Total de visualizações de página

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

A EUROPA DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL --






       A partir de 1945, em consequência da gerra mundial, o cenário da Europa era de desorganização política e prostração econômica. Deslocamentos de população em larga escala, agravavam a situação. O panorama era desolador; a incerteza política, instigada pelo antagonismo entre EUA e URSS, tolhia os esforços de recuperação.
             A Alemanha pós-guerra não apenas perdeu territórios; em 1945 para a Polônia e URSS, como também foi dividida em zonas britânica, norte-americana, soviética e francesa. Berlim foi dividida  em quatro setores, com cada um governado por uma das potências de ocupação. Os vencedores pretendiam tratar  o país como uma unidade, mas em 1948 a cooperação entre eles havia se deteriorado. Grã-Bretanha e EUA já haviam unido suas zonas em 1947 e, junto com a França, começaram a preparar a formação do governo da Alemanha  Ocidental. A URSS reagiu por meio de um bloqueio, tentando forçar as potências ocidentais a abandonarem Berlim. Mas esse bloqueio foi  rompido através de uma ponte, que levou suprimentos para Berlim Ocidental em 1948/49. Em 1958, os soviéticos fizeram nova tentativa  de bloqueio. A crise culminou, em agosto de  1961, com a construção do Muro de Berlim. 
            Com o fim do Terceiro Reich de Hitler, em 1945, foram libertados milhares de prisioneiros de guerra e trabalhadores escravos encarcerados na Alemanha durante o conflito. Cerca de 5 milhões de prisioneiros russos, refugiados, militares e homens a serviço do governo foram repatriados à força. A expulsão dos alemães de alguns de seus territórios anteriores à guerra, especialmente na Europa Oriental, e de terras anexadas no fim da década de 30 constituíram movimentos populacionais marcantes. Outro movimento populacional, no fim do conflito, foi resultado da expansão da URSS para oeste, particularmente a anexação dos Estados bálticos: Estônia, Letônia e Lituânia.  
             O desmantelamento da "Nova Ordem" alemã e a reconstrução política da Europa ocorria à sombra do conflito americano-soviético. As fronteiras da Europa foram estabelecidas nas conferências de Yalta e de Potsdam, entre URSS, Reino Unido e EUA, em fevereiro, julho e agosto de 1945, respectivamente. A Alemanha e a Áustria -  a"Anschluss "(anexação) de 1938 foi anulada - foram divididas em zonas de ocupação sob controle de quatro potências.  Só em 1955 a Áustria ressurgiu como Estado independente e a Alemanha Ocidental  recuperou plena soberania. Havia ainda um Conselho de Controle Interaliado em Berlim que, embora dentro da região soviética, era dividida em zonas. Isso criou problemas para as potências ocidentais, culminando nas crises da "ponte aérea" de 1948/49 e 1958/61, quando os soviéticos tentaram anexar a parte ocidental de Berlim para transformá-la em cidade "livre" desmilitarizada. A última crise culminou na construção do Muro de Berlim, em agosto de 1961.  
             Os dois novos Estados alemães foram constituídos em 1949. A Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha - RFA) juntou-se à Comunidade Européia do Carvão e do Aço (Ceca) em 1952 e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1955. A Alemanha Oriental comunista (República Democráticas da Alemanha - RDA) juntou-se ao novo Pacto de Varsóvia em 1955. Por muitos anos, as potências ocidentais recusaram-se a reconhecer a RDA. Em 1972, a Alemanha concedeu o reconhecimento seguida em 1975 pelas demais potências ocidentais. 
            As duas partes da Europa se  desenvolveram de modo diferente: na Ocidental, democracia e avanço sem precedentes de consumo, com os problemas decorrentes; na Oriental, opressão, privação e miséria. Desde 1947, quando os EUA lançaram o Plano Marshall para recuperação econômica, a Europa Ocidental viveu um milagre econômico. Nesse processo - liderado pela Alemanha Ocidental, forçada a reconstruir suas  indústrias-, integração de mercados, mobilidade de mão-de-obra e respostas flexíveis à tecnologia asseguraram a prosperidade.  
          Os seis países da Ceca, formada em 1952,  reuniram-se para construir, em 1957, a Comunidade Econômica Européia (CEE), que depois se tornou a Comunidade Europeia (CE), à qual se juntaram, em 1973, Reino Unido, Irlanda e Dinamarca. A CEE sustentou o renascimento da Europa Ocidental. Entre 1958 e 1962, o comércio entre países membros cresceu 130%. Em sete anos, a produção industrial italiana cresceu 103%. Mas os benefícios se restringiram aos países centrais. Permaneciam atrasados países de áreas periféricas, como a Grécia e países ocidentais não-participantes da CEE, como Espanha e Portugal. Havia também bolsões de depressão persistentes. A Irlanda do Norte, próspera depois da grande guerra, foi atrasando-se após 1969, com a escalada do terrorismo. Na França houve agitação na Bretanha, onde a renda média era de apenas 60% em relação à registrada em Paris; o mesmo ocorreu na Córsega. O crescimento foi refreado em 1973, quando o petróleo barato, que sustentara a prosperidade do Ocidente, subiu 250%, um aumento imposto pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). 
