A GRANDE HISTÓRIA DO HOMO SAPIENS
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terça-feira, 26 de março de 2024
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024
domingo, 12 de novembro de 2023
domingo, 31 de janeiro de 2021
AMÉRICA LATINA A PARTIR DE 1930 --
A Grande Depressão de 1929 representou um duro golpe para a América Latina, cortando o fluxo de capital estrangeiro e baixando os preços dos produtos primários no mercado mundial. Como consequência, muitos países foram levados a implantar programas de industrialização destinados a substituir importações. Isso provocou situações difíceis em países sem força política para se proteger. A tradicional economia de exportação primária foi modificada, embora não totalmente, tanto pela Grande Depressão como pela Segunda Guerra Mundial. Trabalhadores urbanos perderam confiança em partidos radicais e liberais da classe média, que até então representavam seus interesses, e voltaram-se para líderes populistas - como Getúlio Vargas, no Brasil, e Juan Perón, na Argentina - que acenaram com soluções mágicas imediatas para a situação e aceleraram o processo de industrialização. Com apoio de organizações de trabalhadores, esses líderes cativaram as massas prometendo aumentos salariais, mais empregos e possibilidade de sindicalização (ainda que sob controle do Estado, como foi o caso do Brasil). Mas foram incapazes de opor-se aos interesses dos militares ou de facções da oposição. Em 1954, com o enfraquecimento de sua base de apoio, Getúlio Vargas acabou se suicidando. No ano seguinte, na Argentina, Perón foi deposto pelos militares.
A busca do desenvolvimento econômico e da independência obteve sucesso parcial em alguns países onde foi promovida a substituição de importações. Contudo, a região continuou a depender dos países desenvolvidos para exportação de bens de produção, além da dependência em tecnologia e capitais.
A perspectiva de reformas começava a minguar até o México, país da revolução. Foi na década de 30 que Lázaro Cárdenas incrementou a distribuição de terras para camponeses e nacionalizou a indústria petrolífera. Nos anos 40, a ênfase dada à industrialização, ao investimento estrangeiro e ao estreitamento dos laços com os EUA enfraqueceu as reformas da década anterior.
Em alguns países como Uruguai, México, Brasil e Argentina, as mudanças produziram resultados visíveis. Mas dois fatores limitaram a expansão industrial. Em primeiro lugar, o aumento da população superou o desenvolvimento econômico. Em segundo lugar, com a industrialização durante a Segunda Guerra, grandes lucros foram acumulados, mas pouco sobrou para os trabalhadores, ampliando o abismo entre ricos e pobres.
Se a industrialização não resolvia os males econômicos e sociais, o marxismo e o exemplo da URSS forneciam inspiração ideológica alternativa. Os partidos comunistas já existiam na América Latina desde os anos 20, mas tiveram pouca influência até o presidente Árbenz da Guatemala, simpatizante do marxismo, empreender um programa de reforma agrária em 1951, mas seu projeto teve curta duração. Árbenz foi deposto em 1954 por conservadores apoiados pelos EUA. A revolução guatemalteca evidenciou o dilema dos anos 50, de instituir um estado do bem-estar social sem recursos para sua manutenção. E questionou até que pontos os investimentos em bem-estar social impedem o crescimento econômico em vez de promovê-lo. O problema foi sentido após a revolução nacionalista boliviana, em 1952, quando as minas de estanho foram nacionalizadas e a reforma agrária promovida. Mas a inflação e a queda de produtividade corroeram os ganhos.
Em 1959, a revolução cubana buscou conquistar mudanças sociais e crescimento econômico. Durante todo o governo comunista de Fidel Castro, a posse da terras tornou-se coletiva, as empresas foram nacionalizadas, o ensino tornou-se exclusivamente público e a saúde foi disponibilizada para todos. Mas o custo dessas vantagens foi a perda de liberdade política e a existência de rígido controle centralizador. Apesar dos esforços de Cuba em se industrializar, o açúcar continuou o principal artigo de exportação e cresceu a dependência de países comunistas. Cuba está falida até hoje.
