A aliança entre o poder espiritual do papa e o poder temporal do imperador começou no fim do Império Romano. Graças a essa aliança a igreja recebia a proteção do Império e a possibilidade de difundir a fé cristã. O imperador,por sua vez, ganhava a legitimação de seu poder, que era sacramentado pelo papa. Era uma época em que a religião tinha grande influência entre as pessoas que viam na religião um caminho para uma próxima vida; isso deu aos papas um enorme poder e influência nos grande impérios do mundo de então.
Com a crise do Império Romano e a formação dos reinos bárbaros, a Igreja buscou ligar-se a um reino forte, capaz de protegê-la. Isso explica sua aproximação do Reino Franco. Contudo, a Igreja pagava caro por essa proteção, pois o imperador interferia constantemente nas decisões do papa e dos bispos, dominando a igreja. Cabia ao imperador, por exemplo, escolher os candidatos ao papado.
No final da Idade Média, a Igreja começou a libertar-se da dominação política do imperador. Iniciou-se então um período de supremacia do poder espiritual, que se estendeu por toda a Baixa Idade Média.
A igreja Cristã surgiu como um desdobramento do judaísmo, e a doutrina de Cristo encontrou o terreno preparado pois o zoroastrismo já abrira aos homens a perspectiva de uma outra vida; o gnosticismo especulara sobre o conhecimento dos atributos de Deus e suas manifestações sob forma humana; o estoicismo antecipara o espírito de resignação. Portanto, em seus primórdios, o cristianismo absorveu toda a mística pagã, filtrando-a por critérios de seleção e acrescentando-lhe um novo conjunto de idéias. Os adeptos reuniam-se suas próprias casas, despretensiosamente, sem distinção entre clérigos e leigos.Mas em cada uma dessas congregações, ia-se definindo um conjunto de oficiantes: presidiam os serviços, disciplinavam os fiéis, distribuíam esmolas. Por isso, eram chamados bispos.
Posteriormente, quando começaram a ser perseguidos e os rituais se desenvolveram, ficou patente a necessidade de uma hierarquia eclesiástica, para dar uniformidade ao culto, maios eficácia à organização e melhor resistência ás ameaças. Assim, já no começo do século II era reconhecido um bispo para cada cidade. Apesar de todas as perseguições, no século II, ela venceu porque era a ideologia mais de acordo com as condições históricas da época.
Sentiam-se, os adeptos da nova religião, atraídos menos pelas predições sobre o Messias, feitas por tantos profetas judeus, do que pela esperança dos ricos e pela crença na felicidade que aguardava os humildes no reino de Deus. Eram tempos de muito sofrimento, mas também de pouquíssimos conhecimentos científicos. Hoje sabemos que tudo existe devido a uma grande explosão chamada Big Bang. Sabemos que Deus nunca criou o homem, mas que foi o homem que criou um Deus para lhe dar esperança numa outra vida que, evidentemente não existirá. Com a morte o corpo se deteriora, voltando ao estado original, e a energia vital, recebida do sol, se liberta e se espalha pelo ambiente.
Superando as limitações dos cultos nacionais, o cristianismo compôs um sistema mais universal e mais equitativo que qualquer das religiões antigas; representava uma evasiva e um consolo para quem não antevia soluções para seus problemas reais, especialmente a morte que é tão temida pela maioria das pessoas.
A igualdade de todos em Cristo contribuiu decisivamente para a difusão da doutrina entre as populações sofredoras que buscavam o reconhecimento de seus direitos humanos. E foi justamente pelo prestígio que desfrutava juntos aos oprimidos que os imperadores romanos afinal a reconheceram, desejando utilizar-lhe a influência em proveito de seu poder. Constantino foi o primeiro imperador que soube ardilosamente utilizar o nome de Cristo para unificar o império e facilitar seu governo.
No século III, com a ascensão de Diocleciano, Roma entra no período final de seu império. Como membros do clero, os bispos tinham a condição de "civitas", a mais baixa situação social do Estado Romano. Mas o sucessor de Diocleciano, Constantino I, concedeu uma série de privilégios ao clero cristão. E, aproximando-se da Igreja, protegendo-a de perseguições e, principalmente tornando-a única religião do império, Constantino canalizava, assim, em seu benefício, a força crescente que ela começava a demonstrar.
O nome de Diocleciano ficou ligado a uma das maiores perseguições que os primeiros Cristãos foram obrigados a sofrer de parte dos imperadores romanos. Tal perseguição durou cerca de dez anos, isto é, de 303 a 312. Os mártires atingiram a elevada cifra de vinte mil. Em 305, Diocleciano abdicou, obrigando Maximiliano a imitá-lo. Galério e Constantino tronaram-se, portanto, Augustos, e, quando morreu Constâncio, o exército aclamou seu sucessos o filho, Constantino, enquanto, no resto da Itália, o Senado e os Pretorianos elegiam Maxêncio, sob a condição de que este transferisse a capital, de Milão para Roma.
A rivalidade entre os dois imperadores surgiu bem cedo; Constantino, de fato, encarava o Cristianismo com espírito de tolerância, ao passo que Maxêncio via na comunidade cristã uma grave perigo para a segurança do Império. A guerra foi longa e áspera e terminou com uma grande vitória de Constantino sobre Maxêncio, no ano 312, perto da Ponte Mílvio, em Roma. Foi um triunfo também para o Cristianismo. Antes da batalha, aparecera a Constantino, no céu, uma cruz que, segundo ele, tinha uma legenda "In hoe signo vinces" - Com este sinal vencerás.
Hoje os cientistas e estudiosos têm uma nova teoria a esse respeito. Segundo ela, no momento em que Constantino se dirigia para a guerra com Maxêncio, um meteorito caiu sobre a parte central de Roma. Quando viu aquela luz brilhante, Constantino imaginou ser um aviso dos céus para que se convertesse. Então mandou que todos os seus soldados desenhassem uma cruz nos seus escudos. Isso lhes deu a certeza da vitória e, assim, ficaram mais confiantes.
A solícita adesão de Constantino ao Cristianismo explica-se também pela influência que sobre ele exerceu a sua mãe, Santa Helena, que, em romaria à Terra Santa, teria descoberto a cruz onde Jesus cristo fora crucificado.
Derrotado Maxêncio, Constantino enfrentou o último Augusto, que permanecera no Oriente, Licínio, derrotando-o e, assim, unificando o império que ficou sob o domínio de um único imperador sobre o Oriente e Ocidente. Concentrou do o poder em suas mãos, e um de seus primeiros atos foi a promulgação do Édito denominado pelos historiadores "de Milão" ou "de tolerância", e pelo qual permitia aos Cristão professarem livremente seu culto.
Outro acontecimento importantíssimo para o culto cristão foi o Concílio de Nicéia, cidade da Ásia Menor, onde, em 325, reuniram-se os Bispos cristãos para discutirem opiniões contrastantes: aquela de Ário, padre alexandrino, que sustentava a doutrina de que Jesus Cristo era semelhante ao pai, mas não eterno como este, e aquela de Atanásio, bispo de Alexandria, que afirmava que Jesus Cristo não era criatura, mas sim substância divina. O concílio, que foi o primeiro a receber o nome de ecumênico, ou seja, universal, condenou a doutrina de Ário e aprovou a de Atanásio! E foi naquele mesmo concílio que se formulou o Credo, que por isso, ainda é denominado Credo de Nicéia e que ainda se recita durante a missa católica.
A seguir Constantino operou uma vasta reforma de Estado e tetrarquia, designou Bizâncio para capital do Império, que a princípio batizou como Nova Roma, depois Constantinopla. Com esta transferência, mudou definitivamente o centro do Estado para o Oriente, e Roma não foi mais capital, substituíram-na Milão até o ano 402, e depois Ravena até 476. Constantino morreu em 337 e, após uma longa e renhida luta entre seus filhos pelo poder, subiu ao trono Constâncio, cujo reinado durou até 355.
O último membro da família constantiniana foi Juliano, apelidado O Apóstata, porque, já cristão, abjurou sua religião e procurou restabelecer o paganismo, voltando a adorar Júpiter, com todos os deuses da antiga mitologia greco-romana. Já vencedor dos Persas, foi ferido em um combate e morreu em 363.
Depois de um brevíssimo reinado de Joviano, subiram ao trono dois irmãos: Valentiniano I e valente. O primeiro ficou com o Ocidente e o segundo com o Oriente. Valentiniano morreu em 375 e foi proclamado Augusto seu muito jovem filho Valentiniano II. Ao seu lado foi colocado como ministro o tutor Arbogaste, que, mais tarde mandou matá-lo.
Com a queda do Império Romano os líderes da Igreja souberam habilmente herdar o poder criando a estrutura do império para geri-la; as dioceses se espelharam nas divisões administrativas de Diocleciano; os bispos das principais cidades reuniam-se em sínodos nas capitais das províncias; e aos bispos dos grandes centros metropolitanos era congregada dignidade especial. A Roma, Sé de Pedro e de paulo, era concedida preferência em "honra", mas não em jurisdição, e seus bispos dividiam posição e poder com os de Antioquia e Alexandria e, mais tarde, com os de Constantinopla (381) e Jerusalém (451).
Com o surgimento do feudalismo, as propriedades territoriais da Igreja organizavam-se de forma semelhante aos domínios sensoriais leigos. Ao longo da Idade Média, a Igreja tornou-se a maior proprietária de terras da Europa.
Para a Igreja, o homem tinha um destino espiritual, ou seja, uma outra vida após a morte, seja no céu ou no inferno. Por isso, na vida terrena, ele deveria preocupar-se exclusivamente com sua salvação. A missão da Igreja era ajudá-lo nessa tarefa. Naturalmente esta foi uma forma muito inteligente de domínio das classes menos evoluídas intelectualmente. Esse método perdura té hoje.
Para ajudar o homem a se salvar, a Igreja passou a condenar o comércio que visava lucros, pois, segundo os ensinamentos da Igreja, os bens materiais foram dados ao homem como meios para facilitar sua salvação e não para seu enriquecimento. Contudo eles próprios enriqueciam a passos largos. Diziam para os fiéis que a finalidade do trabalho não era o enriquecimento. Assim cada um deveria ficar na posição em que se encontrava e não desejar ser mais do que era ao nascer. Por isso, os objetos destinados à venda tinham de ter seu preço justo. Não era permitido ao comerciante ter lucro. Ele poderia apenas acrescentar ao custo as despesas que teve como intermediário.
O comércio de dinheiro, ou seja, emprestar dinheiro a alguém cobrando-lhe juros era ainda algo mais condenável. Embora hoje essas condenações pareçam estranhas, na época elas estavam perfeitamente de acordo com a realidade. Hoje a própria Igreja tem seu banco (Banco do Vaticano) e usa todas as práticas que dizia serem condenáveis, inclusive investe seu dinheiro em fábricas de armas e remédios por serem muito lucrativos.
Num sistema em que se produzia apenas para o consumo e no qual o comércio só ocorria em momentos de calamidade, os comerciantes poderiam aproveitar-ser da situação e ter lucros excessivos, se a Igreja não os ameaçasse com o inferno.
Quando os reis ou os nobres precisavam tomar dinheiro emprestado, recorriam aos judeus, pois sobre eles não pesava a proibição da usura, uma vez que as penas do inferno nada lhes significava.
Para aumentar seu poder, a Igreja estimulava as intrigas entre os nobres e os reis. Com isso promovia a divisão e o enfraquecimento do poder da nobreza e, assim, podia exercer sua própria autoridade política a seu favor.
As decisões importantes, como a definição doutrinária, eram tomadas pelo clero reunido. No século 2 os sínodos locais foram convocados na Ásia Menor para discutir a heresia montanista e, em 325, o primeiro Concílio Ecumênico, representando toda a Igreja, encontrou-se em Nicéia, seguido pelos concílios de Constantinopla (381), Éfeso 381 e Calcedônia (451).
Teoricamente, os concílios eram a voz da Igreja, mas, na prática, o cristianismo como do Estado era quase sempre sujeito a restrições imperiais. Alguns imperadores - até mesmo Justiniano I (527- 65) - governaram a igreja de forma autoritária, dando origem ao conflito entre Igreja e Estado e à tensão que viria mais tarde entre Império e Papado.............. Mas quando Roma cedeu ao ataque bárbaro, a Igreja e os bispos, com vastas propriedades e forte influência, surgiram como guardiães da tradição clássica e conduziram a Europa e a cristandade para uma nova era.
"Também o imperador está dentro da Igreja e não sobre a Igreja." Tais palavras, proferidas por Santo Ambrósio de Milão no século IV, fora dirigidas a Teodósio I, imperador romano. Marcaram o início de uma longa pendência que se manifesta por diversas vezes nos século seguintes. A coexistência de dois poderes simultâneos, o poder espiritual, representado pelos bispos e papas, e o poder temporal, de reis e imperadores, levou uma disputa procurando estabelecer de quem era a hegemonia. Muitos soberanos pretenderam tutelar a Igreja, ao passo que esta se proclamava superior a qualquer poder terreno.
Uma questão surgida entre Santo Ambrósio e o Imperador Teodósio, por problemas de pouca importância, foi resolvida por um ato público de contrição do imperador. Com isso, a Igreja mostrava clara ascendência política. Após a morte de Teodósio, em 395, o Império Romano dividiu-se e, enquanto a Igreja se fortalecia, graças a uma organização cada vez mais eficiente, e aumentava sua esfera de influência, a parte ocidental do Império entrava em franca decadência, vivendo seus últimos anos.
