Os ventos da Revolução Francesa se espalharam pelo mundo todo.
No início do século XIX a velha aristocracia latifundiária ainda dominava inteiramente a vida social e política na Europa. Na Grã-Bretanha, fidalgos pertencentes a famílias de três ou quatro séculos, orgulhosos de sua antecedência, consideravam como direito seu inalienável dirigir o governo do país e arcar com as fadigas e riscos do cargo; uma aristocracia, portanto, cônscia não só de seus privilégios, mas também de suas responsabilidades. A vida de um nobre inglês, quer se desenrolasse no burgo que trazia o nome de sua família, quer nos palácios de Londres, era isenta de qualquer preocupação; somente uma elevada consciência de classe impelia, pois, esse homens que nada precisavam pedir à fortuna, a dedicar-se ás lutas parlamentares ou às campanhas coloniais. O poder estava, na verdade, na mão dos Comuns, a Câmara Baixa; mas os membros desta nação eram eleitos .como hoje, ou como estava nos propósitos dos legisladores de tantos séculos antes. O sufrágio era um direito de classes ou de zonas privilegiadas, os distritos eleitorais permaneceram como os de outrora, apesar das numerosas mudanças verificadas. Em outras palavras, o direito de eleger representantes ao parlamento conservara-se apanágio, em uma quantidade de casos, de obscuras aldeias, importantes ao tempo dos Plantagenetes, mas semi-desertas no século XIX. Naturalmente, a eleição das cadeiras em causa eram concluídas com a corrupção da aristocracia latifundiária, que vinha, assim, a dominar também a Câmara Baixa e, com isso, acontecia que insignificantes povoados mandavam dois representantes, cada um, `+a Câmara, ao passo que cidades como Manchester não possuíam nenhum. Mas, no princípio dos anos 18700, a burguesia, constituída de comerciantes, de armadores e, a seguir, de pequenos e grandes industriais, gradativamente começara a projetar-se e a fazer sentir, cada vez mais forte, sua voz; se os primeiros decênios do século são ainda denominados pelos mais retrógrados entre os nobres de partido tory ( ou seja, conservador), como o Duque de Wellington e Lorde Castlereagh, muitas coisas já iam mudando, Jeremias Bentham, um burguês que sempre vivera à parte, mas que influenciou com seu pensamento meio século de política social inglesa, iniciou a marcha da corrente reformista, provocando o escândalo dos conservadores ao por em dúvida as velhas instruções britânicas. A ele se deve a refomra, ocorrida após sua morte, do colégio penal, a ele sew deve o início daquelas transformações que iriam conduzir ao sufrágio universal. As ideias que o proscrito Tom Payne lançara em 1791, em seu livro Direitos do Homem, ideias assaz revolucionárias para serem recebidas sem um profundo pavor pela conservadora Inglaterra, tinham germinado e produzido seus frutos. Um sapateiro, Tomás Hardy, fundava a primeira sociedade operária e, embora perseguido,conseguia prosseguir seu trabalho social e salvar a pele de um processo que lhe moveram alguns fanáticos "torys". Em 1815, um industrial esclarecido, Roberto Owen, apresentava um projeto de lei em que estavam contemplados todos os pontos que ele já realizara, particularmente,entre seus operários. Essencialmente, ele, em companhia de Roberto Peel, propunha adoção de um horário de trabalho limitado a não mais de dez horas (os operários daquele tempo trabalhavam até quinze horas) e a obrigação de não empregar crianças com menos de dez anos. (Em nossos dias pode parecer estranho, mas é a realidade na qual viviam muitas crianças). Isso hoje nos parece óbvio, mas àquela época, provocou tremendo clamor, para não dizer escândalo. Finalmente, William Cobbett, percebendo como a origem de todos os males do país, da miséria de seus operários, da desigualdade das leis, da própria mentalidade de seus governantes estava na fase da organização política, isto é, mo sistema eleitoral, começa a bater se por uma reforma que visava a abolição dos "burgos corruptos" e a estender o sufrágio ao maior número possível de cidadãos, ou, melhor dizendo, de Ingleses, porque não se pode considerar cidadão quem não possui o supremo entre os direitos sociais, o voto livre. O jornal em que Cobbet expunha suas ideias, o Political Register, esgotava suas edições justamente entre as classes que maior necessidade tinham de um alimento dessa espécie. O governo "tory" limitava-se a reprimir, com processos a apreensões, a ideias sediciosas, mas o sentimento inato de justiça dos Ingleses impedia que tal repressão surtisse efeitos catastróficos. Muitos oficiais do governo,acusados de traição, eram absolvidos pelos magistrados, embora as invectivas e os libelos acertassem, sem reservas, ministros e pessoas altamente colocadas, e até o rei. A um dado momento, a pressão tornou-se tão forte que o governo recorreu ao inaudito expediente de suprimir o habeas corpus. Na realidade, a Inglaterra sofria de crise de consciência. Suas instituições, antiquadas, não aguentavam o passo veloz da revolução industrial, que estava transformando o país no mais forte produtor de artigos manufaturados do mundo.
