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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

EMANCIPAÇÃO DA ÁFRICA --

 


         Em 1939, o controle europeu sobre a maior parte do continente africano parecia garantido, mas em um período de 40 anos o controle dos brancos restringiu-se a um "laager" sul-africano. A Segunda Guerra e as mudanças que dela resultaram em geral acompanhadas por intensa conscientização política, fortaleceram o poder dos líderes africanos empenhados no progresso social e político de seus países. 
           Os anos de emancipação política da maior parte da África do controle colonial e os anos que se seguiram foram um período de rápidas mudanças, marcado por instabilidade. Muitos governos civis foram varridos por regimes militares. Alguns países, como a Nigéria, obtiveram grandes progressos econômicos, mas muitos outros permaneceram pobres. Difíceis conflitos  militares foram solucionados, como na Nigéria e no Zaire, mas outros persistiram, principalmente no Chifre da África. 
           Importantes foram também as mudanças ocorridas fora da África. A vitória dos aliados elevou o prestígio da URSS, enquanto os EUA procuraram eliminar barreiras à ampliação de sua importância. Na França e Grã-Bretanha, liberais e socialistas favoráveis à causa africana iniciaram programas de reformas sociais e políticas, enfrentando às vezes interesses de colonizadores brancos. Os próprios reformadores, no entanto, não deixaram de apoiar a Gã-Bretanha e França a recuperarem sua influência econômica e política. A partir de 1947, o início da "Guerra Fria" e a escassez de dólares apontaram para um ressurgimento do colonialismo; a repressão da França à rebelião em Madagascar evidenciou esse fato. 
           Mesmo assim, movimentos nacionalistas desafiaram tais políticas de forma eficaz. Em 1948, tumultos em Acra e outras cidades da Costa do Ouro forçaram o governo britânico a iniciar reformas constitucionais que, três anos depois, permitiram ao Partido da Assembléia do Povo de Kwame Nkrumah obter sucesso eleitoral. Na Costa  do Marfim, conflitos levaram o governo francês a buscar a reconciliação com a Assembléia Democrática Africana, até então considerada comunista. Por volta de 1960, a França e Grã-Bretanha começaram a transferir responsabilidade a governos eleitos em suas colônias na África Ocidental. 
           Os movimentos nacionalistas no norte da  África muçulmana foram incentivados pelo  fim da monarquia egípcia em 1932 e a ascensão  de Gamal Abdel Nascer. Em 1953/54, a Grã-Bretanha concordou em retirar suas  tropas do canal de Suez e em apressar a independência do Sudão; em 1956, a França reconheceu a independência do Marrocos e Tunísia. Mas na Argélia, o desejo francês de manter o controle era evidente desde a repressão de um levante popular em 1945; em novembro de 1954, a Frente de Libertação Nacional iniciou  a guerra que se prolongou  até a independência, em 1962. Em 1956, Grã-Bretanha e França (em acordo com Israel) a zona do Canal de Suez para proteger interesses e reassegurar o poder na região. A oposição dos EUA, URSS e ONU demonstrou a ineficácia de tal método. 
                No sul e no leste, o acontecimento crucial  do pós-guerra foi a eleição de um governo  nacionalista na África do Sul, encabeçado  por D.F. Malan, com o objetivo de estabelecer  uma República Afrikaner e política  de segregação racial (apartheid). No Quênia, os cerca de 40 mil colonos quiseram impor  seu domínio na África Oriental, mas perderam  suas esperanças após 1952, quando os britânicos assumiram o combate à insurreição Mau Mau, contra os colonos. 
            Em 1945, a França acreditava que a Argélia seria reincorporada à Quarta República. Mas essa esperança  foi desafiada pelos manifestantes nacionalistas que antecederam um violenta repressão. As reformas que se seguiram não satisfizeram os nacionalistas argelinos; em 1954, eles formaram a Frente de Libertação Nacional (FLN) e, no mesmo ano, em 1º de novembro, atacaram posições francesas em toda a Argélia. A França se comprometeu a proteger os recursos de petróleo e gás, mas enfrentou um exército clandestino formidável - uma organização revolucionária de inspiração socialista capaz de eliminar até seu rival, o Movimento Nacional Argelino (MNA). Em 1958, a ameaça de golpe militar pelo Exército francês levou De Gaule ao poder na França. Manter a Argélia só seria possível a um preço inaceitável, uma vez que a FLN não poderia ser desmantelada e ao mesmo tempo recusava ofertas de negociação de paz que não incluíssem a independência. Nos acordo de Evian, em março de 1962. De Gaule reconheceu a soberania argelina, mas assegurando a manutenção dos interesses franceses. 