No século V, as invasões dos povos germânicos corroíam cada vez mais a autoridade do imperador. Os monarcas de Roma foram incapazes de impedir que significativas parcelas do Império fossem transformadas em reinos governados por chefes germânicos. Não puderam sequer impedir que o visigodo Alarico saqueasse Roma em 410. Na metade do século, quando Genserico, chefe dos vândalos, ataca Roma (455), é o Papa Leão I que dirige a defesa da cidade. O poder do imperador desaparecera. e já em 452, Leão I conseguira salvar Roma da ameaça das hordas mongólicas dos hunos, chefiados por Átila. Neste mesmo século o poder do papa, bispo de Roma, firma-se sobre o conjunto da cristandade. Essa supremacia baseava-se em argumentos tirados dos evangelho, que afirmam que São Pedro, considerado apóstolo fundados da Igreja Romana, foi designado por Cristo com primeiro chefe da Igreja. Portanto, o Papa era o sucessor de São pedro me chefe da Igreja.
No entanto, os papas não poderiam sustentar indefinidamente um império esfacelado. Quando, em 476, novos invasores os hérulos, sem aproximam de Roma, o Papa Simplício vê-se diante de uma opção difícil: ou pede auxílio ao imperador de Bizâncio ( a parte oriental do antigo Império Romano), e aceita a supremacia do patriarca de Constantinopla, salvaguardando a tradição do Império, ou, então, submete-se aos invasores e mantém ma autonomia da Igreja Romana. São Simplício adota a segunda solução: reconhece Odoacro, chefe hérulo, como patrício romano, e é nesta qualidade que ele passa a governar toda a Itália. O Império do Ocidente estava extinto.
Quando Teodorico chega á frente de outro povo germânico, os godos, recebe o mesmo tratamento que merecera Odoacro. Posteriormente livra-se deste e passa a governar sozinho.
Embora dominando militarmente, os germânicos assimilam várias instituições romanas, entre as quais o cristianismo, cujas doutrinas passam a se expandir geograficamente.
Entrementes, a Igreja de Constantinopla reconhecera a autoridade suprema do Imperador Romano do Oriente e fizera dele um árbitro, mesmo nas questões puramente religiosas. Assim, o imperador Justiniano é chefe também da Igreja Bizantina. Em virtude de suas vitórias militares sobre os godos (535 a 553), Justiniano domina-a e, assim, estende ao Ocidente sua condição de chefe religioso. os bispos e sacerdotes passaram a ser considerados meros funcionários do governo, a que deviam obediência incondicional. Os papas que ousaram opor-se á política de Justiniano foram presos e deportados, como aconteceu a São Silvério, que morreu no exílio em 538.
A dominação bizantina sobre a Itália pouco sobreviveu a Justiniano. Os Lombardos, também de origem germânica, conquistaram todo o norte e quase todo o centro-sul da península itálica em 568.
Submetido ao governo bizantino, mas cercado pelos lombardos, o Papa Gregório I (590 a 604) articula uma maneira de recuperar a autonomia da Igreja. Aproveitou-se da falência do poder imperial da Itália, onde não havia governante, para assumir o poder temporal. Inicia a conversão dos lombardos ao cristianismo e mantém com eles relações de amizade. Por outro lado, vale-se da debilidade de Bizâncio e reafirma sua própria soberania sobre Roma. Desligou-se da influência de Império Bizantino e aproxima-se dos povos germânicos da Europa ocidental.
Outro povo germânico, os francos, que habitavam o norte da Europa, também se havia cristianizado durante o século VI. Fora um de seus chefes, o prefeito Carlos Martel (688 a 741), quem detivera, em nome da Igreja, a invasão muçulmana na Europa.
Os sucessores de Gregório continuaram o trabalho de conversão dos povos bárbaros. Até mesmo os pagãos mais resistentes da Germânia foram convertidos. Por volta da metade do séculop VIII, o Ocidente e a germânia estavam submetidos à Igreja de Roma.
A aliança entre o papado e os carolíngios revelou-se muito útil para a expansão da Igreja. A pedido do papa Estêvão II, Pepino intervém na Itália, afasta a ameaça dos lombardos e cede ao papa as terras do meio-norte, de onde os bizantinos são expulsos em definitivo. Nesse momento (754) revive um Estado Pontifício - O Patrimônio de São Pedro, que já existia no século IV -, com a posse de terras longínquas, posteriormente perdidas.
O sucessor de Pepino, seu filho Carlos Magno (782 a 814), criou um império que abrangia toda a Europa Ocidental (exceto a península Ibérica e a Inglaterra), mas conservou o Patrimônio de São Pedro. Carlos Magno governava com o título de rei dos francos e lombardos. No Natal de 800, o papa Leão II colocou-lhe a coroa imperial, sagrando-o imperador do Sacro Império Romano do Ocidente. Carlos, em troca, sanciona uma série de leis sobre a supremacia da Igreja Romana na hierarquia eclesiástica cristã e a integridade do domínio pontifício.
Com o crescer do poder temporal de Roma, introduziu-se também a política da Igreja. os feudos pertencentes a nobres e arcebispos praticamente não se diferenciavam. A própria eleição do papa tornou-se tema de discussão entre as principais famílias da Itália.
No Natal do ano 800, o papa fez renascer o Império Romano do Ocidente, que desparecera em 476, ao colocar sobre a cabeça de Carlos Magno a coroa dos antigos imperadores romanos. Contudo, foi apenas em 812 que este título foi reconhecido pelo Império Bizantino, que para tanto foi devidamente recompensado. Carlos Magno morreu em 814. Seu filho, Luís, o Piedoso, governou até 840, conseguindo manter a unidade do Império.
As terras da Igreja aumentavam com o recebimento de legados e doações, que chegaram a formar feudos poderosos como os arcebispos do norte da Europa (Colônia, Mogúncia e Trèves).
Após o desmembramento do Império Carolíngio, os quatro duques germânicos fundaram, em 911, o Reino Germânico, no território da França Oriental. Nesse reino, o rei era um dos duques eleitos pelos outros três. A monarquia era eletiva. Os reis germânicos sucederam os reis francos no papel de protetores da Igreja. Em troca, adquiriram o apoio político do papa, que lhes era indispensável para controlar o poder dos grandes duques germânicos.
A aliança entre a realeza e o papado efetivou-se no ano 962, quando o papa João XII sagrou o rei Oton I como Imperador. A Igreja era o sustentáculo do império, pois contribuía com impostos e fornecia efetivos para o exército imperial. Era o exército dos bispos e dos abades que permitia ma Oton dominar os duques germânicos.
O imperador Otão I (912 a 973) consegue impor-se aos duques do Norte e com o apoio dos feudos religiosos invade a Itália, onde afirma sua soberania. Restabelece em toda sua extensão o Patrimônio de São Pedro e, em troca, o Papa João XII outorga-lhe em 962 um novo título: Imperador do Sacro Império Romano Germânico. Otão I, no entanto, não respeitou a autonomia da Igreja e impôs a tese da superioridade dos imperadores, inclusive para a escolha dos papas. Assim, ao papa competia sagrar o imperador, mas este, por sua vez, escolhia os papas.
O sistema feudal com seus nobres poderosos não permitia, porém, o estabelecimento de um império uno e forte. Cada novo imperador que ascendia ao trono era obrigado a lutar contra os nobres descendentes da Alemanha e Itália. Enquanto isso, a Igreja buscava livrar-se da tutela imperial.
No final do século X, o Sacro Império Romano-Germânico dominava, além da Alemanha, a Itália, parte da Gália (Alta Borgonha) e os países eslavos (Morávia, Boêmia, Baviera, entre outros). O alto clero, rico e vinculado ao poder político, começou a corromper-se. Os abades e os bispos germânicos passaram a levar uma vida mundana. Deixaram até mesmo de praticar as regras religiosas. Esse comportamento influenciou negativamente o baixo clero (monges e padres) e um desregramento muito grande tomou conta dos membros da Igreja. Outra consequência negativa dessa vida desregrada foi a comercialização dos bens da Igreja, considerados sagrados.
No século XI, a ação reformista de Cluny ultrapassou os limites do clero regular e se transformou num movimento de reforma geral da Igreja. Seu objetivo principal era por fim à investidura dos papas pelo imperador do sacro Império e impedir a corrupção do clero.
Pouco a pouco, os defensores da reforma da Igreja se aproximaram do papa. Sob a influência do reformador Hildebrando, o papa Nicolau II criou.em 1059, o Colégio dos Cardeais, responsável, a partir de então, pela escolha dos novos papas. Dessa forma, tirava-se do imperador o direito de indicar o sumo pontífice.
Em grande número, monges e padres começaram a apoiar as reformas. Como medida moralizadora dos costumes do clero, o movimento reformista defendia a proibição do casamento dos padres.
O imperador Henrique IV logo percebeu a ameaça ao seu poder representada por esse movimento. Invadiu Roma, expulsou o papa Gregório VIII, que se refugiou em Canossa, e nomeou outro papa, inciando um cisma, pois havia um papa no exílio e outro em Roma. Gregório reagiu, excomungando o imperador e obrigando-o a pedir-lhe perdão.
Assim, durante muito tempo, a Igreja ficou dividida, com um papa verdadeiro, no exílio, e um antipapa, em Roma. Essa divisão da Igreja só foi resolvida em 1122. Nesse ano, o papa Calixto III e o Imperador Henrique V assinaram a Concordata de Worms, segundo a qual o imperador reconhecia o direito de o papa indicar os bispos que seriam investidos primeiramente pelo papa, no seu poder espiritual e, depois, pelo imperador, no seu poder político.
Em 1056, surge a oportunidade. Com a morte de Henrique II, o novo imperador, Henrique VI, é apenas um garoto de seis anos. O Papa Nicolau II convoca uma assembléia eclesiástica (o sínodo de Latrão de 1059, que tem como consequência uma importante série de modificações para a Igreja Católica (a separação entre o cristianismo ocidental católico, e o oriental, ortodoxo, ocorrera pouco antes, em 1054). O sínodo decide proibir a investidura de leigos para bispados e abadias, e estipula que a eleição papal deve ser feita canonicamente (sem ingerência laica). Para proceder às futuras eleições, forma-se um corpo eleitoral (que viria a ser o Colégio dos Cardeais).
Quando o garoto Henrique IV se torna adulto decide ignorar as decisões do sínodo de Latrão e continua a nomear bispos e abades. O Papa Gregório VII impugna tais nomeações e em troca o imperador obriga os bispos germânicos a declararem a destituição do papa. Mas a oposição de Henrique IV estava longe de ser sólida, pois dependia do apoio dos senhores feudais. Gregório VII vale-se disso, excomunga o imperador, declara-o privado do poder real e liberta todos os senhores feudais de juramentos prestados ao Império.
Situado entre a feroz oposição de alguns feudos e a indiferença de outros, não resta nenhuma base a Henrique IV. Diante de sua insustentável situação, humilha-se diante do papa e implora-lhe o perdão (1077). Entretanto, o imperador mantinha planos de vingança. Assim que conseguiu dominar os senhores feudais, invadiu a Itália e fez uma carnificina nas ruas de Roma. O papa encerrou-se em um castelo fortificado e pediu ajuda a um chefe normando da Itália meridional, Roberto Guiscard, cujas tropas conseguiram deter o imperador.
Assim terminava a querela das investiduras, Mas o ato de excomunhão que Gregório VII lançara sobre Henrique IV compunha-se de 27 sentenças, que continham os preceitos básicos da monarquia papal (1075): o papa não poderia ser julgado; o o concílio era ecumênico (universal); somente o papa poderia convocar um concílio e autorizar seus decretos; só o papa poderia usar os emblemas imperiais e somente ele tinha o direito de exigir a cerimônia do "beija-pés"; o papa poderia depor reis e imperadores e criar novos reinos; só o papa é o bispo universal.
Jerusalém - Cidade Santa
Jerusalém é considerada cidade santa por várias religiões, tanto por judeus como por cristão. Fica situada na Síria meridional (antiga Palestina), entre as montanhas da Judeia e a 810 metros de altitude, com população relativamente pequena, cerca de 900 mil habitantes. Divide-se em quatro bairros: o dos cristãos ou dos franceses a NO, que encerra os principais conventos, as missões protestantes e o Santo Sepulcro; o dos armênios, a SO; o dos muçulmanos, a NE, que contém a famosa mesquita de Omar, e o dos judeus, a SE, na encosta do Monte Sião. Os cristãos são, principalmente, sírios católicos ou do rito grego.
Dominada pelo Monte das Oliveiras, a L, pelo monte Scopus, a NO, pelo monte do Mau Conselho ao S., é rodeada pelos vales de Josafá e de Hinom e encerrada no recinto fortificado do Sultão Solimão (1534).
O aspecto da hodierna Jerusalém pouco difere das demais cidades do Oriente; Ruas irregulares, estreitas, com bazares abobadados, casas de argila, cujos terraços dominados por minaretes e pelas duas cúpulas do Santo Sepulcro e da Mesquita de Omar. Entretanto, já se notam muitas construções do tipo europeu. Em 1917 passou para o domínio inglês, mas, desde 1, com a criação do Estado de Israel, passou para este.
Chamada Jebus, antes de David, a cidade foi conquistada por este rei aos jebuseus e fortificada. No reino de Salomão, com a construção do templo e do palácio real, tornou-se o centro da nação judaica. Depois da separação das dez tribos de Israel, sofreu, durante três séculos, durante três séculos, as invasões sucessivas dos egípcios, dos filisteus e das tribos árabes. Assolada pelos assírios, que queimaram o templo a.C., viu, cinquenta anos mais tarde, sair seu povo do cativeiro. Depois, caiu sob o domínio de Alexandre, o Grande, dos Ptolomeus do Egito e dos Selêucidas da Ásia. Libertada pela família dos Macabeus, foi reconquistada em 63 a.C. por Pompeu. Depois do reinado de Herodes, que reedificou mais uma vez o templo e durante o qual nasceu Jesus, a cidade de Jerusalém, revoltada, foi tomada e destruída por Tito no ano 70 de nossa era. Daí em diante, começou a dispersão dos judeus pela terra. Omar apoderou-se da cidade em 637. Jerusalém obedeceu aos califas de Damasco e de Bagdá e depois dos Seldjukidas. Godofredo de Bulhão e os cruzados apoderaram-se dela a 15 de julho de 1099, tornando-a capital do reino latino.