Há na História, momentos em que se adverte, distintamente, o amanhecer de grandes eventos, a irrupção de um fato novo que obrigará a humanidade a uma imprevista reviravolta. Percebem-no, naturalmente, muito mais que os contemporâneos, os pósteros, que têm sob os olhos as causas remotas e que as vêem concatenar-se umas às outras para explodir no último episódio: guerra ou convulsão social. Um período dessa espécie, rico de eventos de excepcional alcance, houve nos fins do século XVIII, quando a Revolução Norte-Americana e depois a Revolução Francesa deram aos oprimidos e aos deserdados o sinal de que o tempo da desforra chegara; um segundo movimento de ruptura viu-se em 1848, na explosão dos povos da Europa, ávidos de liberdade. Também nesse caso, como nos demais, a expressão "movimento popular" não é exata: o povo, a grande massa de camponeses e operários, geralmente é inerte e privada de ideias, ou de ideais, que não sejam esses mínimos, que se resumem a um relativo be-estar individual; ele, de fato, move-se e transforma-se naquela tremenda massa de choque que temos visto em ação sob os torreões da Bastilha, somente após o incitamento e o exemplo de uma minoria intelectual, burguesa ou aristocrática.
O ano de 1848, que levou à abdicação de Luiz Filipe de Orleãs, teve poucos episódios de violência. O rei, sabiamente, nem pensou em resistir à onda republicana, e preferiu o exílio a uma luta inútil. Os fenômenos de liberdade e de independência nacional, que as sociedades secretas tinham alimentado durante trinta anos, vieram finalmente à luz em forma de um violento motim popular. Um único anelo de liberdade percorreu a Europa, impeliu os povos da Itália, da França, da Áustria, da Hungria e até da Alemanha, a sair á rua.
A primeira centelha veio da França, onde, todavia, a revolução teve caráter exclusivamente interno e foi originada por um longo debate parlamentar em volta da nova lei eleitoral. O pacato Luis Filipe de Orleans abdicou, e a monarquia constitucional foi substituída por uma república, em que fora aplicado o sufrágio universal. Isto ocorreu em fevereiro de 1848. Em março do mesmo ano, Milão revoltava-se contra o absolutismo austríaco, e seu exemplo se alastrava por todas a possessões italianas dos Habsburgos. A constituição concedida por Pio IX, o advento ao trono dos Sabóias do jovem príncipe de Carignano, Carlos Alberto, conhecido pelas suas ideias liberais, tinham despertado e exaltado, no coração dos italianos o fervor libertário e nacionalista que ali fervia desde séculos. Mas os tempos ainda não estavam maduros, pois a Áustria era, ainda, uma forte potência, e as ideias liberais e democráticas ainda não tinham sido assimiladas, a não ser por círculo muito restrito de intelectuais.
Em toda a Europa, o ano de 1848 foi, sem duvida, o ano das revoluções, pois até os germânicos organizaram a deles, sem, porém, atingir o objetivo, que era o de reunificar a Germânia sob o cetro do rei da Prússia.
A Alemanha, dividida em numerosos pequenos potentados, aspirava, como a Itália, à unificação. As revoluções francesa e italiana abalaram também os Tudescos e, uma Assembléia Constituinte, expressão direta do sufrágio popular, reuniu-se em Frankfurt, em maio daquele ano, e redigiu o estatuto, que previa a união dos estados alemães sob um imperador. O mais qualificado para o posto era, certamente, o rei da Prússia, Frederico Guilherme,mas este recebeu o oferecimento da Assembléia com uma negativa e até com evidente hostilidade. Uma atitude igualmente hostil, a respeito do futuro Estado, teve a Casa da Áustria, que, obviamente, temia o engrandecimento da Prússia. desanimada pela adesão dos dois mais poderosos estados tudescos, a Assembleia acabou por dissolver-se e tudo voltou ao que era antes. Houve uma revolução coordenada e coerente, segundo o caráter germânico, bem diferente dos tumultuosos e sangrentos movimentos da Itália; estes tinham sido sufocados pelos canhões austríacos e pela impossibilidade de ter um chefe a quem obedecer.
Não só na Itália, a Áustria tinha aborrecimentos políticos; os rumos dos povos agrupados sob a coroa dos Habsburgos estavam, todos, por um motivo ou outro, em rebeldia. Contra a exigências da plena autonomia, apresentados pelos Húngaros, o governo fez agir os Croatas, que desde longo tempo aspiravam, por sua vez, a uma certa autonomia do reino da Hungria. os Húngaros reagiram com força, e os Vienenses, receosos de ver seus privilégios extintos como os de seus irmãos danubianos, saíram a campo e atacaram as tropas que o imperador enviava para a Hungria. Sua revolução não durou muito; batidos os Húngaros, por forças austro-croatas preponderantes, também Viena foi obrigada a ceder. Nesse ínterim, corria o m~es de dezembro de 1848, o Imperador Ferdinando I abdicava em favor do jovem arquiduque Francisco José, que, apesar das aparições de uma atitude liberal, era um convicto defensor do absolutismo monárquico e do poder centralizado. Novas exigências húngaras não foram aceitas pelo soberano; sob a orientação de um ditador, o patriota Luis Kossuth, toda a Hungria pegou em armas, declarou deposto o domínio dos Habsburgos e enfrentou, com suprema coragem, os exércitos austríacos, eslavos e romenos, que Viena lançava atém de seus confins. Os grandes sucessos húngaros, obtidos nos primeiros meses de 1849, alarmaram tanto a corte que a induziram a pedir auxílio á Rússia. Assim, apear de sua heroica desesperada resistência, os patriotas foram esmagados pela formidável colisão e, em agosto de 1849, rendiam-se às tropas do Tzar.
