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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

AS NOVAS REVOLTAS ANTICOLONIAIS

 


        O novo imperialismo, iniciado com a ocupação francesa de Túnis, em 1881, e com a ocupação britânica  do Egito em 1882, desencadeou reações anticolonialistas por toda a Ásia e África. A extensão, intensidade  e significado dessas ocupações raramente têm sido apreciados em sua totalidade. Na Tunísia, a intervenção francesa levou a um levante islâmico, seguido de combates no sul.   No Egito, os britânicos enfrentaram uma revolta nacionalista sob Arabi Pasha. A independ~encia não foi entregue passivamente  nem na África nem na Ásia. Em Annam  (Vietnã), o imperador Ham Neghi retirou-se para as montanhas em 1883 e resistiu à ocupação francesa até 1888. . Os britânicos sofreram reveses no Sudão, em poder do Mahdi e de seu sucessor, o Califa, com o aniquilamento da guarnição de Cartum, comandada pelo general Gordon, em 1885.  No Cáucaso, de 1834 a 1859, os russos enfrentaram a oposição de Shamil, "governante dos justos e exterminador dos infiéis", e encontraram mais resistência muçulmana na invasão da Ásia central. Os italianos  foram derrotados pelos abissínios, em Adowa, em 1896. Quando os EUA ocuparam as Filipinas, em 1898, se envolveram numa guerra dispendiosa com as forças nacionalistas de Emílio Aguinaldo, perdendo cerca de 7 mil homens até 1902.
         Mesmo após a ocupação, as potências europeias enfrentaram protestos quase contínuos. Aguinaldo foi capturado, mas a população islâmica de Mindanao ainda resistiu nas Filipinas. Na Indochina, o "Bandeiras Negras" continuou sua luta quando o imperador Ham Nighi foi capturado, em 1888. Após 1895, o novo líder, De Tham, enfrentou os franceses até 1913. Na África, os britânicos encontrartam resistência dos ashantis, matabeles, zulus e outros povos, e os alemães enfrentaram grandes revoltas dos hereno e maji-maji na África do Sul e Tanganica, em 1904 e 1905. 
          Na Ádsia,a resist~encia ao colonialismo europeu assumiu duas formas: nas áreas colonizadas, como Indochina Francesa e Índias Orientais Holandesas, a população nativa  optou pela luta armada para obter a independência; nos grandes impérios, como a China e Império Otomano, cuja integridade territorial estava ameaçada, a intervenção europeia teve como consequência revoltas contra as dinastias reinantes e início da modernização para enfrentar o Ocidente em igualdade de condições. A divisão da Árica entre as potências europeias, iniciada na Conferência de Berlim, em 1834, provocou um movimento de resistência entre os povos africanos, reação esta que nunca pôde ser reprimida durante o período de 1887 a 1917. 
         Essas resistências eram, em geral, uma explosão de ressentimentos, xenofobia e desespero, além de serem conservadoras e retrógradas, com forte componente religioso e tradicionalista. No Egito e norte das África, líderes nacionalistas como Afghani e Mohammed Abduh conclamaram seus povos a uma renovação islâmica, e o Mahdivva, que controlou o Sudão de 1881 até 1898, foi um movimento de reavivamento islâmico contra egípcios e europeus. O hinduísmo teve igual papel ao alimentar a resistência na Índia, assim como o confucionismo na China. Essa reação tradicionalista e conservadora ao imperialismo europeu, com poucas chances de sucesso diante da supremacia militar das potências coloniais, foi acompanhada por uma resposta mais positiva em países como a Turquia, Egito, China e Índia, onde a interferência do Ocidente já minara a velha ordem. A "falência" da Turquia, em 1875, e a do Egito, em 1879, mostraram que a saída para deter a invasão ocidental seria o fim das instituições arcaicas e dinastias  semifeudais e a realização de um programa  de modernização. Na Turquia, o assalto russo, em 1877, e o desmembramento do Império Otomano pelas potências europeias (Congresso de Berlim, 18878) atiçaram o patriotismo dos Jovens Turcos, que se amotinaram na revolução de 1908. Na China, a guerra com o Japão, em 1894/95, e sua consequência imediata, a ameaça de partilha, levaram à Reforma do Cem Dias de 1898 e, após seu fracasso, ao levante Boxer contra os estrangeiros. No Egito, a revolta de Arabi Pasha contra o quediva Tewfik (controlado pelos interesses europeus) voltou-se contra os estrangeiros após a ocupação britânicas de 1882. Na Índia, o Congresso Nacional (fundado em 1885), que buscava uma política moderada de reforma constitucional, recebeu, após 1905, a representação de um movimento radical de inspiração hindu, liderado por Bal Gangadhar Tilak.  
