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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

OS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO CHINESA




                  Ninguém sabe donde vieram os chineses, qual a sua raça, ou quao velha é a sua civilização. Os remanescentes do "homem de Pequim" sugerem a grande antiguidade do homem-macaco na China; e as pesquisas de Andrews levaram-no a concluir que a Mongólia densamente povoada  há 20.000 anos a.C. por uma raça cujos instrumentos correspondiam aos do mesolítico europeu, fase "Aziliana", e cujos descendentes se espalharam pela Sibéria e China, quando o sul da Mongólia secou e se transformou no deserto de Gobi. As descobertas de Anderson e outros, no Honan e no sul da Manchúria, indicam uma cultura neolítica de uns dois mil anos anterior ao mesmo período na Suméria e no Egito. Alguns dos instrumentos de pedra encontrados nesses depósitos neolíticos assemelha-se exatamente, na forma e nos furos, às facas de ferro hoje usadas no norte da China para colheira do sorgo; e esta circunstância, mínima que pareça, revela a probabilidade de sete mil anos na cultura chinesa. 
                 Entretanto, alguns elementos das artes e indústrias primitivas parecem ter vindo da Mesopotâmia e do Turquestão; a cerâmica neolítica do Honan, por exemplo, é quase idêntica à de Susa e Anau. O atual tipo "mongólico" é uma mistura altamente complexa, em que os elementos primitivos cruzam-se e recruzam-se com cem  povos invasores ou migrados da Mongólia, da Rússia (os citas) e da Ásia central. A China, como a Índia, tem que ser em seu todo comparada à Europa e não a qualquer das nações da Europa; não é o "habitat" dum povo puro, mas um mosaico de povos diferentes na origem, distintos na língua, no caráter e na arte e muitas vezes hostis em costumes, moral e política. 
                  Comunidades neolíticas agrícolas, ancestrais diretas da civilização chinesa, surgiram em 7.000 a. C. no sul da China e terras do norte e nordeste, onde os solos bem drenados dos terraços ribeirinhos eram ideais para a agricultura primitiva. Um dos mais antigos sítios é Banpo, com casas redondas e retangulares e fornos para cerâmica, além de cemitério, que continha apenas túmulos de adultos; crianças eram enterradas em urnas de cerâmica entre as casas. No vale do rio Huang, a agricultura primitiva chinesa dependia muito do painço, mas para o sul o cultivo de arroz era importante e provas da existência de arrozais no delta do Yangtzé (Chang) datam do 5º milênio a.C..  Por volta de 3.000 a.C., surgiram comunidades agrícolas sofisticadas que desenvolveram habilidades técnicas, inclusive entalhe de jade, e os povoados ficaram maiores e mais permanentes. Foi então que surgiram espécies de municípios em vez de vilas, muitos deles protegidos por muralhas defensivas, feitos com terra socada. Nessa época apareceram os primeiros enterros faustosos na China Oriental, na zona que se converteria no berço das primeiras cidades chinesas. Este fato era indicativo de uma sociedade estratificada, com distinção entre ricos e pobres, inclusive referente à morte. 
                Não se sabe exatamente quando a forma de vida de coletores e caçadores chineses foi substituída pela agricultura; Porém, por volta de 6.000 a.C. existiam numerosos povos agrícolas bem estabelecidos no norte da China, incluindo o famoso Panpo. Esses antigos povos eram dependentes do sogo. Plantas resistentes à seca, como esta, deram-se muito bem no fértil, porém árido, terreno loéssico da região.  O cereais cultivados em maior extensão eram o milho e o arroz; depois vinha o trigo e por fim a cevada. O arros servia também para o fabrico duma bebida alcoólica, de que o camponês raramente usava. A bebida favorita era o chá, e também era o chá o produto de maior importância depois do arroz. Usado primeiro como remédio, foi crescendo em popularidade até que na era dos Tangs entrou na exportação e na literatura poética. Vinha depois a cultura de deliciosos vegetais, suculentos legumes, como a soja, condimentos, como o alho e a cebola, e inúmeras variedades de frutas.  No clima úmido do sul se cultivavam plantas como a castanha-d'água, o inhame e o arroz. Tudo indica que foi nesse local que se cultivou pela primeira vez o arroz originário da Índia, e dali se expandiu gradativamente para o norte, tornando-se o segundo produto mais importante da China, junto ao sorgo.

