A história dos reinados e impérios negros da África admite, ainda hoje, muitos pontos obscuros e muitas lacunas. A vida e depois a morte deste ou daquele reino, o esplendor e depois a queda brutal deste ou daquele império, nos são em grande parte desconhecidos. Há muitas razões para isso. Os Estados africanos que existiram durante a Idade Média deixaram apenas arquivos raros, incompletos e, frequentemente, incompreensíveis. E a maior parte desses estados não dispunha de arquivo algum. As outras fontes, sejam escritas ou orais, são frequentemente imprecisas, até incoerentes, e é preciso constantemente interpretá-las e retificá-las. "A história da África medieval", escreve o grande arqueólogo Henri Lhote, "é cheia de ambiguidade, de incertezas, de dúvidas. Só as futuras descobertas da arqueologia nos permitirão, talvez, preencher as lacunas consideráveis dessas história". A arqueologia tem melhores condições para revelar-nos florestas, especialmente ao valer-se de uma quantidade de disciplinas científicas em todos os estágios de seu desenvolvimento.
No período compreendido entre os anos 900 e 1500 houve crescimento de Estados em grande parte da região setentrional da África, intimamente associados com a consolidação de laços comerciais. Encontram-se no Saara escultura em rocha que datam do ano 1. a.C. e que representam quadrigas, o que significa que já existiam contatos entre o Mediterrâneo e a África Subsaariana. A primeira consequência tangível desse comércio foi o desenvolvimento da fundição do ferro na África Tropical. Apesar de recentes reivindicações de que a fundição do ferro foi inventada e desenvolvida localmente na região, a ausência de qualquer tradição metalúrgica anterior - não existiu Idade do Bronze na África Subsaariana torna improvável esta tese. A evidência mais antiga de fundição de ferro encontrada ao sul do Saara provém da área localizada justamente ao norte da confluência no Niger e do Benue. Neste lugar, os fornos de fundição de ferro de Taruga datam aproximadamente do ano 450 a.C. Este desenvolvimento pode ter sido consequência direta do comércio fenício através do Saara.
O ritmo dos contatos transaarianos incrementou-se no século VIII d.C. quando os mercadores muçulmanos vindos do litoral do norte da África começaram a penetrar nas regiões do Subsaara. O Islã havia se estendido pela África Setentrional no século anterior e os comerciantes muçulmanos operavam ativamente tanto no Mediterrâneo com no longo das rotas comerciais terrestres. Para estes mercadores, o deserto do Saara era como um oceano, com "portos comerciais" nos limites sul e norte, onde estabeleceram colônias e quartéis. Os artigos de luxo, como lâmpadas de óleo, vidro, cerâmica fina e conchas de cauri, eram trazidas do norte e trocadas por escravos e produtos da selva e da savana, como marfim, ébano e ouro.
A necessidade das cidades litorâneas de se abastecerem de matérias-primas, junto ao interesse das regiões do interior em adquirirem certos bens santuários, fez com que surgisse entre elas um importante intercâmbio comercial. A escultura de Sanga, Zaire, do século XII, além de muitos objetos encontrados neste túmulo, como as joias de cobre e conchas de ciprea, revelam a importância do comércio entre regiões, às vezes afastadas. Também a figura antropomórfica de bonze, provavelmente do Grande Zimbábue. (século XII a XIV; a Caldeira de Kilwa com adornos na borda inferior. A maior parte da cerâmica encontrada em Kilwa era importada do Oriente no século XIV.
