No fim do último período glacial, há aproximadamente 10 mil anos, os habitantes do Vale do Nilo eram caçadores coletores, e existiam poucos sinais da grande civilização que viria surgir nesse lugar nos milênios seguintes. Todavia, devido às condições do clima, muito mais temperadas do que o período pós-glacial, as populações cresceram, sendo possível que as plantas e os animais locais fossem o seu sustento. Mesmo considerando que estas espécies locais foram importantes, não tinham o potencial do trigo nem da cevada, que eram cultivados na mesma época no Oriente Médio. A introdução destes produtos no Egito, em torno de 5.100 a.C., representou um progresso importante rumo ao surgimento de uma agricultura produtiva, baseada no lodo fértil depositado anualmente pela enchente do Nilo.
Os primeiros habitantes do vale do baixo Nilo eram grupos seminômades que viviam de caça selvagem e coleta que eram abundantes na rica vegetação natural da planície de inundação do rio Nilo. A África do Norte era menos árida que hoje, e as bordas do deserto, no Egito, eram interrompidas por pastagens.
A população cresceu no fim da Idade do Gelo - período de seca em muitas latitudes tropicais. Os novos moradores que se dedicavam à caça e à coleta começaram a criar e domesticar gado, ao mesmo tempo em que iniciaram o cultivo de trigo e cevada (6.000 anos a.C.).
A maior parte da população do Egito era formada por camponeses agricultores que trabalhavam seus pequenos terrenos, ou melhor, agricultores inquilinos e trabalhadores agrícolas das terras da coroa, do templo e dos nobres.
De início a comunidade de camponeses permaneceram independentes e autônomas. Esta situação se reflete na multiplicidade de divindades e cultos, muitos descendendo da divindade local de uma vila comunitária isolada. Mesmo quando essas comunidades se agrupavam em unidades maiores, mais tarde denominadas "nomos" pelos gregos, mantiveram sua independência religiosa até quase o fim do período Pré-Dinástico, quando o "nomos" se tornaram províncias de dois reinos com capitais em Hieracômpolis, no Alto Egito, e Buto, no delta.
Entre os anos 5.000 e 3.000 a.C. surgiu, vagarosamente, um estado egípcio unificado. O desenvolvimento de unidades locais, cada uma sob a tutela de sua divindade, foi seguido pela formação de um reino no alto Egito, cujo poder derivava, de certa forma, do controle sobre as ricas reservas minerais no deserto entre o valo do Nilo e o Mar Vermelho.
Algumas tradições afirmam que um segundo reino complementar se desenvolveu na mesma época no Baixo Egito, estabelecido nos exuberantes terrenos de pastoreio da zona do delta.
Já em 4.000 a.C., esses povos do Nilo tinham forjado uma forma de governo. A população ao longo do rio estava dividida em nomes (do grego nomos, ou lei), em cada um dos quais os componentes eram da mesma raça, reconheciam o mesmo totem, obedeciam ao mesmo chefe , adoravam o mesmo deus e seguiam os mesmos ritos. Em todo o decurso da história egípcia esses "nomes" persistiram; seus "monarcas" tinham poder, autonomia, maior ou menor, conforme a força ou fraqueza do faraó reinante. Como todas as estruturas que se desenvolvem tendem para progressiva independência das partes, assim o surto do comércio e o aumento do preço da guerra forçaram o s "nomes" a se organizarem em dois reinos, um ao sul e outro ao norte; essa divisão provavelmente reflita o conflito entre os nativos africanos e os imigrantes asiáticos. A perigosa acentuação das diferenças étnicas e geográficas foi atendida por algum tempo, quando Menes, figura semi-legendária, reuniu "Duas Terras" sob um só governo, promulgou um novo corpo de leis como dadas pelo deus Thotyh, estabeleceu a primeira dinastia histórica, construiu uma nova capital em Mênfis, "ensinou o povo", como diz um antigo historiador, "a usar mesas e camas e... introduziu o luxo e uma extravagante maneira de vida.
Há milhares de anos, nas trevas invioláveis da cripta cavada sob a ardente pedreira do Vale dos Reis, dorme o Faraó. Em seu redor, jazem, amontoados, cofres de marfim, cadeiras entalhadas, jóias e vasos de alabastro, todo o enxoval de uma alma que se apresenta para a grande viagem de além-túmulo; um ramos de flores secas, junto à porta murada, recorda o último adeus dos vivos ao falecido soberano.
Mas, um dia, surdas pancadas de picareta vem perturbar o silêncio secular: uma luz ofuscante dardeja improvisadamente no recinto, refulgindo sobre o ouro e esmaltes. Diante dos olhos estupefatos dos intrusos, as pinturas, a tapeçaria, os papiros narram a grandeza do antigo Egito. Somente o rosto do Faraó, libertado das vendas que o protegiam, parece ocultar, sob as pálpebras cerradas, o mistério de um mundo desaparecido. Procuremos imaginar o enigmático soberano, que os arqueólogos foram retirar do sarcófago, no seu palácio real de mais de 4.000 anos atrás, circundado de cortesões envoltos em mantos de púrpura e mulheres de olhos bistrados e oblongos. Procuremos vê-lo enquanto passa por entre a multidão, alto e rígido, em sua biga, olhar perdido no vácuo. Trás na cabeça a mitra alvo-rubra, ornada da serpente retorcida, emblema de sua dignidade, e, na mão, o cetro recurvo de seus avós. Em torno dele se acotovela o povo de Tebas, aqueles artesãos, operários e mercadores, que as pinturas sepulcrais nos mostram atentos em suas tarefas e dos quais, através de tantos documentos, já conhecemos as vidas e costumes. Quatro mil anos! A mente quase se perde nessa interminável fuga pelos séculos; mas, naquela época, o Egito estava no pleno apogeu, e é preciso remontar a seis mil anos de nossa época para encontrar as origens de sua civilização. Durante este período, vinte e seis dinastias de soberanos se sucederam no trono. Homens piedosos ou cruéis, rainhas ambiciosas, literatos ou guerreiros, mas todos com aquele semblante real, com aquele olhar triste e indiferente que a hierarquia quase divina excluía das afeições e das paixões dos outros mortais. Todos realmente o estimavam, e eles próprios se consideravam descendentes dos deuses que haviam reinado no Vale do Nilo; do deserto líbio até a Síria e Anatólia, até onde as armas egípcias podia estender o império, sua palavra era lei.
Os antigos egípcios interpretavam o conceito de vida e morte num sentido muito literal, e por isso colocavam junto aos defuntos objetos de uso cotidiano e artigos de luxo e decoravam as paredes dos túmulos com cenas de colheita, caça e festas. Devido a isso, podemos ver os egípcios da mesma forma como eles se viam ou como gostariam de se ver, enquanto os objetos deixados junto aos mortos fornecem evidências diretas da sua tecnologia, artesanato e comércio. Eles acreditavam que o sepulcro seria o lar do espírito do defunto para toda a eternidade e, portanto, devia ser praticamente indestrutível e geralmente as câmaras funerárias eram de rocha, ao contrario das suas casa que não precisavam ter uma duração além da vida. Mas estes costumes não eram estendidos a todos, pois só estava disponível para quem tinha poder financeiro.