                Quando se fala sobre a verdadeira "civilização" chinesa, ao que tudo indica e baseando-nos aos mais seguros documentos,  deve remontar não muito além do segundo milênio antes de Cristo, a uma época, digamos, em que Sumerianos, Egípcios e Hindus já estavam em seu pleno apogeu. 
               Os homens, de qualquer raça ou latitude, são fundamentalmente semelhantes entre si; ão só acabam por criar instrumentos, casas, usos e costumes do mesmo tipo, mas possuem, também, os mesmos mitos, os mesmos provérbios, as mesmas festas religiosas.  Assim, na mitologia chinesa, encontramos um legendário Pan-Ku, o primeiro homem, que corresponde ao Adão da tradição bíblica, e um semideus, inventor do fogo, da agricultura, das artes, a quem os Chineses chamam Sui-Yen, os Sumerianos Gilgamesh e os Gregos Prometeu. 
            Sui-Yen teria sido, entre outras coisas, o primeiro "filho do céu", o chefe da dinastia dos imperadores chineses, mas devemos seguir a muito mais além, no tempo, para encontrar a primeira figura realmente histórica de soberano, na pessoa de Fu-Hsi, o legislador, o codificador das escrituras, o construtor da ordem política chinesa. Tal como os povos europeus e médio-orientais, também os Chineses, no tempo de um pequeno número de nobres guerreiros que dominavam largas regiões eram sujeitos, mais ou menos nominalmente, a um soberano central. Lá pelos fins do segundo milênio a.C., o imperador Yu, chefe da dinastia Hsia, assumiu de per si o poder, desacatando a maior parte dos feudatários. É a época dos grandes beneficiamentos das terras, que deram à China uma prosperidade agrícola invejável. 
               À dinastia Hsia, sucederam-se os Chang e, depois, os Tchiu,  turbulentos de lutas internas e externas, mas não devemos esquecer que as planícies chinesas, rica e civilizada, estava circundada por estepes e desertos, em  que viviam populações nômades e ferozes, de origem tártara, que olhavam para os belos campos e para as cidades costeiras, como para uma presa fácil e apetitosa. Por isso sob o reinado do imperador Chi-Huang-Ti, que viveu no II século a.C., foi concluída a construção daquele imenso baluarte, que se chama "a Grande Muralha", destinada a servir de barreira ás incursões dos cavaleiros tártaros. No entanto, como o evolver da técnica e o aperfeiçoamento dos métodos de agricultura, surgiram o bem-estar material, as condições favoráveis ao desenvolvimento das artes e do pensamento filosófico. Assim, entre o VII e o IV séculos a.C., na época mais vital para o jovem império chinês, encontramos poetas como Lao-Tse, comparáveis aos nossos maiores; vemos surgir e criar raízes aquele movimento filosófico-religioso, que se resume na imortal figura de Confúcio.
                É um mundo remotíssimo,em qualquer sentido, do nosso. E somente muitos séculos depois, lá pelos fins do século XVII, os ocidentais começaram a conhecê-loe compreendê-lo, reconhecendo nele os germes de uma grandeza intelectual não inferior àquela que ilumina a civilização greco-latina, de que nos proclamamos, orgulhosamente, herdeiros e continuadores.

