ho-chuan, conhecidos na Europa como os "Boxers". Durante mais de meio século, os estrangeiros fizeram na China o que melhor lhes convinha. De repente, sem qualquer aviso, receberam uma bizarra e selvagem retribuição. Uma centelha se acende na região montanhosa de Shantung e incendeia o norte da China. Durante o verão, uma onda de loucura catastrófica se alastra por todo o império Chines. Os boxers, em sua maioria, eram recrutados nas aldeias de Shantung, e eram fisicamente fortes, porém simples e ingênuos e, portanto facilmente sujeitos às influências da literatura popular ,que constituía a base de sua ideologia. A esposa de um missionário, sra. Lovit, antes de ser executada em Taiyuan, Sansi, em 9 de julho de 1900, disse aos seus algozes: "-Nós viemos à China para trazer-lhes a boa nova da salvação de Jesus Cristo; nós não fizemos nada de mal, só o bem. Por que vocês nos tratam dessa maneira?" A resposta já estava pronta: -"Os católicos e os protestantes desprezam nossos deuses e sábios, iludiram nossos imperadores e ministros, e oprimiram o povos chinês... chineses convertidos ao cristianismo conspiraram com os estrangeiros, destruíram as imagens budistas, profanaram os cemitérios. Isto desagradou aos céus".
Essas palavras de indignação podem bem servir como símbolo do conflito entre duas culturas muito diferentes, que convulsionou a China no final do século XIX. Foi uma luta a respeito da qual o mundo pouco soube ou se importou, até que, no verão de 1900, os boxers saíram da obscuridade provincial e, durante alguns meses, roubaram as manchetes do noticiário sobre a guerra dos bôers.
Na primavera de 1900, regularmente anunciada por um édito imperial, deflagra a revolta, que se concretiza numa horrível matança de brancos e de chineses cristãos. As legações de Tien-tsin defendem-se denodadamente contra uma enorme massa de assassinos que a sitiam.
O declínio da dinastia Manchu e as consequentes humilhações infligidas à China pelas potências estrangeiras introduzem sucessivas tentativas de rebelião, conspirações e formações de novos partidos num palco em que as tensões sociais são cada vez mais flagrantes e atiçadas, insufladas pelo ódio dos chineses Ming contra o regime manchu. A isso se junta o aparecimento de uma geração jovem e imbuída de ideias revolucionários, consequência da lenta adoção dos estilos de vida, técnicas e formação européia, da fundação das recentes escolas superiores e universidades, da expansão das formas de pensamento européias através dos missionários,modernas instalações hospitalares e fabris, redes ferroviárias e de uma adaptação geral ao mercado e intercâmbio internacionais. Portanto, são os professores e estudantes aqueles que mais insistentemente apelam para uma profunda modificação da situação chinesa. Muitos deles estudaram no Japão, Europa ou Estados Unidos, entrando em contato com os ideais da democracia e do socialismo.
Em 1905, o dr. Sun Yat-sen, médico formado nos Estados Unidos, Japão e Inglaterra, consegue congregar , com auxílio do movimento nacionalista japonês Genyosha, os dirigentes dos grupos revolucionários de Xangai. Sun Yat-sem, filho de um rendeiro cristão, trabalhara como médico em Macau e Cantão e fundara em 1894 uma liga "para a união e reconstrução da Crina". Assim, nasce o partido Tung-menghui ou "Partido da Liga Jurada"fundamentado em três princípios: nacionalismo, direito do povo, e bem-estar do povo.
A mágoa dos chineses foram se aprofundando. Mesmo antes da guerra com o Japão, Shantung passava por uma séria depressão econômica. Depois da guerra, a situação se agravara com a chegada de grande número de tropas desmobilizadas e de refugiados das províncias do sul, que vinham para o norte fugindo da seca, das cheias e da fome. Essa vaga de miseráveis trouxe mais um elemento de revolta e desespero à sociedade de Shantung. Uma série de desastres climáticos aumentou o desespero e, consequentemente, a revolta aumentou exponencialmente. A planície de Shantung foi inteiramente inundada. Como o governo imperial não tivesse condições de coordenar providências para controlar as cheias, as cidades eram obrigadas a tomar individualmente as medidas que estivesse a seu alcance. A inabilidade das autoridades no enfrentamento das crises era tomada como um sinal de que a dinastia "tinha perdido o mandato dos céus para governar".
Finalmente, um corpo de tropas anglo-franco-ítalo-alemães chega e restabelece a ordem, desbaratando os "Boxers" e ocupando Pequim. Agora também Tze-Hsi, obrigada a fugir, compreendera a situação, mas suas já tardias reformas não mais poderiam salvar a China do extremo esfacelamento.
Por volta de 1900 já havia tropas estrangeiras no norte da China num total de 456.000 homens; a imperatriz-mãe transferira sua corte para o remoto Sião, e os boxers estavam dispersos. As negociações de paz foram deixadas para Li Hung-chang, diplomata experiente que controlara os negócios estrangeiros da China até a destruição da esquadra chinesa pelos japoneses em 1895. Entre as potências estrangeiras, de início, havia a intenção de desmembrar a China e dividi-la, mas voltaram atrás. É que estabelecer na China um complexo sistema administrativo, como aconteceu na Índia, iria trazer mais problemas do que vantagens. As rivalidades internacionais contribuíram para isso. A dinastia foi preservada (Tzu-hsi permaneceu como chefe de Estado), com a integridade do Império e a posição privilegiada das potências européias asseguradas por mais algum tempo. O "protocolo dos boxers" foi assinado a 7 de setembro de 1901.
A China entrou no século XX como uma nação derrotada. Do ponto de vista externo, os chineses tinham-se dobrado novamente e os privilégios estrangeiros foram preservados. A mágoa só fez aumentar; tratava-se de mais um ato de agressão imperialista. A aversão dos boxers aos estrangeiros, ainda que primitiva em sua concepção e na sua prática, antecipou de alguma maneira os modernos movimentos nacionalistas que iriam "revolucionar a Chia do século XX.
O movimento de Sun Yat-sen estimula continuamente novas rebeliões, mas elas são planejadas de um modo teócico e sem conhecimento de causa por intelectuais levados por seu alto idealismo, e as discussões e os objetivos acabam por ser, quase sempre, denunciados. Mesmo quando isso não sucede, essas conspirações são tão mal preparadas que podem ser facilmente esmagadas na origem.
