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sábado, 8 de fevereiro de 2020

PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO INDIANA



                   Há mais de 2 milhões de anos,  seres humanos já habitavam o subcontinente indiano. Alguns dos mais antigos artefatos de pedra descobertos vieram de um sítio arqueológico próximo a Rawalpindi, Paquistão, e foram datados através de paleomagnétismo (medida residual nas rochas). Provas de atividade humana existem em quase todas as partes do sul da Ásia e utensílios de pedra pertencentes ao Paleolítico Inferior, Médio e Superior aparecem em grande quantidade. O último estágio da idade da pedra, o Mesolítico, está bem representado e, além de inúmeros utensílios, foram encontrados sítios dentro de cavernas, alguns decorados com pinturas rupestres com cenas de caça e outras atividades. 
                   As provas mais antigas do aparecimento da ocupação agrícola secundária vieram dos limites ocidentais do vale do rio Indus no 8º milênio a.C. e sítios vizinhos próximos a Quitta. Cevada e trigo encontrados datam de períodos muito antigos, quando cabras e carneiros começaram a ser domesticados. As primeiras ossadas de gado sobreviveram em pequenas quantidades, mas em 5.000 a.C. tornaram-se os restos de animais predominantes. A cerâmica aparece pela primeira vez por volta da mesma data. Casas de tijolos de barros estão presentes neste período através de estruturas construídas por compartimentos retangulares identificados como celeiros. Há também provas de  comércio a longa distância. Esta sequência continua até que na primeira metade do 3º milênio uma cultura local diferenciada se mistura com a emergente civilização do Indus. 
                 A datação da existência dos primeiros agricultores do subcontinente indiano foi o resultado de recentes escavações na planície de Kachi, em meados do sétimo milênio a.C. Esta região de transição entre as colinas de Beluchistão e a planície indo-gangética oferece uma ampla gama de recursos: áreas de terras altas que são adequadas para o pastoreio no verão, ao mesmo tempo em que os rios permanentes que desembocam nas planícies de Kachi podem ser represados para reter os seguimentos novos e regular o fluxo de água, criando condições ideais para o cultivo de cereais. Todos os antecessores silvestres do trigo, a cevada, o gado bovino, as ovelhas e as cabras se encontram nessa área. Com um meio ambiente tão pródigo em potencial aproveitável, é possível que a agriculturas tenha tido um desenvolvimento local separado na planície de Kachi. 
             Já por volta de 6.000 a.C. as casas eram construídas de tijolos de barro e as ferramentas, fabricadas de osso e quartzo finamente polidos, machados e pedras de afiar. Foram encontrados exemplares de todas estas ferramentas em Mehrgarh, e a principal jazida primitiva  da planície de kachi. Eram importados lápis-lazúli, conchas marinhas e turquesas de lugares tão remotos, como Pérsia e Badakhshan, para satisfazer a demanda de artigos de luxo. Os mortos eram enterrados dentro da área do assentamento, frequentemente com elaboradas oferendas funerárias. Por volta do sexto milênio a.C., teve início o uso da cerâmica e depósitos foram construídos na povoação. As matérias primas para ofícios especializados, tais como a fabricação de ferramentas de osso e ornamentos de esteatita, eram armazenadas nesses depósitos. O surgimento de uma classe separada de aldeãos especializados demonstra, como nas outras civilizações, um elevado nível de organização social e administrativo. A aldeia neolítica de Mehrgarh, localizada num terraço dividido pelo Rio Bolán, é a mais antiga até agora descoberta na Ásia Meridional. Desde essa época, tão antiga, já se construíam depósitos: edificações de tijolos divididos em pequenos compartimentos que com frequência continham grãos e ferramentas. A sociedade era cada vez mais organizada e os depósitos atuaram como ponto central para a redistribuição de alimentos de consumo geral, matérias-primas para artesãos especializados e objetos elaborados para o comércio. Os restos indicam um crescimento da população nos milênios VII e  VI a.C. depois da descoberta da agricultura. 
               Os numerosos enterros descobertos em Mehrgarh proporcionaram uma rica variedade de artefatos da fase neolítica, entre outros ornamentos de osso, conchas e pedras. Algumas vezes inclusive as crianças eram enterradas com elaborados artigos funerários, o que demonstra que sua hierarquia era herdada. O túmulo ilustradona frente continha um machado de pedra polida, três núcleos de quartzo, nove micrólitos geométricos e quinze facas de quartzo sem polir, além de quatro contas de turquesas e uma cesta coberta de asfalto. 
                   As complexas sociedades da planície de Kachi foram o prelúdio da colonização final do Vale do Indo e o primeiro florescimento da civilização na Ásia Meridional. As primeiras cidades no subcontinente indiano desenvolveram-se ao redor de 2.500 a.C.  no noroeste do Rio Indo e seus afluentes atravessam uma ampla planície  entre o deserto de Thar e as terras altas do Beluchistão. Esta baixa terra aluvial e fértil foi colonizada em princípio por grupos de agricultores por volta de 3.500 a.C. e durante os mil anos seguintes (o período inicial do Indo) começaram a aparecer cidades fortificadas. Essa etapa formativa culminou no "Período Desenvolvido do Indo" de 2800 a 2500 a.C., quando a diversidade regional primitiva foi substituída pela uniformidade cultural  criando uma província única que abrangia toda a planície do Indo. Cerca de 2500 a.C. tinha se desenvolvido uma complexa civilização urbana amplamente comparável á do Egito e Mesopotâmia, porém com seu caráter próprio.
                  São conhecidas perto de uma centena de assentamentos do "Período Desenvolvido do Indo", a maioria dos quais são povoados importantes cercados  por muralhas defensivas de tijolo cozido. Em alguns lugares o traçado da cidade é evidente, com restos de uma rede regular de ruas cruzadas. As maiores casas em Mohenjo-Daro consistiam em uma série de habitantes dispostos ao redor de um ou mais pátios abertos com escadas que conduz\iam a um piso superior ou teto plano. Os habitantes mais pobres moravam em vivendas com espaço comum, e não necessitavam de muito tempo para as duas refeições diárias que faziam. Apesar de todo o esforço desses camponeses, nunca estavam livres de morrer de fome. Quase todos os edifícios que foram encontrados no Vale do Indo nesse período eram de tijolos cozidos de um tamanho padrão de 24 x 14 x 7 cm. Muitas ruas e passagem tinham esgotos cobertos com tijolos e aberturas para inspeções periódicas. As casas individuais tinham banheiras e privadas que se esvaziavam em um recipiente de cerâmica ou diretamente no esgoto da rua. 
                   A civilização do Indo chegou ao seu fim ao redor do ano 2.000 a.C., por razões ainda desconhecidas. 
             Com o desaparecimento das cidades de Harappa, o centro cultural da Índia Setentrional se transferiu para o leste, para a Yamuna e os vales do Alçto Ganges, onde floresciam cidades com Hastinapur e Ahicchatra. A colonização do Ganges Médio e Baixo já havia começado no segundo milênio a.C. e, apesar de inicialmente ter sido impedida pelas densas selvas monçônicas e os pesados solos aluviais, ao rdor de 1.000 a.C. este movimento ganhou Ímpeto com a introdução de ferramentas de ferro, usadas tanto para desbravar a terra como para o cultivo. O cultivo do arroz foi um dos principais fatores na colonização da planície do Ganges; ainda que os assentamentos primitivos do vale médio tenham revelado restos de trigo, as comunidades do Baixo Gamges dependiam exclusivamente do arroz, e a configuração da população e o aparecimento de cidades estão diretamente relacionados com a importância crescente como cultivo básico. 
                 O período que se seguiu ao fim da civilização do Indo não deixou registros históricos; contudo, provavelmente nessa época é onde devem localizar-se os acontecimentos relatados no semimítico Rigveda, que consiste em 1028 hinos dedicados à várias divindades dos árias, um povo que aparentemente entrou na Índia Setentrional no período próximo ao ano 1500 a.C. Estritamente, estes hinos não são documentos históricos e foram escritos pela primeira vem vários séculos depois dos fatos a que se referem. Contudo, nos permite ver uma época em que os recém-chegados árias estavam lutando com os dasas (drávidas), os habitantes locais, de pele escura, pelo controle da Índia no Norte. Alguns historiadores tem afirmado que os derrotados dasas eram os intocáveis originais do sistema de castas hindu, porém não se sabe até onde houve uma vitória real dos árias sobre os povos autóctones. Entretanto, muitos especialistas atribuem aos árias do Rigveda o desenvolvimento do complexo e envolvimento do complexo e envolvente conjunto de instituições culturais que, de várias maneiras, modelaram o subconsciente até nossos dias. Sua língua, o sânscrito, foi a base para uma literatura tão desenvolvida como a grega e a latina. Os extensos poemas da Índia, o Ramayana e o Mahabharata continuaram a história do Rigveda e relataram a expansão dos árias. 