Os cemitérios do Antigo Egito, especialmente os das sucessivas capitais reais, são uns dos mais importantes e impressionantes do mundo.
De todas as civilizações, os monumentos mais duradouros são os templos e os túmulos. O Egito não faz exceção à regra. As imponentes colunas de luxo, restos do santuário de Amom, as muralhas fortificadas de Tell-el-Amarna, as criptas do Vale dos reis, as Pirâmides (os túmulos mais faustosos que os homens já construíram) são, hoje, os únicos testemunhos que restam daquela grande imponência de vida, de arte e sabedoria, que foi o império dos faraós.
Na procura da eternidade, os egípcios não poupavam esforços para conservar os corpos. Esta pratica pode ter surgido da excelente conservação dos cadáveres na areia seca do deserto e também com o uso de sal, que na época tinha preço proibitivo.
O meio de sossegar Ka e assegurar-lhe vida longa não consistia apenas no enterro do cadáver em sarcófago de pedra; também o mumificavam. e se tornaram mestre nesta arte. Heródoto nos fala da arte do embalsamador egípcio: "Primeiramente, extraiam os miolos pelas ventas, com um gancho de ferro, e o que não saía assim era tirado com infusão de drogas. Depois, com uma pedra cortante, faziam uma abertura de lado e extraiam as entranhas; e tendo limpado o abdome, lavavam-no com vinho de palmeira, e o aspergiam com estudados perfumes. Enchiam depois a cavidade com pura mirra, cassia e outras essências, e costuravam o corte; e feito isso maceravam o defunto em natro durante setenta dias; não era legal exceder desse prazo. Ao fim dos setenta dias levavam o corpo e enleavam-no em bandas de pano encerado e o empapavam de goma, que no Egito é usada em vez de cola. Em seguida punham o corpo numa caixa de madeira com a forma dum homem, fechavam-na e guardavam-na em câmara sepulcral, de pé, encostada à parede."
A pirâmide é uma expressão da vida religiosa do povo egípcio, para a qual o problema do Além tinham importância. Segundo os egípcios, o corpo, em que permanecia o espírito de vida (Ka), distinto da alma, (baj), que era representado sob forma de um pássaro ou de uma serpente devia ficar bem conservado, para permitir à alma retomar a vida sob outro aspecto. Aqui vemos que, já naquela época havia a teoria da reencarnação que, nos anos 1860 deram origem ao espiritismo.
Enquanto os faraós, para conservarem o corpo depois da morte, mandavam construir para si enormes pirâmides, os menos poderosos contentavam-se com um monumento funerário constituído de um paralelepípedo de pedra viva, a "mastaba". A superposição de alguns blocos de pedra por parte do arquiteto incumbido de construir o túmulo do faraó "Soser" deu origem à pirâmide em degraus, que apareceu em 2.700 a.C. A pirãmide em degraus, do faraó Soser, surge em Sacará, e é formada por seis mastabas superpostas. Mais tarde, o ângulo entre um degrau e outro seria preenchido e, assim, se obteriam quatro faces lisas, inclinadas, que se encontravam no vértice.
As pirâmides egípcias estendem-se desde Abu Roasch, por um percurso de cem quilômetros, até Houvara e, só no território da velha Cairo, contam-se setenta e sete. As pirâmides egípcias são as mais famosas do mundo, mas elas não são as únicas que foram erigidas na antiguidade, pois encontramos monumentos em formato piramidal na Núbia, na Abissínia, na Tailândia, na Grécia, na Etrúria e até na América e na longínqua Oceania. No México e no Peru, elas tinham função de templo; nos outros países, como o Egito, função sepulcral. Profundamente sensíveis ao problema da vida no Além, os Egípcios sentiram agudamente o dualismo da personalidade humana. Após a morte, a alma, conforme a teoria egípcia da reencarnação, desprendia-se do corpo, mas, para que lhe fosse possível retomar a vida sob outro aspecto era necessário que o corpo fosse conservado com todos os possíveis cuidados, posto ao abrigo da profanação. Cada egípcio, desde o felá até ao poderoso faraó, preparava-se,com a própria sepultura, a possibilidade de viver outras vidas. Do humilde cesto de vime, enterrado nos umbrais do deserto, ao sarcófago ricamente decorado, sepulto no sombrio silêncio da pirâmide, o Egito percorreu, na arte do mundo, um longo caminho. As casas egípcias tinham, no lado externo, um assento para hóspedes, denominado mastaba (um grande bloco retangular de pedra). Este era, também, o formato dos túmulos dos ricos; um paralelepípedo de pedra viva. Uma porta abria para o lado oriental; aqui os familiares punham os alimentos, as imagens, tudo quanto recordasse aos mortos sua vida terrena e os fizessem sentir menos solitários no frio vale do silêncio.
Também o faraó Soser incumbiu o arquiteto real de construir-lhe uma grande mastaba para túmulo. Foi um dia feliz quando o construtor teve a ideia de sobrepor à primeira mastaba outras cinco, dispondo-as uma sobre a outra, de maneira a que a construção se fosse afunilando levemente. Nasceu assim a primeira pirâmide denominada, pela sua forma, de "degraus". Era o ano 2700 a.C. Seriam necessários ainda sessenta anos para que os grandes degraus fossem preenchidos e revestidos de pedra e se obtivessem, assim, quatro faces lisas, triangulares, inclinadas, encontrando-se no vértice; é a pirâmide de Danshur. Mais tarde, Queops , filho de Senfore, encomendaria a maior pirâmide, a maravilha da pedra erigida em Gizé, que ainda hoje, na época dos arranha-céus, do cimento armado, das realizações quase impossíveis, espanta-nos pela sua extraordinária magnificência.
As Pirâmides de Gizé, localizadas na beira do deserto e no oeste do Nilo, são um dos monumentos mais famosos do mundo. Como todas as pirâmides de Gisé, faz parte de um importante complexo que corresponde um templo do vale, uma rampa, um templo funerário e as pirâmides mais pequenas das rainhas, todo cercado de túmulos (mastabas) dos sacerdotes e pessoas do governo, uma cidade para os mortos desenhada ordenadamente. As valas aos pés das pirâmides continham botes desmontados; parte integral da vida no Nilo, sendo considerados fundamentais na vida após à morte, porque os egípcios acreditavam que o defunto rei navegaria pelo céu junto ao venerado rei sol. Apesar das complicadas medidas de segurança, como sistemas de bloqueio com pedregulho e grades de granito, todas asa pirâmides do Antigo Império foram profanadas e roubadas, possivelmente antes de 2.000 a.C.