Mesmo com o empobrecimento maciço, a revolução cubana tornou-se modelo para movimentos urbanos e rurais na América Latina, no Uruguai, Argentina, Brasil e Bolívia. Na Bolívia, o movimento de guerrilha rural de Che Guevara representou séria ameaça às forças de segurança até sua morte em 1967. A guerrilha urbana apresentava um enfoque revolucionário alternativo, mas sua base política era muito limitada para atingir seus objetivos. Ao mesmo tempo, partidos de centro-esquerda tentavam provar que reforma e liberdade não precisavam ser incompatíveis. Na Venezuela e no Chile, a pressão popular por reformas tornou-se irresistível. Em 1970, a eleição de Salvador Allende, no Chile, significou o retorno de um governo marxista, mostrando que a mudança social podia ser obtida por meios constitucionais. Mas a pressão de latifundiários, da comunidade de negócios e dos EUA resultou num golpe de Estado em 1973 e no regime militar de Pinochet, que durou até 1989.
As consequências políticas trazidas pela Grande Depressão foram diferentes em cada país, mas ficou evidente uma tendência para o nacionalismo e para ditaduras de direita ou populistas. Os conflitos ideológicos mundiais, após 1945, refletiam-se nas revoluções da Guatemala, Bolívia e Cuba. A revolução cubana teve seguidores. Mas nenhum deles foi bem-sucedido.
Enquanto isso, a economia dos vinte países latino-americanos passou por mudanças estruturais. Os investimentos na indústria e no comércio se expandiram e as exportações de produtos agrícolas e de mineração perderam terreno. Com isso, outras classes políticas e sociais tomaram o lugar das oligarquias; houve explosão demográfica urbana e a nova concentração de riqueza aumentou as pensões sociais. A dependência da importação de bens de capital, matérias-primas, tecnologia e capitais estrangeiros produziu endividamentos externos que as exportações tradicionais ou de manufaturados não puderam cobrir. Nos anos 70, em diversos países, governos militares combinaram conservadorismo político e social com liberalismo econômico. Regimes mais liberais, como México e Venezuela, governaram com prosperidade econômica graças à elevação dos preços do petróleo em 1973. A queda na demanda de petróleo e gastos excessivos do governo, porém, lançaram uma sombra sobre seu desenvolvimento. Venezuela, totalmente dependente do petróleo, tentou um regime comunista, mas está totalmente falida.
Outros regimes viram suas economias de livre mercado desafiadas pela recessão mundial, após 1973. Dois governos militares (Argentina e Brasil) reagiram á recessão econômica e à oposição política adotando medidas especiais até os anos 80. Em 1983, fracassou a tentativa da Argentina de ocupar as ilhas Falklands (Maldivas), em poder da Grã-Bretanha; a pretensão de arregimentar apoio para uma causa nacional acabou levando à queda do regime militar.
Na América central, movimentos de esquerda levaram à derrubada do regime de Somoza pelos sandinistas, em 1979 na Nicarágua, e a guerra civil em El Salvador, entre o governo apoiado pelos EUA e os guerrilheiros da Frente Farabundo Marti de libertação Nacional (FMLN). Na Nicarágua, os EUA apoiaram os "contras", que buscavam depor o governo sandinista. Em 1989, após acordo, a candidata da oposição, Violeta Chamorro, foi eleita presidente.
Na década de 80, três problemas predominaram na América Latina: a crise das dívidas externas continuou fora de controle; inflação, desemprego e crescimento demográfico ameaçaram com crises os governos democráticos do Brasil, Argentina, Chile e Peru; e, por fim, a aparentemente insaciável demanda dos EUA e da Europa por narcóticos fez surgir uma economia paralela, que aumentou a tensão entre as áreas de produção e tráfico de drogas: Colômbia, Bolívia, Peru, Panamá e EUA. Em 1989, tropas dos EUA invadiram o Panamá e afastaram o chefe de Estado, Manuel Noriega, para que respondesse num tribunal dos EUA às acusações de ligação com o tráfico de drogas.
O crescimento demográfico tem sido tão rápido que nem a modernização da agricultura nem a expansão industrial foram capazes de absorvê-lo. A reforma agrária não conseguiu transformar as condições vigentes no campo nem deter a migração das populações rurais para as cidades.
Ainda assim, em meados dos anos 90, prevaleceu na América Latina os governos democráticos. No Brasil, o presidente Collor enfrentou um processo de "impeachment" por corrupção. No Peru, o Sendero Luminoso, de extremas esquerda, iniciou uma selvagem guerra civil. O presidente Fujimori suspendeu a Constituição em 1992. O governo do México, após privatizar indústrias-chave, assinou, em 1992, o Acordo de Livre Comércio Norte Americano (Nafta), com Canadá e EUA, criando o maior bloco comercial integrado do mundo. Seus efeitos sobre as economias dos três signatários, no entanto, permaneceram incertos.