Gana, provavelmente o primeiro dos estados da África Ocidental, estava estrategicamente localizado entre as jazidas de ouro do sudoeste e os consumidores do norte da África. Foram encontrados densos grupos de assentamentos na fértil terra do delta do Niger, importante região onde o rio divide-se em vários braços. Este foi um antigo centro de cultivo do arroz africano. Estes assentamentos dependiam dessas colheitas e de outros cultivos básicos para o sustento. Dai surgiu o primeiro centro urbano no sul do Saara conhecido até agora: Jenne-Jeno. Antes da chegada dos árabes, a cidade era essencialmente um centro de comércio local, embora de razoável tamanho e importância. A chegada dos árabes no século VIII incrementou sua importância quando introduziu artigos suntuários do comércio a distância. Entretanto, o comércio local continuou sendo prioritário para a economia de Jenne-Jeno e acidade teve um papel significativo como exportadora de alimentos para as cidades nascentes em áreas menos férteis ao longo do limite meridional do deserto, como Tombuctu, que se desenvolveu como um importante mercado de sal. Jeene-jeno, localizada numa ilha do Rio Niger, é a cidade mais antiga conhecida ao sul do Saara. Foi habitada inicialmente, ao redor do ano 200 d.C., por povos que conheciam o ferro, mas o povoamento intensivo somente começou em 400 d.C., alcançando seu apogeu 500 anos depois. A muralha de tijolos da cidade (400 - 800 d.C.) tinha até 11 m de largura e 2 quilômetros de circunferência, circundava casas de adobe circulares e retangulares. O fértil terreno aluvial do delta do Niger garantia sua sobrevivência e de sua grande população. A cidade estava bem localizada para o comércio, já os objetos volumosos podiam ser transportados por via fluvial com facilidade. Era um próspero centro urbano antes da chegada dos mercadores muçulmanos no século VIII.
O comércio continuou prosperando através do Saara e os mercadores muçulmanos que se fixaram nas cidades dos limite do deserto e no entorno da savana difundiram rapidamente sua fé entre a população nativa, substituindo religiões tradicionais africanas, que sobreviveram somente ao sul da África Ocidental. Contudo, o avanço da nova fé foi vagaroso e, às vezes, as práticas religiosas misturavam-se. Em Mali, por exemplo, os enterros continuaram sendo feitos em túmulos, como nas épocas antigas, mas a partir de então o túmulo foi orientado em direção leste-oeste de acordo às normas islâmicas.
Enquanto cidades como Jenne-Jeno desenvolviam-se ao redor da savana, novos reinos emergiam ao sul, ao longo do limite da selva tropical.
O surgimento das elites indígenas pode ser datado no século VIII d.C. sendo que o controle do comércio foi mais uma vez o elemento crucial. As elites do sul derivaram seu poder da exploração de recurso florestais que comercializavam ao norte com os intermediários do Sahel e com as cidades da savana. As novas elites do sul representaram uma procura crescente por artigos de luxo que estimulou os artesãos locais. Esta demanda originou a especialização e novas técnicas de manufatura. Utilizava-se o método da fundição à "cera perdida" para o latão e o bronze, talvez introduzido, junto com o cobre do Saara, pelo mundo mediterrâneo devido aos contatos desenvolvidos nas rotas comerciais transaarianas. A escassez de água e os contínuos ataques às caravanas não impediram que os comerciantes muçulmanos desenvolvessem um intenso comércio.
Esta perigosa viagem era lenta e feita dos pontos comerciais até ambos extremos do deserto, como, por exemplo, Sijilmassa e Walata. Transportavam objetos de valor e sal para os território da África negra ao sul do Saara. Em troca obtinham metais preciosos, peles e escravos.
Existem poucos portos naturais na África ao sul do Saara. as linhas terrestres de comunicação, que servem tanto para o comércio como para as ideias, têm sido mais importantes do que as rotas marítimas, com exceção do Mar Vermelho e partes do litoral da África Oriental. Neste sentido a história medieval da África foi totalmente diferente da européia. Os grandes impérios da África, que nasceram e floresceram durante os anos 900 e 1500, eram todos Estados mediterrâneos, com frequência localizados no coração do continente. Ao contrário da Europa, a África tendeu a desenvolver-se para o interior.
Ifé, a capital do povo ioruba, era famosa pelas suas cabeças rituais de latão fundido com refinada técnica. A fundição de ferro também expandiu-se, sendo a região de bosques uma fonte tanto de minério de ferro quanto de madeira para fundição.