Aí começa a história de Jerusalém Libertada, que Torquato imortalizou em suas lindas e épicas estrofes, em que se mesclam a história e a lenda.
Em língua portuguesa existem também várias obras sobre Jerusalém. Das mais antigas, podemos citar a de Pantaleão de Aceiro e, das modernas, as dos escritores Pinto de campos e gama Abreu. A de Monsenhor Pinto de Campos, o ilustrado eclesiástico brasileiro, chama-se Jerusalém. A de Gama de Abreu denomina-se "Do Amazonas ao Sena, Nilo, Bósforo e Danúbio". Neste último livro, encontram-se curiosas informações sobre a proteção dada pelos reis portugueses aos Lugares Santos, baseadas no livro de frei João Batista do Livramento, intitulado Paraíso Seráfico, que, por sua vez, as colheu na Europa Lusitana, na Crônica de D. Afonso Henriques, nos "Diálogos" de Frei Heitor Pinto, na História Seráfica etc.
O poema de tarso inspirou, também, mais de uma obra célebre aos pintores: a Poussim, dois quadros, representando, um, Armida preparando-se para ferir Reinaldo adormecido e desarmada pela beleza do herói; o outro, Armida, ajudada pelos Amores, faz\endo transportar Reinaldo ao seu palácio. Dominiquino, Van Dick D. Teniers, para citar somente os mais famosos, também deixaram quadros célebres sobre personagens do poeta italiano.
As Cruzadas
No ano 1095, sacudida pelo incitamento do Papa Urbano II, e instigada também pela predicação de Pedro, o Eremita, a Europa armava-se para sua grande expedição, a maior depois da queda do Império Romano: a reconquista do Santo Sepulcro.
Mas, no Oriente, os Turcos, sucedidos aos califas árabes no trono de Bagdá (em 1055, o Emir Togrul-Beg, da dinastia de Seljuke, assumira o título de Sultão), oprimiam os postos avançados da Cristandade, ocupando a Síria, a Palestina, a Armênia e os domínios bizantinos da Anatólia. De Constantinopla, os imperadores Romano IV, Diógenes e Aleixo Comneno, imploravam socorros. O Papa, então, promoveu a união das forças ocidentais contra a ameaça asiática em 1096.
De todas as cidades, dos castelos da Europa, partiram homens armados, trazendo, em suas couraças e escudos, o símbolo de uma cruz vermelha em campo branco: cavaleiros isolados, senhores feudatários, seguidos por seus vassalos, todos animados por um enorme impulso de fé. Aos postos de chamada, aguardavam os chefes: Hugo de Vermandois, Roberto de Normandia, Godofredo de Bolhão, Boemundo de Taranto, Raimundo de Tolosa, os maiores senhores da Cristandade, que conduziam, por vias diversas, o grosso das tropas até Constantinopla.
Dqui, mercê da ajuda do imperador Aleixo Comneno, o exército cruzado seguiu para a Ásia menor; tomou Nicéia e Tarso, transpôs, com terríveis dificuldades e com grandes perdas, a cadeia de Tauro e baixou sobre Odessa e Antioquia. Após vários choques, rebeliões e dissídios entre os chefes, o exército, agora sob o comando de Godofredo de Bolhão, duque de Lorena,move-se rumo a Jerusalém e sitia-a. Em 15 de julho de 1099, a campanha já estava durando quase quatro anos , das capturas e das máquinas de guerra construídas por Guilherme Embriaco, chefe dos cruzados genoveses, uma avalancha de pedras e de fogo grego se despejou sobre as muralhas da cidade, e as forças cristãs aventuraram-se por entre as brechas surgidas.
A primeira Cruzada termino naquele mesmo dia, com uma esmagadora vitória dos Europeus, mas os resultados não foram duradouros. O pequeno reino de Jerusalém, fundado após a conquista, teve vida efêmera; cinquenta anos mais tarde, em 1147, foi necessário organizar-se, para defendê-lo, uma segunda Cruzada, que, aliás, não teve êxito, e em 1187, a Cidade Santa caia em poder do Sultão do Egito, o famoso Saladino, que derrotara e aprisionara o rei Guido de Lusignano. A terceira ofensiva cristã em 1189, chefiada por Frederico Barbaroxa, pelo rei da Inglaterra, Ricardo Coração de Leão, e pelo rei da França, Felipe Augusto, extinguiu-se com a morte de Frederico e pelo abandono do rei francês em 1192. A quarta Cruzada em 1202, nem chegou à Palestina. O Doge de Veneza, Henrique Dândolo, que assumira o encargo de transportar as tropas, soube desviá-las habilmente para as costas da Dalmácia, apontando para Bizâncio e, aqui, desbaratou o poder imperial apoderando-se, por conta da Sereníssima, de uma enorme quantidade de territórios e ilhas em 1204.
Mais quatro vezes, entre 1218 e 1270, os exércitos cruzados voltaram a tentar a grande aventura, mas foram sempre derrotados pelos Turcos ou pelas dissidência internas ou, ainda, dizimados por epidemias. Jerusalém permaneceu definitivamente em mão dos infiéis. Mas, naquele século de lutas, grandes acontecimentos estavam amadurecendo. Os rudes guerreiros da Europa tinham entrado em contato com o velho mundo oriental, rico de sabedoria e de história. E, quando regressaram a seus castelos, às cidades fortificadas, ainda ardentes pelo fogo das facções e dos ódios, traziam ainda na retina aquele mundo legendário, e procuraram estabelecer em seus territórios o fausto do Islã.
Assim, as Cruzadas, fracassadas como expedições militares, constituíram a cabeça de ponte entre Oriente e Ocidente, restituindo aos jovens povos da Europa as chaves de uma antiga e já esquecida sapiência.
Quanto, à época das quatro últimas Cruzadas, podemos dividi-las assim: 5ª - de 1219 a 1221; 6ª - de 1228 a 1229; 7ª - de 1248 a 1252; e 8ª em 1270.
O poder temporal da Igreja chegou ao ápice em princípios do século XIII. Além de ampliar o patrimônio de São Pedro, o papa exerce domínio sobre a Sicília, recebe tributos de Portugal, e a Inglaterra e a Bulgária prestam-lhe vassalagem. Com tal poderio, pôde intervir com frequência no preenchimento dos cargos em dioceses. A Igreja acumulara tais riquezas que suas transações financeiras passam a ser feitas através dos banqueiros italianos.
Nesse período era papa Inocêncio II (1198 a 1216). Ele fortalece as ordens mendicantes , esmaga o movimento herético dos albigenses(que visam a purificação dos hábitos da Igreja, advogando a vida simples das primitivas comunidades cristãs) e organiza os tribunais eclesiásticos (Santa Inquisição), que julgavam crimes de heresia (as punições incluíam o exílio, a morte na fogueira e o confisco das propriedades que, em geral, transferia para a Igreja os bens do réu).
Com a morte de Henrique VI, o papa nomeia Oto de Brunswick Imperador do Sacro Império, com a condição de que ele respeite a soberania do Papado sobre a Itália. É ainda sob o pontificado de Inocêncio II que a IV Cruzada reconquista Constantinopla (1204), para onde é nomeado um patriarca latino, e Roma estabelece efêmera dominação sobre Bizâncio.
Em 1210, Oto quebra sua palavra e invade a Itália, mas o papa frustra seus intentos, transferindo seu apoio para Frederico, rei da Sicília. Além da indiscutível supremacia espiritual, Inocêncio II deteve em suas mãos um poder temporal maior que o de qualquer soberano de seu tempo.
Mas a fraqueza do Império seria também do Papado: ambos dependiam do apoio dos senhores feudais e se desgastavam na luta pela hegemonia. O Imperador Frederico II (1194 a 1250) levou essa disputa às últimas consequências e guerreou abertamente os papas (foi excomungado três vezes). Morto Frederico, a Alemanha mergulhou na anarquia e a abalada autoridade papal não encontrava ressonância, nem mesmo nos feudos italianos. Os dois poderes universais, Papado e Império, estavam em decadência.
As condições sociais haviam mudado e outras forças surgiam: as monarquias nacionais e as cidades. Novo personagem irá fortalecer-se - o rei absoluto. E no princípio do século =XIV um deles, Filipe, o Belo, da França, será suficientemente forte para desafiar o poderio do papa.
A libertação de Jerusalém
O que veremos a seguir é uma obra prima da literatura universal
Embora houvessem decorridos somente quatro séculos desde o dia em que Jerusalém fora expugnada pelos Cruzados, na segunda metade do século XVI ainda havia grandes ressentimentos e uma aura de lenda na mente daqueles que descendiam dos heroicos conquistadores; o fato histórico representado pela guerra conduzida por Godofredo de Bulhão contra os maometanos, na Síria, na Palestina e no Egito, quase desaparecera, sob reminiscências cavalheirescas, que representassem o conjunto das marchas, das batalhas, das emboscadas, das conspirações, do habitual apanágio de todas as campanhas militares. A Cavalaria estava no ocaso, mas seus revérberos eram ainda tão poderosos que chegavam a inflamar o estro dos poetas e concentravam a atenção dos leitores. A pouca distância de Ludovico Ariosto, que celebrara, em musicais oitavas, as aventuras de Carlos Magno e dos Doze pares da França, eis que surge Torquato Tasso, muito jovem ainda, a venturar-se, empregando o mesmo metro, num poema que tinha como argumento a libertação do Santo Sepulcro.
Nascido em Sorrento, em 11 de março de 1544, filho de Bernardo Tasso (conhecido por haver composto o poema "Amadigi") e de Pórsia dei Rossi, Torquato conheceu bem cedo a miséria e a tristeza, quando seu pai foi declarado rebelde, enquanto sua mãe era hostilizada pelos parentes. Mas a poesia estava-lhe no sangue, e explodiu quando ele, contando apenas dezesseis anos, escreveu uma centena de estâncias, a que deu o nome de "Jerusalém". Dois anos depois, compunha "Il Rinaldo", em doze cantos, escrito para homenagear poeticamente o jovem Príncipe estense, que seria depois, com Tancredo, um dos personagens principais de "Jerusalém Libertada"; em seguida, após escrever a fábula pastoral "Aminta", em que fazia reviver as tênues belezas de Teócrito de Mosco, inciava sua obra-prima: "Jerusalém Libertada", em vinte cantos, empregando, nesse trabalho, não mais de dois anos, de modo que a obra estava terminada em abril de 1575.
Esgotado pelo intenso trabalho, perturbado pelas ásperas e injustas críticas de literatos e cortesões invejosos, doente, Tasso perdeu a luz da razão; e, após períodos alternados de lucidez e demência, durante os quais se entregou de corpo e alma a refazer a obra-prima, compondo !Jerusalém Libertada", que da primitiva é apenas uma pálida sombra, foi parar no Hospital de Santana, onde permaneceu internado por sete anos. Saindo dali, em 1586, depois de vagar pela Itália, refugiou-se no convento de santo Onofre, em Gianícolo, e, às sombra do famoso carvalho.
A morte o colheu em 25 de abril de 1595, impedindo-o de ver realizado seu sonho.
O poema começa quando a primeira cruzada está chegando ao fim, porque os Cristãos, estacionados na Ásia, em 1096, após três anos de guerra, já se encontram perto da Cidade santa. Godofredo de Bulhão guia o exército dos Cruzados contra Aladino, rei de Jerusalém. Poderosos colaboradores deste são os magos Ísmen e Hidraote, eseus mais terríveis guerreiros são Argante a Clorinda, reunidos a Solimão, que, tendo perdido o reino de Nicéia, se tornara o chefe dos salteadores árabes. No campo cristão, os mais hábeis guerreiros, além do duque Godofredo, são Reinaldo, Dudon, Tancredo e Raimundo de Tolosa, sempre os primeiros em todos os combates. Mas Dudon tomba no campo de batalha, e Reinaldo, para não ser punido, depois que matara um seu caluniador, abandona o exército, e segue a maga Armida, que Hidraote enviara para que atraísse para bem longe da liça os mais valentes guerreiros. Também tancredo, tendo sabido que uma guerreira sarracena fora procurá-lo, enquanto jazia ferido, em consequência de um duelo com Argante, deixa o exército, convicto de que tal guerreira fosse Clorinda, da qual se apaixonara, e ele também acaba caindo nas redes de Armida e encerrado no canto da maga.
Enfraquecido pela perda de seus mais fortes expoentes, Godofredo não mais se encontra em condições de desfechar o assalto decisivo, e os sarracenos não se demoram em assumir a supremacia, ajudados, também, pela potencias infernais, que seus feiticeiros evocam e lançam ao combate, Tancredo, libertado, com mais dez companheiros, dos encantos de Armida, chega a tempo de levantar definitivamente o moral dos cristãos.
Todavia, as aventuras dos Cruzados não terminam aí, porque Clorinda e Argante conseguem, num golpe audacíssimo, incendiar as torres móveis e as máquinas de guerra que os Cristãos tinham construído em redor das muralhas, visando ao ataque final, e, quando Godofredo manda seus soldados cortar as árvores da vizinha floresta para reconstruir o que acabara em cinzas, milhares de encantamentos e bruxarias impedem aos lenhadores de cumprir a missão.