                As sutilezas e todos os requintes da vida chinesa, repousam, em última análise, na fertilidade dos campos, ou melhor na labuta dos homens, porque os campos férteis não nascem, são feitos. Durante muitas gerações os antigos habitantes da China devem ter lutado contra a floresta e a macega nativas, contra os animais e insetos, a seca e a inundação, o salitre e a geada, para transformar o baldio em solo fecundo. E a vitória tinha de renovar-se periodicamente; um século de descuidado corte de madeira plantava numa zona o deserto. Como sabemos, os morros desnuados de vegetação não retém a água das chuvas; perdem os elementos de fertilidade, carreados para os vales pelas enxurradas, e não oferecem a estes vales nenhuma proteção contra o excesso de chuvas, pois não as absorvem. Mas a sabedoria da natureza cuidava das providências que não fossem tomadas pelo homem, e poucos anos de abandono dum campo fazia que a mata o reconquistasse. A luta sempre era amarga e perigosa; a qualquer momento podiam entrar os bárbaros e apossar-se da terra penosamente trabalhada. Por isso os camponeses, atentos à defesa não viviam isolados em suas terras, mas reunidos em aldeia pequenas; cercavam-nas de muramentos, trabalhavam em conjunto nos campos e muitas vezes dormiam neles de guarda, armados. 
               O desenvolvimento de uma agricultura estável foi seguido por mudanças gradativas na organização social durante o quatro e terceiro milênios a.C., situação que levou a China do Norte às portas da civilização. O intercâmbio de matérias-primas e produtos elaborados foi um fator importante nesse desenvolvimento; foram criados objetos de luxo para uma elite emergente. 
                  Os estudos feudais, que por quase mil anos ´proporcionaram à China a ordem política necessária à sua coesão, não foram coisa criada pelos conquistadores; haviam brotado das antigas comunidades agrícolas, coma absorção do mais fraco pelo mais forte ou a fusão de grupos sob um chefe comum para a melhor defesa dos campos contra as investidas dos bárbaros. Houve 17600 destes "principados", em regra consistentes duma cidade murada, subúrbios defendidos e terras de cultura. Aos poucos estas providências se fundiram em 55, cobrindo o que é hoje o distrito de Honan, parte de Shansi, Shen-si e Xantum. Dessas providências, as mais importantes eram Ts'i, que forneceu a base do governo chinês, e Chin (ou Tsin), que conquistou o resto, estabeleceu um império unificado e deu à China o nome pelo qual o mundo a conhece.   
                 Entre os anos 2.500 x 1800 a.C. aconteceram importantes acontecimentos. Foi nessa nessa época que se construíram assentamentos cercados por muralhas e o artesanato adquiriu uma sofisticação maior, com ourivesaria e cerâmicas fabricadas com adornos. 
                   A construção das cidades se expandiu à medida que surgiram os povoados durante o longo período Chou (1028 x 221 a.C.), apesar dos conflitos endêmicos e da instabilidade política dos séculos posteriores. No século VI a.C. foi introduzido o ferro, que, misturado com o bronze, foi utilizado para fabricar objetos cotidianos. Os ferreiros chineses utilizavam a fusão para produzir grandes quantidades de ferramentas e armas, quase 2.000 anos antes do o ferro fundido, que requer temperaturas muito elevadas, aparecer pela primeira vez na Europa. 
                    A organização dos estados encontrou formula no Chou-li, ou "Lei de Chou", um volume tradicionalmente atribuído a Chou-Kung, tio e primeiro ministro do segundo Duque de Chou. Esta legislação, muito insuflada do espírito de Confúcio e Mencio para ser do começo da dinastia Chou, perdurou dois mil anos no conceito chinês de governo; um governador governava como vigário e "Filho do Céu", e detinha o poder graças à posse da virtude e da piedade; uma aristocracia, parte de nescimento, parte por educação, ocupoava os cargos administrativos; o povo lavrava a terra, vivia em famílias patriarcais, gozxava de direitos civis, mas não tinha voz no governo; e um gabinete de seis ministros controlava a vida e as atividades do imperador,o bem-estar e a situação marital do povo, as cerimônias da religião, a preparação e a realização da guerra, a administração da justiça e as obras públicas. Era um código quase ideal e com certeza irrompido de algum anônimo  "Platão", e não de chefes afeitos ao poder e conhecedores da realidade dos homens chineses. 