Em 1911, volta a preparar-se uma revolta em Cantão: os estudantes e intelectuais debatem-no quase abertamente e a polícia secreta manchu participa dele. As atividades conspiratórias, em geral, são dirigidas por Sun Yat-sen a partir do Japão, país onde ele e os seus revolucionários também adquirem a maior parte do armamento. Na noite de 29 de março, o palácio do vice-rei é invadido por hordas de jovens mal armados, que são, porém, rapidamente subjugados por tropas bem superiores em número e equipamentos. Setenta e dois rebeldes, quase todos estudantes, são moretos; os restantes são presos e, mais tarde, publicamente decapitados. Nessa ocasião Sun Yat-sen estava no Japão e, quando toma conhecimento dos fatos, publica vários artigos inflamados em jornais norte-americanos e japoneses.
Na noite de 10 para 11 de outubro, assaltam o palácio do governo e, graças a um plano militar, desta vez minuciosamente preparado, conseguem tomá-lo e controlar Wutchang após sangrentos combates de rua. É a primeira vez que uma grande cidade cai nas mãos dos revolucionários. Imediatamente, em outras regiões sucedem-se rebeliões. O movimento alastra-se para a província de Hunan. Na cidade de Tchang-cha, os revoltosos erguem barricadas e dão combate aos batalhões de tártaros que avançam sobre ela.
Entre os estudantes da escola superior pedagógica local destaca-se Mao Tsé-tung, então com dezenove anos,natural da aldeia Chaochang, em Hunan. Seu pai, ex-mercenário do exército do general manchu Yuan Chih-kai que havia regressado á cidade natal, vive como camponês pobre, mas deseja que seu filho seja professor.
Mao, que já nessa época domina várias línguas estrangeiras, lê avidamente toda a literatura russa, européia e americana sobre política, socialismo e revolução. É considerado um rebelde. A insureeição de Wu-tchang e Tchang-cha propaga-se em poucos dias às províncias Hupeh, An-hui, Hunan e Tchekiang. "Cxhang Kai-chek obtém a vitória na cidade de hang-tchou, que conhece perfeitamente. Nanquim cai nas mãos dos rebeldes pouco antes de Natal de 1911.
Yuan Chih-kai regressa a Pequim e coloca-se à frente dos regimentos modernizados. Ele crê ter chegado a hora histórica de uma mudança de dinastia e considera a época favorável para elevar-se ele próprio ao Trono Celeste. Seus planos são engenhosamente calculados e em 12 de fevereiro de 1912, caia o regime e instalava-se a República. O governo manchu foi obrigado a abdicar e proclamar, ele próprio, a implantação de uma república. Para não trair o objetivo da revolução, numa hora tão tensa, Sun Yat-sen troca o seu lugar de presidente por um posto governamental subalterno.
Sun Yat-sen transforma a sua liga num novo partido político, o primeiro do oeste asiático a ser organizado estritamente segundo moldes ocidentais. O partido denomina-se Kuomin-tang. É um movimento nacionalista popular com três diretivas: nacionalismo, democracia e socialismo. os seguidores de Sun Yat-sen estão desiludidos com o resultado da revolução. Muitos aceitam os cargos e postos militares oferecidos pelo governo de Yuan Chih-Kai; outros partem para o estrangeiro. Chang Kai-chek regressa à Academia Militar de Tóquio.
A criação da República, em 1912, não representou solução duradoura para os problemas chineses. Em poucas semanas, Sun Yat-sen, o revolucionário eleito primeiro presidente da China, foi substituído por Yuan Shih-Kai, a mais poderosa figura militar da antiga ordem. Yuan envolveu-se em lutas políticas com os líderes revolucionários, esmagou uma "Segunda Revolução", que eclodiu nas províncias em 1913 e, no ano seguinte, era um virtual ditador.
Esses acontecimentos enfraqueceram a China. O governo foi forçado a pedir grandes empréstimos no exterior para compensar a falta de um moderno sistema fiscal. O Tibete e a Mongólia tornaram-se autônomos (embora sob influência britânica e russa, respectivamente) e em 1924 a Mongólia tornou-se independente. Mais sérios foram os planos expansionistas do Japão. Quando a deflagração da Primeira Guerra Mundial desviou a atenção das potências ocidentais da Ásia, o Japão tomou da Alemanha o território arrendado e sua esfera de influência em Shandong, apresentando à China exigências que a reduziriam a mera dependência japonesa. Yuan resistiu às exigências mais duras, mas em 1915 foi assinado um tratado estabelecendo o domínio japonês sem Shandong, na Machúria e na Mongólia Interior, provocando revolta nacionalista.
Yuan morreu em 1916, após fracassar na tentativa de tornar-se imperador. Seu regime deixou a China com um governo central fraco e instável, enquanto a autoridade nas províncias passava às mãos dos generais (senhores da guerra). Esses senhores da guerra eram líderes de milícias autônomas com poder regional, isso provocou uma reversão ao regime feudalista. As condições era imensamente propícias ao fomento de revoltas e até mesmo de uma revolução. Nesse ambiente de desgoverno foi criado, em 30 de junho de 1921, o Partido Comunista Chinês, destinado a se tornar, a partir do final dos anos 40, uma das principais forças políticas do mundo.
Na década de 20, embora o governo de Pequim afirmasse governar a China, o país foi dividido entre "senhores" rivais. Alguns deles - como em Shanxi, Guangxi e na Manchúria - estabeleceram regimes relativamente estáveis. Em outras regiões, como Sichuan, a anarquia prevalecia, com numerosos "senhores" insignificantes. Mesmo os mais poderosos,como Feng Yü-hsiang, não conseguiram estabelecer uma base territorial permanente. As guerras entre as principais coalizões de "senhores" destruíram o governo civil e fizeram milhões de vítimas. Apenas os portos livres continuavam seguros, sob a proteção estrangeira.
No final da década de 20, nada indicava que a China viria a se tornar um país comunista. Pelo contrário. Com a tomada de Xangai por Chiang Kai-sek, em 1927, a esquerda chinesa , antes aliada do Generalíssimo - como ele mais tarde passou a ser conhecido. O comunismo passou a ser perseguido e foi praticamente empurrado para a clandestinidade. A unificação seria feita a "ferro e fogo".