                 Estas manifestações florescem na primeira grande civilização indiana a partir das cidades principais, Harappa e Mohejo-Daro, no vale do rio Indus, ocupando 1,3 milhões de Km² de território, sobrevivendo cerca de mil anos (2.550 x 1550 a.C). Restos de cidades como Harappa, com cidadelas altas, edifícios sólidos, ruas de traçado uniforme e elaborados sistemas de drenagem encontram-se também no sul, em Cutch e Bhagatrav  na desembocadura do rio Narmanda, bem como em Rupar (Punjab) e Alamgirpur (Uttar Pradesh) a leste, e em Judeijo-Daro (Sinde) e na costa do Makran, a sudeste. A escrita de Harappa, basicamente encontrada em sinetes, até hoje não foi decifrada, mas deduziu-se através dos enormes celeiros e casas, da proliferação de figuras religiosas (muitas antecipando as divindades hindus) e ausência de palácios reais, que esta era uma sociedade de sacerdotes, mercadores e camponeses agricultores. Mercadorias típicas de Harappa foram achadas na Mesopotâmia e referências textuais sugerem que comerciantes do país denominado Meluhha estavam na época em contato regular com o Oriente Médio, via Dilmun (Bahrein). 
              Quando Alexandre o Grande, chegou a Susa, seu exército já estava praticamente inoperante. Três anos antes havia penetrado na Índia.
                  Sete anos depois não restava nenhum sinal da passagem do macedônio. O principal agente dessa elisãofoi uma das mais românticas figuras da história indiana, guerreiro menor que Alexandre, mas um grande estadista. Chandragupa era um jovem xatria exilado de Magada pela família Nanda, então dominante e à qual pertencia. Com o auxílio do sutil e maquiavelístico Kautilya Chanakya, o jovem exilado organizou um pequeno exército, derrotou as guarnições macedônias e proclamou a liberdade da Índia. Em seguida avançou para Pataliputra, (a moderna Patna), capital do reinode Magada, onde fomentou uma revolução, apoderou-se do trono e estabeleceu a dinastia Maurian, que ia governar o Hindustão e o Afeganistão durante 137 anos. Subordinado a sua coragem à pouca escrupulosa sabedoria de Kautilya, Chandragupta em breve tornou o seu governo no mais poderoso do mundo. Quando Magastenes esteve em Pataliputra como embaixador de Seleuco Nicator, rei da Síria, adminrou-se de encontrar uma civilização por ele descrita aos incrédulos gregos - ainda próximos do  zenite - como inteiramente igual à Grécia. "Temos aqui uma grande coisa na Índia", disse Ariano, "é que todos os habitantes são livres, não há um só indiano escravo". 
                Esse grego nos transmitiu uma excelente, e talvez favorecida, visão da vida indiana naquele tempo. Impressionou-se com o fato de não haver escravidão na Índia, e que.embora a população fosse dividida em castas, de acordo com as ocupações, havia a aceitação disso como coisa natural e tolerável. 
                  A mais velha das duzentas cidades do norte da Índia, no tempo de Chandragupta, era Taxila, a vinte milhas a noroeste da moderna Rawalpindi. Ariano descreve-a como "grande e próspera"; Estrabão, como "grande e dotada das melhores leis". Era uma cidade ao mesmo tempo militar e universitária, estrategicamente situada no principal caminho para a Ásia Ocidental e com a mais famosa das diversas universidades que a Índia possuía naquele tempo. Estudantes afluíam para Taxila, como na Idade Média para Paris; todas as artes e ciências podiam ser estudadas com excelentes professores, e sobretudo a escola de medicina gozava de enorme reputação no  Oriente. (Nas escavações de Sir John Mershall em Taxila desenterraram pedras finamente lavradas, estátuas de ótimas qualidades, moedas datáveis de 600 a.C e artigos de vidro jamais igualados na Índia.)
                 Megastenes descreve a capital de Chandragupta, Pataliputa, como tendo nove milhas de comprimento por quase duas de largura. O palácio do rei era de madeira, mas o embaixador da Grécia o punha ao lado das residências reais de Susa e Ecbatana; só era excedido pelo de Persópolis. Pilares folhados de ouro e ornamentos com desenhos de pássaros e folhagens; interior suntuosamente mobiliado e adornado de pedras e metais preciosos. Havia certa ostentação oriental naquela cultura, como no uso de vasos de ouro de seis pés de diâmetro; mas um historiador inglês conclui, dos testemunhos literários, pictóricos e materiais, que "nos séculos IV e II a.C. não só em esplendor e luxo a Índia dos Mauryas se igualava à dos imperadores Moguls dezoito séculos mais tarde, mas também em todas as artes manuais e mesmo em construção de navios". 
                Naquele palácio, Chandragupta, que tomara o trono pela violência, viveu  vinte e quatro anos com em cárcere dourado. Isso porque ele muito raramente saia do palácio. Em algumas ocasiões aparecia em público, vestido de musselina bordada de ouro e púrpura, trazido num palanquim  de ouro sobre um elefante ricamente ajaezado. Exceto quando se distraia nas caçadas, ou se dava a qualquer outra diversão, ocupava todo o tempo com negócios do reino. Seus dias eram divididos em dezesseis partes de noventa minutos cada uma. Na primeira, levantava-se e preparava-se pela meditação; na segunda estudada os relatórios de seus agentes e expedia secretas instruções; na terceira dava audiência privada aos conselheiros; na quarta atendia aos negócios militares e financeiros; na quinta ouvia as súplicas de seus súditos e despachava os requerimentos; a sera era consagrada ao banho, ao jantar e à leituras religiosas; na sétima recebia taxas e tributos e tomava apontamentos oficiais; na oitava atendia novamente aos Conselheiros e ouvia as informações dos espiões, inclusive da cortesãs empregadas nessa função; a nona era devotada ao repouso e à oração; a décima e a décima primeira, a assuntos militares; a décima segunda, aos relatórios secretos; a décima terceira, ao banho e à refeição; as demais eram para o sono. Chandragupta podia ter sido, ou como Kautilya desejava que o povo o concebesse, em vez de ser essa distribuição do tempo uma rigorosa realidade. A verdade raramente escapa dos palácios. 
             A direção dos negócios mantinha-se nas mãos do astucioso vizir. Kautilya era um Brâmane conhecedor do valor da religião para o povo, mas não se guiava pelos seus preceitos morais; como nossos modernos ditadores, admitia que todos os meios eram bons para o fim visado. Sem escrúpulos e traidor, menos para com o rei, serviu a Chandragupta em todas as fases da vida, no exílio, na derrota, na aventura, na intriga, no crime, na vitória, e com a sua maquiavélica habilidade fez do reino de seu amo o maior império que a Índia jamais conheceu. Como o autor de "O Príncipe", kautilya procurou preservar por escrito as suas fórmulas de guerra e diplomacia; a tradição atribuía-lhe o "Asthashastra", o mais velho livro sânscrito que conhecemos. "Para capturar um forte", dizia ele, "tornam-se precisos a intriga, os espiões, a sedução dos inimigos do povo, o cerco e o assalto final" - isso redunda em grande economia de esforço físico. 
                O governo não tinha pretensões democráticas, e foi talvez o mais eficiente que a Índia conheceu. O de Akbar, o maior dos Moguls, "nada apresenta que o iguale e é duvidoso que qualquer cidade grega o tivesse mais bem organizado". Baseava-se francamente no poder militar.  Chandragupta, segundo Megastenes, mantinha um exército de 600 mil soldados, 30 mil cavalos, 9 mil elefantes e grande número de carros. Os camponeses e os brâmanes escapavam ao serviço militar; e Estrabão descreve os lavradores calmante no cultivo do solo no meio das guerras. O poder do rei era teoricamente ilimitado, mas na prática sofria as limitações do Conselho que< às vezes com o rei, às vezes em sua ausência, tomava iniciativas legais, regulava as finanças, dirigia os negócios exteriores e fazia as nomeações mais importantes do estado. Meganstenes testemunha o "alto caráter e a sabedoria" dos conselheiros do rei e o alto poder de que dispunham. 
                Havia vários departamentos administrativos com funções bem definidas e uma bem graduada hierarquia de funcionários; a esses departamentos incumbia a direção das finanças, das rendas, das fronteiras, dos passaportes, das estradas, das minas, dos impostos, da agricultura, do gado, do comércio, dos armazéns de depósito, da navegação, das florestas, dos jogos públicos, da prostituição e da cunhagem de moedas. O superintendente da sisa (receita) controlava a venda de drogas e bebidas, regulava o número de tavernas, sua locação e a quantidade de vinho que podia ser vendida. O Superintendente das Minas dava concessões de áreas aos requerentes, mediante pagamento dum tanto fixo e de porcentagem nos lucros; o mesmo sistema aplicava-se à agricultura, porque todas as terras pertenciam ao Estado; o Superintendente dos Jogos Públicos fiscalizava as casas de jogo, fornecia os dados,cobrava um aluguel pelo uso deles e arrecadava para o estado 5% de todo o dinheiro recolhido pelo "banqueiro". O Superintendente da prostituição cuidava das mulheres públicas, controlava-lhes os gastos e os preços, tomava-lhes a renda de dois dias cada mês, e mantinha duas delas no palácio real para serviços de espionagem. As taxas alcançavam todas as profissões, ocupações e indústrias; e de tempos em tempos os ricos eram convidados a ser "benevolentes" para com o rei. O governo regulava os preços e periodicamente aferia pesos e medidas; mantinha algumas fábricas, vendia produtos agrícolas e gozava do monopólio das minas, do sal, da madeira, das manufaturas finas e controlava os negócios de cavalos e elefantes. 