                      Os conhecimentos disponíveis da civilização Chang derivam da arqueologia, as antigas tradições históricas e as provas dos breves textos talhados nos chamado "ossos do oráculo", utilizados nos ritos de adivinhação. Ruínas de cidades, ricos túmulos e artefatos de luxo demonstram que os governantes e aristocratas Chang eram guerreiros vigorosos e altamente sofisticados. Os túmulos mais ricos são os de Xibeigang, em An-yang, os quais datam do período em que a capital era Chang. Acredita-se que esses túmulos foram moradas dos reis desta dinastia. Constituem num grande fosso retangular com uma rampa rebaixada de cada lado e, apesar de terem sido saqueadas na antiguidade, os artigos que ainda existem refletem a incrível riqueza que ali existiu. A sepultura mais modesta de uma rainha Chang, que fica num outro lugar de An-yang, incluía pessoas sacrificadas, seis cachorros sacrificados, mais de 400 objetos de bronze, cerca de 590 objetos de jade, 560 peças de osso e aproximadamente 7.000 conchas de moluscos cauris, que eram empregados como moedas na época Chang.
               Os sítios arqueológicos da dinastia Chang  mais famosos são as capitais de Cheng-chou e An-yang, onde foram realizadas escavações. Os reis Chanf transferiram sua capital em seis oportunidades. Os Chang mantiveram relações comerciais com populações de grande território, abrangendo o norte e o centro da China, e com os povos das estepes no norte e no oeste. Também foram encontrados muitos sítios arqueológicos de menor importância nessas zonas afastadas, como Panlongcheng, na bacia do Yang-tsé. Esta cidade foi similar a Cheng-chou, porém quatro vezes menor que a capital. Elas se diferenciaram das cidades do Egito e da mesopotâmia que, embora estejam localizadas no centro de uma zona amuralhada, abrangem grandes superfícies rurais, se bem que com uma densidade menor. Em Cheng-chou, por exemplo, a área central estava cercada por uma rede de zunas residenciais e lojas, alternando-se com cemitérios, estendendo-se por mais de 1 quilômetro além da muralha da cidade. Apenas as zonas centrais das cidades Chang encontravam-se fortificadas. 
               A religião, principalmente o culto dos ancestrais, foi um aspecto essencial das primeiras civilizações chinesas. Contudo, não foram encontrados templos que possam ser comparados com os do Egito ou da Mesopotâmia, provavelmente porque os rituais na China se realizassem de forma privada nas casas e nos palácios.  Os ossos do oráculo eram utilizados para consultar os ancestrais do soberano sobre uma ampla gama de assuntos, desde questões do Estado, campanhas militares e o pagamento de tributos, até preocupações mais cotidianas: as mudanças do clima, o resultado das futuras expedições de caça ou a interpretação dos sonhos. O processo de adivinhação consistia em colocar um elemento quente sobre o osso, em geral omoplata de gado ou de búfalo, produzindo um padrão de fendas, que posteriormente se interpretava. Todo o processo de adivinhação ficava registrado graficamente no osso. Estes textos, embora breves, constituem um precioso registro escrito da organização geográfica e política do Estado Chang. Sua existência indica a presença de uma classe alfabetizada, possivelmente um tipo de clero. Muitas características da civilização chinesa podem ter tido sua origem no período Chang e inclusive mantes dele. A seda, proveniente do casulo do bicho-da-seda domesticado, já era fiada em 2700 a.C. A seda cultivada da China possuía um grande valor e, na época do Império Han, já era comercializada intensivamente ao longo da Rota Transasiática da Seda até os mercados do Mediterrâneo. 
