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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

A FORMAÇÃO DA ECONOMIA MUNDIAL --

 



             Uma das principais conquistas do período entre 1870 e 1914 foi a integração da economia mundial com um conjuntos único e interdependente, inconcebível em épocas anteriores. O centro desse processo foi a Europa, tendo os EUA como centro subsidiário. Daí as iniciativas que abriram as terras ainda inexploradas à penetração e à exploração europeias, bem como as iniciativas que ligaram os continentes e despovoados, coloniais e independentes, com o capitalismo industrial e comercial que já havia conquistado a maior parte da Europa e América do Norte. 
          Três aspectos inter-relacionados desse processo estão ilustrados aqui. Primeiro, o desenvolvimento dos meios de comunicação, principalmente ferrovias e navegação de longo curso, além de canais, navegação  fluvial e rodovias. Os problemas técnicos básicos das ferrovias foram resolvidos antes de 1870, embora melhorias na velocidade, capacidade, segurança, confiabilidade e conforto tenham continuado a ser implementados nos anos seguintes. Na época, as ferrovias estavam limitadas à Europa e EUA. Mesmo assim, rede completas só existiam no noroeste da Europa e nos estados  do leste dos EUA; a primeira ligação transcontinental norte-americana, entre o Atlântico e o Pacífico, foi concluída em 1869.   Outras se seguiram em 1831, 1883 e 1893.  Entre 1870, Apenas duas vias férreas atravessavam os Alpes. Nos 41 anos seguintes, outras dez foram construídas, muitas com impressionantes obras  de engenharia civil e de construção de túneis, numa proeza sem precedentes. Em 1870 a Europa tinha 97.250 Km de vias férreas, os EUA e o Canadá 90.643 Km e o resto do mundo 14.650 Km. Em 1911, a malha ferroviária mundial cresceu para 1,06 milhão de quilômetros; fora da Europa, EUA e Canadá somavam 281.750 Km. Entre as obras mais importantes figuraram a construção das linhas transcontinentais no Canadá (1886), a ligação russa à costa do Pacífico, em Vladivostok (1904), e a travessia dos Andes, na América do Sul (1910). As ferrovias também romperam  outras barreiras montanhosas que inibiam o tráfego entre países vizinhos, como as linhas que usaram túneis transalpinos. Entre 1870 e 1914, o mundo inteiro transformou-se estreitamente ligado por uma intrincada rede  de rotas de transportes, canais de comunicação, relações comerciais e fluxos financeiros. Os maiores benefícios, contudo, permaneceram concentrados onde essa malha era mais densa - entre países industrializados da Europa e da América no Norte. Até o surgimento da aviação comercial, foi através da abertura dos canais de Suez e Panamá que o mundo conseguiu reduzir suas  distâncias. 
          Apesar do crescimento relativamente rápido, as ferrovias do resto do mundo consistiam de linhas-tronco únicas, ao  contrário das malhas ferroviárias dos países industrializados. Isso refletia o papel diferente dado às ferrovias fora da Europa e da América do Norte, construídas basicamente como linhas estratégicas ou meio de escoar produtos primários exportáveis, em vez de ser parte de uma comunidade industrializada. No caso do Brasil, que optou por rodovias em lugar de hidrovias e ferrovias, fica bem evidente o atraso no sistema de comércio devido ao alto custo que torna nossos produtos com menor competitividade no comércio internacional. 
          A expansão da navegação mundial também foi enorme, maior do que o indicado pelas estatísticas. Em 1870, a maior parte da tonelagem naval em operação no mundo, exceto a britânica, era de navios a vela; já em 1913 se compunha principalmente de embarcações a vapor, de maior velocidade e regularidade e com capacidade quatro vezes maior que a de um navio a vela. O conforto e a segurança também melhoraram  para os passageiros. tais progressos quase eliminaram o sofrimento das travessias que no passado reteve a emigração, exceto de pobres e desesperados - milhões de indivíduos que se deslocaram em grupos para as Américas do Norte e do Sul. Para os passageiros de primeira classe, que se deslocavam em grupos para as Américas do Norte e do Sul. Para os passageiros de primeira classe, que usavam navios de linhas regulares, as travessias tornaram-se um luxo. O tráfego principal de navios se concentrava nas rotas entre os países avançados e seus domínios, ou entre os países industrializados e seus produtores de matérias-primas. Foi justamente nesse período que foram construídos os canais de Suez e Panamá que eliminaram barreiras terrestres. Pelo canal de Suez, aberto em 1869, passaram 437 mil toneladas líquidas, já em 1870, e 20.034 milhões em 1913. O canal do Panamá, aberto em agosto de 1914, deu passagem a 5 milhões de toneladas de carga já no primeiro ano de funcionamento. A economia de quilometragem proporcionada pelos dois canais foi grande para as rotas da Europa à Índia e entre as costas leste e oeste dos EUA. 
          O desenvolvimento dos transportes refletiu no crescimento do comércio. O comércio exterior aumentou de 3%  para 33% da produção mundial, entre 1800 e 1913. O volume triplicou entre 1870 e 1914, concentrado novamente nas comunicações  entre países industrializados, ou entre eles e seus fornecedores  de matérias-primas, ou, ainda, entre eles e os mercados de produtos manufaturados. Em 1913, apenas 11% do comércio mundial era praticado por produtores primários. O comércio entre países industrializados permitiu a especialização, com algumas vantagens para os consumidores, e contribuiu para a disseminação da produção em larga escala.  Mas o comércio entre países industrializados e produtores primários era de outra natureza. Enquanto submetia os últimos às influências ocidentais, não era dirigido por eles e nem sempre refletia suas necessidades. A iniciativa partia de empresários ocidentais em busca de mercados, alimentos e matérias-primas. 
          A operação de um sistema multinacional único de comércio, centrado em Londres, foi facilitada pela adoção do padrão-ouro para as moedas dos principais países europeus, entre 1863 e 1874. Esse fato favoreceu o terceiro tipo de ligação internacional aqui indicado: o investimento estrangeiro. 
         Fluindo das regiões mais avançadas para as mais pobres, a transferência de capital foi, no início do século XIX, um fenômeno europeu e norte americano, persistindo até 1914. O processo ampliou a velocidade do progresso econômico, especialmente quando dedicado  à construção de infra-estrutura, como ferrovias e outras obras públicas, em países em desenvolvimento que puderam pagar seus débitos internacionais. Mas, de forma crescente, à medida que esses investimentos fluíram para regiões não industrializadas da Europa, como Rússia, países dos Bálcãs e Império Otomano - e depois para territórios ultramarinos, carentes de conhecimentos e de poder para dirigir o fluxo de capital -, tais investimentos não contribuíram para seu desenvolvimento, mas para sua colonização, às vezes destruindo a incipiente indústria local. Empréstimos feitos para governos ou empresas, com garantias governamentais, levantaram questões de controle político. A medida que potências rivais europeias lutavam por controles de concessões nas áreas ultramarinas, rivalidades contribuíram para fomentar o imperialismo e a guerra. 
           A Grã-Bretanha era a maior fonte de investimentos estrangeiro e Londres um centro bancário importante. Os ativos britânicos ultramarinos totalizaram cerca de 4 bilhões de libras esterlinas, em 1914. França e Alemanha eram os outros principais credores, mas o total de investimentos no exterior  da França. Alemanha, Bélgica, Holanda e EUA atingiu menos de 5.5  bilhões de libras. EUA e Rússia, mais que credores, eram receptores do capital estrangeiro. 
         A migração da mão-de-obra em larga escala  esteve intimamente associada  ao movimento de capitais. 

NOTA- Depois que começou a Primeira Guerra Mundial o mercado teve grandes alterações; ainda estou trabalhando nisso o logo estarei postando este estudo. Aguardem. 

