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domingo, 8 de novembro de 2020

A CIVILIZAÇÃO DO POVO ASTECA

 



       As primeiras culturas mesoamericanas  que se seguiram à maia foram a tolteca e a asteca. Os toltecas, um povo militarista do norte que estabeleceu sua capital  em Tula, foram capazes de fazer coexistir a vida urbana dos povos que conquistavam com elementos de sua cultura tradicional. No centro religioso maia de Chichén Itzá, em Yucatán, ergueram um enorme recinto cerimonial com uma pirâmide  em degraus e um poço sagrado dentro do qual eram jogadas oferendas, como ouro, jade, incenso e seres humanos. Do ponto de vista artístico, os toltecas  eram e nos sofisticados do que seus antepassados maias; os monumentais suportes  do telhado  de um dos templos que sobrevivem em Tula refletem de forma clara a natureza militarista e a religião sanguinária destes povos construtores de impérios. 
     Separados dos incas pela mata fechada do istmo do Panamá, os astecas da América Central controlavam um poderoso império organizado de acordo com regras muito diferentes. ne hum sistema unificado de estradas dos astecas ligava internamente regiões e Estados independentes como os de Tlaxcala e os mixtecas. Apesar disso o Império Asteca era uma potência temível e, da mesma forma que os incas, incorporavam antigas tradições de governo e civilização 
          Montezuma I, ainda que imperador por direito divino, experimentou, no meado do último século de nossa Idade Média, o desejo humano de conhecer o berço natal de seu povo. Convocou os mais vigorosos de seus sacerdotes e os encarregou de perfazer, em outro sentido, o longo caminho percorrido pelos ancestrais, de  encontrar, novamente, Aztatlan. 
          Os sacerdotes, apesar de seus méritos, não puderam ir além de Tula. Entretanto, quando se apresentaram novamente ao imperador, afirmaram que os deuses vieram em seu auxílio, vestindo-os de peles de animais mágicos, o que lhes permitiu verem Aztatlan em sonho...
            Evidentemente que se tratava de uma pura mentira. 
Montezuma I encerrou-se em seu palácio e rememorou a tradição dos antigos, que havia aprendido de cor;  tinha certeza que seu povo viera de Aztarlan (ninho das garças) longe, longe, muito longe ao noroeste do México. Ele descendia em linha reta, igualmente, de um outro lugar chamado Chicomoztoc (As Sete cavernas ou as Sete raças). 
          Segundo a tradição, as grandes famílias  que deixaram Aztatlan eram os Chicimeques (povo do arco e das flechas), os Malinalcas (povo  da erva trançada), os Cuitlahuacas (povo da caixa d'água) os Tepaneques (povo do pallácio ou da pedra), os Matlazincas (povo da rede), os Xochimilcas (povo do campo florido),, os Huexotzinacas (povo do salgueirinho) e os chalcas (povo de jadre). 
          Mas de todos, os favoritos do deus Huit zilopochti eram, ainda, os Astecas. 
         Para prová-lo, o deus tomou cada um deles, friccionou-lhes, com resina, as orelhas e a testa, sobre os quais colocou penachos para designá-los, perante todos, como os filhos de seu povo eleito. Exigiu que mudassem seu nome para "mexicanos", derivado de seu próprio segundo nome, Mexitli. 
           Todas as tribos perambularam juntas longamente, até que, um dia, uma árvore tombou sobre o templo de Huitzilopochtli-Mexitli. Então os Astecas compreenderam o sinal e repararam-se dos outros, exceto dos Chichimeques, e foram em busca do local onde seria edificada a cidade. Longa foi a caminhada, numerosos os obstáculos. Muitos morreram antes de atingir, num primeiro tempo, Tula, a antiga capital dos Toltecas. 
            Maravilharam-se com o que viram. E aprenderam o culto local de Tezcatlipoca, cujo espelho mágico fazia chover à vontade. 
         Falavam aía mesma língua, o nauatle. Foi assim que os viajantes vieram a dsaber que, em 900 d.C, o chefe dos Toltecas, Mixcoati (Serpente-nuvem), procurando uma esposa, encontrou  uma criatura de grande beleza. Foi durante uma caçada que a avistou e perseguiu, atirando flechas para fazê-la parar. Com grande surpresa, porém, viu que a bela se apoderava das flechas em pleno voo. Seu nome era Chimalma (Mão-escudo) e, passando o primeiro espanto, o o chefe a desposou. 