Quando, em 1848, Luis Filipe de Orleans foi obrigado, pelo movimento popular, a abdicar e a procurar hospitalidade na Inglaterra, os destinos da França pareciam decididamente orientados para o regime republicano. No mesmo ano, em Bruxelas, surgia um breve escrito, o "Manifesto comunista", dirigido por Carlos Marx e Frederico Engels aos "proletários de todo o mundo". A repercussão dessa obra, embora bem distante do desenvolvimento futuro, tinha sido notável nos ambientes socialistas franceses e era legítimo pensar que o novo endereço social tivesse um determinante na formação estrutural do estado francês. Mas os tempos estavam ainda imaturos para compreensão de uma doutrina que daria seus frutos mais de cinquenta anos depois. Assim, a república nascida da pequena revolta em 1848, estava incerta nos programas, não tinha chefes que pudessem assegurar-lhe uma larga base eleitoral, estava minada pelos descontentes monárquicos, que apareciam de três lados: o dos Borbões, que tinham como pretendente o conde de Chanbord, o dos Orleans e o de Bonaparte, que tinham seu estandarte em Carlos Luís Napoleão, sobrinho do imperador. Este tivera uma vida agitadíssima, justamente por causa do seu nome e de suas não ocultas pretensões ao trono da França. Por três vezes, apesare do banimento que pesava sobre toda sua família, ele reentrara em território francês, tentando um golpe de força, e por duas vezes fora preso, da última vez com um condenação perpétua. A partida de Luis Filipe encontrou-o em Londres, onde se instalara depois de sua fuga - nem heroica nem difícil - da fortaleza de Ham. A ocasião para insinuar-se na vida política francesaera tentadora, e Luis Napoleão só n~çao reentro em Paris como se apresentou candidato para a Assembléia Constituinte. Foi eleito por nada menos do que quatro departamentos, com voto quase plebiscitário, pois o nome de Napoleão exercia ainda uma atração excepcional no ânimo dos Franceses, e a prova se teve poucos meses depois, quando, apresentando-se Luiz Napoleão como candidato à presidência da República, obteve esmagadora maioria. Eis, pois, em poucos meses, passar de proscrito a chefe de Estado e, ainda por cima, com o crisma do sufrágio popular, conhecendo o passado, as ideias e as aspirações deste homem, não era difícil prever seus movimentos futuros. Não tinha, certamente, intenção de ficar tranquilo nem de representar com seu nome ilustre uma república "burguesa". E isso o demonstrou logo, com a expedição, não por certo gloriosa nem digna dos feitos do tio, em socorro de Pio IX e contra os revolucionários romanos.
O esplendor de Marengo e de Austelitz estava-lhe sempre diante dos olhos e o deslumbrava - tinha já quarenta anos - ainda que o houvesse tomado mais cauto, não apagara nele as ambições juvenis. Diante de suas poses de autocrata, em aberto contraste com a constituição que jurara defender, a Assembléia Legislativa alarmou-se e procurou reagir, mas Luiz napoleão sabia que estava ao seu lado o povo, ansioso por sentir-se guiado por uma forte mão, e seus adversários o sabiam tanto quanto ele. Assim, a oposição foi débil e o golpe de estado de 1851 foi recebido quase com alívio. A Assembléia foi dissolvida, os chefes da oposição encarcerados, o exército porto em estado de alarma, debelada as sociedades secretas e tudo isso em alguns dias. Duas semanas depois, o povo era chamado a sufragar, com o voto, o novo estado de coisas, e houve uma manifestação unânime de solidariedade ao ditador, que se tornava presidente para um decênio, com poderes quase absolutos. Ainda uma vez o povo curvava a cabeça sob o duro punho do tirano, feliz de poder votar sua admiração ou seu ódio contra uma só pessoa, fisicamente bem tangível e não contra essa abstração que se chama estado democrático.
Faltava, para a glória completa do novo autocrata, o fausto do trono. Luis Napoleão só teve o trabalho de percorrer a França para levantar de todos os lados ondas de entusiasmo, especialmente entre o povo miúdo, que, provavelmente, não sabia ao certo quem fosse esse "Napoleão", a quem aplaudia. As águias, que tinham percorrido vitoriosas toda a Europa, voltaram nos emblemas e nos mastros das bandeiras. De qualquer maneira, procurou-se revocar de modo visível uma epopeia que ninguém na França se resignava a considerar sepultada.
Finalmente, após este aquecimento de ânimo, o presidente fez com que lhe oferecessem oficialmente a coroa imperial e não controlou oposição alguma, e até o plebiscito que ratificou a decisão foi absolutamente unânime. Subia, assim, ao trono, Napoleão III; terceiro porque se considerava válida a abdicação de Napoleão I em favor do filho, ocorrida em 1814, em Fantainebelau, e não aceita pelos aliados vencedores. Napoleão II, tendo vivido sempre em Viena, com o título de duque de Reichstadt, morrera de tuberculose pulmonar, com pouco mais de vinte anos, quando todo o seu ser tendia para uma emulação da glória paterna. Napoleão III não tinha, certamente, a têmpera nem a excepcional sorte de seu grande predecessor, mas era um homem ambicioso, inteligente e capaz, e sua política interna e externa não foiu mais do que uma confirmação destes seus dotes.