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SEGUNDA GUERRA MUNDIAL --

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Bandeiras dos aliados




              Entre setembro de  1939 e maio de 1941, a Alemanha estabeleceu um domínio do continente europeu que parecia intocável, precisamente porque ela evitara a guerra total; sabia que uma guerra total é necessariamente abrangente. Mas em 1941, suas ações provocaram um aumento progressivo da intensidade da guerra, em níveis que ela não poderia sustentar. Naquele ano, a URSS e os EUA - duas potências  que individualmente equivalem no mínimo a uma Alemanha expandida, avançando sobre os recursos de um continente conquistado - foram trazidos à guerra  para lutar contra as potências europeias do Eixo. Pela primeira vez, o destino da Europa estava para ser decidido por países não-europeus. 
           O fracasso da Alemanha em derrotar a URSS em uma única campanha não foi decisivo, mas associado a sua declaração de guerra aos EUA, em dezembro de 1941, depois do ataque japonês a Pearl Harbor, determinou o resultado da guerra na Europa. EUA e URSS tinham recursos suficientes  para assegurar a derrota da Alemanha numa guerra prolongada. O poder financeiro e industrial dos EUA sustentou a causa dos aliados e a Força Aérea norte-americana foi importante na derrota da Alemanha pelo ar, enquanto a derrota militar por terra foi mérito principalmente da URSS. A ideologia era a pedra de toque no conflito nazista-Soviético.  Se o nazismo havia dado superioridade às forças alemãs nos anos de vitória, agora partia para sua autodestruição, por não poder consolidar esse sucesso e por levar quase todos os países europeus a se voltarem contra o Estado alemão. Além de escravidão e morte, o nazismo nada tinha a oferecer aos povos conquistados, mesmo aos que se aviam associado aos alemães. A Alemanha tornou-se incapaz de controlar os recursos políticos e econômicos do continente, enquanto os rumos da guerra voltavam-se contra ela. 
             Embora seus exércitos tenham chegado perto de Leningrado e Moscou e tenham tomado Kiev, Kharkov e Rostove-na Donu, no sul, em 42 a Alemanha tinha de buscar a vitória que não obteve em 41 ou encarar a certeza da derrota. Em 42, a Alemanha sofreu dois reveses. Em novembro de 1942, os russos cercaram o 6º Exército alemão perto de Stalingrado, impediram uma tentativa de resgate e fizeram o front alemão recuar até a linha Kharcov-Taganrog.  Sua ofensiva no front oriental fracassou quando vitórias e ganhos territoriais tiveram como consequência a de levá-la à desastrosa derrota de Stalingrado. Em julho de 43, Hitler lançou sua última grande ofensiva no front oriental. Ela falhou devido a própria indecisão de Hitler, ao poder de fogo superior dos russos e aos temores de um colapso da Itália após a invasão da Sicília pelos aliados. A vitória britânica no Egito e os desembarques anglo-americanos na África do Norte francesa também impuseram à Alemanha um compromisso em relação à Europa meridional que ela dificilmente podia sustentar. Em 1943, esse compromisso aumentou com a deserção da Itália, a lealdade hesitante de outros parceiros e a ameaça anfíbia dos aliados ocidentais. Da mesma forma, diante da intensidade do bombardeio anglo-americano, a Alemanha foi obrigada em 43, a intensificar a defesa de seu espaço aéreo. Ainda em 43, os alemães sofreram outras duas derrotas: sua ofensiva submarina no Atlântico perdeu força e foi contida e, em julho, tropas alemãs no front oriental foram expulsas de Kursk, numa batalha que evidenciou a incontestável mudança das iniciativas para o lado inimigo. Dai em diante, os aliados ampliaram o cerco à Alemanha. Em 1944, os soviéticos lançaram ofensivas que quase libertaram seu território, levando a guerra para a Polônia e os Bálcãs. Os aliados ocidentais, com superioridade aérea sobre a Alemanha desde meados de maio, desembarcaram na França ocupada (Normandia) e, no final do ano, levaram a guerra para fronteira ocidental alemã, além de libertarem a Itália central e meridional. Com fábricas quase sem matérias-primas, com força de trabalho reduzida pelo serviço militar (os homens foram retirados das fábricas para também combaterem como soldados). Também muitas cidades alemãs estavam devastadas pelos bombardeios, no final de 44 a Alemanha não pode mais evitar a derrota, mesmo porque seus inimigos continuavam unidos.  Interesses nacionais específicos, necessidade de união enquanto o Japão ainda não havia sido derrotado e evidências das atrocidades nazistas, quando da invasão do primeiro campo de concentração e extermínio, preservaram a unidade dos aliados. Apesar disso, o fim da guerra provou que aliados não são necessariamente amigos. O enfraquecimento do inimigo trouxe à tona interesses conflitantes. 
           As forças  russas tomaram Berlim em maio de 1945 e a bandeira russa foi hasteada em meio aos escombros. A União Soviética suportou a  maior parte da luta terrestre de 41 a 44, perdendo 7,5 milhões de soldados e sofrendo uma devastação incalculável. 
           O fracasso de Hitler em derrotar a Grã-Bretanha no Atlântico e na guerra relâmpago e seu fracasso em destruir  o regime de Stalin na URSS fizeram  com que sua própria derrota fosse inevitável, já que ideologias incompatíveis descartaram qualquer acordo de paz. Os exércitos alemães foram derrotados no front oriental. Os britânicos e norte-americanos derrotaram a Itália e invadiram a França, fazendo da capitulação da Alemanha, submetida a ataques vindos do leste, oeste e sul uma questão de tempo. 
          Nas últimas semanas da guerra na Europa, os aliados invadiram o território alemão, com os soviéticos assegurando a capitulação de Berlim em 2 de maio. Hitler suicidou-se  em 30 de abril e a capitulação incondicional da Alemanha (9 de maio) pôs fim à guerra mais destruidora da história da Europa. Cem milhões de homens e mulheres foram mobilizados. Estima-se que houve 15 milhões de militares e 35 milhões  de civis mortos - 20 milhões de cidadãos soviéticos; 6 milhões de judeus e 4,5 milhões de poloneses. Não há estimativas confiáveis quanto aos feridos. Além disso, mais de 10 milhões de alemães foram expulsos da Europa Oriental ou fugiram do avanço russo. A Alemanha dizimou as minorias de judeus e ciganos da Europa, massacradas em campos de extermínio. Stalin deportou 16 minorias étnicas da Crimeia e do Cáucaso por pretensa colaboração com os alemães. Quando aguerra acabou, a Europa estava falida e a Rússia europeia em ruínas. Somente os EUA, cujo dinheiro e indústrias haviam sustentado e fortalecido as economias de guerra dos aliados, pareciam ser os verdadeiros e imediatos vencedores. 
             A campanha alemã da Marinha britânica começou no oeste, nas proximidades da Grã Bretanha, deslocando-se em abril de 41 até o meio do Atlântico, fora do alcance da aviação britânica. A entrada dos Estados Unidos na guerra fez das águas norte-americanas e do Caribe áreas propícias a atuação dos submarinos alemães de longo alcance. Mas, após maio de 43, sua eficácia foi destruída pelo patrulhamento desse espaço por aeronaves também de longo alcance, dotadas de radares capazes de decifrar a frequência de raio dos submarinos. No dia 6 de junho de 1944, os exércitos norte-americano, britânico e canadense, desembarcaram na Normandia, destruindo as fortificações alemãs (o "Muro do Atlântico"). Ofensiva aérea  dos aliados sobre as linhas de comunicação alemã evitou o contra-ataque.  Ancoradouros artificiais  "Mulberry" transformaram as praias  em portos aptos a receber qualquer tipo de suprimento.   

Nicéas Romeo Zanchett 

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CAMINHOS QUE LEVARAM À SEGUNDA GUERRA MUNDIAL --

 



          
           Os acordos que puseram fim à Primeira Guerra Mundial, especialmente o Tratado de Versalhes, imposto à Alemanha, foram considerados inválidos por muitos historiadores; muitos criticam por conter as origens de um segundo conflito. Três outras razões devem ser considerados: a Depressão foi tão importante  nos acontecimentos entre as guerras  quanto um acordo deficiente de paz; a revisão do Tratado de Versalhes nos anos  30 não evitaria a guerra; e o primeiro desafio ao estabelecido em Versalhes não veio da Europa, mas do extremo Oriente, e por razões não relacionadas ao tratado. 
             O expansionismo japonês nos anos 30  surgiu a partir do desejo de auto-suficiência econômica, segurança militar e liderança  na Ásia Oriental. Sob o impacto da Depressão, o Japão invadiu a Manchúria depois de setembro de 1931 e iniciou a anexação de províncias vizinhas. Em 36, o Jehol já fora anexado ao Estado fantoche  de Manchukuo, na Manchúria, e a autoridade chinesa nas províncias fronteiriças ficou comprometida. Essas anexações deram ao Japão  o controle de uma economia que acabou motivando grande parte de sua expansão subsequente e também os déficits comerciais do final dos anos 30. Estes fatos se refletiam na Europa, por dois motivos: 
             Primeiro, a expansão japonesa na Ásia resultou de um crescente nacionalismo militante, acompanhado de uma militarização da sociedade que contribuiu para a queda  do governo democrático no Japão. Segundo, a conquista da Manchúria desafiou os objetivos mais importantes  de Versalhes: a manutenção da autoridade internacional da Liga das Nações e a manutenção da paz mundial pela garantia coletiva contra agressões. Desde o princípio, a Liga das Nações foi criticada por duas debilidades: a incerteza sobre a paz deveria ser assegurada pela manutenção ou pela revisão do Tratado de Versalhes e a ausência de duas das potências mais importantes,a URSS e os EUA. Na década de 20, porém, numerosos tratados adicionais - notadamente os firmados em Washington e Locarno - e um desejo generalizado de paz proporcionaram um período de otimismo.  
               Antes da Depressão, com a URSS preocupada com problemas internos, a única ameaça real à ordem do pós-guerra vinha da Itália fascista. Mas a Itália, a menor das grandes potências, estava marginalizada: a supremacia da França na Europa era tão notória que impedia qualquer sonho de equilíbrio e obtenção de vantagens por parte da Itália. No entanto, iniciada a Depressão, esse equilíbrio passou a ser possível com o ressurgimento da Alemanha como poder potencialmente mais forte na Europa. Sob o comando de Hitler, após 1933, a Alemanha concentrava suas energias em reverter o veredito de 1918 e estava ciente da fraqueza da Grã-Bretanha e da França após o fracasso na Liga das Nações na oposição à ocupação japonesa da Manchúria. O desafio de Hitler à ordem do pós-guerra ficou encoberto até 1936, quando a decisão da Itália de anexar a Abissínia ao seu império abalou suas relações com a Grã-Bretanha e a França. Depois disso, houve uma sucessão de crises. A Alemanha reocupou a Renânia em março de 1936 e a França não conseguiu reagir, apesar de essa ação ter golpeado o núcleo do sistema de alianças com o qual  havia cercado a Alemanha. Em julho de 1936 houve uma tentativa do exército espanhol  de derrubar  o governo republicano eleito democraticamente. A Guerra Civil Espanhola (1936/39) reuniu de um lado,  os  militares, a direita política e a Igreja Católica (com ajuda militar e de voluntários da Alemanha e Itália e, de outro lado, o governo da Frente Popular, republicanos, radicais, anarquistas, socialistas, comunistas e autonomias bascos e catalães (com ajuda militar soviética). A Grã-Bretanha e a França, embora amplamente criticadas, iniciaram um acordo internacional de não-intervenção para evitar que a escalada da guerra  se transformasse em conflito mediterrâneo com  a Itália. O fracasso da tentativa militar, que gerou a Guerra Civil Espanhola, desviou a atenção da França e da Grã-Bretanha de fatos ocorridos em outros lugares. Em novembro de 1936, Alemanha , Itália e Japão firmaram o Pacto Anti-Comintern, visando neutralizar a URSS. O pacto foi um aviso às democracias de que a crescente aliança entre esses três países desafiava a ordem existente. 
            Em dezembro de 1936, a  China tentou pôr  fim a suas guerras civis para formar uma frente unida contra a futura invasão japonesa. Como a posição do Japão e suas  ambições sobre a China dependiam da divisão e da fraqueza chinesas, as Forças Armadas  japonesas usaram um incidente sem importância para iniciar a invasão da China Central e Setentrional, em julho de 1937. Em outubro de 1938, a maior parte da China ao norte do rio Yangtsé havia sido ocupada por forças japonesas; mas, apesar de ser responsável por alguns regimes fantoches em sua área de conquista, o Japão percebeu que não poderia terminar sua aventura na China nem pela força nem pela negociação. 
          Na Europa, em outubro de 1938, o cenário havia sido transformado por duas crises - a anexação alemã da Áustria e a aceitação franco-britânica de desmembrar a Tcheco-Eslováquia, numa tentativa de preservar a paz geral na Europa por meio do apaziguamento da Alemanha. Na verdade, a Alemanha não poderia ser apaziguada: sua ocupação do que sobrara do Estado tcheco e do Memel, em março de 1939, forçou a Grã-Bretanha e a França a reconhecerem o paradoxo de que a paz só poderia ser assegurada pela guerra ou pela ameaça de guerra. Contudo, para tornar essa ameaça  verossímil, a Grã-Bretanha e a França precisavam se associar à União Soviética, o que não conseguiram. O resultado, em setembro de 1939, foi o início gradual da guerra na Europa, com a Alemanha concentrando  reforços em direção a países que eram individualmente menores ou menos poderosos do que ela até que, no segundo trimestre de 1941, o domínio alemão do continente europeu só pode ser desafiado pela União Soviética. 
           Em setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia; em 1940, invadiu a Dinamarca, a Noruega, a Holanda e derrotou a França. A Grã-Bretanha, após de retirar de Dunquerque seu exército estacionado na França, rejeitou as ofertas de paz de Hitler e derrotou sua "Luftwaffe". O ataque fracassado de Mussolini à Grécia, a intervenção britânica e o golpe anti-eixo na Iugoslávia levaram à ocupação alemã da Iugoslávia em maio de 1941. Em junho de 1941, Hitler atacou a União Soviética.
            Durante o período de 1934/39, Hitler desconsiderou as restrições do Tratado de Versalhes (reconquista do Sarre por plebiscito, remilitarização da Renânia, anexação da Áustria). Sob o pretexto de defender a autodeterminação  para minorias alemãs, voltou-se contra alianças da França: Checoslováquia  e Polônia. A composição multirracial a Checoslováquia facilitou seu desmembramento, com a concordância da Grã-bretanha e da França, no acordo de Munique. A resistência polonesa às reivindicações  alemãs (Danzig, o "Corredor Polonês") levou à guerra com a Grã-Bretanha e a França mais cedo do que o planejado, apesar do acordo de Hitler  com a União Soviética para dividir a Polônia e os países bálticos. Estava formado todo o cenário para a Segunda Grande Guerra  que, em pouco tempo se espalhava por todo o mundo. 

