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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

JAPÃO - A QUEDA DO DOMÍNIO XOGUM E ABERTURA PARA O MUNDO

                   A abertura do Japão para o comércio com o Ocidente, a partir de meados do s´[eculo XVI, contribuiu ainda mais para as mudanças no antigo modo de vida. Mas foi somente em 1867, depois que os Estados Unidos firmaram uma série de acordos comerciais com o "Império do Sol Nascente", que o regime do shogunato foi definitivamente abolido. Era o fim do "feudalismo japonês" e o início da modernização do japão. 
                 Depois da queda da última resistência ao domínio xogun Yeyau, fundador da dinastia Tokugawa, em 1615, o Japão ficou mais de dois séculos sem guerra. Durante esse período de paz quase sem paralelos, a superfície de terras cultivadas duplicou, a produção de arroz quadruplicou e a população triplicou. Porém, proporcionalmente ao peso desta população crescente, as revoltas camponesas foram numerosas. Contudo, o mais leve desvio à obediência total das ordens superiores era castigado com a morte imediata. Depois de 1590, o governo emitiu uma série de editais proibindo o cristianismo. A fé dos europeus não foi somente considerada exótica pelos governantes do Japão; os xoguns também estavam alarmados porque o cristianismo foi adotado como estandarte de independência pelos grandes senhores das regiões costeiras e seus dependentes, os missionários foram capturados e executados (com frequência por crucificação) e os convertidos torturados até que renegassem ou morressem. Isso, em parte, para impedir a expansão da proscrita fé e também para evitar o excessivo enriquecimento dos senhores da costa graças ao comércio; daí em diante os contatos entre Japão e os europeus foram reduzidos ao minimo. Desde 1639 até 1853 somente os holandeses foram autorizados a residir no Japão. Durante muito tempo estiveram confinados em seu pequeno enclave de Deshima, na Baía de Nagasaki. Praticamente, a única visão que os japoneses comuns tinham de um europeu era quando o encarregado holandês e seu séquito deviam viajar à corte dos xoguns para render-lhes homenagem em uma humilhante cerimônia pública. Somente as grandes vantagens que proporcionava o comércio com o Japão faziam a Companhia holandesa das índias Ocidentais aceitar este tratamento. 
                 Os benefícios do comércio com o Japão eram enormes: entre 25 e 30 toneladas de lingotes de prata eram exportados anualmente do japão. Grande parte desse material viajava diretamente para a China, onde era usado para adquirir seda crua, a única matéria-prima que os japoneses pareciam incapazes de produzir por si mesmos, apesar de sua quase insaciável necessidade dela. A fabricação dos magníficos quimonos de seda e outras peças de vestuário, entretanto, eram realizados inteiramente por mãos japonesas e, até 1700, somente em Kioto existiam 70 mil tecelões. O governo procurou restringir o uso de quimonos de seda aos samurais ou à classe guerreira, mas o costume de difundiu, estimulando de forma inadvertida por uma das iniciativas do próprio governo. Os xoguns insistiram em que todos os senhores feudais deviam viver um ano sim outro não em sua capital, Edo (posteriormente rebatizada  Tóquio), e todos os samurais importantes, por sua vez deviam passar longos períodos na capital do seu senhor. Esses centros feudais eram usualmente  povoados-castelos, alinhados ao redor de uma vasta fortificação defensiva; logo agregaram-se a eles, fora das muralhas, bairros residenciais, onde mercadores, artesãos e outros comerciantes  podiam atender às necessidades dos endinheirados visitantes. Perto de 1800, cerca de 20% da população japonesa vivia nestas cidades. Edo, pouco mais que um povoado pesqueiro em 1600, exibia dois séculos depois uma população de meio milhão de habitantes. Inclusive o campo participava da nova prosperidade. 
