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sábado, 23 de janeiro de 2021

ORIENTE MÉDIO E SEUS CONFLITOS --

 


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            A partir de 1945, o Oriente Médio vem sendo alvo de atenção mundial: Israel e seus vizinhos árabes se enfrentam em quatro grandes guerras; Israel invadiu o Líbano duas vezes; o Golfo passou por duas guerras; golpes militares reforçaram um modelo regional de repressão interna; e muitos refugiados foram forçados a fugir de Chipre ao Afeganistão. No período pós guerra, uma combinação de fatores - desgaste trazido pela guerra, pressões financeiras e oposição local - fez com que Grã-Bretanha e França abandonassem o controle formal da área, enquanto o nacionalismo e o envolvimento soviético crescentes ampliaram o interesse dos EUA pela região. 
            Com exceção dos pequenos Estados da península Arábica (que se tornaram independentes por volta de 1971), a maioria dos países do Oriente Médio já havia conquistado a independência formal da Grã-Bretanha ou da França por volta de 1950. Mas esses dois países europeus continuaram tentando manter sua influência por meio de alianças militares ou políticas. Na década de 50, muitas  das monarquias constitucionais e dos regimes republicanos deixados pela Grã-Bretanha e pela França nos anos 30 foram derrubados por golpes militares de inspiração nacionalista. Para muitos líderes do mundo árabe, o êxito de Nasser foi um modelo para as aspirações pela verdadeira independência, principalmente após seu êxito na nacionalização do canal de Suez, em 1956. Entretanto, o nacionalismo pan-árabe e os apelos à unidade árabe mostraram-se frágeis demais para levar a um acordo sobre os problemas da área, particularmente os contrastes gritantes entre ricos e pobres, a ausência virtual de democracia econômica do resto  do mundo. Quase todos os países mais pobres (em especial Jordânia, Síria e Egito) enfrentaram inflação crônica e êxodo rural em massa. Na maioria dos casos até mesmo países mais férteis são importadores de alimentos.  
           Nas décadas de 50 e 60, os EUA exerciam a influência externa mais poderosa no Oriente Médio e usavam o medo da expansão soviética para ampliar seu apoio a Israel que, com Arábia Saudita e Irã (este até 1979), atuou como o principal representante  dos interesses norte-americanos. A URSS apoiou o Egito, o Iraque e a Síria. Embora os líderes desses e de outros regimes locais reiterassem seu compromisso com o anti-imperialismo, com a unidade  árabe, com a causa palestina e com o socialismo revolucionário, a realidade era diferente. Os países árabes foram incapazes de se unir nas guerras contra Israel em 1948, 1956 e 1967. Mas em 1973, embora a vitória sobre Israel não tenha sido alcançada, eles conseguiram pôr em dúvida a reputação de invencibilidade desse país.  
         Apesar da oposição contínua dos árabes, o Estado de Israel se expandiu, desde sua fundação em 1948, para a Cisjordânia e Gaza (1967), Sinai (1956, 1967 e 1982) e colinas do Golã (1967, incorporadas unilateralmente a Israel em 1981). Passou a controlar ainda, desde 1978, uma zona estratégia no sul do Líbano. Mas a visita inesperada do presidente egípcio Anuar Sadat a Israel em 1977 e o tratado posterior entre  Egito e Israel, deram de novo ao Egito, em 1982, a posse da península do Sinai. 