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Nicéas Romeo Zanchett 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O CAMINHO DE HITLER E A ASCENSÃO DO NAZISMO

 



        Hitler nasceu em 20 de abril de 1889, em Branau, pequena cidade da  fronteira austro-alemã; fez o curso secundário em Linz, mas, propositadamente, dedica-se pouco ao estudo. Espera com isso que o pai, empregado subalterno do serviço austríaco, deixe de insistir para que ele se torne também um funcionário público. Contudo o sonho de Adolf Hitler é ser pintor artístico. 
             Com a morte do pai, em 1903, vai, com a irmã e a mãe, morar num subúrbio de Linz. Em 105, Adolf tem uma doença pulmonar e abandona a escola por uma ano. Depois da cura, volta a estudar. Mas por pouco tempo: decide trocar a província Lins por Viena, a capital do Império Austro-Húngaro, onde poderia cursar a Academia de Belas-Artes. Reprovado duas vezes no exame de admissão, passa a viver da pintura de cartões postais e aquarelas. Isso rende muito pouco, e Adolf vê-se obrigado muitas vezes a dormir faminto em abrigos noturnos. Mas não procura emprego: prefere trabalhar por conta própria, que que seja ocasionalmente. 
             Desde essa época, acompanha os debates do Parlamento, em Viena, como admirador entusiasmado do Partido Nacionalista Germânico, cujos postulados - que mais tarde os nazistas adotarão em boa marte - são o anti-semitismo, e anti-socialismo e a supremacia germânica no império multinacional da Áustria-Hungria (formado por austríacos, húngaros e vários povos eslovacos, sérvios, croatas), com a união desse império ao alemão. 
          Observando Karl Lueger (1844/1910), burgomestre de Viena e chefe do  Partido Social Cristão, Adolf descobre a importância da propaganda entre as massas para a conquista de adeptos. E um dos pontos básicos da propaganda desse brilhante orador é também o anti-semitismo. 
              Essa vivência em Viena delineia na mente do frustrado artista os princípios de sua "filosofia" política. 
                  Em 1913, ele deixa o Império Austro-Húngaro. Mais tarde ele diria: "Repelia-me aquela mistura de tchecos, polacos, húngaros, rutenianos, sérvios, croatas e, por toda parte, esse cogumelo da humanidade.... judeus e mais judeus". 
            Vai para a Alemanha, instala-se em Munique, onde continua a viver  sem trabalho regular. Passa a frequentar círculos anti-semitas. 
              Em agosto de 1914, pouco mais de um mês depois do início da Primeira Guerra Mundial, Adolf entra como voluntários num regimento da Baviera. Durante quatro anos participa ativamente do conflito; chega a ser promovido á cabo e condecorado duas vezes com a Cruz de Ferro (de segunda classe em dezembro de 1914 e de primeira classe em agosto de 1918). 