                Nessa época, muitos habitantes das cidades enriqueceram-se extraordinariamente proporcionando bens e serviços aos senhores e aos samurais, imitando  o pródigo estilo de vida de seus superiores sociais. Inicialmente, os xoguns  tratavam de proibi-los, mas depois da queda de 1650,surgiu uma brilhante "cultura alternativa", quando os plebeus mais abastados puderam satisfazer sua vaidade. Desdenhosamente foi conhecido como "o mundo flutuante", isto é, um mundo no qual as pessoas podiam flutuar airosamente em um mar de prazeres, concentrando-se em um bairro especial em todas as cidades importantes. Restaurantes, teatros, salas de massagens e bordéis floresciam onde a riqueza era exibida da maneira que seu proprietário quisesse. Mas nem toda a prosperidade da classe média foi dissipada em diversões; também existiu um comércio ativo de livros e altos investimentos em educação. Ao redor do ano de 1850, estima-se que 40% dos varões japoneses sabiam ler ( esta cifra dificilmente podia ser igualada pelas sociedade europeias dessa época), e parte  da literatura que liam era de origem ocidental. En Nagasaki, um grupo de intérpretes e estudiosos adquiriu livros holandeses no estabelecimento de Deshima e os traduzia para o japonês. O país carecia ainda de máquinas movidas a energia e de conhecimentos científicos como os do Ocidente, porém possuía artesãos de notável habilidade, um sistema financeiro e comercial eficiente e um moderado grau de prosperidade nos campos e nas cidades. Isto foi suficiente para responder com êxito aos desafios  da ocidentalização, quando em 1853, surgiu uma força naval norte-americana decidida a abrir o Japão ao comércio ocidental. Se comandante, ignorando as proibições japonesas, entrou na baia Uraga, e insistiu em ver a autoridade suprema do Japão. O comodoro Perry dirigia quatro navios de guerra, com 560 homens ; mas em vez de qualquer demonstração de força, mandou uma nota muito cortês ao shogun Iyeyoshi, declarando que o governo americano nada mais pedia além da abertura de alguns portos japoneses ao comércio americano, e algum acordo para proteção dos marinheiros americanos que por acaso naufragassem nas costas japonesas.  A rebelião T'aip'ing fez Perry retornar às bases em águas chinesas; mas em 1854 voltou ele ao Japão com mais navios e um persuasivo carregamento de presentes - perfumes, relógios, fogões e Whisky...para o imperador, a imperatriz e os príncipes da casa imperial. O novo shogun Iyesada deixou de entregar esses presentes aos destinatários, mas dignou-se a assinar o Tratado de Kanagawa, no qual acedia a todos os pedidos dos americanos. Perry louvou a cortesia daquela gente e, com má previsão, declarou que se os japoneses fossem aos Estados Unidos encontrariam todos os campos abertos, inclusive o da mineração de ouro na califórnia. Graças a esse e outros tratados vindos depois, os maiores portos do Japão abriram-se ao comércio estrangeiro, foram fixadas as tarifas e o Japão concordou em que os europeus e americanos acusados de crimes na ilhas seriam julgados por juízes de sua nacionalidade.  Estipulações foram feitas pondo fim a qualquer perseguição ao cristianismo no Império; e ao mesmo tempo os Estados Unidos se ofereciam para vender ao Japão os navios e as armas de que necessitasse, e a fornecer instrutores militares. 