Desde a vitória da revolução republicana, em 1911, o país não tinha sido pacificado. O governo central em pequim só controlava parte do território; o centro e o sul eram dominados pelos "senhores da guerra", que tinham exércitos próprios e não davam satisfação de seus atos às autoridades. Nesse contexto nasceu, em 1921, o Partido Comunista Chinês. O Partido Nacionalista ou Kuomintang - partido do poder central - dirigido por Sun Yat-sen, que pregava amizade e colaboração com a Rússia e com os comunistas chineses.
Com a morte de Sun, em 1925, rompe-se o frágil equilíbrio. Chiang Kai-sek passou a liderar o Kuomintang e no ano seguinte, em junho, iniciou-se uma campanha contra os "senhores da guerra". Seu principal objetivo era finalmente unificar o país. Um a um eles foram sendo subjugados até aderiram ás tropas em marcha, fortalecendo-as cada vez mais.
Em fins de março de 1927, o vitorioso exército de Chiang entrou tranquilamente - sem nenhum tiro disparado - em Xangai, o mais importante porto da China. A cidade já estava paralisada há dias por uma greve organizada pelos nacionalistas e seus então aliados bolcheviques.
Mas, é bom lembrar, que Chiang kai-sek não pretendia dividir o poder com os comunistas. E ordenou que eles e seus simpatizantes fossem presos e executados. A China ficaria inteiramente sob o domínio dos nacionalistas. Em 1928, quando Zhang Zolin, senhor feudal da Manchúria , o último a resistir, foi assassinado, e seu filho e sucessor aceitou a tutela de Chiang Kai-shek.
A Revolução Soviética de 1917, na Rússia, servia de inspiração para os jovens chineses. Em 1919, uma rebelião estudantil deu o tom de descontentamento geral, exigindo uma reação aos termos do "Tratado de Versalhes", que beneficiava o Japão, submetendo a China a uma situação humilhante. Os revoltosos repudiavam a ordem política vigente e pretendiam transformar a visa sócio-cultura do país, pregando um renascimento filosófico e ideológico. Na ocasião, o jornal mensal "Nova Juventude", de Xangai, tronou-se o principal fórum de debates, incentivando o intercâmbio entre os leitores e servindo de instrumento de difusão das ideias comunistas. Assim, houve o ressurgimento da atividade revolucionária. Os revolucionários e o recém-fundado Partido Comunista beneficiaram-se da reação popular contra a interferência externa e contra os termos da Conferência de Paz de Paris, que reafirmavam a posição japonesa em Shandong e a exploração econômica. Em 1919, o nacionalismo explodiu no movimento de 4 de maio, em que estudantes e intelectuais de formação ocidental, unidos a operários urbanos, tornara-se, pela primeira vez, uma força política, evitando que o governo assinasse o Tratado de Versalhes. Nos anos seguintes, inúmeras associações populares foram formadas para discutir os problemas do país. Nessa época, a obra de Karl Marx foi traduzida para o chinês.
O partido revolucionário de Sun Yat-sen instalou um regime regional em Cantão. Após 1923, com a ajuda do Comintern, Sun reorganizou o Partido Nacionalista (kuomintang) e seu exército, iniciando uma aliança com o ainda pequeno Partido Comunista. Sun morreu em 1925, ano de novo surto anti-estrangeiro, com greves e boicotes envolvendo os trabalhadores organizados e a classe mercantil. A influência comunista ganhou terreno nas cidades industrializadas.
O Partido Comunista reuniu os mais radicais desses inconformistas. Inicialmente, as reuniões do partido eram clandestinas - o primeiro congresso ocorreu a bordo de um barco ancorado num lago nas proximidades de Xangai, onde os militantes estavam a salvo das forças de repressão. Para estabelecimento e fortalecimento do partido, os russos investiram alto. Apoiaram a criação de um programa de recrutamento de novos militantes e pequenas multidões de jovens foram levados para a Rússia, onde participaram de treinamentos revolucionários. O intercâmbio entre os dois países se intensificou e, quando foi necessário, os chineses ajudaram a reforçar as forças bolcheviques nas batalhas finais da guerra civil contra os exércitos brancos.
Alguns jovens de futuro já estavam presentes naqueles primeiros momentos do Partido Comunista Chinês, como professor primário Mao Tsé-Tung, então com 27 anos; ele organizou um pequeno núcleo revolucionário na província de Hunan. Mais tarde, como sabemos este jovem professor se tornaria, a partir dos anos 40, um dos mais prósperos dirigentes do mundo. Faziam parte do grupo também os jovens Deng Xiaoping, com 16 anos, e Zhou Enlai, de 23 anos estavam estudando na França e se filiaram ao Partido Comunista Francês.
A vida republicana da China ainda era bem recente quando, em 1925, Chiang-Kai-shek assumiu o comando do kuomintang (Partido Nacionalista), dando início a uma longa histórias de liderança numa época de modificações profundas no país. A China saira apenas 13 anos antes da era das dinastias imperiais - a última, a dinastia Manchu, que governara o país por quase três séculos, fora derrubada em 1912 pela Liga Unida Revolucionária,m organização clandestina dirigida por Sun Yat-sen, um médico educado em Londres.
Chiang Kai-sek, nascido em 31 de outubro de 1889 numa família de comerciantes razoavelmente abastados, estudara numa academia militar do Japão quando conheceu Sun Yat-sen. Aderiu à organização e, em 1911, durante a rebelião que levaria à derrubada do governo Manchu, voltou à China, onde participou do estabelecimento da república. Um novo encontro com Sun, em 1918, determinaria sua carreira política. O Kuomintang, sucessor da organização secreta de Sun, fizera um acordo com a Rússia. O país que implantara a "ditadura do proletariado" estava interessado em apoiar o espírito revolucionário onde quer que se manifestasse. E, naquele momento, ele se manifestava na China, que a elite soviética acreditava ter grandes possibilidades de "bolchevização" - perspectiva quer se mostraria correta.
Enquanto conselheiros soviéticos chegavam aos montes ao país, os chineses iam à Rússia receber treinamento militar. Chiang Kai-shek fazia parte da primeira turma enviada a Moscou, em 1923, onde estudou técnicas de organização social e militar, especialmente no Exército Vermelho. Ao voltar tornou-se chefe da academia militar de Wampoa, criada segundo o modelo soviético.
Em 1925, com a morte de Sun, o partido dividiu-se em várias facções e o comando do exército ficou nas mãos de Chiang. De imediato, ele atuou em duas frentes de batalha: uma contra os chamados "senhores de guerra" no Norte - comandantes de milícias autônomas - que ainda impediam a unificação do país, e outra contra os co unistas ainda no Kuomingang (o P.C. chinês havia sido fundado em 1921).
Em 1926, Chiang Kai-shek, o principal general do exército do Kuomintang, liderou uma expedição ao norte para eliminar os "senhores da guerra" e unificar o país. No final do mesmo ano, o o governo nacionalista mudou-se para Wuhan, enquanto seus exércitos marchavam para o baixo Yangtzé, tomando Naquim e Xangai, em abril de 1927. Chiang Kai-shek estimulou então um expurgo dos seus aliados comunistas e instaurou um regime próprio em nanquim. Tropas comunistas rebelaram-se contra Chiang Kai-shek em Nanchang, em agosto de 1927, mas foram derrotadas, bem como um levante camponês em Hunan. Em 1928, os exércitos de Chiang tomaram Pequim. Neste mesmo ano, mandou prender vários militares comunistas e confinou os conselheiros soviéticos em suas casas. No anos seguinte, expurgou os comunistades do Kuomintang, movendo-os cada vez mais no sentido de uma linha conservadora; aliou-se a proprietários de terra e não promoveu mudanças sociais que contemplassem os camponeses, 90% da população.
Em 1928, Chiang derrotaria definitivamente os "senhores da guerra". Nesse momento a China já podia ser considerada unificada - anos 1930 -. A partir de então iria deslanchar nova série de ataques contra os comunistas, liderados então por Mao Tsé-tung e Chou En-lai, forçando-os a iniciar a "Grande Marcha" de 1934.
Embora os nacionalistas dominassem a China e fossem reconhecidos como o governo nacional, os "senhores da guerra" ainda prosperavam. Mesmo após a derrota dos dois principais, Yen Hsi-shan e Feng Yüh-siang, em uma guerra em 1929/30, muitas províncias permaneciam autônomas e em constantes conflitos. O governo de Chiang só tinha controle efetivo sobre as ricas províncias do baixo Yangtzé, onde, apesar da "depressão mundial" e da constante pressão japonesa, administração e exército foram modernizados, estradas e ferrovias construídas e indústrias instaladas. Boa parte desse desenvolvimento estava na cidades, especialmente em Xangai e Nanquim.
Além dos "senhores da guerra", Chiang tinha de enfrentar a ameaça, bem mais séria da expansão japonesa. Em 1931, os japoneses ocuparam a Manchúria, estabelecendo, em 1933, Estado fantoche de Manchukuo sob o último imperador manchu, Pu Yi. Depois tomaram a província vizinha de Jehol e em 1935 tentaram, sem êxito, estabelecer um regime fantoche controlando toda a China Setentrional. Na Manchúria, construíram a base de uma economia moderna, com malha ferroviária e várias indústrias, inexistentes em outras partes da China. Mas nesta época o Japão passava por uma fase interna muito turbulenta. Dias depois do assassinato a facada do primeiro-ministro Takashi Hara, o imperador Taisho foi afastado do trono por problemas mentais. Seu filho, o Príncipe Hiroíto, com apenas 20 anos, sem experiência, mas famoso por ter hábitos ocidentalizados, assumiu como regente. Cinco anos depois, Hiroíto seria coroado imperador, dando início a seu reinado.
Uma segunda ameaça à posição de Chiang veio dos comunistas. Depois dos expurgos de 1927 e de insurreições malogradas, rompe-se o poder do Partido Comunista nas cidades e seus líderes recolheram-se a regiões montanhosas, onde estabeleceram regimes locais. O mais importante foi o soviete de Jiangxi, baseado em Ruijin, onde, de 1929 a 1934, o Partido Comunista controlou milhões de pessoas e desenvolveu reformas como partido do proletariado urbano baseado no modelo russo, mas como partido baseado nos camponeses. O exértcito de Chiang atacaram Jiangxi e, em 1934, os líderes comunistas abandonaram a região. A longa Marcha que se seguiu levou-os para noroeste, onde existia, desde 1930, outra pequena base comunista em Bao'an. Na conferência de Zunyi, realizada durante a marcha, a ala do partido baseada nos camponeses passou à liderança sob o comando de Mao Tse-tung, cuja política era praticada na nova base comunista de Yenan.
Numa época em que alianças se desfaziam com a rapidez de um aperto de mão, os japoneses mal puderam se conter quando o pacto "Anti-Comintern", feito com a Alemanha em 25 de novembro de 1936, deu ao Império do Sol Nascente a oportunidade de invadir a China e prosseguir sua expansão imperialista.
O que os japoneses não podiam prever é que a invasão, iniciada em junto de 1937 e vista como uma guerra não-declarada, iria sair pela culatra e acabar unificando a China - até então ainda dividida em regiões e os próprios "senhores da guerra" com os mesmos receios anticomunistas em relação aos vizinhos soviéticos - e preparar o terreno para a implantação, depois da Segunda Guerra Mundial, do comunismo no país mais populoso do mundo.
A ameaça da expansão vermelha na Ásia, possibilidade fortalecida com a Grande Marcha de Mao Tsé-tung , foi o pretexto para a invasão, que começou pelo norte do país, invadido desde 1931 e onde os japoneses haviam implantado o estado-títere de Manchukuo no lugar da Manchúria. Pu Yi, o célebre último imperador da China, era o "soberano" fantoche dos invasores.
Em agosto de 1937, violentos combates foram travados em Xangai, com vantagem chinesa. No final do mês, contudo, os japoneses bombardearam a cidade, matando milhares de civis. Em novembro, apoiados pela chegada de divisões, eles tomaram Xangai. massacraram, sua população e seguram em direção à capital, Nanquim, com duas extensas frentes ao longo do Rio Yang-Tsé. A Liga das Nações finalmente condenou a invasão, mas, bastante enfraquecida e sem a presença do japão desde 1932, nada pode fazer para diminuir o suplício chinês. Nanquim caiu nas mãos do exército nipônico, que durante dois meses promoveu saques, assassinatos e estupros em massa. Calcula-se que centenas de milhares de chineses tenham sido mortos em Xangai e em Nanquim.
Com o Governo de Chiang Kai-Shek cada vez mais dividido e ameaçado, o conflito prosseguiu sem solução, com enormes custos para os dois lados. os japoneses continuaram obtendo grandes avanços territoriais em 1938, com a união das forças que lutavam ao norte com as divisões do Yang-Tsé. No final do ano, após a captura de Wuhan, no oeste, conquistaram o importante porto comercial de Cantão, base de movimentos operários e onde o velho líder Sun Yat-Sen chegou a montar, em 1917, uma república independente. Em 1939, com o Governo chinês deslocado para o interior, os japoneses assumiram o controle das principais áreas econômicas e políticas da Chia, inclusive as possessões britânicas e americanas. Em plena vitória armava-se, assim, o cenário da derrota final japonesa.
Embora a prioridade número um de Chiang fosse então a de esmagar os comunistas e os rivais provinciais, mais que a resistência aos japoneses, em 1936 viu-se obrigado a formar uma frente contra o inimigo comum. Os japoneses reagiram e, no final de 1938, ocuparam a maior parte do norte e centro da China, os principais portos marítimos e todos os centros industriais. os nacionalistas retiraram-se para sudoeste e para as montanhas de Sichuan. A luta diminuiu até as ofensivas japonesas de 1944, quando o Japão ocupou mais território.
Embora ocupassem grande parte da China, os japoneses controlavam só as principais cidades e os meios de comunicação. Na zona ocupada, havia centros de resistência chinesa, controlados em geral por comunistas, que adquiriram credibilidade com a adoção de estratégia de guerrilhas. Também conquistaram a simpatia dos camponeses e dos fazendeiros com o programa de reforma realizado na sua principal região, perto de Yenan. Em 1945, os comunistas afirmavam controlar várias "áreas libertadas", mas só em algumas detinham o poder de fato.
Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, o governo nacionalista regressou a nanquim. Nos anos de guerra, tornara-se mais dependente dos EUA, mais reacionário e corrupto. Em 1945, estava desacreditado, com exércitos desmoralizados e inflação galopante. Após a rendição japonesa, porém, as forças nacionalistas e comunistas se apressaram em tomar posse dos antigos territórios controlados pelo Japão. Os comunistas obtiveram o controle de boa parte do norte e da Manchúria, ocupada brevemente pelos russos. Prosseguiram-se negociações para tentar um acordo e criar um governo nacional, mas as hostilidades perduraram entre as forças nacionalistas e comunistas, chegando, em 1947, à Guerra Civil declarada. Em 1948, os comunistas derrotaram os exércitos nacionalistas na Manchúria e, em janeiro de 1949, entraram em Tianjin e Pequim. Mais ao sul, houve uma importante batalha perto de Xuzhon, com meio milhão de soldados lutando de cada lado, de novembro de 1948 a janeiro de 1949. Os nacionalistas foram derrotados. Nanquim caiu em abril, Xangai em maio e Cantão em outubro de 1949. Em 1º de outubro de 1949, a República Popular da China foi implantada e, em maio de 1950, o governo nacionalista fugiu para Taiwan.
Após a derrota do Japão, a Manchúria foi ocupada pelos exércitos russos; no restante da China, as forças comunistas competiam em operações guerrilheiras para dominar os ex-territórios japoneses. Em 1947, os comunistas dominavam a maior parte do norte.
A Guerra Civil completou a destruição ocorrida no período dos "senhores da guerra"e da ocupação japonesa. Em 1949, a maior parte do parque industrial chinês estava em ruínas; a base industrial japonesa na Manchúria havia sido saqueada pelos russos; e o sistema ferroviário estava desativado em diversos locais. Vários anos de hiperinflação destruíram a moeda, o sistema bancário e os negócios urbanos. mas pela primeira vez, desde 1911, um regime forte controlava todo o território chinês e dispunha de planos, testados em áreas limitadas, para a recuperação da economia e a transformação do país.
A Revolução Chinesa percorreu quatro etapas principais no seu desenvolvimento. A primeira compreende o período de "revolução nacional", que se estende das agitações anti-japonesas do Movimento 4 de Maio, em 1919, ao massacre das forças de esquerda em Xangai pelo general Giang Kai-Shel, em 1927. Este massacre determinou a ruptura da Frente Única entre o Partido Nacional do Povo (Kuomintang, fundado em 1919) e o Partido Comunista da China (PCC, fundado em 1921). Os dois partidos haviam travado, até então, uma luta comum pela unificação do país, contra os "senhores de guerra" e as potências imperiais.
Ao longo do segundo semestre de 1927, os comunistas e os setores de esquerda do Kuomintang deflagraram movimentos insurrecionais contra o novo governo de Chiang Kai-Shel nos centros urbanos de Namchang e Cantão, e na área rural de Hunan. Todos foram esmagados, acarretando grandes perdas humanas para o PCC, cuja base de militantes havia crescido de forma impressionante no período antecedente, passando de apenas 432 em 1923 para quase 60 mil no final de 1927.
Na sua segunda etapa, que se estende do final de 1927 ao fim da Longa Marcha, em 1935, a revolução chinesa assumiu a forma predominante de um "revolução agrária". Após o esmagamento dos desesperados ensaios insurrecionais, forças militares leais ao PC se refugiaram em áreas rurais montanhosas, formando uma dúzia de "zonas libertadas" batizadas de sovietes; nome dado pela ajuda e participação dos soviéticos. A mais importante entre estas era a de Jiangxing, sob o controle de forças militares lideradas por Mao Tsé-Tung (que haviam participado da fracassada tentativa de insurreição em Hunan).
Paralisado por dissensões internas e ainda envolvido em conflitos com distintos "senhores de guerra", o Governo Chiang Kai-Shek não pôde, de início, concentrar forças no cerco e aniquilamento das "áreas soviéticas" sob controle dos comunistas. Isto permitiu a essas áreas , em especial a de Jiangxi, consolidarem-se como "zonas liberadas", no interior das quais foram implantados programas bastante amplos de reforma agrária. Apesare de enfrentar grandes resistências mo interior do próprio partido, a nova orientação estratégica aumentou significativamente a Influência política do PC na China, sobretudo entre o campesinato. O número de militantes do partido, que havia refluído para 40 mil em julho de 1928, voltou a crescer, atingindo 69 mil em junho de 1929 e 100 mil em março de 1930. A esta altura, o Exército Vermelho, sob liderança dos comunistas , já contava com 62 mil combatentes distribuídos em 13 exércitos.
Sentido o seu poder consolidado nacionalmente em fins de 1930, no entanto, Chiang kai-Shek tratou de lançar sucessivas campanhas contra a "República Soviética de Jiangxi". Mesmo com a invasão da China pelo Japão, em, 18 de setembro de 1931, o regime do Kuomintang continuou dando prioridade ao esmagamento dos "rebeldes comunistas". Após resistir com sucesso a quatro campanhas do Governo Central, o Exército Vermelho foi forçado, enfim, a bater em retirada diante do avanço das tropas de Chiang Kai-Shek pelo interior da "base vermelha" de Jongxi, na sua quanta e última campanha. Esta é a origem da Longa Marcha, em 16 de outubro de 1934.
A chegada de Mao Tsé-tung muda definitivamente a história da China. A longa marcha empreendida pelo Exército Vermelho, sob a liderança do Partido Comunista Chinês, entre outubro de 1934 e novembro de 1935 foi o ponto de virada da prolongada Revolução Chinesa. 6 mil combatentes e quadros revolucionários partiram da região de Jiangxi, no sudeste da China, para furar o cerco das tropas do governo de Chiang Kai-Shek e buscar refúgio nas montanhas ao norte do país. menos de nove mil sobreviveram á épica jornada de 12.500 quilômetros até a sede da nova "base vermelha" na pequena cidade de Yanan, província de Shenxi.
Apesar de debilidades, esfomeadas e maltrapilhas, estas forças logo se tornaram a espinha dorsal de um pequeno movimento revolucionário que mudou para sempre a fisionomia da milenar sociedade chinesa. Para compreender como isso foi possível, é necessário situar o episódio da Longa Marcha numa visão mais ampla do processo revolucionário.
Diante do avanço das forças do Kuomintang, procedentes do Norte, os dirigentes comunistas resolveram tentar furar o bloqueio das tropas do governo Central no seu ponto mais fraco, ao sudoeste da área de Jongxi, e avacuar a antiga "área liberada". À frente das forças que batiam em retirada foram colocados dois corpos do Exército: o primeiro, com 15 mil combatentes, comandado por Lin Piao (personagem que viria a desempenhar, nos anos 60, papel central na chamada Revolução Cultural) e o segundo, com 13 mil combatentes, comandados pro Peng Dehuai. Atrás destes dois corpos vinha a "coluna de comando", com os quadros partidários e administrativos, seguida de uma "coluna de apoio", com mais funcionários, pessoal médico, máquinas, etc. Estas duas colunas reuniam em torno de 14 mil pessoas. Atrás destas duas colunas vinham três corpos menos bem equipados para proteger os flancos e a retaguarda das colunas. Ao todo, 86 mil pessoas integravam as forças que batiam em retirada. As mulheres e os filhos dos combatentes evacuados ficaram para trás, o que motivou grande dor e sofrimento. Outros 28 mil combatentes também ficaram para trás, com a obrigação de organizar guerrilhas. Um dos que ficou para trás foi o irmão caçula de Mao Tsé-Tung, Mao Tsé-Tan, que acabou sendo morto em combate.
Dois obstáculos naturais também se revelaram particularmente dramáticos para a Longa Marcha. O primeiro foi a montanha de Jajin, na província de Sichuan, com mais de 4.000 metros de altura, temperatura bem abaixo de zero e ar extremamente rarefeito. Milhares de combatentes sucumbiram nessa travessia. Ao chegar a Maogong em junho de 1935, para se encontrar com outras forças comunistas, só restavam 40 mil das 86 mil pessoas que haviam iniciado a marcha. O segundo grande obstáculo foi a região dos pântanos do norte de Sichuan. Enfrentando semanas de chuvas torrenciais em uma região inteiramente alagada e infestada de insetos; os integrantes da marcha, exaustos e famintos, não podiam sequer deitar para dormir. Milhares morreram de doenças , exaustão ou inanição. Ao todo, apenas um décimo dos que iniciaram a Longa Marcha logrou completá-la e se estabelecer em Yunan, 370 dias depois. Ali estabeleceram uma nova base do Exército Vermelho, próxima à frente de batalha com as forças de ocupação japonesas, no norte da China. Mesmo antes de chegar a Yanan, a direção do PCC propôs ao Kuomintang a formação de uma nova Frente Única de resistência nacional contra o Japão que continuava sua marcha de destruição e massacre. A criação desta frente, em 1937, após dois anos de arrastadas negociações, marcou o início da terceira etapa da revolução Chinesa, em que esta assumiu o caráter de uma luta de libertação nacional. Apesar da sua integração formal ao Exército do Kuomintang, o PCC preservou a independência orgânica das suas forças militares e sustentou o grosso dos esforços de guerra. Isto lhe permitiu disputar e assumir a hegemonia política da sociedade chinesa após a derrota do japão em 1945, evento que deflagrou a quarte e última etapa da Revolução Chinesa, em que esta assumiu o caráter de uma "Revolução Popular" contra o antigo regime de Chang Kai-Shek, enfim derrubado em 1949. Com isso a China deu um giro fundamental em sua história quando, depois de uma guerra civil, adotou o comunismo. Seu líder, Mao-Tsé-tung, governou até 1976. No começo deu um caráter stalinista a a seu governo, mas quando o XX Congresso Comunista da URSS criticou o stalinismo, Mao declarou rompida sua aliança com Moswcou e iniciou a "Revolução Cultural", como uma forma de dar à China uma identidade socialista própria.
Ao assumir corajosamente o papel de protagonista da formação deste novo caminho, Mao acabou se firmando como o principal dirigente de uma revolução muito ciosa das suas particularidades e da sua soberania. Esta característica viria a ter implicações muito importantes para as relações entre os países socialistas na segunda metade do século XX, como veremos a seguir.
Na China, na Birmânia, na Indochina e na Coreia eclodiram guerras civis. O conflito comunista-nacionalista da China que começou na década de 1920 e culminou depois de 1945. Os comunistas chineses iniciaram uma arremetida que lhes permitiu dominar a China (exceto Taiwan e o Tibete) até fins de 1949. Mas logo a China estaria envolvida na política do sul da Ásia, com os novos Estados do Leste e Sudeste Asiático.