A "Necrópole de Gizé", de base quadrada, com 230 metros em cada lado e 147 metros de altura. Três câmaras sepulcrais: a primeira abaixo do nível do solo, que foi substituída depois por uma no corpo da pirâmide, e também pela terceira e última câmara chegando-se até ali pela "Grande Galeria" de 8,5 m de altura e um comprimento de 47 m, com três portas elevadiças de granito no extremo superior. No interior da câmara sepulcral havia um sarcófago de granito vermelho, que foi encontrado vazio sem tampa. A rampa por cima de um patamar para cruzar passagem estreita, um túnel abaixo da rampa permitia a passagem sem ter que seguir por um longo desvio. As Pirâmides secundárias das rainhas, cada uma com uma pequena capela funerária no setor oriental. A pirâmide do norte pertenceu à rainha principal de Kufu, Merittefes, e tinha uma vala com um bote num dos lados. Havia mastabas para os parentes próximos que ficavam no leste da pirâmide. No setor oeste ficavam os funcionários do governo. O sepulcro da rainha Heteferes, foi talhado na rocha; foi mão de kadu, o único túmulo da realeza intacto do Antigo Império, com um sarcófago de alabastro, ricas indumentárias funerárias, incluindo móveis dourados e as vísceras sem o corpo.
A "Pirâmide de Quéfren", de base quadrada, com 216 metros de cada lado e 144 metros de altura. A câmara sepulcral continha um sarcófago retangular de granito polido que tinha acesso por duas passagens de entrada, as duas com grades de granito. O templo funerária, com um santuária onde diariamente eram colocadas oferendas de comida e bebida para os defuntos. A rampa com mais de 0,4 quilômetros, tinha as paredes interiores decoradas com relevos. O teto de placas de pedra com fendas horizontais ao meio para permitir a passagem de luz. Esta rampa coberta garantia a pureza do corpo real no seu percurso desde o templo do vale até a pirâmide. É possível que o templo do vale tenha sido usado para purificar e embalsamar o cadáver real. A esfinge gigante feita com contraforte rochoso de pedra calcária, com a forma de um leão com a cabeça humana e touca de realeza, de 73 m de comprimento e 20 m de altura. É possível que originalmente estivesse coberto de gesso pintado. Há também o tumulo de Khamerer-Nebti , a rainha principal de Quéfren. Tem noventa e uma galerias de pedra calcária revestidas com lama de gesso, possivelmente barracas para os pedreiros e trabalhadores que construíram as pirâmides. A pirâmide de Menkaure (Miquerinos), de base quadrada de 108 metros e 66 metros de altura. Câmara talhada na rocha até onde se chega por um corredor inclinado com três grades de granito, contém um santuário retangular de basalto. Por fim a pirãmide de Khamerer-Nebti II, a rainha de Menkaure.
Tebas - Vida urbana no Egito
O povoado de Deir el-Medina em Tebas ocidental foi fundado por volta de 1500 A.C. para alojar os trabalhadores empregados empregados na construção dos sepulcros reis. O povoado estava cercado por uma sólida parede de tijolos de barro, que foi aumentando à medida que a população crescia. A maior quantidade de habitantes foi atingida no século XIII a.C. quando existiam aproximadamente setenta casas no recinto e de quarenta a cinquenta casas fora dele.As moradias eram feitas de tijolos de barro, algumas vezes sobre fundação de pedra, em geral, compridas e estreitas. Tipicamente o primeiro cômodo da casa ficava de frente para a rua e incluía um altar de tijolos ou uma cama que servia para dar à luz. Este espaço ficava num canto , aonde se chegava através de degraus. O segundo cômodo, o principal, era mais alto, nas suas paredes existiam um nicho e uma porta falsa, que serviam de altar. Também existia uma poltrona fixada na parede, sendo que por baixo havia alguns degraus que levavam até a adega. Por trás deste cômodo existia de um lado um dormitório, e do outro um corredor/sala de trabalho, uma escada que levava ao teto e um pátio coberto usado como cozinha, com um recipiente para guardar cereais e um forno para fazer pão. Por trás da casa havia quase sempre uma adega para guardar potes de barro. Em certos casos, as paredes e os pisos dos cômodos principais estavam revestidos com gesso e as paredes, decoradas com murais. Foram encontrados, neste povoado e nos seus arredores, milhares de documentos informais escritos, feitos em ostraca (fragmentos de pedra calcária e restos de cerâmica). Alguns desses documentos tinham sido jogados numa espécie de depósito de lixo, ao norte, fora da cidade. Os documentos mais importantes eram escritos em papiro, fácil de guardar e posteriormente localizar e, se ainda fosse necessário, podia-se apagar e usar novamente. A grande quantidade de ostraca demonstra que o nível de alfabetização deste povo era bastante grande, porém, tratava-se de uma comunidade de artesãos qualificados. Assim sendo, é bem provável que somente uma pequena minoria da população como um todo sabia realmente ler e escrever.
Foram encontrados baú de linho, cadeira e "banco-vaso" sanitário, pertencente ao túmulo de Kha, chefe dos trabalhadores em Deir el-Medina, aproximadamente em 1440 a.C.
Na história grega de Heródoto, lemos que aquilo que parecia uma empresa gigante foi, ao invés, uma fadiga de escravos. O edifício está situado sobre o planalto; não havendo ali espaço suficiente, foi necessário aplainar o terreno, para nele se colocar sua grande base, mais de três vezes maior do que aquela da basílica de São Pedro. De um lado, nivelava-se o terreno, do outro, com uma grande terraplenagem, enchia-se o vazio. O material procedia da longínqua Troia, era cavado na rocha viva e transportado, em chatas pelo Nilo. Para arrastar os pesados blocos sobre o móvel terreno de areia, foi preciso abrir uma estrada, da qual ainda hoje permanecem vestígios não de todo cancelados. Cem mil escravos, arrancados dos seus trabalhos nos campos, fustigados pelo látego dos vigilantes, avançando em filas ininterruptas, revezando-se cada três meses, empregaram vinte longos anos de trabalho e canseiras para levar a termo a grandiosa obra. Dois milhões e trezentos mil blocos de pedra, de peso de duas toneladas e meia cada um, foram transportados à força unicamente de braços. O processo de construção é bastante engenhoso. Cavados na areia, os alicerces do edifício, e postos a aos quatro lados os blocos de altura de um homem, em redor da Pirâmide elevava-se uma terraplenagem de areia, comprimida, levemente inclinada, para que os blocos ali pudessem ser arrastados. A seguir, o plano inclinado era aos poucos alongado, sempre mais fino, para preencher um desnível de 146 metros. Quando os últimos quatro grandes blocos se reuniam no vértice, a Pirâmide estava pronta. Restava agora a última tarefa; abater a agora já inútil terraplenagem que ocupava a vista da silhueta e eis concluída a obra gigantesca. Como conceber um edifício da mais monumental estabilidade, firme em seus alicerces de granito, nas móveis areias do deserto? As pirâmides conhecem toda a história do mundo; têm mais de três mil anos, e existirão ainda por muitos séculos. A de Queops tem apenas o vértice quebrado e o revestimento de bela pedra de Mocatam fendido em muitas partes, mas o calcário subjacente é mais resistente do que o mármore. Mas onde estão os reis que as planejaram e mandaram construir com o sangue dos escravos e imposições aos povos derrotados? Onde está a múmia do faraó Queops, que dizem ter vendido a própria filha para poder aguentar com as despesas necessárias à construção de sua pirâmide?
