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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

INÍCIO DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO E CULTURA NA CHINA

DINASTIA HAN 


               O Império Han progrediu rapidamente. A tradição burocrática desenvolvida durante o período dos estados guerreiros deu origem a um detalhado registro administrativo, sendo que provavelmente a China foi o primeiro estado que realizou um censo exato de seus habitantes. As cifras mais antigas, por volta dos anos 1 e 2 de nossa era forneceram um total de 12,4 milhões de famílias ou 57,5 milhões de pessoas. A capital Han em Ch'ang-an parecia uma grande corte imperial, e não uma cidade, onde dois terços do espaço estavam destinados a complexos palacetes. Além disso, existiam áreas residenciais e dois mercados, enquanto fora das muralhas havia parques, terrenos para a caça e mais moradias. No começo da era cristã , o império Han igualou-se a Roma em tamanho, riqueza e sofisticação.  A indústria, o artesanato e a agricultura mecanizada floresceram. Uma das indústrias mais importantes  foi a siderúrgica, sobre a qual o Estado manteve monopólio. Este monopólio serviu tanto de fonte de recursos para o governo central como meio de controle sobre a indústria das armas. Existiam 49 fundições estatais montadas com enormes fornos construídos com tijolos refratários. Foram desenvolvidas novas técnicas para atingir maiores temperaturas de fusão, melhorando a qualidade e a resistência dos produtos. Dessa forma foi possível fabricar armas mais resistentes e uma maior variedade de objetos domésticos manufaturados. A agricultura foi beneficiada com a melhoria da grade de arado e introdução de semeadora. Para a irrigação empregaram sequências de baldes operados por dedais, ou em certos casos rodas de maior tamanho movidas pela ação da água. Também foram construídos açudes e canais para a irrigação dos cultivos, evitando enchentes prejudiciais. Um canal tinha 125 quilômetros de comprimento, ligando o Rio Amarelo ao Ch'ang-an. Nele eram transportados os grãos à capital para a alimentação da população urbana. 
                 Neste período, o trabalho em seda e laca atingiu um nível de qualidade técnica jamais conseguido anteriormente. A seda, produto importante tanto para o consumo interno como para exportação, foi beneficiada pela criação de uma máquina de fiar mais sofisticada, a fiadora policromática, que permitia manufaturar tecidos de várias cores. Entretanto, lamentavelmente, nenhuma dessas máquinas sobreviveu depois do período Han, as descobertas de tecidos indicam que essa técnica foi aplicada nesta dinastia. Com relação aos trabalhos em laca, a otimização dos produtos foi conseguida graças às mudanças na organização, e não devido aos avanços técnicos. A divisão e a especialização do trabalho foram o elemento chave. As vasilhas laqueadas tinham uma inscrição indicando o nome dos seus fabricantes que geralmente eram em número de até oito pessoas. Também era registrado o nome do guarda do administrador, do assistente e do empregado principal da fábrica. O conjunto todo lembra as mudanças na organização do sistema de fabricação introduzido durante a Revolução Industrial. Alguns dos exemplares mais finos de vasilhas laqueadas são encontrados nos faustosos túmulos, como os de Mawangdui. 
                No ano 960, o general Chao K'uang-yn  unificou o norte da China, dividido até então entre dez reinos, e fundou a dinastia Sung. Sob essa dinastia, os políticos começaram a oranizaram-se em partidos e a população teve acesso às primeira impressões de papel-moeda e livros filosófico-religiosos. 
               Enquanto o sul permanecia habitado por diferentes tribos bárbaras, que não seguiam a tradição chinesa. Mas no ano de 1122 uma dessas tribos, os Jurchens, conquistou Pequim, obrigando a dinastia Sung a deslocar-ser para outra capital. 
             Tal estado de desorganização interna tornou o império vulnerável às ambições expansionistas de seus vizinhos mongóis - que eram, inicialmente, pastores e caçadores da Ásia Central - que desde fins do século XII, vinham demonstrando suas qualidades de exímios guerreiros e conquistadores. 
