A História de Roma depois do nascimento de Cristo
A Idade Antiga começa com a própria História. Nela incluem-se os povos de origem mais remotas, como os sumérios, egeus, egípcios, assírios, caldeus e persas. Entretanto, seu apogeu é a Antiguidade Clássica, que abrange as fazes hegemônicas da Grécia e de Roma.
Iniciando-se cerca de 3.500 anos a.C., a Antiguidade chegou ao seu fastígio da Atenas do século V a.C. Nele viveram Péricles, Sócrates e Platão. No século seguinte, Alexandre Magno e Aristóteles.
Com a decadência grega, a supremacia deslocou-se para Roma, onde atingiu seu esplendor no século anterior a Cristo, época de César e Augusto
Depois do Imperador Constantino, na era cristã, Roma sofreu um lento ocaso, com a degeneração de seus costumes e instituições, enquanto se fortaleciam as novas doutrinas espirituais. Convencionou-se marcar a passagem para a Idade Média no ano 476, em que o Império Romano do Ocidente se desmembrou com a invasão dos chamados bárbaros, de origem germânica.
Cesar Otaviano Augusto deveria ter sido o último governante de Roma no período antes do nascimento de Cristo. No entanto, por diversas razões ele, o primeiro Imperador de Roma, governou-a até o ano 14 d.C. quando morreu de causas naturais aos 75 anos.
Filho adotivo de César, o qual o designara como seu herdeiro, no testamento. Tinha apenas dezenove anos, de aspecto gracioso, de baixa estatura , e não se salientava muito na arte oratória. Mas possuía uma inteligência viva e agilíssima. Quando o Senado o chamou a Roma, ele se encontrava em Apolônia, na Grécia, onde estava se preparando para a arte militar. Atendeu imediatamente ao chamado e assumiu logo o poder, sob o nome de César, procurando reunir em torno de si todos os veteranos do tio.
Poucos anos mais tarde o vemos unido em um novo Triunvirato a Marco Antônio e a Lépido, e mais tarde, com Antônio, na Macedônia, onde seu exército derrotou, na batalha de Filipos, Bruto e Cássio. Os dois antigos conspiradores mandaram seus próprios escravos que os passassem a fio de espada. Era o ano de 42 a.C.
Porém, o segundo Triunvirato dissolveu-se quase de imediato. Lépido foi exilado numa ilha; Antônio, tendo permanecido no Oriente, apaixonou-se pela belíssima Cleópatra, rainha do Egito, até ao ponto de presenteá-la com algumas províncias romanas e repudiar sua própria esposa Otávia, irmã de Otaviano. A guerra foi declarada contra Cleópatra. Antônio interveio para ajudar a rainha, mas sua frota foi tão estrepitosamente batida em Âncio, no dia 2 de setembro de 31 a.C., que Cleópatra fugiu, e com ela Antônio, que se suicidou. Quando a rainha compreendeu que para ela tudo estava perdido , fez-se picar o seio por uma pequena, mas venenosíssima serpente. Assim, Otávio se tornou senhor do Egito, fazendo dele uma província romana no ano 30 a.C.
Da gloriosa República Romana não permaneceu senão a lembrança. Otaviano, agora sem rivais, preparava o advento do Império. Conquistado o poder absoluto, demonstrou-se mais sábio e prudente do que Júlio César. Contentou-se em ser chamado "imperador" que, naquele tempo, significava "general vitorioso" ou então "príncipe", ou seja, aquele que no Senado dá seu parecer em primeiro lugar.
Após o fim do segundo Triunvirato, Otaviano restaurou a fachada externa de república livre, com o poder governamental investido no senado romano, os magistrados executivos e as assembleias legislativas. Porém, na realidade, manteve seu poder autocrático sobre a República como um ditador militar. Conforme determinava a lei, reteve um conjunto de poderes atribuídos vitaliciamente pelo senado, incluindo o comando militar supremo e aqueles de tribuno e censor.
Quando quis retirar-se da vida privada, os próprios Senadores convenceram-no a que continuasse guiando os destinos de Roma e foi nessa ocasião que deram-lhe o título de Augusto, isto é Divino.
Poderia parecer que Otaviano fosse esquivo a honrarias e ambição, mas, na realidade, ele havia acumulado em suas mãos tamanhos poderes, que o tornavam senhor da coisa pública. Era tribuno da plebe, cargo que o fazia inviolável e lhe concedia o direito de anular, com seu voto, qualquer ato que não lhe fosse agradável; era procônsul, e com isso tinha em mãos a administração civil e o comando militar de todas as províncias romanas; era pontífice máximo, ou seja, chefe da religião reconhecida pelo Estado; finalmente, era censor, para poder vigiar os costumes e nomear os Senadores. Foi ele que criou o primeiro programa de previdência do mundo, assegurando a lealdade do exército, tornando-se algo que nenhum romano havia sido antes: o comandante em chefe de todas as Forças Armadas.