          Para melhor entender Israel e Palestina, é importante lembrar que por muitos séculos a palestina foi composta por uma maioria muçulmana de língua árabe e uma minoria cristã e judaica. Mas, no final do século XIX, as proporções começaram a mudar na medida em que os judeus da Europa Oriental começaram a emigrar, sob pressão da perseguição russa e levados pelo novo ideal "sionista" da recriação de um Estado nacional judaico. Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial o governo britânico se declarou favorável à fundação de um lar nacional judaico na Palestina, desde que a população não-judaica não fosse prejudicada. Essas condições foram incluídas nas cláusulas do mandato pelo qual a Grã-Bretanha administrava o país, sob supervisão da Liga das nações. Mas esse objetivo tornou-se difícil de ser conciliado, principalmente após a ascensão de Hitler, quando a emigração de judeus da Europa para a Palestina aumentou rapidamente (em 1922 os judeus eram 11% da população; em 1936, 29% e em 1946, 32%) Os temores árabes levaram a uma séria revolta antes  da Segunda Guerra Mundial. Após aguerra e o Holocausto, a exigência dos judeus, apoiada pelos norte-americanos, de que  os sobreviventes pudessem imigrar, e o receio dos árabes de que tal imigração levasse a sua submissão ou às expropriação fizeram com que o governo britânico declarasse sua intenção de retirar-se da Palestina. Um plano para dividir a Palestina em um Estado judeu e árabe, com Jerusalém sob controle internacional, foi adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 29 de novembro de 1947, mas foi rejeitado pelos árabes. No dia da retirada britânica, 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclamou o Estado de Israel. Seguiu-se uma guerra entre judeus e árabes palestinos, apoiados pelos Estados árabes vizinhos, cujos exércitos foram derrotados. A maior parte da Palestina tornou-se o Estado judeu de Israel e quase toda a parte restante foi unida à Transjordânia para tornar-se a Jordânia. A Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito. Durante e após os combates, dois tersos dos árabes palestinos  refugiaram-se na Jordânia, em Gaza, na Síria e no Líbano. Depois de 1948, mais três guerras foram deflagradas na região, provocadas pelo desejo dos refugiados de retornarem a seus locais de origem, pelo desejo dos palestinos de  terem seu próprio Estado, pela de Israel em aceitar as reivindicações palestinas, pela recusa dos Estados árabes em reconhecer Israel e pela intervenção de forças externas. A primeira ocorreu em 1956, quando os israelenses, preocupados com incursões de guerrilheiros em seu território, atacaram o Egito em acordo secreto com a Grã-Bretanha e França, mas foram pressionados por EUA e URSS a se retirarem. Na segunda guerra, em junho de 1967, os israelenses ocuparam a margem ocidental do Jordão, a faixa de Gaza, o Sinai e as colinas de Golã, na Síria. Esse segundo conflito foi provocado pela decisão do presidente Nasser do Egito de fechar o estreito de Tiran à frota mercante israelense, o que Israel considerou uma ameaça à sua existência. No terceiro conflito, em 1973, um ataque no Egito e da Síria a Israel obteve êxito limitado e acabou levando a uma nova fase de relacionamento e negociações. Aos poucos, tornou-se evidente que o presidente Sadat do Egito não tinha interesse em manter a luta. Sua visita a Jerusalém em novembro de 1977, e os acordos de Camp David entre Egito e Israel (1978) confirmaram esse fato. Entretanto, o governo do Likud, de Menachen Begin, ampliou o controle sobre a Cisjordânia (ou margem ocidental do Jordão, que reivindicava como parte do Israel bíblico), estimulado a criação de colônias judaicas, procedimento já iniciado por seus antecessores do Partido Trabalhista. O cenário do conflito mudou em 1978, quando Israel  invadiu o sul do Líbano para deter a atividade  dos guerrilheiros palestinos avançando até Beirute em 1982. Neste mesmo ano Israel retirou-se do Sinai, aplicando o acordo de Camp David. Em 1987, começou na Cisjordânia e em Gaza um período de resistência a Israel, conhecido como "Intifada". Entretanto, por volta de 1991, a ênfase recaiu sobre a diplomacia. Após a Guerra do Golfo, os EUA conseguiram envolver Israel e seus vizinhos árabes em negociações de paz.
        Centenas de civis israelenses foram assassinados em ataques guerrilheiros palestinos e milhares de civis libaneses e palestinos morreram nos ataques israelenses ao Líbano, especialmente na invasão que levou israelenses até Beirute, em 1982. Mas enquanto o conflito entre árabes e israelenses parece encaminhar-se para uma possível solução, outras hostilidades no Oriente Médio mostram-se mais mortais. A guerra contra o Irã, lançada pelo presidente do Iraque Saddam Hussein, em 1980, transformou-se numa campanha fatal, que lembrou a guerra de trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Em agosto de 1990, o líder iraquiano envolveu o país em outra guerra, considerada a mais unilateral da história, ao invadir o Kuait e recusar-se a sair, mesmo diante das pressões da ONU lideradas pelos EUA. Esquadrilhas dos EUA e europeias bombardearam o Iraque durante quase seis semanas e depois lançaram um ataque terrestre de cem horas contra as forças iraquianas, em fevereiro de 1991, até sua expulsão do Kuait. O esforço tardio de Saddam em invocar a causa islâmica fracassou e a Arábia Saudita tornou-se base temporária para as forças dos EUA. Grã-Bretanha e França. Mesmo o Egito e a Síria contribuíram com tropas para a coalizão anti-Saddam. O nacionalismo árabe logo após a Segunda Guerra foi laico e seu herói o presidente Nasser do Egito. Mas nos últimos 25 anos do século 20, foi significativa a renovação muçulmana no Oriente Médio; a revolução de 1978/79 no Irã, com a queda do Xá Mohammed Reza Pahlavi, a Revolução Islâmica deu lugar a uma República Islâmica liderada pelo Aiatolá Khomeini estabeleceu uma teocracia islâmica e o fundamentalismo conquistou o interesse de muçulmanos xiitas e sunitas. Tornou-se um símbolo de hostilidade ao Oriente no Irã, aos russos no Afeganistão e a regimes no poder em outros lugares. O fervor islâmico também arraigou-se nos territórios árabes ocupados por Israel após a guerra de 1967, embora a força política dominante ainda seja a organização para a Libertação da Palestina (OLP). Mas enquanto Israel rejeitava, no final de 1991, a inclusão da OLP nas negociações de paz para o Oriente Médio, medidas pelos EUA, outros países perceberam que as lideranças palestinas eram leais a OLP. As negociações representaram um marco nas relações entre árabes e israelenses: a pressão dos EUA e as mudanças regionais após a Guerra do Golfo levaram Israel a negociar com seus vizinhos. 