               Na verdade, os japoneses sofreram profundamente a humilhação que esses tratados significavam, embora mais tarde os admirassem como instrumentos do destino em sua evolução histórica. Contudo, muitos queriam combater os estrangeiros a qualquer custo, expulsa-los e restaurar o regime feudal agrícola. Outros compreendiam a necessidade de imitar, antes que repudiar, o Ocidente; o único meio de o Japão evitar as repetidfas derrotas e a sujeição econômica que a Europa estava impondo à China, era adotar o mais rapidamente possível os métodos da indústria ocidental e a técnica da guerra européia. Com prodigiosa habilidade os líderes ocidentalizadores usaram os barões feudais na obra de derrubada do shogunato e restauração do poder imperial, e depois usaram o poder imperial para a derrubada do feudalismo e a introdução da indústria ocidental. Em 1867 os senhores feudais persuadiram o último dos shoguns, Keiki a abdicar. "Quase todos os atos da administração está longe de se mostrarem perfeitos, e eu com vergonha confesso que as atuais condições, tão pouco satisfatórias, são devidas às minhas limitações e incompetência. Agora que o intercâmbio estrangeiro se torna cada vez mais intenso, o governo deve partir de um órgão central, único meio do estados não ir à guerra", disse o shogum Tokugawa Keiki. Em resposta o imperador Meiji respondeu secamente, que a proposta de Tokugawa  Keiki para restaurar a autoridade administrativa da Corte Imperial estava aceita; e a 1º de janeiro de 1868 a nova "Era do Meiji" teve início oficial.  Foi nessa época que Yataro Iwasaki, nascido numa família de agricultores da província Aki, Toda (atual Kochi), bisneto de um homem que tinha vendido o título de Samurai de sua famílias para quitar dívidas, começou sua carreira industrial. Iwasaki, então empregado do clã de Tosa, que tinha boas relações comerciais com muitas partes do Japão, aproveitou a oportunidade para realizar suas ambições industriais. Com a idade de dezenove anos partiu para Edo (atual Tóquio), onde foi buscar educação. Entretanto, quando seu pai ficou gravemente ferido numa disputa com o chefe da aldeia, interrompeu seus estudos e voltou para casa, onde acabou preso por desacato ao magistrado local.  Após sete meses saiu da prisão e não obteve mais trabalho. Iwasaki viajou para Osaka e alugou os direitos de negociação da Tsukumo Trading, Copmpany, do clã Tosa. 
                O Japão acabou de surgir de séculos de isolamento feudal e se apressava para se unir ao oeste. 
        Em 1870, estabeleceu sua própria transportadora, a Tsukumo Shokai, com três embarcações a vapor licenciadas do domínio. Em 1873 mudou o nome para Mitsubishi. Os negócios de Ytaro cresceram rapidamente e se diversificaram em uma ampla linha de produção e  comércio.
             A Segunda guerra mundial pôs fim à Mitsubishi  como organização integrada, mas as empresas independentes que fincaram raízes na antiga Mitsubishi estão ativas em praticamente todos os setores. 
                Armados do novo poder, os ocidentalizadores realizaram o milagre da transformação do país. Ito e Inouye, depois de venceram todos os obstáculos, estudaram na Europa as indústrias e instituições ocidentais; maravilharam-se diante das estradas de ferro, dos navios, do telégrafo, dos couraçados e retornaram com a firme intensão de europeizar a sua terra. Foram contratados ingleses para superintender a construção de estradas de ferro, a instalação de telégrafos e a montagem de estaleiros; vieram alemães para organizar a medicina e a higiene pública; aos americanos foi entregue a educação universal; e para fazer a coisa completa, ainda acudiram italianos como instrutores de música e pintura. Houve reações sangrentas originadas do velho espírito nacional revoltado contra aquela febril transformação, mas no fim a máquina venceu e a Revolução Industrial acrescentou mais um povo ao se séquito. 
               Podemos dizer que essa foi a única verdadeira revolução havida na história moderna, levou à riqueza e ao poder a classe dos industriais, comerciantes e financistas, que no velho Japão sempre ocupou postos mais baixos. Essa burguesia em surto calmamente usou de sua força primeiro pára destruir o feudalismo e depois para reduzir a uma vistosa aparência a recém-restaurada autoridade do trono. 
              Em 1871 o governo persuadia os barões a desistirem dos antigos privilégios e consolava-os com títulos  em troca de suas terras. Este processo correspondeu à abolição do feudalismo , servidão à gleba ou escravidão na França, em 1789; na Rússia em 1862 e nos Estados Unidos em 1863. 
             Ligada pelos laços do interesse à nova sociedade, a velha aristocracia passou a servir lealmente ao governo, habilitando-o a efetivar sem derramamento de sangue a transição do estado medieval para o estado moderno. Ito Hirobumi, recém-chegado de nova excursão pela Europa, criou, imitada da Alemanha, uma nova nobreza de cinco ordens - príncipes, marqueses, condes, viscondes e barões; mas estes homens eram os agradecidos sustentáculos, não os inimigos feudais, do regime industrial. 