              Nas cortes feudais desenvolveu-se a cortesia característica dos geltlemens chineses. Aos poucos um código de maneiras, cerimônias e honra se estabeleceu e se tornou tão rigoroso que serviu de substituto da religião entre os membros das altas classes. Os alicerces da lei foram propostos e uma grande luta se travou entre os costumes desenvolvidos no povo e as leis formuladas pelo Estado. Surgiram códigos e leis nos ducados de Cheng e Chin (535 x 512 A.C), com grande horror dos camponeses, que previam a punição divina para tais ultrajes; e realmente a capital de Cheng foi logo depois destruída por um incêndio. Os códigos eram muito parciais para com a aristocracia, sempre isenta das cominações já que podia disciplinar-se a si mesma; os fidalgos culpados de homicídio podiam suicidar-se, e muitos o faziam, usando o mesmo sistema dos samurais japoneses. O povo protestou que também podia disciplinar-ser a si mesmoe apelou para algum Harmodio ou Aristogiton, que o viesse libertar da nova tirania da lei. No fim, as duas forças hostis, costume e lei, chegaram a um sensato compromisso: "o alcance da lei se limitava às grandes coisas ou às coisas nacionais, e o alcance do costume continuava sobre as matérias de menor importância; e como a grande maioria da vida humana se compõe de materiais de menor importância, o costume voltou a imperar soberano. 
               Através das inscrições e dos documentos posteriores, é possível acompanhar a evolução da escrita chinesa desde os tempos de Chang até a atualidade. A natureza da escrita, na qual cada caractere é ao mesmo tempo fonético, silábico e ideográfico - ou seja, cada um exprime um som e um conceito simultaneamente - foi transcendental para a unificação de uma nação  tão dividida por uma grande variedade de dialetos mutuamente incompreensíveis. O poder político, cultural e militar da China nos ´seculos seguintes trouxe como consequência o uso da escrita chinesa no Japão, Coreia e Vietnã até o século XIX da nossa era. 
                 O que fica bem evidente é que os alicerces da civilização chinesa foram construídos durante o período Chang, evoluindo nos séculos seguintes. A tradição da ourivesaria em bronze estabelecida nesse período floresceu em épocas posteriores, tendo deixado claras provas da grande habilidade e capacidade criativa dos primeiros ourives  chineses.
                    Nesse período da civilização chinesa encontramos uma exuberante arte e nos parece que a ali a Renascença chegou mais cedo. Os belíssimos tetos de madeira dos túmulos de Xibeigang foram fintados com laca vermelha e preta, e, além disso, em vários sítios históricos foram encontrados vasilhas laqueadas. O vaso laqueado, outro elemento característico do Extremo Oriente, também era usado no período Chang. Porém, os produtos mais destacados dos artesãos de Chang foram os de bronze. Vasilhas de bronze muito bem trabalhadas, utilizadas em rituais religiosos, eram fundidas em moldes cerâmicos, e decoradas com motivos de animais, bestas imaginárias e desenhos "abstratos". 

                  A vida religiosa e cultural da China também sofreu importantes mudanças durante esses séculos; era a época do Confúcio e de Lao-tse, fundador do taoismo. No entanto, o auge da evolução cultural chinesa chegou no máximo depois do ano 221 a.C. quando o imperador Ch'in Shih Huang-Ti conseguiu unificar a totalidade da China sob seu mandato, traçando o caminho para o poderoso e sofisticado império da dinastia Han. 

                  A civilização que eventualmente se desenvolveu no nordeste da China em meados de 1800 a.C. herdou o seu nome da dinastia Chang, que reinou no vale central do Rio Amarelo e fundou um poderoso Estado sem rivais que durou até o século XI a.C. De acordo com a tradição, existiu uma dinastia Hia, antes da dinastia Chang, que conquistou o poder somente em 1523 a.C.  Entretanto, não foram encontrados sítios arqueológicos nem outras ruínas que possa ser atribuídas, com certeza, à dinastia Hia. As crônicas chinesas posteriores assinalam que, supostamente, os Chang eram originários da Ásia e conquistaram o norte da China. Por isso, se assim foi, adquiriram rapidamente a cultura de seus novos súditos, mantendo os costumes antigos; praticamente as únicas novidades atribuídas aos Chang foram os escritos nos ossos do oráculo e a introdução do carro de guerra de duas rodas. É bom mencionar que os Chang desenvolveram tais invenções numa etapa tardia de seu governo. 