Além disso, Tancredo, que se atira em perseguição de um guerreiro inimigo, a quem ele surpreendera nas caladas da noite, fere-o mortalmente, e somente então reconhece no adversário sua amada Clorinda, que lhe invoca o batismo. Desolado pela perda da mulher amada, Tancredo se afasta, sem desejar mais combater.
Mas Godofredo tem uma visão durante o sono, que lhe vaticina que todos os obstáculos serão removidos com o aparecimento de Reinaldo. Por isso, ordena a dois cavaleiros, Carlos e Ubaldo, que partam e libertem o invicto guerreiro dos laços de Armida.
Os dois enviados realizam uma viagem venturosa, conseguem chegar até Reinaldo e convencem-no a seguir seu próprio dever. E assim, Reinaldo, após repudiar Armida, regressa ao campo cristão...
Godofredo, então, manda seus guerreiros para o ataque, e Jerusalém é conquistada. Argante morre pelas mãos de tancredo e este, novamente ferido, é salvo e tratado pela meiga Hermínia, que desde muito tempo o amava.
Os Muçulmanos não se haviam conformado ainda com a perda de Jerusalém, e tentam um desesperado esforço para reaver a Cidade Santa.
Do Egito lhes vem um formidável exército, mas Godofredo vai-lhe ao encontro, aceita a batalha campal e, após a morte em combate de seus mais aguerridos inimigos, Aladino e Solimão, a vitória acaba premiando o chefe cristão.
A admirável fluidez dos versos, a eficácia das descrições, a riqueza dos episódios, tudo contribui para fazer desse admirável trabalho uma autêntica obra-prima da literatura universal.
Como era a Igreja primitiva
O poder da Igreja Cristã, com força divina, começou com Paulo, um judeu convertido de Tarso, mostrou o poder e a extensão do apelo do cristianismo ao pregar nas ilhas do Egeu, na Ásia menor, Grécia, Itália e talvez Espanha. Com as viagens de Paulo, as igrejas cristãs espalharam-se por todo mundo romano. Na época das perseguições de Diocleciano (304 a.C.) já se concentravam ao redor do Mediterrâneo e se dispersavam por lugares tão distantes quanto o Reino Unido e o Nilo.
Os cristão, sempre perseguidos, reuniam-se em recintos privados ou pequenas capelas e organizavam-se segundo o modelo da sinagoga. Mas a congregação recebia do nome Eclésia - palavra grega para as reuniões do governo municipal. Os escravos eram bem-vindos, como nos cultos de Ísis e de Mitras; nenhuma tentativa se fazia para libertá-los, mas reconfortavam-nos com a promessa dum Reino em que seriam livres. Entre os primeiros conversos predominavam os proletários, com alguns elementos das classes médias e lá um ou outo da classe alta. Não obstante, longe estavam de sere a "escória da sociedade" como disse Celso; pela maior parte viviam industriosamente, financiavam as missões, levantavam fundos para as comunidade mais pobres. Pouco esforço se fazia para conquistar a gente dos campos; a população rural veio por último, e daí o nome de pagani (aldeãos, camponeses) que começou a ser aplicado aos habitantes dos estados mediterrâneos anteriores aos cristãos.
As congregações admitiam as mulheres e encarregavam-nas de pequenos papeís; mas a Igreja exigia que elas envergonhassem os pagãos com o exemplo de suas vidas de modesta submissão e recolhimento. Tinham de comparecer aos serviços religiosos com a cabeça coberta por um véu, porque seus cabelos eram considerados extremamente sedutores e capazes de distrair até os anjos; São Jerônimo desejava que elas os cortassem completamente. Também evitavam cosméticos e joias, e sobretudo cabelos postiços; porque a benção do padre caindo sobre os cabelos de um morto colocado sobre os de um vivo, trazia confusão. Paulo dá severas instruções a respeito:
- " As mulheres devem conservar-se quietas na igreja, ocupando lugares discretos. Se querem saber de qualquer coisa, que perguntes aos maridos em casa porque é feio uma mulher falar na igreja... Já um homem não deve trazer nada na cabeça, porque ele é a imagem de Deus e reflete a glória de Deus, enquanto a mulher é um reflexo da glória do homem. Porque o homem não foi feito da mulher, mas a mulher do homem; e o homem não foi criado para a mulher e sim a mulher para o home. Por isso a mulher deve usar na cabeça qualquer coisa que simbolize sujeição."
Essas ideias absurdas, apesar de toda a evolução humana, continua sendo a forma de pensar agir de muitos homens religiosos em relação ás mulheres. Contudo, essa ideia da mulher nunca foi romana e sim grega e judaica; talvez represente a reação contra o desregramento com que algumas mulheres rebaixavam a liberdade adquirida. Destas verdadeiras fulminações podemos concluir que, apesare da falta de jóias e perfumes, e com a ajuda dos véus, as mulheres cristãs conseguiram mostrar-se atraentes e exercer sua velha ação sobre o homem. Para as solteiras e viúvas havia muitas tarefas na igreja. Eram organizadas como "irmãs", entregavam-se a serviços de administração ou caridade e deram origem a várias ordens de freiras, cuja dedicação é uma das mais nobres vitórias do cristianismo.
No ano 160 d.C. Luciano descreveu "aqueles imbecis", os cristãos, como "desdenhosos dois bens terrenos e querendo que todas as coisas sejam comuns a todos." Uma geração mais tarde Tertuliano declarava que "nós" (os cristãos) "temos todas as coisas em comum, exceto nossas mulheres", e acrescentou com a sua característica mordacidade: "a ponto de dissolvermos nossa sociedade precisamente onde o resto do mundo a faz efetiva." Não podemos tomar esta passagem ao pé da letra; em, outro ponto Tertuliano sugere que o comunismo quer dizer contribuição de cada um, de acordo com suas posses, para o fundo comum da congregação. Nesse momento nascia o dízimo obrigatório. A esperança do breve fim da ordem de coisas existente facilitava essa atitude; persuadidos da proximidade do Juízo Final os mais ricos não desejavam ser apanhados nos braços do Senhor. Muitos concordavam com os essênios em que o homem próspero que não reparte o que tem de mais é um ladrão. Tiago "irmão do senhor", atacava a riqueza com palavras de revolucionário:
- "Eis que agora vós, ricos, chorai e urrai por causa das desgraças que hão de vir sobre vós. Vossas riquezas estão podres, vossas vistes roídas pela traça, vosso mouro e vossa prata enferrujados... e essa ferrugem devorará vossa carne porque acumulaste fogo para os últimos dias. Os salários que defraudastes aos trabalhadores que ceifaram vossos campos clamaram, e as vozes dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhos dos Exércitos.... Não escolheu deus os pobres do mundo para possuírem o Reino dos Céus?"
Hoje a Igreja Católica Apostólica Romana tornou-se uma das mais ricas e poderosas empresas que, com banco próprio, investe o dinheiro dos fiéis nas mais lucrativas indústrias de produtos farmacêuticos, indústria armamentista e uma série de outras empresas e bancos altamente rendosos.
E Tiago acrescenta: - "Nesse reino, o rico murchará como a flor sob o sol escorchante."
Havia comunismo nas refeições. Como todos os grêmios classistas gregos e romanos se reuniam em certas ocasiões para um jantar comum, assim também aqueles cristãos tinham no agapé, (a festa do amor) usualmente na tarde dos sábados. A refeição começava e terminava com preces e leituras dos livros sagrados; o pão e o vinho recebiam a benção do padre (pão e vinho que para os fiéis eram, ou representavam, o corpo e o sangue de Cristo); os adoradores de Dionísio , Atis e Mitras revelam igual fé nos banquetes em que comiam coisas magicamente simbólicas dos seus deuses. O derradeiro ritual do agapé, era o "beijo do amor" em algumas congregações só de homem para homem e de mulher para mulher; em outras não havia distinção. Muitos participantes sentiam um prazer nada teológico nessa agradável cerimônia; e Tertuliano e outros a denunciaram como de fundo sexual. Portanto, é inegável que esses rituais da igreja eram formas de prazer orgiástico, como nos cultos a Dionísio. Depois da denúncia de Tertuliano, a Igreja recomendou que os lábios não se abrissem no ato do beijo; e que o beijo não fosse repetido, se desse prazer. No século III o agapé foi gradualmente desparecendo. Não é de se admirar porque essa igreja, falando em nome de Deus e tendo Cristo como seu filho legítimo, tenha encontrado terreno tão fértil para um crescimento explosivo em toda a região Mediterrânea.
Apesar desses episódios e das diatribes dos pregadores conclamando os fiéis à perfeição, temos de admitir a velha crença de que a moral dos cristão era um exemplo condenatório do mundo gentio. Depois que o enfraquecimento das velhas fés privou a vida moral do fraco apoio que elas lhe davam, e que a tentativa duma moram natural só deu resultado entre os melhores homens , uma nova ética sobrenatural realizou, à custa da liberdade do intelecto, a tarefa de embriagar os instintos grosseiros do homem. A esperança do Reino dos Céus, trazia consigo a crença num juiz que via todos os atos das criaturas, conhecia todos os pensamentos e não podia ser enganado. A esta fiscalização divina temos de acrescentar o policiamento social; naqueles pequenos grupos, dificilmente podia o pecado esconder-se, e a comunidade publicamente repreendia os membros violadores do novo código moral. O aborto e o infanticídio, que andavam a dizimar a sociedade pagã, eram vedados como equivalentes do homicídio; em muitos casos os cristãos recolhiam as crianças expostas, batizavam-nas e criavam-nas com os recursos do fundo comum. Com menos eficácia a igreja proibiu aos seus fiéis a frequência dos teatros e circos, e também que tomassem parte nas festividades pagãs. O cristianismo continuava e exagerava a severidade moral dos judeus. Fazia do celibato e da virgindade um ideal; tolerava o casamento unicamente como dique à promiscuidade e grotesco meio de perpetuar a espécie, mas os cônjuges tinham de refrear as relações sexuais. Divórcio só permitido quando um pagão queria anular o seu casamento com uma conversa. Casamento de viúvas e viúvos desaconselhado; e o homossexualismo condenado com uma severidade rara no mundo antigo. "Em matéria de sexo", diz Tertuliano, "as cristãs contentavam-se com as mulheres.
Muita coisa deste difícil código moral provinha do tão esperado e próximo retorno de Cristo. À medida que essa esperança foi murchando, a voz da carne foi se erguendo - e a moral cristã afrouxou; um panfleto anônimo "O Pastor de Hermas ano 110 d.C. ataca o reaparecimento entre os cristãos da avareza, da desonestidade, do ruge, dos cabelos tingidos, das pálpebras pintadas, da bebedeira e do adultério. Não obstante, o quadro geral da moralidade cristã nesse período é um panorama de piedade, lealdade mútua, fidelidade conjugal e a calma felicidade dos crentes. Plínio - o Moço - foi obrigado, em seu relatório a Trajano a declarar que os cristãos levavam vida pacífica e exemplar. Galeno descreve-os "tão avançados em disciplina pessoal e... intenso desejo de alcançar a excelência ética que de nenhum modo são inferiores a verdadeiros filósofos." O senso do pecado recrescia com a crença de que todo o gênero humano estava maculado pela queda de Adão (referindo-se ao pecado de Adão e Eva) e que breve o mundo chegaria ao fim, depois dum julgamento divino em que as sentenças seriam do céu ou do inferno. Muitos cristãos esforçavam-se por se apresentarem limpos perante o terrível tribunal; viam armadilhas de Satã em todos os prazeres sensuais, denunciavam o "mundo da carne", procuravam abafar os desejos à força de jejuns e variados castigos do corpo. Olhavam com maus olhos a música, o pão branco, os vinhos estrangeiros, os banhos quentes, o barbear-se - pois cortar a barba era interferir com a evidente vontade de Deus. Mesmo para os cristãos comuns a vida era mais sombria que a do pagão comum, exceto nos ocasionais "apotropaicos" apaziguamento das divindades subterrâneas. A austeridade do sábado judaico fora no século II transferida para o domingo cristão.
Nesse dies Domini, ou Dia do Senhor, os cristãos se congregavam para o rito semanal. Seus sacerdotes liam as escrituras, guiavam-nos nas orações e pregavam sermões doutrinais, de exortação m,oral o controvérsia sectária. No começo os membros da congregação, especialmente as mulheres, tinham licença de "profetizar" - isto é, "falar adiante"- quando em estado de transe ou êxtase, emitindo palavras suscetíveis de interpretação piedosa. Mas como essa profetização conduzisse ao caos teológico, a Igreja o refreou e finalmente o suprimiu. O clero tinha de estar sempre impedindo o surto da superstição e a controlá-la.
No fim do século II d.C. essas cerimônias semanais tomaram a forma de missa cristã. Baseada em partes nos serviços do Templo de Jerusalém, em parte nos mistérios gregos da purificação, sacrifício indireto e da participação pela comunhão nos poderes da deidade, a missa se formou com uma congérie (acumulação de coisas) de orações, salmos, sermões, antifonas e sobretudo o simbólico sacrifício expiatório do "Cordeiro de Deus", que no cristianismo iria substituir os sacrifícios sangrentos das religiões antigas. O pão e o vinho, outrora colocados como oferendas diante do deus, passaram a ser concebidos como símbolos do corpo e do sangue de Cristo; no ato da consagração o oficiante apresentava-os a Deus como uma repetição do auto-sacrifício de cristo na cruz. E então, numa intensa e comovente cerimônia, os fiéis compartilhavam a vida e substância de seu Salvador. Era uma concepção de há muito santificada pelo tempo; a mente pagão não precisou ser catequizada para recebê-la e corporificá-la no "mistério da missa" - e o cristianismo tornou-se a última e maior das "religiões do mistério". Tratava-se dum costume humilde na origem e belo no desenvolvimento;sua adoção mostra a alta sabedoria com que a Igreja Primitiva ajustava-se aos símbolos da época e às necessidades do povo; nenhuma outra cerimônia fortaleceu tanto as almas por essência solitárias, habilitando-as a enfrentar um mundo hostil. (Nos mistérios de Mitras os adoradores recebiam o pão e a água consagrados. Os conquistadores admiraram-se de encontrar um rito semelhante entre os aborígenes do México e do Peru.)