              Modesta e incansavelmente, Ito esforçou-se por dar ao seu país uma forma de governo que pudesse evitar o que lhe parecia excesso democrático, mas não obstante mobilizou e encorajou os valores de todas as classes a cooperarem no desenvolvimento da nova ordem. Sob sua chefia, o Japão promulgou em 1889 a sua primeira Constituição. No alto ficava o Imperador, tecnicamente supremo, senhor de todas as terras, comandante do exército e da esquadra, mantenedor da continuidade do Império e do prestígio da nação. Graciosamente o imperador consentia em delegar o seu poder legislativo, enquanto lhe aprouvesse, a uma junta de duas câmaras: a dos Pares e a dos Representantes; mas os ministros eram de sua nomeação e responsáveis perante ele, não perante a junta. Por baixo ficava um eleitorado severamente limitados de acordo com as suas posses; sucessivos alargamentos do sufrágio elevaram esse número há milhões de eleitores. Entretanto, a corrupção administrativa acompanhou a extensão da democracia. 
            Juntos com estes desenvolvimentos políticos veio um novo sistema de lei (1881) baseado principalmente no "Código de Napoleão" e representando um corajoso progresso em relação às leis medievais da era feudal. Os direitos civis foram liberalmente assegurados - liberdade de palavra, de imprensa, de reunião, inviolabilidade de correspondência e de domicílio, segurança contra prisão sem ordem legar. Estes direitos foram restringidos pela febre da guerra, trazida pela conquista da Manchúria. A tortura e o ordálio foram abolidos, o Eta foi liberado das suas inferioridades de casta, e todas as classes teoricamente se igualaram diante da lei. As p´risões foram reformadas e melhoradas, os presos passaram a receber pagamento pelo seu trabalho e ao serem soltos dispunham de modesto capital com que recomeçar a vida. A despeito da leniência do código, o crime permaneceu raro; e se uma clara aceitação da lei é a marca de civilização, o Japão pode figurar entre os países que a tem mais alta. 
              Talvez a feição mais significativa da nova Constituição fosse a isenção do exército e da esquadra ao domínio de qualquer superior, salvo o soberano. Sempre lembrando da humilhação de 1853, o Japão resolveu construir uma força armada que o tornasse senhor do seu destino e também do destino de todo o Oriente. E não só estabeleceu a conscrição militar obrigatória, como fez de cada escola um canteiro de nacionalismo e um campo de treino militar. Com prodigiosa adaptabilidade à organização e disciplina, breve elevou o seu aparelhamento militar a ponto de lhe permitir falar de igual para igual com os "bárbaros estrangeiros" e de empreender a gradual absorção da China, que a Europa havia começado mas não acabado. Em 1894, protestando contra o envio de tropas chinesas para abafar uma insurreição na Coreia,e contra a persistência chinesa de manter a Coreia como sua tributária e sob sua suserania, o Japão declarou guerra à sua antiga tutora e surpreendeu o mundo com a rapidez da vitória; exigiu da China o reconhecimento da independência da Coreia, a cessão da ilha Formosa e de Porto Artur (extremo da península Liaotung), e uma indenização de 200 milhões de "taels". A Alemanha e a França estimularam a Rússia a "aconselhar" o Japão ao abandono de Porto Artur, em troca de mais de 30 milhões de "taels" (pagos pela China). O japão cedeu, mas guardou a sua ressentida resposta para o momento adequado
                A partir daquele momento, os japoneses prepararam-se seriamente para um copnflito de imperialismo. Admitindo o medo inglês de que a Rússia avançasse contra a Índia, o Japão concluiu com a Inglaterra uma aliança (1902 x 1022), em que uma nação ajudaria a outra em caso de agressão. Rapidamente os diplomatas ingleses comprometeram a liberdade de movimento da Grã-Bretanha. Quando em 1904 irrompeu a guerra com a Rússia, os banqueiros ingleses e americanos emprestaram aos japoneses as enormes somas necessárias ao financiamento da vitória sobre o Tsar. Nogi capturou  Porto Artur, e levou seu exército para o norte  a tempo de pesar o desenlace com a chacina de Mukden - a mais sangrenta batalha da história antes da Guerra Mundial. A Alemanha e a França quiseram ajudar a Rússia diplomaticamente ou com armar, mas o Presidente Roosevelt fez saber que neste caso ele ficaria com o Japão. Entretanto uma esquadra russa de 29 unidades rodeava o Cabo da Boa esperança, na maior viagem ainda feita por uma esquadra de guerra, para atacar os japoneses em suas própria águas. O almirante Togo, fazendo uso naval do rádio pela primeira vez, manteve-se bem informado dos movimentos da esquadra russa e lançou-se contra ela no estreito de Taushima, a 27 de maio de 1905. A todos os comandantes, Togo enviou esta característica mensagem: "O surto ou a queda do Império dependem desta batalha". Os japoneses perderam 116 homens e tiveram 538 feridos;os russos perderam 4.000 homens e 7 mil aprisionados, e só três dos seus navios escaparam. 