          Terminada a Guerra, ele está hospitalizado, curando-se da cegueira temporária causada pelo gás lançado pelos britânicos na última batalha de Ypres. É no hospital que fica sabendo da derrota, e engrossa a corrente de opinião segundo a qual o Exército alemão não fora vencido no campo de batalha, mas "apunhalado pelas costas" pelos políticos. 
               A derrota enfraquece o governo imperial. No dia 3 de outubro de 1918, os marinheiros iniciam em Kiel uma revolta que se estende rapidamente. Em toda a Alemanha, formando-se "conselhos de operários e soldados", seguindo o modelo dos sovietes da revolução comunistas russa do ano anterior. A 9 de novembro, o Kaiser Guilherme II (1859/1941) abdica e o social-democrata Philipp Sheidemann (1865/1939)proclama a República em Berlim.
             A mudança de regime salienta as divergências entre os grupos políticos e aumenta a disputa entre eles, pelo poder. Os social-democratas, favoráveis a um combate gradual ao capitalismo, entram em aliança  com o Exército, contra a extrema esquerda (representada pelos "espartaquistas") Hitler é encarregado  pelo exército de dar cursos de civismo para as tropas, combatendo o comunismo. 
            Em 11 de janeiro de 1919, começa em Berlim uma greve geral, reprimida pelo Exército em dias que ficaram conhecidos como a "semana sangrenta" e durante os quais são moretos dois importantes líderes espartaquistas: Karl Liebknecht (1871/1919) e Rosa Luxemburgo. >>>>>
              Enquanto na conferência de Versalhes os vitoriosos da guerra discutem o futuro alemão, uma assembléia nacional constituinte reúne-se em Weimar, na Alemanha Central. 
          Em 3 de julho de 1919, a assembleia vota a Constituição de Weimar, que estabelece um regime federal e parlamentar, com eleições direta para a presidência da república. Mas, um mês antes de votar a Constituição, a asembléias aprova o Tratado de Versalhes, que separa a Prússia Oriental do resto da Alemanha, eplo corredor de Danzig, e obrigava que se entregassem às nações vitoriosas praticamente todos os navios mercantes, equipamentos industriais e materiais ferroviários alemães, além de estabelecer  um efetivo máximo para o Exército (100.000 homens). 
           Com a aceitação do Tratado de Versalhes, a agitação nacionalista contra o governo aumenta bastante. Hitler identifica-se com as ideias fortemente nacionalistas de Anton Drexler, líder do Partido dos Trabalhadores Alemães, de Munique. Aceita o convite para entrar nesse grupo, em 1920; é encarregado do setor de propaganda, e revela-se um eficiente orador. 
         A 24 de fevereiro de 1920, os chefes do partido promovem uma reunião de massa e expõem um programa de 25 pontos, que inclui: negação do Tratado de Versalhes, união de todos os alemães numa "grande Alemanha", eliminação da cidadania dos judeus, proibição da participação de judeus em cargos públicos, expulsão de todos os judeus que tivessem entrado no país depois de 1914. Outros pontos expressavam as reivindicações da facção de esquerda do partido (que, afinal, sem apoia nos trabalhadores); abolição de toda renda que não seja ganha pelo trabalho, nacionalização dos trustes, participação estatal no lucro das grandes indústrias, socialização dos grandes estabelecimentos comerciais e seu arrendamento por preço baixo a pequenos pequenos comerciantes. A 1º de abril, o partido recebe um novo nome: Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores - NAZI. 
           Em uma ano, Hitler ganha o controle do partido, afasta Drexler e, em 29 de junho de 1921, torna-se o presidente. Em agosto participa da organização do SA (Sturn Abteilung =  Grupo de Assalto), organização paramilitar cuja tarefa original  é manter a ordem em comícios e concentrações nazistas. A partir daí, o movimento se expande pelo sul do país e conquista adeptos importantes como Herman Goering, Ernst Rohem ( 1887/1934)  e Otto Strasser (1897/ >>>>, que farão parte do governo nazista. Em 1923, Hitler já detém uma liderança que, além de emocional, baseia-se na capacidade de organização, numa utilização racional dos meios de comunicação de massa, em seus dons oratórios e no fascínio que consegue exercer sobre seus liderados. Mas ainda é apenas o começo. 
          As más consequências da guerra criam uma insatisfação  que se agrava em 1923, com a ocupação do Ruhr pelos franceses, em janeiro, e a desastrosa desvalorização da moeda nacional. Hitler acha que é o momento adequado para um golpe de Estado e, inspirado na "marcha sobre Roma" de Mussolini (outubro de 1922), tenta tomar  Munique para depois marchar sobre Berlim (dias 8 e 9 de novembro de 1923). Mas o governo esmaga a manifestação de rua e, em abril de 1924 é condenado a cinco anos de prisão. 
           Na cadeia, ele estuda o fracasso recente e conclui que o melhor caminho é a conquista ilegal do poder, com base na propaganda. Aproveita os meses de prisão para ditar a seu secretário parte da obra que se torna  um manual do movimento nazista: Mein Kamf - (Minha Luta). 
          Consegue ser libertado em dezembro do mesmo ano e vai continuar o livro na região sul-oriental da Baviera. Nessa época, apaixona-se por sua jovem sobrinha Geli Raubal, com quem mantém uma ligação acentuadamente neurótica. (Em 1931, depois de violenta discussão do casal, Geli pratica o suicídio). 
         Paralelamente, Hitler trata de rearticular o partido, que fora dissolvido depois do frustrado golpe.  Cria a SS (Schutztaffel), uma polícia interna da organização, e, em 1926, a Juventude Hitlerista (Hitler Jugend). Mas com o fluxo de capitais americanos e a estabilização do marco, devido ao plnao elaborado pelo banqueiro e político norte-americano Charles G. Dawezs (1865/1951), e aplicado em agosto de 1924, a Alemanha se recupera economicamente. E o nazismo entra em recesso. 
          A crise econômica de 1929 fornece aos nazistas nova oportunidade de ascensão. Os capitais norte-americanos se retiram, as exportações caem, há milhões de desempregados e pequenos burgueses arruinados, que voltam sua estima para Hitler. No mesmo ano, o partido aumenta sua força aproximando-se de grandes industriais, que passam a contar com as milícias da organização para reprimir os comunistas. O partido que em 1928 tinha doze representantes no Reichstag (Parlamento), passa a ter 107 com as eleições de 1930. 
          No ano seguinte, Hitler se naturaliza alemão e tenta a presidência. Perde para o Marechal Paul von Beneckendorff und vom Hindemburg, que chefiara o Exército na Primeira Guerra Mundial (13.400.000 votos contra 19.300.000). Nas eleições de 1932, os nazistas elegem 230 deputados e se torna a maior força parlamentar. Mas o Reichstag é dissolvido, pois os nazistas negam-se a aceitar qualquer Gabinete que não seja chefiado por Hitler, e os comunistas recusam-se a colaborar com os social-democratas. Na nova eleição, os nazistas conseguem 196 deputados, e o dilema persiste. Para não enfrentar a ameaça de um golpe de Estado articulado pelos chefes políticos dos Gabinetes anteriores, Hindenburg concorda em designar Hitler como chanceler primeiro ministro) em janeiro de 1933. É a chegada legar ao poder. 
           No poder, Hitler age com grande rapidez e em seis meses consolida seu governo ditatorial. Explora o incêndio do Reichstag, atribuindo-o aos comunistas, para obter de Hindenburg  um decreto suspendendo as liberdades fundamentais. Há outra dissolução do Reichstag e as eleições consequentes (5 de março de 1933) fazem-se num clima de violência incentivado pela SA. Os nazistas conseguem 44% dos votos e Hitler obtêm do Parlamento plenos poderes  por quatro anos. Dissolve todos os outros partidos e acaba com o particularismo político alemão, designando governadores para cada estado. Faz uma depuração política e racial nos cargos administrativos, promove o boicote aos comerciantes  judeus e ainda em março abre os primeiros campos de concentração (que no ano seguinte serão dirigidos pela SS). Em abril, cria a Gestapo (Geheime Staatspolizei =  Polícia Secreta de Estado). 
            As SA, tropas de assalto do partido, criam problemas com o Exército, pois pretendem tornar-se o Exército Popular Alemão, e comprometem a aliança de Hitler com os grandes industriais, pois representam o setor esquerdista do partido. Na noite de 30 de julho de 1934, Hitler promove o expurgo sangrento das SA, eliminando Roem (comandante dessas forças desde 1930) e outros chefes. 
          Hindenburg morre a 19 de agosto de  1934 e Hitler acumula as funções do presidente e chanceler, depois de um plebiscito em que obtém 88% dos votos. O Estado hitlerista se centraliza cada vez mais, embora seja constituído da união, em torno do Führer (guia), de vários chefes  com grande liberdade em sua esfera de ação. Mas a ligação pessoal de todos com Hitler garante a unidade. 
             As realizações econômicas do governo asseguram o apoio popular; quando, em 1933, a indústria está quase paralisada e há 6 milhões de desempregados, Hitler concede crédito aos investidores e estimula a indústria armamentista. Em 1938, o problema do desemprego está praticamente superado. A economia passa do índice 100 em 1932 a (índice) 225 em 1939. E o desenvolvimento da indústria de guerra prepara a concretização dos principais planos de política externa traçada em Mein Kampf : anulação do Tratado de Versalhes, reunião das populações germânicas num só país através da conquista do "espaço vital" nas terras da Europa do leste, Polônia, Ucrânia e Rússia. 
           Essa recuperação, aparentemente  tão fantástica, só foi possível pela atuação do próprio Hitler que saqueou os judeus, ciganos e outros, além de muitos industriais e pessoas que foram extorquidos. Foi nessa época que começou a expropriação de todo o tipo de bens, principalmente ouro, jóias e especialmente obras de arte. Ainda existem muitas obras de arte que nunca voltaram aos seus donos. Foi esse dinheiro que financiou Hitler e seus delírios. 
               Em 1935, Hitler restabelece o serviço militar obrigatório. A 17 de março de 1935, o Exército ocupa a Renânia e, em setembro de 1938 (com Hitler como comandante supremo das Fôrças Armadas, a invade e toma a  Áustria. 
         A conferência de Munique ( de 29 a 30 de setembro de 1938), da qual  participam França, Grã-Bretanha, Itália e Alemanha, permite que Hitler anexe um quarto do território da Tchecoslováquia, onde vivem alemães. Em abril de 1939, anexa a Boêmia, a Morávia e Memei. Nesse mês reivindica territórios alemães  da Polônia. Depois de reforçar a aliança com a Itália de Mussolini (feita em 1936) e assinar um pacto de neutralidade com Stalin (23 de agosto de 1939) Hitler sente-se seguro para invadir a Polônia, certo de que as potências mundiais, mais uma vez, nada farão ante um fato consumado. Mas, com a invasão da Polônia, a 1º de setembro de 1939, Hitler desencadeia a "Segunda Guerra Mundial". Esse é o começo do seu fim. 
             As forças hitleristas dominam a França a partir de junho de 1940 e atacam a Inglaterra, esperando forçá-la a um acordo de paz. Na Rússia, o ditador, dominado pela própria imagem propagandista, recusa-se a ordenar em tempo a retirada ("O Exército alemão jamais recura") e perde a decisiva batalha de Stalingrado (2 de fevereiro de 1943). também enfrenta adversários internos, que, a 20 de julho de 1944, colocam uma bomba numa sala de conferencias. O Führer pe apenas ligeiramente ferido e faz um expurgo no alto comando, na administração e nos meios diplomáticos. 
            Em novembro de 1944, com o avanço dos aliados, Hitler dirige, de um subterrâneo em Berlim, os últimos combates. Vendo-se perdido, ordena destruições maciças no próprio país. No fim, tem a seu lado apenas Josep Paul Goebbels, Martin Borman (1900/1945?) e a companheira Eva Braun (1912/1945). 
         Entre uma ordem e outra, dita a Borman algumas notas, que seriam publicadas mais tarde sob o nome de Testamento Político de Hitler. É uma tentativa de explicar a derrota iminente, acompanhada de um incentivo à retomada futura da luta pel,os alemães. Nessas notas, ele diz que não esperava enfrentar os Estados Unidos nem a Inglaterra, e atribui esse confronto aos judeus: " O acaso da história que , enquanto eu tomava o poder na Alemanha, Roosevelt, escolhido pelos judeus, assumisse o governo dos Estados Unidos. Em princípio de 1941, a Grã-Bretanha teria podido (...) retirar-se da luta e celebrar a paz branca com a Alemanha. (...) Quando Churchill se negou a celebrar comigo um entendimento, arrastou o país (dele) à política do suicídio. (...) Eu tinha estimado muito mal o poderio da dominação dos judeus sobre os ingleses de Churchill. (...) A Inglaterra tradicional teria ajustado a paz. (...) A Alemanha, por fim, com a retaguarda bem garantida, poderia lançar-se à realização de sua principal tarefa, a meta da minha vida e a razão de ser do nacionalismo: o aniquilamento do bolchevismo. Daí resultaria, como consequência, a conquista de grandes espaços a leste, que deveriam assegurar o futuro do povo alemão". 
           Seu ódio aos judeus servia também de argumentação para explicar o marxismo: "O judeu Mardoqueu Marx, como bom judeu, esperava o Messias. Transpôs o Messias para o materialismo histórico. (...) Com um truque desses dominam-se os homens!"
            Os franceses o desorientavam: "A França é velha rameira que não deixou nunca de nos enganar, de fazer-nos burlas e chantagens". Os italianos o decepcionavam: "O maior serviço que a Itália poderia ter-nos prestado seria manter-se afastada do conflito". E conclui: "Penso que esta guerra estabeleceu pelo menos a decadência irremediável dos países latinos". 
              Nos últimos momentos, já via a derrota mais perto: "A vida não perdoa nunca a fraqueza.(...) Se tivermos de ser vencidos nesta guerra, não será possível considerar para nós senão derrota total. (...) Quanto mais sofrermos, mais resplandescente será a ressurreição da Alemanha eterna. (...) Todavia, eu, pessoalmente, não suportarei viver nessa Alemanha de traição que sucederá ao nosso Terceiro Reich vencido".  
             A 30 de abril de 1945, com as tropas dos aliados já em Berlim, Hitler teria praticado o suicídio. Junto ao seu cadáver estava, Eva Braun, sua esposa (haviam se casado um dia antes). 
          Uma das últimas notas revela, junto aos ódios irracionais de uma mente doentia, e ao fanatismo que usara como arma e pelo qual terminara envolvido, uma inteligência que raramente lhe foi negada e que lhe permitiu fazer previsões em parte  acertadas sobre o futuro do mundo: "Caso o Reich  seja derrotado, enquanto se espera a elevação dos nacionalismos asiático, africano e, quem sabe, sul-americano, somente ficariam no mundo duas potências  capazes de se confrontarem eficazmente: Os Estados Unidos e a Rússia Soviética. As leis da história condenam estas duas potências a se medirem, ou em plano militar ou então simplesmente em plano ideológico". Na conclusão, reafirma o mito da raça superior: "Uma e outra (as potências citadas) tenderão necessariamente para o desejo de conseguir, em prazo mais ou  menos custo, o apoio do único grande povo europeu que subsistirá depois da guerra: o povo alemão". 