A eucaristia, ou "abençoamento" do pão e do vinho, tornou-se um dos sete "sacramentos" cristãos - ou rituais sagrados por meio dos quais o crente admite receber a graça divina. Aqui também recorreu a Igreja à poesia dos símbolos para dignificar e consolar a vida do homem, e renovar a cada passo, na odisseia humana, o toque fortalecedor da divindade . No século I só encontramos três cerimônias concebidas como sacramentos - o batismo, a comunhão e as ordens sagradas; mas já emergiam em germes as demais. Havia entre os primeiros cristãos a prática de acrescentar ao batismo a "imposição das mãos", pela qual o apostolado ou o sacerdote introduzia o Espírito Santo no converso; No decorrer do tempo foi esta ação separada do batismo e tornou-se o sacramento da confirmação. Como o batismo dos infantes fosse gradualmente substituindo e dos adultos, estes sentiram necessidade de qualquer forma de purificação espiritual; o público reconhecimento do pecado passou a reconhecimento confidencial ao padre, o qual alegava ter recebido dos apóstolos aos seus sucessores episcopais o direito de "atar e desatar" - de impor penas e perdoar os pecados. O sacramento da penitência era uma instituição susceptível de abusos devidos à facilidade do perdão; mas dava ao pecador a força necessária para reformar-se, poupando a certo tipo de almas as neuroses do remorso. Naqueles séculos, o casamento ainda era uma cerimônia civil; mas com a exigência da sansão da Igreja passou de contrato a voto inviolável e sagrado. Já no ano 200 a "aposição das mãos" tomou forma de "ordens sagradas", com que os bispos assumiam o exclusivo direito de ordenar sacerdotes capazes de administrar validamente os sacramentos. E por último a Igreja extraiu da "Epístola de Tiago (V,14)" o sacramento de "extrema unção" ou última benção; o sacerdote ungia os órgãos dos sentidos e as extremidades do cristão moribundo, limpando-o dos pecados e preparando-o para apresentar-se a Deus. Seria rematada tolice julgar essas cerimônias ao pé da letra; valem apenas como estímulos e inspiração, ou preciosos medicamentos da alma.
O enterro cristão passou a constituir a honra culminante da vida cristã. Como a nova fé proclamava a ressurreição tanto da alma como do corpo, o defunto recebia todos os cuidados; um sacerdote oficiava no enterro e cada corpo recebia um túmulo próprio. Lá pelo ano 100 os cristão de Roma, segundo as tradições sírias e etruscas, começaram a enterrar os mortos em catacumbas- talvez por economia de espaço e despesa do que para ocultamento. Abriam extensas galerias subterrâneas de vários níveis em que os defuntos eram superpostos nas paredes laterais. Pagãos e judeus seguiam o mesmo costume, talvez por conveniência das sociedades funerais. Certas catacumbas pareciam propositadamente tortuosas, donde a ideia de abertas para refúgio durante o período das perseguições. Depois da vitória do cristianismo, com o Imperador Romano Constantino, o sistema de catacumbas despareceu;as criptas se tornaram objetos de veneração e peregrinação; no século IX já estavam bloqueadas e esquecidas, e só por mero acidente foram descobertas em 1578.
O que resta da primitiva arte cristã se resume, pela maior parte, nos afrescos e relevos das catacumbas. Neles aparecem os símbolos que iam prevalecer na nova religião: a pomba, representando a alma livre da prisão corporal; a fênix, renascendo das próprias cinzas; e o peixe, escolhido pela razão da palavra grega i-ch-th-ux-s ser formada com as iniciais da frase Iesous Christos tneou uxios soter - (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador"). Também aparece o famoso tema do Bom pastor, francamente exposto numa estátua de Tânagra, representando Mercúrio conduzir um cabrito. Às vezes os desenhos das catacumbas deixam transparecer uma certa pompeana, como nas flores, nas vinhas ou trepadeiras e nas aves que decoram o teto do túmulo de Santa Domitila; em regra esses desenhos procediam de humildes artesãos, que misturaram a clareza clássica ás obscuridades orientais. Nesses séculos o cristianismo andou tão absorvido com o outro mundo que não tinha nenhum interesse em adornar este. Prosseguiu nas tradições judaicas de aversão à escultura, confundindo estatuária com idolatria e condenando-a, como também à pintura, por glorificar a nudez; em consequência, quanto mais se alçava o cristianismo mais decaiam as artes plásticas. O mosaico manteve-se com mais popularidade; paredes e pavimentos de basílicas e batistérios recebiam representação em mosaico de folhagens e flores, do Cordeiro Pascal e cenas dos Testamentos. Também nos sarcófagos em rudes relevos tais cenas. Entretanto os arquitetos iam adaptando a basílica greco-romana às necessidades do culto cristão. Os pequenos santuários dos antigos deuses não forneciam bons modelos para templos designados a comportar congregações inteiras; a espaçosa nave de basílica prestava-se melhor ao propósito, com a abside naturalmente destinada a construir o santuário. Nesses novos templos a música sacra herdou desconfiadamente a notação grega, os modos e escalas. Muitos teólogos refranziram o sobrecenho contra o canto das mulheres na igreja ou mesmo em qualquer lugar público; porque a voz feminina poderia provocar algum interesse profano no macho sempre excitável. Não obstante, com frequência as congregações expressavam em hinos a sua esperança, a sua alegria e os seus agradecimentos a Deus; e a música passou a ser um dos mais belos e sutis ornamentos da fé cristã.
Tomada em conjunto, nenhuma religião mais atraente, ainda surgira na humanidade. Oferecia-se sem restrições a todos os homens, a todas as classes e povos. Não se limitava a uma só nação, com o o judaísmo, nem só aos homens livres, como os cultos oficiais da Grécia e de Roma. Fazendo todos os homens herdeiros da vitória de Cristo sobre a morte, o cristianismo anunciou a igualdade fundamental de todos os homens, e fez que as diferenças sociais não passassem de coisas terrenas e temporais. Para os miseráveis, aleijados, aflitos, desalentados e humilhados trouxe a nova virtude da compaixão e uma nobilitante dignidade; deu-lhes a inspiradora figura, e o drama e a mora de Cristo, estimulou a vida com a esperança do advento do Reino do Céu e a felicidade eterna além túmulo. Mesmo aos maiores pecados prometeu perdão e plena admissão na comunidade dos salvos. Aos embaraçados com o insolúvel problema da origem e do destino, do mal e da dor, ofereceu um sistema de doutrinas divinamente reveladas, no qual as almas singelas podem encontrar o repouso mental. Aos homens e mulheres escravizados pela pobreza e o trabalho trouxe a poesia dos sacramentos e da missa, um ritual que fez de cada um dos maiores acontecimentos da vida uma cena de comovente drama de Deus e do homem. No vazio moral dum paganismo moribundo, na frieza do estoicismo e na corrupção do epicurismo num mundo farto de brutalidade, crueldade, opressão e caos sexual, num império pacificado que parecia já não necessitar das virtudes viris ou de deuses da guerra, o cristianismo trouxe uma nova moral de fraternidade, bondade, decência e paz.
Assim moldada às necessidades humanas, a nova fé espalhou-se com fluída rapidez. Quase todos os conventos tornavam-se ardentes propagandistas. As estradas, os rios e as rotas e facilidades de tráfico do Império Romano foram determinando as linhas de penetração do cristianismo. A leste de jerusalém, para damasco, Edessa, Dura, Selêucida e Ctesifon; ao sul, para Arábia, através de Bostra e Petra; a oeste, para o Egito, através da Síria; para Corinto e Tessalônica, através do Egeu, de Efeso e da Troade; para Brundisium, através do Adriático; para Puteoli e Roma, por cima de Sina e Carabdes; ao norte da África, através da Sicília; para a Espanha e a Gália, por cima do Mediterrâneo e dos Alpes; lentamente a cruz seguia o fascio (em italiano significa "feixe de varas), com as águias romanas abrindo o caminho para o Cristianismo. A Ásia menor foi nesses séculos o reduto do cristianismo; no ano 300 a maior parte da população de Efeso e Esmirnaera cristã. A nova fé foi bem acolhida no norte da África; Cartago e Hipo tornaram-se importantes centros de ensino e controvérsia cristã; Deles saíram grandes padres da Igreja - Tertuliano, Cipriano, Agostinho; e foi neles que o texto da missa e a primeira tradução latina da Bíblia tomaram forma. Lá pelos fins do século III a comunidade cristã em Roma somava 100 mil membros e estava em situação de ajudar financeiramente outras congregações; por longo tempo os cristãos e Roma reclamaram para seus bispos a suprema autoridade da Igreja. Por essa época um quarto da população do Oriente Helenístico já tinha cristianizado, o mesmo acontecendo à vigésima parte do ocidente. Já no ano 200 d.C. Tertuliano disse: -"Os homens proclamam que nós estamos bloqueando o estado. Gente de todas as idades condições e posição social se dirige para nós. Somos de ontem, mas já enchemos o mundo".
Realmente, a Igreja havia conquistado alguns dos mais finos espíritos do Império Romano. Inácio, bispo de Antioquia, deu começo à poderosa dinastia dos "Padres" posto-apostólicos que deram filosofia ao cristianismo e venceram seus adversários à força de argumentos. Condenada a ser lançado às feras por não abjurar suas crenças, na ida para Roma, justiniano escreveu diversas cartas cuja devoção mostra como aqueles homens enfrentavam a morte.
Quadratus, Atenágoras e muitos outros escreveram "Apologias"em favor do cristianismo, em geral dirigidas ao imperador. Minucio Félix, num diálogo que lembra Cícero, faz que seu Cecílio defenda com muita habilidade o paganismo, mas o seu Otávio responde com tanta cortesia que quase o persuade a tornar-se cristão; Justino de Samaria vem a Roma no tempo de Antonino, abre lá uma escola de filosofia cristã e em duas eloquentes "apologias" procura convencer ao imperador e a "Veríssimus - o Filósofo" de que os cristãos eram leiais cidadãos, pagavam as taxas prontamente e, se tratados amigavelmente, podiam tornar-se um valioso suporte do Estado.
O mais rijo lutador pelo cristianismo nessa fase foi Quintino Sétimo Tertuliano, de Cartag. Nascido mais ou menos no ano 160, filho de um centurião, estudou retórica na mesma escola cursada por Apuleio; e durante anos advogou em Roma. Já em plena maturidade foi convertido ao cristianismo e desposou uma cristã e abdicou de todos os prazeres pagãos, por fim ordenou-se padre.
No ano 197, enquanto os magistrados romanos em Cartago julgavam os cristãos por crime de deslealdade ao Império, Tertuliano dirigiu-se a um tribunal imaginário a a mais eloquente de sua obras. - o Apologeticus. Nele assegura que os cristãos "andam sempre rezando por todos os imperadores... por uma sólida dinastia, bravos exércitos, um Senado fiel e um mundo calmo". Exaltou a grandeza do monoteísmo e apontou em escritores pré-cristãos passagens que o previam.
E assim o cristianismo foi crescendo ininterruptamente.
As comunidades judaicas existiam em todas as áreas e eram alvo dos pregadores cristãos. Revoltas anti-cristãs irromperam e as divergências cresceram à medida que o número de cristãos convertidos ultrapassava o de adeptos do judaísmo. Falavam dos ensinamentos de Jesus e despertavam o interesse dos pobres e humildes, que encontravam no reino de deus uma mensagem de esperança. O numero de convertimentos cresceu, introduzindo-se rapidamente nas classes instruídas e de forma mais significativa nas massas urbanas do que no campo, que há tempos mantinha crenças pagãs. A Antioquia, "o berço do cristianismo gentio", influenciou o norte e o leste do Império. Em algum momento antes do ano 200, Edessa tornou-se um baluarte cristão e igrejas do século I eram fundadas no ocidente em Pozzuoli. Roma e talvez Espanha, no século II, as províncias orientais do Império tinham muitas igrejas que se espalharam no vale do Reno e norte da África.
A nova fé mostrou-se tenaz, apesar da morte de Jesus. Os discípulos do mestre, e mesmo o líder, Simão Pedro (a Pedra), o haviam abandonado, mas sua fé foi restituída pela suposta ressurreição; há muitas divergência sobre a liderança dos apóstolos, muitos historiadores estão convictos de que, na realidade, era uma lides chamada Maria de Magdala (Maria Madalena) - a mulher que sempre estava junto a ele, mas que o cristianismo procurou colocá-la no esquecimento, justamente por ser mulher) Jesus teria aparecido perante eles após a morte para que anunciassem as boas novas sobre o poder supremo de Deus; mas historiadores mais recentes afirmam que primeiro ele apareceu para Maria Madalena. Esta revelação foi, a princípio, apresentada em um contexto puramente judaico, uma vez que jesus era judeu. Ninguém sabe se Jesus acreditava que Deus o havia enviado para converter os gentios. Essa tarefa foi desempenhada por Paulo apóstolo em suas pregações.
Apesar da repressão e perseguição, as conversões prosseguiram. A recusa dos cristãos em cultuar os imperadores, servir de magistrados ou carregar armas tornava-os suspeitos. Mas suas crenças não atraíram apenas os oprimidos; por volta de 230, a Igreja já tinha adeptos no palácio e altos postos do Exército. A reação pagã causou mais perseguições entre os anos 151 e 303.