Apesar de contínuas guerras de expansão nas fronteiras imperiais e uma guerra civil de um ano devido à sucessão imperial, o reinado de Otaviano Augusto iniciou uma era de relativa paz que ficou conhecida como Pax Romana. O mundo romano esteve praticamente livre de conflitos em larga escala. Ele drasticamente aumentou o império, anexando o Egito, Dalmácia, Panônia, Nórica e Récia, expandindo as possessões da África e Germânia.
No oriente, onde já desde muito tempo existia o uso de adorar os soberanos, como se fossem divindades, Otaviano foi adorado com um deus, e este uso se difundiu, por imitação, também no Ocidente. O sexto mês do ano (sextilis) passou a ser chamado com eu nome; Agosto deriva exatamente de Augustus. Para proteger sua própria pessoa, Augusto teve nada menos do que nove cortes de soldados escolhidos, fidelíssimos, que se denominavam pretorianos.
Não é preciso dizer que o povo romano aceitou com muito prazer o governo de César Otaviano Augusto, o qual, de sua parte, jamais abusou do supremo poder e agiu sabiamente, sobretudo em favor do Estado. Subtraiu as províncias ao vexame dos pro-cônsules, ávidos somente de enriquecer, nomeando, em seu lugar, governadores, e fê-los vigiar estritamente. Distribuiu as taxas, com bastante justiça, entre os cidadãos, segundo o censo. Promulgou leis justas, para atacar o desmedido luxo dos ricos e puniu quem desse escândalo com sua própria conduta indigna. Embelezou Roma de maneira a poder gabar-se de haver encontrado uma cidade de tijolos e tê-la reconstruído com mármore.
Ele não amava a guerra e nem a glória militar, mas foi obrigado a combater contra os Germanos, uma raça belicosa e turbulenta, que ameaçava o império.
No ano de 16 a.C., para rechaçar algumas tribos germânicas, mudou as fronteiras do Império do rio Reno para o rio Elba. Dessa maneira, ser-lhe-ia mais fácil defender os limites. A luta foi dura, mas acabou sendo vitorioso. Pouco depois, porém, formou-se uma coalizão de povos germânicos, guiados por Armínio, feroz guerreiro, que desafiava os Romanos, embora houvesse sido educado em Roma. Por meio de um estratagema, Armínio atraiu as legiões romanas para a floresta de Teutberg, onde os exterminou; era o ano 9 a.C. O cônsul Quintino Varo, que as comandava, suicidou-se.
César otaviano Augusto chorou lágrimas amargas, por causa dessa derrota. Morreu aos 76 anos (14 anos depois do nascimento de Cristo), em Nola, entre os braços da esposa, Lívia Drusila, sem deixar filhos varões. Adotara o enteado Tibério, e designou-o como seu sucessor.
Portanto ele foi, também, o primeiro imperador romano da nossa era.
Com a morte de Otaviano Augusto vieram seus sucessores.
Como vimos, Augusto designara para seu sucessor, no supremo poder civil e militar, seu enteado Tibério. Assim, a monarquia, de eletiva, torna-se hereditária, e nada mais influía o povo romano, que até então manifestara sua vontade através de representantes legitimamente eleitos.
O novo imperador, elevado ao trono aos 56 anos, granjeara bastante fama e mérito nas lutas contra os Germanos. A ele se deve, de fato, a conquista da Germânia ocidental.
Revelou-se administrador sábio e previdente. Era todavia, desconfiado e arredio. Desta sua fraqueza, aproveitou-se seu pérfido ministro Hélio Sejano, que lhe fez crer que os senadores desejavam arrebatar-lhe o trono. Tibério começou a sentenciar condenações de morte, gerando entre a aristocracia romana um verdadeiro terror.
Quando descobriu a duplicidade de Sejano, sua desconfiança aumentou e, da ilha de Cápri, perto de Nápoles, aonde ele se retirara, continuou a assinar decretos de morte. Cometeu infinitas crueldades, e morreu sufocado por Macron, em seu próprio leito. Era o ano 37 da era cristã.
Quatro anos antes de sua morte, havia sido crucificado, sob o monte calvário, Jesus Cristo, que ficou conhecido como o Redentor da Humanidade.
