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domingo, 17 de janeiro de 2021

O LESTE ASIÁTICO APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

 


          Finalizada a Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945, a paz voltou ao Japão. Mas o país estava em ruínas, suas principais cidades reduzidas a escombros e sua economia devastada. Acima de tudo, seu povo estava desorientado; não havia sido preparado para a derrota, especialmente para a derrota trazida por uma operação única e devastadora, o lançamento de bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, seguida pela ocupação de uma potência estrangeira. A ocupação do japão, colocado sob a autoridade da Comissão para o Extremo Oriente, incluía representantes de todos os  países que haviam lutado contra os japoneses. Mas tratava-se, de fato,  de ocupação norte-americana. Sob o comando do general Douglas MacArthur, a administração  de ocupação procurou desmilitarizar o Japão e criar um Estado pacífico e democrático. No início de 1946, o imperador negou publicamente sua divindade. A nova Constituição, de maio de 47, estipulou que a soberania pertence ao povo, criou a Dieta (o Parlamento Japonês), estabeleceu um Judiciário independente e renunciou à ideia da guerra como meio de resolver disputas internacionais. A nova administração reformou o sistema de educação japonês, removendo dos currículos tudo o que encorajava valores militares e autoritários; instituiu planos de reforma agrária, que encerraram o absenteísmo dos proprietários de terras; e buscou, embora sem sucesso, romper as concentrações de poder em grandes empresas. Entretanto, o avanço dos comunistas na China e a deterioração nas relações entre EUA e URSS, após 1948, levaram os norte-americanos  a ver no Japão um importante aliado, cujo valor dependeria da reconstrução de seu poder econômico. Em setembro de 1951, completado o trabalho, a ocupação foi formalmente encerrada. 
         Para a Coréia, a derrota do Japão pôs fim  ao regime colonial japonês, imposto em 1910, mas trouxe a divisão. Durante a guerra, ficara acertado que a URSS aceitaria a rendição das forças japonesas ao norte e os EUA ao sul do paralelo 38. Os soviéticos apoiaram a criação de um Estado comunista no norte, sob a chefia do líder guerrilheiro Kim Il-sung. Kim fundou um partido e um Estado  segundo modelo soviético: indústrias manufatureiras foram nacionalizadas; a reforma agrária foi realizada e Exército organizado. No sul, foi criada uma administração de ocupação norte-americana que, após a frustração das esperanças de unificação, trabalhou para estabelecer um governo representativo. Em agosto de 1948, Sygman Rhee, um ferrenho anticomunista, tornou-se presidente da República da Coréia, encerrando o governo  militar norte-americano. O país estava dividido, mas tanto o norte como o sul ambicionavam reuni-lo sob seu domínio.
         Em junho de 1950, os norte-coreanos atacaram o sul, repelindo as forças da Coréia do Sul e dos EUA para Pusan. Em setembro, houve o contra-ataque. Um desembarque anfíbio em Inchon, comandado por  MacArthur, levou à reconquista de Seul e a  uma nova ofensiva, que pretendia unificar a Coréia pela força. Em novembro de 1950, à medida que os norte-americanos avançavam para o rio Yalu, forças chinesas entraram na Coréia e recuperaram o controle do norte. Seguiu-se um impasse. Em abril de 1951, o presidente Truman demitiu MacArthur, nua indicação de que os EUA não queriam estender a guerra. Em julho, iniciaram-se negociações e, em julho de 1953, foi assinado um armistício. 
          O estabelecimento da República Popular  da China, em 1949, marcou um momento decisivo na história chinesa moderna. Após um século de conflitos internos e desagregação, quase sempre por ação de agressores externos, a China passou a ser governada por líderes que tinham uma visão clara da sociedade que desejavam criar. Quaisquer que tenham sido os excessos e fracassos desde 49, como a repressão sistemática, essa realização fundamental deve ser reconhecida. Isso também significa que a experiência da China moderna não deveria ser comparada aos avanços de seus vizinhos (o sucesso econômico do Japão, Coréia do Sul e Taiwan contrastando com a paralisia da China), mas com seu próprio passado. 
          A preocupação central do novo regime  chinês era a economia - elevação da produção  agrícola e a criação de indústrias de base. Até meados da década de 50, a China segui o modelo soviético de planejamento econômico. Embora seu Primeiro Plano Quinquenal tenha tido algum sucesso, no final dos anos 50 Mao Tse-tung perdeu a fé na abordagem dos planejadores e técnicos  e procurou mobilizar as energias revolucionárias da população chinesa. O "Grande Salto para a Frente" foi lançado no início  de 1958 e envolveu a criação de comunas rurais e associações urbanas encarnadas na organização da produção. Mas muitos projetos específicos (como a construção de fornalhas de fundo de quintal para produzir ferro e aço) revelaram-se inoperantes e, no início de 1961, o "Grande Salto" foi abandonado. Quatro anos mais tarde, Mao voltou a apelar para energias revolucionárias do povo chinês. Lançou a "Grande Revolução Cultural Proletária" (de 1965 a 1969) para impedir, pela "revolução permanente", o restabelecimento de interesses adquiridos, do carreirismo e da arrogância burocrática no partido e no Estado. Mais uma vez, a ideologia triunfou sobre a técnica, produzindo caos e miséria. 