              A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, em 1949) é mostrada em confronto com o Pacto de Varsóvia de 1955. As organizações  econômicas foram a CEE, formada em 1957, e o Comecon, organizado em 1949. 
          Entre 1960 e 1981 houve muitas mudanças na estrutura econômica da Europa. Houve considerável declínio  no número  de trabalhadores dedicados à agricultura. Mesmo nos lugares em que a principal  fonte de emprego, no início de 1960, essa atividade foi mais tarde superada por setores industriais e de serviços. Embora no bloco oriental  e em outros países, antes predominantemente  agrícolas, tenha aumentado o número de empregados na indústria, a maior parte da Europa Ocidental sofreu uma depressão industrial  com o aumento dos empregados no setor de serviços. Mesmo onde  não era a principal fonte de emprego, esse setor  cresceu muito após a guerra.  
            Apesar das dificuldades de suas economias centralizadas, a Europa comunista também registrou altos índices de crescimento. Não foram acompanhados, porém, de surtos de consumo e a população provocada por indústrias pesadas tornou-se um problema sério em muitas regiões. Além  disso, ocorreram agitações contra dirigentes comunistas no Leste e contra a presença soviética. Esta levou a revoltas violentas.  Em 1953 na Alemanha Oriental; em 1956 na Polônia e na Hungria, onde a repressão foi mais sangrenta; em 1967/68 na Tcheco-Eslováquia  e em 1970 outra vez nas Polônia. Todas foram esmagadas pelo Exército soviético ou polícia e Exército locais. 
            Em 1970, ainda dividida em três blocos - ocidental, comunista e neutro -, a Europa havia, politicamente, entrado em novo período. As antigas tensões estavam afastadas e nova era de cooperação foi inaugurada.  
             Os regimes fascistas surgidos antes da  Segunda Guerra Mundial sobreviveram  até os anos 70 em dois países europeus: Portugal e Espanha. A democracia foi restaurada nesses dois países no espaço de  um ano: em 1974, em Portugal, em consequência da derrota nas guerras coloniais na África; em 1975, na Espanha, em decorrência  da morte do general Franco. O processo de mudança foi mais fácil na Espanha onde, apesar da tentativa de golpe da direita em 1981, o rei Juan Carlos exerceu um poder  moderador. A Espanha entrou na OTAN em 1982; em 1986, os dois países ingressaram na Comunidade Européia (EC). O ano de 1974 também testemunhou a restauração da democracia na Grécia, até então governada  por uma junta de direita que tomara o poder em 1967. A Grécia juntou-se à CE em 1981. 
             Essas mudanças no sul da Europa foram pequenas se comparadas aos acontecimentos  na Europa Oriental no final dos anos 80, incluindo a desintegração da URSS e a queda do compromisso na Iugoslávia e Albânia. Tão notável quanto o fim de um sistema que parecia permanente foi a criação, no vazio deixado, de 15 novos países. 
            As razões de mudanças tão imensas foram políticas e econômicas. Nas décadas de 70 e 80, as economias do bloco comunista sofreram rápido declínio. Taxas de crescimento zero e dívidas volumosas decretaram a falência econômica. Sem condições de garantir a sobrevivência dos aliados, a URSS os abandonou. Em abril de 1987, em Praga, Gorbatchov declarou que "todo o sistema de relações políticas existentes entre os países socialistas pode e deve ser construído de maneira inabalável sobre os alicerces da igualdade e da mútua responsabilidade. Nenhuma nação tem o direito de exigir privilégios especiais no mundo socialista. A independência de cada partido, sua responsabilidade para com seu povo, o direito de resolver de forma soberana, questões relativas ao desenvolvimento do país - esses são para nós princípios inquestionáveis". Não poderia haver indicação mais clara para os líderes da Europa Ocidental de que deveriam agir por conta própria. A doutrina Brejnev, formulada após a invasão soviética da Tcheco-Eslováquia em 1968, através da qual a URSS reivindicava o direito de intervir nos assuntos internos dos Estados-satélites caso ameaçassem romper com Moscou, passou a ser repudiada. 
              A sucessão de fatos que levou à queda do comunismo começou em agosto de 1988 com greves e manifestações na Polônia, exigindo o reconhecimento do sindicato Solidariedade. Até por volta de 1991, houve eleições livres nos países da região, inclusive na URSS, e as duas Alemanhas foram reunificadas. Exceto na Romênia, a mudança foi pacífica, embora a tentativa de golpe na URSS, em agosto de 1991, tenha ameaçado deflagrar uma guerra civil. Era inevitável que mudanças tão rápidas trouxessem problemas: instabilidade política, com ex-comunistas buscando assegurar sua autoridade; conflitos étnicos, com velhos nacionalistas procurando reafirmar-se; e crises econômicas, com novos governos buscando recuperar as economias de seus países, passando do comunismo ao capitalismo. 