Nicéas Romeo Zanchett
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O MUNDO A PARTIR DE 1990 --
No início da década de 90, uma profunda mudança estrutural transformou o sistema político internacional, levando à reorganização da economia mundial. O principal acontecimento foi o fim da Guerra Fria com o colapso do bloco soviético em 1989 e a desintegração da própria URSS em 1991. Os EUA já não dominavam a economia mundial. Esta estava cada vez mais globalizada, contribuindo para isso a redução de barreiras ao livre fluxo de capital e o incentivo à distribuição e à produção em larga escala, graças ao desenvolvimento das comunicações e da computação. No entanto, uma tendência ao regionalismo produziu a incipiente "tríade" de blocos comerciais, centralizada na América do Norte, Europa (Comunidade Européia) e Japão. Desigualdades na distribuição da riqueza continuaram e se agravaram com o advento de tecnologias avançadas, que marginalizaram a economia dos países em desenvolvimento.
Apesar do aumento sem precedentes da prosperidade após a Segunda Guerra, entre 1960 e 1992, dobrou em todo o mundo a diferença entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres. O fraco desempenho econômico dos países em desenvolvimento pode ser atribuído, em parte, ao rápido crescimento da população, não acompanhado de um adequado crescimento da renda. O crescimento populacional perdeu força no final da década de 80, mas, a longo prazo, permanece preocupante. Cuidados com a saúde reduziram as taxas de mortalidade infantil e aumentaram a expectativa de vida, mas em áreas de alimentação escassa, como a África subsaariana, a fome crescia no início da década de 90.
O processo resultante da globalização afetou o mundo em desenvolvimento, especialmente porque a concorrência econômica deslocou-se, no final dos anos 80, do comércio para o capital. Entre 1984 e 1989, o fluxo de Investimento Externo Direto (IED) aumentou em 29% ao ano - três vezes mais que o comércio - para alcançar um total de U$$ 1,5 trilhão. O crescimento do comércio mundial de mercadorias, por outro lado, caiu de 8,5% em 1988 para 3% em 1991, o pior resultado desde 1983.
O investimento externo direto - em atividade produtiva em outro país - implica na estabilidade e na economia do país anfitrião e é indicador-chave das tendências de desenvolvimento. No início dos anos 80, os países em desenvolvimento perceberam ser cada vez mais difícil atrair IED e financiar dívidas com exportações.
Fluxos de Investimento Externo Direto (IED) revelaram que a globalização da economia mundial tem sido limitada aos países mais ricos, organizados progressivamente como uma "tríade" de blocos econômicos. 70% do IED da "tríade" foi destinado a outros países desses blocos, o que reflete a falta de confiança em projetos de crescimento econômico sustentado a longo prazo em outros países. Ao se comparar o fluxo das drogas e o IED, vê-se que a eliminação do tráfico de drogas será difícil sem a redução da demanda em países ricos, o que faz o tráfico ser tão lucrativo, especialmente para países onde é difícil atrair investimentos a longo prazo.
Durante as décadas de 60 e 70, os países em desenvolvimento atraíram grandes somas de IED, principalmente pelo baixo custo da mão-de-obra. Com as inovações reduzindo os ciclos de produção e com uso de máquinas computadorizadas, o baixo custo da mão de obra ficou em segundo plano. Esse fator e a política das multinacionais para acesso aos mercados das economias da "tríade" levaram o IED nos países em desenvolvimento a níveis reduzidos - de 25% do total mundial no início dos anos 80 para 17% entre 1985 e 1990. À medida em que ocorria a integração econômica entre os países da "tríade", barreiras econômicas externas restringiam o acesso aos mercados mundiais, penalizando os países em desenvolvimento com perdas de U$$ 500 bilhões por ano.
Alguns países em desenvolvimento tinham vantagem competitiva na produção e distribuição de drogas ilícitas, um negócio de U$$ 500 bilhões anuais (números da ONU de 1992), perdendo somente para o comércio mundial de armas. O comércio ilegal de drogas prosperou numa economia mundial integrada, com a desregulamentação financeira facilitando a "lavagem" de dinheiro. Em 1988, cerca de USS 85 bilhões originários de tráfico foram "lavados" nos EUA e Europa. Em 1992, esse número subiu para U$$ 250 bilhões.