                 Nas aldeias era a lei aplicada pelo chefe local, ou por panchayats (conselho de cinco membros); nas cidades, distritos e províncias, por cortes inferiores e superiores; na capital, pelo Conselho Real e pelo rei como corte suprema. Penalidades severas, incluindo mutilação, tortura e morte, em regra baseadas na lex talionis, ou retaliação equivalente, eram aplicadas. Mas o governo não se limitava ao papel de mera máquina de repressão; atendia à higiene e saúde publicas, mantinha hospitais e estações de socorro, distribuía nas ocasiões de escassez o atrigo armazenado para esse fim, forçava os ricos a contribuírem para a assistência aos necessitados e organizava grandes trabalhos públicos para ocupar os desempregados nos anos de crise. 
               O departamento de Navegações regulava  o transporte fluvial e protegia as viajantes de rios e mares; mantinha as poktes e os portos, provia de balsas os rios nos pontos de passagem em concorrência com as particulares - admirável sistema pelo qual a competição pública os excessos dos particulares e estes impediam as extravagâncias oficiais. O Departamento de Comunicação constituía e reparava as vias do império, das estreitas estradas municipais às de comércio, de 10 metros e às estradas reais, de 20 metros de largura. Uma destas estradas imperiais estendia-se por 1.200 milhas, de Pataliputa à fronteira noroeste, equivalente à metade da distância do Atlântico ao Pacífico nos Estados Unidos. De milha em milha, diz Megastenes, essas estradas traziam pilares com indicação das distâncias e direções. Árvores de sombra, poços de água potável, postos policiais e hospedarias atendiam aos viajantes espaçadamente. O transporte se fazia por meio de carretas, palanquins, camelos, cavalos, elefantes, asnos e homens. 
palanquim indiano
                Os elefantes constituíam um luxo reservado à realeza e ao alto oficialismo, e tinham tal valor que a virtude duma mulher não alcançava o seu preço. (Suas mulheres, que são muito castas, e não "caem" movidas por nenhuma outra razão, quando recebem um elefante se entregam ao doador. Os indianos não consideram desonroso o prostituir-se por um elefante, e as mulheres tê, que sua honra e beleza igualam-se ao valor de um elefante".
              O mesmo método de administração departamental era aplicado ao governo das cidades. Dirigia Pataliputra uma comissão de trinta membros divididos em seis grupos. A um grupo incumbia a regulação industrial; a outro a fiscalização dos estrangeiros; a outro o registro civil; a outro o conceder licenças, regular a venda de mercadorias, aferir pesos e medidas; a outro controlar a venda de manufaturados; a outro coletar a taxa de 10% sobre todas as vendas. "Em resumo", diz Havell, "Pataliputra, no século IV a.C., parece ter sido uma cidade cuidadosamente organizada e administrada segundo os melhores princípios da ciência social. "A perfeição dos arranjos assim indicados", diz Vincent Smith, " é digna de admiração e essa admiração cresce quando estudamos o apuro que havia nos detalhes". 
               O único defeito desse governo era ser um autocracia, e estar, portanto, na contínua dependência da força e dos espiões. Como os autocratas, Chandragupta mantinha-se precariamente no poder, sempre receoso de revolta e morte violenta. Cada noite ocupava uma cama diferente e andava sempre rodeado de guardas. A tradição hindu, aceita pelos historiadores europeus, conta que com a superveniência duma longa fome Chandragupta, desesperado por sua impotência, abdicou do trono, viveu doze anos no ascetismo e por fim deixou-se morrer de inanição. "Todas as coisas bem consideradas", diz Voltaire, "a vida dum gondoleiro é preferível à de um doge; mas eu creio que a diferença é tão pequena que nem merece ser examinada." 
                 A antiga civilização Indus desapareceu sem deixar traços, até que em 1925 escavações arqueológicas revelaram os tesouros perdidos. O desaparecimento está relacionado à chegada dos arianos pelo noroeste do Paquistão. Os arianos falavam o indo-europeu e acredita-se que eram de origem local, talvez invasores da Bactria e norte do Irã, que antes se separaram das principais hordas de nômades do sul da Rússia  Os restos arqueológicos incluíam acessórios funerários iranianos e dinheiro em cobre, do tipo caucasiano. Sua provável participação na destruição de harappa e Mohenjo-Darco é realçada pelas referências védicas aos "dasas", de pele escura e hostis, que viviam em ruínas desfeitas ("armaka") deixadas pelo deus Indra, no papel de Purandara, o  destruidor de cidades. 
                Os "Vedas", a primitiva literatura indiana são hinos aos deuses arianos, mas ao lado dos primeiros dois grandes poemas épicos indianos, "Ramayana" e Mahabharata", o "Rig-veda" dá uma amostra, embora seletiva e estilizada, da vida entre 1.500 e 450 a.C. 
             A palavra Vedanta significa originariamente o fim dos Vedas, isto é, os Upanishads. Hoje a Índia aplica-se ao sistema de filosofia que dá estrutura lógica à doutrina essencial dos Upanishads, de que Deus Brahaman e a alma Atman são sum só. A mais velha forma desta filosofia, tão espalhada na Índia, é o Brahma-sutra de Badarayana (200 a,C.); são 555 aforismos, dos quais o primeiro enuncia o propósito de todos, o desejo de conhecer Brahman. Quase dois mil anos depois, gaudapada escreveu um comentário sobre estes sutras, e ensinou a doutrina esotérica do sistema a Govinda, o qual a ensinou a Shankara, que escreveu os mais famosos comentários do Vedanta e se tornou o maior dos filósofos da Índia. 
              O trabalho da ciência na Índia é muito antigo e, ao mesmo tempo, muito novo; é novo como ciência independente  e secular, e velho como interesse subsidiário dos sacerdotes. Sendo a religião o núcleo central da vida indiana, as primeiras ciências a serem cultivadas foram as que para ela contribuíam: a astronomia nasceu do culto dos corpos celestes, e a observação dos seus movimentos visava a fixação no calendário dos dias de festas e sacrifícios; a gramática e a filosofia desenvolveram-se da ideia de que toda oração ou toda fórmula , ainda que em língua morte, devia ser textual e foneticamente correta. Os cientistas da Índia eram sempre , assim como na nossa Idade Média, os seus sacerdotes. Portanto, a astronomia foi um fato acidental da astrologia, e paulatinamente se emancipou por influência grega. 
                Dois sistemas de cultura indiana expõem certas teorias físicas muito semelhantes às da Grécia. Kanada, fundador da filosofia Vaisheshika, sustentava que o mundo era composto de uma espécie de átomos  para cada elemento. Os jains foram os que mais se aproximaram de Demócrito, ensinando que os átomos eram todos da mesma espécie; produziam efeitos diferentes em virtude dos diversos modos de combinações. Kanada acreditava que a luz e o calor eram variações da mesma substância; Udayana ensinou que todo calor provinha do sol; e  Vachaspati, assim como Newton, interpretava a luz como sendo composta de minúsculas partículas emitidas por substâncias e impressionando os olhos. 
                 A química desenvolveu-se de duas fontes: a medicina e a indústria. Já nos é bastante conhecido a excelência química do ferro fundido na Índia antiga, e sobre o alto desenvolvimento industrial no tempo dos Guptas, quando a Índia era olhada, mesmo pela imperial Roma, como nação mais adiantada em muitas indústrias, como a da tinturaria, do cortume, do sabão, do vidro e  até do cimento. Já no ´[início do século II a.C.  Nagarjuma escreveu todo um volume sobre o mercúrio.  No século VI de nossa era os hindus estavam à frente da Europa em química industrial; eram mestres na calcinação, na destilação, na fixação, na produção da luz sem calor, na combinação de pós anestésicos e soporíficos, na preparação de sais metálicos, ligas e compostos. A temperatura do aço alcançou entre eles uma perfeição só conhecida na Europa moderna; para presentear Alexandre, o rei "Porus"(rei de Paurava Punjab) não escolheu ouro e prata, mas sim trinta libras de aço. Os muçulmanos levaram para o Oriente Próximo muito da ciência e da indústria química dos indianos; o segredo das famosas lâminas de "Damasco", por exemplo, partiu da Índia para os árabes, via Pérsia. 