Fora de qualquer condição artística, observando-se o fenômeno apenas sob o aspecto humano, a pirâmide surge como o fruto de uma grande ambição individual. Quando o povo egípcio adquiriu consciência de sua força, começou a alimentar um ódio contra a segurança quase atrevida das pirâmides, e um ímpeto de revolta animou-lhe a fúria devastadora. A inviolabilidade das pirâmides foi quebrada, ultrajado seu silêncio, perturbado o repouso de seus habitantes. A obra de devastação, iniciada como uma revolta de povos, continuou; torna-se um latrocínio sistemático. Se não se construíram mais pirâmides, não se enfraquece, todavia, o interesse que elas continuam despertando em todo o mundo.
Ainda hoje os mistérios das pirâmides estão bem longe de serem revelados. Infinitas crendices e superstições desenvolveram-se. Como as câmaras dos sepulcros reais ocultavam imensas riquezas (o soberano tinha necessidade de ornamentá-las com lápis-lazúlis, com pedras preciosas, com reluzentes cristais; mesmo morto, era sempre o rei) pensou-se que as pirâmides fossem esconderijos de tesouros. Muitos acreditavam que fossem locais de cultos secretos, ou observatórios astronômicos. Mais difusa era a crença de que as pirâmides custodiassem, nas escuras profundezas de suas celas, enormes reservas de trigo; depósitos de alimentos na imensa esterilidade do deserto.
Quando principiou a obra de devastação? Ao tempo do faraó Osorkon I, em 900 a.C., quando alguns sepulcros foram adaptados para túmulos de sacerdotisas. Mil anos mais tarde, o Vale dos Reis povoa-se com os primeiros anacoretas cristãos; ao esplendor e ao fausto real, se substitui uma esquálida pobreza, a rica mansão do Faraó torna-se a cela de um eremita. Estrabão, já em seu tempo, mencionava quarenta túmulos destruídos e vazios; em 1743, o viajante Richard Pococke, sob a orientação de um xeque, pôde examinar pessoalmente catorze; agora, já se conhecem mais de setenta. Hoje, conhecemos-lhes os nomes, graças, sobretudo, a uma relação que o sacerdote Manetone com pilou, trezentos anos a.C. Lemos suas histórias e suas obras naquela maravilhosa escrita hieroglífica, que o gênio de um Francês, Jean François Champollion (1790 x 1832) conseguiu decifrar, depois de vinte séculos.
Desde o distante dia de julho de 1798, quando Napoleão Bonaparte, com seu exército, chegou diante das Pirâmides, depois que Dedon e Champollion conseguiram decifrar alguns escritos egípcios, o interesse dos estudiosos do mundo todo concentrou-se no antigo Egitop e no grande sepulcro do vale dos reis.
As expedições sucederam-se, em nome da ciência. Como prêmio a tanto labor, ao trabalho enervante, conduzido sob os raios solares, o arqueólogo não visava apenas as tapeçarias, as sagradas insígnias e as jóias, mas a múmia de um faraó, joia muito mais preciosa, e o testemunho da mais secreta arte egípcia e de seu culto pelos mortos. Muito tempo passará ainda antes que uma múmia surja à luz do sol! Certamente, grandes terão sido o espanto e as desilusões do arqueólogo inglês Petrie quando, após haver derrubado o último trecho do muro que lhe vedava o acesso à câmara sepulcral da Pirâmide de Amenemat III, encontrou o sarcófago vazio. Onde repousarão o benévolo Faraó e o poderoso Queops? Também deste último, o sarcófago, duas vezes a altura de um homem, e que deve ter sido murado na pedra, foi encontrado vazio. E assim muitas celas, onde deveriam repousar, no eterno sono, os sagrados touros Ápis foram encontradas sem conteúdo.
O apogeu das descobertas arqueológicas foi atingido quando se verificou o encontro do túmulo do Faraó Tutancâmon. Doze invernos durou o empreendimento; doze anos que pareciam infrutíferos. Mas, em 27 de novembro de 1922, o mistério do mais rico túmulo egípcio foi desvendado. Surgiram vasos de alabastro, cofres preciosos, um trono de ouro; estranhas cabeças de animais estendiam pelas paredes suas sombras retorcidas, de um dos cofres erguia-se, vibrante, uma serpente de ouro. A disposição deste túmulo era diferente das demais até então encontradas; os objetos tinham uma importância maior do que a que poderia ter seu valor material. As tapeçarias, baixelas, objetos de uso comum, artigos de luxo, eram documentos de uma civilização; cada um deles representava, para um arqueólogo, uma recompensa valiosíssima. Mas estes tesouros não bastavam a Carter. Ele trabalhou ainda mais dois anos, diante da Pirâmide. Um dia, um dos escavadores, espiando por baixo de um dos esquifes do vestíbulo, descobriu um pequeno orifício. A pesquisa tornou-se, então, cruciante.
A tarefa era longa e difícil, porque ali havia perigo de que os blocos da abóboda se desprendessem, matando, assim, quem se encontrasse debaixo da porta. feita a primeira abertura, ofereceu-se aos olhos dos descobridores uma visão que ultrapassava qualquer expectativa. As pedras removidas ocultavam uma grande parede de ouro. "Então -escreve Carter - como se através de um conduto elétrico, pudemos sentir o frêmito de excitação dos espectadores que aguardavam atrás da linha de limite".
Na câmara sepulcral, brilhantes painéis de maiólica azul, recobertos de sinais mágicos, havia um escrínio de colossais proporções. Até então, os ladrões tinham sempre precedido os arqueólogos, mas desta vez o túmulo estava intacto.
Sob a máscara do soberano adolescente, apareceu, entre os tecidos de linho removidos por mãos febris, o rei. Sobre sua cabeça, a comovedora coroa de flores, oferecida pela jovem viúva, patético elemento humano entre a real magnificência do ouro.
Numa outra descoberta teve a repercussão deste . A atenção do mundo inteiro foi concentrada no Egito. Corresponderia à verdade a tremenda maldição do faraó? A morte feria deveras aqueles que tinham ousado penetrar no sagrado recinto? Fora somente uma desgraçada série de circunstâncias a morte trágica e repentina de quantos participaram da expedição? E por que então, graças a que privilégio somente Cartes se salvara? Acerca dessas mortes, paira ainda impenetrável mistério.