Portanto, o segundo golpe de estado acontecera com o consentimento da grande maioria dos eleitores, e, assim, Luis Napoleão III, tornou-se imperador dos Franceses; sua residência transferiu-se dos Campos Elísios para as Tulherias.
O desejo de reerguer o prestígio da França e de seguir os feitos de seu predecessor, levou Napoleão II a tentar empresas militares. A primeira foi a campanha da Crimeia, que viu lado a lado os Anglo-Franceses e Piemonteses.
Como vimos, Luis Napoleão subira ao trono da França mediante um aparente golpe de força. Na verdade, a oposição fora menosprezada e os consentimentos eram quase gerais. A política interna de Napoleão III correspondeu, de fato, às esperanças de seus partidários e de todo o povo francês, consolidando em poucos anos o orçamento do país, encorajando iniciativas industriais e científicas. As liberdades políticas eram limitadas, mas, segundo alguns sociólogos, nem sempre o gozo desta liberdade constitui o bem supremo para uma nação. Por outro lado, se nos primeiros anos do segundo império, mais ou menos até 1800, a oposição era praticamente impossível pela estrita vigilância da censura na imprensa, no segundo decênio, as reformas em sentido estritamente liberal multiplicaram-se. As sessões da Câmara, a princípio conhecidas apenas pelo público através da uma censuradíssima exposição dos atos administrativos, tornaram-se públicas. As associações liberais ou, antes, antimonárquicas, atentamente vigiadas ou mesmo dissolvidas pela polícia até 1862, floresceram em toda a França, mantendo profícuos contatos com as co-irmãs estrangeiras e imprimiram jornais violentamente antigovernistas (m "A Lanterna", dirigida pelo ex-exilado Rochefort, Napoleão era objeto de duríssima sátira). A "Internacional Socialista", sufocada, nos primeiros anos do império, retomou vigor com a tácita aquiescência do governo. Então, se no primeiro decênio houvera uma quase absoluta supressão da liberdade de imprensa, de associação e de palavra, o governo de Napoleão soube,depois, afrouxar as rédeas e conduzir o Estado francês àquela bitola de liberalismo iluminado, que os tempos impunham. A Europa, agora, já não mais estava decidida a tolerar monarquias absolutas ou ditaduras; a voz de Carlos Marx abalara o milenário torpor do "quarto estado", o proletariado inculto e explorado, e tornara-o consciente dos seus direitos; a burguesia, nascida da Revolução Francesa, já consolidara seus postulados de livre comércio de ideias e de bens, e, quisessem ou não os monarcas absolutos, tinha nas mãos os destinos das nações, além do seu bem-estar material.
Muitos dos progressos econômicos e sociais, muitas das inovações no campo da indústria, das comunicações, da escola, que dão brilho ao reinado de Napoleão III, são devidas, mais que a uma política particularmente sábia, à natural evolução dos tempos; é fato, todavia, que especialmente no segundo anos do seu reinado, o Imperador soube dar um notável impulso a estas iniciativas e que muitas delas são de inscrever-se, se não ao seu intuito pessoal, à sua agudeza em escolher os próprios colaboradores. Doutro lado, é muito conhecido que a ausência de qualquer oposição, típica dos regimes autoritários, favorece a rápida atuação de projetos, que as longas discussões parlamentares arrastariam por muito tempo; assim como permite verificar-se erros, geralmente colossais ou trágicos, que muitos vêem, aproximar-se, mas aos quais ninguém põe reparo. A guerra da Crimeia foi uma das empresas sábias de napoleão, que, porém, na política exterior, deixou-se levar demasiado pelos seus sonhos de grandeza, geralmente nada sensatos, e submeteu a França à empresa, de onde ela saiu, no fim, derrotada.
A companhia da Itália, mesmo facilitando imensamente a desforra do Piemonte e do povo italiano, não fez senão enfraquecer a Áustria, com grande vantagem pára a nascente potência prussiana e, portanto, potencialmente, a dano da França. Napoleão, depois, desiludiu os patriotas italianos, com o brusco armistício de Vilafranca e com a decidida oposição francesa à ocupação de Roma. Por uma espécie de revide contra a Inglaterra, Napoleão III favorecia a anexação de parte da Prússia, da grande província dinamarquesa do Schleswig-Holstein.
A política napoleônica foi totalmente errada ao intrometer-se nos negócios da América do Norte; primeiro, durante a Guerra de secessão, ele concedeu seu apoio aos estados Confederados, apostando abertamente no "cavalo perdedor". Depois, e isto foi mais grave, organizou a malfadada expedição ao México, de Maximiliano de Habsburgo. Toda uma política, portanto,fundada em quimeras, sobre risíveis ambições de glória, sobre ingênuos romantismos e sobre muita retórica. Uma retórica, porém, que custava sangue e estava destinada a custar sempre mais. Bastante feliz, entretanto, a política colonial, que conduziu á ocupação da Síria, do Líbano, do Sião. Era a época favorável aos grandes avanços nas colônias, e a França tomou, com os demais países europeus, uma forte porção, a ótimo preço e sem qualquer trabalho. Mas agora, o segundo império já estava no fim. O tocar dos canhões de Sadowa já lhe preanunciavam a agonia.