"Roma", escreveu Ferdinand Lot, pagou com a vida a política negativa que, sob o pretexto de penetração pacífica, impeliu-lhe a conquista da Europa central no momento (século I e mesmo século II) em que isto era possível. A prudência de Tibério e de um Adriano devia desencadear, a longo prazo, a catástrofes."
Na véspera das grandes invasões, o império é "uma ruína restaurada". O desperdício econômico, a crise moral, o perigo bárbaro provocaram, no século III, uma crise interna quase mortal para o mundo romano. A religião foi fundamental para a recuperação, e isso fez surgir uma nova potência mundial: O cristianismo.
A unidade imperial foi salva por Diocleciano e Constantino, que transformam o império em monarquia com vários chefes, saneiam as finanças, mas hesitaram quanto à atitude de tomar frente ao cristianismo. Aconselhado por Galeno, Diocleciano pensou terminar com essa nova fé oriental através da repressão prolongada; Constantino tomo o caminho oposto. Impôs o cristianismo no momento em que a heresia ariana o dividia violentamente: seguindo a Igreja, o Estado mergulhou na anarquia das controvérsias teológicas.
Enormes esforços, resultados medíocres. Somente interceptada, a decadência econômica recomeça. O despotismo instaurado pelos imperadores, em nome da salvação do povo, sufocará a espontaneidade vital e destruirá o Estado. Privado da fidelidade por parte da plebe urbana, o imperador não pode mais contar com a aristocracia militar: a nobreza contenta-se em controlar a máquina administrativa e possui imensas propriedades rurais, fonte de toda a riqueza, após a asfixia do comércio e da indústria. Sob este aspecto ela se constitui uma rival do poder imperial, que eliminará em proveito próprio, quando se tornar novamente guerreira, no Ocidente.
Porque a queda do império e, antes de mais nada, um acontecimento militar. O exército romano, de súbito, pareceu atingido de apoplexia (obsolescência).
O desprezo burguês, o desenvolvimento dos misticismos orientais e superstições, o desregramento dos costumes, e depois a reserva dos cristãos em relação ao imperador-deus, ao qual o soldado - até Constantino - deve oferecer sacrifícios; tudo isso afasta a elite romana do ofício das armas.
A partir de Constantino, os Germanos defendem a corte imperial e detêm as altas patentes. (Uma manobra muito habilidosa do clero acabou convertendo os Germanos). Os alamanos Agilo e Scudilo comandam o exército de Constantino. O Franco Mellobaude é chefe da guarda em 378. Seus compatriotas Dagalaif (366)e Merabaude (377) são cônsules. Exércitos do império são comandados pelos francos Bauto, Arbogast e Richomer; pelos godos Gaianas, Saurus, Fravitta, e até por Alarico. Todos cidadãos romanos e de uma fidelidade comprovada.
Nos cinco séculos iniciais de sua história, o cristianismo esteve restrito basicamente ao Império Romano. Com exceção das missões de Úlfila ( 311 a 383), junto aos godos, e de Patrício (ano 450), na Irlanda, pouco foi feito pela divulgação dos Evangelhos para os povos estrangeiros. Assim, o declínio do Império afetou decisivamente a história da Igreja Cristã. Ainda no século V, as tentativas d evitar a derrocada do Império, pela imposição de uma ortodoxia religiosa (principalmente o Concílio da Calcedônia em 451, alienaram tanto as Igrejas monofisistas do Egito, Síria e Armênia, quanto os nestorianos da Alta Mesopotâmia que, expulsos de Edessa, se refugiaram na Pérsia. Os Papas não pensavam numa igreja mundial, a ele interessava o Império Romano. Mas o que alterou a posição da Igreja foram as invasões germânicas na Europa Ocidental, durante o pontificado do papa leão I (440 a 461), e o rápido avanço do islã após 635. O avanço dos muçulmanos destruiu três dos cinco patriarcados - Alexandria, Jerusalém e Antioquia do Norte e mais tarde Espanha foram perdidas. A Ilíria passou às mãos dos infiéis eslavos; a oeste, grande parte dos invasores , embora cristãos, eram arianos e não reconheciam a autoridade papal. Os francos, mesmo convertidos em 497 e os anglo-saxões eram pagãos.
Com tais acontecimentos, o cristianismo ficou em posição defensiva. À época de Gregório I ( 590 a 604), a situação piorou; em lugar de uma Igreja unificada em um império unificado, havia desintegração. As disputas pela primazia entre Roma e Constantinopla afetaram a autoridade da Igreja e, a oeste, igrejas corruptas e secularizadas da Gália e Espanha eram, na maioria, independentes. Gregório teve de tomar uma atitude e em 596 enviou uma missão para converter os ingleses pagão que não teve nenhum resultado. A salvação veio do exterior - não da Igreja oficial, mas dos nestorianos da Pérsia, dos coptas do Egito e dos cristãos da irlanda. Eles iniciaram a expansão do cristianismo quando o Mediterrâneo, ponte de origem da religião cristã, sofria imensa pressão.
Entre os anos 340 e 350, os egípcios desenvolveram intenso trabalho missionário na França; um século depois, missões coptas subiram o vale do Nilo e converteram os reinos núbios entre Syene (Assuã) e Cartum. O fato de o islamismo não ser religião intolerante permitiu que estas Igrejas prosperassem. Também permitiu a expansão do cristianismo nestoriano a partir de Ctesifonte, a capital persa no Tigre. Nos séculos a partir do VII ao XI a Igreja nestoriana tornou-se maior e mais influente do que as outras Igrejas; no ano 1000 contava com milhões de adeptos, possuía cerca de 25 províncias metropolitanas e entre 200 a 250 bispados, estendendo-se da Síria oriental através da Ásia até a China e, ao sul, até a Arábia.
O declínio do cristianismo do Oriente começou com as conversões muçulmanas em massa no século XI. A Igreja copta no Egito foi especialmente atingida. E a chegada dos cruzados ao Oriente Médio, a partir de 1096, gerou nova intolerância por parte dos muçulmanos. Na China, o cristianismo não progrediu, apesar das missões, como a de João de Monte Corvino em 1294. Na Ásia Central, os mongóis eram tolerantes e as Igrejas nestorianas prosperaram até o século XIV; mas, com a ascensão de Timur (1362 a 1405), as perseguições começaram. Contudo, algumas comunidades cristãs sobreviveram em regiões remotas. Mas, no século XV, o cristianismo na Ásia era causa perdida, vindo a ressurgir com as missões católicas e protestantes dos tempos modernos, mesmo assim com sucesso parcial. Apenas na Sibéria os missionários russos mantiveram-se em intensa atividade desde o século XVII,
No Ocidente, o estímulo para o renascimento veio da Igreja Celta na Irlanda, outra Igreja monástica missionária que se dedicou de início aos celtas da Escócia. Pais de Gales e Bretanha, voltando-se a seguir à Inglaterra e, mais tarde, às tribos pagãs da Europa continental. Os principais personagens da primeira geração foram Columba (morto em 615). A partir da base escocesa de Columba em lona, o cristianismo foi para o sul até Nortúmbria (634), East Anglia (653). A partir de 664 a Igreja inglesa foi unificada sob a autoridade do papa. Columbano foi mais longe, até a Borgonha e terras pagãs alemãs em torno do lago Constança. Seu trabalho missionário foi mantido por Wilibrordo (653 a 739) e Wynfrith (ou Bonifácio) (680 a 754). Wilibrordo atuou entre os frísios dos arredores de Utrecht e Wynfrith em Hesse e Turingia. A conversão da Xaxônia veio em 804, pelo poder da espada, um dos hábitos herdados da velha Roma. A expansão do cristianismo na forma ocidental vinculou-se então à expansão política. Mas o impulso missionário não arrefeceu. Em 826, Anscário iniciou missão na Escandinávia; também houve resistência e o cristianismo só encontrou aceitação no século XI.
As missões anglo-saxônicas iniciaram o renascimento do cristianismo no Ocidente. Roma e Constantinopla, aos poucos posicionando-se em esferas de obediência distintas, a católica e a ortodoxa, competiam pela aliança com os povos eslavos da Europa Oriental. A missão de Cirilo e Metódio na Morávia em 864 fracassou devido à oposição da Igreja Franca,mas Sérvia e Bulgária foram resgatadas do domínio ortodoxo. Constantinopla também enviou missões às fronteiras setentrionais do Mar Negro. Perto de 867, havia uma igreja cristã em Kiev e, em 988, o príncipe russo Vladimir recebeu o batismo. A conversão da Rússia levou o cristianismo a um território maior do que toda a Europa. Após 1169, quando a capital foi transferida de Kiev para Vladimir, os missionários russos, indo para o norte e leste, levaram o cristianismo aos pagãos carélios, lapões, permianos, votíacos e maris. Novamente, o incentivo e o continente humano necessário a esta conquista vieram do monasticismo ascético.
A oeste, Polônia (966) e Hungria (1001) adotaram o cristianismo católico, mas procuraram escapar ao domínio franco ao colocar suas Igrejas sob proteção de Roma, o que fortaleceu a autoridade do papa. Desde a época de Leão IX (1048 - 1054), a reforma do papado garantiu liderança ativa e a ruptura entre Roma e Constantinopla em 1054 gerou um cisma permanente. A autoridade papal consolidou-se pela contra-ofensiva cristã ao islã na Espanha e fortaleceu-se mais com o patrocínio pelo papa da Primeira Cruzada (1096 a 1099). A tentativa de restaurar o cristianismo na Palestina fracassou, mas o espírito cruzado sobreviveu.
Os séculos XI e XII constituíram a grande época do Sacro Império Romano, como chegou a ser chamado o Estado alemão. Não obstante, em meados do século XII, a Alemanha já não era a principal autoridade política ou cultural da Europa Ocidental. A estrutura unificada do império estava ameaçada por seu próprio êxito econômico, isto é, pelo crescimento da população e do comércio e pela devastação dos bosques e a exploração das terras não cultivádas. A partir de 1140, a colonização interna foi reforçada pela expansão para leste. Porém, isso foi mais preocupante para os príncipes da fronteira oriental do que para os reis alemães. Estes estavam mais interessados na Itália e no oeste, especialmente nas terras do Reno. Somente nestas regiões, de economia avançada, os lucros senhoriais eram suficientes para manter o imperador e seus sucessores. Acima de tudo, existia a força magnética da riqueza urbana da Lombardia e Toscana, o resultado de uma taxa de crescimento econômico inigualável. Porém, a crescente independência das cidades italianas durante os séculos XII e XIII trouxe dificuldades para o rei arrecadar tributos. Os imperadores estiveram duas vezes envolvidos em conflitos com a Liga das Cidades Lombardas (1167 x 1226) e foram obrigados a negociar.
Logo a Alemanha começou a ficar atrasada no plano cultural. Enquanto nas cidades italianas aconteciam as primeiras manifestações do florescimento cultural que as levaria até o Renascimento, no norte dos Alpes o equilíbrio pendia decididamente para o Ocidente. Em 1200. Paris era o centro artístico e intelectual da Europa. A Alemanha, sem uma cidade capital e sem universidades, fica atrasada. Os alunos alemães estudavam filosofia e teologia em Paris. A arquitetura gótica chegou na Alemanha vindo do oeste, avançando de Estrasburgo e Francônia rena até Magdeburgo e Naumburgo. Inclusive a poesia alemã, que conserva muitas características próprias, utilizou fontes e temas franceses. Em 1268, quando o último dos imperadores alemães da grande família Hohenstaufen foi derrotado e morto, terminaram os dias de glória do poderoso Estado unificado da Alemanha medieval.
A propagação da fé ainda dependia de novas ordens monásticas de Cluny (principalmente na Espanha) e dos cistercienses (na Europa Oriental), mas agora os monges seguiam os exércitos. No século XIII, os frades (franciscanos e dominicanos) organizaram missões pacíficas na África e Ásia,com poucos resultados. A Prússia pagã foi conquistada (1231 a 1283) pela espada, Em 1387, o príncipe da Lituânia, último Estado pagão da Europa, converteu-se ao catolicismo, mas apenas para subir ao trono polonês. Este foi o último sucesso do cristianismo ocidental por um século, até que os conquistadores espanhóis levaram a fé católica para a América e os portugueses, para Índia e Extremo Oriente.
A expansão do cristianismo para o Oriente, que na prática resultou do trabalho dos cristãos nestorianos da Pérsia, é um trabalho notável da história mundial. O número de péssoas convertidas por eles não pode ser estimado com precisão, mas certamente excedeu um milhão. Suas atividades missionárias seguiram as rotas de comércio da época. Tolerados por muitos séculos por se tornar vítimas da intolerância fomentada pelas Cruzadas.
Quase desde o início, uma minoria significativa de cristãos adotou uma vida de renúncia e recolhimento. Já por volta do ano 700 d.C., os mosteiros, além de centros de devoção e aprendizado, eram grandes proprietários de terras, em todas as áreas cristãs.
A Idade Média, isto é, os séculos entre a queda do Império Romano e o surgimento da Europa moderna, foi um período crítico com o nascimento da cultura ocidental. Herdeiros de Grécia e Roma, os estados formadores da Europa medieval evoluíram até criar uma nova síntese, na qual os costumes e as tradições da Europa do Norte tiveram um papel tão importante como as do Mediterrâneo.
O impacto dos povos germânicos sobre o Império Romano teria grande ressonância nos séculos seguintes. Uma vez terminada as invasões e finalizado o processo de reacomodação física e política, começou a implantação de reinos mais ou menos estáveis no lugar onde havia existido o Império Romano Ocidental.
O apogeu foi atingido com a formação do reino franco, que através de seus governantes, principalmente Carlos Magno, chegou a configurar um dos impérios mais importantes da Europa Ocidental durante a Idade Média.