              A Batalha do mar do Japão marcou um ponto alto da história moderna. Não só pôs fim à expansão russa na China, como também ao domínio da Europa sobre o Oriente, e marcou o início da ressurreição da Ásia - processo histórico que talvez venha a constituir a coisa mais importante do século XX. Toda a Ásia exultou quando viu a pequena ilha nipônica derrotar a mais populosa potência européia; a China empolgou-se cheia de ideias revolucionárias e a Índia deliberou reconquistar a sua independência. Quanto ao Japão, a ideia não foi estender as liberdades, mas aumentar o poder. Obteve da Rússia o reconhecimento da sua posição na Coréia e depois, em 1910, formalmente anexou ao Império este antigo reino, outrora altamente civilizado. Quando o Imperador Meiji faleceu em 1912, depois de prolongada carreira de governante, artista e poeta, pode levar aos deuses a mensagem de que a nação que haviam criado e por tanto tempo fora um brinquedo nas mãos do Ocidente, era agora a força suprema no Oriente, e a caminho de tornar-se o pivô da história. A superconfiança adquirida com a vitória e a ambição expansionista adquirida, foi sem dúvida o fator que mais tarde o levou a invadir  Pearl Harbor na Segunda Guerra Mundial. 
                 No espaço de meio século o Japão transformou todos os aspectyos de  sua vida. O camponês, embora pobre, era livre; Podia ser dono de um pedaço de terra por meio duma taxa para ao Estado; e ninguém o impedia de deixar a terra e ir para a cidade. Porque existiam grandes cidades junto à costa; Tóquio, a capital Oriental, com seus palácios reais, seus espaçosos parques e concorridíssimos banhos, e uma população só menor que a de Londres e Nova York; Osaka, outrora vila de pescadores e fortaleza, agora um mar de telhados, fábricas e arranha-céus, centro das indústrias do Japão; e Iocoama e Kobe, de cujos imensos cais, moderníssimos, essas indústrias exportam seus produtos para o mundo inteiro, por meio duma marinha mercante que é a segunda do mundo. 