A Tibério sucedeu Caio Júlio César Germânico, denominado Calígula, por causa do calçado militar (caliga) que usara desde criança. Também Calígula começou governando com sábia tolerância, mas esse seu bom período de governo durou pouco. Em menos de um ano, o novo imperador ensandeceu, cometendo toda sorte de singularidade, chegando a obrigar o Senado a nomear seu cavalo Incitatus como senador.
Esse reinado de loucura e terror durou três anos, isto até quando um oficial dos pretorianos, Cássio Quéreas, apunhalou Calígula, libertando Roma de tamanho flagelo.
Foi, então, eleito imperador o velho Cláudio, tio do defunto Calígula, bom homem, mas tímido e de caráter muito fraco. Libertou os escravos, e estes se aproveitaram para cometer crimes de toda sorte. Teve duas esposas; a primeira Messalina, praticou toda casta de imoralidades e Cláudio mandou matá-la.; a segunda, irmã de Calígula, por sua vez, envenenou o imperador, a fim de garantir o trono a Nero, filho que ela houvera do primeiro marido. E assim, "britânico", o legítimo herdeiro, foi espoliado da sucessão.
Apesar de tudo, o reinado de Claudio durou treze anos. O imperador deixara algumas obras em idioma grego e latim. Mandara construir um novo aqueduto (ácua Cláudio), ligando o porto de Óstia e o lago Fucino. Foi, sem dúvida, uma obra de grande importância porque abasteceu a cidade de Roma que não parava de crescer.
Nero ascendeu ao trono no ano 54 da era cristã, com apenas dezessete anos de idade. Ele deixou as rédeas do governo a Agripina, sua mãe, e ao filósofo Sênega, seu professor. Os primeiros cinco anos de seu reinado figuram entre os melhores da história do Império. Mas, também ele ocultava em si os germes da loucura e da ferocidade, que corriam no sangue dos "Claudios", a cuja estirpe pertencia.
Chegou o dia em que tais malvados instintos nele despertaram. Nero usurpara o trono ao seu meio irmão "britânico" e por isso tratou de libertar-se deste envenenando-o. Depois mandou degolar a própria mãe Agripina. Afastou da corte o mestre fiel e sábio conselheiro Sêneca, e obrigou-o a suicidar-se, porque desconfiava que houvesse tomado parte na conspiração dos Pisões, em companhia de Petrônio, escritor e poeta. Ainda hoje se lê com grande interesse seu Satiricon, que é um documento histórico sobre a vida de devassidão daqueles tempos. Também Otávia, esposa de Nero, filha do defunto imperador Cláudio, foi exterminada violentamente. Seu lugar foi tomado pela corrompida Popéia. Mas também a nova imperatriz seguiu, depois de algum tempo, a mesma sorte de Otávia. Morreu devido a um pontapé que lhe aplicou o marido.
Nero, despido como estava de qualquer senso moral, cometeu toda espécie de torpezas. Julgava-se um grande artista, ator e poeta, e quem quer que fosse que desejasse criticá-lo era punido com a pena de morte. Para encher a medida de suas atrocidades, ocorreu o incêndio de Roma e dizem que ele gozou o espetáculo do alto de um terraço, cantando, com o acompanhamento de uma lira. O povo acusou-o como causador do incêndio, e ele, a fim de afastar de cima de si as suspeitas, acusou os cristãos, contra os quais, por sua ordem, foi desencadeada uma terrível perseguição. Nenhum martírio lhes foi poupado. O apóstolo São Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, na colina do Vaticano e, São Paulo, decapitado.
As notícias de tais horrores difundiam-se pelas mais distantes regiões do Império, e por toda parte provocam censuras e indignação. Finalmente, a Gália e a Espanha insurgiram-se, as legiões que ali estavam destacadas proclamaram Nero deposto e em seu lugar elegeram imperador o General Galba.
À frente de suas tropas, Galba marchou sobre Roma, a fim de assumir o poder efetivo. Nero não teve sequer coragem de esboçar uma defesa. Apavorado com as notícias que lhe chegavam e que assinalavam a aproximação do rival, refugiou-se em uma sua propriedade, nas vizinhanças de Roma. Abandonado por todos quantos o haviam circundado até então, ostentando grande amor por ele, compreendeu afinal, que só lhe restava morrer, mas sua mão tremia, faltava-lhe a coragem necessária para suicidar-se. E foi um dos seus escravos quem lhe desferiu, a seu pedido, o golpe final.
Com Nero terminou, no ano 68, a dinastia dos "Cláudios", que se demonstrou tão funesta aos Romanos.