              Após a guerra civil e a tomada de poder pelos comunistas, a China se desenvolveu rapidamente. A República Popular estabeleceu uma infra-estrutura industrial com crescente potencial petrolífero e nuclear. Mas a expansão industrial e agrícola se tornou lenta devido ao "Grande Salto Para Frente", do final da década de 50 e devido à Revolução Cultural, de meados da década de 60. O crescimento de sua economia permaneceu muito abaixo do de seus vizinhos no Extremo Oriente. Seu potencial de crescimento, contudo, é considerável. Numerosa população, vastos recursos naturais e baixos custo de produção, aliados ao latente  espírito empreendedor de seu povo, são bens a serem explorados.
           Nas relações exteriores, o novo regime comunista, mesmo não reconhecido pelos EUA e excluído das Nações Unidas, influiu na política mundial. A China desempenhou importante papel na Conferência de Genebra, em 1954, e na Conferência dos Estados Afro-Asiáticos. em  Bandung, Indonésia, em 1955. Nesse período manteve relações estreitas com a URSS, recebendo instalações industriais, empréstimos  e especialistas soviéticos. Mas esse relacionamento continha divergências sobre territórios e em relação à política e à ideologia no mundo comunista, particularmente após a morte de Stálin, em 1953. Quando Khruschov censurou Stálin, em 1956, e defendeu o conceito de coexistência pacífica com o bloco capitalista, o rompimento tornou-se inevitável. Este ocorreu em 1960. O reatamento das relações da China com o Ocidente somente ocorreu dez anos depois, após a "Revolução Cultural", e foi marcado  pela visita oficial à China do presidente norte-americano Richard Nixon, em 1972. 
          Mao morreu em setembro de 1976. Sob a nova figura dominante, Deng Xiaoping, houve grande virada na política pública econômica: voltaram os incentivos materiais; comércio e investimentos estrangeiros foram encorajados. Mas os novos rumos da economia foram acompanhados de pressão crescente por maior liberdade política, um campo no qual a liderança chinesa não cedeu, pois em 1989, protestos pró-democracia foram violentamente reprimidos em Pequim.  
           Ao terminar a ocupação, em 1951, o Japão iniciou um período de constante crescimento econômico e, após 20 anos, tornou-se uma superpotência econômica. A década de 50 assistiu à ênfase no desenvolvimento da indústria pesada. O Japão tornou-se o principal construtor de navios e o terceiro maior produtor de ferro e aço. Desde os anos 60, a indústria japonesa caminhou para a produção de artigos de alta tecnologia (carros, televisores, máquinas fotográficas e computadores), em boa parte para exportação. A maioria dos gigantes industriais e comerciais japoneses (Mitsui, Toyota e Mitsubishi - fundada por um ex samurai ) também estabeleceu-se no exterior (sudeste da Ásia e também Europa e América do Norte), ampliando, desde o início da década de 70, o volume dos investimentos estrangeiros do Japão. O apoio do governo e o caráter das relações empregatícias nas empresas, enfatizando amplas consultas e lealdade de grupo, foram fundamentais para a expansão econômica.  
          Da devastação do fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão  emergiu, a partir da década de 80, como potência econômica, desafiando até mesmo os EUA, seu vencedor e, após a guerra, potência ocupante.  Após a Guerra Mundial, à medida que as exportações japonesas  cresceram, também aumentaram  seus investimentos no exterior. No final da década de 80, o país havia se consolidado como superpotência econômica. Entretanto, por mais extraordinário que tenha sido o desempenho econômico do Japão desde 1945, o pais já teve de enfrentar a crise econômica global da década de 90. Mesmo transformado em superpotência econômica, o Japão permaneceu um pigmeu  no cenário político mundial.
         A península da Coréia, após a trégua de 53, foi dividida em dois regimes hostis e armados. O norte permaneceu sob a liderança de Kim Il-sung, objeto de enorme culto à personalidade. Com a divisão, na guerra civil de 1950/53, em comunista ao norte e capitalista ao sul, o desenvolvimento  das duas Coréias seguiu rumos contrastantes. A Coréia do Norte encasulou-se em seu auto-imposto isolamento comunista. Permaneceu atrasada e prejudicada pelo peso da rígida ideologia imposta por seu líder, o autoritário Kim Il-sung e continuada por seu filho Kim Jong-un. Embora as condições materiais da população tenham melhorado um pouco, o país, na prática, ignorou o mundo não-comunista. A Coréia do Sul, embora distante de um modelo democrático na maior parte do período pós-guerra, desenvolveu uma base industrial florescente. Em 1960, revoltas de estudantes encerraram o governo autoritário de  Syngman Rhee e um golpe militar levou Park Chung-hee ao poder, em 1963. Após o assassinato de Park em 1979, um novo homem forte, o general Chun Don Hwan, chegou ao poder. Como o Japão, no mesmo período,  especializou-se em produtos de alta tecnologia. Desde meados da década de 60, a Coréia do Sul alcançou rápida industrialização e emergiu como um dos pequenos tigres da economia asiática. Essa industrialização, orientada para produtos de consumo para exportação, ficou dependente de baixos custos e, no início, altos investimentos estrangeiros. Nesse período de rápido crescimento, o regime sul-coreano teve pouca tolerância com manifestações de oposição, reprimindo protestos comumente liderados por estudantes.
         A Guerra da Coreia levou a "Guerra Fria" ao Extremo Oriente. Ocupada em 45 por forças soviéticas e norte-americanas, em 48 a Coreia já estava, de fato, dividida. 
           

Nicéas Romeo Zanchett
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