              Liderados por Gengis Khan, as tribos mongólicas expandiram-se pelo norte da China em direção à Coreia. Mais tarde , consolidaram também seu domínio sobre o mar Negro. O sucessor de Gengis Khan, seu neto Kublai Khan, foi ainda mais longe, conseguindo todo o Império Chinês e chegando com suas tropas até o rio Danúbio, na Europa. 
             Na China, Kublai Khan fundou a dinastia estrangeira dos Yuan, que perdurou de 1280 a 1368. Eles se empenharam na construção e ampliação de portos, canais e estradas, ao estilo de Roma. Pequim tornou-se, então, um dos maiores centros políticos do mundo, além de concentrar as mais avançadas escolas de Matemática e Astronomia. Vale lembrar que Kublai Khan era um homem culto, erudito e sempre procurando tomar conhecimento de novos avanços sociais no mundo. Foi nessa época que o italiano Marco Polo chegou á China, abrindo caminho para outros viajantes e comerciantes da Europa.
            Os europeus passaram a importar sedas e porcelanas chinesas, além de seus conhecimentos tecnológicos, como a produção de explosivos á base de pólvora. 
             Os chineses inventaram a pólvora e a bússola, mas pouco se utilizaram das suas invenções. A pólvora apareceu na era dos imperadores T'angs, mas ficou restrita aos fogos de artifício; somente na dinastia Sung (1161 d.C,) foi empregada na guerra, sob forma de granadas de mão. Os árabes vieram a conhecer o salitre - principal elemento da pólvora - no curso de seu tráfico com a China, e deram-lhe o nome de "neve chinesa"; trouxeram para o Ocidente o segredo da pólvora, que os sarracenos puseram em uso militar; Roger Bacon, o primeiro europeu que a mencionou, deve ter adquirido esse conhecimento no seu estudo dos árabes ou por meio dum viajante da Ásia Central, De Rubriquis. Mais tarde essa grande invenção que acabou mudando a forma de guerrear e, consequentemente o mundo, foi de fundamental importância para o chineses na expulsão dos mongóis.
                    A bússola é de muito maior antiguidade. A crermos nos historiadores chineses, foi inventada pelo duque de Chou, no reinado do Imperador Chen Wang (115 x 1078 a.C.), para guiar certos embaixadores estrangeiros de retorno às suas terras; o duque, dizem-nos, presenteou a embaixada com cinco carros equipados com uma "agulha" que apontava para o sul.  Tudo indica que as propriedades da "agulha magnética"  já eram conhecidas na velha China, mas o uso se havia limitado a orientar a construção dos novos templos. A agulha magnética foi descrita no Sung-shu, um trabalho histórico do século 5º da nossa era e fgoi atribuída ao astrônomo Chanf Heng ( 139 d.C.), o qual apenas re-descobriu o que achina já conhecia de muito antes. A mais antiga menção da agulha magnética como vantajosa para a navegação, aparece numa obra do século XII de nossa era, com o uso atribuído à navegadores estrangeiros, provavelmente os árabes, que costumavam fazer o percurso entre Sumatra e cantão. Por volta de 1190 encontramos a primeira notícia européia sobre a bússola num poema de Guyot de Provins. 
                Apesar da contribuição da bússola e da pólvora, do papel e da seda, da imprensa e da porcelana, não podemos falar da China como um povo industrialmente inventivo. Na verdade era inventivo na arte, pois que a desenvolvera em formas próprias; mas até 1912 os chineses ainda se mostravam contentes como seu velho sistema econômico; e revelavam um talvez profético desprezo pelas máquinas redutoras da mão de obra, que fantasticamente aceleraram o trabalho e lançam no desemprego milhões de homens, para que outros adquiram enormes riquezas. 
                Foram os chineses os primeiros a usar o carvão de pedra como combustível e o mineravam em pequenas quantidades já em 122 d.C., mas não desenvolveram máquinas para aliviar o penoso do trabalho das minas e deixaram pela maior parte inexplorados os recursos em minério de seu imenso território. 
                     Embora soubessem fazer vidro, preferiam importá-lo do Ocidente. Não fabricavam relógios nem parafusos, somente pregos e dos mais grosseiros. Nos dois mil anos de intervalo entre o surto dos Hans e a queda dos Manchus a vida industrial da China permaneceu substancialmente  a mesma. Isso também aconteceu na Europa, depois de Péricles até a Revolução Industrial.