Foi justamente neste período, depois de Otaviano que houve a crucificação de Cristo, a mais famosa da história romana. Também foi nesse período que viveu o sábio Sêneca, um dos maiores escritores de Roma. Ele sempre escrevia sobre todos os importantes acontecimentos de Roma; contudo não se encontra uma única frase que ele tenha escrito sobre a crucificação de Cristo. Por que? - Sobre este assunto irei escrever na história do Imperador Constantino que tornou o cristianismo a única religião de Roma.
Sérvio Suplício Galba, ancião de 72 anos, que pertenceu a família patrícia, alia-se a Júlio Víndice e Marco Sálvio Otão, procônsul da Lusitânia (atual Portugal). Mas seu reinado durou pouco; depois de apenas sete meses, os próprios Pretorianos que o haviam eleito o mataram. Sucedeu-lhe no poder Marco Flávio Otão. Mas as legiões de Roma, acampadas na Gália, haviam nomeado, por sua vez, imperador Aulo Vitélio. E logo se apresentaram em baixar à Itália, para combater as legiões que haviam ficado fiéis a Otão. O choque entre ambos ocorreu perto de cremona, onde se efetuou a batalha campal e onde a derrota dos homens de otão foi completa. O imperador derrotado suicidou-se logo após receber a notícia de que seu exército fora destruído por Aulo Vitélio, e isto ocorria somente depois de três meses de difícil governo. Não muito mais longo foi o reinado de Vitélio. Então, os legionários romanos nomearam imperador Tito Flávio. Era o ano 69 da nossa era.
Este pôs término às desordens e à instabilidade do regime imperial. Conseguiu deter os Germanos, que novamente se apresentavam nas fronteiras setentrionais do Império, e levou a bom termo a guerra contra os Hebreus, entregando o comando ao próprio filho, Tito. Durante esta luta, a cidade de Jerusalém foi destruída.
Sob o reinado de Vespasiano, foi iniciada a construção do Coliseu ou Anfiteatro Flávio, para ali se realizarem espetáculos de lutas entre feras e gladiadores. Vespasiano providenciou a reforma do Senado, do qual expulsou os indignos, substituindo-os por homens ricos e poderosos, mas sobretudo virtuosos, oriundos das províncias. Morreu no ano 79, depois de haver sensivelmente melhorado as condições econômicas e políticas do Império, deixando, assim, uma ótima recordação do seu governo. Protegeu também, sobremaneira, os artistas e os sábios.
Tito Flávio Vespasiano, sucedeu o filho Tito, que, devido á sua bondade, foi dominado. Foi um grande ser humano, mas Roma era um Império onde havia muito ódio e revoltas constantes que, certamente, não condiziam com sua bondade. Dizem seus biógrafos e historiadores que ele considerava dia perdido, quando não praticava alguma boa ação.
Sob o reinado de Tito foram construídos: o Circo Máximo e o Anfiteatro Flávio, o colossal teatro ao ar livre, cujas ruínas foram chamadas Coliseu, pela grandiosidade e imponência que possuía a primitiva construção. O povo romano, tão ávido de espetáculos e jogos, precisou receber o acabamento do Circo Máximo como um acontecimento excepcional e memorável, que, certamente, deve ter sido anunciado nos Acta diurna, equivalentes aos nossos jornais e mídia em geral. Eles publicavam diariamente as notícias dos fatos mais importantes, que eram compilados por oficiais subalternos, chamados Actuarii, com o auxílio de outros, denominados Notarii (comparáveis aos nossos atuais enviados especiais). Também nesses escritos não se encontra absolutamente nada sobre a crucificação de Cristo.
Mas não foram todos acontecimentos alegres que os Acta tiveram que registrar no governo de Tito. Houve, também, incêndios e epidemias durante os quais o imperador prodigalizou seus socorros em favor das populações atingidas. A catástrofe mais grave, no reinado de Tido, foi a erupção do Vesúvio, que, inativo desde milênios, tanto que nem mais o julgavam um vulcão, abrigava, em suas encostas floridas, mansões patrícias em quantidade e havia, nas suas imediatas vizinhanças, as belas cidades de Herculano, Stabia e Pompéia.
O império de Tito durou apenas dois anos.
Bem diferente foi o de seu irmão Domiciano, que sucedera Tito no trono imperial. Crueldade e suspeitas eram os dois sentimentos que mais predominavam em seu coração. Mas, nos primeiros tempos de seu governo, ele soube ocultá-los sob uma máscara de justiça e de moderação. Adjudicou-se glória militar, ao conquistar a Britânia, e reformou não pouco os costumes. Mas não pode continuar fingindo por muito tempo as virtudes que não possuía, e bem depressa apareceu tal qual era na realidade, ou seja, perverso e pervertido.
