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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

O SUDESTE ASIÁTICO A PARTIR DE 1945

 


           Revolta e guerra dominaram o Sudeste Asiático após 1945, (depois da Segunda Guerra Mundial). A retirada voluntária ou forçada das administrações  coloniais raramente resultou em paz ou estabilidade econômica. Rivalidades políticas, religiosas ou étnicas explodiram em conflitos nacionais ou internacionais. Entre 1945 e 1954 a Indochina lutou contra domínio colonial francês. Após a derrota em Dien Bien Phu (1954, os franceses se retiraram, mas os EUA se recusaram a assinar os acordos de Genebra; em vez disso, estabeleceram um governo contra-revolucionário em Saigon, p´residido por Ngo Dinh Diem. O resultado foi a segunda guerra indochinesa de 1957 a 1973. Apesar dos bombardeios de saturação e do envolvimento de mais de meio milhão de soldados em terra, os EUA não conseguiram quebrar a resistência norte-vietnamita. Por fim, um acordo firmado em 1973 resultou na queda do governo de Saigon em 1975, quando os EUA Finalmente se retiraram do Vietnã. 
         O avanço dos japoneses no Sudeste Asiático em, 1941/42 expulsou da região as potências coloniais ocidentais. Mas após a derrota do Japão em 1945, essas mesmas  potências procuraram reconquistar os territórios que controlavam antes da guerra, embora com ambições diferentes. 
          Os EUA voltaram às Filipinas onde, na década de 30, haviam estabelecido um cronograma de reforma constitucional e independência política. Muitos filipinos lutaram ao lado dos norte-americanos em 41 e durante a libertação de suas ilhas em 44. Apesar dos distúrbios políticos e destruição material causada pela guerra, os EUA deixaram as Filipinas, de acordo com o combinado, em julho de 1946. Mas a instabilidade política enfraqueceu a economia filipina na década de 80. A malversação do dinheiro  público pela família Marcos, o peso do protesto popular contra seu regime de 1983/86 e a insegurança da administração Aquino (sempre marcada por tentativas de golpe) trouxeram dificuldades econômicas. 
             Os anos de pós-guerra testemunharam, com o incentivo dos EUA, altas taxas de crescimento econômico  em parte do Leste e Sudeste Asiático. O fluxo comercial EUA - Japão  consistiu principalmente de exportações agrícolas para o Japão e importações de produtos eletrônicos  e automóveis pelos EUA; mas, como muitos outros países  asiáticos expandiram seus mercados de produtos manufaturados, eles se tornaram mais dependentes de matérias-primas importadas. O nível de investimentos norte-americanos e japoneses no Sudeste Asiático mostrou a importância da orla do Pacífico como esfera de influência econômica e revelou existência de um império informal de comércio e investimento centrado no Japão, Taiwan, Cingapura e costa  oeste dos EUA. 
          Ao contrário do que ocorreu entre EUA e Filipinas, os britânicos retornaram à Birmânia (Myanma) e à Malásia empenhados em restaurar o domínio colonial, mas logo receberam que a retirada seria inevitável. A Birmânia, cuja evolução constitucional  antes da guerra estava ligada à da Índia, seguiu-a rumo à independência política em janeiro de 1948. A retirada dos britânicos da Malásia começou no início dos anos 50. Os Estados peninsulares atingiram a independência política em 57 (em 63, Cingapura, Sabah e Sarawak juntaram-se a eles para formar uma união independente, a Federação Malaia).  A retirada da Malásia peninsular foi acompanhada de levante  comunista, a "Emergência", que durou de 1948 a 1960. Liderada pela etnia chinesa do Partido Comunista Malaio, estava preocupada não tanto em acabar com a administração  britânica e sim com a estrutura sócio-política do Estado que a sucederia. 
          Em posição absolutamente inversa, holandeses e franceses voltaram à Indonésia e Vietnã, respectivamente. Desejavam  restabelecer seu domínio, sem respeitar as ambições políticas dos povos locais; encontraram resistência de populações politizadas e, com frequência, armadas pelos japoneses. Resultado: holandeses e franceses enredaram-se em longas e sangrentas guerras coloniais. Favorecidos pela divisão dos líderes locais, os holandeses quase derrotaram a jovem República indonésia, mas a opinião pública mundial voltou-se contra eles. Os EUA forçaram a Holanda à retirada, sob ameaça de cortarem sua ajuda para a reconstrução da Europa; em dezembro de 49, os holandeses se retiraram. 
           A luta dos franceses no Vietnã foi mais longa e tornou-se um dos mais sangrentos conflitos do século XX. Após a rendição japonesa em agosto de 45, Ho Chi Minh estabeleceu um regime comunista no norte. No sul, os franceses reimpuseram seu domínio com pretensões de recriar seu império do  Sudeste Asiático, mesmo sem o Vietnã do Norte. Por mais de um ano, Ho Chi Minh procurou em vão persuadir os franceses  a saírem pacificamente, argumentando que o sul era parte de seu país. No final de 46 a guerra eclodiu entre seus seguidores (Viet Minh) e os franceses. Terminou com a humilhante derrota francesa em Dien Bien Phu, em 54. A saída da França, porém, não levou à unificação do Vietnã: durante a Conferência de Genebra, convocada após Dien Bien Phu, URSS e China pressionarem os Viet Minh a aceitar a divisão "temporária" do Vietnã pelo paralelo 17. Os Viet Minh presumiram que as eleições nacionais previstas para 1956 levariam à unificação sob governo comunista. Mas o novo  governo sul-vietnamita e seus aliados norte-americanos recusaram-se a assinar o Acordo de Genebra. Não houve eleições. 
