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domingo, 31 de janeiro de 2021

O MUNDO A PARTIR DE 1990 --

         No início da década de 90, uma profunda mudança estrutural transformou o sistema político internacional, levando à reorganização da economia mundial. O principal acontecimento foi o fim da Guerra  Fria com o colapso do bloco soviético em 1989 e a desintegração da própria URSS em 1991. Os EUA já não dominavam a economia  mundial. Esta estava cada vez mais globalizada, contribuindo para isso a redução de barreiras ao livre fluxo de capital e o incentivo à distribuição e à produção em larga escala, graças ao desenvolvimento das comunicações e da computação. No entanto, uma tendência ao regionalismo produziu a incipiente "tríade" de blocos comerciais, centralizada na América do Norte, Europa (Comunidade Européia) e Japão. Desigualdades na distribuição da riqueza continuaram e se agravaram com o advento de tecnologias avançadas, que marginalizaram a economia dos países em desenvolvimento. 
       Apesar do aumento sem precedentes da prosperidade após a Segunda Guerra, entre 1960 e 1992, dobrou em todo o mundo a diferença entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres. O fraco desempenho econômico dos países em desenvolvimento pode ser atribuído, em parte, ao rápido crescimento da população, não acompanhado de um adequado crescimento da renda. O crescimento populacional perdeu força no final da década de 80, mas, a longo prazo, permanece preocupante. Cuidados com a saúde reduziram as taxas de mortalidade infantil e aumentaram a expectativa de vida, mas em áreas de alimentação escassa, como a África subsaariana, a fome crescia no início da década de 90.  
        O processo resultante da globalização afetou o mundo em desenvolvimento, especialmente porque a concorrência econômica deslocou-se, no final dos anos 80, do comércio para o capital. Entre 1984 e 1989, o fluxo de Investimento Externo Direto (IED) aumentou em 29% ao ano - três vezes mais que o comércio - para alcançar um total de U$$ 1,5 trilhão. O crescimento do comércio mundial de mercadorias, por outro lado, caiu de 8,5% em 1988 para 3% em 1991, o pior resultado desde 1983.
         O investimento externo direto - em atividade produtiva em outro país - implica na estabilidade e na economia do país anfitrião e é indicador-chave  das tendências de desenvolvimento. No início dos anos 80, os países em desenvolvimento perceberam ser cada vez mais difícil atrair IED e financiar dívidas com exportações.
             Fluxos de Investimento Externo Direto (IED) revelaram que a globalização da economia mundial tem sido limitada aos países mais ricos, organizados progressivamente como uma "tríade" de blocos econômicos. 70% do IED da "tríade" foi destinado a outros países desses blocos, o que reflete a falta de confiança em projetos de crescimento econômico  sustentado a longo prazo em outros países. Ao se comparar o fluxo das drogas e o IED, vê-se que a eliminação do tráfico  de drogas será difícil sem a redução da demanda em países ricos, o que faz o tráfico ser tão lucrativo, especialmente para países onde é difícil atrair investimentos a longo prazo.  
            Durante as décadas de 60 e 70, os países em desenvolvimento atraíram grandes somas de IED, principalmente pelo baixo custo da mão-de-obra. Com as inovações reduzindo os ciclos de produção e com uso de máquinas computadorizadas, o baixo custo da mão de obra ficou em segundo plano. Esse fator e a política das multinacionais para acesso aos mercados das economias da "tríade" levaram o IED nos países em desenvolvimento a níveis reduzidos - de 25% do total mundial no início dos anos 80 para 17% entre 1985 e 1990. À medida em que ocorria a integração econômica entre os países da "tríade", barreiras econômicas externas restringiam o acesso aos mercados mundiais, penalizando os países em desenvolvimento com perdas de U$$ 500 bilhões  por ano.  
         Alguns países em desenvolvimento tinham vantagem competitiva na produção e distribuição de drogas ilícitas, um negócio  de U$$ 500 bilhões anuais (números da ONU de 1992), perdendo somente para o comércio mundial de armas. O comércio ilegal de drogas prosperou numa economia mundial integrada, com a desregulamentação financeira facilitando a "lavagem" de dinheiro. Em 1988, cerca de USS 85 bilhões  originários de tráfico foram "lavados" nos EUA e Europa. Em 1992, esse número subiu  para U$$ 250 bilhões. 