                 Apesar desse prestígio, a China dos mongóis  falho em suas duas tentativas para conquistar o japão, em 1274 e 1281, que ocorreu por problemas climáticos imprevisíveis.
                 No ano de 1368, a dinastia dos Ming conseguiu expulsar os soberanos mongóis e, num movimento nacionalista de retorno ás tradições chinesas, fechou a Rota da Seda. Iniciou-se, então, um período de isolamento das influências externas. No entanto, esse isolamento não impediu os chineses de ampliarem seu controle  sobre o oceano Índico rumo à Indonésia, Oriente Médio e África. 
              A prosperidade econômica e a estabilidade política predominaram até princípios do século XVI, quando os primeiros navegadores portugueses aportaram em Macau, no sudeste do Império. Era o início de um processo de penetração dos interesses comerciais europeus na China. 
                Parta melhor compreendermos a evolução da China, voltemos no tempo. Durante o Império Han, até os homens mais ricos viram-se gravemente afetados pelas aventuras militares de Wu-ti, e devido à fraqueza de uma série de imperadores que governaram durante a última metade do século I a.C., a autoridade real foi desprezada pelas grandes famílias da corte. 
                 Os Ch'in haviam  adotado importantes medidas defensivas contra o povo nômade do norte, os Hsiung-nu, e expandiram-se para o sul, anexando áreas de povos que não tinham origem chinesa. No começo, a primeira ocupaçãop dos Han foram os assuntos internos; porém o imperador Wu-ti (140 x 86 a.C.) iniciou uma nova fase de expansão.
               Wu-ti tinham uma alma de guerreiro; tomou a ofensiva contra Hsiung-nu; reconstruiu a grande Muralha Ch'in, estabelecendo-a a noroeste. Sua iniciativa de prolongar a Grande Muralha tinha como objetivo proteger a rota que os Ha haviam aberto rumo à Ásia Central. Depois do ano 59 a.C., o poder militar chinês avançou, porém brevemente, sobre os estados da bacia do Tarim, como Turfan, Jucha e Khotan, no limite do inóspito deserto Takla Makam. Dessa forma os Han tiveram controle sobre a parte leste da chamada Rota da Seda, utilizada por missões chinesas para visitar Pártia e Bactria, atualmente conhecidas como Afeganistão e Irã. A estabilidade e prosperidade do governo Han promoveram o crescimento de um mercado exportador mais amplo. 
                 O expansionismo Han não se limitou apenas ao noroeste. Os exércitos de Wu-ti também tomaram áreas do sul da Manchúria e do norte da Coreia, e consolidaram as conquistas Ch'in em Cantão, região do sul da China. Os reinos independentes de Yüeh, localizados no litoral sudeste, foram eliminados no fim do século II a.C. Os exércitos chineses ocuparam o norte do Vietnã e penetraram em remotos lugares no sudoeste, impondo o governo Han sobre os Estados nativos da região. 
                              No ano 9 da nossa era, Wang-Mang, um parente imperial por matrimônio, usurpou o trono e criou uma breve dinastia, a Hsin, que durou do ano 9 ao 23 d.C. Nessa ocasião foi implantado um drástico programa de reformas. Mas o reinado terminou devido a uma rebelião generalizada, sendo seguido pela restauração da dinastia Han em 25 d.C. Ester acontecimento marcou o começo do período conhecido como "Han Posterior" (25 x 220 da nossa era).Como a antiga capital Ch'ang-an fora saqueada durante a luta, a nova capital foi transferida para Lo-yang. Com isso o nordeste da China adquiriu uma crescente importância em relação ao noroeste. 