                Foi a Índia que nos deu o engenhoso método de representar todos os números por meio de dez símbolos, cada um deles recebendo um certo valor de posição, assim como um certo valor absoluto; profunda e importante ideia essa, e de tão simples que hoje nos parece  que ignoramos-lhe o verdadeiro mérito. A sua simplicidade, a grande facilidade que imprimiu a todos os cálculos, pôs a nossa aritmética no primeiro plano das invenções úteis; e apreciaremos duplamente a grandeza de tal descoberta se refletimos que ela escapou ao gênio de Arquimedes e Apolônio, dois dos maiores homens produzidos pela antiguidade. 
               O sistema decimal já era conhecido de Aryabhata e Bramagupta muito antes do seu aparecimento nas escritas árabes  e sírias; os missionários budistas o levaram para a China; e Muhammad ibn Musa al-khawarazmi, o maior matemático do seu tempo, parece tê-lo introduzido em Bagdá. O primeiro uso (conhecido) do zero na Ásia ou na Europa aparece num documento árabe datado de 873, três anos antes do seu primeiro aparecimento (conhecido) na Índia; mas é de consenso geral que os árabes também o tomaram emprestado da Índia; assim, pois, o mais modesto e o mais valioso de todos os algarismos é um dos sutis presentes feitos pela Índia à humanidade. 
             A prioridade da Índia na filosofia é mais clara do que na medicina, embora suas origens sejam  veladas e hipotéticas. Alguns Upanishads revelam-se mais antigos que qualquer forma de filosofia grega chegada a té nós, e Pitágoras, Parmênides e Platão parecem terem sido influenciados pela metafísica indiana; mas especulações de Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Anaxágoras e Empédocles não só aparecem antes da filosofia secular da Índia , como trazem um vinco cético e físico que sugere qualquer origem menos a da Índia. Victor Cousin admitia que "somos obrigados a ver nesse berço da raça humana a terra nativa da mais alta filosofia". 
                Contudo, o que temos de maior relevância para ser comentado é que as invasões islâmicas puseram termo à grande era da filosofia indiana. Os assaltos dos muçulmanos e depois dos cristãos conta a fé nativa, lançou-a definitivamente numa tímida unidade, que transformou todo debate em traição e sufocou a heresia criadora numa estagnada uniformidade de pensamento. Por volta do século XII o sistema Vedanta, que Shankara tinha querido transformar na religião dos filósofos, foi reinterpretada por santos como Ramanuja (1050), numa ortodoxa adoração de  Vixnú, Rama e Crixna. Proibida de pensar, filosofia tornou-se não só escolástica como estéril;tomou dogmas dos sacerdotes e laboriosamente procurou prová-los, com lógica, mas sem razão. 
                Assim como a filosofia e muto da literatura da Europa medieval eram compostas numa língua morta, ininteligível ao povo, assim também a filosofia e a literatura clássica da Índia fixavam-se num sanscrito já de muito afastado do falar comum do povo, mas que sobreviveu como o esperanto ou língua geral do eruditos. Divorciada da vida da nação, esta língua literária se tornou um modelo de escolasticismo e refinamento; as novas palavras não eram formadas espontaneamente  pelo povo, mas eruditamente, pelas necessidades de expressão técnica das escolas; por fim o sanscrito da filosaofia perdeu a viril simplicidade dos hinos védicos e tornou-se um monstro artificial, cujas sesquipedalia verba arrastavam-se como tênias pelas páginas escrita. 
                     Até o século XIX a escrita continuou a ter parte muito pequena na educação indiana. Talvez não fosse do interesse dos sacerdotes que os textos sagrados ou escolásticos se fizessem conhecidos de todos. Tanto quanto podemos penetrar na complexa história indiana, encontramos um sistema educacional ativo  sempre nas mãos do clero, aberto no começo só aos filhos dos Bramanes, depois a todas as castas, menos aos Intocáveis. Cada aldeia tinha a sua escola, mantida com fundos públicos;só em Bengala,antes da vinda dos ingleses, existiam cerca de oitenta mil, ou seja, uma para cada quatro mil habitantes. A percentagem de analfabetos no reinado de Ashoka era aparentemente menos alta que hoje. 
                  As crianças frequentavam a escola de setembro a fevereiro; começavam na idade de 5 anos e terminavam na de 8. Instrução sobretudo religiosa, qualquer que fosse a matéria; a memorização constituía o método usual, sendo os Vedas o texto inevitável. Não consta que houvesse flagelação ou outros castigos severos, e a mira principal era posta na formação de saudáveis hábitos de vida. Na idade de oito anos o menino passava aos cuidados dum guru, ou professor especial, com quem ia viver quase sempre até os vinte. Nessa situação tinha de prestar pequenos serviços caseiros, e de guardar continência, cultivar a limpeza e abster-se da carne. Recebia instrução nas "cinco Shastras" ou ciências: gramática, artes e ofícios, medeicina, lógica e filosofia. Depois desses anos todos era finalmente liberado com a sábia advertência de que um quarto da educação vem do professor, um quarto do estudo por nós mesmos, um quarto do convívio com os outros e um quarto da vida. 
          As escolas e universidades eram apenas parte da educação indiana, no sistema educacional da Índia. Como a escrita tivesse menos apreço do que nas outras civilizações, e a tradição oral preservava e disseminava a história e a poesia da nação, o hábito de recitar um público espalhou pelo povo o melhor da herança cultural hindu. Como entre os gregos anônimos raconteurs transmitiam e espalhavam a Ilíada e a Odisséia, assim os recitadores e declamadores da Índia levavam de geração em geração, e de corte ao povo, as alentadas epopeias que os bramanes iam acumulando. 
                 Num sentido lógico, o Drama na Índia é tão velho como os Vedas, porque pelo menos o seu germe está nos Upanishads. Mas ainda mais velhos que esta Escrituras são os festivais do sacrifício religioso, outra fonte do drama. Uma terceira origem está na dança, não a mera soltura da energia represa ou substituída do coito, mas ritual imitativo e sugestivo das ações e eventos vitais para a tribo. Talvez uma quarta fonte esteja na recitação pública de versos épicos. Esses fatores cooperaram para produzir o teatro indiano e deram-lhe um vinco religioso que permaneceu através da idade clássica em que a língua literária era sânscrito. 
              Talvez o  impulso final que deu força ao drama se ligue às relações que a invasão de Alexandre (o Grande) estabeleceu entre a Índia e a Grécia. Não sabemos da existência de dramas hindus antes de Ashoka. A mais velha peça existente foi descoberta há pouco tempo no Turquestão chinês. Num manuscrito em folha de palmeira aparecem três dramas, um dos quais da autoria de Ashvaghosha, um lumiar da teologia na corte de Kanishka. 
              A prosa é coisa relativamente nova na literatura hindu,e pode ser tida como um enxerto exótico trazido pelo contacto dos europeus. Para a alma hindu, naturalmente poética, tudo que merecia ser escrito tinha um conteúdo poético e convidava à forma poética. Como os autores sabiam que suas obras tinham de ser lidas em voz alta, e propagadas mais pela disseminação oral  do que pela escrita, escolhiam muito naturalmente a forma poética metrificada ou aforística, mais facilitadora do trabalho da memória. Em consequência, toda a literatura indiana é em verso; as obras científicas médicas, legais e os tratados de arte aparecem, de preferência, em vero; mesmo os dicionários e gramáticas eram versificados. A fábula e a história, que no Ocidente sempre se contentaram com a prosa, na Índia fazem-se melodiosa poesia.
                  A música na Índia tem mais de três mil anos de história. Os hinos védicos, como a poesia hindu, eram escritos para ser cantados; poesia e canto, música e dança, faziam parte do antigo ritual. A dança hindu, que para o ocidental parece tão voluptuosa e obscena, como a dança ocidental o parece aos orientais, tem sido, na história da Índia, uma forma da adoração religiosa, um desdobramento da beleza através do movimento rítmico para honra e glória dos deuses; unicamente nos tempos modernos as devadasis saíram dos templos para a dança profana. Para o hindu essas danças não eram uma exibição da carne, e sim a imitação dos ritmos e processos do universo. O deus Shiva presidia à dança, e a dança de Shiva simbolizava o movimento do mundo. 
                  A dança secular hindu foi revelada à Europa e à Alemanha  pela arte de Shankar, em que cada movimento do corpo, mãos, dedos e olhos traduz para o iniciado uma significação sutil e preciosa, e redunda numa graça de poesia corporal desconhecida da dança do Ocidente, depois do nosso democrático retorno à arte africana. 
                   A mais antiga pintura indiana conhecida é um grupo de afrescos budistas (100 a. C.) encontrados nas paredes duma caverna em Sirguya, na Índia Central. Os desenhos de animais e duma caçada de rinocerontes encontrados nas cavernas pré-históricas de Singapura e Mirzapur,  mostram que os pintores indianos já vinham de milhares de anos atrás. Palhetas com tintas moídas, prontas para o uso foram encontradas entre os remanescentes neolíticos da Índia. A partir daí a pintura em afresco (isto é, feita sobre reboco ainda úmido) progrediu até alcançar o apogeu nas cavernas de Ajanta (perto da aldeia de Fardapur, em Hyderabad) não excedidas nem por Giotto me Leonardo Da Vinci. Os templos de Ajanta foram abertos na rocha viva da montanha, em vários períodos do 1º ao 7º séculos da nossa era. Por centenas de anos ficaram perdidos para o mundo, depois da decadência do budismo; a floresta os envolveu e afogou, morcegos, cobras e outros animais silvestres deles fizeram tocas, e mil variedades de pássaros e insetos borraram-lhe as paredes com seus excrementos. Um dos mais velhos afrescos do Tibete mostra um artista a pintar o retrato de Buda; isto põe a pintura como já estabelecida nos tempos de Buda. Em 1819 os europeus descobriram tais ruínas e admiraram as paredes pintadas  em afresco, que hoje figuram entre as obras primas do mundo. 