          No século XI a.C., os Chous foram conquistados pelos Chou, um povo rival, possivelmente de diferente origem étnica, que viviam na fronteira noroeste. Os Chou expandiram gradativamente sua soberania em uma zona muito maior do que a dinastia Chang, incluídos Hupeh, Hopeh, Honan, Shansi, Shanting, grande parte de Shensi e Anhwei e partes da bacia média do Yang-tsé. No início, a capital se encontrava próxima de Xi'an e existia uma capital secundária nos arredores de Lo-yang. Seu Estado era dividido em vários domínios separados. Muitos deles, principalmente os que ficavam perto das capitais, pertenciam ao rei na qualidade de Domínio Real. Outros eram outorgados em feudo ao clã real; uma forma de retribuição às famílias que haviam contribuído para que os Chou tivessem chegado ao poder.
               Até o século VIII a.C., os reis Chou mantiveram o poder e expandiram constantemente sua área de controle. Em 771 a.C., contudo, a capital Hao foi saqueada por invasores ocidentais, oportunidade que foi  aproveitada pelos principais vassalos dos Chou para conquistar independência. Embora os imperadores Chou continuassem governando de sua segunda capital, em Lo-yang, seu Estado agora era um entre muitos; durante cinco séculos que se seguiram ao ano 700 a.C. havia mais de 100 estados na China. Explicar esta complexidade do ponto de vista histórico evidentemente é problemático. 
                  De acordo com a tradição, o período é dividido em duas metades: até o ano 481 a.C., período no qual o regime feudal foi derrubado, e um segundo período, compreendido entre a data anterior e o ano 221 a.C., época na qual se implantou gradativamente um novo regime que finalmente culminou na unificação chinesa sob o reinado de um só governante. As guerras se tornaram muito frequentes. Entre os anos 722  e 464 a.C., estão registrados apenas 32 anos de paz, porém entre a data anterior e o anos 221 a.C. houve 89 anos de paz. No século VIII a.C. , as batalhas envolviam centenas de carros de guerra, cada um levando um seleto grupo de guerreiros nobres.  Batalhas com 100 mil homens eram frequentes;mesmo assim, os bloqueios militares duravam vários meses produzindo centenas de milhares de baixas.
            As defesas das cidades e as descobertas das armas de bronze e ferro revelam os endêmicos conflitos armados desse período. Além dos carros de guerra, a balestra foi o invento que fez toda a diferença. Provavelmente foi utilizada pela primeira vez  no século IV a.C. Para garantir maior segurança, vários Estados do norte da China construíram fronteiras muralhadas, em alguns casos para se proteger dos Estados vizinhos e, em outros, para se defender da permanente ameaça dos povos nômades do norte. O conceito de fronteira amuralhada atingiu sua máxima expressão só após a unificação da China em 221 a.C. 
              Todas estas mudanças militares trouxeram como consequência grandes transformações dos povos e de seus governantes. Com o aparecimento de ferramentas de ferro aconteceram notáveis avanços na agricultura. Pontas de ferro e lâminas afiadas que se incorporavam aos implementos de madeira, mudaram completamente a produção até então artesanal. Ao mesmo tempo, realizavam-se importantes obras de irrigação, como o açude de Dujiang  em Sechuam, construído no século III a. C. , e que ainda se encontra em uso até hoje.  No lugar dos serviços prestados ao senhor, agora os lavradores tinham de pagar impostos ao conquistador. Na época do filósofo Confúcio (551 x 479 a.C.), a a alíquota padrão do imposto era de aproximadamente 20 %, e isso permitia o financiamento da defesa e das guerras. 
                No século V a. C., cerca de 100 ou mais pequenos Estados feudais tinham sido dominados por vinte dos reinos mais poderosos. O poder real era exercido pelos Estados hegemônicos que lideravam as alianças temporárias. 
                Próximo ao fim do século IV a.C., existiam apenas sete Estados chineses importantes e integrados, em vez do grande número de Estados menores de épocas anteriores. 