                  Após algumas décadas de consolidação, o povo chinês do Han Posterior deu início a novas hostilidades contra os Hsiung-nu, no fim do século I d.C., e em 94 d.C. invadiu a bacia do Tarim. Loyang, a nova capital, se expandiu mais e adquiriu maior esplendor do que o antigo centro em Ch'ang-an. O comércio floresceu, principalmente o marítimo, e os latifundiários, mercadores e as classes superiores tornaram-se mais ricos e poderosos. Todavia, em meados do século II d.C., a autoridade central viu-se extremamente debilitada pela sucessão de imperadores crianças e por sectarismos na corte, enquanto no campo existia uma inquietação permanente devido à pobreza e opressão dos camponeses. Este descontentamento culminou com a sublevação maciça dos Turbantes Amarelos, que dominaram a China em 184 d.C. Vários líderes guerreiros regionais conseguiram, de certa forma, restaurar a ordem. Em 220 d.C., o último imperador Han abdicou em favor de um deles, dividindo-se o império em três Estados regionais independentes. Até o século VI a situação  continuou sendo a mesma, quando a civilização chinesa se recuperou e alcançou novas dimensões durante as dinastias Sui e T'angt. Próximo do II século d.C., muitas das características fundamentais da civilização chinesa já estavam estabelecidas. A China transformou-se na entidade étnica e política do mundo. Impôs-se uma chefia nacional, mediante a qual estabeleceu-se, por um período, o poder dinástico centralizado. Porém reste poder dissolveu-se devido à ação das lutas destrutivas pelo poder dos chefes guerreiros e a constante pressão exercida pelas tribos da fronteira norte da China. Mesmo assim, as principais características da civilização chinesa sobreviveram a esses períodos até o século XX. A ética confucionista, uma estrutura política feudal, a escrita, a arte chinesa e a extraordinária perícia técnica distinguiram a civilização chinesa, não apenas como a principal força cultural da Ásia, mas também, em termos comparativos, do mundo, até a Idade Moderna. 
                  A medicina chinesa era uma característica mistura de sabedoria empírica e superstição popular. Tinha começos remotíssimos e já produzira grandes médicos antes de Hipócrates. De longa data vinham sendo exigidos exames para a admissão na prática da medicina, e desde a era dos Chous o preço dos serviços profissionais era de antemão fixado, de acordo com esses exames. No século IV d.C. um governador chinês ordenou o estudo anatômico de quarenta decapitados; mas a experiência perdeu-se num debate teórico e e dissecação foi interrompida. Chang-Chung, no século II d;C., descreveu sobre febres e dietas, os quais permaneceram como padrões durante mil anos. No século II d.C., "Hua To" escreveu uma obra de cirurgia e fez operações sobre pacientes anestesiados pela ingestão de certo vinho, cuja fórmula, infelizmente, logo se perdeu. 
                      A sociedade chinesa não estava construída sobre a ciência, mas sobre uma mistura de religião, moral e filosofia. A história jamais conheceu um povo mais supersticioso, nem mais racionalista e secular; nenhuma nação foi menos dominada pelos sacerdotes e, com exceção da Índia, mais cheia de deuses. Como explicar estas contradições, anão ser atribuindo aos  filósofos chineses um grau de influência sem paralelo na história, e ao mesmo tempo admitindo na pobreza da China  uma inexaurível fonte de fantasiosas esperanças? Tratava-se, portanto, de um povo com religião, mas sem igreja. 
                Durante mil anos a fé taoista teve milhões de adeptos, converteu muitos imperadores e travou numerosas batalhas de intrigas para subtrair aos confucionistas o divino direito de taxar e despender. Por fim a religião taoista foi suplantada não pela lógica de Confúcio, mas por outra religião ainda mais consoladora do homem comum, o budismo. Na verdade o budismo emigrou para a China no século I  e, de modo algum era a sombria doutrina que o iluminado Buda pregara na Índia quinhentos anos antes. Não se tratava de um credo ascético, mas de ardente fé em divindades acolhedoras e num maravilhoso paraíso à forma do Mahayana que os teólogos haviam adaptado às necessidades emotivas do homem do povo. 
               Por mais de vinte séculos o Confucionismo e a adoração dos antepassados sobreviveram a muitas crenças rivais e a muitos ataques, porque eram sentidos como indispensáveis à intensa e exaltada tradição moral sobre que a vida chinesa repousa. O código moral passava de pais para filhos através das gerações, mantendo-se como um governo invisível da sociedade chinesa. "O que os chineses levaram ao mais alto grau de perfeição foi a moralidade", disse Voltaire. "Construindo a casa sobre alicerces sólidos, o mundo se sentirá seguro", disse Confúcio. 

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