Em 13 de janeiro de 1858, quando Napoleão II seguia de carruagem para a ópera, foram lançadas contra ele três bombas, que fizeram um massacre entre as multidão, mas que deixaram o imperador milagrosamente ileso. O autor do atentado, Felice Orsini,italiano, era mazziniano. Ele pagou com a morte, enfrentada corajosamente, sem louco gesto.
Outros fatos importantes dessa época que precisam ser ressaltados foram:
1 - Sob o segundo império, a política colonial teve um enérgico desenvolvimento. Na campanha levad a efeito contra a China, pára que esta abrisse seus portos ao comércio europeu, o general Guillaume derrotava, em Pa-li-k'iao, o exército chinês. Assim, três meses depois do início das hostilidades, Pequim era ocupada.
2 - Lá pelos fins do século XIX, surgiram, na Síria desordens causadas pela intolerância dos Muçulmanos, que realizaram ferozes massacres de Cristãos e destruíram-lhes as igrejas. Para restabelecer a paz, Napoleão enviou uma expedição militar, que conseguiu obter para o Líbano uma certa autonomia, sob um governador católico.
3 - Uma das mais infelizes iniciativas de Napoleão foi a de oferecer a Maximiliano de Habsburgo o Império do México, prometendo-lhe seu auxílio. Mas, devido a complicações internacionais, as tropas francesas foram obrigadas a retirar-se, e o infeliz Maximiliano, tendo caído prisioneiro dos rebeldes, foi fuzilado em Queretaro, em 19 de junho de 1867.
4 - A campanha de 1859 foi o período mais glorioso para o Imperador; seus exércitos, descendo à Itália como nos tempos de Napoleão I, derrotaram os austríacos, com o auxílio do exército piemontês. Mas, na realidade, os resultados foram muito menos brilhantes para a França que para o novo Estado Italiano, que então nascia.
A Guerra Franco-Prussiana
Em 1848, os rebeldes tudescos tinham oferecido a coroa imperial da Alemanha a Frederico Guilherme IV, rei de Prússia, mas este recusara; um Hohenzollern, herdeiro das mais rígidas tradições feudais, não podia aceitar o reino de um grupo de burgueses revoltosos, ainda que esse reino houvesse sido, sempre, a maior aspiração sua e da sua Casa. E, até, foi justamente graças ao seu valioso militar que as rebeliões foram sufocadas em vários estados; desta atitude, intransigente e anti-reformista, a Prússia contava obter o favor dos príncipes alemães, e, como se viu mais tarde, o predomínio sobre os estados da Germânia. Nada obteve, porém, apesar de suas lisonjas e suas tentativas, sobretudo pela oposição manifestada pela Áustria. Mas eis que, alguns anos depois, se verificaram fatos que mudaram completamente a situação. A Áustria era batida na Itália pelos Franco-Piemonteses e, se não enfraquecida - tratava-se de uma pequena guerra, terminada rapidamente, sem grandes perdas -, saíra do choque diminuída em seu prestígio e no território; na Prússia, o rei Guilherme I, sucessor de Frederico Guilherme IV, confiava as rédeas do Estado a um homem de rija têmpera, o príncipe Oto Bismarck, típico expoente da casta dominante na Prússia, férvido adepto do centralismo e do absolutismo monárquicos, favorável à força como principal meio para atuar um plano de breve vencimento, que levaria a Prússia e a dinastia dos Hohenzollern ao domínio de toda a Alemanha. De todo despido de escrúpulos acerca dos direitos dos seus vizinhos, ele se serviu do compacto e magnífico instrumento que era o exército prussiano como de um formidável ariete para abrir, ao seu rei, caminho para a grandeza imperial. E conseguiu-o, devemos dizê-lo, sem excessiva fadiga. A marcha começou rumo ao norte; contra a Dinamarca, para arrancar as duas províncias do Schleswig e Holstein, Bismarck obteve aliança da Áustria, que cegamente se meteu numa em presa de onde apenas receberia prejuízo. A Guerra de 1864 foi, naturalmente, breve e desastrosa para o pequeno país escandinavo, que precisou ceder os territórios contestados ao vencedor, que passou a administrá-los. Foi justamente esta repartição que trouxe á tona os primeiros graves dissabores entre Áustria e Prússia. Certo de que a França não se moveria, Bismarck acentuou pesadamente essa dissidência, chegando a exigir, abertamente, a união de todos os Estados alemães sob o cetro prussiano. A primazia da Áustria, tão dificilmente mantida durante tanto tempo, estava para ruir. E ruiu mesmo, miseravelmente, poucos meses depois, ou seja, quando os Habsburgos quiseram conter pela força a expansão do poderio prussiano. O field-marechal austríaco Benedek, que marchou por ordem de Francisco José, contra as maciças forças de
Von Moltke, viu desenhar-se o desastre e nada pode fazer para impedi-lo; em Sandowa, em julho de 1866, o exército austríaco sofreu um revés tão forte que não deixou vislumbrar mais nenhuma esperança. Magro consolo foram,. para a Áustria, as vitórias de Lissa e Custoza, obtidas contra um exército desorganizado, pouco preparado e mal dirigido como era o italiano (a Itália, como é sabido, era então aliada da Prússia).