               Quando terminou o período dos Estados Guerreiros, o antigo regime social começou a desmoronar. Os estados mais poderosos empregaram burocratas no lugar de continuar com a nobreza hereditária dos tempos antigos. As praticas religiosas decaíram. Um novo grupo de servos estatais (shi) emergiu como oficiais militares e funcionários do Estado. Confúcio era um deles. Os primeiros povos da China praticavam o culto aos ancestrais e adoravam os espíritos da natureza. K'ung Fu-tzu, ou Confúcio, nascido em 551 a.C. negou a realidade deste mundo espiritual tradicional; porém sua principal preocupação foi a conduta do homem. O confucionismo não foi uma religião, e sim um código ético que regulamentava as relações humanas, baseado no amor e no respeito ao próximo . Confúcio deixou bem claro que a responsabilidade pela administração do Estado não era questão de nascimento, e sim de capacidade. Portanto, o sistema de seleção para contratar burocratas foi aberto a todas as classes. Ele abriu as portas para todos os jovens de classe baixa que postulasse um cargo alto pela sua habilidade e esforço. 
                      Em meio ao caos aparente, a vida mental da China mostrava uma vitalidade anuladora de todas as generalizações dos historiadores. Porque foi dentro de toda essa desordem que se lançaram as bases da língua chinesa, da literatura, da filosofia e da arte; a combinação duma vida fornada segura pela organização econômica e pela provisão, e uma cultura  ainda não uniformizada pela tirania da tradição  e do governo imperial, serviu como arcabouço social durante o mais fecundo período da mentalidade chinesa. Em cada corte, e em mil cidades e vilas, os poetas cantavam, os oleiros giravam seus tornos, os fundidores fundiam vasos, os escribas aprimoravam os caracteres da língua escrita, os sofistas ensinavam aos estudantes as tricas do intelecto e os filósofos lamentavam a imperfeição dos homens e a decadência dos Estados. 
                A cunhagem de moedas foi outra importante invenção desse período. As principais moedas chinesas foram cunhadas ao redor do ano 500 a.C.; no início tiveram forma de facas e espadas em miniatura, como resposta a uma etapa anterior em que usavam facas e espadas de tamanho natural como instrumento de troca. Próximo ao século III a.C., a moeda na forma de disco tinha substituído os tipos anteriores. Antes da unificação da China, em 221 a.C., cada reino independente possuía sua moeda própria, sendo que as diferenças nas formas permite distinguir os diferentes reinos. 
                  No século II a.C., o confucionismo foi declarado ideologia oficial do império, assim permanecendo até a queda da dinastia Manchu, em 1911, isto é, mais de dois mil anos depois, quando o estado passou a ser separado das questões religiosas. 


Unificação da China
                Entre 403 e 221 a.C., sete estados importantes lutaram pela supremacia da China. Foi o período dos Estados beligerantes. De início, os principais rivais eram os antigos reinos de Ch'i, Ch'u, Han e Wei. maia tarde (328 x 308 a.C.), o estado de Ch'in, na fronteira noroeste, controlou o noroeste e o oeste e, na última metade do século III a.C., destruiu rivais até dominar toda a China em 221 a.C. . Foi um período de guerras constantes, entre reinos poderosos e organizados, que substituíram a antiga ordem social feudal por governos centralizados constituídos de burocratas e não nobres hereditários. desenvolveram eficazes sistemas tributários e legais para provera subsistência de exércitos e obras públicas. 
               O surgimento desses Estados coincidiu com mudanças sócio-econômicas. A introdução das ferramentas de ferro a partir de 500 a.C. e o uso da tração animal contribuíram para aumentar a produtividade agrícola. os novos Estados faziam drenagem e irrigação para preparar terras para o cultivo. Nessas terras surgiu uma nova ordem social que rompeu com o rígido sistema comunitário das aldeias. A população se multiplicou. Comércio e indústria prosperavam á medida que os Estados construíam estradas e surgiam grandes cidades. Foi um período de inovação na tecnologia, na ciência e no governo, e de agitação filosófica, quando se impuseram as principais correntes do pensamento chinês: confucionismo, taoismo e legalismo. 