               Em 2001, como resposta aos ataques terroristas do "11 de setembro", George W Bush (EUA) incluiu o Iraque como "eixo do mal" e abriu caminho para uma campanha militar norte-americana contra o país.  Saddam Hussein foi preso pelos norte-americanos e entregue a seus executores iraquianos, que o enforcaram em 30 de dezembro, daquele mesmo ano, em Bagdá. 
          Ao mesmo tempo, as disparidades sociais aumentaram muito no Oriente Médio. Com exceção de Irã e Argélia, onde não houve avanço na redução das altas taxas de natalidade, a riqueza do petróleo e as pequenas populações proporcionaram aos países do Golfo algumas das rendas per capta mais altas do mundo. Mas transformou-os (como Arábia Saudita e Líbia) em pontos de atração de imigrantes do Egito, Jordânia, Iêmen e subcontinente indiano. O crescimento urbano descontrolado no cairo, por exemplo, em 12 a 15 milhões de habitantes, provocou a mudança de muitos egípcios para países ricos em petróleo, escapando das duras condições de vida em seu país. Mas as pressões demográficas têm sido mais intensas no Líbano, onde o êxodo rural dos muçulmanos xiitas para beirute, iniciado na década de 50, levou à criação de mais favelas além das dos campos de refugiados palestino, um ingrediente a mais para a receita de uma guerra civil. 
          O petróleo é a riqueza natural mais valiosa da região. A produção e as rendas cresceram com o aumento dos preços decretado pela OPEP em 1973. Entretanto, os números mais recentes mostram o impacto provocado pela guerra entre Irã e Iraque. Ironicamente, a abundância de petróleo contribuiu para agravar a inflação em países mais pobres. Além disso, a escassez local de mão-de-obra especializada transformou a imigração em grande escala  e a presença de grande proporção de trabalhadores estrangeiros em  características permanentes da região. 
           O Golfo Pérsico permanece a região de petróleo e gás natural mais explorado do mundo. Entretanto a participação da área na produção mundial caiu de 41% em 1979, para 26% em 1991. Na década de 80, a guerra entre o Irã e o Iraque interrompeu, em parte, a exportação de petróleo do Golfo. A invasão do Kuwait pelo Iraque teve como efeito imediato a quase eliminação da produção nesses dois países. Mas outros países, notadamente a Arábia  Saudita, aumentou a produção em quantidade suficiente para preencher o vazio deixado pela guerra. 
            Nos anos 70 surgiu a crise no Líbano. O sistema político libanês baseava-se na distribuição de cargos entre as diversas  comunidades (as cristãs maronita, ortodoxa, católica e armênia, as muçulmanas sunita e xiita e a drusa), privilegiando os maronitas (embora, na década de 70, estes, de longe, não constituíssem a maior comunidade). As forças  de oposição muçulmanas, às quais se somaram, na década de 70, os guerrilheiros palestinos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), deflagraram uma guerra civil com o objetivo de alterar o equilíbrio do poder. A Síria interveio em 1976 e suas tropas permaneceram no país como força de ocupação. 
           O Líbano acabou se transformando no principal palco do conflito árabe-israelense. Israel invadiu o Líbano em 1978 e, de forma mais contundente, em 1982, quando expulsou de beirute a liderança  da OLP. Em 1985, após a retirada das forças israelenses  de todas as áreas ocupadas, exceto de uma zona de segurança no sul, a luta entre as facções continuou e tornou-se violenta entre as milícias cristãs. As eleições realizadas em 1992, após acordo précio sobre a divisão  de poder (obtido nas negociações de Taif, Arábia Saudita), foram boicotadas pelos cristãos, que fizeram objeção à permanência no país das tropas sírias. 
           É pouco provável que as potências ocidentais deixem de tentar exercer influência no Oriente Médio, seja para garantir o fornecimento de petróleo ou para a possível proteção de povos perseguidos, como os curdo do norte do Iraque. O fim da URSS pode ter encerrado rivalidades entre super potências, mas o surgimento de novos Estados com populações muçulmanas na região antes ocupadas pela URSS não aliviou as ansiedades ocidentais em relação à região. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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