           Um dia Chimalma engoliu, por descuido, um fragmento de jade azul-esverdeado e engravidou, o que, num certo sentido, encolerizou seu senhor e marido, embora a perspectiva de um filho o alegrasse. Entretanto, não teve a felicidade de conhecer essa criança, pois seu próprio irmão, Atecpanecatl (Senhor do palácio das águas) o matou e tornou-se soberano dos Toltecas. 
          A criança recebeu o nome de Topilzin (Nosso Príncipe) e, como nascera no dia de Cecatl (1º caniço), seu nome inteiro foi reconhecido como Ce Acatl Topilzin. Esse príncipe encantador, dotado de grande inteligência, foi educado na escola sacerdotal de Xochicalca onde, ainda hoje, podemos admirar a magnífica pirâmide elevada à glória da Serpente de penas. Topulzin destacou-se por suas excepcionais qualidades e tornou-se o grande sacerdote do deus Quetzalcoatl (A Serpente  de penas). Identificou-se tanto e tão bem com esse deus, que passou a ser conhecido como Ce Acatl Topilzin Quetzalcoatl. 
          Foi  então que se pôs à procura dos restos mortais de seu pai; encontrou-os e deeu-lhes uma sepultura decente, em Cuitlahuac, hoje Tlauac, onde Mixcoatl repousa em paz. Depois de matar  seu tio Atecpanecatl, que fizera dele um órfão, estabeleceu o culto de Mixcoatl, deus caçador, companheiro imortal dos cervos. 
          Transportou, então, seu povo para mais  longe e fundou a cidade de Tula, tornando-a magnífica. Ao mesmo tempo ele adquiria uma reputação de grande sabedoria e santidade. 
           Em sua migração, Ce Acatl Topilzin Quetzalcoatl aceitou a companhia do povo dos Nonoalcas (os surdo-mudos ou os que não sabem falar) de quem, com efeito, ninguém, entre os Toltecas, conhecia a linguagem. Mas não deviam lamentá-lo, pçois esses nonoalcas se revelaram notáveis construtores: em Tula, edificaram templos e esculpiram astátuas magníficas. (Não é impossível que os nonoalcas sejam os sobreviventes do império de Teotihuacan, grande civilização religiosa que precedeu a dos Toltecas). 
         Topilzin guardava em seu coração um fraco por eles, tanto mais que eles adoravam o mesmo deus, o de seus avós, que se tornou o seu e ele mesmo, Quetzalcoatl (A Serpente de penas), enquanto que seu próprio povo, os Toltecas, dedicavam um culto ao deus de seu pai, Tezcatlipoca.
       O príncipe tentou uma reforma, decretando que os sacrifícios humanos fossem abolidos eque as únicas oferendas autorizadas consistiriam  em borboletas, flores e incenso. 
        Isso perturbou muito seu povo, pois sem sacrifícios humanos a chuva talvez não caísse, as colheitas seriam consumidas, o que resultaria na miséria... 
        A preocupação aumentava, mas seu amor  pelo jovem príncipe-deus, piedoso e casto, não mudava. 
           Para tranquilizá-los, Topilzin ia à noite à montanha e tirava sangue das veias com a ajuda  de uma longa agulha, feita com um espinho de cacto. Seus amigos Nonoalcas lhe confiavam extraordinários segredos. Dessa maneira Topilzin pôde ensinar aos vulgares Toltecas como trabalhar o ouro, a prata, usar vestes ricamente ornamentadas e, sobretudo, como fazer crescer algodão e milho de todas as cores do arco-íris. 
            Apesar das maravilhas que lhes ocasionava Topilzin, os Toltecas se recusavam a adorar Quetzalcoatl, pelo menos com deus único. Temiam as terríveis represálias do sanguinário Tezcatlipoca, seu deus tradicional, sedento de sangue humano dos sacrifícios que Ce Acatl Topilzin Querzalcoatl lhe recusava havia tanto tempo. A preocupação se apoderou deles de tal maneira, que começaram a conspirar contra seu encantador príncipe-deus. 
         Durante esse tempo, Tezcatlipoca  se aliava a dois outros deuses domal e multiplicavam  os sortilégios para forçar Topilzin a deixar Tula. 
       Cega mesmo a entrar na câmara obscura  do templo onde o jovem príncipe-deus  estava em oração. Ele estendeu um espelho mágico que inventara. do-se nele, Topilzin Quetzalcoatl viu um abominável velho enrugado e teve medo: 
            - Se os meus me vêem assim, fugirão. 