Após haver tolerado, e quase favorecido, aquela ascensão, Napoleão II encontrava-se agora, além do reno, diante da maior potência militar e industrial que jamais aparecera na Europa. Compreendendo, muito tarde, o perigo, tentou correr aos anteparos, mas depois ofereceu, ele mesmo,m a Bismarck o "casus belli", opondo-se à eleição ao trono espanhol de um príncipe tudesco. Ante a recusa de Bismarck julgou-se no dever de declarar guerra.
Em 3 de julho de 1866, perto da aldeia de Sadowa, travava-se uma decisiva batalha entre austríacos e prussianos. Estes comandados pelos famoso general Von Moltke, conseguiram, com um só dia de incessante luta, cercar as posições do inimigo e pô-lo em fuga. Todavia, a brilhante resistência da artilharia austríaca causou graves perdas aos atacantes.
Os prussianos iniciaram a ofensiva nos primeiros dias de Agosto e, em dois dias, varreram o grosso das tropas francesas da Alsácia, repelindo-as para atrás dos baluartes de Metz, abrindo caminho rumo a Paris. Em 18 de agosto, os alemães estão sobre Verdun, em 30, batem De Fally, no Mosa, e, a 31', rechaçam Mac Mahon, em Sedan; a 1º de setembro, esmagam-nas em campo aberto, e, no dia seguinte, Napoleão se rende. Pouco depois, depõe as armas, também, Bazaine, que, encurralado em Metz, com o grosso exército, em vão tentara quebrar a garra prussiana. Vendo que as coisas estavam mal paradas, os Parisienses foram rápidos em separar suas responsabilidades das de Napoleão III e em declarar, ainda uma vez, a República, decididos a defender-se. Realmente, os Tudescos atacaram a cidade por todos os lados, bloqueando-lhe os abastecimentos e levando à fome. Por três meses ainda se arrastou a guerra, o tempo suficiente para que os Tudescos abafassem todos os focos de resistência, nas várias regiões, e tomar Paris, sem destruí-la. Uma das raríssimas vitórias francesas foi a obtida por Garibaldi, perto de Jijon. Quando a França capitulou definitivamente , em janeiro de 1871, Guilherme I não era mais rei da Prússia, mas Imperador da Alemanha.
Outros fatos importantes dessa época foram:
1 - Durante a guerra de 1866, a 19 de julho, a Marinha Italiana sofreu uma séria derrota para a frota austríaca, em Lissa, tornada ainda mais grave pelo fato de que os inimigos, pelo número e qualidade de navios, eram bem inferiores aos Italianos. A nave capitânia, "Rei da Itália", tendo sido avariada no leme, não pode evitar o esporão da "Ferdinand Max", comandada pelo jovem almirante Tegetthoff, e afundou quase no mesmo instante, com o flanco arrobado.
2 - A batalha de Sedan (1º de setembro de 1870) é considerada uma das mais importantes da História, porque influiu decididamente sobre o destino da Europa inteira. O exército francês, mal prepartado e pior comandado, deixou-se bater pelos prussianos, na pequena fortaleza de Sedan, onde foi obrigado a render-se. Napoleão III entregou sua espada a Guilherme da Prússia.
A Grã-Bretanha, única entre as grandes nações européias, durante toda a segunda metade do século XIX, apresenta um panorama de paz e de crescente prosperidade, rompido apenas por pequenas guerras periféricas. A Guerra da Crimeia, a estranha e breve guerra, travada por motivos que não estavam claros nem aos próprios combatentes e que aproveitou, entre todos, somente ao Piemonte, foi a última que viu a Grã-Bretanha em campo, ao lado das outras nações. O governo inglês resolveu participar talvez - que não pareça um paradoxo - somente porque, após quarenta anos de paz ininterrupta, o povo sentia a necessidade de uma empresa de força, de algo que o reanimasse; e a campanha serviu somente para demonstrar a antiquada pobreza do armamento e da organização militar britânica (que a teimosa obtusidade do duque de Wellington quisera conservar imutável desde a época napoleônica) e a necessidade de adequar aos princípios modernos os serviços sanitários do exército (renovados, na ocasião, pela heroica abnegação de Florence Nightingle) . Depois de então, a Inglaterra conservou um salutar afastamento das questões que ensanguentavam o continente. Realmente, enquanto os povos europeus se batiam nas barricadas, para arrancar aos monarcas absolutos algum farrapo de liberdade, o príncipe Alberto da Saxônia Coburgo Gotha, consorte da rainha Vitória (um rei sem coroa, que viveu na sombra, mas que contribuiu, com constante sabedoria de conselhos, pata iluminar a imperialística política da Rainha), organizava a primeira exposição industrial do mundo; a livre e pacífica Inglaterra mostrava á Europa em efervescência como a ordem e o respeito pelos direitos humanos podem perfeitamente conciliar-se e produziu bens tangíveis.