Este império sustentado por princípios cristãos propagou seu compromisso com a fé de Roma além de suas fronteiras. Porém, como seu antecessor - o Império Romano - enfrentou problemas internos e externos que foram diminuindo seu esplendor.
A parte ocidental do Império Romano não foi a única que reconstruiu uma nova forma de vida; o Império Romano Oriental, que resistiu melhor às pressões externas, conseguiu fundar, através de sua união com o Oriente Próximo, outras das grandes criações políticas desse período: o Império Bizantino.
No começo da Idade Média, no século V de nossa era, o Mediterrâneo era o centro da Europa civilizada. Por volta de 1300 , depois das depredações dos godos, vândalos e Vikings, havia emergido uma Europa transformada, cujo novo e poderoso núcleo de civilização estava na Europa do noroeste, em torno das grandes cidades de Paris, Bruxelas e a região do reno. Esta nova e importante civilização da Europa medieval foi a precursora imediata do Renascimento e do mundo moderno.
Quando os bárbaros invadiram a Europa Ocidental e Meridional nos séculos V e VI, não vieram para destruir o mundo romano, apesar desta ser a crença generalizada. Vieram para conquistar o poder, para garantir o controle de suas grandes riquezas e ter acesso ao luxuoso estilo de vida que percebiam do outro lado da fronteira. De certa forma, Roma teve muito êxito. Para aumentar seu próprio prestígio e reputação, tinha distribuído presentes aos reis e caudilhos nativos da Europa Central e Setentrional; a armadilha foi que a admiração logo deu lugar à inveja.
Durante toda sua história, o Império Romano teve de suportar nas suas fronteiras a pressão das hordas invasoras cujo único objetivo era o saque. As defesas fronteiriças e um ma segurança exército profissional permanente tinham conseguido, por muitos anos, manter uma estabilidade relativa. Contudo, no século V, a situação mudou radicalmente. Nos anos 376, 405 e 455, aconteceram invasões em grande escala de povos que os romanos já não eram capazes de dispersar e de controlar. O irrompimento dos hunos asiáticos abriu a brecha mais séria, pois sua chegada empurrou e precipitou os povos já estabelecidos, como godos e vândalos, sobre a fronteira do império. O Império se esforçou para absorver muitos deles, assim como o Exército romano, que chegou a ter um grande número de soldados germânicos. Finalmente, perdeu-se o controle, o Império Ocidental foi destruído e no seu lugar foram criados vários reinos "bárbaros" -ostrogodos, visigodos, francos e outros. Assim, a queda do grande império foi tanto o começo de uma nova história como fim de uma antiga, já que dos chamados reinos bárbaros, emergiram as nações-Estados da Europa moderna.
Os povos que conquistaram e transformaram o Império Romano Ocidental eram fundamentalmente de origem germânica. Os dois grupos principais, os ostrogodos e os visigodos, tinham se radicado ao redor dos vales dos grandes rios russos e ao longo do litoral do Mar Negro quando foram atacados pelos temíveis hunos asiáticos por volta de 370 d.C. Os ostrogodos, derrotados, exerceram pressão sobre seus vizinhos, os visigodos, obrigando-os a cruzarem o Danúbio e procurar refúgio na província romana de Mésia. No entanto, os visigodos não ficaram em paz por muito tempo e seus anfitriões romanos logo tiveram motivos para lamentar o asilo que lhes tinham oferecido. Em Adrianópolis aconteceu a batalha decisiva em 378 d. C., quando os sinos anunciaram a morte do império; as legiões , que tinham sido o suporte do Exército romano por tanto tempo, foram aniquiladas e arrastadas pelo ataque da cavalaria visigoda. Muitos séculos se passaram antes que um exército formado principalmente por soldados de infantaria voltasse a dominar os confins bélicos na Europa.
Com o Exército romano destruído e o imperador romano Valente morto, os visigodos poderiam ter conquistado facilmente o Império Oriental, pois não existia Constantinopla, que servira como bastião nas posteriores incursões de árabes e turcos. No entanto, seguiram para a Itália, agitando o mundo civilizado com o saque de Roma, a "Cidade Eterna", em 410 de nossa era. A cidade que se conservara intacta pelo menos durante oito séculos, seria saqueada em mais duas oportunidades durante os seguintes cinquenta anos, e de um modo mais selvagem pelos visigodos em 455.
Mortalmente debilitada pelo assalto visigodo, a periferia do império logo se rendeu ante outros invasores. Enquanto os visigodos continuavam sua migração em direção à França e Espanha, os ostrogodos instalavam-se na Itália. O pior estava por vir. Nos últimos dias do anos 406, os vândalos, ao encontrarem o reno congelado e a fronteira desguarnecida de tropas, cruzaram em direção a Gália e começaram uma campanha de saques intensivos, passando através da Espanha ao norte da África no ano 429. Ali estabeleceram um reino em torno da grande cidade romana de Cartago. Com isso estavam imitando os visigodos, que haviam fundado o reino de Toulouse (Tolosa) uma década antes.
Enquanto isso, na Itália, a corte do imperador romano do ocidente continuava tendo certo grau de controle, porém, cada vez mais sujeito ao domínio dos generais germânicos já convertidos cristãos, talvez o último grande benefício político legado pelos romanos ao Ocidente tenha sido sua destacada atuação na derrota dos hunos nos campos Cataláunicos, próximo a Troves, em 451. Longe de ser o saqueador sem princípios descrito pela lenda, Átila, o huno, foi o governante de um império nômade organizado, com governantes regionais que brandiam arcos de ouro como símbolos de autoridade. Contudo, a ajuda dos godos, alanos, burgúndios e francos inclinou a balança decisivamente a favor dos romanos, e os hunos foram derrotados e repelidos. A vitória pode haver salvado a Europa, mas não salvou o Império Ocidental. Apenas trinta anos depois o último imperador romano do ocidente foi substituído pelo comandante germânico de seu exército, Odoacro, e em 493 foi afastado por Teodorico, do reino ostrogodo.
No século XII, os mosteiros na Europa já eram milhares, apesar de que nem todos eram tão florescentes quanto os de Cluny ou a grande casa cisterciense de Clairvaux. Os mosteiros eram os guardiões das relíquias sagradas e poderosos centros de oração. Muitos deles tornaram-se lugares de peregrinação devido às relíquias que possuíam. De fato, os séculos XI e XII constituíram uma época de grandes peregrinações, que não respeitavam as fronteiras dos estados e que ajudavam a difundir as ideias entre os reinos medievais. Os lugares sagrados, como o sepulcro de Santiago de Compostela, na Espanha, ou São Pedro, em Roma, atraiam numerosos peregrinos que procuravam obter méritos religiosos ou reduz\ir o peso dos seus pecados realizando uma longa e difícil viagem. As grandes abadias prodigalizavam aos peregrinos alimentos e refúgio. Também davam a seus nobre beneficentes o consolo de um sepultamento impressionante acompanhado de contínuas orações.
A Europa Medieval está fortemente vinculada à guerra; desde as lutas endêmicas dos senhores feudais até a Guerra Santa. Apesar disso, a Europa foi capaz de construir uma nova forma de vida, onde a criação artística estava intimamente ligada à sua concepção religiosa. Surgia, então, o estilo gótico.
O cristianismo foi uma força unificadora na Europa Medieval que superou as guerras e as rivalidades políticas. A lei da Igreja era universal, e referida ao papa em Roma. O latim era o idioma usual do discurso educado. Esta comunidade cultural também se refletia nas tradições arquitetônicas. O estilo romântico, a linguagem arquitetônica dos séculos X e XI. começou a dar passagem, no fim do século XII, a um novo estilo: o gótico. As inovações mais importantes ocorreram nas igrejas da região de paris, que se tornava o centro cultural da Europa cristã do norte. Este estilo representava um progresso técnico considerável comparado com o estilo romântico.
A população da Europa nos anos 900 encontrava-se provavelmente no seu nível mais baixo desde a queda do Império Romano. Contudo, já no ano 1000 havia se recuperado, alcançando 30 milhões de habitantes, número este que estaria próximo dos 50 milhões em meados do século XII.
A maior parte deste aumento da população se concentrou na Europa Ocidental, isto é, na França, Alemanha e na Inglaterra, onde o fator básico foi a incorporação de novas terras.
O renascimento econômico da Europa, no entanto, não se deveu somente à fé cristã, mas também ao extraordinário crescimento econômico que se deu nos séculos XI e XII.
A agricultura medieval se caracterizou por ser extensiva, isto é, empregava uma enorme área de terreno - aqueles em preparação e os já cultivados - e uma grande quantidade de mão de obra devido à escassez de meios técnicos, obrigando os camponeses trabalharem arduamente para extrair do campo seu sustento e o dos proprietários das terras.
Durante o período medieval, muitas congregações religiosas se estabeleceram na mata virgem e terrenos baldios, o que fez com que ficassem especializados no cultivo desses terrenos. Ali plantaram, fundamentalmente cereais. Sempre que uma comunidade nova se estabelecia em algum lugar, uma das primeiras providências era a construção de uma pequena igreja, que era o centro de encontro de todos os habitantes. Esta prática ajudou a construção de um verdadeiro império cristão abrangendo, além da Europa, quase todo o mundo onde a religião era praticada.
Estabeleceram-se novas aldeias em terras marginais ou virgens e, à medida que mais terras eram preparadas para o cultivo, a população aumentava. Os mosteiros tiveram um papel importante neste processo de desmatamento do terreno para o cultivo e moradias. Embora já existissem mosteiros na Inglaterra anglo-saxônica, chegaram novas ordens ao continente sob os normandos. Os cistercienses, que pregavam uma vida acética de árduo trabalho físico, se estabeleceram em áreas mais afastadas, como Yorkshire. Rievaulx e Fountains foram as primeiras casas cistercienses, seguidas por Jervaulx, Byland e Meaus. Irmãos laicos trabalharam a terra em tarefas agrícolas ou pastorais e residiam, com frequência em granjas monacais ou em propriedades dos mosteiros.
A recuperação econômica da Europa do Norte foi o prelúdio e o motos de um dos episódios mais curiosos da Idade Média: as Cruzadas. A força espiritual do cristianismo - a mesma que motivou os ricos senhores a fundarem e equipar mosteiros e a outros a embarcarem em peregrinações - cativou a imaginação da aristocracia guerreira. Isso, somado a um certo desejo de possuir terras, conduziu a uma invasão com êxito da Síria e da Palestina, culminando com a captura da cidade santa de jerusalém em 1099. Os estados dos cruzados, que que se estabeleceram ao longo da faixa litorânea do Levante, conseguiram um domínio, ainda débil, durante os seguintes 200 anos, apesar de terem perdido Jerusalém para o líder muçulmano Saladino em 1187. Em última análise, o problema estava radicado n potencial humano. O Exército dos cruzados recebia constantemente novas remessas de guerreiros vindos da Europa, mas, à medida que passava o tempo, estas se tornaram cada vez menores, e a perda de Jerusalém reduziu o valor, como peregrinação, de uma viagem ao Levante.
Esta série extraordinária de atos de fé dominou o cenário da história européia durante os três primeiros séculos do segundo milênio a.D. As Cruzadas foram o resultado de diversos impulsos, desde expedições de ultramar a reclamar e colonizar a Terra Santa (a primeira Cruzada - de 1096 a 1099) ou o resultado de um grave desacordo político interno (a cruzada Albigense, de 1028 a 1229, contra os Cátaros irredentistas do sul da França. Com mo apoio dso papa, as cruzadas foram, de fato, campanhas sucessivas destinadas a garantir a legitimidade e a expansão do cristianismo ocidental. O Islão era considerado como o principal adversário, apesar de que a Primeira e a Quarta Cruzada, também tentaram impor o culto ortodoxo do Oriente em Constantinopla sob o domínio de Roma, que conseguiu manter por um curto período um império latino no Oriente. Finalmente, porém, o domínio bizantino na Anatóia, que havia sobrevivido aos ataques árabes, foi gradativamente penetrado pelos exércitos muçulmanos e pelos pastores nômades turcos. Este processo culminou com o estabelecimento do Império Otomano na derrota do Exército bizantino em Malazgerd em 1071. Contudo, certos centros como Trebizonda e Constantinopla resistiram aos Otomanos até meados do século XV.
Os papas incentivavam o uso da espada, bem ao estilo do velho império Romano, para expandir o domínio do cristianismo e aumentar seus territórios. Em nome de Deus, exércitos marchavam matando e apoderando-se de terras e bens das mais diversas pessoas. Deus não criou o homem, mas o homem criou Deus, e em seu nome justificavam qualquer atrocidade.
Reis e imperadores diziam governar por mandato divino. Os papas desafiavam esta postura desde o século V e, no século 10 , um movimento para libertar a Igreja do controle secular surgiu em alguns centros monásticos do Ocidente, principalmente em Cluny (Borgonha), Brogne e Gorze (Lorena), espalhando-se rapidamente até chegar a Roma, quando o imperador Henrique III decidiu reformar o papago no Sínodo de Sutri em 1046.
Na Inglaterra a Igreja Anglicana e nacional é de denominação cristã. Sua origem remonta aos período dos celtas, que no século VI foi incorporada à Igreja Católica Romana pelas missões gregorianas, lideradas por Agostinho da Cantuária. Entretanto, a igreja inglesa renunciou a autoridade papal e voltou a ser independente de Roma quando Henrique VIII de Inglaterra buscou a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão em meados do século XVI, e que não foi aceito pelo papado. Ele criou sua própria Bíblia inspirada na Reforma Protestante de Martinho Lutero.