Situada na orla das florestas equatoriais que se estendem ao sudeste da atual Nigéria, a antiga cidade de Ifê não cessa, desde o começo do século, de deslumbrar arqueólogos e historiadores da arte. Na Idade média, sendo capital religiosa e artística do território ioruba que cobria uma parte da Nigéria, o sudeste e o centro da atual República do Daomé, fonte mística do poder e da legitimidade, lugar onde partia a consagração espiritual e para onde voltavam os restos mortais e as insígnias de todos os reis iorubas, Ifê continua um dos mais fascinantes enigmas da África antiga.
A civilização de Ifê, ainda hoje pouco conhecida, apresenta uma criação artística variada, de um admirável realismo, enquanto que a arte africana é geralmente abstrata. Pelo material empregado, a arte de Ifê espanta e abisma os historiadores e os africanistas: ao lado de esculturas em pedra e em barro, tradicionais da África, em Ifê, desenterraram-se também esculturas em bronze.
O surgimento das elites do sul revela-se arqueologicamente com a afortunada descoberta do túmulo de um dignatário em Igbo Ukbu, próximo do Rio Niger. Neste lugar existiam dois grandes poços retangulares: um deles continha a sepultura de um monarca, ataviado com suas insignias reais, e o outro, próximo do primeiro, continha os ricos materiais e elementos de um santuário. O nível da fundição de cobre exibido demonstra o alto grau de conhecimento que a os artesãos nativos da África Ocidental haviam atingidos por volta do século VII ou IX d.C.
A idade Média foi testemunha da prodigiosa expansão da civilização do Velho mundo que alcançou, pela primeira vez, os limites da Eurásia. Surgiram poderosos reinos e grandes monumentos em novas áreas. Na África, ao sul do Saara, por exemplo, os povos bantos, já familiarizados com o uso do ferro, construíram notáveis recintos de pedra no Grande Zimbábue, enquanto, concomitantemente, enormes capitais muradas e túmulos ricamente adornados dão provas do surgimento de Estados centralizados na África Ocidental, sustentados pelas ricas reservas de ouro da região. Enquanto esses significativos progressos ocorriam na Velho Mundo, no Novo Mundo aconteciam mudanças transcendentais, com o nascimento de vigorosos impérios na América Central e na América do Sul. No México Central e na América do Sul. No México, a antiga tradição da civilização foi aproveitada pelos astecas, que criaram um império assentado na guerra e nos sacrifícios sangrentos. Mais ao sul, no Peru, os incas foram os depositários do poder hegemônico. Recolhendo a herança da civilização sul=-americana dos chimúes, criaram o maior de todos os impérios do Novo Mundo. Abrangia do Equador ao Chile meridional, ligado por um extenso sistema de caminhos. Além disso, enquanto os incas construíam seus caminhos e os astecas inauguravam seus grandiosos templos piramidais, as comunidades dispersas das ilhas do pacífico desenvolveram culturas próprias no Havaí e na Ilha de Páscoa.
O Grande Zimbábue é o maior e o mais célebre de uma série de recintos de pedra da África Oriental que data dos séculos X a XV d.C. O recinto principal, o Edifício Elíptico, é a maior estrutura de pedra desse período encontrada na África Subsaariana, possivelmente a residência do chefe e seus familiares. No lugar foram encontrados objetos de luxo, incluindo cerâmica chinesa e islâmica, conchas de cauri e contas vindas de cidades litorâneas como Kilwa, que os mercadores shawahili comercializavam provavelmente através do Rio Sabi. O Grande Zimbábue fornecia matérias-primas para as cidades litorâneas, principalmente ouro, cobre, estanho e ferro. É possível que os monarcas aborígenes arrecadassem impostos, principalmente alimentos, mercadorias e mão-de-obra, da população agrícola vizinha. A jazida decaiu em 1450 d.C.
