Total de visualizações de página

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

A DESINTEGRAÇÃO DO IMPÉRIO OTOMANO

 



              Entre o início de século XIX e o fim da Primeira Guerra mundial , o Império Otomano desintegrou-se, apesar dos grandes esforços realizados para reformar e modernizar sua estrutura. A constante penetração comercial  e colonial européia no Levante e no norte da Africa minaram sua frágil economia, e as crescentes demandas de independência nacional entre os povos súditos provocaram a separação ou a perda  para domínios estrangeiros de grandes regiões.
           O período entre 1800 e 1923 assistiu lentamente à fragmentação do Império  Otomano. Assolado por guerras e revoltas dos povos subjugados, que exigiam a independência, o Império foi pouco a pouco perdendo territórios. Diante  da desintegração gradual, guerras e ruína financeira, os sultões tentaram reformar o Estado. Mas, ao mesmo tempo, crescia a oposição ao governo, culminando na Revolução Turca Jovem de 1908/9. Os governos, porém, estavam de mãos atadas, pois o destino do Império era, em parte, decidido pelas grandes potências. Estas preferiam a sobrevivência de um Estado otomano enfraquecido à ausência de poder no sudeste da Europa, o que poderia levar ao colapso total. 
              A expedição napoleônica ao Egito em 1798 foi o primeiro sinal do  renovado interesse pela região manifesto pelas grandes potências. Napoleão foi derrotado pelos britânicos. A paz foi conseguida em 1802 e, três anos depois, Mohamed Ali foi designado governador pelo sultão. Em sua administração e no governo de seu filho Ibraim, o Egito foi independente  da Sublime Porta (governo otomano). Ibraim invadiu a Síria e a Anatólia e derrotou o exército otomano, em 1839, na batalha de Nejd. Em 1841, o sultão reconheceu Mohamed Ali como vice-rei hereditário do Egito e Ibraim como governador de Creta. Em 1881, os franceses anexaram a Tunízia; no ano  seguinte, os britânicos ocuparam o Egito.  Houve guerras contra a Rússia, rebeliões nas províncias árabes e revoltas frequentes noa Bálcãs. As revoltas haviam começado em 1821, com a Guerra da independência grega, que resultara no reconhecimento do Reino Grego, em 1830. Os otomanos já haviam perdido 40% de seu império em 1882 e mais do que isso no início de século XX. As Guerras dos Bálcãs terminaram em 1913, com os otomanos renunciando a maior parte das ilhas do Egeu, Creta, Trácia, Macedônia e Albânia. No norte da África, em 1912, os italianos tomaram a Líbia. Entre 1908 e 1913, o governo otomano foi obrigado as ceder 30% de seus territórios restantes. 
           A invasão napoleônica, portanto, marcou o começo assimilação cultural entre o Ocidente e Oriente. Os europeus levaram a tecnologia, as ideias políticas e filosofias a uma região que não conheceu nem o Renascimento nem a Ilustração. No Egito propriamente dito, o ano de 1798, marcou o fim do domínio real de Constantinopla; o comandante otomano do Egito, Mohamed Ali, enviado em 1803 para restabelecer a ordem, fundou uma dinastia em 1805 que durou até a revolução de 1952. O filho de Mohamed Ali, Ibraim Pascha, dirigiu as expedições  a Nejd para submeter os wahabitas, adeptos de um tipo de Islã puritano, de desafiaram a autoridade otomana em Hejaz e no Iraque. Ibraim Pascha também conquistou toda a região compreendida entre o Egito e a atual Turquia, entre os anos de 1831 e 1839, e somente foi dissuadido de aniquilar a autoridade central do império pela pressão  da Grã-Bretanha e da França. Posteriormente, as pretensões egípcias se limitaram ao próprio Egito e Sudão. 
             Nesse período, as grandes potências interferiram nos negócios otomanos. O Protocolo de Londres, de 1830, estabeleceu o Reino da Grécia, garantido pela Grã-Bretanha, Rússia e França. O governo hereditário de Mohamed Ali, no Egito, foi organizado, em 1840, pelo Tratado de Londres, através  de um acordo entre Rússia, Áustria, Prússia, Grã-Bretanha e governo otomano. 
           Enfrentando estes e outros desafios à sua autoridade, o Império Otomano teve de adotar uma série de importantes reformas nas forças armadas e no âmbito das leis, da educação, da religião e do governo. 
             Durante o século XIX, os sultões tentaram modernizar o Império. Fizeram reformas militares nem sempre bem-sucedidas; Selim III pretendia criar um exército moderno, mas foi deposto em 1807, quando suas tropas se amotinaram contra as reformas. Esforços anteriores para introduzir reformas também haviam fracassado, devido à intransigência das forças militares tradicionais, os janízaros, que recebiam como uma ameaça a sua própria situação. Foi Mahmud II (1808 a 1839) quem resolveu evitar este obstáculo, ao dissolver o poder dos janízaros em uma sangrenta batalha em 1826. Dois editos, um de 1839 e outro de 1856, garantiram os direitos dos súditos a sua segurança pessoal e a de seus bens e a total igualdade entre muçulmanos e cristãos no império. Estas reformas significaram também pagar tributos justos e reduzir o serviço militar. O novo marco legal não se ajustou de todo à realidade; logo a oposição começou a surgir. Além disso, a ênfase na igualdade entre muçulmanos e cristãos serviu como desculpa para a intervenção das potências europeias em nome de seus protegidos cristãos e outros; os ortodoxos, receberam o apoio da Rússia;os maronitas e outros católicos, a proteção da França; os drusos e judeus foram protegidos pelos britânicos. A intervenção estrangeira foi uma das causas da Guerra da Crimeia (1853 a 1856) e