Retomou a perseguição aos Cristãos, exilou e matou filósofos e literatos. Seu reinado desumano durou quinze anos; foi varado por punhais no ano 96, por conspiradores que tinham a seu lado a própria imperatriz, Domícia Longina.
Com a morte de Domiciano, interrompia-se a série dos imperadores da Casa Flávia.
No ano 96, cessa o regime imperial fundado na sucessão; o imperador não mais será eleito por motivos de parentesco. De fato, primeiro os Pretorianos e depois o Senado, designaram imperador Mário Cocéio Nerva, de 70 anos, natural da Úmbria, que reinou até ao ano 98. Foi um rígido administrador do estado, famoso, sobretudo, por haver providenciado, com sua "Instituição Alimentar", a assistência pública às moças e aos meninos pobres.
Nerva deixou o poder a Iário Úlpío Trajano, natural da Espanha, que foi obrigado a enfrentar duas guerras contra os Dácios, derrotando aquele rei Decébalo, que acabou por matar-se. Conquistada a Dácia (atual România). Trajano dedicou-se a obras públicas; ampliação dos portos de Ancona, Civitá Vécchia e Óstia, trabalhos de beneficiamento do lago Fucino, construção do aqueduto que ainda hoje fornece a Roma a "Água Paula" e do grandioso Fórum, cuja coluna, em uma faixa esculpida de baixos relevos, representa cenas da guerra contra os Dácios. Conduziu outras guerras: contra os Iberos, os Armênios, os Partas, que derrotou entre os anos 116 e 117, estendendo os limites do Império até os rios Eufrates e Tigre. Talvez teria chagado á região do Indo, mas foi obrigado a regressar, devido a uma rebelião . Durante a viagem, adoeceu e morreu em Selinunta (Cilicia), em 117.
Sucedeu-lhe Públio Hélio Adriano, seu filho adotivo, também espanhol de nascimento, que reinou até 138. Era um homem culto. Amou as letras e as artes, e preferiu residir em Atenas ao invés de Roma, mas não se descuidou da Romanização do Império. Fundou Andrinópla, na Trácia, e Antinoe, no Egito. Por dois insignes juristas - Sálvio Juliano e Sérvio Cornélio - mandou unificar e reordenar as leis que tinham sido emanadas de Roma, no passado. Afinal, mandou construir na Urbe a Mole Adriana (hoje Castelo Santo Ângelo), destinada a ser seu sepulcro.
Adriano designou para seu sucessor Tito Aurélio Fúlvio Antonino, um imperador que reinou até 161 e que, pela sua timidez, foi apelidado Pio. Este emanou um memorável decreto em prol dos escravos; o senhor que matasse um escravo seria considerado culpado do homicídio e, como tal, processado e punido.
A Antonino Pio sucedeu Marco Aurélio, filósofo, que reinou sabiamente até 180. O imperador-filósofo enfrentou e repeliu muitos bárbaros, como os Quados, os Marcomanos, os Sármatas e os irredutíveis Partas. Morreu em Vindobona (a atual Viena), quando ia combater, mais uma vez, contra os Marcomanos. Seu filho Cômodo foi o último imperador adotivo. Tinha um caráter excêntrico e tirano, propenso aos prazeres, ele foi assassinado em 192.
Depois de Hélvio Pertinax e Dídio Juliano, em 193, subiu ao trono o general Sétimo Severo, nascido na Tripolitânia (Tripolitana). Este concentrou o poder absoluto em suas mãos e assumiu, em lugar do antigo título de príncipe, aquele de dominus; dissolveu a guarda pretoriana, que se tornara muito irrequieta e, no campo do Direito, reiniciou a tarefa de Adriana, entregando aos jurisconsultos Papiniano, Ulpiano, Paulo e Modestino a coordenação das leis de Roma. Morreu em Eboracum (a hodierna York, na Inglaterra), combatendo contra os Caledônios, no ano 211.
Sucederam-lhe os filhos, Sétimo Bassano e Sétimo Geta, que, com ciúmes um do outro, alimentaram seu ódio recíproco até que o primeiro matou o segundo. E como Sétimo Severo afirmava ser descendente dos Antoninos, Sétimo Bassano assumiu o nome de Marco Antônio Antonino, mas os contemporâneos apelidaram-no de Caracala, devido aos trajes à moda gálica, que ele usava. Desequilibrado, violento, autoritário, Caracala foi péssimo administrador, mas se revelou genialíssimo como edil (uma espécie de vereador). Testemunharam-no, em Roma, as termas que lhe trazem o nome e das quais existem ainda grandiosas ruínas. Uma conspiração militar matou-o no ano 217.