                O budismo, na sua aversão às imagens , lançou obstáculos tanto contra a pintura como contra a escultura. Buda proibiu desenhos imaginativos representando homens e mulheres; e com esta proibição quase mosaica a pintura e a escultura na Índia sofreram tanto quanto na Judeia ou quanto iam sofrer sob o domínio muçulmano.
                  Não podemos traçar a história da escultura indiana desde as estatuetas do Mohenjo-daro até à era de Ashoka; mas somos levados a suspeitar que a lacuna é, no nosso conhecimento, não na produção artística. Talvez a Índia, temporariamente empobrecida pelas invasões arianas, passasse da estatuária em pedra para a em madeira; ou talvez os arianos estivesse muito atentos à guerra para se darem à arte. As mais velhas figuras de pedra, sobreviventes na Índia, datam de pouco antes de Ashoka, mas mostram qualidades vindas já muito anteriormente. 
               Por toda parte na Índia, antes da chegada dos muçulmanos, a arte do escultor, apesar de limitada pela sua subserviência à religião e à arquitetura, produziu obras primas. A linda estátua de Vixnú, em Sultanpur, a finalmente cinzelada estátua de Padmapani, o gigantesco Shiva de três cabeças (comumente chamado "trimurti"), entalhado em relevo profundo nas cavernas de Elefanta, a quase praxitelica estátua adorada em Nokkas como a deusa Rukmini, o gracioso Shiva de bronze, ou Nataraja, feito pelso mestres de Chola Tanjore, o belo veado de pedra de Mamallapuram, e o Shiva de Perur, são demonstrações da expansão da escultura por todas as províncias da Índia. 
                 Não obstante, a escultura na Índia nunca adquiriu a graça alcançada pela literatura, ou a sublimidade da arquitetura, ou a profundidade da filosofia; apenas espelhou a visão confusa e incerta de Suas religiões. 
                Em relação a arquitetura, a conversão de Ashoka ao budismo fez que a arquitetura indiana se desembaraçasse da influência estrangeira e se ativesse aos símbolos da nova religião. Nada nos resta da arquitetura anterior  a Ashoka. Temos as ruínas de Mohenjo-Daro, mas indubitavelmente as construções da Índia védica e budista eram de madeira e só no tempo de Ashoka começou a pedra a ser usada para propósitos arquiteturais. 
              A passagem de Ashoka ao budismo é evidente no grande capitel que é tudo quanto resta de outro pilar de Ashoka, em Sarnath; numa composição perfeita, que John Marshall esquipara "ao melhor do mundo antigo", vemos quatro poderosos leões em guarda, muito persas na forma e na atitude; mais abaixo deles há uma frisa de figuras entalhadas, e o inevitável elefante e a inevitável Roda da Lei budista; e sob a frisa um grande lótus de pedra, no começo dado como um capitel persa em forma de sino, mas hoje é aceito como o mais antigo, universal e característico de todos os símbolos da arte indiana. 
             a arquitetura religiosa da era budista deixou-nos uns tantos templos arruinados e grande número de "topes" e gradis. O "tope" ou "stupa" era o primitivo túmulo; na era budista transformou-se em santuário fúnebre, usualmente abrigando as religiões de algum santo.
               Entrementes, ia a arte indiana acompanhando a religião através dos estreitos e fronteiras, rumo ao Ceilão, Java, Cambodja, Sião, Bruma, Tibete, Khotan, Turquestão, Mongólia, China, Coreia e Japão; na Ásia todas as estradas partem da Índia. Os hindus do vale do Ganges colonizaram Ceilão no século  5º a.C. duzentos anos mais tarde Ashoka mandou um filho e uma filha converter os cingaleses ao budismo; e embora a populosa ilha tivesse de lutar durante quinze séculos conta as invasões dos Tamils, manteve uma cultura rica até ser ocupada pelos ingleses em 1815. 
               O triunfo final  da arquitetura indiana veio com a dinastia mongol. Os seguidores de Maomé já haviam provado o seu valor arquitetônico por onde passavam suas armas - em Granada, no Cairo, em Jerusalém, em Bagdá; era pois de esperar que fizessem o mesmo na Índia. 
               A decadência da arte foi um tragédia tanto indiana como mongol.  Entregando-se fanaticamente à religião, Aurangzeb só via vaidade e idolatria na arte. Já seu antecessor Jehan tinha proibido a ereção de templos hindus; Aurangzeb não só manteve a proibição como deu tão pouco apoio econômico à arquitetura islâmica que também esta se esticou durante o seu reinado. 
                O longo e funesto reino de Auragzeb e o caos de lutas intestinas que o seguiram, deixaram a Índia totalmente vulnerável a nova conquista; a única questão obscura naquele "destino manifesto" era saber qual das nações do Ocidente seria o instrumento. O franceses tentaram, mas falharam; perderam a Índia, bem como o Canadá, em Rossbach e Waterloo.  Já os ingleses tentaram e foram vitoriosos. 
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                A civilização dos Estados do sudeste da Ásia desenvolveu-se muito tarde. O comércio e as influências culturais da Índia e do Ocidente chegaram ao continente  e às ilhas no século I a.C., e as cidades já haviam começado a desenvolver-se no só III a.C. Contudo, somente nos primeiros séculos dessa era fizeram sua aparição a arquitetura monumental e a escultura refinada em pedra. Quando  essas se manifestaram, mostraram uma clara evidência de influência hindu, especialmente das religiões, o hinduísmo e o budismo. Entretanto, poucos séculos depois, os reinos nascentes do Sudeste Asiático haviam renovado esses elementos externos para formar uma nova civilização com características próprias. 
              Cerca do século VII, pequenos templos hindus foram edificados no baixo Camboja, principalmente em Angkor Borei e também em java Central. Ainda mais antigo é o templo budista escavado na Birmânia do Sul, em Peikthano. Estas três  áreas eram os principais centros de construção de templos e o núcleo dos primeiros Estados. Produziram vários complexos de templos importantes: Borobudur e Prambanan, em Java Central (séculos VIII / X; Angkor, no Camboja (séculos X / XIII; e Pagan, na Birmânia (séculos XI / XIII. Os três combinavam elementos hindus e budistas, porém o budismo era especialmente acentuado em Pagan, assim como o hinduísmo era realçado em Angkor.  Outra série de templos que pertenciam ao reino n hindu-budista de Champa está localizado ao longo do litoral do Vietnã Central. Entretanto isso, nas ilhas, Palembang, em Sumatra, emergia como a provável capital do império marítimo de Srivijaya.  Apesar de que ainda se conhece muito pouco sobre ele, sabe-se que o império de Srivijaya controlou por muitos séculos o comércio internacional através dos estreitos de Malaca e Sonda. 
             A religião era um componente vital do desenvolvimento cultural e econômico desses reinos. Quando um rei ou funcionário público construía um templo, ganhava méritos religiosos e outorgava status à religião. O Império Kmer incentivou a construção de mais de 900 templos no Camboja e na vizinha Tailândia entre os séculos IX e XIII, uma realização que representa um enorme investimento em materiais e mão-de-obra. Em Angkor, a capital, foi utilizada uma mistura de tijolos, rocha arenito e argila avermelhada para construir toda uma variedade de templos, cada um constituindo uma representação simbólica da cosmologia hindu ou budista. O complexo de Angkor chegou a abranger uma área de mais de 25 quilômetros de leste a oeste, e  quase 10 quilômetros de norte a sul. Pagan, em uma grande planície perto do Rio Irrawaddy, era ultrapassada por Angkor apenas no tocante às área urbana. Neste lugar, nos séculos XI e XII, aproximadamente, milhares de templos budistas cobriam uma superfície de mais de 60 quilômetros quadrados. Em Borobudur, o grande templo budista construído em terraços coroados por stupas (século IX) contém 2.500 metros de baixos-relevos de pedra.  
              Em contraste, sobreviveram poucos vestígios de obras ou edifícios civis. Os detalhes da vida cotidiana são conhecidos, porém, através dos relevos dos templos, inscrições em pedras, obras literárias  e cerâmica. Em Angkor, os baixos-relevos não mostram apenas batalhas com armas e couraças, mas também descrevem os mercados, a pesca e diversas formas de divertimento, como brigas de galos. As inscrições Khmer não informam apenas sobre grandes reis, mas também sobre os costumes cotidianos, tais como o direito de permitir que os porcos se alimentassem nas plantações de arroz e o emprego de gengibre e mel para cozinhar alimentos rituais.  Mas, dominando toda a estrutura econômica e social, estavam os decretos reais, os ciclos semestrais de chuva e seca e o costume religioso, seja hindu ou budista. 