          Em 1959, os norte-vietnamitas recorreram novamente às armas para obter a unificação. Om regime anticomunista do sul tinha  apoio dos EUA: a princípio, material bélico e conselheiros; após 65, tropas e ataques aéreos. Seguiu-se uma guerrilha em que o norte recebia suprimentos da China e da URSS. No final da década de 60, ficou claro que a intervenção norte-americana não poderia conter a "agressão" comunista ao sul e que o envolvimento dos EUA estava prejudicando a economia e dividindo a sociedade norte-americana (mais ainda em 70, com a extensão da guerra ao Camboja). As negociações entre Hanói e Washington começaram no final de 68, mas o acordo só foi firmado em 73, quando as tropas terrestres norte-americanas se retiraram. Os EUA continuaram a fornecer suprimentos para o regime de Saigon, mas quando os comunistas lançaram uma grande ofensiva militar na primavera de 1975, o exército do sul sucumbiu. O Vietnã estavas unificado, sob o controle de Hanói. 
            Três décadas de guerra arruinaram a economia vietnamita e as esperanças de rápida reconstrução econômica após a unificação não foram concretizadas. A liderança geriátrica e ideologicamente rígida do país descobriu que a construção de uma economia moderna requeria habilidade políticas e administrativas muito diferentes das usadas Para vencer os EUA. A paz real continuava ilusória: o Vietnã passou por rápido conflito com a  China e depois viu-se arrastado ao Camboja, onde suas tropas foram utilizadas na derrubada do regime de Pol Pot no final de 78. Somente após longo período de isolamento político e econômico, no final da década de 80, o Vietnã iniciou a abertura de sua economia para atrair tecnologia e investimentos. 
        A instabilidade política vietnamita após 45, aliada à rigidez ideológica, gerou consequências econômicas  nocivas em outras parte do Sudeste Asiático. Na Birmânia, o crescimento econômico desde a independência em 1948 continuou baixo, em parte devido a insurreições étnicas e comunistas, mas principalmente porque a liderança política birmanesa buscava a auto-suficiência econômica. Na Indonésia, antigas divisões políticas foram exacerbadas por tentativas de criar uma estrutura política e econômica coesa em um vasto arquipélago (desunido sob o domínio holandês). Rebeliões  regionais contra o poder central, notadamente a rebelião de Sumatra Ocidental em 58, tornaram-se marcantes nas década de 50 e 60. A indonésia, porém, resistiu à fragmentação devido à habilidade política do presidente Achmed Sukarno, que para sustentar o espírito da revolução, lançou numerosas campanhas - pela nacionalização das empresas holandesas na década de 50; pela soberania indonésia sobre o Irian Ocidental; contra a formação da federação Malaia em 63. A era Sukarno, com consequências econômicas prejudiciais, terminou em 65, quando foi substituído na presidência por Raden Suarto. 
           A adoção da tecnologia do microchip  e a exportação de produtos eletrônicos baratos trouxe prosperidade econômica  crescente e rápida à Malásia, Cingapura, Taiwan e Tailândia. Mas em países como a Birmânia (atualmente denominada  Myanma), a inquietação civil nas cidades e a devastação no campo acabaram com qualquer esperança de um rápido crescimento econômico. 
           Esses casos de instabilidade política contrastam com a taxas de crescimento da Malásia, Cingapura, Tailândia e mesmo da Indonésia desde o final da década de 60. Apesar da recessão mundial na década de 80, cada um desses países obteve taxa de crescimento média anual acima de 5%, graças à criação de uma base industrial voltada para os mercados externos na Ásia, Europa e América do Norte. As indústrias e exportações concentraram-se em produtos têxteis e eletrônicos e a Malásia, em parceria com empresa japonesa, começou a produzir um automóvel (o Proton). 
            Diversos fatores levaram ao rápido crescimento industrial essas economias, exceto  Cingapura, tinham mão-de-obra barata. enquanto a legislação trabalhista assegurava a submissão dos trabalhadores - atrativo extra para multinacionais que procuravam força de trabalho mal remunerada edócil. Os governos locais buscaram atrair  investimentos estrangeiros com incentivos  fiscais e infra-estrutura. Grande parte do investimento veio do Japão, que emergiu como principal parceiro econômico do Sudeste Asiático. A estabilidade política desempenhou papel importante ao sustentar a estratégia de desenvolvimento industrial e atração de investimento: Suharto na Indonésia, Lee em Cingapura e Mahathir na Malásia, todos governaram com firmeza e reprimiram a oposição interna. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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