A produção de drogas é fonte vital de dinheiro e emprego. Na Bolívia, nos anos 90, cerca de 400 mil dos 6,5 milhões de habitantes trabalhavam com o comércio de drogas. Atualmente o país tem cerca de 10 milhões de habitantes, e grande parte da população ativa continua trabalhando no cultivo de drogas. Embora o crime organizado seja o mais beneficiado, os indivíduos também lucram. No Peru, cultivadores de coca ganham em média de U$$ 1,500 mil a U$$ 2 mil em 1990. Seu faturamento bruto por acre foi dez vezes maior que o de um produtor de café. Em 1991, a Colômbia exportou cerca de 200 toneladas de cocaína para a Europa. As apreensões europeias de cocaína saltaram de 1,5 tonelada em 1986 pata 16 toneladas em 1991.
A transição pós-comunista para economias de mercado e o controle menos rigoroso das fronteiras estimulou a produção de drogas na Europa Oriental e na Rússia e abriu novas vias de acesso para fornecedores tradicionais. Em 1992, agricultores da URSS cultivavam cerca de 3 milhões de acres de maconha e um número crescente de acres de papoula. Na Ucrânia, agricultores pobres cultivam esses produtos até em "zonas proibidas"ao redor do reator de Tchernobil, local de explosão nuclear em 1986. Nem todos os governos pós-comunistas ratificaram a convenção de Viena de 1988, que considerou crime a "lavagem" de dinheiro e declarou os anos 90 como a década da ONU de combate às drogas.
As Nações Unidas também se destaram na luta contra a degradação ambiental. A Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, foi um divisor de águas. A Eco 92 teve a adesão de mais governos (185) e a participação de mais chefes de Estado (131) do que qualquer outro encontro internacional anterior. Os resultados da conferência foram variados, mas a preocupação com a poluição e a mudança do clima colocou o desenvolvimento sustentável na agenda internacional.
A emissão de poluentes e de gases que provocam o efeito-estufa, resultantes da dependência de combustíveis fósseis como fonte de energia barata, colocam a possibilidade de aparecimento desastroso do clima terrestre. Os países industrializados, que produziram grande parte da atual contaminação , estão mais aptos a adaptar-se a tecnologias menos poluentes. Mas os países em desenvolvimento, também responsáveis por essa contaminação, temem criar obstáculos onerosos a suas economias em crescimento e, na falta de compensação por parte dos países ricos, muitos relutaram em alterar suas estratégias de desenvolvimento. Na realidade, os países mais ricos do hemisfério Norte deram cerca de U$$ 55 bilhões de ajuda ao mundo em desenvolvimento (0,45% de sua renda). As Nações Unidas propuseram U$$ 125 bilhões (ou 0,7% da renda) apara apoiar o desenvolvimento sustentado, mas essa diretriz tem pouco apoio no hemisfério Norte.
A estagnação econômica, e a repressão política em algumas regiões levaram ao crescimento de migrações fronteiriças e a deslocamentos internos de populações. A maior parte desses movimentos ocorreu no mundo em desenvolvimento, onde em 1992 cerca de 30 milhões de pessoas permaneciam deslocadas, contra apenas 8 milhões no mundo desenvolvido.
Dois acontecimentos centralizaram a atenção nos refugiados: a avalanche de alemães orientais para a Alemanha Ocidental, após a abertura da fronteira, em 1989, e a fuga dos curdos do Iraque para escapar da repressão governamental após a derrota iraquiana Guerra do Golfo, em 1991. O primeiro caso precipitou a reunificação das Alemanha, em 1990; o segundo ameaçou a estabilidade do Oriente Médio, onde os curdos formam o quarto maior grupo étnico, mas permaneceram dispersos por quatro países que se opõem à formação de um Estado curdo independente. A gravidade do êxodo curdo para a Turquia, onde 400 mil pessoas morreram de fome e frio, levou a comunidade internacional a intervir nos assuntos internos do Iraque, ficando claro que a divisão entre as políticas interna e externa de um país não é absoluta.