Os domínios de além-mar, fonte sempre crescente de benesses para a metrópole, iam lentamente se estendendo e consolidando. No maior e mais rico desses domínios, a Índia, a Inglaterra julgou-se no dever de prosseguir na mesma política liberalizadora que vingava nas ilhas, estendendo aos nativos todas as possibilidades de instrução e de autoconhecimento, que eram acessíveis aos Ingleses. Intervindo para dominar os bandos de Maratas e de outros que infestavam toda a Índia central, os Britânicos asseguraram-se todos os direitos de protetorado sobre a maior parte dos reinos hindus independentes, preparando-lhes a futura anexação de fato. As escolas, as ferrovias, a rede telegráfica e postal, a vigilância sobre as estradas e a abolição de ritos ferozes, como o uso de queimar ,vivas, a viúvas na pira do marido defunto, foram outros tantos benefícios que encaminharam o país para a independência.
Em 1857, os Ingleses tiveram que enfrentar a única séria dificuldade que se lhes apresentou em seu campo expansionista: a revolta dos sipaios, as tropas indígenas da Companhia das Índias (como se sabe, a Índia era administrada diretamente pelo governo, mas por uma Companhia). A revolta foi dominada em poucos meses, embora houvesse levantado contra os invasores meio país. Mas, as "atrocidades" cometidas pelos ingleses nessa contingência (muitas das quais reais e semelhantes ás que se verificavam em todas as guerras, sobretudo nas colônias) foram, depois, exploradas pela propaganda antibritânica, toda vez que se apresentou ocasião.
Na verdade, a grande revolta deflagrada na Índia contra os Ingleses, ocorreu em 1875, quando pôs em perigo toda a paciente obra de conquista com que a Companhia das Índias se apoderara do imenso território. Todavia ela não alcançou o objetivo visado, porque não soube unir os esforços de todos os rebeldes, e a guerra resumiu-se no assédio de Déli, que foi ocupada pelos Ingleses, após longa luta.
Após haver-se empenhado - mas não muito, porque a rebelião foi dominada pelas tropas aquarteladas na Índia, quase sem necessidade de socorros metropolitanos - em defender e ampliar seus domínios de além-mar, a Grã-Bretanha assistiu, mas com sincera simpatia, aos progressos da unificação italiana. Uma explosão de aplausos saudou a empresa dos "mil" de Garibaldi, e voluntários ingleses chegaram à Sicília, em auxílio do general nicense. A improvisa expansão da Alemanha de Bismarck apanhou os Ingleses desprevenidos. Os Tudescos eram considerados soldados medíocres, bons, quando muito, para desfiles, e certamente não se pensava que pudessem representar algum perigo; a rainha Vitória, de origem germânica, simpatizava por eles. A derrota da Áustria e depois a da França (a França, erradamente, era ainda o espantalho dos ingleses), fizeram com que todos mudassem de ideia, mas não despertaram alarma quanto a uma futura política expansionista da germânia, seja militar, seja comercial, a dano da Grã-Bretanha. Entrementes, lentamente, mas com ponderável decisão, a Inglaterra vinha atuando, graças a homens como Palmerston, Gladstone e depois Disraeli, as reformas que deviam transformar a nação numa verdadeira democracia; o direito de voto, graças a Bright e Gladstone, era estendido aos operários; livros, jornais, através de uma regulamentação do preço do papel, eram postos ao alcance de todos; a Instrução, prêza a absurdos esquemas medievais, era de acordo com o figurino alemão; e finalmente, Gladstone tratava de resolver aquele labirinto de problemas políticos, religiosos e sociais, que era a questão irlandesa. Mas agora, já terminada a guerra franco-prussiana, toda a Europa se preparava para gozar de um longo período de paz e, a Inglaterra, para atingir o máximo de seu poderio.
Outros fatos importantes dessa época a serem lembrados:
1 - A Inglaterra foi a primeira nação da Europa onde ocorreu, no século XIX, o grande desenvolvimento industrial, com relativa formação de grandes massas de operários. Suas penosas condições de vida, porém, bem cedo deram lugar a agitações, que mais tarde se transformaram nos primeiros sindicatos operários.
2 - Um dos mais longos reinados que a História relembra foi o britânico, da rainha Vitória, que durou quase sessenta e três anos. Ela foi a mais representativa figura da época e governou seu país através do mais glorioso período de sua expansão. ua visita a Napoleão II, em paris, consolidou a amizade franco-britânica.
3 - O ministro inglês Benjamin Disraeli era um judeu de origem veneziana. De 1874 a 1889, ele imprimiu à política exterior da Grã-Bretanha uma atividade mobilíssima, que fez dessa nação a maior potência do mundo de então.
Na França, o grande acontecimento do século XIX foi a 3ª República. Este século, como se viu, reservara á França um destino político extremamente variado e nem sempre favorável; duas vezes, à distância de poucos decênios, o país enfrentara o pavor de uma guerra de caráter europeu, e duas vezes fora derrotado. Mas, se contra Napoleão I todo o continente tivera que reunir suas forças, contra seu sucessor, a Alemanha sozinha vencera facilmente, destruindo, em poucos dias, o mito do poderio militar francês. O orgulho nacional sofreu terrível golpe, e desde 1871, encontravam fácil aplauso os demagogos que sonhavam com a "revanche"; duas províncias, a Alsácia e a Lorena, tinham sido arrancadas à mãe-pátria pelo tratado de paz e constituíam um foco de irredentismo, que encontrava eco imediato no coração de todos os Franceses. A derrota de 1870 perturbara não somente a economia, mas também as estruturas sociais e o ânimo dos franceses: o primeiro governo da nova República, que tinha à testa Adolfo Thiers, foi obrigado a enfrentar uma situação financeiramente desorganizada e politicamente tumultuosa. Já sabíamos como as ideias marxistas, de 1848 em diante, houvessem conquistado largas camadas da população operária de toda a Europa, promovendo a formação de numerosos partidos socialistas; ao lado dos socialistas, geralmente em franco contraste entre si, embora propugnando, em parte, o mesmo programa social, tinham-se desenvolvido as "Internacionais" ou anarquistas.