           Em 1953, na África Central, os ingleses criaram a federação  da Nyasalândia e da Rodésia do Norte e do Sul, sob domínio branco. A federação sucumbiu após 1960, não resistindo ao que o primeiro-ministro britânico Harold Macmillan chamou de "ventos de mudança". A independência de Gana incentivou os nacionalistas africanos; Hastings Banda regressou de uma conferência pan-africana em Acra (1958) para chefiar o movimento anti-federação na Nyasalândia (Malaui), enquanto o entusiasmo de Patrice Lumumba acertou a campanha de independência no Congo Belga, atual Zaire. Com a independência da Nigéria e da maior parte das antigas colônias francesas,  1956 parecia ser o ano da África. 
            Durante a década de 60 esse estado de euforia desapareceu. A economia africana mostrou-se frágil; rivalidades étnicas e conflitos políticos no Zaire repetiram-se em outros países; golpes militares e tomadas de poder tornaram-se comuns e levaram, em 1967, à guerra civil na Nigéria. A conquista da independência pelos revolucionários argelinos em 1962, após uma guerra de oito anos, não serviu de lição ao governo português. Os nacionalistas foram levados à guerras revolucionárias nas colinas portuguesas de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Em 1965, Ian Smith declarou ilegalmente a independência da Rodésia, mantendo-a sob domínio branco; o governo britânico não conseguiu sufocar a rebelião de Smith e na década de 70 os nacionalistas também recorreram à rebelião armada na Rodésia (atual Zimbábue). Por trás desses regimes coloniais remanescentes estava o crescente poder econômico e militar da África do Sul que, desde 1961, sem pertencer à Comunidade Britânica, era uma república engajada em medidas contra os nacionalistas africanos. 
          Em 1974, com o fim da ditadura, Portugal abriu caminho à independência das colônias africanas. Em abril de 1980, a luta armada dos nacionalistas, o apoio da Organização da Unidade Africana (OUA) e pressões internacionais por meio do governo britânico levariam à substituição do regime rebelde na Rodésia pela República do Zimbábue. A África do Sul tentou se proteger fortalecendo o controle ilegal sobre a Namíbia e concedendo às reservas de mão-de-obra sul-africanas, conhecidas como bantustões, uma independência aparente. Mas no fim da década de 80 estava claro que o apartheid não sobreviveria. O acontecimento-chave foi a liberação de Nelson Mandela, em fevereiro de 1990, e a abertura de negociações com o Congresso Nacional Africano. 
           Quanto aos novos países, as perspectivas econômicas imediatas eram insatisfatórias. Para alguns, a exploração de petróleo e outros minerais ajudaram a curto prazo, embora muitas vezes às custas do desvio de recursos destinados à produção de alimentos para populações crescentes. Os governo eleitos mostraram-se incapazes de controlar problemas como pobreza e rivalidades étnicas, sendo substituídas por ditaduras militares ou regimes de partido único. Na década de 90, guerra civil, miséria, seca e problemas com refugiados tornaram-se assuntos predominantes no leste e sul da África.
            Entre os anos 1960/65 houve uma série crise no Congo Belga. Facções tribais e regionais no Congo Belga (atual Zaire, independente em 20 de junho de 1960) exigiram uma Constituição federalista. Mas o Movimento Nacional Congolês (MNC), centralista e liderado por Patrice Lumumba, fez oposição ao líder federalista Kasavubu, do partido tribal Bakongo (Abako). Após acordo, criou-se um governo central, mas o Exército, submetido aos belgas, rebelou-se em 4 de julho. A Bélgica enviou tropas para proteger os civis e seus interesses. Em 11 de julho, a província de Katanga, rica em minérios, separou-se sob o governo de Moise Tshombe.  Lumumba e Kasavubu, convencidos de que a Bélgica queria recuperar  seu domínio, pediram ajuda à ONU. Após a exoneração de Lubumba e seu assassinato em Katanga, a ONU interveio com apoio dos EUA, mas a tentativa de acordo com Katanga foi abandonada. Em 1963, Katanga foi ocupada pela ONU. Tshombe, que havia se retirado para Angola, assumiu a presidência  em 1964 e, com auxílio de Bélgica e EUA, abafou nova revolta. Mas ele e Ksavubu  foram depostos pelo Exército de Mobutu em novembro de 1965. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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