Sucedeu-lhe Macrino, que os próprios soldados eliminaram, em apenas um ano após subir ao trono, elegendo Heliogábalo, com somente quatorze anos de idade. Este era sobrinho de Sétimo Severo, e da nativa Síria levou para Roma a religião do deus Sol, do qual era sacerdote. Mas os romanos não quiseram saber disso e, durante seu quarto ano de reinado, também Heliogábalo foi assassinado.
Foi então eleito outro rapaz de quatorze anos, Marco Aurélio Alexandre, que, após a derrota sofrida de parte dos Germanos, foi morto em companhia da mãe, mas mesmo assim, reinara treze anos.
Seguiu-se Caio Méssio Quinto Trajano Décio que, aclamado pelos soldados em Méssia, em 249, revelou-se ótimo general; morreu dois anos depois, quando combatia contra os Godos, que haviam invadido a Dácia e sua nativa terra, Ponônia. Sucedeu-lhe Públio Licínio que, sob o nome de Valeriano, reinou de 253 a 260. Foi um audaz general das legiões romanas, contra o rei Sapore da Grécia. Aprisionado à traição, morreu de privações nas prisões persas.
Para encerrar a série vamos encontrar Galiano, filho de Valeriano, que repeliu os Alemães, que haviam chegado até as planícies padanas, sem poder impedir que os bárbaros invadissem a Espanha, a Gália, a Britânia e as províncias danubianas. Entrementes, surgiram diversos soberanos locais independentes, acomunados, no período que os historiadores denominam dos Trinta Anos. Irritados contra o imperador, que não soubera impedir o esfacelamento do domínio de Roma, os soldados trucidaram-no no ano 268.
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Império Romano de 31 a.C. até 565 d.C.
Ao derrotar antônio e Cleópatra em Actium em 31 a.C., Otávio tornou-se senhor não apenas do Egito, de que se apoderou como domínio pessoal, mas de todo o mundo romano (Poder-se-ia dizer que o sucesso lhe subiu á cabeça). Em 27 a.C., recebeu o título de Augusto, sob o qual se tornaria divindade romana após a morte. Sem rivais políticos no Senado e com total apoio de seus exércitos, Augusto introduziu reformas de longo alcance (nos impostos,família e vida social), acabou com a corrupção local e na administração provincial e promoveu a volta de cultos religiosos romanos e italianos. Intitulou-se Primeiro Cidadão (Príncipe), reformulou a constituição interna e estendeu as fronteiras.
Enquanto concentrava poder, Augusto permitiu que o Senado, os velhos magistrados e a classe dos negociantes (a Ordem Equestre ) partilhassem com ele a administração do Império. Assim, na teoria, "a República foi restaurada" e o governo permaneceu em mãos civis. À custa de perder algumas das liberdades individuais, um governo estável deu à maior parte do mundo ocidental civilizado cerca de dois séculos e meio de paz e prosperidade, com municipalidades por todas as províncias gozando de considerável independência e com a cultura predominantemente latina do ocidente complementando o helenismo do Oriente.
Mas cresceram as pressões externas das fronteiras setentrional e oriental e o governo civil se desintegrou em 235. Exércitos em diferentes províncias tentaram transformar os próprios comandantes em imperadores (conhecidos como Os 30 Tiranos), o que arruinou a vida econômica. Porém de 268 a 284, uma série de poderosos imperadores frustrou os planos de invasores góticos, entre outros, restabelecendo um governo aparentemente organizado.
No início do império de Augusto, as fronteiras eram defendidas por um exército permanente de 300 mil homens, a maioria organizada em unidades ao longo das fronteiras imperiais que, a princípio, eram rios, mares e montanhas. esta barreira era protegida por um sistema de estradas militares, enquanto a frota naval protegia a atividade comercial romana. Ao fim da expansão sob o governo de Trajano ( morto em 117), barreiras permanentes de pedras foram erguidas para proteger as fronteiras no norte da Inglaterra e na Escócia, para além do rio reno ao longo do Danúmio na Síria e no norte da África. Por trás dessas defesas a cidadania romana se expandiu e, em 212, Caracala concedeu-a a todos os habitantes livres. Mas, em meados do século III, a falta de estabilidade interna ameaçou o sistema.