Hoje, um bonde elétrico conduz os visitantes aos pés da Grande Pirâmide. Barulhentos condutores de camelos e mulas, sempre em busca de uma gorjeta, substituem as lamentações fúnebres e os piedosos cortejos aos túmulos. Mas, à noite, quando todo o deserto está tranquilo, quando tudo em redor é silêncio, as Pirâmides, não mais perturbadas por vozes, custodiam, ainda por uma série ininterrupta de séculos, a intacta civilização milenar do Egito.
Contudo, há três mil anos, o Nilo corria entre regiões verdíssimas, represado e explorado por uma rede magnífica de diques e canais, que regulavam o fluxo das enchentes periódicas, de que dependia a prosperidade do reino. Dezessete mil cidades e vilas floresciam entre o Sudão e o Delta e os palácios das quatro capitais: Thil, Mênfis, tebas, Sais, eram únicos no mundo.
Agora, a areia estendeu suas dunas sobre as ruas e palácios, onde outrora brilhavam as couraças dos guerreiros ou ressoava o estrepitar das bigas. Curvo em sua milenária tarefa, o "felá", descendente daqueles mesmos escravos que, em legiões, morreram para a glória dos Faraós, cava a terra com o arado id~entico aos de seus avós.
Sustentada pela cheia anual do Nilo, que trazia água e um rico depósito de limo que alimenta, a agricultura se desenvolveu no vale e comunidades cresceram e prosperaram.
Por mais de 3.000 anos a civilização do Egito vem fascinando o mundo com suas belezas arquitetônicas, artísticas e costumes únicos no seu gênero. Desde os antigos gregos tem sido associados a sedutoras noções de sabedoria esotérica e de poder.
A fascinação que o Egito exerceu no ocidente culminou com a campanha de Napoleão Bonaparte no Nilo, em 1798. Esta teve como consequência um grande ressurgimento do interesse pelo Egito, anunciando o nascimento da "egiptologia". Quando o corso partiu para a expedição do Egito, levou consigo um grupo de engenheiros e desenhistas para o levantamento topográfico do terreno, e também alguns estudiosos absolutamente interessados na história antiga. Foram estes homens os primeiros reveladores dos templos de Luxos e Carnac; e a exaustiva "descrição do Egito (1809 x 1813) que prepararam para a Academia Francesa constitui a primeira pedra dos estudos sistemáticos daquela esquecida civilização.
Ainda nos tempos dos gregos e romanos, o Egito era estudado como um assunto fascinante. De lá foram importados objeto, múmias e estátuas egípcias, e os romanos imitaram seus monumentos, tais como o obelisco e a pirâmide, que alimentaram o interesse dos eruditos renascentistas por esta misteriosa civilização.
Em 3.100 a.C., Menés, rei do alto Egito, subjugou o Baixo Egito, uniu as duas terras sob uma coroa e construiu nova capital, mais tarde chamada Mênfis, próxima à junção dos dois antigos reinos. Nesta época , foi inventada a escrita hieroglifica e muitas convenções utilizadas na arte egípcia por 3.000 anos. A 1ª e 2ª Dinastias (3100 x 2685 a.C.) constituem o período de formação do Antigo Egito, com progresso em obras de cantaria, metalurgia do cobre e habilidades técnicas diversas. As condições de vida melhoraram e a população cresceu.
No começo do Reinado Antigo (3ª e 5ª DSinastias, 2685 x 2180 a.C.), o imenso poder e prestígio da monarquia egípcia se refletiu na construção da primeira pirâmide. Foi a pirâmide dos degraus do rei Zoser, em Saqqara, o primeiro monumento no Egito construído inteiramente em pedra trabalhada. As pirâmides escalonadas foram substituídas no início da 4ª Dinastia( 2613 x 2494 a.C.) pelas pirâmides de face lisa, cujos exemplos mais extraordinários são as pirâmides de Queops e seu filho Quéfrem, em Gisé.
O Nilo, cercado de terra fértil e de deserto, foi a artéria principal do comércio e das comunicações no Egito Antigo. As principais cidades estavam localizadas às suas margens ou muito próximas delas. Por serem construídas com tijolos de barro, foram destruídas pela sobre-edificação posterior, restando por isso poucos vestígios significativos.
A base da sociedade egípcia , os camponeses agricultores, sustentavam aos escribas, sacerdotes e artesãos. A enchente do Nilo, que percorre uma faixa desértica, trazia a água e depositava o lodo fértil, o qual permitia o cultivo dentro do vale do rio. O trigo e a cevada eram os cultivos principais, porém também produziam leguminosas, tais como feijão, lentilhas e grão-de-bico; cebolas e frutas, tais como uva, figos e tâmaras. A secura do clima egípcio conservou restos das comidas deixadas nos túmulos como alimentação para os mortos: carne de cordeiro assada, tigelas contendo peixe seco, pão cozido. Conservou também tecidos e numerosos restos mortais mumificados envoltos em bandagens de linho.
A moral egípcia também tinha sua peculiaridade. O governo dos faraós assemelhava-se ao de Napoleão, mesmo no incesto. Frequentemente o rei desposava a própria irmã, e ocasionalmente a filha, para preservar a pureza do sangue real. Mas é difícil dizer se isto enfraquecia a raça. Certo é que o Egito não pensava assim depois de vários milênios de experiência. As palavras irmão e irmã, na poética egípcia, tinham o sentido de amante e amada. Além de suas irmãs, o faraó mantinha um abundante harém, recrutado não só entre as mulheres cativas, como também entre as filhas da nobreza, além daqueles que lhe mandavam de presente; Amenhotep II recebeu do príncipe de Naharina 300 virgens escolhidas. Os nobres procuravam imitar o faraó, adaptando a moral aos seus recursos. A instituição do casamento no sistema cristão só surgiu depois do domínio romano.
No último período do Reinado Antigo, reis e altos funcionários adornavam templos e túmulos com estruturas em relevo, jamais superadas em qualidade.
Por volta de 2400 a.C., o poder real entra em declínio e o tamanho das piramides diminui. Antes de 2400 a.C., governadores de províncias eram enterrados em cemitérios da corte ao lado das pirâmides dos senhores reais. À| medida que o poder real decrescia, os governadores tratavam suas províncias como reinos secundários e, nos centros provincianos do vale do Nilo, passaram a ser enterrados em impressionantes túmulos cortados na rocha.
O golpe final dado à monarquia veio do próprio Nilo. As enchentes anuais passaram a ser irregulares e os campos margeando o rio irrigados e fertilizados pelas inundações, variavam de tamanho. Por volta de 2.150 a.C., um per´[iodo de inundações fracas trouxe 50 anos de fome e por fim desfez o Reinado Antigo. Mas os valores da civilização egípcia eram duradouras e estavam enraizadas. Em um século, o poder centralizado foi restaurado e começou uma nova era de estabilidade e prosperidade.
