Funeral de Gandhi
No início do século XIX, a hegemonia da Companhia Inglesa das Índias Orientais era fato consumado no subconsciente indiano. Cinquenta anos depois,a companhia já era um poder supremo. A terceira Guerra Anglo-Maratha, de 1813 a 1823, pôs fim a mais séria ameaça á sua supremacia. Com a conquista de Sind em 1843, e do Reino Sikh do Punbjab em 1849, o império alcançou as fronteiras naturais do país no noroeste, enquanto no norte, após as guerras com o Nepal de 1814 a 1816, estendeu-se aos contrafortes do Himalaia. No leste, os britânicos entraram em conflito com o império da Birmânia e, em 1885, já haviam anexado seus territórios. dentro do Império Indiano, a Doutrina da Prescrição, de Dalhousie, de 1848 a 1856, resultando na absorção de Estados autônomos, mas dependentes como Oudh e diversos reinos Maratha, pelos territórios administrados diretamente.
A Índia adquiriu importância vital ao sistema imperial britânico e foi envolvida em rivalidades européias, com as quais nada tinha a ver, especialmente após o avanço da Rússia na Ásia Central. Também a tentativa de tornar o Afeganistão um Estado-tampão, sob controle de emires aliados, provocou guerras que aumentaram a dívida indiana. O pano de fundo para a terceira Guerra Anglo-Birmanesa em 1885, foi a rivalidade com a França no Sudeste Asiático. A segurança do império Indiano motivou o envolvimento da Grã-Bretanha na divisão da África. Da Abissínia a Hong-Kong, o exército indiano era usado para proteger interesses britânicos.
Na verdade, a Índia entrou na economia mundial como possessão da Grã-Bretanha. O monopólio da Companhia sobre o mercado indiano foi perdido em 1833, exceto para o ópio e o sal, por pressão de empresas comerciais britânicas, que exigiam melhoria dos transportes nas Índia para facilitar a importação de produtos britânicos e a exportação de matérias-primas. Em 1853, a Índia perdera seu mercado mundial de produtos têxteis e importava produtos de Lancashire. A escassez do algodão de Lancashire, provocada pela Guerra da Secessão nos Estados Unidos, levou a um "boom" do algodão no Decão e à especialização nas culturas indianas. A construção de Ferrovias financiadas por capital britânico e a abertura do Canal de Sues, em 1869, ajudaram a setuplicar o comércio exterior da Índia entre 1869 e 1929. Mesmo diante da concorrência britânica, indústrias modernas foram criadas por empresários indianos. Mas em geral não houve mudanças no caráter da economia. O Produto nacional Bruto aumentou lentamente, mas com o prescimento populacional, após 1921, a renda per capita diminui. Em resumo, a Índia desenvolveu características típicas de uma economia subdesenvolvida, que favoreceu a balança de pagamentos da Grã-Bretanha.
Avanços administrativos também ajudaram a incluir a Índia na ordem mundial dominada pela Europa. Sistemas de posse de terra que garantiram o direito de propriedade, moderna rede de irrigação em partes do país, proibição de costumes centenários e idéias humanísticas e desenvolvimento de um moderno serviço judiciário e civil foram as maiores expressões do novo espírito. Provavelmente, os proprietários foram beneficiados por isso, mas em geral às custas dos agricultores. Períodos de fome causaram muitas mortes enquanto a agricultura comercial florescia. Profissionais empregados pela administração colonial e proprietários surgidos do sistema de posse da terra construíram a nova elite da Índia. A educação no estilo ocidental, apoiada oficialmente após 1835, pode ser atribuída às aspirações materiais e culturais desses grupos sociais. O conhecimento do Ocidente gerou movimentos sociais e literários influenciados por modelos ocidentais, mas voltados para as tradições da Índia. O Brahma Samaj, fundado por Ram Mohan Roy em 1823, cuja meta era restaurar o monoteísmo hindu, e o Árya Samaj, evangelizador , são dois exemplos.