Nicéas Romeo Zanchett
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sábado, 30 de janeiro de 2021
A GUERRA FRIA - DE 1949 A 1990 --
O "termo" Guerra Fria foi cunhado em abril de 1974 por Bernard Baruch, estadista norte-americano, para definir a crescente tensão entre EUA e URSS, cujos antecedentes eram anteriores ao final da Segunda Guerra Mundial.
A divisão do mundo em dois campos armados, deu origem à era da bipolaridade e consequentemente a Guerra Fria. A URSS temia que os EUA tentassem restaurar o sistema político-econômico liberal na Europa Oriental, enquanto os norte-americanos receavam que os soviéticos dominassem a Europa Ocidental. Os dois buscavam defender-se através da formação de alianças. Os EUA procuravam conter a URSS criando bases militares (especialmente para seus bombardeiros nucleares) em torno do perímetro soviético. Mas o desenvolvimento de sistemas de lançamento e orientação de ogivas nucleares tomou tal política obsoleta. A rigidez dos blocos monolíticos começou com intensidade, especialmente após 1958, quando a rança, no governo do general De Gaulle, recusou-se a aceitar a liderança política norte-americana, e em 1960, quando o conflito sino-soviético veio à tona.
O primeiro conflito entre Estados Unidos e Rússia ocorreu no final do século XIX, envolvendo as políticas dos dois países em relação à China. Após a revolução russa de 1917, incorporou-se a rivalidade geopolítica o fator ideológico. Além de inimigo imperialista na Ásia Oriental, o novo Estado soviético, comunista, era ameaça ao sistema capitalista mundial que os norte-americanos passavam a liderar.
Dois fatores evitaram o agravamento do conflito no período entre as duas guerras mundiais. De um lado, EUA e URSS estavam envolvidos com problemas internos. De outro, os dois países enfrentavam ameaças externas iminentes: a Alemanha nazista e o Japão imperial. Durante a Segunda Guerra, EUA e URSS se alinharam contra esses dois inimigos comuns, mesmo os soviéticos tendo declarado guerra ao Japão somente no último mês do conflito.
Com esse passado hostil, o termino da aliança entre os dois países após 1945 não surpreendeu. As demais potências mundiais estavam tão debilitadas pela guerra que EUA e URSS viram-se elevados à condição de superpotências (outra expressão inventada nos EUA, pelo escritor William Fox, em 1943), com interesses sempre conflitantes.
Entre 1946, quando as forças britânicas e soviéticas se retiraram do Irã, em 1955, o Oriente Médio foi pouco afetado pela Guerra Fria entre as superpotências. Após o Pacto de Bagdá, em 1955 - que a União Soviética considerou uma ameaça às suas fronteiras meridionais - e a guerra de Suez, em 1956, a situação mudou. Quando os Estados Unidos intervieram no Líbano, em 1958, a URSS retaliou oferecendo apoio à Síria. Moscou também ajudou os Estados árabes contra Israel durante a guerra árabe-israelense, em 1967, e concentrou forças navais no leste do mar Mediterrâneo na tentativa de contrabalançar o poderio da Sexta frota norte-americana. Embora a instabilidade da política praticada pelos países árabes tenha impedido a formação de alianças duradouras, a Guerra Fria dividiu o Oriente Médio em grupos pró-Ocidente, pró-soviéticos e neutros, esses últimos buscando não se envolver em alianças com uma das duas superpotências.
O conflito ganhou força porque cada um dos lados acreditava que o outro fosse totalmente hostil. Diferenciou-se de conflitos internacionais anteriores por caráter global e representar, com o advento das armas nucleares, a possibilidade real do fim da maioria das formas de vida na Terra. O caráter global da Guerra fria revelou-se com a disputa pela influência na China, Oriente Médio e Europa e, mais tarde, no restante da Ásia, América Latina e África. Na Europa, a situação logo estabilizou-se, mas em outras regiões mostrou-se mais instável. Muitos países-independentes do Terceiro Mundo, liderados pela Índia, procuraram não se comprometer e adotaram uma política de neutralidade. A URSS parecia ter obtido enorme vantagem com a vitória comunista na guerra civil chinesa, em 1949. Mas por volta de 1963, russos e chineses divergiam sobre território e ideologia. A China, potência nuclear desde 1964, já não estava entre os aliados da URSS. As alianças lideradas pelos EUA no sudeste da Ásia (Seato) e no Oriente Médio (Centro), estabelecidas em 1954 e 1959, respectivamente, foram desfeitas na década de 70 pela saída de vários países participantes. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sobreviveu ao fim da Guerra fria em 1990.