No período instável que se seguiu à 12ª Dinastia (1785 x 1570 a. C.), a sucessão de reis efêmeros não conseguiu evitar nova infiltração de imigrantes asiáticos m no nordeste do delta. Desta vez vieram em grande número. Conhecidos como hicsos, por mais de um século subjugaram os habitantes egípcios do delta e do vale do Nilo até Cusae. Mais ao sul, os príncipes de Tebas governaram como vassalos dos reis hicsos, até que Kamose, em 1.567 ma.C., conseguiu recuperar quase todo o território ocupado.
Há uma visão tradicional de que o governo hicso era duro e opressivo. No entanto, hoje não há mais dúvidas de que os hicsos contribuíram para que os governantes egípcios, mais tarde, incentivasse e apoiassem a defesa territorial contra a dominação estrangeira e se lançassem à conquista de terras no oeste da Ásia. Isso só foi possível graças aos carros puxados por cavalos e ao arco composto, introduzidos no Egito pelos hicsos.
O controle da Síria e Palestina, talvez uma tentativa de proteger o valo do Nilo de futuras invasões, colocou o Egito em conflito direto dom os hititas da Ásia Menor e os mitânios do centro-norte da Síria. No século 14 a.C., os hititas derrotaram os mitânios, que deixaram de ser o centro das lutas pela conquista do Levante. Hititas e egípcios passaram ao confronto direto, mas depois do empate na batalha em Kadesh, em 1279 a.C., concordaram em respeitar suas respectivas áreas de influência.
No século 15 a.C., surgiu o interesse nos depósitos de ouro na Núbia e ois egípcios estenderam seu controle para o sul, construindo fortes ao longo do Nilo. Nem mesmo o ouro foi capaz de garantir uma aliança dos príncipes do levante, como ilustram as placas de barro achadas na capital el-Amarna.
Os faraós egípcios canalizaram os lucros do império para programas de construção de edifícios, como o chamado "Colosso de Memnon" (figuras sentadas em pedra), construído por Amenhotep III, em Tebas (1391 x 1353 a.C.). Mênfis era a capital administrativa, mas o poder de Tebas, como centro religioso do Egito, crescia.
A reconstituição do Egito é um dos mais brilhantes capítulos da arqueologia. A Idade Média só começou no Egito como colônia romana cristã; o Renascimento admitia que a civilização tinha começado na Grécia; mesmo o Século das Luzes, embora inteligentemente se preocupasse com a Índia e a China, nada sabia do Egito além das Pirâmides. A egiptologia foi um sub-produto do imperialismo napoleônico.
Akhenaton tentou modernizar o pensamento religioso, mas dois anos depois da sua morte, seu genro Tutancamon, um favorito dos padres, elevou-se ao trono. Mudou o nome de Tutancamon que seu sogro lhe dera, restaurou Tebas como capital e o poder do sacerdócio, e anunciou ao povo jubiloso a volta dos velhos deuses. As palavra Aton e Ikhnaton roram raspadas dos monumentos; os padres proibiam que os fiéis as pronunciassem; o povo foi orientado a referir-se a Ikhnaton como "O Grande Criminoso". Tudo voltou a ser como dantes.
Por volta de 2.400 anos a.C. o poder da realeza estava em decadência; isso fica evidente na diminuição do tamanho das pirâmides reais. O aumento do poder dos governadores provinciais também se reflete nas mudanças de suas sepulturas. Antes de 2.400 a.C., os governadores eram sepultados em cemitérios da corte, ao lado das pirâmides de seus amos reais. À medida que o poder dos reis foi decaindo, os governadores, cada vez mais, tratavam suas províncias como pequenos reinos. Assim, estas autoridades eram sepultadas em impressionantes cemitérios de túmulos talhados na rocha, construídos nos centros provinciais abrangendo os dois extremos do Nilo. O golpe fatal na enfraquecida monarquia do Antigo Império foi dado pelo Nilo. As cheias anuais eram sempre irregulares, fazendo variar a zona de cultivo que era regada e fertilizada pelo Nilo. Por volta de 2.150 a.C. sobreveio um período de baixa do volume de águas do Rio Nilo, trazendo em consequência meio século de fomes desastrosas, que desintegraram a antiga ordem.
O extenso reinado de Pepi II, mais de noventa anos (2278 - 2184), significou o fim do Antigo Império. Os sucessores, que viveram pouco tempo, foram seguidos pela VII dinastia, relatada numa tradição posterior como os setenta reis que reinaram por setenta dias, que significou a completa destruição da autoridade central. No entanto, em pouco tempo começaram a competir dinastias de diversos lugares, e os governadores provinciais se autoproclamaram reis, lutando entre si pelo controle do Egito.
A vitória final foi obtida pela dinastia de Tebas, que sob Mentuhotep II conseguiu a reunificação de todo o país no ano 2.040 a.C.
Mas, além das pirâmides, é preciso lembrar que este poderoso império teve seus momentos de muitas glórias e realizações.
Com a ascensão ao poder de Amenemhet I (1991 - 1962 a.C.) voltou a estabilidade. este reinado determina o começo do Império Médio, período de renovado poder e prosperidade para o Egito. Sob Amenemhet I foi construída uma nova capital administrativa em Ittauy (El-Lisht), 28 quilômetros ao sul de Mênfis, sendo também construídas perto dali outra série de pirâmides reais. Amenemhet e seus seis sucessores, três que levaram seu nome e tr~es que foram chamados Sesostris, realizaram importantes projetos de repercussão das terras e de irrigação, especialmente na bacia do El-Fayum. Esta expedição tensa zona de pântanos, que bordeja o lado ocidental do Nilo, foi então incorporada ao sistema agrícola do rio mediante uma série de açudes e canais. isso foi realizado, provavelmente, como um esforço para evitar que voltassem a ocorrer asa fomes que assolaram a região no fim do Antigo Império. Foram restabelecidas e refinadas as convenções artísticas do Egito do Antigo Império. Floresceram as artes, especialmente a escultura e as gravuras em pedra; entre os melhores exemplares que ficaram estão os relevos na capela periférica de Sesostris I em Karnak e as jóias encontradas nos túmulos das princesas nas pirâmides de Amenemhet II em Dahshur e de Sesostris II em Illahun.
A maior façanha militar dos governantes do Império Médio foi a conquista de Núbia. Este domínio começou durante o reinado de Mentuhotep II e foi completado por Sesostris III(1878 - 1841 a.C.), que consolidou o domínio no sul até a segunda catarata, construindo uma série de fortalezas, cujos restos existem até hoje.
O extenso e pacífico reinado de Amenemhet III (1844 - 1797 a.C.) foi seguido de uma decadência gradativa do poderio do Império Egípcio, até atingir o ponto mais baixo em 1674 a.C., quando os hicsos, um povo de origem palestina, apoderou-se do delta. Os hicsos dominaram o Egito por mais de um ´seculo e adotaram muitos adornos tradicionais da realeza egípcia. Introduziram Também o carro de guerra leve, de duas rodas, e o poderoso arco composto, elementos estes que lhes garantiram a supremacia. Foram novamente os príncipes de Tebas que restabeleceram um domínio unificado. O êxito com o reinado de Amósis, fundador da famosa XVIII dinastia, que obrigou nos hicsos a abandonarem Avaris, a capital do delta, empurrando-os além do Sinai até a Palestina. Atualmente, são poucos os que apoiam a tradicional forma de representar a dominação dos hicsos com sendo dura e opressiva. Porém, foi um incentivo aos egípcios para defenderem seus territórios contra outra dominação estrangeira, lançando-os à conquista das terras vizinhas na Ásia Ocidental.