            Esses movimentos eram  mais "protonacionalistas" que nacionalistas; não tinham unidade e objetivos claramente definidos e nenhum alcançou resultados duradouros. No Império Otomano, os Jovens Turcos depuseram o sultão Abdul Hamid II em 1908, mas suas tentativas de reforma fracassaram. Na China, a república proclamada em 1912 transformou-se, um ano depois, na ditadura de Yuan Shihkai. Na Pérsi, greves e tumultos forçaram o xá, em 1906, a convocar uma Assembléia Nacional, o "majlis", que elaborou uma Constituição liberal. Quando seu sucessor tentou revogá-la, foi deposto (1909); mas o xá foi reintegrado ao cargo após dois anos e o "majlis"suprimido. Mesmo assim, os movimentos de resistência não podem ser considerados  um fracasso. Apesar de originalmente xenófobos, vinham se transformando, antes  de 1914, em movimentos nacionalistas modernos. Prova dessa mudança foi o surgimento de associações nacionalistas e partidos políticos. Muitos eram pequenos grupos  de uma elite insatisfeita, mas alguns  tinham grande adesão. O Sarekat Islam, primeira organização política e nacionalista da Indonésia, fundada em 1912, tinha 360  mil associados em 1916 e mais de 2 milhões  no final da Primeira Guerra Mundial. 
          A guerra instigou o nacionalismo na Ásia e na Árica, já existente antes de 1914. A resistência ganhara força com a vitória do Japão na Guerra Russo-Japonesa de 1904/05, ao demonstrar que os europeus não eram invencíveis. Os nacionalistas chineses consideraram a derrota russa para o Japão como a derrota do Ocidente pelo Oriente. Ela repercutiu pela Ásia, da Pérsia à Indochina, onde impulsionou a conspiração Chieu cotra a França (1906). A Primeira Guerra desviou a atenção das potências de suas  colônias, criando novas oportunidades. Quando os bvritânicos proclamaram o protetorado sobre o Egito, em 1914, instigaram a oposição e inflamaram o sentimento  antibritânico, já acirrado pelas execuções em Dinshaway, em 1906. Na Rússia, uma revolta eclodiu em 1916 entre os muçulmanos da Ásia Central. No norte da África, em 1915/16, os franceses enfrentaram insurreições na Tunísia, apoiados pelas tribos Sanusi do Saara, que guerreavam desde a ocupação italiana da Tripolitânia e Cirenaica, em 1911 e 1912. A França enfrentou ainda protestos em Annam, em 1916. Na Nyasalândia, a saída de tropas para enfrentar os alemães permitiu a John Chilembwe liderar uma revolta contra os britânicos em 1915. Apesar dos retrocessos e da repressão, a resistência persistiu. Nenhuma potência que disputara colônias em 1884 estava segura de suas possessões. Em nenhum lugar foi aceito o domínio europeu. As conquistas nacionalistas nesse período não tiveram grande importância, mas, ao manter viva a chama da resistência, iniciaram um processo que levou, uma geração depois, ao colapso dos impérios europeus e à emancipação dos povos colonizados. 
           Para lutar pacificamente ou com armas, muitos partidos e associações nacionalistas foram formadas. Em 1885 - Fundação do Congresso Nacional  Indiano; 1889 - União Otomana ("ittiad-i Osmani") primeiro grupo organizado de oposição turca em 1895, denominou-se União e Progreesso ("ittihat ve Terakki"), depois organização do movimento dos Jovens Turcos.; 1897 - Partido Nacional Egípcio ("al-Arabiya al-Fatat"), de Musatafá Kamil; 1905 - Sun Yatsen funda a organização revolucionária secreta chinesa "Tung Meng Hui" transformada em 1912 no "Kuomintang" (partido Nacionalista); 1905 - Fundação da Liga Muçulmana  de Toda Índia; 1907 - "Hizb al-Umma" (Partido do Povo), o0rgão do Saad Zaghlul", precursor do Paretido Nacionalista Egípcio, o "Wafd" (1919); 1908 - Primeira associação nacionalista da  indonésia, "Budi Utomo"; 1910 - n"Tunis al-Fatat" (Partido Tunisiano  Jovem) , precursor do Partido Constitucional  Tunisiano ("Destour"), de 1920; 1911 - Associação Árabe Jovem ("al-Jamiya al-Arabiya al- Fatat"), sefdiada na Síria após 1913; 1912 - Partrido Nacionalista da Indonésia, "Sarekat Islam" (Associação Islâmica); 1912 - Congresso Nacional Sul-Africano, depois Congresso nacional Africano; 1913 "Viet Nam Quang Phuc Hoi" (Associação para Restauração do Vietnã), organização revolucionária fundada por Phan Boi Chau. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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