Quando Diocleciano tomou o poder em 284, dividiu-o entre ele e um Augusto, com dois Césares subordinados, e separou o Império em 4 prefeituras e 12 dioceses. Extinguiu-se o principado; os militares triunfaram sobre os civis e era preciso encontrar nova base para a autoridade imperial. Sob a influência de ideias orientais, o Pinceps tornou-se Dominus (Senhor), governador absoluto á frente de uma vasta burocracia. Na verdade, o centro do poder romano estava se deslocando para o Oriente; Constantino fundou uma nova capital e uma cidade cristã em Bizâncio, mais tarde em 330 chamada Constantinopla. (Constantino foi o responsável pelo poder mundial do cristianismo; sem ele a religião mais rica do mundo teria se mantido na região de sua origem).
Um novo sistema fiscal reaqueceu a economia, mas apenas adiou o declínio. Teoricamente administrado por dois governadores, o império dividiu-se aos poucos em uma parte oriental e outra ocidental, enquanto províncias afastadas caíam nas mãos de invasores bárbaros. A própria Roma foi saqueada pelo visigodo Alarico em 410 e pelo vândalo Gengerico em 455 e, em 493, um reino ostrogodo foi fundado na Itália. O Império Ocidental caiu nas mãos dos invasores e em meados do século VI fracassou a tentativa de Justiniano de reunir as duas metades. Mesmo assim, o Império Bizantino ( que com o apoio direto do clero tentou reviver o antigo poder do Império Romano) sobreviveu por mais de mil anos, até a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. (Foi durante o período bizantino que o cristianismo, como conhecemos hoje, se espalhou pelo mundo todo e se transformou num poder econômico universal e hoje tem seu próprio banco que investe o dinheiro dos fiéis nas indústrias mais lucrativas como, por exemplo, a armamentista e farmacêutica.)
Nos dois séculos que se seguiram à fragmentação do Império Ocidental, o Estado bizantino conservou as instituições romanas. Embora o grego tenha substituído o latim e a administração tenha se tornado menos centralizada, o Império Oriental compilou os dois grandes monumentos da lei romana, os códigos de Teodósio e de Justiniano. O Oriente preservou e transmitiu ao mundo muitos dos legados do mundo antigo. Mesmo no Ocidente, muitas tradições romanas sobreviveram. Além de se transformar em várias línguas"românticas" derivadas, o latim permaneceu a língua da Igreja cristã e da ciência; a lei romana forma a base de grande parte dos sistemas legais da Europa moderna; muitas das proezas dos gênios da engenharia romana ainda podem ser vistas; e a Igreja Romana continua viva, como uma ligação direta com o passado. Para os cofres do Banco do Vaticano continuam fluindo dinheiro de todos os fiéis do mundo inteiro.
A Economia do mundo romano
O Império romano abrangia uma extensa área, com uma única moeda corrente , baixas tarifas alfandegárias e uma rede de estradas e portos protegidos. Embora a agricultura local e o artesanato satisfizessem as necessidades básicas da maioria, produtos naturais e mercadorias manufaturadas eram transportadas a longa distância. Várias cidade, como a própria Roma e outras na Grécia e Ásia menor dependiam de cereais importados. Nos demais lugares, colheitas locais deficientes geravam necessidade periódica de importações. Partes do Império, como a Itália, Grécia, Síria, Egito e África (Tunísia), não tinham metais essenciais. Surgiu um comércio de tecidos de lã e linho fabricados em diferentes províncias. Os artigos de luxo do Oriente chegavam a todas as regiões; trajes de seda eram símbolo de status dos cidadãos mais abastados; especiarias, principalmente a pimenta, temperavam os alimentos da maioria da população.