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A PARTILHA DA ÁFRICA PELAS POTÊNCIAS EUROPEIAS

 





          Quando correu a derrota de Napoleão Bonaparte em 1815, os europeus ainda não conheciam muitas áreas do planeta e milhões de pessoas  nunca haviam entrado em contato com a influência européia. Um século mais tarde ocorreu a consolidação do sistema mundial; os exploradores europeus haviam penetrado nas regiões mais distantes. Depois vieram missionários, comerciantes, banqueiros, soldados e administradores. Africanos e Asiáticos dificilmente conseguiriam  ficar imunes  às forças tecnológicas superiores da Europa; muitos passaram ao controle político europeu. 
            O século XIX  geralmente é visto como a grande era da expansão européia  ou do imperialismo  e um dos principais temas históricos do século XX é a reação anticolonialista que ocorreu entre os povos  da África e também da Ásia. Na ralidade, a criação de grandes impérios só aconteceu na última metade do século XIX. Até 1871, com exceção das possessões da Grã-Bretanha na Índia e África do Sul, da Rússia na Sibéria e Ásia Central  e da França na Argélia e Indochina, a presença européia  na África e na Ásia restringiu-se a postos comerciais e estratégicos. As lutas coloniais exerceram papel importante na política européia no século XVIII, mas em meados do século XIX a construção de impérios perdeu seus atrativos. No âmbito teórico, seu fundamento mercantilista foi derrubado por Adam Smith e pela "Escola de Manchester" de economia. Na prática, as relações comerciais da Grã-Bretanha  com os EUA e América do Sul demonstravam que controle político não significava sucesso comercial. O mais tarde primeiro-ministro britânico, Benjamim Disraeli, expressou a ortodoxia predominante ao afirmar, em 1852, que "as colônias são um grande peso sobre nossos-ombros". 
             Mesmo assim, as potências europeias não tinham pressa em deixar as colônias. Espanha e Portugal perdiam seus impérios  no Ocidente à medida que se tronavam fracos internamente. Em 1830, suas ex-colônias nas Américas central e do Sul eram quase todas independentes. A Rússia renunciou a territórios na América do Norte, vendendo o Alasca aos EUA em 1867. Mas a França, que perdeu a maior parte de seu primeiro império em 1815, construiu um segundo conquistando a Argélia  nas décadas de 1830 e 1840, expandiu sua colônia  do Senegal na década de 1850, tomou ilhas do Pacífico na década de 1840 e anexou Saigon em 1859. 
             A influência européia na África já era considerável em 1879. A repentina imposição do controle político  foi, em certo  sentido, o clímax de processos em andamento. Mas novas forças entraram em jogo. Uma vez iniciada a partilha da África entre as potências europeias, o continente foi dividido em um período bastante custo; as principais divisões territoriais foram feitas em 15 anos. 
           Poucas áreas da África eram governadas diretamente pelos europeus em 1880; havia pequenas colônias francesas e britânicas na África Ocidental (Senegal, Serra Leoa, Costa do Ouro, Lagos e gabão) e antigos povoados portugueses em Angola e no vale  do rio Zambeze, em Moçambique. Apenas no sul, onde os colonos britânicos do cabo rivalizavam com os "afreicaners" do Transval e do Estado Livre de Orange, o controle político avançou para o interior. Mesmo assim, em "duas décadas, todo o continente foi tomado", disputado de dividido.
             O período entre 1800 a 1880 assistiu a rápidas mudanças na África, com a adaptação da sociedade ao islamismo, comércio interno, presença de exploradores europeus e missionários cristãos e aquisição de armas de fogo por governantes locais. A mistura de forças internas e externas criou tensões e instabilidades que se tornaram mais agudas na década de 1870, fornecendo uma razão e uma desculpa para os europeus assumirem o controle do continente na década seguinte. O povoamento racial no sul ocorreu no período entre 1830 a 1880 que determinou o padrão de povoamento racial que até hoje persiste na África do Sul. O surgimento do Reino Zulu levou muitos povos africanos a uma nova configuração; suazi, xhosa. sotho e tswana, enquanto os participantes  da Grande Jornada (Great Trek) abriram boa parte do território  do interior ao povoamento branco. 
               Durante os anos 1880 que antecederam à partilha européia do continente, grande parte do oeste da África foi afetada pelo reflorescimento do islamismo, através de guerras santas (jihads) contra comunidades muçulmanas repaganizadas (ou parcialmente islamizadas).  Os guerreiros da "jihad" eram pastores fulanis, dispersos entre comunidades da região sudanesa. Embora os fulanis fossem em geral pagãos, um grupo deles tornou-se muçulmano, com a fé ardente dos recém-convertidos. No século XVIII, estabeleceram teocracias no extremo oeste -Futa Toro e Fouta Djallon - e em Masina, nos antigos impérios de Mali e de Songai, no Niger. Os fulanis da Hauçalândia estabeleceram o maior Estado islâmico do século XIX.  Em 1804, um lider religioso fulani, Uthman dan Fodio, foi proclamado Comandante dos Fiéis (Amir al-Mu'minim). Ele declarou uma "jihad"contra os infiéis. Em poucos anos, um exército de cavaleiros conquistou todas as cidades-Estado hauçás e lançou-se para leste até Adamawa e para sudoeste até Nupe  e Iorubalândia. O filho de Uthman dan Fodia tornou-se sultão de Sokoto, império que ainda existia quando os britânicos invadiram a Nigéria na década de 1890.
            Uma "jihad" mais cruel foi conduzida por al-Hajj Umar, Fouta Djallon, que conquistou os reinos de Bambara e Masina e só não chegou ao Atlântico por causa da presença francesa no rio Senegal. O islamismo tornou-se uma força que se opôs ao avanço europeu, especialmente no caso do líder mandinga muçulmano Samori, que construiu outro império ao sul do Niger e só foi derrotado pelos franceses em 1898. 
          Ao sul da área das "jihads", o tráfico de escravos floresceu por muitos anos, mas os britânicos começaram a substitui-lo por um "comércio legítimo", acompanhado da introdução do Evangelho. Os exploradores Park, Clapperton e Lander  descobriram o curso do Niger e em 1841/42 o governo britânico enviou uma expedição  ao interior para oficializar o cristianismo e o comércio. A expedição fracassou, mas a procura européia pelo azeite de dendê, tubérculos e outros produtos forçou os Estados africanos a mudanças, provocando instabilidade entre os "Estados da floresta".
            O leste e o oeste da África Central eram áreas em que novos padrões de comércio  também causaram ruptura e mudanças. O mundo ocidental demonstrava, no século 19, um apetite insaciável por marfim (para bolas de bilhar e teclas de piano) e a caça aos elefantes e o comércio de suas presas  tornaram-se as principais atividades na região. Muitos Estados e povos enriqueceram  com os lucros, como os Chokwes e o rei Msiri, na África central e Buganda e os nyamwezis na África Oriental. Na África Central, os comerciantes eram, muitas vezes, portugueses das colônias de Angola e Moçambique. No leste da África, suaíles árabes de Zanzibar faziam contato com Estados no interior, levando com eles a religião islâmica. Alguns povos - em especial ao redor dos lagos Nyasa e Tanganica  sofreram cxom o tráfico árabe de escravos, em geral ligado ao comércio de marfim. 
              No nordeste da África, a expansão territorial  do Egito - governado por Mohammed Ali, vice-rei do sultão otomano - foi o prenúncio da partilha européia da África. Os exércitos de Ali conquistaram o norte do Sudão nilótico e estabeleceram Cartum como capital da província, em 1821. Mohammed Ali recusou-se a aprovar o canal de Suez, mas após sua morte, em 1849, a construção prosseguiu. Seu neto, quediva Ismail, consolidou o controle egípcio sobre boa parte do litoral do  mar Vermelho e chifre da África. Avançou ainda para o sul  pelo Nilo até os Grandes lagos, na tentativa  de criar um grande império africano. Como resposta às ações egípcias, o poder político etíope floresceu sob os imperadores Theodorus e Johannes. 