             A rapidez com que o comunismo se deteriorou na Europa Oriental e na própria União Soviética depois de 1988 foi extraordinária. O que foi interpretado como um sistema definitivo provou ser uma ilusão. Após a dissolução formal da URSS, em dezembro de 1991, a grande experiência de Lênin chegou ao fim. Entre os fatos que se seguiram, destacando-se a quantidade de novos países formados e os conflitos étnicos sobretudo na antiga Iugoslávia, que reapareceram  quando antigas identidades puderam manifestar-se livremente. A reconstrução da região tem sido dificultada por serias crises  econômicas em cada ex país comunista, pela fragilidade das novas instituições democráticas e pela tentativa de muitos ex-comunistas em recuperar a autoridade perdida. A luta pelo controle dos enormes arsenais convencionais e nucleares da ex-URSS contribuiu para a instabilidade.  
           A mudança foi mais avassaladora na Iugoslávia que, em 1991, se desintegrou sob pressão de rivalidades até então contidas entre os grupos étnicos. Em junho de 1991, a independência da Eslovênia e da Croácia foi seguida por uma guerra civil de sete meses entre croatas e sérvios. Em janeiro de 1992, irrompeu a guerra envolvendo sérvios, croatas e muçulmanos na Bósnia-Herzegóvina. Diante da luta feroz e da evidência de "limpeza étnica", novo nome para a remoção sistemática e, às vezes, extermínio de etnias rivais, a ONU impôs sanções à Servia. Tentativas de acordo fracassaram. Na Tcheco-Eslováquia, a eleição de junho de 1992 revelou tensões entre tchecos e eslovacos e, no final daquele ano, o país dividiu-se em dois, a República Tcheca e a Eslováquia.  Mesmo na ex- Alemanha Oriental sustentada por seu parceiro ocidental e onde a queda do Muro de Berlim gerara entusiasmo em relação ao futuro, o retorno à democracia foi doloroso. Apesar do desejo de sucesso da democracia e das reformas econômicas, permaneceram insolúveis problemas decorrentes da reestruturação de sociedades empobrecias pelo comunismo.
          Os antigos países comunistas visavam, a longo prazo, a participação na Comunidade Europeia, que continuou a expandir-se nas décadas de 70 e 80. As primeiras eleições diretas para o Parlamento Europeu aconteceram em junho de 1979. Em 1985, na tentativa de garantir futuro próspero, a CE estabeleceu um cronograma de trabalho que previa a criação de um mercado comum europeu, em que a CE seria uma única zona de livre comércio. Alguns países membros quiseram avançar mais rapidamente para a integração e, em 1989, propostas para uma união monetária e uma carta de direitos sociais foram colocadas em discussão. Apesar do temor da substituição da soberania nacional por uma burocracia autônoma, ainda que bem intencionada, que sufocaria a competitividade internacional dos países  da comunidade, os membros da CE concordaram, em Maastricht, em dezembro de 1991, em empenhar-se na integração econômica e monetária e no estabelecimento de políticas comuns  de relações exteriores e segurança. Apesar de os dinamarqueses terem rejeitado  tal proposta no plebiscito de 1992 (voltaram atrás na decisão em novo plebiscito, um ano depois) e do ceticismo de alguns ex-entusiasmados defensores da ideia, a CE  manteve seu objetivo. Os problemas enfrentados resultaram de dificuldades em atingir a "convergência" econômica entre os países membros. O Sistema Monetário Europeu, vinculado as moedas existentes na comunidade a bandas cambiais preestabelecidas, essenciais, para a existência de uma moeda única, quase fracassou com a saída do sistema da Itália e Grã-Bretanha, no segundo semestre de 1992. Do mesmo modo fracassaram tentativas de formular uma política  comum de relações exteriores. A euforia  dos meses que se seguiram à queda do Muro de Berlim deu lugar à incerteza e ao temor: recessão, conflitos étnicos e guerras civis voltaram à Europa.  
               O  terrorismo tem atormentado parte da Europa intermitentemente desde 1973. Em nenhum lugar tem sido tão implacável quanto na Irlanda do Norte. Posições profundamente arraigadas, tanto da parte dos nacionalistas, principalmente do IRA - que exige a união com a república da Irlanda - quanto dos legalistas - determinados a manter as ligações da província com a Grã-Bretanha -, estimulam a violência sectária , resistente a qualquer acordo político. Enquanto outras organizações terroristas na Europa foram desmanteladas as da Irlanda do Norte estão enraizadas na estrutura da vida  da província. 
              Os diversos pedidos de admissão na Comunidade Europeia comprovam sua importância econômica na Europa. Os países da Associação Européia de Livre Comércio, menos Suíça e Islândia, pediram sua admissão em 1994/95, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Romênia também se candidataram à admissão. Acordos comerciais já existentes com Turquia., Malta e Chipre também podem levar esses países a integrar a CE. A Ucrânia foi o único ex-Estado soviético a pedir admissão, mas outros já fizeram consultas informais sobre a questão. 
.
Nicéas Romeo Zanchett  
.
PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário