Quando correu a derrota de Napoleão Bonaparte em 1815, os europeus ainda não conheciam muitas áreas do planeta e milhões de pessoas nunca haviam entrado em contato com a influência européia. Um século mais tarde ocorreu a consolidação do sistema mundial; os exploradores europeus haviam penetrado nas regiões mais distantes. Depois vieram missionários, comerciantes, banqueiros, soldados e administradores. Africanos e Asiáticos dificilmente conseguiriam ficar imunes às forças tecnológicas superiores da Europa; muitos passaram ao controle político europeu.
O século XIX geralmente é visto como a grande era da expansão européia ou do imperialismo e um dos principais temas históricos do século XX é a reação anticolonialista que ocorreu entre os povos da África e também da Ásia. Na ralidade, a criação de grandes impérios só aconteceu na última metade do século XIX. Até 1871, com exceção das possessões da Grã-Bretanha na Índia e África do Sul, da Rússia na Sibéria e Ásia Central e da França na Argélia e Indochina, a presença européia na África e na Ásia restringiu-se a postos comerciais e estratégicos. As lutas coloniais exerceram papel importante na política européia no século XVIII, mas em meados do século XIX a construção de impérios perdeu seus atrativos. No âmbito teórico, seu fundamento mercantilista foi derrubado por Adam Smith e pela "Escola de Manchester" de economia. Na prática, as relações comerciais da Grã-Bretanha com os EUA e América do Sul demonstravam que controle político não significava sucesso comercial. O mais tarde primeiro-ministro britânico, Benjamim Disraeli, expressou a ortodoxia predominante ao afirmar, em 1852, que "as colônias são um grande peso sobre nossos-ombros".
Mesmo assim, as potências europeias não tinham pressa em deixar as colônias. Espanha e Portugal perdiam seus impérios no Ocidente à medida que se tronavam fracos internamente. Em 1830, suas ex-colônias nas Américas central e do Sul eram quase todas independentes. A Rússia renunciou a territórios na América do Norte, vendendo o Alasca aos EUA em 1867. Mas a França, que perdeu a maior parte de seu primeiro império em 1815, construiu um segundo conquistando a Argélia nas décadas de 1830 e 1840, expandiu sua colônia do Senegal na década de 1850, tomou ilhas do Pacífico na década de 1840 e anexou Saigon em 1859.
A influência européia na África já era considerável em 1879. A repentina imposição do controle político foi, em certo sentido, o clímax de processos em andamento. Mas novas forças entraram em jogo. Uma vez iniciada a partilha da África entre as potências europeias, o continente foi dividido em um período bastante custo; as principais divisões territoriais foram feitas em 15 anos.
Poucas áreas da África eram governadas diretamente pelos europeus em 1880; havia pequenas colônias francesas e britânicas na África Ocidental (Senegal, Serra Leoa, Costa do Ouro, Lagos e gabão) e antigos povoados portugueses em Angola e no vale do rio Zambeze, em Moçambique. Apenas no sul, onde os colonos britânicos do cabo rivalizavam com os "afreicaners" do Transval e do Estado Livre de Orange, o controle político avançou para o interior. Mesmo assim, em "duas décadas, todo o continente foi tomado", disputado de dividido.
O período entre 1800 a 1880 assistiu a rápidas mudanças na África, com a adaptação da sociedade ao islamismo, comércio interno, presença de exploradores europeus e missionários cristãos e aquisição de armas de fogo por governantes locais. A mistura de forças internas e externas criou tensões e instabilidades que se tornaram mais agudas na década de 1870, fornecendo uma razão e uma desculpa para os europeus assumirem o controle do continente na década seguinte. O povoamento racial no sul ocorreu no período entre 1830 a 1880 que determinou o padrão de povoamento racial que até hoje persiste na África do Sul. O surgimento do Reino Zulu levou muitos povos africanos a uma nova configuração; suazi, xhosa. sotho e tswana, enquanto os participantes da Grande Jornada (Great Trek) abriram boa parte do território do interior ao povoamento branco.
Durante os anos 1880 que antecederam à partilha européia do continente, grande parte do oeste da África foi afetada pelo reflorescimento do islamismo, através de guerras santas (jihads) contra comunidades muçulmanas repaganizadas (ou parcialmente islamizadas). Os guerreiros da "jihad" eram pastores fulanis, dispersos entre comunidades da região sudanesa. Embora os fulanis fossem em geral pagãos, um grupo deles tornou-se muçulmano, com a fé ardente dos recém-convertidos. No século XVIII, estabeleceram teocracias no extremo oeste -Futa Toro e Fouta Djallon - e em Masina, nos antigos impérios de Mali e de Songai, no Niger. Os fulanis da Hauçalândia estabeleceram o maior Estado islâmico do século XIX. Em 1804, um lider religioso fulani, Uthman dan Fodio, foi proclamado Comandante dos Fiéis (Amir al-Mu'minim). Ele declarou uma "jihad"contra os infiéis. Em poucos anos, um exército de cavaleiros conquistou todas as cidades-Estado hauçás e lançou-se para leste até Adamawa e para sudoeste até Nupe e Iorubalândia. O filho de Uthman dan Fodia tornou-se sultão de Sokoto, império que ainda existia quando os britânicos invadiram a Nigéria na década de 1890.
Uma "jihad" mais cruel foi conduzida por al-Hajj Umar, Fouta Djallon, que conquistou os reinos de Bambara e Masina e só não chegou ao Atlântico por causa da presença francesa no rio Senegal. O islamismo tornou-se uma força que se opôs ao avanço europeu, especialmente no caso do líder mandinga muçulmano Samori, que construiu outro império ao sul do Niger e só foi derrotado pelos franceses em 1898.
Ao sul da área das "jihads", o tráfico de escravos floresceu por muitos anos, mas os britânicos começaram a substitui-lo por um "comércio legítimo", acompanhado da introdução do Evangelho. Os exploradores Park, Clapperton e Lander descobriram o curso do Niger e em 1841/42 o governo britânico enviou uma expedição ao interior para oficializar o cristianismo e o comércio. A expedição fracassou, mas a procura européia pelo azeite de dendê, tubérculos e outros produtos forçou os Estados africanos a mudanças, provocando instabilidade entre os "Estados da floresta".
O leste e o oeste da África Central eram áreas em que novos padrões de comércio também causaram ruptura e mudanças. O mundo ocidental demonstrava, no século 19, um apetite insaciável por marfim (para bolas de bilhar e teclas de piano) e a caça aos elefantes e o comércio de suas presas tornaram-se as principais atividades na região. Muitos Estados e povos enriqueceram com os lucros, como os Chokwes e o rei Msiri, na África central e Buganda e os nyamwezis na África Oriental. Na África Central, os comerciantes eram, muitas vezes, portugueses das colônias de Angola e Moçambique. No leste da África, suaíles árabes de Zanzibar faziam contato com Estados no interior, levando com eles a religião islâmica. Alguns povos - em especial ao redor dos lagos Nyasa e Tanganica sofreram cxom o tráfico árabe de escravos, em geral ligado ao comércio de marfim.
No nordeste da África, a expansão territorial do Egito - governado por Mohammed Ali, vice-rei do sultão otomano - foi o prenúncio da partilha européia da África. Os exércitos de Ali conquistaram o norte do Sudão nilótico e estabeleceram Cartum como capital da província, em 1821. Mohammed Ali recusou-se a aprovar o canal de Suez, mas após sua morte, em 1849, a construção prosseguiu. Seu neto, quediva Ismail, consolidou o controle egípcio sobre boa parte do litoral do mar Vermelho e chifre da África. Avançou ainda para o sul pelo Nilo até os Grandes lagos, na tentativa de criar um grande império africano. Como resposta às ações egípcias, o poder político etíope floresceu sob os imperadores Theodorus e Johannes.
Somente duas áreas da África foram colonizadas por potências europeias antes da partilha: em 1830, os franceses invadiram, conquistaram e povoaram a Argélia. No outro extremo do continente, durante as guerras napoleônicas, os britânicos tomaram dos holandeses a Colônia do Cabo. Ao mesmo tempo, houve grande revolução política e demográfica entre os povos interioranos do sul da África, iniciada pela formação do reino zulu por Shaka, em 1818. Povos de língua nguni e sotho saíram da área de conflitos (esse período é conhecido como "Mfecane" ou Tempo dos Problemas): os ndebeles (ou matabeles) foram para o atual Zimbábue, os ngunis para o norte, até Zâmbia, Malaui e Tanzãnia, e os sothos (Kololos) para Barotselândia (Zâmbia). Essas guerras e migrações africanas foram complicadas pela presença de um número crescente de europeus, incluindo os bôres - pastores e fazendeiros brancos que deixavam a Colônia do Cabo para evitar o domínio britânico, muitos deles na época da "Grande Jornada" de 1836. Na década de 1950, os britânicos reconheceram as repúblicas de Estado Livre de Orange e do Transvaal, fundadas por bôeres (fazendeiros e pastores brancos). Mas o desejo de manter a ordem e a atração pela riqueza, após a descoberta de diamantes perto do Estado Livre de Orange, logo trouxeram os britânicos de volta às disputas com os bôeres.
Das 40 unidades políticas divididas até 1913 - em alguns casos usando-se só uma régua e um lápis em Londres, Paris ou Berlim -, 36 passaram ao controle europeu direto. Apenas a Etiópia, que expulsou os italianos, e a Libéria, ligada financeiramente aos EUA, reivindicaram a independência. A França, a maior beneficiária, controlou quase um terço dos 30,3 milhões de Km² da África.
Vários fatores favoreceram a explosão imperialista. A industrialização na Europa exigia matérias-primas, novos mercados e campos para investimento. Esses fatores se traduziram em pressões sobre a África, onde cresciam as tensões a serem superadas com a imposição do controle político europeu. A industrialização também gerou tensões na Europa, levando alguns políticos,como Joseph Chamberlain da Grã-Bretanha, a ver a colonização como saída. As rivalidades entre os Estados europeus foram, em geral, transferidas para a África. Isso fez com que incidentes europeus na África provocassem crises internacionais e que iniciativas locais de europeus dessem origem à luta pela posse do continente. As tensões aumentaram entre 1876 e 1884. Em novembro de 1884, as potências se reuniram em Berlim, na Conferência da África Ocidental, para tentar evitar a partilha, deixando o acesso á África livre a todos, mas fracassaram. Na realidade, as anexações aumentaram, apesar de hesitações governamentais entre 1885 e 1889. Em seguida, aquisições costeiras avançaram para o interior.
Na África Ocidental, que ainda não haviam se vingado da derrota de 1870 na Europa, buscavam compensações partindo do Senegal e avançando para o interior africano no fim da década de 1870. Isso os colocou em conflito com os ingleses, em Gâmbia e em Serra leoa, e os Estados africanos como os impérios de Samori e de al-Hajj Umar. Na costa da África Ocidental houve rivalidade entre ingleses e franceses na Costa do Ouro, Togo, Daomê e nos domínios dos iorubas. A desconfiança francesa em relação à Grã_bretanha se intensificou após a invasão e ocupação unilateral do Egito pelos ingleses em 1882.
A intervenção de outras potências europeias espalhou esses disputas pelo continente. Após uma viagem épica pelo rio Congo em 1877, o explorador Stanley foi contratado pelo rei Leopoldo da Bélgica, que já revelava seu desejo de envolver-se na África durante a Conferência Geográfica em Bruxelas, em 1876. Leopoldo exerceu papel de catalizador da desavença. Em 1879 Stanley voltou ao Baixo Congo e preparou o domínio que, mais tarde, o rei tomaria para si. As atividades de Stanley incentivaram outras na mesma região, como a do oficial naval francês De Brazza. Ele concluiu tratados com chefes africanos e, ao regressar à Europa, suas decisões foram logo acatadas pela França. Essa ação francesa produziu imediata reação inglesa e portuguesa, que em nada resultou devido à pressão exercida por Bismarck. Ele fez com que a França desistisse de se vingar da perda da Alsácia-Lorena ao dar carta branca aos franceses na África. E fez isso chantageando a Grã-Bretanha com o Egito. Em seguida, a Alemanha entrou na briga ao tomar territórios em quatro regiões: Togolândia, Camarões, África do Sudoeste e África Oriental. As iniciativas francesas e alemã na África Ocidental fizeram com que a Grã-Bretanha intervisse, basicamente, nas terras da atual Nigéria. O interior ficou com os franceses que, em 1900, haviam devastado a região do Sudão Ocidental.
A presença alemã no sul da África reavivou as ambições portuguesas e a ameaça da expansão dos "afrikaners" resultou em investidas britânicas no interior da África Central (mais tarde Rodésia, Zâmbia e Malaui). Muitas dessas ofensivas partiram de Cecil Rhodes, industrial e político da Colônia do cabo. Da mesma forma, a colonização alemã na África Ocidental (Tanganica) provocou a reação do primeiro-ministro inglês, Lord Salisbury, que reivindicou a posse da região dos Grandes lagos (Uganda) e do território intermediária ao longo da costa (mais tarde, o Quênia). Os ingleses perderam sua posição no Egito ao intervir nos assuntos do Sudão que, em 1881, sob liderança de um líder islâmico, o Mahdi, se rebelaria contra o Egito. Ao mesmo tempo, êxitos franceses no oeste - ocupação do gabão no Congo Ocidental, conquista do antigo reino de Daomê (1893) e ofensivas em direção do Lago Chade levaram a Grã-Bretanha a mobilizar recursos da Companhia Real do Niger para tomar os emirados de Nupe e de Ilorin e a se envolver em conflitos com Estados africanos situados em sua esfera comercial. A tensão chegou ao extremo em 1898, quando o comandante francês Marchand, após marcha de dois anos partindo do Gabão, enfrentou as tropas britânicas em Fashoda, no Nilo Branco. Os dois países só evitaram uma guerra berta no último momento.
De um processo quase pacífico, a divisão tornou-se uma carnificina. Em 1896, a Etiópia impôs pesada derrota aos italianos, em Andowa, e cerca de 120 mil sudaneses morreram durante a supressão dos Estado Mahdi pelos britânicos. As forças coloniais do Rodes se envolveram em batalhas cruéis com os matabeles e os mashonas e colonos brancos passaram a confiar cada vez mais no rifle e no revolver. A Guerra dos Boeres (1899 a 1902) foi o clímax do conflito, no qual os ingleses conquistaram as minas de ouro do Transvaal (descobertas em 1886) e incorporaram as repúblicas "africaners".
Embora os africanos se opusessem aos avanços europeus, jamais ofereceram resistência planejada e acabaram perdendo territórios. Dos poucos estados africanos independentes em 1902 a Líbia foi invadida pela Itália em 1911 e o Marrocos sobreviveu até 1912, antes da divisão entre França e Espanha.
Apesar das aparentes rapidez e facilidade da divisão, a resistência africana européia foi praticamente geral. Grande parte dessa resistência foi local e pôde ser vencida aos poucos, em geral através do uso de outros grupos africanos como aliados. Mas em algumas regiões, determinados grupos mantiveram a luta contra os europeus, como o Império Samori em relação aos franceses na África Ocidental na década de 1880. Em todos os casos, a política européia fopi a de dividir para governar. Por volta de 1890, o homem branco tinha vantagem esmagadora quanto a suprimentos benéficos e à metralhadora transformou-se na arma da partilha.
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