           Somente duas áreas da África foram colonizadas por potências europeias antes da partilha: em 1830, os franceses invadiram, conquistaram e povoaram a Argélia. No outro extremo do continente, durante as guerras napoleônicas, os britânicos tomaram dos holandeses a Colônia do Cabo. Ao mesmo tempo, houve grande revolução política e demográfica entre os povos interioranos do sul da África, iniciada pela formação do reino zulu por Shaka, em 1818. Povos de língua nguni e sotho saíram da área de conflitos (esse período é conhecido  como "Mfecane" ou Tempo dos Problemas): os ndebeles (ou matabeles) foram para o atual Zimbábue, os ngunis para o norte, até Zâmbia, Malaui e Tanzãnia, e os sothos (Kololos) para Barotselândia (Zâmbia). Essas guerras e migrações africanas foram complicadas pela presença  de um número crescente de europeus, incluindo os bôres - pastores e fazendeiros brancos que deixavam a Colônia do Cabo para evitar o domínio britânico, muitos deles na época da "Grande Jornada" de 1836.  Na década de 1950, os britânicos reconheceram as repúblicas de Estado Livre de Orange e do Transvaal, fundadas por bôeres (fazendeiros e pastores brancos). Mas o desejo de manter a ordem e a atração pela riqueza, após a descoberta de diamantes perto do Estado Livre de Orange, logo trouxeram os britânicos de volta às disputas com os bôeres. 
             Das 40 unidades políticas divididas até 1913 - em alguns casos usando-se só uma régua e um lápis em Londres, Paris ou Berlim -, 36 passaram ao controle europeu direto. Apenas a Etiópia, que expulsou os italianos, e a Libéria, ligada financeiramente aos EUA, reivindicaram a independência. A França, a maior beneficiária, controlou quase um terço dos 30,3 milhões de Km² da África. 
             Vários fatores favoreceram a explosão  imperialista. A industrialização na Europa exigia matérias-primas, novos mercados e campos para investimento.  Esses fatores se traduziram em pressões sobre a África, onde cresciam as tensões a serem superadas com a imposição do controle político europeu. A industrialização também gerou tensões na Europa, levando alguns políticos,como Joseph Chamberlain da Grã-Bretanha, a ver a colonização como saída. As rivalidades entre os Estados europeus foram, em geral,  transferidas para a África. Isso fez com que incidentes europeus na África provocassem crises internacionais e que iniciativas locais de europeus dessem origem à luta pela posse do continente. As tensões aumentaram entre 1876 e 1884. Em novembro de 1884, as potências se reuniram em Berlim, na Conferência da África Ocidental, para tentar evitar a partilha, deixando o acesso á África livre a todos, mas fracassaram. Na realidade, as anexações aumentaram, apesar de hesitações governamentais entre 1885 e  1889. Em seguida, aquisições costeiras  avançaram para o interior. 
           Na África Ocidental, que ainda não haviam se  vingado da derrota de 1870 na Europa, buscavam compensações partindo do Senegal e avançando para o interior africano no fim da década de 1870. Isso os colocou em conflito com os ingleses, em Gâmbia e em Serra leoa, e os Estados  africanos como os impérios de Samori e de al-Hajj Umar. Na costa da África Ocidental houve rivalidade entre ingleses e franceses na Costa do Ouro, Togo, Daomê e nos domínios dos iorubas. A desconfiança francesa em relação à Grã_bretanha se intensificou após a invasão e ocupação unilateral do  Egito pelos ingleses em 1882. 
             A intervenção de outras potências europeias espalhou esses disputas pelo continente. Após uma viagem épica pelo rio Congo em 1877, o explorador Stanley foi contratado pelo rei Leopoldo da Bélgica, que já revelava  seu desejo de envolver-se na África durante a Conferência Geográfica em Bruxelas, em 1876. Leopoldo exerceu papel de catalizador da desavença. Em 1879 Stanley voltou ao Baixo Congo e preparou o domínio que, mais tarde, o rei tomaria para si. As atividades de Stanley incentivaram outras na mesma região, como a do oficial naval francês De Brazza. Ele concluiu tratados com chefes africanos e, ao regressar à Europa, suas decisões foram logo acatadas pela França. Essa ação francesa produziu imediata reação inglesa e portuguesa, que em nada resultou devido à pressão exercida por Bismarck. Ele fez com que a França desistisse de se vingar da perda da Alsácia-Lorena ao dar carta branca aos franceses na África. E fez isso chantageando a Grã-Bretanha com o Egito. Em seguida, a Alemanha entrou na briga ao tomar territórios em quatro regiões: Togolândia, Camarões, África do Sudoeste e África Oriental. As iniciativas francesas e alemã na África Ocidental fizeram com que a Grã-Bretanha intervisse, basicamente, nas terras da atual Nigéria. O interior ficou com os franceses que, em 1900, haviam devastado a região do Sudão Ocidental. 
         A presença alemã no sul da África reavivou as ambições portuguesas e a ameaça da expansão dos "afrikaners" resultou em investidas britânicas no interior da África Central (mais tarde Rodésia, Zâmbia e Malaui). Muitas dessas ofensivas partiram  de Cecil Rhodes, industrial e político da Colônia do cabo. Da mesma forma, a colonização alemã na África Ocidental (Tanganica) provocou a reação do primeiro-ministro inglês, Lord Salisbury, que reivindicou a posse da região dos Grandes lagos (Uganda) e do território intermediária ao longo da costa (mais tarde, o Quênia). Os ingleses perderam sua posição no Egito ao intervir nos assuntos do Sudão que, em 1881, sob liderança de um líder islâmico, o Mahdi, se rebelaria contra o Egito. Ao mesmo  tempo, êxitos franceses no oeste - ocupação do gabão no Congo Ocidental, conquista do antigo reino de Daomê (1893) e ofensivas em direção do Lago Chade levaram a Grã-Bretanha a mobilizar recursos  da Companhia Real do Niger para tomar os emirados de Nupe e de Ilorin e a se envolver em conflitos com Estados africanos situados em sua esfera comercial. A tensão chegou ao extremo em 1898, quando o comandante francês Marchand, após marcha de dois anos partindo do Gabão, enfrentou as tropas britânicas em Fashoda, no Nilo Branco. Os dois países só evitaram  uma guerra berta no último momento.
           De um processo quase pacífico, a divisão tornou-se uma carnificina. Em 1896, a Etiópia impôs pesada derrota aos italianos, em Andowa, e cerca de 120 mil sudaneses  morreram durante a supressão dos Estado Mahdi pelos britânicos. As forças coloniais do Rodes se envolveram em batalhas cruéis com os matabeles e os mashonas e colonos  brancos passaram a confiar cada vez mais  no rifle e no revolver. A Guerra dos Boeres (1899 a 1902) foi o clímax do conflito, no qual os ingleses conquistaram as minas de ouro do Transvaal (descobertas em 1886) e incorporaram as repúblicas "africaners".
          Embora os africanos se opusessem aos avanços europeus, jamais ofereceram resistência planejada e acabaram perdendo territórios. Dos poucos estados africanos independentes em 1902 a Líbia foi invadida pela Itália em 1911 e o Marrocos sobreviveu até 1912, antes da divisão entre França e Espanha. 
             Apesar das aparentes rapidez e facilidade da divisão, a resistência africana européia foi praticamente geral. Grande parte dessa resistência foi local e pôde ser vencida aos poucos, em geral através do uso de outros grupos africanos como aliados. Mas em algumas regiões, determinados grupos mantiveram a luta contra os europeus, como o Império Samori em relação aos franceses na África Ocidental na década de 1880. Em todos os casos, a política européia  fopi a de dividir para governar. Por volta de 1890, o homem branco tinha vantagem esmagadora quanto a suprimentos benéficos e à metralhadora transformou-se na arma da partilha. 

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O MUNDO DEPOIS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL




            A partir de 1919 o mundo imperialista e o nacionalismo tiveram novas formas. 
          Nos anos 20, os impérios europeus na Ásia e norte da África tinham atingido sua maior extensão. No final da primeira Guerra Mundial, a França ganhou o controle do Líbano e da Síria. O mandato sobre Iraque, Palestina e Transjordânia foi atribuído às Grã-Bretanha, que já controlava Egito, Sudão, bordas sul e leste da Arábia, Índia, Birmânia, Ceilão e Malásia. Os holandeses permaneceram nas Índias Orientais, os espanhóis no norte do Marrocos e os italianos na Líbia. Depois disso, a única aquisição importante foi a Etiópia, conquistada pela Itália em 1936. Turquia, Pérsia, Arábia Saudita, Iêmen, Afeganistão e Sião (Tailândia) ficaram independentes, mas dentro de limites: o poder militar  da Europa e a dominação dos mercados mundiais pelos países industrializados do Ocidente tinham de ser considerados mesmo mesmo por países independentes. A situação assumiu novas dimensões coma crescente demanda de petróleo para exércitos e indústrias e a descoberta e exportação de grandes reservas de petróleo no Oriente Médio, especialmente na Pérsia e no Iraque.
         A posição das potências imperiais, entretanto, era mais fraca do que parecia. O desgaste dos países vitoriosos na Primeira Guerra, o surgimento de uma nova concepção de domínio imperial como algo temporário e limitado, além de críticas e desafios vindos dos EUA, União Soviética e Alemanha nazista limitavam a ação da Grã-Bretanha e França. Os países da Ásia e do norte da África eram, em geral, de civilização antiga e culta, com tradição de independência ou de participação no próprio governo; em alguns deles, uma educação moderna produziu uma elite participativa e desejosa de maior autonomia. 
            Embora as potências coloniais enfrentassem oposição na Ásia e norte da África, o mesmo não ocorria na África subsaariana. A reação pautava-se por uma mistura de repressão e concepção. A oposição era feita por dirigentes tradicionais ou por elites apoiadas em forças sociais locais. No Marrocos, o governo espanhol e depois o francês foram ameaçados por uma revolta nos montes Rif, liderada por Abel el-Krim e esmagada com dificuldade (1921/26) e, na Cirenaica, a conquista italiana enfrentou resistência das tribos sanusis. No Afeganistão, dependente da Índia britânica em assuntos externos, os administradores ameaçavam posições britânicas na fronteira  noroeste, em 1919,e garantiram a independência, por tratado, em 1921. 
           Em outros ,ugares, a nova elite culta defendia a ideia de que cada nação (em termos territoriais ou étnicos) deveria ter seu Estado independente. Nesse período, os movimentos nacionalistas só representaram um desafio nos países onde podiam mobilizar amplo apoio. Isso ocorreu na Turquia, onde os nacionalistas liderados por Mustafá Kemal (Ataturk) derrotaram os planos anglo-franceses de dividir o Império Otomano e abolir seus sistema tradicional de governo e criaram uma república turca independente, em 1923.
            Nas antigas regiões árabes do Império Otomano, tentativas de obter a independência tiveram menos sucesso. Na Síria,uma revolta nacional iniciada em Jebel Druze foi reprimida (1925/27) e os franceses só fizeram poucas concessões antes do fim  da Segunda Guerra Mundial. No Iraque uma revolta em 1920 persuadiu os britânicos a criar um governo autônomo sob um rei árabe. Faisal: em 1932, o Iraque assegurou sua independência e sua admissão como membro da Liga das Nações, mas a presença militar britânica continuou. 
            Na Palestina, o conflito resultante do apoio britânico à criação de um lar nacional judaico causou distúrbios em 1920, enquanto a oposição à imigração dos judeus, após a ascensão de Hitler na Alemanha, em 1933, levou a uma revolta árabe (1935/39). No Egito, o principal partido nacionalista, o Wafd de Saad Zaghlul, obteve apoio popular. Após uma revolta nacional, em 1919 a Grã-Bretanha concedeu a independência ao Egito em 1922, embora assuntos importantes continuassem submetidos ao governo britânico. Em 1936 um tratado anglo-egípcio deu ao Egito maior controle sobre seus assuntos, mas deixou aos europeus o controle militar e o gerenciamento do canal de Suez. Nas colônias do norte da África, o nacionalismo era menor; os movimentos argelino e marroquino começaram nos anos 30 e as pressões sobre os franceses de parte do Néo-Destour, na Tunísia, fracassaram em mudar a política vigente. Também na Índia, o principal partido nacionalista, o Congresso nacional Indiano, teve grande apoio popular devido à liderança de Ohendas K. (Mahatma) Gandhi. Ao unir a ideia do nacionalismo ao tradicional pensamento e ação hindu, Gandhi levou a Índia à era da política de massas. Em 1920, sua primeira campanha de desobediência civil falhou e resultou em repressão. Mas em 1930, tirando partido da depressão econômica mundial e do mal-estar causado pelo desemprego, ele lançou a segunda campanha, que durou alguns anos e conseguiu induzir os britânicos a estabelecer o "Governement of Índia Aet", em 1935. Isso criou uma estrutura participativa no  governo central e nos governos provinciais, que os membros conservadores do congresso estavam dispostos a aceitar, embora fosse menos atraente para nacionalistas radicais como Jawaharlal Nehru: em 1937,o Congresso controlava a maioria dos 14 governos provinciais. Essa fase chegou ao fim com a Segunda Guerra Mundial. O Congresso decidiu  não participar do esforço de guerra e seus ministros renunciaram. Além disso, os líderes da população muçulmana estavam desenvolvendo seus próprios movimentos; em 1940, o guru mais poderoso, a Liga Muçulmana, aprovou resolução exigindo um Paquistão autônomo. 
          Em outras áreas do mundo colonial, a angústia dos anos 30 deu aos líderes nacionalistas o apoio popular que lhes faltava. Até a Costa do Ouro, fazendeiros de cacau, atingidos pela queda nos preços mundiais, fizeram protestos; no Caribe, irromperam tumultos e greves, em 1935.  Em alguns casos, houve concessões que criaram um equilíbrio de forças temporário, como no Ceilão, onde uma nova Constituição vigorou após 1931, e na Birmânia, que obteve uma espécie de governo autônomo, embora limitado, em 1935. Nas Índias Orientais holandesas uma fase de movimentos revolucionários, que começou com a revolta comunista de 1920, foi esmagada com poucas mudanças no governo provincial. Os holandeses puderam manter-se sem muitos problemas até a chegada dos japoneses, em 1941/42. Na Indochina, os franceses não fizeram concessões, o que conduziu à inquietação nos anos 1930 e  à criação do Viet Minh, por Ho Chi Minh, em 1941. Esser período assistiu à ascensão de líderes nacionalistas mais radicais - Azikiwe na África Ocidental, Ho Chi Minh no Vietnã, Nehru na Índia, Sukarno na Indonésia, Bourguiba na Tunísia -, que entenderam melhor que seus antecessores como utilizar as forças populares que deixariam suas marcas após a Segunda Guerra Mundial. 
            No final da Primeira Guerra Mundial as Potências Centrais estavam em colapso e os tratados de paz subsequentes - Versalhes (28 de junho de 1919), entre os aliados a a Alemanha; o Tratado de St. Germain (10 de setembro de 1919), com a Áustria; o Neuilly (27 de novembro de 1919, com a Bulgária; e o Trianon (4 de junho de 1920), com a Hungria - causaram grandes alterações  nas fronteiras, o surgimento de alguns países e ampliação de outros que estavam do lado vitorioso. Entre os novos países surgiram: Finlândia, Estônia, Letônia e Lituânia (independentes dos russos); Polônia (reconstituída a partir dos três impérios que se beneficiaram de sua partilha no século XVIII: Tcheco-Eslováquia, formada pelas antigas terras da Coroa dos Habsburgos (Boêmia, Maróvia e Baixa Silésia) juntamente com a Eslováquia e a Rutênia Carpatiana, do antigo território húngaro; e a Iugoslávia, incluindo os territórios antes independentes da Sérvia e Montenegro, a Croácia, ex-possessão habsburga, as antigas províncias turcas da Bósnia e da Herzegóvina e as províncias dos Habsburgos na Eslovênia e na Dalmácia. A Romênia expandiu-se, tirando a Transilvânia da Hungria, a Bukovina da Áustria, a Bessarábia da Russia e o sul da Dobruga da Bulgária.  A Itália tomou o sul do Tirol  (Alto Adige) e o Triestino, antiga província habsburga da Ístria. A França recuperou a Alsácia-Lorena e a Bélgica incorporou as regiões fronteiriças de Eupen e Malmédy. Os plebicitos nas áreas de litígio - Alta Silésia, Marienwerder, Allenstein e Schleswig - resultaram em soluções etnicamente  satisfatórias, embora os poloneses tenham tentado obter a Alta Silésia pela força. 
           O sistema de segurança europeu dependia dos acordos  de paz de 1919 que foram sustentados por uma série de pactos e alianças com três  objetivos principais: evitar que a Alemanha  buscasse reverter o veredito da Primeira Guerra Mundial; construir um "cordon sainitaire"contra a Rússia bolchevique; e manter os acordos territoriais na Europa Oriental, impedindo a revisão de tratados, especialmente  pela Hungria.
           Em outros acordos, as questões étnicas não foram devidamente resolvidas, deixando grupos de mesma língua dispersos pela Europa Oriental, exceto na fronteira entre  Grécia e Turquia, onde, no final da guerra greco-turca de 1920/22, uma troca de habitantes foi negociada. Danzig (Gdánsk) e o sarre eram administrados com a supervisão da Liga das Nações;o Sarre voltou para a Alemanha em janeiro de 1935, através de plebiscito. A paz com a Turquia só veio com o Tratado de Lausanne (24 de Julho de 1923), pela incapacidade dos aliados, apesar da ajuda dos gregos, de imporem seus termos ao movimento nacional para uma jovem Turquia. Nas fronteiras orientais da Europa, o acerto teve de esperar pela vitória dos Bolcheviques na Rússia e o fim das invasões recíprocas entre Rússia e Polônia. As potências ocidentais propuseram uma fronteira pela Linha Cyrzon (conferência de Spa, Julho de 1920), chegando a um acordo no Tratado  de Riga (outubro de 1920), que deu à Polônia uma minoria de bielo-russos e ucranianos. 
            A destruição do Império dos Habsburgos, o desarmamento da Alemanha e os efeitos da revolução e da guerra civil russa, alteraram o equilíbrio de forças. Mas a Alemanha não tinha concorrentes na Europa Central quanto à população e poderio industrial. A esperança das potências que se prejudicaram com a revisão dos tratados  de paz estava na manutenção de fatores de forte  alianças militares contra o restabelecimento do poder alemão. A França tentou conter a Alemanha formando alianças com a Polônia e a Tcheco-Eslováquia e cobrando indenizações. Mas os esforços franceses de promover um movimento separatista na Renânia e ocupação do Ruhr, para forçar o pagamento de indenizações, em 1923, foram desastrosos. Depois disso, Alemanha e França ficaram mais próximas e o Tratado de Locarno, de 1925, estabeleceu garantias nas fronteiras franco-germânicas e belgo-germânicas. A Alemanha aderiu à Liga das Nações (1926), mas também assinou um pacto de amizade e não-agressão com a URSS. Forças francesas e britânicas que ocupavam a Renânia foram retiradas e as potências europeias iniciaram discussões para um acordo de desarmamento mundial. 