           Durante os séculos XIII e XIV os grandes reinos-templos do Sudeste Asiático começaram a declinar à media que o surgimento de novos Estados e a exploração excessiva da mão-de-obra e dos recursos  naturais minavam sua estabilidade. As maravilhas tecnológicas e arquitetônicas do reino Khmer de Angkor, inclusive, não puderam resistir  a essas pressões, e o reino foi destruído finalmente no século XV, quando Angkor foi saqueadfa pelo novo e poderoso reino Thai. 
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                    No século VIII, o Império Árabe em expansão ameaçou, pela primeira vez, as fronteiras da Índia. 
              Em 1192, enquanto Gengis Khan preparava-se para conquistar Pequim, o norte  da Índia tornava-se parte dos domínios muçulmanos, sob a designação de Sultanato. de Déli.
              Construções típicas da cultura árabe, como mausoléus e mesquitas, com suas abóbadas e minaretes, multiplicaram-se pelo sultanato.   Em 1310, toda a península Indiana passou a fazer parte do sultanato. Mas os invasores muçulmanos também assimilaram elementos da cultura local, como o sistema de numeração decimal, posteriormente difundido na Europa sob a denominação de sistema "indo-arábico".   
             A presença do Islã na Ásia é marcado pela existência do  artesanato e do comércio que  eram características importantes dos impérios otomanos, safávida e mongol. Na Anatólia e na Pérsia houve um importante desenvolvimento do transporte terrestre em camelos e asnos, construindo-se "Khans" (pousadas) nas rotas principais para fornecer alimentos e refúgio para os viajantes. Muitas cidades desta região têm bazares que datam desse período. A moeda era amplamente usada em transações comerciais e administrativas, e circulavam moedas de ouro, prata e cobre. No entanto, a cunhagem de moedas de ouro e prata estava condicionada  à disponibilidade local desses metais. Ainda que as moedas de ouro fossem utilizadas na Índia e em grande parte do mundo árabe, as de prata predominavam nas planícies da Anatólia e do Irã. A arquitetura muçulmana continua sendo a realiz\aação mais destacada do mundo medieval, em equilíbrio e decoração. A mesquita é op edifício muçulmano mais representativo e domina os céus das cidades desde o sul da Espanha até o sudeste da Ásia. 
                No ano de 1526, foi a vez do chefe mongol Baber, herdeiro do Grande Khan, invadir a planície do rio Ganges. 
                  Seus sucessores ampliaram as conquistas e, ao longo dos duzentos anos que permaneceram ali, reprimiram rebeliões internas e unificaram o Império. 
              Os invasores deixaram em território indiano traços de uma brilhante civilização. O mausoléu de Taj Mahal, todo em mármore branco, decorado com mosaicos e incrustado de pedras preciosas, foi uma das maiores expressões dessa cultura . Sua construção se deu em 1632 e 1652  e foi construído pelo grande  rei mongol Shah Jahan, para servir de túmulo para sua amada esposa, a rainha Muntaz Mahal. Localizado em Agra, às margens do Rio Yamuna, é um dos grandes monumentos do mundo. Sendo, ao mesmo tempo túmulo e templo, o Taj Mahal, hoje é um dos locais de peregrinação. O complexo consiste num enorme mausoléu de mármore branco cerado de quatro minaretes e flanqueado por duas mesquitas, localizado no centro de uma plataforma de mármore à qual se chega através de um longo jardim. Para sua construção foram empregados 20 mil homens  por mais de 20 anos, depois da morte de Mumtaz, em 1631. Sua grande cúpula mede 75 m, pesa 12 mil toneladas e originalmente estava revestida com 53 quilos de lâmias de ouro. O luminoso mármore branco utilizado na sua construção foi transportado das canteiras de Makarana, em Rajastão, e as pedras preciosas - cristal, lápis-lazúli, cornalina, calcedônia, ágata, coral e ônix, empregadas nas suas incrustações decorativas - foram trazidas de lugares distantes, como China, Arábia e Europa. 
                  Com o declínio do Império Mongol formaram-se pequenos estados nacionais hindus, que somente em 1738 conseguiram expulsar o invasor árabe. 
                Em 1498 Vasco da Gama, depois duma viagem incerta de onze meses, ancorou na barra de calicut. Foi bem recebido pelo rajá de Malabar, o qual lhe entregou uma amável careta ao rei de Portugal: "Varco da Gama, fidalgo da vossa casa visitou meu reino e deu-me grande prazer".
                 No século XVII vieram os holandeses e alijaram os portugueses; no século XVIII  vieram os franceses e ingleses e alijaram os holandeses. Por fim o ordálio das batalhas decidiu quais desses povos iria civilizar e taxar os indianos. Uma das providências dos ingleses foi a abolição do ritos ferozes, como o uso de queimar vias as viúvas na pira do marido defunto, foi uma importante providência que preparou o país para a nova civilização que estava chegando. 
                  A Companhia da Índias Orientais fundou-se em 1600,  em Londres, para comprar barato na Índia e vender caro na Europa. Carregamentos de custo de cerca de dois milhões de dólares eram vendidos por 10 milhões na Inglaterra. Com isso as ações da Companhia foram para a estratosfera. 
                Para estabelecer um sólido e seguro domínio inglesa Índia, foram criados entrepostos comerciais em Madras, Calcutá e Bombaim. A companhia importou tropas militares, travou batalhas, subornou e deixou-se subornar, e exerceu outras funções de governo. 
                Em 1867, os crimes da Companhia empobreceram de tal modo o nordeste da Índia que os nativos se levantaram. O governo inglês entrou em cena, sufocou o "motim", transformou os territórios da Companhia em colônia e indenizou-a regiamente, lançando o preço da compra como dívida pública da Índia. Foi uma pura e simples usurpação nos termos biológicos de Darwin e Nietzsche. Um povo simples que perda sua capacidade de auto-governar-se ou desenvolver seus recursos naturais, inevitavelmente reduz-se a presa de nações fortes e cobiçosas. 
                  Com todo esse "cataclismo" social e cultural, era compreensível e logico  que, nestas condições, a Índia procurasse consolo na religião. Por um bom tempo deu ela cordial acolhida ao cristianismo, no qual encontrou muito ideais éticos que ela já honrava há milhares de anos. Parecia que o cristianismo tinha chegado para ficar. Durante o século XIX os cristão procuraram fazer a voz de cristo ser ouvida nos intervalos dos canhoeiros; montaram e equiparam escolas e hospitais, deram ao povo teologia misturada com medicina e pela primeira vez surgiu a ideia de que eles também eram criatura humanos. Mas os contrastes entre os preceitos cristãos e sua verdadeira prática, tornou os hindus céticos e irônicos. As religiões indianas tinham coisas "muito mais milagrosas" que as cristãs. Além disso, qualquer yogi de hoje faz milagres, ao passo que os do cristianismo já se acabaram. por essas razões, o progresso do cristianismo na Índia foi insignificante. 
                 Contudo, apesar da opressão, do amargor e da pobreza, a Índia continuou a criar ciência, literatura e arte.  Em bengala formou-se uma escola de pintura que funde a riqueza de colorido dos afrescos de Ajanta com a delicadeza de linhas das miniaturas rajaputras. 
                  As bases econômica da sociedade hindu não mudaram sem afetar as instituições sociais e os costumes do povo. O sistema de casta só pode subsistir numa sociedade agrícola e estagnada; constitui um elemento de ordem, mas fecha todas as portas ao gênio sem pedigree e mata a ambição, a esperança, os estímulo inventivo; o sistema de casta recebeu sentença de morte quando a Revolução Industrial alcançou as praias da Índia. A máquina a ninguém respeita; em muitas fábricas os homens trabalham lado a lado, sem nenhuma discriminação de casta, e todos recebem indistintamente de quem paga; sociedades cooperativas e partidos políticos congregam toda gente e na congestão dum centro urbano ou na rua, o brâmane  e o pária se ombreiam. Um rajá anuncia que todas as castas e credos são igualmente recebidos em sua corte; um sudra se torna o esclarecido dirigente de Baroda (Vadodara); o "Brama Somaj" denuncia a casta e o Congresso Nacional advoga a abolição de todas as distinções de casta. Lentamente a máquina levanta para a riqueza e o poder uma nova classe de homens, e vai pondo termo à mais antiga de todas as aristocracias existentes.