Em 1950 a China interveio na guerra da Coréia contra a Coréia do Sul e as forças das Nações Unidas. Graças às negociações, alcançou-se a paz em 1953. A guerra mais sangrenta teve início no Vietnã entre 1948 e 1949. Foi uma conflagração em que se misturaram os conflitos de grupos internos e a resistência ao colonialismo francês e, após a derrota da França em 1954, converteu-se em uma guerra entre forças de Ngo Dinh Diem em Saigon, apoiadas pelos estados Unidos. e a Frente de Libertação Nacional. Finalmente a guerra civil provocou a intervenção das Forças Armadas norte-vietnamitas e norte -americanas e espalhou-se a outras regiões da Indochina. Em 1973 estabeleceu-se um cessar fogo oficial e as forças norte-americanas se retiraram; em 1975 o Camboja caiu em mais do Khmer Vermelho e o Vietnã do Sul em poder do Partido Vietminh. Este partido foi criado na Indochina durante a Segunda Guerra Mundial por Ho Chi Minh, e ao se confirmar a derrota do Japão, proclamou a independência do Vietnã.
Os conflitos entre os revolucionários liderados pelos comunistas e as forças governamentais, que começaram entre os anos 1947 e 1948 com a rebelião na Malásia, Birmânia, Indonésia e nas ilhas Filipinas, generalizaram-se. A violência civil causada por problemas religiosos, raciais, regionais e linguísticos era endêmica, com incidentes que culminaram em diversos confrontos: entre cristãos e muçulmanos no sul das Filipinas; entre forças governamentais budistas tailandesas e malaios muçulmanos no sul da Tailândia; birmaneses e Kachinos , mons, shans,karens e arakenses na Birmânia. vietnamitas e montanheses no Vietnã do Sul; vietnamitas e cambojanos; o governo com sede em Java e os dissidentes nas ilhas mais distantes da Indonésia; malaios e chineses na Malásia e Cingapura, e chineses e tibetanos no Tibete.
A era do pós-guerra foi testemunha do triunfo da revolução em uma China independente e das vitórias posteriores da forças comunistas na Indochina. Em outras regiões, as revoluções e golpes de Estado tornaram-se cada vez mais frequentes. Estes foram dirigidos, sobretudo, por militares, que em geral mantiveram grandes Forças Armadas ativas nos novos Estados. A causa, em parte, foi o baixo crescimento econômico de uma região em que, apesar do grande progresso experimentado pelo Japão, Cingapura, Malásia e Coréia do Sul, seguia contando com países extremamente pobres.
Apesar de que as forças estrangeiras se viram envolvidas em disputas internas e participaram de atividades rebeldes no Sudeste Asiático, frequentemente produziram-se conflitos territoriais entre os mesmos Estados asiáticos. A maioria destes foi mais de caráter legal que violentos. Entretanto, houve luta armada entre a China e o Vietnã do Sul sobre as Ilhas Spratly e Paracel e o Timor português, e na "confrontação" entre a Indonésia e a Malásia, sobre os territórios de Bornéu. O conflito de Taiwan é uma sequela da guerra civil chinesa. Outras regiões que também foram motivo de disputa são a Cochinchina e as águas circundantes reclamadas pelo Camboja; o templo de Preah Vilhear, obtido pelo Camboja após uma disputa legal com a Tailândia; Sabá foi incorporada pelas Filipinas; as Ilhas Kurilas do Sul e Sacalina Meridional, conquistadas União Soviética apos a Segunda Guerra Mundial e objeto do irredentismo japonês; Okinawa, mantida em poder dos estados Unidos depois da guerra, mas finalmente controlada pelo Japão em 1972; a Ilha de Takeshima (Tok-do), reclamada pelo Japão e Coréia do Sul, e outras três pequenas áreas na fronteira sino-birmanesa cedidas pela China a Birmânia em 1960. A China teve permanentes conflitos limítrofes com seus vizinhos, tanto sob os regimes comunistas como os nacionalistas, o que deu origem a mapas com grandes extensões em litigio.
Entre os lideres chineses que, junto a Mao Tsé-tung, lançaram a Revolução Cultural estava seu companheiro Lin-piao que organizou um complô contra mao, mas, ao ser descoberto, fugiu em um avião que, segundo a versão oficial, sofreu um acidente fatal.
As tensões mais graves na região ocorreram depois do estabelecimento dos novos governos da Indochina em 1975. Do ponto de vista interno,isto provocou a fuga de mais de um milhão de refugiados do Camboja. Laos e Vietnã. Mais trágica ainda foi a morte de mais de um milhão de cambojanos durante o regime comunista de Pol Pot, a partir de 1975 até princípios de 1979. Internacionalmente, as tensões e os conflitos limítrofes deram lugar á invasão do Camboja pelas forças vietnamitas em 1978 e a instalação de um novo governo cambojano estabelecido em Hanói. A partir de então continuaram os confrontos entre as tropas vietnamitas no Camboja e os rebeldes comunistas e não comunistas de oposição. O maior poder de Hanói, o suposto maltrato de seus cidadãos chineses e a formação de uma aliança entre Vietnã e a União Soviética deram origem a maiores tensões entre o Vietnã e a China em 1979.
Entretanto, os anos de pós guerra não somente estiveram infestados de distúrbios. Em 1987, a Ásia tinha um nível de vida mais alto do que em 1947; o Japão converteu-se na terceira potência industrial do mundo; a China havia ressuscitado após décadas de guerras e países como a Malásia, Taiwan, Cingapura e Coréia construíram economias sólidas. No cenário internacional, os antigos inimigos começaram a realizar esforços para formar organizações regionais, sendo a mais bem-sucedida a Associação de nações do Sudeste Asiático (Asean).
Na China, o governo tomou um rumo mais moderado depois da agitação da Revolução Cultural, ao passo que grande parte do Sudeste Asiático deu mostras de uma sólida continuidade em seus governos. Contudo, após décadas de regimes coloniais e lutas civis e internacionais, em 1987 a democracia competitiva somente havia florescido em três dos dezesseis países da região.