da crise do Líbano de 1860 a 1861, ao passo que a pressão da Rússia e da Áustria foram transcendentais para assegurar a independência da Bulgária, Montenegro, Sérvia e Romênia nos meados de 1878. Em 1876, a situação na Bulgária levou à convocação, pela Grã-Bretanha de uma conferência internacional, em Istambul. Embora o sultão desaprovasse  a convocação, não teve forças para impedi-la. Mas ele rejeitou as propostas da conferência, o que levou a sua dissolução e à criação do Protocolo de Londres,  de 1877. Esse protocolo exigia a desmobilização  dos exércitos russo e otomano nos Bálcãs e a introdução de reformas, sob a supervisão das grandes potências. Em 1878 as regalias concedidas aos russos  pelo Tratado de Santo Estêvão alarmaram as outras potências. Um acordo de paz menos favorável à Rússia foi elaborado no Congresso de Berlim,no mesmo ano. 
            As finanças Império se deterioraram rapidamente até que, em 1875, o Estado praticamente faliu e o sultão Abdulaziz suspendeu o pagamento dos juros da dívida otomana. O Império tornou-se dependente  de governos estrangeiros. No final de 1881, o sultão concordou com a supervisão das finanças do governo por banqueiros europeus. Pelo decreto de Muharrem, foi criada  a Comissão da Dívida Pública Otomana. 
             De modo que, ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano estava reduzido ao que atualmente é a Turquia, um pequeno território do sudeste da Europa, e às províncias árabes na Ásia. Mais a oeste, o norte da África estava totalmente dominado pelas potências; os franceses invadiram a Argélia em 1830 e no ano de 1900 já havia cerca de 200 mil colonos franceses instalados ali. Fatos semelhantes ocorreram em Túnis, ainda que em, menor escala, depois da invasão francesa de 1881; no Marrocos - que, na realidade, nunca fez parte do Império Otomano - depois de 1912, e na Líbia, invadida e colonizada pela Itália, depois de 1911. No Egito, o aparecimento do nacionalismo e os perigos que representou para os investimentos estrangeiros, estimados, então, em 100 milhões de libras esterlinas, serviram de pretexto para a ocupação britânica em 1882. 
            Na outras províncias árabes houve manifestações de descontentamento, sobretudo durante o longo e opressivo reinado de Abdul-Hamid II (1876 / 1909). Os ideais de autonomia, encorajados pelo ressurgimento da literatura árabe e as campanhas para reformar este idioma, pouco a pouco foram conseguindo uma maior aceitação. Abdul-Hamid havia suspendido o Parlamento, que representava um dos maiores êxitos da segunda onda de reformadores otomanos, em 1878. A oposição a seu regime culminou com a resolução dos Jovens Turcos de 1908/1909, apoiada pela maioria dos grupos étnicos que restavam no império. Entretanto, depois dessa revolução, o governo passou a "enfatizar o caráter turco" de todas as instituições governamentais, legislativas e educacionais, atitude que terminou por alienar muitos árabes e, em larga medida, serviu para chegar a um convênio com a Grã-Bretanha durante a Grande Guerra. Mas, posteriormente, se viram decepcionados, posto que as consequências do arrojo de paz terminariam por colocar a maior parte do Oriente Médio sob o firme domínio colonial britânico e francês. Após a derrota da Turquia, seu novo governante, Mustafá Kemal (Ataturk), aboliu o califado e tentou organizar um Estado exclusivamente secular. 
            À medida que o processo de desintegração continuava, apareceram novas formas de comércio e comunicações, sem grande parte financiados com capitais estrangeiros, que começaram a transformar o império. Em 1914, a Turquia e o Egito já contavam com uma importante rede ferroviária, bancos, companhias de mineração e serviços públicos, tais como empresas portuárias, de transporte urbano, de água potável e eletricidade. O norte da África e o Oriente Médio converteram-se em importantes mercados para os produtos europeus. Desse modo, a Argélia começou as exportar vinha, o Líbano a produzir seda e, talvez o fato mais importante, o Egito iniciou a exportação de algodão. A partir de 1822, a demanda pelo algodão egípcio chegou a multiplicar-se dez vez\es durante a guerra civil norte-americana e em seguida quase triplicou novamente, chegando aos 27 milhões de libras esterlinas antes de 1914. 
             Após a Primeira Guerra Mundial, na qual  a Turquia entrou em 1914, ao lado dos alemães, o Oriente Médio caiu sob controle  britânico e Francês. O sultão colaborou com a Grã-Bretanha, mas o sultanato foi abolido por Mustafá Kemal, líder da oposição, em  1920. Dois anos antes a Turquia  assinara o Tratado de Sèvres, desfavorável ao país. Em 1923, foi assinado o Tratado de Lausanne, constituindo uma nova Turquia dos escombros  do Império Otomano. 
          A partir do século XIX, o Irã teve uma evolução política semelhante.  A dinastia Kajar (1779/ 1924) sofreu a constante intervenção britânica e russa em seus assuntos internos, culminando com a divisão do país em esferas de influência das duas potências, em 1907. Contudo, a Rebelião do Tabaco de 1896/1898 e a Revolução Constitucional de 1905/ 1911 serviram para despertar a consciência nacional e política, até que, finalmente, a dinastia Kajar foi destituída por um golpe militar liderado por Reza Khan Pahlevi, em 1924. No período entre as duas guerras foi descoberto o petróleo na Península Arábica, Irã e Iraque, o atrativo mais apreciado e cobiçado da região. 

PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo

            

Nenhum comentário:

Postar um comentário