Grande parte do comércio de longa distância surgiu com o império. A riqueza concentrava-se em Roma, onde cerca de um milhão de habitantes consumiam cereais e azeite de oliva, importados como impostos em espécie. As principais áreas produtoras de cereais eram Sicília, África (Tunísia e Argélia) e Egito. A maioria do azeite vinha da Espanha e da África. O mármore para projetos de construção romanos e os animais para arena tambékm vinham de longe. Além disso, a procura por produtos naturais e manufaturados pelos exércitos localizados nas províncias fronteiriças levou a essas áreas grande desenvolvimento na agricultura, mineração e manufatura. Os fornecimentos ao Exército e outras mercadorias eram transportados por rio, principalmente Reno (Rhenus), Ródano (Rhodanus), Danúbio (Danuvius) e seus afluentes . Várias cidades grandes, como Trier (Augusta Trevererum). Lyon (Lugdunum), Aquilei
a e Antioquia, funcionavam como centros administrativos e distribuidores de provisões. Em várias regiões, colonias-cidades com território anexo eram povoadas e administradas por soldados aposentados. Os exércitos, as colônias e a urbanização dos habitantes mais abastados levaram a uma nova procura nas províncias da Europa Ocidental e nos Balcãs por mercadorias que refletiam o estilo de vida romano: vinho, azeite de oliva, armas, objetos artísticos de metal, cerâmicas e vidros de qualidade. No início do século I d.C., a Itália fornecia essas mercadorias e cerâmica de Arezzo (Arretium) para as terras do Mediterrâneo, Gália, Reino Unido e Balcãs ocidentais. Objetos de cerâmica de Arrezzo eram encontrados até na Índia. A seguir, a indústria de cerâmica de qualidade que atendia às províncias ocidentais avançou para o norte, até a região de Toulouse (La Graufesenque e outras localidades), Lyon (Lezoux e outras localidades) e, depois, a região do Reno, onde o vidro começou a ser fabricado perto de Colônia (Colonia Agrippina) e uma indústria de metais se desenvolveu na região montanhosa do sudoeste. A Espanha exportava minérios metalíferos e, durante o império, também azeite de oliva e molho de peixe (garum), que enchiam as ânforas despachadas para Roma e lugares distantes como o Reino Unido. De 200 d.C. até o fim do século VII d.C., o norte da África exportou azeite de oliva e cerâmica para o Mediterrâneo, já que no fim do século II as exportações da Itália diminuíram e grandes áreas do Império se tornaram auto-suficientes na produção dos artigos típicos do estilo de vida romano.
A distribuição das cidades mostra que Ásia, Síria, Egito, África (Tunísia), sul da Espanha, Itália e Provença eram regiões mais desenvolvidas. Nas cidades, as propriedades não eram divididas igualmente e um grupo de homens abastados financiava as construções públicas. O Exército permanente era, às vezes, empregado para construir estradas, pontes ou fortificações, principalmente nas regiões fronteiriças. A riqueza em geral se transformava em terras e a maior contribuição à produção econômica vinha da agricultura de baixa produtividade praticada pelos mais pobres.
Apesar do sistema de estradas, o comércio era limitado pela demora e pelas despesas do transporte por terra, que dependia de burros, mulas e bois, em vez de cavalos. Era mais barato atravessar o Mediterrâneo para transportar cereais do que percorrer 130 quilômetros de estrada em carretas.
As classes comerciais tinham baixo nível social e mesmo os mercadores mais ricos ficavam abaixo dos notáveis proprietários de terras ou membros da aristocracia imperial. Muitas atividades comerciais eram realizadas por homens humildes que viajavam com pequeno estoque de mercadorias. A produção em fábricas era desconhecida, mesmo a de mercadorias com grande procura, como utensílios de mesa em cerâmica. A maioria dos produtos era confeccionada por artesãos que trabalhavam em pequena escala, às vezes diretamente para os usuários das mercadorias produzidas. Áreas sensíveis da economia, como a fabricação da prata (para fazer moedas e pagar o Exército e funcionários imperiais) a partir dos minérios de chumbo importados da Espanha, Grécia e Reino Unido, eram de propriedade direta do imperador e organizadas por seus funcionários. Os escravos eram uma parcela significativa da população, fornecendo mão-de-obra para serviços domésticos, manufatura e agricultura. Os administradores das fazendas, oficinas, navios ou bancos em geral eram escravos ou escravas libertos.
A crise política e militar do século III enfraqueceu de vez a economia imperial e, para pagar as tropas, o governo diminuiu o valor da prata usada como moeda corrente. Houve desvalorização da moeda, culminando com uma rápida inflação até cerca de 300 d.C., quando Diocleciano restaurou a estabilidade interna. A partir daí os impostos em espécie ganharam importância. Estabeleceu-se nova moeda corrente baseada no ouro, mas o bronze usado como moeda corrente continuou desvalorizando até o fim do século IV.
O Império Romano representou uma economia ímpar, auto-suficiente em relação às mercadorias essenciais. Sua coesão foi facilitada por fatores geográficos, como o Mar Mediterrâneo e os sistemas fluviais que nele desaguam. Mas o desenvolvimento de algumas áreas em detrimento de outras e a direção e volume do movimento das mercadorias foram determinados pela organização política. A fragmentação do Império Ocidental no século V d.C. pôs fim à intensa transferência de recursos dirigida pelo governo para Roma, Itália e os exércitos das fronteiras. Mas, embora reduzido, o método de intercâmbio comercial no Mediterrâneo durou até o século VII, quando novos modelos começaram a surgir.
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