       Para acalmá-lo apareceu a divindade maléfica Coyotlinahual (Feiticeiro-coiote) e disse-lhe: 
           - Vou te ajudar a aparecer diferente. 
            Em seguida o disfarça com uma máscara de tintura vermelha e penas. 
       Durante esse tempo, o terceiro deus mau Lhuimecal preparou, em sua caldeirinha infernal, um grande pirão de tomates, pimentão, cebolas, chile, milho e feijão. Misturou tudo num vaso de barro, acrescentando mel selvagem com pulque, álcool terrivelmente embriagador. 
           Convidado a jantar pelos três deuses, Topilzin Quetzalcoatl, por delicadeza, provou o pirão, decidido, no entanto, a não beber. Apenas o prato estava de tal maneira picante, que não pode comer. Molhando um dedo na bebida, passou-o sobre os lábios irritados. Depois, com os quatro dedos, repetiu a operação. A seguir, usando a mão em conha, bebeu avidamente...
          Levantou-se, dançou e eufórico pediu: 
           - Vão procurar minha irmã, a adorável Quetzalpetlatl, (Trança de penas), para que bebamos juntos... 
           Quando despertou, muito mais tarde, sua irmã repousava despida a seu lado, cabelos despenteados... Topilzin Quetzalcoatl, horrorizado, compreendeu que, durante a embriaguez, perdera sua castidade e com ela sua dignidade sacerdotal. 
          Chorando, o príncipe-deus fugiu, rodeado  de seus fiéis Nonoalcas acabrunhados. Exilou-se em Cholula, no atual Estado de Publa. Aí passou, dizem, uma vintena de anos. Depois, transportou-se com seus sacerdotes à atual região de Vera-Cruz, em Coatzacoalcos. Lá, ouviram-no ensinar sua doutrina até o dia em que, anunciando sua nova partida, prometeu: 
           - Voltarei pelo lado onde nasce o sol, na data do meu aniversário, Ce Acatl...
           As crônicas maias ensinam que Topilzin  Queatzalcoatl perambulou pela região entre o ano 987 e 1.000, sobretudo em Tillan Tlapallan. Viram-no instalar-se em Mayapan e Chichen Itza, onde o chamaram Kukulkan. 
           Passou, então, à lenda. 
      Sim, convém dizê-lo, pois daí por diante as versões variam. Uma afirma que foi lançado numa enorme fogueira funerária em Tlatayan. Uma imensa fumaça negra se elevara depois, transformada em pássaro maravilhoso de plumagem resplandescente... Outra afirma que se lançou ao mar sobre uma grande jangada formada de troncos reunidos. cujos liames eram serpentes enlaçadas.
          Mas os Astecas, recém-chegados à Tula abandonada, pretendem saber que Topilzon Quetzalcoatl partiu para o planeta Vênus, que chamam  Tlahuizcalpantecuhtli (Senhor da casa da aurora), também chamado estrela da manhã, planeta mãe, aquele de onde vem homens e deuses. 
              Seja como for, uma coisa é certa, impressionante: Toplzin Quetzalcoatl despareceu na data de Ce Acatl, prometendo voltar na mesma data, em outro ano. 
            Ora, quando muito mais tarde o calendário trouxe novamente a data de Ca Acatl e pelo menos oito presságios anunciaram um acontecimento fulminante, Fernão Cortês, adversário também dos sacrifícios humanos, desembarcou no México...
             Depois que Tipilzin Quetzalcoatl desapareceu no infinito invisível e se foi, banido de Tula, os soberanos que lhe sucederam evitaram a intimidade com os deuses, contentando-se em guerrear. Em compensação, sacrificavam voluntariamente ao culto da personalidade, mandando erigir estátuas sob diferentes aparências, dando, no entanto, a preferência àquela que traz entre as mãos um atlatl, bastão propulsor de flechas ou de dardos comprimidos, próprio dos astecas, a quem se lhes atribui a invenção. Eles reconquistaram o velho império de Teotihuacan e ocuparam todo o México Central. Sua influêncxiase exercia até à atual Vera-Cruz ao norte e ao atual estado de Guerrero do Sul. 
        
          A história do Estado asteca começa em 1345 com a fundação de sua capital, Tenochtitlán, em uma ilha pantanosa no lago Texcoco.