                 Já em 1923 havia mais de mil hindus estudando na Inglaterra, talvez igual número na América, e mais outros tantos em outros países. Eles passaram a conhecer e viver uma nova vida. Eles maravilhavam-se diante dos privilégios gozados pela gente de mais inferior condição da Europa e da América; estudaram as Revoluções Francesa e americana e leram a literatura de reforma e revolta;enlevaram-se da Declaração dos Direitos do Homem dos franceses, na Lei dos Direitos dos Cidadãos dos ingleses, e na Declaração de Independência e na Constituição dos Americanos; e  voltaram para a Índia transfeitos em focos de liberdade democrática. Os progressos industriais e científicos do ocidente  deram a essa ideias um irresistível prestígio, depois da vitória dos Aliados na Guerra; em breve todos os estudantes estavam metidos na batalha da liberdade. As escolas inglesas e americanas lhes ensinaram a ser livres. Um exemplo de mudança que pode ser observado foi na simples questão do casamento de viúvas. Em 1915 houve 15 casamentos de viúvas; em 1925 houve 2.263. 
                Estes orientas ocidentalizados não trouxeram para a Índia apenas ideias políticas, mas também religiosa; os dois processos usualmente se associam, nas vidas individuais e na história. Saíram da Índias como moços piedosos, adoradores de Crixna, Shiva, Visxnú, Cali, Rama...; tocaram a árvore da ciência e essas antigas fés esborraram-se por força do choque católico. Despidos da fé religiosa, que é o verdadeiro espírito da Índia, os hindus ocidentalizados faziam-se de volta desiludidos e tristes; mil deuses estavam mortos em suas almas... E então, inevitavelmente, a utopia  ocupava o lugar do Céu, a democracia substituía o Nirvana, a liberdade passava a ser seu único Deus. O que aconteceu na Europa da segunda metade do século XVIII começou a repetir-se na Índia. 
A  Idade de Ouro da Civilização Indiana
                  Desde a morte de Ashoca ao Império dos Guptas, as inscrições hindus escasseiam de tal modo que nos sentimos no escuro sobre esta grande civilização. Não fi necessariamente uma Idade de Trevas; grandes universidades, com  a de Taxila,continuaram a funcionar; e e na parte noroeste da Índia, a influência da Pérsia na arquitetura e da Grécia na esculturaproduziram uma florescente  civilização na esteira da marcha de Alexandre. No 1º e 2º séculos a. C., sírios, gregos e citas derrararam-se no pUnjab, conquistaram-no e lá estabeleceram por trezentos anos essa cultura greco-bactriana. No 1º séulo da era cristã os cushans, tribo da Ásia Central aparentada com os turcos, capturaram Cabul, e dessa cidade-capital  estenderam seu poder pelo noroeste indiano e muito da ÁsiaCentral. No reinado do grande Canishka as artes e as ciências floresceram; a escultura greco-budista produziu algumas das suas maiores obras primas, belos edifícios foram levantados em Peshawar, Taxila e Mathura; Charaka  fez progredir a arte da medicina, e Nagarjuna e Ashvaghosha lançaram as bases do budismo Mahayana (Grande Veículo), que iria ajudar Gautama a vencer a China e o Japão. Canishka tolerou muitas religiões e fez experiências com vários deuses; por fim propendeu para o novo e mitológico budismo que fazia de Buda um deus e enchera o céu de bodhisattwas e ashats; reuniu, então, um grande conselho de teólogos para formular o credo e tornou-se quase um segundo Ashoca em matéria de expansão da fé. O conselho compôs 300 mil sutras, que baixavam a filosofia de Buda às necessidades sentimentais da alma comum, e elevaram Gautama à categoria de Deus.   
                Nesse entretempo Chandragupta I  (que nada tinha a ver com Chandragupta   Maurya) havia estabelecido em Magadha a dinastia dos Guptas. Seu sucessor Shandragupta, num reinado de 50 anos, tornou-se um dos maiores monarcas da longa história indiana. Mudou a capital de Pataliputra  para Ayodhya, antiga residência do  lendário Rama; lançou exércitos contra Bengala, Assam, Nepal e sul da Índia; e despendeu os tesouros reunidos na promoção da literatura, da ciência, da religião e das artes. Ele próprio, nos intervalos das guerras, distinguiu-se como poeta e músico. Seu filho Vikramaditya, "Sol do Poder", estendeu estas conquistas das armas e do espírito, favoreceu o grande poeta Kalidasa, reuniu em redor de si um brilhante círculo de poetas, filósofos, artistas, cientistas e eruditos, em sua capital em Ujjain. Sob estes dois reis a Índia alcançou um desenvolvimento não excedido desde os tempos de Buda, e uma unidade política só rivalizada pela do tempo de Ashoca e Akbar.   
             Aprendemos alguma coisa da civilização Gupta por meio da narrativa de Fa-Hien, viajante que esteve na Índia no começo do século V da nossa era. Trata-se de um dos muitos budistas que durante essa Idade de ouro viajaram da China à ìndia; esses peregrinos seriam provavelmente menos numerosos que os mercadores que, a despeito da barreira das montanhas, começaram a entrar na Índia, trazendo-lhe ideias de fora. Fa-Hien, depois da perigosa viagem pelas montanhas, encontrou-se completamente seguro na Índia; viajou por toda ela sem nenhuma molestação. Seu diário de viagem conta como gastou seis anos na viagem, como passou na Índia outros seis e como necessitou de mais três para transportar-se à China, via Ceilão e Java. Fa-Hien descreve com admiração a riqueza, a prosperidade, a virtude e a felicidade do povo indiano, e a liberdade social e religiosa de que gozava. Admirou-se do tamanho e população das grandes cidades, dos hospitais gratuitos e outros instituições, (aqui vale  lembrar que o Hospital  Maison Dieu, que foi o primeiro a ser construído na Europa, só o foi trezentos anos depois.) do número de estudantes nas universidades e mosteiros, e do esplendor dos palácios reais. Sua descrição é por demais utópica, exceto quanto a cortar as mãos.
               Fa- Hien não notou que os brâmanes, que não estiveram em graça desde Ashoca, andavam agora a crescer em riqueza e poder, protegidos pelo tolerante governo dos reis Guptas. Esse sacerdotes tinham revivido as tradições literárias e religiosas dos dias anteriores a Buda, e estavam transformando o sânscrito no esperanto dos estudiosos da Índia. Foi sob a influência deles, com o patrocínio da corte, que as grandes epopeias hindus, o Mahabharata e o Ramayana, se fixaram na forma em que as conhecemos. Também sob essa dinastia a arte budista alcançou o apogeu  com as pinturas nas cavernas de Ajanta. No juízo dum coevo, os "simples nomes de Kalidasa e Varahamihira e Vasdhubandu, Aryabhata e Bramagupta, são bastes para assinalar esta época como um apogeu da cultura indiana. Um historiador imparcial, dia Havell, pode admitir que o maior triúnfo da administração inglesa seria restaurar para a Índia tudo que a Índia gozou no século V. 
                  Este apogeu na cultura nativa foi quebrado pela onda daqueles hunos que também estavam assolando a Europa. Enquanto Átila conquistava o Ocidente, Toramana capturava Malwa e o terrível Mihiragula varria com os Guptas do trono. Por um século a Índia permaneceu na escravidão e no caos, até que um descendete dos Guptas, Harsha-Vardhana, libertou o norte indiano, construiu uma capital em Kanauj e por 42 anos deu paz e segurança a uma grande parte da Índia. As artes e as letras floresceram durante seu governo. Podemos conjecturar do esplendor, tamanho e prosperidade de Kanauj, com base no incrível fato dos muçulmanos terem-lhe destruído 10 mil templos durante a invasão de 1018. Seus belos jardins públicos e banhos eram uma pequena parte do muito que essa dinastia fez para o país. Harsha foi um dos raros reis reabilitadores da monarquia como forma ideal de governo. Era homem de muito encanto pessoal e de muitas realizações; suas poesias e dramas são até hoje lidos na Índia; mas não permitia que estas "fraquezas" interferissem na administração. "Sempre infatigável", dia Yuan Chwang, "a ponto dos dias serem por demais curtos para ele; esquecia-se de dormir, quando empolgado pela devoção às boas obras". Havendo começado como adorador de Shiva, converteu-se depois ao budismo e tornou-se um novo Ashoca. Proibiu o uso da carne, estabeleceu para os viajantes estações de repouso em todas as  estradas do país e erigiu milhares de santuários budistas nas margens do Ganges. 
              Yan-Chwang, o mais famoso dos budistas chineses em visita à Índia, conta-nos que Harsha dava, de cinco em cindo anos, uma grande festa de caridade, para a qual reunia os representantes de todas as religiões e a maioria dos necessitados do reino. Nestas reuniões costumava despender todos os saldos do tesouro, reunidos a partir da data da última festa. Yuan surpreendeu-se de ver a grande quantidade de ouro, prata, moedas, jóias, tecidos finos e brocados reunida num recinto rodeado de cem pavilhões, cada qual para mil pessoas. Três dias eram consagrados a exercícios religiosos; no quarto começava a distribuição. Dez mil monges budistas eram alimentados, e cada qual recebia uma pérola, roupas, flores, perfumes e cem peças de ouro. depois vinham os brâmanes, que também recebiam a mesma abundância de esmolas. Depois vinham os jains e as outras seitas; e depois todos os pobres comuns vindos de todas as partes do reino. Às vezes a distribuição levava três ou quatro meses. No fim Harsha despia-se de seus custosos trajes e jóias e também os dava de esmola.  