Após a Segunda Guerra Mundial, algumas regiões do Leste e Sudeste Asiático, como o Japão, a Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura, experimentaram enormes taxas de crescimento econômico. O comércio e a influência política dos Estados Unidos na região incentivaram este espetacular desenvolvimento, sobretudo no Japão, onde os norte-americanos apoiaram os governos conservadores que promoveram os investimentos na indústria, o que levou o Japão a se converter em uma das maiores potências industriais do mundo. À medida que os países asiáticos foram desenvolvendo seus mercados de produtos manufaturados, aumentaram sua dependência de matérias-primas importadas. O intercâmbio japonês-norte-americano, por exemplo, consiste sobretudo em exportações agrícolas a partir dos Estados Unidos ao japão e importações de automóveis e artigos eletrônicos japoneses à América do Norte. Este modelo pode ser comparado com o que existe entre o sul-americanos e o Sudeste asiático - ainda que mais intenso - já que os primeiros exportam matérias-primas e produtos agrícolas e são grandes importadores de produtos manufaturados, o que reflete seu status econômico relativo. Os níveis de investimentos nipônicos e norte-americanos na Ásia demonstram a importância da Bacia do pacífico como esfera de interesse econômico e aponta para o aparecimento de um grande império comercial: A China. Esta, com mão-de-obra muito barata e certa tolerância com a produção de materiais diversos pelas empresas piratas, que copiam todo e qualquer produto que possa ser comercializado, a China garante trabalho a milhões de pessoas, mesmo que em sua maioria seja considerado escravo. Para a China, o mais importante, nesse momento, é manter sua população invisível com alguma renda e alimentada, mesmo que precariamente.
Não posso encerar este capítulo sem falar sobre alguns aspectos importantes de marcaram a subida de Mao Tsé-tung ao poder.
Nos primeiros dois anos do Grande Salto Adiante, a maioria dos companheiros de pode de Mao o apoiou. Somente um membro do Politiburo, o marechal Peng De-huai, ministro da Defesa, teve coragem para discordar de algumas atitudes de seu líder.
Peng havia cruzado armas com Mao ao longo dos anos, mas sempre permanecido próximo de suas raízes camponesas pobres. Em um relato de sua vida escrito mais tarde, quando estava preso por ordem de Mao, ele recordou que costumava lembrar-se de sua infância faminta para não se "tornar corrupto ou insensível em relação á vida dos pobres". Nos anos 50, mentou com o alto escalão o estilo de vida corrupto do líder chinês: as mancões em todo o país e a busca de garotas bonitas, que Peng descreveu como "seleção de concubinas imperiais". Na década de 1930, já criticara-lhe o tratamento perverso de outros comandantes militares. Na longa Marcha, desafiara a liderança militar de Mao quando este, para alcançar seus objetivos, quase levou o Exército|Vermelho à ruína. Na década seguinte, quando começou o culto da personalidade do líder, durante o terror em Yenan, Peng levantou objeções a rituais como gritar "viva o presidente Mao!" e a cantar o hino de Mao, "O Oriente é vermelho". Depois que Khruchióv denunciou Stálin em 1956, Peng manifestou-se com mais vigor contra o culto de sua personalidade e até defendeu a mudança do juramento dos soldados.
Com seu culto alimentado e irrigado entre a população, seus colegas acossados e submetidos e as vozes potenciais de dissenso silenciadas por meio da campanha "antidireitista", Mao tratou de acelerar o "Programa de Superpotência". O cronograma original de 1953, que previa completar a "industrialização" entre dez a quinze anos", foi encurtado para oito. Contudo, Mao fora informado de que aquisições da Rússia poderiam possibilitar sua entrada no clube das superpotências em cinco anos.
Em 19 de agosto de 1962, Mao disse a um grupo seleto de chefes provinciais: "No futuro, montaremos o Comitê de Controle da Terra e faremos um plano uniforme para a Terra". Naquele momento ela já dominava completamente a China e pretendia dominar o mundo; apenas esqueceu que todos somos finitos.
Em 4 de agosto Mao, enquanto o povo morria de fome, falando da grande produção agrícola imaginária, ele disse "Devemos pensar no que fazer com todo esse excedente de comida". Evidentemente, conhecendo a realidade, ele próprio não acreditava nas suas palavras. Em certa ocasião ele disse: "Comer pouco é bom para a saúde; Os ocidentais têm muita gordura na comida deles. Evidentemente ele esqueceu-se da própria obesidade. Em 27 de fevereiro de 1959, Mao já havia se manifestados sobre o assunto ao alto escalão; disse ele: "Todas as equipes de produção escondem alimentos para dividir entre eles.
Em fevereiro de 1959, a Rússia assinou um acordo para fornecer à China meios de produzir submarinos nucleares. isso marcou o ponto alto da cooperação do Kremlin em transferência de tecnologia. Mas no mesmo momento em que o acordo estava sendo assinado, Khruchióv reconsiderava o fato de dotar Mao com tamanho poder militar. Essa decisão de repensar o assunto tivera como fundo o fato ocorrido em setembro de 1958, quando um míssil americano havia caído de um avião de Taiwan na China sem explodir. Foi nesse momento que a "amizade fraternal" entre os dois países teve sua primeira fissura. Realmente não fazia sentido ensinar a Mao como construir mísseis e ogivas nucleares.
Foi no início de 1960 que foi decidido, entre um círculo íntimo do líder, o objetivo de "propagar o Pensamento de Mao Tsé-tungo em todo o mundo. A ideia era iniciar muito lentamente par não ser visto como uma tentativa de - em suas palavras- "exportar nossos aromáticos intestinos" (aos quais Mao comparava seu "pensamento").
A Revolução Cultural da Madame Mao, sra. Jinang Qing - última esposa de Mao m- teve episódios interessantes. Era uma mulher maldosa e manipuladora. Nunca esteve na origem de medidas políticas e sempre foi serva obediente dele, desde o momento em que se casaram, em 1938. Depois da morte do marido ela escreveu: "Eu era o cão do presidente Mao. Quem quer que ele pedisse para morder, eu mordia". Sua única iniciativa individual no expurgo foi usar sua posição ppara executar vinganças pessoais. Uma delas contra a atriz chamada Wang Ying, que décadas antes ganhara um papel teatral que madame Mao havia ambicionado e que depois passou anos glamourosos nos estados Unidos, chegando a apresentar-se na Casa Branca para o presidente Roosevelt e família. Como consequência Wang Ying morreu na prisão.
Nos primeiros anos do Grande Expurgo, ela encabeçou o Seleto Grupo que cuidava dos expurgos e depois foi membro do Politiburo. Nesses cargos, desempenhou um grande papel na destruição da vida de dezenas de milhões de pessoas. Ela também ajudou Mao a destruir a cultura chinesa e fazer do país um deserto cultural.
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