A expansão territorial do cristianismo ocidental como resultado das Cruzadas foi mais acentuada em três diferentes áreas, na conquista e colonização temporária da Palestina, na expulsão do poder muçulmano da Península Ibérica e na conquista da Prússia por parte dos cavaleiros teutônicos. O êxito da Primeira Cruzada, liderada pelo príncipe Boemundo ( de 1096 a 1099), cujo túmulo em Canossa di Puglia, reflete mo poder e a riqueza acumulada pelos líderes da campanha; teve como resultado o estabelecimento, no início do século XII, de uma série de principados cristãos na parte oriental do mediterrâneo. Mas as despesas, que significavam para a a Europa a manutenção e o abastecimento desses territórios, eram demasiadas. No ano de 1144, sob Zengi, a Síria voltou a ocupar o condado de Edesa; logo após Saladino, fundador dos ayúbias, dirigiu uma pressão constante, entre os anos 1187 e 1193, na qual recuperou Jerusalém e arrasou com o território ocupado pelos cruzados. Na Espanha, o resultado foi mais permanente para os cristãos. Partindo dos territórios do noroeste de Castela e de Leão, o processo da Reconquista cristã foi longo e duro. De fato, na Andaluzia, os líderes militares cristãos, recompensados com grandes territórios, governavam uma população mista e grandes centros muçulmanos, como Córdoba e Granada, ainda conservavam a marca da cultura muçulmana. A mesquita de Córdoba, agora parte da catedral, é um rico exemplar da decoração da arquitetura islâmica.
O cristianismo na Rússia foi fundamental para a ressurreição da Europa medieval. Ao invés da secularidade do cristianismo ocidental, o cristianismo oriental olhava com horror o mundo secular e se recolhia na espiritualidade mística.
O aumento de riquezas em terras durante o reinado de Oto I, filho de Henrique I, permitiu aos otônidas ficar nos palácios, abastecidos pelos seus Estados. A alienação progressiva dos domínios reais fez com que dependessem cada vez mais das terras da Igreja, principalmente das cidades episcopais e seus florescentes mercados. Isto significa estreito relacionamento entre rei e Igreja e explica a feroz disputa pelas investiduras.
A conexão forjada entre os reformadores da Igreja e a Sé papal deu início à luta entre o Império e o Papado, que acabou por destruir o primeiro e prejudicar fatalmente o segundo. O conflito chegou ao ápice sob o governo de Gregório VII (1073 a 1085), que excomungou e depôs o imperador Henrique IV em 1076, forçando-o a fazer penitência pública em Canossa e aliar-se aos inimigos do Império - os normandos do sul da Itália, a nobreza alemã e a cadeia de Estados da periferia que temia a monarquia alemã. Embora Gregório tenha falhado nos objetivos imediatos, a organização da Primeira Cruzada por Urbano II (1088 a 1099), confirmou o rápido avanço da autoridade papal. A disputa foi resolvida em 1122 pela Concordata de Worms.
O conflito entre o Império Germânico e o Papado se deteriorou e passou de uma questão de princípios à luta pelo controle da Itália. O envolvimento do Papado fiou claro quando Alexandre II (de 1154 a 1181) aliou-se à Liga Lombarda a fim de resistir as investidas de Frederico I (1152 a 1190) para restaurar a autoridade imperial na Itália. A questão foi resolvida através de um acordo (Paz de Constança, em 1183), mas o Papado não conseguiu impedir os Hohenstaufen de adquirir o Reino Normando da Sicília. Só a morte do filho de Frederico, Henrique VI (1190 a 1197), e a guerra civil na Alemanha, que durou de 1197 a 1214, permitiram ao Papado de Inocêncio II (1198 a 1216) resgatar o poder da Igreja.
O cristianismo criou uma esfera cultural internacional que se estendia desde a Sicília até a Escócia.
Na igreja medieval havia universidades nas escolas das catedrais que atraiam alunos de diversos países e professores que podiam sustentar-se com o que cobravam de seus alunos. Os professores universitários eram mais livres-pensadores que os mestres de escola e infundiam um novo espírito de controvérsia nos círculos ilustrados da Europa Ocidental. De fato alguns deles entraram em conflito com as autoridades eclesiásticas devido a sua visão desafiante em relação ao ensino convencional. O mais famoso deles, Pedro Alberto, foi condenado. Teve de escolher entre a condenação ou tornar-se monge. E a condenação poderia ser a queima numa fogueira (esse era o método da igreja na Idade Média). Mas as universidades estava ali para permanecer e, nos séculos seguintes, foram fontes geradoras de talento e de ensino, obscurecendo as conquistas das antigas escolas dos conventos e das catedrais. Aos poucos, outras universidades foram criados fora das igrejas.
Apesar do desenvolvimento das universidades ter retirado da igreja certa supremacia intelectual, o cristianismo continuou sendo a força cultural dominante na Europa Ocidental. Os maiores testemunhos desses séculos são suas igrejas, mosteiros e catedrais.
O monacato cristão surgiu pela primeira vez no deserto do Egito, onde monges, como um senhor chamado Antônio; eles viviam em comunidades religiosas afastadas dos divertimentos do mundo secular. A base deste movimento foi a ideia de que o conforto espiritual era alcançado através da abstinência e da disciplina. E Europa Ocidental desenvolveu sua própria tradição monástica nos séculos V e VI, e mosteiros como Lérins, na desembocadura do Ródano, e Iona, no território céltico da Escócia Ocidental, logo se tornaram centros de grande prestígio e influencia. Contudo, o acontecimento mais importante doi a fundação do mosteiros italiano de Monte Cassino em 529. São bento, o abade dessa comunidade, estabeleceu uma regra monástica que dividia o dia em períodos de trabalho e devoção, conferindo pelo menos, um marco aceitável à vida monástica. Os excessos de ascetismo eram evitados reunindo-se os monges, mas a severa disciplina beneditina satisfazia a predileção medieval pela mortificação da carne.
Os 500 anos que se seguiram à fundação de Monte Cassino testemunharam a propagação do monacato beneditino por toda a Europa Ocidental cristã. Entretanto, no século X, algumas comunidades monásticas já não estavam a regra beneditina e começaram a aparecer outras ordens religiosas, diferentes da regra beneditina. Uma das primeiras e a mais importante foi a ordem cluniacense.
O mosteiro de Cluny foi fundado em 909 em uma localidade florestal do leste da França. Para os senhores seculares, uma das atrações do monasticismo era a forma como os monges tornavam cultiváveis áreas de mata virgem ou terrenos baldios que não podiam ser úteis nem produtivos sem o trabalho dos monges. Desta forma, ao fundar um mosteiro em algum terreno ermo dos seus domínios, um senhor não estava reduzindo seus próprios lucros; simplesmente, estava dando algo não produtivo. Com o tempo, os monges tornaram-se resritos na recuperação de terras, e o crescimento das ordens monásticas deveu-se principalmente à sua habilidade em obter bons resultados onde os assentamentos seculares podiam fazer muito pouco.
Cluny, com sua interpretação mais pura da regra beneditina, prosperou, e a reforma que liderou se propagou por toda a França. A popularidade da ordem trouxe muitas riquezas, e os mosteiros cluniacenses foram adornados com grandes igrejas onde se celebravam cultos religiosos que costumavam durar muitas horas. O movimento cluniacense alcançou seu apogeu no século XI, quando os monges de Cluny substituíram a igreja existente no mosteiro por um imponente edifício novo, Cluny III, uma das maiores obras da arquitetura romântica.
Apesar do êxito, a ordem cluniacense não pode ser comparada com o crescimento espetacular dos cistercienses. Sua casa matriz foi fundada em Citeaux em 1098, numa zona alagadiça próxima de Dijon, no leste da França. Os cistercienses recusaram a pompa e cerimonial dos ricos cluniacenses, bem como toda a ornamentação arquitetônica, e escolheram somente os lugares mais isolados, onde concentraram suas energias, com um propósito honesto e nobre: o culto divino. A austeridade da ordem cisterciense atraiu tantos adeptos como patrocinadores poderosos, de tal forma que após cinquenta anos de sua fundação, em Citeaux, já existiam 343 mosteiros cistercienses; quantidade que no ano 1200 havia aumentado para 694. Da mesma forma que os cluniacenses, a simplicidade e a severidade da norma cistercienses enfraqueceu-se com o transcorrer dos anos. Os mosteiros cistecienses se enriqueceram graças à boa administração das terras e ao patrocínio de poderosos senhores, começando a construir grandes e sofisticadas igrejas, como as dos cluniacenses que lhes precederam. Isto estimulou a formação de novas ordens monásticas, que procuravam redescobrir a simplicidade do ideal monástico original e fugir das pressões mundanas.
O pontificado de Inocêncio II foi um ponto alto do Papado. Ele fundou um Estado papal no centro da Itália dizendo ser necessário para proteger Roma; nomeou imperadores; a Inglaterra curvou-se; a França foi aliada. Também teve sucesso com o anticlericalismo. Os hereges do sul da França foram reprimidos, torturados e mortos pela Cruzada Albigense (1208. Inocêncio encorajou a evangelização pelas novas ordens de frades franciscanos e dominicanos, e procurou acabar com o desconhecimento reformando a conduta eclesiástica. Mas, após sua morte, voltaram os conflitos com o Império. Assim como Alexandre II, seu antecessor Inocêncio IV (1243 x 1254) aliou-se às cidades italianas para enfrentar Frederico II. O Papado só teve sucesso quando Clemente IV (1265 x 1268) chamou Carlos de Anjou, irmão de Luiz IX, da França, para expulsar os alemães da Itália. As vitórias de Carlos de Anjou em Benevento (1206) e Tegliacozzo (1268) puseram fim à preponderância alemã. Mas as disputas com a monarquia francesa, cadas vez mais centralizada, sobre a cobrança de impostos do clero e a soberania real acabaram em conflito aberto em 1296. Bonifácio VII (1294 x 1303) proclamou que a autoridade papal não se sentia ameaçada, mas foi sequestrado por inimigos franceses e italianos. Em 1309, seu sucessor fixou residência em Avignon, sob supervisão direta da França.
Os protestos religiosos e a conduta anticlerical constituíram o elemento da crise do século XIV no seio da Igreja. Cada vez mais imediatista e política, a hierarquia eclesiástica foi se afastando nas necessidades espirituais da da comunidade. Os éculos XI e XII foram testemunho de um grande aumento do poder e do prestígio do papado, especialmente durante a época do papa Inocêncio II (1198 - 1216). Seus sucessores imediatos fizeram mal uso do prestígio espiritual do papa em uma luta política com os imperadores alemães Hohenstaufem; os acontecimentos chegaram a um impasse com o assassinato de Bonifácio VIII por agentes do rei francês no ano de 1303 e com a transferência da santa Sé para Avignon. A justificativa para esta transferência foi a turbulência da nobreza romana, a qual, se afirmava, ameaçava aq estabilidade do papado. Muitos consideraram esta transferência um atrevido atentado político do rei francês com o intuito de submeter o papado ao seu controle. Os primeiros papas de Avignon não foram simples marionetes dos reis franceses. No entanto, Clemente VI (1342 - 1352) e Urbano V (1362 - 1370) mostraram claramente que eram partidários do rei da França quando fizeram concessões substanciais na crítica da Guerra dos Cem Anos.
As pressões para retornar a Roma aumentaram e no ano 1378 Gregório XI transferiu de novo a Santa Sé para a Itália. Isto, porém, trouxe mais problemas para o papado, quando os cardeais que se opunham ao translado elegeram um papa rival. Durante trinta anos, o cristianismo ocidental sofreu um grande cisma, enquanto os demais países europeus dividiam inicialmente sua lealdade entre dois e, depois, entre três papas rivais. Quando o problema foi solucionado, a autoridade do papado e a hierarquia eclesiástica estavam gravemente comprometidas. Ao mesmo tempo, a incapacidade para controlar a corrupção e a incompetência dentro da Igreja inspirou os reformistas, que primeiro se queixaram dos abusos e mais tarde atacaram as autoridades hierárquicas e inclusive a doutrina católica. Os objetivos religiosos e políticos misturaram-se na Inglaterra e na Boêmia entre os seguidores de John Wycliff e Jan Hus. O movimento de Wycliff perdeu o apoio da nobreza e não teve quase nenhum efeito imediato, mas Hus e seus seguidores controlaram a Boêmia até o ano 1434.
É incrível que, após os escândalos do século XIV, a Igreja pudesse manter-se sem sofrer reformas por mais de 100 anos. Mas os tempos mudaram e processo impulsionado por Wycliff e Hus teria seus resultados. Maior educação para os leigos,um crescente sentimento nacionalista e uma cultura mais secular, na qual o cristianismo já não era tão dominante, constituíram uma combinação eficiente. os papas já não podiam esperar que os governantes acatassem os decretos papais sem nenhuma discussão. À medida que aumentavam os interesses nacionais, a unidade do cristianismo latino, que foi a principal característica da Europa durante a Alta Idade Média, desintegrou-se lentamente. No seu lugar surgiu um mosaico de reinos, cada um com sua própria língua, cultura e instituições: os Estados-nações modernos da Europa.
Estudando os caminhos da Igreja Cristã fica evidente que os papas pouco se preocuparam com a "divulgação da Evangelho de Cristo"; seu grande interesse sempre foi o poder e a riqueza. Hoje quando já tem mais de 20 séculos de existência, a Igreja se transformou numa grande empresa multinacional. Criou seu próprio Banco e invente nos mais diversos segmentos da economia mundial. Os recentes escândalos dos Vatileaks I e II, como também o mau comportamento de membros do clero com a pedofilia, vem abalando as estruturas e não se sabe ainda como os papas irão resolver estas questões. Enquanto isso, o dinheiro dos crentes de todo o mundo continua fluindo e alimentando os cofres do papado.
PARA LER DESDE O INÍCIO
clique no link abaixo
Nenhum comentário:
Postar um comentário