               As nemórias de Yuan-Chwang revelam a exaltação teológica da época. Equivale a fato de muita significação, e revelador do prestígio da Índia no estrangeiro, que esse aristocrata  chinês, deixando as suas comodidades no remoto Ch'ang-an, atravessasse o barbaresco oeste da China e, galgando o Himalaia, entrasse na Índia, para, por três anos, cursar a universidade monástica de Nalanda. Sua fama com estudioso e homem de posição social fê-lo receber muitos convites dos príncipes indianos. Ao saber Harsha que Yuan estava na corte de Kumara, rei de Assam, o intimou esse rei a ir com ele a Kanauj.  Kumara resistiu ao convite dizendo que Harsha podia cortar-lhe a cabeça, mas não tomar-lhe o hospede. Harsha fascinou-se com a sabedoria e as belas maneiras de Yuan, e convocou os mais notáveis budistas para ouvi-lo expor a doutrina Mahayana. Yuan afixou as teses à porta do pavilhão da conferência, e acrescentou um post-scriptum, à maneira da época: " Se alguém encontrar em minhas palavras um argumento falso e refutável, deixarei que o oponente corte a minha cabeça". A discussão durou dezoito dias, durante os quais Yuan respondeu a todas as objeções e confundiu todos os heréticos (diz ele). Outra fonte informa que a oposição pôs fim à conferência incendiando o pavilhão. Depois de muitas aventuras,Yuan retornou a Ch'ang-an, onde um esclarecido imperante guardou um rico santuária as relíquias budistas que esse sagrado Marco Polo trouxera, e deu-lhe um corpo de auxiliares para traduzir os manuscritos adquiridos na Índia. 
             A glória do governo de Harsha, porém, era artificial e precária, porque dependia da generosidade dum rei mortal. Quando ele faleceu, subiu ao trono um usurpador, dano mais uma demonstração do lado mau da monarquia. Sobreveio um caos de quase mil anos. A Índia, como a Europa, havia entrado na sua Idade Média, e foi invadida pelos bárbaros, conquistada e saqueada. Só com o grande rei Akbar iria novamente ter paz e unidade. 

Os primeiros impérios da Índia
            Por volta de 600 a.C., o norte da Índia tinha pelo menos 16 unidades políticas organizadas, algumas ainda repúblicas tribais, outras já monarquias absolutas. Estavam estabelecidas na rica planície do rio Ganges. Em Kapilavastu, uma das menores repúblicas, em 566 ou 466 a.C. nasceu Gautama Buda, fundador da religião mais difundida da Ásia; no Ganges, seu quase contemporâneo Mahavira, formulava os ensinamentos do jainismo, doutrina ainda seguida por membros da comunidade mercantil da Índia. 
             No século V a.C., o número de Mahajanapadas, ou grandes reinos, foi reduzido para quatro e, após um século de guerras, foram incorporados ao reino de Magadha. A  nova capital Patalijutra (Patna) controlava a rota de comércio do Ganges, que estava para se tornar núcleo do primeiro Império Indiano. Conta-se que Alexandre da macedônia, após conquistar a Pérsia aquemênida, marchava sobre o Indus em 327 a.C., quando encontrou o jovem aventureiro Chandragupta Maurya. Pouco depois da invasão da Índia por Alexandre, Chandragupta tomou o reino de Magadha. A seguir, aproveitou-se do vazio de poder deixado no noroeste após a retirada de Alexandre e anexou a região a leste do Indus; dirigiu-se ao sul para ocupar grandes áreas da Índia Central ao norte do rio Narmada e, em 305 a.C., derrotou o sucessor de Alexandre, Seleuco Nicator, que cedeu a província grega de Trans-Indus, incluindo parte do Afeganistão. 
               O Império Maurya cresceu com Bindusara, filho de Chandragupta, e atingiu o apogeu sob o comando de seu neto, o imperador Asoka, que, com a conquista de Kalinga, no golfo de Bengala, passou a dominar a parte principal do subcontinente. A ìndia de Asoka era uma região agrícola de aldeias sedentárias, com elaborado sistema administrativo e de coleta de impostos, descrito em um dos primeiros manuais de política do mundo, o "Aithasastra", atribuído a Kautilya, primeiro-ministro de Chandragupta. O comércio prosperou e um grupo especial de funcionários teria a responsabilidade pela construção e manutenção das estradas, incluindo a Estrada Real (conhecida na Índia moderna como a Estrada do "Grand Trunk"), ligando Pataliputra ao noroeste. É provável que Chandragupta e seus sucessores não praticassem o hinduísmo ortodoxo, hoje religião predominante na planície do Ganges. Após a sangrenta sujeição de Kalingua em 260 a.C., Asoka aceitou a conversão ao budismo e abandonou a pol´~itica de conquistas, "digvijava", em favor da "dhamavijava", a Vitória do Bem e da justiça. seus ensinamentos éticos estão inscritos em pilares e rochas pela Índia. Seus emissários visitaram os reinos helenísticos, o Ceilão e o longínquo sul para pregar o novo evangelho da paz. 
                 Mas o domínio dos mauryas sobreviveu pouco tempo após a morte de Asoka, em 232 a.C. . No século II a.C., norte e noroeste foram invadidos por gregos da Báctria e por novos grupos nômades em movimento a partir da Ádsia central. O grupo kushan, da horda Yüch-chih se fixou no vale do Oxus após 165 a.C. e aos poucos estendeu seus domínios até benares no século I d.C. . Grandes áreas do Afeganistão  e khotan foram anexadas ao Império Kushan, que se tornou uma miscelânea de raças e culturas indianas, chinesa, asiática central e greco-romana. Por essa época, grupos de saqueadores gregos e egípcios fundaram reinos e dinastias na Índia ocidental e central. Os imperadores Kushan e os vassalos gregos adotaram nomes sânscritos e seguiram religiões indianas; in fluências indianas e helenísticas combinaram-se na escultura Gandhara. O budismo mahayana nessa época se separou dos ensinamentos fundamentalistas do Theravada original e desenvolveu perspectiva eclética, influenciadas por crenças não indianas, com um panteão de divindades originárias de várias regiões. Essas são, hoje, as duas grandes divisões do budismo. A theravada predomina em Sri Lanka, Myanma e Sudeste Asiático; a mahayana é a seita dominante na Índia, Tibete, China e japão. 
                A Índia revitalizou as antigas relações comerciais com Oriente Médio e Egito e ampliou o comércio com os reinos helenísticos. No século I d.C., Plínio queixava-se que as importações vindas da Índia custavam aos romanos 550 milhões de sestércios ao ano em ouro. Portos como Barbaricom, no delta do indus, e o entreposto de Barygaza exportavam turquesas, diamantes , nardo indiano, anil, fios de seda e cascos de tartarugas, recebendo em troca vinhos, pérolas, cobre, tâmaras, ouro e escravos da Etiópia. Arábia e Mediterrâneo. Mercadores indianos, na busca de especiarias para o mercado romano, abriram entrepostos no Sudeste Asiático e grande parte  do comércio de seda chinesa (especialmente nas guerras romanas com a Pátria) orientou-se para o centro comercial de Taxila, no Paquistão, antes que as caravanas o desviassem para o Ocidente. 
               Na metade do século II d.C. , os reinos estrangeiros do norte estavam em decadência, e novos grupos indígenas emergiam. Os povos da língua tâmil, ao sul de Madras, ocuparam brevemente o Ceilão (Sri Lanka) e construíram portos no extremo sul da Índia. Os satavahanas do Decão espalharam-se pela península, penetrando pela planície do norte. No sécvulo IV, a dinastia indiana dos Guptas, com base em Magadha, dominou o Sind e Punjab até Bengala. Foi a época clássica da civilização do norte da Índia, que sobreviveu ao colapso político do império, causado por novas invasões dos nômades hunos no século V.
               Nessa época,  foi composta a versão final dos "Puranas", registros da versão hindu da Criação e dos primórdios da humanidade; a Vedanta também começava a influenciar o pensamento hindu. Já o budismo, difundido por mercadores indianos e viajantes, foi mais aceito além das fronteiras do subcontinente. Em 379, tornou-se religião oficial na China e Sudeste Asiático, onde o hinduísmo já tivera sucesso e floresceu nos séculos VII e VIII. 
              Em meados do século VII, o rei guerreiro Sri Harsha, governando a partir de kanauj, impôs outra dura unidade feudal de Gujarat até o leste de Bengala, mas suas tentativas de dominar o Decão foram bloqueadas pelos chanllukvas, poderosa dinastia sulista. Por anos Ílsüan-Tsang, o mais famoso viajante chinês à Índia, viveu na corte de Sri Ílarsha, deixando relato expressivo da vida e política indianas. Quando Sri Ilarsha morreu, tropas  chinesas interviram para nomear um sucessor adequado ao trono. Pouco depois a Índia voltava ater seus estados em guerra. 


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