A consciência de identidade indiana, reforçada pelo racismo britânico, garantiu dimensão política, manifestada por associações locais e agitação pública. O Congresso nacional Indiano, primeira organização política a consagrar toda a Índias, foi fundado em 1885 e logo desenvolveu uma ala extremista que questionou o direito de estrangeiros governarem o país. Em 1905, a primeira agitação de massa, que precedeu a não-cooperação e não-violência de Gandhi propagou o "swaraj" (governo autônomo) foi desencadeada para resistir à decisão de dividir a província de Bengala. Com idêntico objetivo, grupos revolucionários adotaram o terrorismo. A consciência política foi estimulada pela primeira Guerra Mundial e pela Proclamação Ministerial de 1917, declarando que osw britãnicos queriam concretizar uma representação governamental na Índia. O "Indian Councilis Aet" de 1909 estabeleceu uma legislatura provincial e as reformas de Montagu-Chelmsford de 1919 ampliaram os conselhos provinciais. Leis repressivas promulgadas em 1919 autorizaram a detenção sem julgamento. Contra elas, Gandhi usou a arma da "satyãgraha", ou a ação não violenta em massa. A resposta inclui o massacre de Amritsar, causando rancor racial. os indianos muçulmanos desaprovaram o tratamento dispensado pelos aliados ao sultão turco, seu líder espiritual. O Movimento de Não-Cooperação, de 1920 a 1922, cuja meta era reparar erros do Califado e do Punjab e atingir o "swaraj", foi o primeiro movimento de massas da Índia a envolver os camponeses. Porém, a unidade hindu-muçulmana não sobreviveu muito tempo após o fim do movimento. Eleições para os conselhos provinciais ampliados deterioraram ainda mais as relações.
Em agosto de 1947 foi um mês iluminado. A independência da Índia e a saga de Gandhi pela não violência. A estratégia de Gandhi para liderar a libertação de seu país deu certo, além de ter plantado na alma milenar do hinduísmo, mais que um arcabouço religioso, uma extraordinária forma de agir através da paz.
Neste sentido, o século XX pode ser condenado por duas guerras mundiais, mas também pode se redimir pelos movimentos surgidos na saga de Gandhi, como o pacifismo, os movimentos antinucleares e ecológicos, além da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, inspirados nos princípios de resistência passiva de Gandhi.
Em agosto de 1947 foi um mês iluminado. A independência da Índia e a saga de Gandhi pela não violência. A estratégia de Gandhi para liderar a libertação de seu país deu certo, além de ter plantado na alma milenar do hinduísmo, mais que um arcabouço religioso, uma extraordinária forma de agir através da paz.
Neste sentido, o século XX pode ser condenado por duas guerras mundiais, mas também pode se redimir pelos movimentos surgidos na saga de Gandhi, como o pacifismo, os movimentos antinucleares e ecológicos, além da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, inspirados nos princípios de resistência passiva de Gandhi.
Enquanto tumultos corroíam a unidade nacional na década de 20, a ala radical do Congresso, liderados por Jawaharlal Nerrhu e Subhas Chandra Bose, pregava nova ação militar contra os britânicos e induzia o Congresso a adotar a independência total ('purna swaraj") como objetivo em 1929.
Quando Gandhi lançou o Movimento da Desobediência Civil, que durou de 1930 a 1934, para atingir a independ~encia, foi preso com cerca de 60 mil seguidores. |P movimento,porém, fopi um divisor de águas. Suspenso em 1931 por um encontro com o vive-rei Irwin, foi retomado quando gandhi voltou das fracassadas discussões constitucionais em Londres. A negociação falhou e a política de confronto, defendida pelos jovens líderes, foi reforçada. O "Government of Índia Act", de 1935, parecia pressagiar o curto caminho em direção à independência.
A independência definitiva veio com acontecimentos que envolviam a Inglaterra fora da Índia.
A Inglaterra desejava manter seus laços com o mundo árabe após o final do regime de mandatos. Primeiro promoveu a formação de uma liga Árabe e depois o pacto de Bagdá, uma aliança militar destinada a reunir os estados Unidos, a Grã-Bretanha, o Paquistão e os países do Oriente Médio que simpatizavam com o Ocidente. Entretanto, as vitórias sionistas na Palestina, que culminaram com a criação do Estado de Israel em 1948, a tomada do poder por Nasser no Egito em 1952 e a invasão deste último país por forças anglo-francesas-israelenses em 1956 somaram-se para diminuir a influência e a credibilidade dos ingleses e dos franceses na região. Os amargos conflitos do Chipre e Aden levaram a Grã-Bretanha a retirar-se em 1960 e 1967 e, pouco a pouco, os ingleses começaram a reduzir sua presença a leste do canal de Suez; em 1971 muitos dos xeques que possuíam territórios no Golfo Pérsico uniram-se para formar os Emirados Árabes Unidos. A França, por sua vez, percebeu que era impossível manter conflitos prolongados em mais de um de seus territórios no norte da África. Assim, o Marrocos e Tunísia obtiveram sua independência em 1956, enquanto a Argélia suportava uma longa guerra de oito anos até que os franceses capitulassem em 1962.