          A produção de drogas é fonte vital de dinheiro e emprego. Na Bolívia, nos anos 90, cerca de 400 mil dos 6,5 milhões de habitantes trabalhavam com o comércio  de drogas. Atualmente o país tem cerca de 10 milhões de habitantes, e grande parte da população ativa continua trabalhando no cultivo de drogas. Embora  o crime organizado seja o mais beneficiado, os indivíduos também lucram. No Peru, cultivadores  de coca ganham em média  de U$$ 1,500 mil a U$$ 2 mil em 1990. Seu faturamento bruto por acre foi dez vezes maior que o de um produtor de café. Em 1991, a Colômbia exportou cerca de 200 toneladas  de cocaína para a Europa. As apreensões europeias de cocaína saltaram de 1,5 tonelada em 1986 pata 16  toneladas em 1991. 
        A transição pós-comunista para economias de mercado e o controle menos rigoroso das fronteiras estimulou a produção de drogas na Europa Oriental e na Rússia e abriu novas vias de acesso para fornecedores tradicionais. Em 1992, agricultores da URSS cultivavam cerca de 3 milhões de acres de maconha e um número crescente de acres de papoula. Na Ucrânia, agricultores pobres cultivam esses produtos até em "zonas proibidas"ao redor do reator de Tchernobil, local de explosão nuclear em 1986. Nem todos os governos pós-comunistas ratificaram a convenção de Viena de 1988, que considerou crime a "lavagem" de dinheiro e declarou os anos 90 como a década da ONU de combate às drogas.  
       As Nações Unidas também se destaram na luta contra a degradação ambiental. A Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro  em junho de 1992, foi um divisor de águas. A Eco 92 teve a adesão de mais governos (185) e a participação de mais chefes  de Estado (131) do que qualquer outro encontro internacional anterior. Os resultados da conferência foram variados, mas a preocupação com a poluição e a mudança do clima colocou o desenvolvimento sustentável na agenda internacional. 
          A emissão de poluentes e de gases que provocam o efeito-estufa, resultantes da dependência de combustíveis fósseis como fonte de energia barata, colocam a possibilidade de aparecimento desastroso do clima terrestre. Os países industrializados, que produziram grande parte da atual contaminação , estão mais aptos a adaptar-se  a tecnologias menos poluentes. Mas os países em desenvolvimento, também responsáveis  por essa contaminação, temem criar obstáculos onerosos a suas economias em crescimento e, na falta de compensação por parte dos países ricos, muitos relutaram em alterar suas estratégias de desenvolvimento. Na realidade, os países mais ricos do hemisfério Norte deram cerca de U$$ 55 bilhões de ajuda ao mundo em desenvolvimento (0,45% de sua renda). As Nações Unidas propuseram U$$ 125 bilhões (ou 0,7% da renda) apara apoiar o desenvolvimento sustentado, mas essa diretriz tem pouco apoio no hemisfério Norte.    
            A estagnação econômica, e a repressão  política em algumas regiões levaram ao crescimento de migrações fronteiriças  e a deslocamentos internos de populações. A maior parte desses movimentos ocorreu no mundo em desenvolvimento, onde em 1992 cerca de 30 milhões de pessoas permaneciam deslocadas, contra apenas  8  milhões no mundo desenvolvido. 
          Dois acontecimentos centralizaram a atenção nos refugiados: a avalanche de alemães orientais para a Alemanha Ocidental, após a abertura da fronteira, em 1989, e a fuga dos curdos do Iraque para escapar da repressão governamental após a derrota  iraquiana Guerra do Golfo, em 1991. O primeiro caso precipitou a reunificação das Alemanha, em 1990; o segundo ameaçou a estabilidade do Oriente Médio, onde os curdos formam o quarto maior grupo étnico, mas permaneceram dispersos por quatro países que se opõem à formação de um Estado curdo independente. A gravidade do êxodo curdo para a Turquia, onde 400 mil pessoas morreram de fome e frio, levou a comunidade internacional a intervir nos assuntos internos do Iraque, ficando claro que a divisão entre as políticas interna e externa de um país não é absoluta.  

Nicéas Romeo Zanchett 
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