        Para compreender seu nascimento, devemos nos reportar à queda da grande cidade de Teotihuacán no século VIII d.C., fato que deixou um vazio de poder na América Central. Aproveitando-se disto, várias tribos bárbaras desceram a partir de suas terras desérticas no noroeste do México. As de maior êxito foram os toltecas, cuja expansão deveu-se a uma operação militar organizada. Seu Exército sustentava-se confiscando excedentes de alimentos de acordo com um primeiro sistema tributário. Os toltecas adotaram o sistema de vida urbana dos povos que conquistaram, porém, respeitavam elementos de sua própria cultura tradicional. Na capital tolteca, Tula, fundada ao redor do ano de 950, foi reconstruída a pirâmide de degraus de Quetzalcóatl com o estilo característico de Teotihuacán. Inclusive Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada, era um deus adotado pelos toltecas da região primitiva de Mesoamérica.   
        Os toltecas introduziram um novo militarismo na civilização da América central. Isto este associado às mudanças religiosas sanguinárias que continuariam na época asteca. A tradição diz que, ao redor de 987, o culto de Quetzalcóatl   foi proibido em Tula e seu líder, Topiltzin, banido. Dizia-se que Topiltzin havia zarpado  com seus seguidores do Golfo do México, para fundar novamente o centrocerimonial em Chichén Itzá, no Yucatán Setentrional. O exílio de Quetzalcóatl, que representava o poder teocrático tradicional, foi obra dos seguidores  de um deus das tribos tolteca, Tezcatlipoca, senhor da vida e da morte, amo dos feiticeiros e protetor das ordens guerreiras das águias, onças e coiotes. Tezcatlipoca personalizava o poder secular, sedento de sangue, e pela primeira vez na Mesoamérica outorgava-se grande importância aos sacrifícios humanos. Acreditavam que, ainda que   os dias da Criação estavam contados, o fim podia ser adiado festejando aos deuses com alimento sagrado sob forma de sangue humano e corações. Desta forma, começou uma orgia de sacrifícios humanos que persistiria na América Central por mais de 500 anos. 
    O Estado tolteca durou poco mais de 200 anos, e Tula foi vencida pelos chichimecas ao redor do anos de 1170. O fato sucedeu a um outro período de confusão e conflitos destruidores onde pequenas Cidades-Estados lutavam umas contra as outras pela hegemonia política e militar. A esta terra convulsionada chegaram os astecas. Enquanto a Europa lutava contra as garras da Peste negra, os astecas construiríam sua capital,Tenochtitlán, e, sob influência da vizinha Cidade-Estado de Azcapotzalco, transformava-se de uma tribo semicivilizada a uma organizada e poderosa Cidade-Estado. A verdadeira expansão militar começou com a formação da Tríplice Aliança entre Tenochtitlán e as Cidades-Estados circundantes de Texcoco e Tlacopán e, no ano de 1428, sob seu primeiro e grande governante Itzacóat (1427 - 1440), os astecas derrotaram e conquistaram Azcapotzalco. Eles conseguiram controlar as cidades que pagavam tributos ao inimigo vencido e, em 1520, ocuparam o litoral do Pacífico e o golfo na América Central, dominando os territórios até a Guatemala. 
            A sociedade asteca estava liderada por um sacerdote-rei educado, como toda a nobreza, no exclusivo colégio de Tenochtitlán. Era eleito entre  os membros da família real, por um conselho de nobres, sacerdotes e guerreiros que se consideravam como o povo eleito que preservava as tradições dos toltecas. O Estado asteca era um regime militarista com um enorme e bem equipado exército profissional, dedicado às conquistas de territórios e, o mais importante, a cobrança de impostos. Para Tenochtitán eram enviados ouro, algodão, turquesa, plumas, incenso e grande quantidade de alimentos que foram registrados em listas detalhadas de tributos. No entanto, para os astecas o tributo mais significativo obtido dos povos vassalos traduziram-se no grande número dee prisioneiros destinados ao sacrifício na capital. O principal motivo do militarismo asteca era a necessidade diária de vítimas para o Deus Sol, Huitzilopóchtli. Damesma forma que o deus tolteca Tezcatlipoca, este requeria ser alimentado com sangue humano para impedir o fim do mundo. 
             Finalmente, a sede desangue não pode ser saciada e o Império Asteca, assim como o Inca, encontrava-se em dificuldades quando os primeiros soldados espanhóis chegaram, no ano de 1519. O imperador esteca reinante, Montezuma II, temia que os barbudos e pálidos estrangeiros chefiados por Hernán Cortês fossem Quetzalcóatl e seus seguidores retornando, de acordo com a antiga profecia, do exílio imposto pelos toltecas há tantos séculos. Este Temores foram reforçados por fenômenos da natureza e pela rápida propagação de doenças infecciosas trazidas pelos europeus.  





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