                O salto do feudalismo para o capitalismo foi facilitado por uma concorrência de fatores favoráveis sem precedentes. Peritos estrangeiros vieram em quantidade e os japoneses obedeciam suas instruções com a maior atenção; em quinze anos os alunos fizeram tais progressos que os especialistas estrangeiros foram pagos e cortesmente despedidos. Orientados pela Alemanha, o governo do Japão tomou a si o serviço de correios, estradas de ferro, telégrafos e telefones; mas ao mesmo tempo fez generosos empréstimos às industrias privadas e protegeu-as por meio de altas tarifas contra concorrência exterior. A  indenização paga pela China depois da guerra de 1894 serviu para finalizar e estimular a industrialização nipônica, do mesmo modo que a indenização francesa da guerra de 1871 acelerou a industrialização da Alemanha. Como este país, o Japão pode começar com um equipamento  moderno e uma disciplina feudal, quando seus competidores permaneciam embaraçados pelas máquinas antiquadas e por um operariado rebelde. A energia era barata no Japão, e os salários baixos; os trabalhadores submetiam-se de bom grado aos chefes; as leis laboristas vieram tarde. Em 1933 os novos teares de Osaka necessitavam de uma operária para 25 máquinas; os de Lancashire requeriam um homem para seis. O número de fábricas dobrou de 1908 a 1918, e dobrou novamente de 1918 a 1924; em 1931 havia de novo subido de mais de 50%, enquanto a indústria do ocidente mergulhava nos abismos da depressão. Em 1933 o Japão passou ao primeiro lugar no mundo como exportador de tecidos, fornecendo dois bilhões, dos 5 bilhões e meio de jardas que nesse ano o mundo consumiu. Abandonando o padrão ouro em 1931 e permitindo que o yen se depreciasse de 40% no câmbio internacional, o Japão aumentou suas vendas no estrangeiro de 50% de 1932 a 1933. Floresceram o comércio interno e externo, e grande famílias de comerciantes, como os Mitsui e os Mitsubishi.amontoaram tamanhas fortunas que os militares se uniram aos operários para estudar o controle governamental da indústria e do comércio. 
                O transporte por terra não cresceu com a rapidez do por água, porque a topografia montanhosa do Japão dificultou a construção de estradas. O jinricksha, ou "veículo humano" continuou sendo usado por muito tempo, mas está finalmente desaparecendo e sendo substituído por carros motorizados e automóveis. A construção de estradas pavimentadas está continuamente crescendo. Tóquio há muito tempo já possui seu "subway" ou "metro" que se compara com os da América e Europa. A primeira estrada de ferro japonesa foi construída em 1872, num trecho de 18 milhas; Já em 1932 havia em tráfego 13,734 milhas. O expresso de Dairem a Hsinking, capital da Manchúria, faz os 700 700 quilômetros de percurso a mais de quilômetros por hora. 
              O acumulo da riqueza nas mãos duma minoria parece ser uma inevitável consequência da civilização. Os patrões japoneses creem que os salários por eles pagos não são tão baixos como parece, devido à pouca eficiência do trabalho japonês e ao baixo custo da vida. O salário baixo, pensa o Japão, é indispensável para que a indústria obtenha baixo custo de produção; este baixo custo é indispensável para a conquista dos mercados estrangeiros; os mercados estrangeiros são indispensáveis para uma indústria dependente da importação de matérias primas; a industria é necessária para sustentar a crescente população da ilhas nas quais a agricultura própria não é capaz manter alimentada a população; e a indústria também é necessária para a riqueza e o armamento, sem o qual o Japão não pode defender-se contra a exploração do ocidente. 
               Enquanto o crescimento  do comércio gerava uma nova e próspera classe média, os operários manuais sofriam o peso do baixo custo da produção, promissora de que lá fora os artigos japoneses desbancassem os concorrentes. O salário, tanto dos homens como das mulheres passaram a ser considerados injustos. Um fator interessante é que as mulheres se empregavam na indústria a ali trabalhavam até conseguir um dote para o casamento. 
                Não tardou para que surgissem greves frequentes e o comunismo se foi desenvolvendo; nisto sobreveio o furor bélico de 1931, que fez a nação unir-se em cooperação patriótica; os "pensamentos perigosos" foram declarados ilegais, e as uniões laboristas, nunca forte no japão, tiveram de submeter-se a grandes limitações. Inúmeros cortiços (favelas) se formaram em Osaka, Kobe e Tóquio; nos de Tóquio famílias de cinco pessoas ocupavam o espaço médio de oito a dez pés quadrados  - pouco mais que a área ocupada por uma cama de casal; nos de kobe, vinte mil pobres, criminosos, defeituosos e prostitutas viviam na maior imundice, dizimados cada ano pelas epidemias, com a mortalidade infantil quatro vezes maior que a média no resto do Japão. Comunistas, aproveitavam esta situação para tentar impor sua ideologia. 

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