            A Europa de 1920 aparentava ter um sistema estável, protegido da guerra pelos acordos da Liga das Nações. Mas o caráter ilusório dessa estabilidade ficou evidente quando a ação naval da Itália contra a ilha grega de Corfu, em 1923, e a tomada de Vilna pela Polônia, em 1920, ficaram impunes. Outro ponto fraco era a instabilidade da política interna de muitas potências europeias (sobretudo na Europa Oriental) e a fragilidade da sustentação econômica do sistema internacional. As tensões da Primeira Guerra, as falhas nos acordos de paz e as tensões do ajuste econômico fortaleceram grupos antiparlamentaristas e revolucionários e os partidos de esquerda e de direita. A Revolução Russa levou à criação de uma nova Terceira Internacional  Socialista (Comintern), que defendia que todos os partidos e movimentos filiados deveriam seguir sua liderança e modelo organizacional. Isso dividiu os partidos socialistas da França em parlamentaristas-socialistas e comunistas revolucionários, tornando inevitável a vitória da direita. 
            Alguns dos regimes e movimentos seguiram linhas nacionalistas e totalitárias, com base no modelo do fascismo italiano, que chegou ao poder em 1922. Outros (Polônia, Iugoslávia, Grécia)  eram tiranas burocrático-militares. Na Alemanha, levantes armados e quebras da ordem pública criaram um clima de guerra civil até a recuperação econômica de 1924. A Grã-Bretanha enfrentou várias greves, culminando com a greve Geral de 1926. Na Irlanda, em 1919/22, houve violenta luta armada, na forma de guerrilhas, entre britânicos e irlandeses nacionalistas, que instalaram um governo clandestino, em 1919. O acordo de 1921 manteve a região protestante do Ulster sob o governo britânico e transformou o restante da Irlanda em associado do Império. Isso provocou um conflito entre radicais e moderados no recém-criado Estado Livre  da Irlanda, somente solucionado em 1923.  
           A estabilidade entre 1925 a 1929 era mais aparente do que real e, com a chegada da Depressão, o caos financeiro e econômico voltou à Europa. O desemprego disparou, principalmente na Alemanha e na Grã-Bretanha. Na primeira, após 1930, os movimentos antiparlamentaristas de direita e de esquerda, nazistas e comunistas, aumentaram enormemente sua força. Na Grã-bretanha, um governo de "união nacional" com ampla maioria na eleição de 1931, manteve o controle parlamentar. Na Alemanha, após o fracasso de Bruning, Papen e Scheicher de criar um governo nacional efetivo, o líder nazista Hitler tornou-se chanceler em janeiro de 1933 e incorporou ou extinguiu os demais partidos. 
         Com a vitória de Hitler e a fragilidade  econômica da Grã-Bretanha e da França - onde o governo de Daladier foi derrubado em 1934 -, o precário equilíbrio da paz na Europa  sofreu danos irreparáveis. A primeira Guerra destruiu não apenas três grandes impérios europeus, mas também a credibilidade do sistema político e econômico do continente. Os novos Estados herdaram como governantes oponentes parlamentaristas das antigas autocracias, que receberam a culpa pela derrota e pelo caos econômico: para a direita, eram traidores e, para a esquerda, arautos da recessão e do desemprego. Nos países onde sobreviveu à inflação galopante e às agitações de 1919/23, o parlamentarismo acabou por sucumbir  sob pressões da nova depressão. A Liga das nações, mesmo após o ingresso da URSS, em 1934, somente representava a força dos países membros. Os povos da Europa sofreram muitas mudanças e desgraças desde 1914. Não é de estranhar que tantos tenham acreditado na promessa de uma liderança forte, sem investigar os objetivos e as credenciais dos que a ofereciam. 
              A Grande Depressão precipitou os acontecimentos que viriam a partir de 1929. A cronologia do colapso é bem conhecida, mas suas causas ainda são debatidas. Não há dúvida de que o craque da Bolsa de valores de 1929 e o consequente colapso financeira mundial foram apenas manifestações de debilidades mais profundos na economia. A instabilidade tinha várias origens. A Primeira Guerra Mundial provocou drástico aumento na capacidade produtiva, especialmente fora da Europa, mas sem um acréscimo equivalente na demanda. Havia desequilíbrio entre agricultura e indústria. As vantagens do crescimento acumulavam-se desproporcionalmente nos países industrializados e, nesses, nos setores industrial e financeiro. O aumento da produção levou, nos anos 20, à queda dos preços dos alimentos e matérias-primas, piorando as condições comerciais dos países dependentes da exportação desses bens e diminuindo o poder de compra de produtos provenientes dos EUA e Europa. A variação dos preços das mercadorias, dos estoques e da produção, especialmente a violenta queda de preços, causou muitas privações e transtornos em diversos países, em particular nos que dependiam das exportações de produtos agrícolas e matérias-primas. Nos EUA, os salários não acompanharam os lucros, prejudicando o mercado interno e limitando o potencial de novas indústrias (como o setor automobilístico) de substituir as já decadentes (como a têxtil). As finanças  internacionais nunca se recuperaram  dos transtornos da Primeira Guerra. O sistema pré-guerra de taxas de câmbio fixas e livre conversão foi substituído por um acordo (o padrão ouro), que nunca atingiu a estabilidade necessária para recompor o comércio mundial. 
            O colapso foi deflagrado pela crise financeira. A grande alto do mercado de ações no fim da década de 20 - sinal de debilidade  e de menores chances para investimentos - deu lugar a uma queda vertiginosa  no preço das ações, em outubro de 1929. Na luta por liquidez, fundos voltaram da Europa aos EUA e a propriedade europeia despencou. Em maio de 1931, o banco austríaco "Credit-Anstalt" faliu. Quando a Inglaterra abandonou o padrão-ouro, permitindo a desvalorização da libra, em setembro de 1931, o mundo todo foi afetado. Em muitos países industrializados, mais de um quarto da mão-de-obra ficou sem trabalho. os preços e salários despencaram. A produção industrial na Alemanha e nos EUA caiu a 53% dos níveis de 1929 e o comércio mundial a 35% de seu valor de 1929. Em 1929, a taxa de desemprego mundial era superior a 11%. Mas o impacto da crise foi desigual: algumas economias se reergueram rapidamente, enquanto outras sofreram durante toda a década. 
          É evidente que mudanças estruturais ocorreriam na década de 30: novas indústrias continuaram a crescer, os padrões de consumo modificaram-se, áreas periféricas aumentaram a produção de bens industrializados e os salários subiram. Uma nova ordem econômica mundial, ancorada em Wall Street e em Detroit, estava para emergir. Mas mesmo em 1939 esse sistema não tinha tingido o nível de produção industrial de 29 e só a Segunda Guerra Mundial arrancou os EUA da depressão econômica. 
               No início, os governos reagiram à Grande Depressão com esforços inúteis para a preservação do valore-ouro de suas moedas e do equilíbrio dos orçamentos, através da redução das despesas. Logo depois  tentaram estimular a economia interna através da intensificação de obras públicas, desvalorização (para ampliar exportações), subsídios agrícolas, cartelização, acordos tarifários protecionistas e preferenciais ou alguma combinação dessas políticas. 
            Essas medidas tiveram resultados variados. O sucesso dependeu da aplicação de estímulos firmes e da rapidez e extensão do rearmamento. A Alemanha e o Reino Unido se rearmaram primeiro, estimulando suas economias e as da Commonwealth. Escandinávia e Europa Oriental. A França e os EUA se rearmaram depois e sofreram mais na recessão de 1937/38. Internacionalmente, as políticas estatais levaram a um decréscimo e a um redirecionamento do comércio. Em 1935, boa parte do mundo estava dividido em cinco blocos monetários: as áreas da libra esterlina, do dólar, do ouro, do iene e a área de câmbio controlado pela Alemanha. Esses blocos equivaliam aos novos padrões de comércio e de influência. 
             Com o renascimento do nacionalismo econômico, a política internacional entrava em ebulição. A ofensiva japonesa nas exportações teve reflexo político na agressão militar contra a China. Hitler, Mussolini e os japoneses exploraram a desordem que o colapso econômico gerou e o mundo polarizou-se em dois campos armados: o Eixo (Alemanha, Itália e japão) e as "democracias¨ (lideradas pelo reino Unido, França e EUA). No  meio, a URSS, único país que, isolado do mercado mundial, conseguiu manter o crescimento econômico nos anos 30 e que os dois lados tentaram isolar ou transformar em aliado. 
              Poucos países atravessaram a Depressão sem sofrer mudanças internas. Na África,na Ásia e na América Latina, movimentos nacionalistas e revolucionários adquiriram novas bases de apoio, com a radicalização de trabalhadores urbanos e rurais devido à crise. O mundo desenvolvido dividiu-se em dois caminhos. O primeiro, liberal e democrático, exemplificado pelo "New Deal" de Roosevelt, nos EUA, e pelo governo da Frente Popular, na França. Nos dois países, a eleição de governos de esquerda ou liberais desencadeou greves e estimulou a organização sindical e reformas. O segundo caminho da direita, foi mais comum. A renúncia do ministério de Hamaguchi, em 1931, marcou o fim da experiência democrática japonesa. Com a Depressão, os movimentos fascistas difundiram-se pela Europa, levando Hitler ao poder na Alemanha em janeiro de 1933. Dois meses depois o direitista Dollfuss chegou ao poder na Áustria. A maioria da Europa Oriental logo seguiu o exemplo. Mesmo na França, reino Unido e EUA surgiram movimentos fascistas, pressionando governos para direita e perturbando movimentos de reforma. 
            A Grande Depressão provocou o colapso do liberalismo econômico e das instituições políticas liberais. Mas o triunfo dos regimes autoritários não durou muito. Mostraram-se incapazes de restaurar a antiga ordem ou de criar uma ordem nova e estável. Caíram com a Segunda Guerra Mundial. 


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