Em janeiro de 1961, dois anos após a revolução cubana, Washington rompeu relações diplomáticas com o governo de Fidel Castro. Três meses depois, falhou a invasão de Cuba por exilados cubanos da Flórida, patrocinada pela Agência Central de Inteligência (CIA). Após uma missão aérea norte-americana de reconhecimento ter descoberto mísseis e bases de mísseis russos perto de San Cristóbal, em 14 de outubro de 1962, o presidente Kennedy bloqueou Cuba, ao mesmo tempo em que advertia o dirigente soviético Kruschov de que os EUA imediatamente retaliariam se os mísseis tossem disparados. Em 26 de outubro, Kruschov concordou em retirar os mísseis de Cuba. Mas a ameaça de um holocausto nuclear foi um momento decisivo na Guerra Fria. A partir de então, EUA e URSS evitaram a confrontação direta e os riscos que ela implicaria.
A fraqueza inicial soviética foi substituída pelo "equilíbrio do terror" nuclear, que contribuiu para evitar que as duas superpotências se enfrentassem de fato. O maior perigo de conflito aberto ocorreu em outubro de 1962, quando URSS tentou instalar mísseis nucleares de médio alcance em Cuba. Os EUA responderam com um bloqueio naval da ilha, levando a URSS a concordar com a retirada dos mísseis em troca da promessa norte-americana de remover da Turquia alguns mísseis da OTAN. Os dois países, porém exploraram ou se envolveram em conflitos localizados, cada um armando, equipando e treinando a parte aliada. Em três ocasiões importantes lutaram contra os que consideravam representantes do inimigo: Os EUA contra Chineses e norte-coreanos na Guerra da Coréia (1950/53); os EUA contra Vietnã do Norte na segunda Guerra da Indochina (1961/75); e URSS contra os rebeldes na guerra civil do Afeganistão (1979/889). Além disso, ambos interferiram para influenciar e, se necessário, subverter processos políticos em outros países por meio de suas mais importantes agências de informações, a CIA dos EUA e o KGB da URSS.
Com o objetivo de evitar a ameaça representada pelas táticas bélicas inimigas, convencionais ou nucleares, as superpotências precisaram de eficazes sistemas de informação, os clamados sistemas de inteligência, que podem ser divididos em uma série de categorias. O Humint (inteligência humana) engloba todas as informações colhidas por espiões; o Comint (inteligência aplicada às comunicações) envolve a interceptação de todos os tipos de comunicações; o Sigint (inteligência aplicada aos sinais) destina-se à interceptação de mensagens criptográficas; o Elint (inteligência eletrônica) destina-se à interceptação e análise de todos os tipos de emissão eletromagnética (radar, pontos de controle de mísseis etc); e o Imint (inteligência aplicada às imagens), que tem por objetivo fotografar as atividades do inimigo. Essas fotografias podem mostrar, por exemplo, a construção de um porta-aviões nuclear em qualquer parte do mundo. A foto tirada por um satélite espião norte-americano do porta-aviões nuclear em Nicolaiev, Ucrânia, sendo construído secretamente, mostra bem a atividade desenvolvida pela URSS.
A decisão dos EUA de lançar duas bombas atômicas sobre o Japão, em agosto de 1945, inaugurou nova era na história bélica. Por quatro anos, os EUA mantiveram o monopólio das armas nucleares. A URSS testou sua primeira bomba nuclear em agosto de 1949. O primeiro teste norte-americano da bomba de hidrogênio, ou termonuclear (770 vezes mais potente do que a de Hiroshima), aconteceu em novembro de 1952. Os soviéticos explodiram a primeira bomba termonuclear em agosto de 1953.
Inicialmente, tais armas só podiam ser lançadas de aeronaves, o que dava vantagem aos EUA, por disporem de acesso a bases próximas à URSS. Mas depois os dois países desenvolveram mísseis balísticos para carregar ogivas nucleares. Os mísseis balísticos de alcance internacional (ICBMs) e os mísseis balísticos lançados de submarinos (SLBMs) - ambos disponíveis no início da década de 60 - permitiram à URSS equiparar-se aos EUA. Em meados da década de 80, o arsenal nuclear das duas superpotências foi "enriquecido" com o desenvolvimento das ogivas multidirecionais, equivalente a cerca de 9 bilhões de toneladas de TNT - o potencial explosivo das bombas atômicas lançadas sobre o Japão foi equivalente a 35 mil toneladas de TNT.