A intromissão militar e política dos egípcios na Palestina e na Síria durou todo o Novo Império; ao mesmo tempo, no sul reafirmou-se o poderio do Egito sobre a Núbia. Esta expansão do império, de grandes proporções, foi uma situação nova para o Estado egípcio e contribuiu com riquezas consideráveis. Além disso, o fato de manter o império, principalmente no sudoeste da Ásia, exigia frequentemente campanhas militares e subsídios para os aliados. Mesmo assim, durante o período dos três reis guerreiros posteriores a Amósis, o Império Egípcio cresceu e prosperou. Tutmés I (1506 - 1494 a.C.) conquistou toda a Palestina e a Síria numa série impressionante de campanhas, estendendo os limites da dominação egípcia até o Eufrates pelo norte e além da quarta catarata ao sul. Estes limites jamais foram superados em toda a história do Egito. O principal adversário de Tutmés I na Síria era o reino de Mitanni, concentrado nas estepes do norte da Mesopotâmia, que conseguiu resistir à expansão egípcia e pode, inclusive, invadir territórios tomados pelo Egito, após a morte de Tutmés I. Cinquenta anos depois, Tutmés II realizou uma árdua campanha para recuperar as fronteiras estabelecidas por Tutmés I. Porém, mesmo obtendo uma importante vitória em Megido em 1457 a.C (a primeira batalha registrada na história universal) e êxito nas Cidades-estados da Síria, foi impossível para ele recuperar as principais conquistas de Tutmés I.
A expansão do império realçou o poder do Exército durante esse período. Agora o Egito contava com um exército permanente, composto tanto de soldados como de voluntários, que outorgava um meio de promoção para os homens mais humildes da sociedade, desde que demonstrassem ter condições e logravam chamar a atenção dos superiores. A coluna vertebral convencional do Exército - a infantaria - foi reforçada por uma nova invenção, o carro de guerra. Os egípcios criarem verdadeiras fábricas de carros de guerra e de arcos e flechas, que eram produzidos em grande quantidade.
Os carros eram excepcionalmente leves, basicamente de madeira, porém reforçados com metal e couro. Eram dirigidos por dois soldados: o cocheiro e um guerreiro armado. Estes carros eficazes eram usados em ataques a grande velocidade após ter rompido as fileiras do inimigo.
A extensão do domínio do Egito pode ser determinada ao se examinar as cidades mencionadas nas tábuas de argila encontradas no El-Amama. Os 150 documentos contém, principalmente, cartas de príncipes palestinos para o faraó, afirmando sua lealdade e suplicando sua assistência.
Eram necessárias frequentes demonstrações de força para manter o império asiático e atuar rapidamente para resistir às ameaças de separação. A ascensão ao poder de Amenófis II (1403 - 1364 a.C.) define o começo da decadência do poder egípcio na Síria e na Palestina e, por outro lado, uma concentração nos assuntos internos. A visão mais clara das condições da Palestina nesse período vem do reinado posterior de Akhenaton, conhecido como o faraó herege (1364 - 1347 a.C.). Isto é conhecido, principalmente, pelas tábuas de argila de El-Amarna, uma coleção de 150 peças encontradas na nova capital egípcia construída por Akhenaton, em El-Amarna, no Médio Egito. Os documentos que fazem parte dos arquivos do Estado do Egito refletem uma imagem gráfica da diplomacia no Oriente Médio da época e registram a turbulenta situação na Palestina. São principalmente cartas de príncipes palestinos dirigidas ao faraó, confirmando sua lealdade, acusando vizinhos e solicitando subsídios e assistência. Os efgípcios mantinham vários centros administrativos no Levante, governados por comissários que participam ativamente nos assuntos das Cidades-Estados; porém, frequentemente, as instruções eram dadas pelo próprio faraó. As cidades mencionadas nas cartas tornam possível determinar a extensão do território sob o domínio egípcio, que nessa época estava ameaçado pelas ambições expansionistas de um ovo e poderoso inimigo do norte, os hititas. A luta entre o Egito e os hititas pelo controle do Levante chegou ao ponto máximo no século XIII a.C., durante o reinado de Ramsés II.
A expansão do Novo Império tinha como objetivo conquistar o dos vastos recursos em ouro da Nút'a e apoderar-se do lucrativo comércio exterior com a Síria e Palestina.
O antigo Egito atingiu seu máximo poderio, prosperidade e influência durante o Novo Império; vários dos seus monumentos importantes e famosos pertencem a esse período. os colossos de Memnon, que são estátuas gigantes sentadas que se elevam a mais de 21 metros acima do nível da área de inundação, em Tebas, foram originariamente parte do templo funerário de Amenófis II. O imenso complexo do templo em Karnak, com seu complemento menor em Luxor, também pertence, principalmente, a esse período. Floresceu o artesanato, como ficou demonstrado com os fantásticos descobrimentos no sepulcro de Tutancâmon ou, de forma mais prosaica, com os móveis encontrados nos túmulos dos trabalhadores em Deir el-Medina.
As cenas esculpidas e pintadas nos túmulos dos nobres e dos funcionários menores em tebas fornecem uma visão mais detalhada do cotidiano na época imperial do Egito.
O extenso e próspero reinado de Amenófis II foi seguido pela reforma religiosa do seu filho Amenófis IV. Inspirado pelo seu fervor religioso, Amenófis IV mudou seu nome para Akenaton e implantou a crença monoteísta da adoração do sol. No quinto ano do seu reinado abandonou Tebas e transferiu-se para uma nova capital construída especialmente no El-Amarna. Fechou todos os templos dos outros deuses em todo o Egito, proibiu seus cultos e requisitou as propriedades. Ao mesmo tempo, desenvolvia-se um novo e característico estilo artístico. El-Amarna, construída como grande cidade, foi abandonada poucos anos depois da morte de Akenaton, e é uma das poucas cidades egípcias que hoje se pode reconstruir com detalhe. Trata-se provavelmente de uma cidade pouco representativa, já que não foi habitada suficientemente para crescer e desenvolver-se, porém, os túmulos mais próximos são ricos em relevos e pinturas da cidade no seu apogeu.