Eles, diferentemente dos Marxistas, que aspiravam à libertação das classes exploradas, pregavam a confraternização dos homens, superando as diferenças nacionais, num ideal de absoluta paridade de direitos; a abolição da propriedade, reportando-se ao estranho princípio de Proudhon ("a propriedade é um fruto" ), a reviravolta e o aniquilamento de todas as instituições políticas e religiosas; e tentaram realizar seu programa pela única maneira possível, através da revolução. As idéias dos anarquistas, cujo máximo expoente era o russo Bakunine, fermentaram na França, entre elementos exaltados.
Surgiu, assim, graças a um punhado de agitadores de todas as tendências, a "Comuna" de paris, que derivava seu nome do governo municipal da grande Revolução.Encontrando eco entre as classes de descontentes, os "comunardos"(comunistas) conseguiram apoderar-se da capital, obrigando Thiers a refugiar-se em Versalhes, com o governo e o exército. As hostilidades principiaram em março de 1871; os comunardos (pessoas que fazem parde de uma comunidade) recrutaram, à força, a população e opuseram, durante quase dois meses, uma violenta resistência aos exércitos regulares que tinham atacado Paris; em maio, as tropas de Mac-Mahon entravam na cidade e, durante uma semana, as ruas e as praças ficaram alagadas de sangue, enquanto esplêndidos edifícios ardiam em chamas, destruídos pela fúria vandálica dos comunardos. Um mes depois da entrada dos Tudescos em paris, em 18 de março de 1871, explodiram, na cidade, as desordens dos comunardos. A revolta terminou em maio, com a chamada "semana de sangue", durante a qual os soldados de Mac-Mahon fuzilaram muitíssimos insurretos. Durante a luta, foram incediados alguns dos mais antigos e históricos edifícios da cidade, como o "Tulherias" e o "Hotel de la Ville". Habituada a revoluções, derrotas e mudanças de governo, a França, com o poder de recuperação típico dos velhos povos, restabeleceu-se rapidamente do desastre militar e da rajada comunarda; os quarenta anos seguintes estavam destinados a ser os mais prósperos, de modo a consolidar, estavelmente, a Terceira República, tanto no interior como no exterior. Em 1869, tinha sido aberto o Canal de Suez; a França, principal artífice da empreitada, não soubera, ou não pudera, aproveitar para estender sua já notável influência, no Oriente Médio e no Egito, mas, poucos anos depois, se desforrava, ocupando a Tunísia, o que foi fonte de discórdia com a Itália, que já havia posto suas miras naquele território. O Canal de Suez foi inaugurado em 17 de novembro de 1869, graças ao qual os navios europeus podiam atingir a Ásia num espaço de tempo bem mais breve do que antes. As dificuldades da obra tinham sido, também, de ordem política, porquanto a Inglaterra e a Turquia se haviam demonstrado algo desfavoráveis ao corte do istmo. (Istmo é o corte que separa o o Mar Mediterrâneo do mar Vermelho, ligando o continente africano ao asiático).
Outra fonte de desacordo com a Itália, naqueles anos, foi a atitude nitidamente favorável ao papa, assumida pela França, na questão de Roma, e a aberta violação, de parte do governo italiano, do tratado estipulado com Napoleão II; finalmente, a entrada da Itália na Tríplice Aliança (com a Áustria e a Alemanha) impeliu a França a compor seus velhos dissídios com a Inglaterra e alcançar as bases da "Tríplice Entente". No interior, os movimentos anti-conservadores, socialistas, radicais e, portanto, anticlericais, ganhavam, sempre mais terrenos; à arenga em que as diversas tendências explodiram e se bateram, por muitos anos, com a definitiva vitória dos radicais e dos socialistas, foi, a bem dizer, estranho, um processo por traição; um desses processos que interessam durante anos a uma nação e que tomou o nome de "o caso Dreyfus", do nome do acusado (um oficial de artilharia francês, acusado de haver transmitido documentos aos Tudescos, condenado e depois reconhecido inocente); a revisão do processo foi, principalmente, a obra do escritor Zola e dos radicais-socialistas. Este fato teve enorme repercussão em toda a França e no exterior. A condenação do capitão Alfredo Dreyfus, aconteceu em 1894, era acusado de espionagem em favor da Alemanha. Foi a corajosa iniciativa do escritor Emílio Zola que conduziu a revisão do processo, após alguns anos de luta encarniçada contra os meios conservadores, então no governo.
O século XIX viu o enorme desenvolvimento do ferro em todas as suas aplicações como, por exemplo, as estradas de ferro e a construção da Torre Eiffel, esta conduzida brilhantemente pelo engenheiro Alexandre Gustavo Eiffel, com 300 m de altura, para a exposição mundial de 1889. Teve muita discussão entre os que eram a favor e os contrários, mas daí por diante, constitui um elemento inconfundível de Paris.
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