O desejo de se limitar o desenvolvimento de armas nucleares levou a um tratado parcial de proibição de testes, em 1963, e o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, em 1968.Mas nem todas as potências nucleares ou países candidatos a esse "clube" assinaram esses acordos (por exemplo, França, Chaina, Índia), enquanto outros países acabaram abandonando o compromisso assumido (por exemplo, o Iraque).
Apesar das esperanças (falsas) surgidas coma morte de Stálin, em 1953, dos acordos de limitação de armas estratégicas e dos acordos de Helsique, em 1972 e 1975, a Guerra Fria continuou. Seu fim foi, sem dúvida, precipitado pelas dificuldades econômicas e políticas enfrentadas pela URSS. Na visão de Mikhail Gorbatchov, líder soviético de 1985 a 1991, essas dificuldades só poderiam ser resolvidas com a redução do peso das despesas militares. Finalmente em 90, após a queda dos regimes comunistas na Europa Oriental, tanto a OTAN quanto o Pacto de Varsóvia declararam não mais ser inimigos um em relação ao outro. Logo surgiram acordos para a redução dos arsenais bélicos - convencionais e nucleares.
A liderança soviética em mísseis de longo alcance (ICBMs), evidenciada pelo Sputinik, em 1957, e a dependência norte-americana do bombardeiro tripulado prejudicaram os EUA quando agitações políticas no exterior colocaram em risco suas bases. Mas os EUA logo desenvolveram seus ICBMs. Na época do mais sério confronto da Guerra Fria a crise cubana, o equilíbrio nuclear era de 5 para 1 a favor dos Estados Unidos.
Nicéas Romeo Zanchett
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
ESTADOS UNIDOS A PARTIR DE 1933 --
O "NEW DEAL" do presidente Franklin Roosevelt, de 1933 a 1940, fracassou objetivo de restabelecer nos EUA os níveis de emprego e produção industrial de 1929. Mas os investimentos públicos a reestruturação da economia e, acima de tudo, a convivência da população com as novas diretrizes econômicas prepararam o país para assumir, diante do mundo, o papel que lhe impôs a Segunda Guerra Mundial, trazendo-lhe a vitória e a recuperação econômica.
A exigência de maior produção em tempo de guerra resolveu o problema do desemprego. A atividade econômica para atender ao Exército, à Marinha e aos aliados foi gigantesca. Isso mostrou que as possibilidades econômicas, se aproveitadas, podem conduzir à prosperidade e ao poder.
A paz não interrompeu essa tendência ascendente por mais vinte anos. O Produto Nacional Bruto, entre 1950 a 1980, quase triplicou, enquanto a renda per capita quase duplicou. Para isso contribuíram inúmeros fatores, entre eles o crescimento demográfico; os avanços tecnológicos acompanhados do surgimento de novos bens de consumo; estímulos de reconversão econômica da guerra à paz; e os programas de rearmamento ligados à "Guerra Fria" e à Guerra da Coreia (1948 a 1953). Com base nessa riqueza, a população norte-americana começou a mudar seu modo de vida.
As expectativas de progresso formaram uma verdadeira força revolucionária. Houve um "baby boom" um grande incentivo à demanda, iniciado na Segunda Guerra Mundial, e uma segunda migração para o oeste norte-americano. Após 1945, a imigração cresceu. Nos anos 80, os imigrantes de língua espanhola eram o grupo predominante do sul e sudoeste. Miami tornara-se uma cidade latino-americana. Mas a mudança mais notável foi talvez a expansão dos subúrbios. Crédito fácil e combustível barato (para residências e carros), construção de casas e fabricação em massa de automóveis e implementação pelos governos federal e estadual de programas para a construção de estradas estimularam milhões de norte-americanos a se mudarem das fazendas e centros urbanos para os subúrbios. Assim, embora a população das principais cidades tenha crescido de 48 milhões para 64 milhões entre 1950 e 1970, a população dos subúrbios cresceu de 21 milhões para 55 milhões no mesmo período. O total da população passou de 132 milhões em 1940 para quase 250 milhões em 1980.