Pouco tempo duraram estes acontecimentos extraordinários. Alguns anos depois da morte de Akenaton, em 1347 a.C., seu sepulcro foi profanado e a corte voltou para Tebas. Seu jovem sucessor restaurou imediatamente os antigos cultos, dando importância pessoal ao de Amon, mudando seu nome de Tutancaton para o de Tutancâmon. O seu reinado durou apenas dez anos e morreu repentinamente em circunstâncias misteriosas, o que possivelmente explicaria porque seu sepulcro, apesar de sua riqueza em tesouros, não se destacava, escapando assim do assalto dos ladrões de túmulos. Qualquer que tenha sido a razão, o resultado foi a descoberta mais completa e jamais realizada de um sepulcro egípcio.
A recuperação das riquezas do Egito, no entanto, pertence à dinastia seguinte, a XIX. Durante o reinado de Seti I ((1303 - 1290 a.C.) e Ramsés II (1290 - 1224 a. C) foi recuperado grande parte do território perdido, até Kadesh, no Rio Orontes. Foi em Kadesh que teve lugar a demonstração definitiva de poder entre egípcios e hititas. Os anais egípcios nos permitem reconstruir a grande batalha com todos os detalhes.
Ramsés II não conseguiu apoderar-se de Kadesh e a ação acabou numa trégua. O tratado de paz foi encontrado tanto nos arquivos reais em Bogazkoy, Turquia, como em hieróglifos nas paredes do templo de Karnak. este acordo foi reforçado pelos matrimônios entre Ramsés II e princesas hititas.
Após a morte de Ramsés II, o poder egípcio (e hitita) foi decaindo constantemente e os dois reis guerreiros seguintes, Mineptah (1224 - 1204 a.C.) e Ramsés III (1184 - 1153 a.C.), preocuparam-se em defender o Egito dos ataques estrangeiros. Estes vinham dos líbios do deserto ocidental e dos povos do mar, sendo estes últimos um exército aliado de invasores, possivelmente do Mediterrâneo oriental e central. Porém, a situação interna do Egito continuava decaindo, e os assírios estabelecidos na Mesopotâmia acabaram por abortar todas as tentativas egípcias de manter o poder ao leste do Sinai. Houve uma rápida inflação econômica e descontentamento social. No transcurso do seculo XII a.C., o preço dos cereais subiu 24 vezes e, em 1153 a.C., revoltaram-se inclusive os privilegiados artesãos de Deir el-Medina, que trabalhavam exclusivamente nos sepulcros reais.
Embora o Egito houvesse sobrevivido a essa dupla investida da fome, ataques estrangeiros e agitação interna, esta crise marcou o fim do período mais grandioso do antigo Estado egípcio. Em 1069 a.C. o Novo Império chegou ao seu final e a autoridade central fragmentou-se. Na parte norte governava uma dinastia que se estabeleceu em Tanis, enquanto o sul estava controlado pelo sumo sacerdote de Amon em Tebas, o qual passou a ser efetivamente um Estado separado. A fragilidade política prontamente deu lugar à dominação estrangeira, primeiro dos reis líbios da XXII dinastia (945 - 715 a.C.) e logo os etíopes da Núbia(XXV dinastia, 751 - 656 a.C.). Estes reinados deram estabilidade econômica e maior prosperidade. Contudo, o Egito encontrava-se diretamente ameaçado pela Assíria, que o atacou em 671 a.C., obrigando-lhe a pagar tributos. A resistência do Egito frente a dominação assíria foi a causa de uma terrível campanha repressiva de Assurbanípal, que saqueou e arrasou todo o país.
Dois períodos de governos de reis nativos (664 -525 e 404 -m 341 a.C.) foram interrompidos pela invasão dos persas aquemênidas; primeiro, e brutalmente, por Cambises (525 - 522 a.C.), em seguida por Dario I. este rei completou um canal de "Suez"que ligava o Nilo com o Mar Vermelho, fez construir templos e Introduziu o camelo no Egito. Em 332 a.C., Alexandre Magno conquistou o Egito, que passou a fazer parte do mundo helenístico. Com a morte de Alexandre, seu vasto império foi dividido entre seus belicosos generais. No próspero Egito, o habilidoso soldado-historiador Ptolomeu Soter (salvador)estabeleceu outra dinastia. A capital agora estava em Alexandria, fundada por Alexandre no litoral do Mediterrâneo, cidade cujo pharos ou farol e a enorme biblioteca a transformaram numa maravilha da Antiguidade. Ptolomeu estendeu seus interesses até a Palestina, onde entrou em conflito com os sucessores rivais de Alexandre, o Império Selêucida e os reis antigônidas da Macedônia.
Nos meados do terceiro século a.C., tinha-se conseguido um equilíbrio político e militar sustentável, com o Egito de Ptolomeu fazendo parte essencial do mundo helenístico, e o Estado comercial chave, tendo ligado o extremo oriente do mediterrâneo com os ricos Estados do sul da Arábia. este sistema comercial estendeu-se além do Oceano Índico.
Somente em meados do primeiro século a.C.a expansão romana voltou a alterar o equilíbrio do poder no Egito. No entanto, quando o Império Selêucida ia ser efetivamente eliminado pelas forças expedicionárias do general romano Pompeu em 64 a.C., a tentativa de transferir o poder no Egito para mãos romanas foi diretamente rejeitado pelo Senado em 88 a.C. Somente após a derrota de Cleópatra na batalha naval de Ácio em 31 a.C., Roma conseguiu apoderar-se de fato e legalmente do Egito.
Mesmo com todas as dificuldades, a cultura egípcia prosseguiu seu desenvolvimento interno. Floresceram as artes e continuou a construção de monumentos, inclusive sob a dominação estrangeira, sem mudanças fundamentais. Pode-se observar a mesma continuidade na religião e em muitos aspectos da sociedade. Contudo, a cultura egípcia tradicional acabou recebendo um golpe fatal com o começo do cristianismo e com a integração do Egito ao Oriente bizantino. A cultura egípcia tinha ficado essencialmente inalterada por mais de 3 mil anos, tato revelador das qualidades duradouras da civilização egípcia.
O que é importante salientar é que durante 700 anos, até tornar-se uma província do Império Romano em 30 a.C., o Egito foi governado por vários faraós, inclusive Ramsés II, e depois de sua morte o líder de um grupo de colonizadores líbios no vale do rio Nilo chegou a subir ao trono como fundador de uma dinastia de nove reis líbios (22ª Dinastia, 935 x 730 a.C.).
A Grande História nos conecta com uma realidade. Por meio dos fenícios, dos sírios, dos judeus, dos cretenses, dos gregos e dos romanos, a civilização do Egito entrou como legado para o patrimônio cultural da espécie humana. O que o Egito fez na aurora da civilização influenciou todas as nações e todas as eras. "É mesmo possível" , diz Faure, "que o Egito, por meio da solidariedade, da unidade, da disciplinada variedade dos seus produtos artísticos e da enorme duração do poder do seu esforço, ofereça o espetáculo da maior civilização que apareceu sobre a terra. Como em tudo neste mundo, também a grandeza do Egito teve fim. Dela resta somente, humilde e eterno protagonista, o homem.
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