Como as potências tiveram a tendência de dotar seus territórios coloniais de instituições políticas sem nenhuma ou muito poucas raízes nacionais, não é de estranhar, portanto, que a retirada das colônias fosse muitas vezes acompanhada ou logo seguida de ator de violência revolucionária e da instalação de regimes repressivos. Em outros casos, as unidades étnicas ou tribais estenderam-se através das fronteiras: as exigências da Indonésia sobre as regiões onde se falava o malaio nas décadas de 1950 e 1960 levaram a um conflito com a Malásia; a Somália, por sua vez, reclamava territórios do Quênia e da Etiópia. Quando a Bélgica retirou-se do Congo, em 1960, a maioria dos novos Estados Africanos uniram-se contra as colônias portuguesas que ainda restavam e apoiaram os movimentos guerrilheiros de libertação de Angola e de Moçambique, que também conquistaram a independência um ano depois da queda da ditadura em Portugal, em 1974. A Espanha que ainda ocupava alguns setores no Marrocos, entregou o Saara a este último país e a Mauritânia em 1976, que a partir de então abandonou todas as suas exigências territoriais.
A Grande História nos mostra que aos poucos a civilização vai entendendo a importância da liberdade, e mesmo os países autoritários são forçados a desistir de suas ditatoriais imposições.
Contudo, a violência vem de onde menos se espera.
Em 30 de janeiro de 1948, Mohandas Karamchand Gandhi estendeu-se na conversa com sua nova seguidora, a fotógrafa Margaret Bourke-White, da revista "Life", que registrara sua recente greve de fome, e chegou alguns minutos atrasado ao gramado onde costumava rezar. Eram pouco mais de 22 horas quando o líder pacifista de 78 anos, caminhando com dificuldade e vestindo a túnica branca de algodão que ele mesmo tecera, foi ao encontro do grupo de amigos que o aguardava.
No momento em que o líder político juntava as mãos para cumprimentá-los, o extremista hindu Nathuram Vinayak Godse, que se opunha à sua proposta de tolerância religiosa, destacou-se da pequena multidão, sacou a pistola e disparou três tiros à queima roupa, ferindo-o mortalmente no peito e na barriga.
Nascido em 1869 numa família de casta dos Vaísias, de comerciantes e funcionários públicos, Gandhi foi estudar direito em Oxford e, assim que se formou, emigrou para a África do Sul, tornando-se advogado dos compatriotas segregados. Ao lançar a primeira campanha de desobediência civil, estratégia que ele mesmo tinha inventado, defendendo o fim do imposto cobrado dos 150 mil imigrantes indianos no país, foi preso. Nessa época, começou a aprofundar-se nos textos religiosos.
De volta a seu país, em 1915, já era famoso e ganhou do poeta Rabindranath Tagore um nome: Mahatma, que significa "a grande alma". Em 1919, fez sua primeira greve de fome. Em 1920, liderou o boicote aos tecidos ingleses e passou quatro anos na cadeia. dez anos depois insurgiu-se contra a lei que proibia seu povo de fabricar sal. Nessa época, o mundo inteiro acompanhava com vivo interesse a luta daquele frágil homem moreno contra o império britânico. Sem armas na mão e de estômago vazio, Gandhi acabou dobrando o inimigo com sua política de não-cooperação e pregação da não violência.
No entanto, com a emancipação da Índia, em 1947, a coroa britânica promoveu a divisão do país em dois estados ; o hindu e o islâmico (Paquistão), provocando a explosão de conflitos religiosos latentes que, em menos de um ano, tinham resultado em 200 mil vítimas fatais. No dia 13 de janeiro de 1948, o Mahatma começava mais um jejum. Conforme suas palavras, dessa vez a greve só terminaria com a morte ou com a instauração de um novo tempo de tolerância religiosa. Um acordo, então, foi feito entre os principais representantes dos dois lados, e a greve de fome foi interrompida. Mas Gandhi sabia que sua vida não seria poupada pelos fanáticos. No dia 20 escapa ileso de um atentado a bomba. Dez dias depois, a Humanidade perdia seu melhor soldado da paz, num momento em que o século XX mal chegava ao meio e lá já tinha em sua conta duas guerras mundiais. As cinzas de Mahatma Gandhi foram lançadas no rio Ganges, em cerimônia à qual compareceram mais de 500 mil pessoas.
