A partir do ano 1945, o Oriente Médio passou por uma situação de agitação quase permanente e, sobretudo na última década, observou-se um grande aumento da violência e do sofrimento humano. Quase todos os governos da região foram extremamente autocráticos ou na forma de ditaduras militares; a maioria das regiões revelou-se repressiva com as comunidades minoritárias, os dissidentes políticos e, inclusive, com as organizações políticas.
Imediatamente após a Segunda Guerra mundial, um misto de cansaço, depressão econômica e oposição interna obrigaram à Grã-Bretanha e a França a abandonarem de forma gradual o controle sobre a região. Estas mudanças foram acompanhadas de um crescente nacionalismo, continuando na década de 50, e que junto com o fim do isolamento soviético impulsionou os estados Unidos a interessarem-se mais ativamente pelos assuntos do Oriente Médio. A "Doutrina Eisenhower (1957) prometeu ajuda norte-americana aos regimes supostamente ameaçados pela agressão soviética. As intimidações veladas e abertas dos estados Unidos, sobretudo na Jordânia em 1957 e no Líbano em 1958, incitaram os outros Estados a estabelecer relações políticas e militares mais estreitas entre si e com a União Soviética.
Nos anos de 1950 e 1960, os estados Unidos converteram-se na influência externa mais poderosa do Oriente Médio, utilizando o temor à expansão soviética como pretexto para aumentar seu apoio a Israel, que junto com Arábia saudita e ao Irã (até 1979) representaram os interesses norte-americanos na região. A instabilidade inerente dos Estados revolucionários" (Egito, Iraque e Síria) tornava-os sócios pouco confiáveis para a União Soviética. Os países árabes não podiam aliar-se de forma efetiva contra Israel, em parte porque deviam manter suas tropas regulares em suas capitais em épocas de crise para sustentar seus regimes impopulares.
A criação do Estado de Israel provocou um clima de guerra com os árabes palestinos. Por causa do conflito, dois terços da população árabe tiveram de abandonar seus lares. Em 1948, soldados israelenses celebravam o estabelecimento do primeiro Estado judeu na Palestina desde a conquista romana. Israel prosperou graças às diferenças entre os países árabes, especialmente à medida que evidenciou-se, nos anos 70, que a União Soviética não estava disposta a se arriscar em uma confrontação com Israel. A invasão do Afeganistão em 1979, considerada a ação militar de maior envergadura da União Soviética, foi uma aberração mais onerosa do que sintomática de uma política global.
Durante séculos, a Palestina foi povoada por uma maioria muçulmana de idioma árabe e por minorias cristãs e judaicas, mas no final do século XIX, as proporções começaram a mudar à medida que os judeus da Europa Oriental passaram a migrar, devido à pressão da perseguição russa e movidos pelo novo ideal sionista de voltar a formar um estado nacional judeu. Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, o governo britânico declarou que era partidário da criação de uma pátria judaica na Palestina, desde que a situação da população não-judaica não fosse prejudicada. Estas duas condições ficaram assinaladas no mandato em virtude do qual a Grã-Bretanha administrou o país, sujeito à supervisão da Liga das Nações. Mas tais condições tornaram-se difíceis de conciliar, sobretudo depois que Hitler chegou ao poder e devido ao aumento considerável da emigração judaica a partir da Europa. Os temores árabes deram lugar a um grave insurreição antes da Segunda Guerra Mundial. Após a gurra e o holocausto dos judeus europeus, houve a exigência de que se permitisse aos sobreviventes imigrar. A pressão norte-americana em apoio a esta medida e o temor dos árabes de que a imigração conduzisse ao domínio ou ao despojo obrigaram o governo britânico a declarar sua intensão de retirar-se da região.
No dia 29 de novembro de 1947, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou um plano de divisão da palestina em dois Estados, um árabe e outro judeu, em virtude do qual Jerusalém ficaria sob controle internacional. O plano foi recusado pelos árabes. No dia em que as tropas inglesas se retiraram, em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclamou o Estado de Israel e em seguida eclodiu uma guerra entre judeus e árabes palestinos apoiados pelos Estados árabes vizinhos, cujos exércitos foram derrotados. A maior parte da Palestina passou a ser o Estado de Israel; o restante foi juntado com a Transjordânia, para converter-se em Jordânia, e a Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito. Durante e após a luta, dois terços dos árabes palestinos passaram a ser refugiados na Jordânia, em Gaza, na Síria e no Líbano, que foram substituídos, em sua maioria, por imigrantes judeus provenientes do norte da África e do Oriente Médio. Entretanto, depois de 1948, os refugiados palestinos manifestaram seu desejo de voltar e ter seu próprio Estado; Israel negou-se a ouvir as demandas dos palestinos e os estados árabes negaram-se a reconhecer Israel. Estes fatores, junto com a intervenção das forças externas, tiveram como consequência três guerras: em 1956, os israelenses, após sofrerem crescentes incursões guerrilheiras, atacaram o Egito, em conivência com a Grã-Bretanha e a França, mas foram obrigados a retirar-se pela pressão dos estados Unidos e da Uni]ão Soviética;em junho de 1967, os israelenses mobilizaram-se para evitar a ameaça que representa o fechamento dos Estreitos de Tiran ao tráfego naval israelense por Nasser e ocupou a margem ocidental do Rio Jordão (depois que a Jordânia se aliou ao Egito). O Sinai e as Colinas de Galã, na Síria; em 1973, um ataque egípcio e sírio contra Israel não teve êxito militar e abriu uma nova etapa de negociações. O presidente Sadat, do Egito, não desejava continuar a luta e sua visita a Jerusalém (em novembro de 1977), seguida pelos acordos árabe-israelenses de Camp David (1978), assim confirmou a sua intensão. Entretanto, o governo do partido Likud, liderado por Begin, começou a endurecer sua posição em relação àq margem ocidental (que diziam formava parte do Israel bíblico), aumentando consideravelmente os assentamentos nessa região. O centro do conflito mudou-se em 1978, quando Israel invadiu o sul do Líbano para reagir à atividade guerrilheira Palestina da OLP, e as forças israelenses chegaram a Beirute no verão de 1982.
O sistema político libanês baseia-se na distribuição de cargos entre as diversas comunidades (moronita, ortodoxa, católica, cristãos armênios, sunitas, muçulmanos xiitas e drusos) de maneira tal que assegure o predomínio dos maronitas, ainda que na década de 70 não fosse a maior comunidade. As forças de oposição uniram-se aos guerrilheiros palestinos (OLP) em meados dos anos 70 para tentar obrigar os maronitas a aceitar a criação de um Líbano democrático e secular, mas as duas forças foram controladas graças à intervenção da Síria em 1976. Posteriormente, o Líbano se converteu no principal cenário do conflito árabe-israelense. O país foi ocupado de forma permanente por tropas sírias e as forças israelenses o invadiram duas vezes: em 1978 e,em maior escala, em 1982, quando expulsaram a OLP de Beirute. A retirada de israel, em 1985, não serviu para controlar a reorganização, de fato, do países os conflitos entre facções - nas quais a força xiita de Amal e Hezbolá tiveram um papel preponderante - continuaram até fins da década de 80.
O conflito "árabe-israelense", dominou a política do Oriente Médio a partir de 1948. Da mesma maneira que as quatro guerras mais importantes entre os países árabes e Israel, o conflito se transferiu para o Líbano, devido ao grande número de palestinos que vivem neste país e porque a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) usou-o como base para operações guerrilheiras contra Israel desde 1948. A partir de sua fundação, Israel estendeu suas fronteiras de 1948 em direção à margem ocidental do Rio Jordão e a Gaza (1967), à Península do Sinai (1956, 1967, 1982), às Colinas de Galã (em 1967 e oficialmente incorporadas a Israel em 1981), controlando grandes áreas do sul do Líbano desde 1978. A visita do presidente egípcio Anuar el-Sadat a Israel em 1977 e o tratado bilateral entre ambas as nações assinado posteriormente resultavam na devolução da Península do Sinai para o Egito em 1982. Israel justificou esta expansão territorial e a criação de um grande número de assentamentos na margem ocidental ocupada, declarando que necessitava assegurar suas fronteiras e proteger seus cidadãos contra os ataques guerrilheiros. Cerca de 300 israelenses morreram em consequência destes ataques entre 1967 e 1982, alguns em incidentes particularmente bárbaros, como o massacre de Maalot, em março de 1978, onde a maioria das 34 vítimas e 78 feridos eram crianças. Entretanto, na invasão do sul do Líbano, como represália, 2 mil civis palestinos e libaneses foram mortos, e entre 15 e 20 perderam a vida nas operações em torno de Beirute nos meses de junho e agosto de 1982.
Apesar de que a tônica no conflito árabe-israelense foi a violência, também se obtiveram algumas importantes aproximações como os acordos de paz de "Camp David", nos quais participaram o primeiro-ministro israelense Manahem Begim e o presidente egípcio Anuar el-Sadat, em Jerusalém, no ano de 1977, e pelos quais ambos dividiriam o Prêmio Nobel da Paz em 1978.
O caminho da paz, na verdade, continuou difícil. os momentos de tranquilidade diminuíram entre árabes e israelenses; em 1987, a OLP convocou o levante palestino nos territórios ocupados e a luta desigual que sustentou com o Exército israelense atraiu novamente a atenção do mundo. A Intifada criou uma situação desagradável para Israel; a guerra não convencional e não declarada o obrigou a radicalizar as medidas repressivas, que resultaram na deterioração de sua imagem internacional e desgastou a moral nos territórios ocupados de Gaza e Cisjordânia. Iniciando a década de 1990, a realidade da sociedade israelense, com a rebeldia da juventude, os movimentos pacifistas, a crise econômica, a desilusão militar e o desejo de finalizar a guerra por parte da maioria silenciosa, abriu caminho, nos setores mais progressistas, à ideia de trocar a paz por terra, que não foi compartilhada pleos setores conservadores.
As mudanças sofridas pelo mundo nos últimos tempos alteraram a situação árabe-israelense. A queda da União Soviética como potência rompeu a bipolaridade e deixou sem apoio os aliados árabes da ex-URSS e a OLP, que contava com suas simpatias, modificando assim a situação no Oriente Médio.
A Guerra do Golfo foi outro pólo desestabilizador. Israel teve de suportar ser alvo dos mísseis do líder iraquiano Saddam Hussein, sem responder a eles em respeito aos novos amigos dos norte-americanos. Mas quem mais perdeu com o resultado da Guerra do Golfo foi a OLP e Yasser Arafat, que se alinharam junto ao derrotado Hussein e perderam com isso a amizade e ajuda financeira tanto dos Emirados como da Arábia Saudita, provocando a crise na organização. Todos estes acontecimentos tornaram compreensível a análise "realista" tanto israelense como palestina, que os aproximou a um acordo que antes parecia inaceitável.
Em setembro de 1993, o líder da OLP, Yasser Arafat, e o trabalhista Yitzhak Rabin, que subiu ao poder em Israel em 1992, dispuseram-se a negociar: primeiro em Oslo, depois em Túnis e Jerusalém, até que em Washington, israelenses e palestinos chegaram a um acordo de paz. O Acordo "Gaza e Jericó primeiro" não resolveu todos os problemas que arrastavam décadas de guerra; não existia compromisso da criação de um Estado palestino, nem consignava a situação de Jerusalém ou das fronteiras, mas a autonomia restringida implicava na retirada antecipada das tropas israelenses da Faixa de Gaza e da Cisjordânia de Jericó. Apesar das negociações continuarem, o acordo de paz subscrito em Washington, no dia 13 de setembro de 1993, entre Arafat e Rabin, representou o primeiro passo.
Nas últimas décadas foram feitos esforços para solucionar os problemas da pobreza e do subdesenvolvimento da região. Mesmo quando foram dados grandes passos em matéria de saúde, educação e serviços de bem-estar social em muitos países, a combinação de políticas estaduais e a crescente inflação tenderam a aumentar as diferenças entre ricos e pobres. A rapidez das mudanças, a ideia de que o Ocidente e a "modernização" são culpadas por muitos males contemporâneos e a falência moral e ideológica da maioria dos regimes políticos uniram-se para criar um sentimento de perplexidade e impotência. Portanto, não é de estranhar que grande parte dos jovens e migrantes sintam-se frustrados pela prática de um tipo de "islamismo político".
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