O rápido crescimento dos subúrbios levou à união de áreas urbanas antes separadas , criando "supercidades", nenhuma tão surpreendentemente quanto a de Los Angeles. Um sistema de auto-estradas interestaduais, totalizando cerca de 64.400 quilômetros (por volta de 1980, facilitou a movimentação de pessoas vindas de locais distantes e a ampliação de uma complexa rede residencial e de áreas comerciais.
A população das fazendas caiu de 30,5 milhões em 1940 para 9 milhões em 1974. Mas devido aos aumentos excepcionais de produtividade, os Estados Unidos permanecem como o maior fornecedor mundial de alimentos.
Dese a Segunda Guerra Mundial, uma intensa migração fez da Califórnia o Estado mais populoso dos EUA. Os Estados industrializados detém a renda média mais alta, enquanto os Estados do sul mostraram ser os de menor renda e menor crescimento populacional. A população negra mostrou tendência de crescimento mais rápido do que abranca.
Na base dessa prosperidade, de um lado, estavam o dólar forte, amplos recursos nacionais e investimentos do governo em pesquisas e educação; de outro lado, minando essa mesma prosperidade, estavam o insaciável "apetite" da sociedade de consumo norte-americana; a tendência dos capitalistas dos EUA de gastarem seus lucros em vez de reinvestir; a tendência dos operários de reivindicarem aumentos salariais e melhores condições de trabalho sem levar em conta os efeitos sobre os preços e a competitividade internacional da indústria norte-americana; e a crescente incapacidade de camadas favorecidas do país em acreditarem que as coisas poderiam vir a ser diferentes. Essa última característica levou os responsáveis pela política e os cidadãos a certa imprudência, que quase colocou um risco a posição do país. A Guerra do Vietnã (de 1965 a 1973) já seria por si só inflacionária, mas o foi ainda mais devido à recusa dos governos Johnson e Nixon em frear rendimentos e consumo. O resultado foi a grande crise de 1973, quando o cartel formado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tirou proveito da demanda norte-americana para aumentar os preços em cerca de 250%. A indústria dos EUA teve de submeter-se e baratear seus produtos diante de exportadores estrangeiros mais agressivos, para equilibrar as exportações em queda com as importações. A derrota no Vietnã e a incerteza na economia fizeram com que o final dos anos 70 fosse conturbado. O nacionalismo, a revolta dos contribuintes e um desejo de bem-estar e tranquilidade levaram Ronald Reagan à presidência, em 1980. Com a concordância de seus eleitores, ele cortou os impostos em um terço - ampliando o poder aquisitivo - e aumentou os gastos em armamentos, criando o maior déficit da história do país. Reagan nada fez para sanar os defeitos estruturais da indústria norte-americana, desviando o poder de compra para os produtos importados e provocando também um déficit sem precedentes no comércio exterior. Ao mesmo tempo, as tentativas bem-sucedidas do Fed (o banco norte-americano) de combate à inflação facilitaram a entrada do capital estrangeiro, financiando déficits e mantendo um florescente comércio doméstico e internacional.
A política econômica de Reagan contribuiu para a queda nas Bolsas em outubro de 1987 e para uma corrida por dólares. A administração George Bush, de 1989 a 1993, deu continuidade ao programa de Reagan. Apesar do sucesso de empreendimentos externos, como a Guerra do Golfo (1991), cresceu nos eleitores a preocupação com problemas econômicos básicos, com a rapidez da decadência urbana e com problemas ambientais. Bill Clinton, eleito em 1992, assumiu um governo com muitos desafios.
Esses 60 anos, porem, trouxeram conquistas notáveis: vitória da Segunda Guerra Mundial; reconstrução da Europa Ocidental através do Plano Marshall; programa de exploração do espaço; avanços nos direitos das minorias com a aprovação da Lei dos Direitos Civis, em 1964, e da Lei dos Direitos Eleitorais, em 1965; e a resistência ao expansionismo soviético sem nenhuma grande guerra e o fim da Guerra Fria.
A alta tecnologia e as técnicas de administração, que ajudaram os Estados Unidos a se manterem como a potência industrial mais sofisticada do mundo, ficaram demonstrados pela rapidez com que o país respondeu à liderança inicial dos soviéticos na área dos foguetes. Propulsionados pelo foguete Saturno 5º, os astronautas norte-americanos desembarcaram na Lua em 20 de julho de 1969.
Nicéas Romeo Zanchett
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