Como as potências tiveram a tendência de dotar seus territórios coloniais de instituições políticas sem nenhuma ou muito poucas raízes nacionais, não é de estranhar, portanto, que a retirada das colônias fosse muitas vezes acompanhada ou logo seguida de ator de violência revolucionária e da instalação de regimes repressivos. Em outros casos, as unidades étnicas ou tribais estenderam-se através das fronteiras: as exigências da Indonésia sobre as regiões onde se falava o malaio nas décadas de 1950 e 1960 levaram a um conflito com a Malásia; a Somália, por sua vez, reclamava territórios do Quênia e da Etiópia. Quando a Bélgica retirou-se do Congo, em 1960, a maioria dos novos Estados Africanos uniram-se contra as colônias portuguesas que ainda restavam e apoiaram os movimentos guerrilheiros de libertação de Angola e de Moçambique, que também conquistaram a independência um ano depois da queda da ditadura em Portugal, em 1974. A Espanha que ainda ocupava alguns setores no Marrocos, entregou o Saara a este último país e a Mauritânia em 1976, que a partir de então abandonou todas as suas exigências territoriais.
A Grande História nos mostra que aos poucos a civilização vai entendendo a importância da liberdade, e mesmo os países autoritários são forçados a desistir de suas ditatoriais imposições.
Contudo, a violência vem de onde menos se espera.
Em 30 de janeiro de 1948, Mohandas Karamchand Gandhi estendeu-se na conversa com sua nova seguidora, a fotógrafa Margaret Bourke-White, da revista "Life", que registrara sua recente greve de fome, e chegou alguns minutos atrasado ao gramado onde costumava rezar. Eram pouco mais de 22 horas quando o líder pacifista de 78 anos, caminhando com dificuldade e vestindo a túnica branca de algodão que ele mesmo tecera, foi ao encontro do grupo de amigos que o aguardava.
No momento em que o líder político juntava as mãos para cumprimentá-los, o extremista hindu Nathuram Vinayak Godse, que se opunha à sua proposta de tolerância religiosa, destacou-se da pequena multidão, sacou a pistola e disparou três tiros à queima roupa, ferindo-o mortalmente no peito e na barriga.
Nascido em 1869 numa família de casta dos Vaísias, de comerciantes e funcionários públicos, Gandhi foi estudar direito em Oxford e, assim que se formou, emigrou para a África do Sul, tornando-se advogado dos compatriotas segregados. Ao lançar a primeira campanha de desobediência civil, estratégia que ele mesmo tinha inventado, defendendo o fim do imposto cobrado dos 150 mil imigrantes indianos no país, foi preso. Nessa época, começou a aprofundar-se nos textos religiosos.
De volta a seu país, em 1915, já era famoso e ganhou do poeta Rabindranath Tagore um nome: Mahatma, que significa "a grande alma". Em 1919, fez sua primeira greve de fome. Em 1920, liderou o boicote aos tecidos ingleses e passou quatro anos na cadeia. dez anos depois insurgiu-se contra a lei que proibia seu povo de fabricar sal. Nessa época, o mundo inteiro acompanhava com vivo interesse a luta daquele frágil homem moreno contra o império britânico. Sem armas na mão e de estômago vazio, Gandhi acabou dobrando o inimigo com sua política de não-cooperação e pregação da não violência.
No entanto, com a emancipação da Índia, em 1947, a coroa britânica promoveu a divisão do país em dois estados ; o hindu e o islâmico (Paquistão), provocando a explosão de conflitos religiosos latentes que, em menos de um ano, tinham resultado em 200 mil vítimas fatais. No dia 13 de janeiro de 1948, o Mahatma começava mais um jejum. Conforme suas palavras, dessa vez a greve só terminaria com a morte ou com a instauração de um novo tempo de tolerância religiosa. Um acordo, então, foi feito entre os principais representantes dos dois lados, e a greve de fome foi interrompida. Mas Gandhi sabia que sua vida não seria poupada pelos fanáticos. No dia 20 escapa ileso de um atentado a bomba. Dez dias depois, a Humanidade perdia seu melhor soldado da paz, num momento em que o século XX mal chegava ao meio e lá já tinha em sua conta duas guerras mundiais. As cinzas de Mahatma Gandhi foram lançadas no rio Ganges, em cerimônia à qual compareceram mais de 500 mil pessoas.
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ainda nao li
ResponderExcluirLeia que você vai gostar. É um povo que sofreu muito e venceu pela resistência pacífica.
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