                 No estado de Ch'in, a aristocracia feudal foi substituída por uma burocracia rígida e centralizada. A população foi dividida em grupos de famílias, com responsabilidades mútuas, e organizada de forma a fornecer mão-de-obra para construção  e o exército. O novo sistema entrou em vigor através de um código penal rigoroso. Quando o primeiro imperador Ch'in, Shih Huang-ti, unificou a China, essa ordem se estendeu pelo país. Embora as facções hostis tenham sido eliminadas, os encargos impostos ao povo e as tensões regionais levaram á queda do império em 206 a.C., logo após a morte do imperador. 
                Após um período de guerra civil, a nova Dinastia Han, fundada por um homem de origem humilde, passou a dominar a China. Os Han viram-se forçados a reintroduzir um sistema de principados feudais, distribuídos para suas famílias e defensores. Seguindo as diretrizes gerais do governo Ch'in, com menos rigor, os Han aos poucos desenvolveram um governo central e  um sistema de administração local eficazes. 
               Os Ch'in haviam tomado medidas defensivas contra os nômades Hsiung-nu do norte haviam avançado para o sul, penetrando em áreas ocupadas por povos aborígenes não-chineses. No governo de Wu-ti (140 x 87 a.C.), a China retomou a ofensiva contra os Hsiung-nu e reconstruiu a muralha Ch'in, estendendo-a até o noroeste. Abriram a rota para a Ásia central e, apos 59 a.C., por pouco tempo controlaram os Estados-oásis da bacia do Tarim. Iniciaram um comércio de exportação, principalmente de seda, para Parti e o Império Romano. Os Han também reafirmaram as conquistas Chi'in na região de Cantão, eliminaram os reinos Yüeh da costa sudoeste no fim do século II e ocuparam o norte do Vietnã. Exércitos chineses avançaram profundamente para o sudoeste, estabelecendo o controle Han sobre Estados nativos. Mas exceto poucos centros importantes, a maior parte do sul da China ficou por muitos séculos nas mãos dos povos aborígenes. Os exércitos de Wu-ti ocuparam ainda parte do sul da Manchúria e norte da Coréia.
              O Império Han prosperou e cresceu rapidamente; neste período de estabilidade, a população da China  atingiu cerca de 57 milhões. Muitas cidades floresceram e a maior delas, a capital Chang-an abrigava 250 mil pessoas e era o centro de uma cultura extraordinária. No início da era cristã, o Império Han rivalizava com o Império Romano em tamanho e riqueza. 
            Mas os feitos militares de Han Wu-ti oneravam o Império, dilapidando suas riquezas. E,sob o  governo de vários imperadores fracos da última metade do século I a.C., a autoridade do trono era disputada pelas famílias da corte. Em 9 d.C., Wang  Mang, parente imperial pelo casamento, usurpou o trono e formou uma breve dinastia (Hin. de 9 a 23 d.C.), que adotou um programa radical de reformas. Seu reinado terminou em rebeldia total seguida pela restauração da dinastia Han (Han Posterior de 25 a 220 d.C.). Desde que Ch'ang-an foi saqueada, a capital foi transferida para Loyang e, no final do período Han, o nordeste da China tornou-se aos poucos mais importante do que o noroeste. 
               Após décadas de consolidação, no final do século I os chineses retomaram hostilidades  contra os Hsiung-nu e, em 94 d.C., invadiram outra vez a bacia do Tarim. Conflitos com as tribos Chiang do noroeste, a sucessão de imperadores crianças e o facciosismo na corte enfraqueceram de vez o Estado Han, por volta de 160 d.C.. Uma onda de desgraças agrárias culminou com o levante religioso dos Turbantes Amarelos que tomou conta da China a partir de 184. A ordem foi restabelecida por vários déspotas regionais, que passaram a governar de fato. O nome Han sobreviveu até 220, quando o último imperador Han abdicou em favor de um dos comandantes regionais. O império foi dividido em três estados independentes. A china permaneceria politicamente fragmentada até o ano 589.  


                  
                 
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