A Grande Zimbábue foi construída sobre e ao redor de rochas naturais de granitos, cercadas por duas muralhas curvas de mais de 9 m de altura, coroadas com monólitos de alvenaria que possivelmente tinham uma função ritual. Ali foram encontrados os assentamentos mais antigos do século X d.C., bem como colunas de esteatita, baixelas e pequenas figuras humanas.
O Edifício Elíptico ou Grande Recinto, era o centro político e ritual de todo o assentamento que continha as choças chamadas daga (em argila e pedregulho) do rei e seu séquito. A muralha exterior foi construída depois, aumentando em tamanho e qualidade à media que avançava. Na sua etapa final media 244 metros de comprimento, 5,2 metros de espessura e 9,8 metros de altura, e foi coroada por monólitos. A Torre cônica construída durante a última fase, com 5,5 metros de diâmetro e 10,4 metros de altura com a parte superior truncada. Acreditava-se que representava um chefe primitivo e pode ter servido também para uma função ritual.
Todas essas civilizações foram obra de povos governados por poderosos monarcas.
Os Estados e centros urbanos da África Ocidental desenvolveram-se numa escala sem precedentes no século XIII e seguintes. Mais uma vez, o comércio foi fator decisivo e o contato com os mercadores islâmicos do norte da África foi fundamental. De fato, em torno de 13560, pelo menos dois terços da produção mundial de ouro vinham da África Ocidental. O surgimento e a queda dos reinos da savana é atribuído, em grande parte, às mudanças políticas e econômicas. No oeste, o Império Mali exerceu o controle parcial do Rio Niger e das importantes cidades comerciais ali localizadas. Mali era um império tão vasto e rico que na realidade, quando em 1324 o rei Mansa Musa peregrinou a Meca, a quantidade de ouro que ele e seu séquito levaram desvalorizou temporariamente a moeda do Cairo. Entretanto, no século XV, a exploração de novas fontes de ouro em Akan ocasionou a reorganização das rotas comerciais para o leste e Mali foi substituída por Songhai. Ao mesmo tempo, e centralizado no lago Chad, nasceu o poderoso estado de Bornu, que incorporou o antigo reino de Kanem. Os reis kanuris de Bornu, conhecidos como Maias, acabaram sendo uma das dinastias mais longevas da História, sendo destronados finalmente no século XIX.
A construção de espetaculares mesquitas, feitas de tijolos de barro, nas principais cidades desses Estados da savana, como as de Jeene e Tombuctu, ilustra a difusão do Islã entre as classes reinantes e dos comerciantes nos séculos XIII e XIV. Muitas dessas mesquitas foram erguidas graças à conduta mecênica dos reis.
Próximo ao fim da Idade Média, enquanto a Europa experimentava uma decadência após os estragos da Peste Negra e da Guerra dos Cem Anos, os reinos negros do Sudão Ocidental e Central estavam no seu apogeu. Vários reis africanos - Mansa Musa e Sonni Ali, para somente dois - eram famosos em todo o Islã e no mundo cristão à sua riqueza, brilho e às criações artísticas dos seus súditos. Suas capitais eram enormes cidades muradas, lotadas de mercadores de várias nacionalidades. Ao lado das mesquitas erguiam-se universidades (em Tombuctu e Jenne, por exemplo) que atraíam eruditos e poetas de todas as partes. O domínio destes reis africanos era amplamente reconhecido e exercido mediante uma combinação de poder militar e de diplomacia, incluindo alianças matrimoniais com chefes locais. Os juízes reais exerciam a justiça, e a burocracia real administrava os impostos e controlava o comércio, o sangue dos impérios da savana.
Mais ao sul, também ocorreram progressos espetaculares nos séculos XIII e XV, embora a escassez de fontes históricas torne difícil acompanhar os detalhes. Contudo, fica claro que nasceram vários Estados poderosos cujas riquezas estavam baseadas no ouro de Akan e numa variedade de outros produtos essenciais, noz-de-cola, marfim e escravos. à medida que se formavam os reinos e floresciam as economias, apareciam os primeiros povoados e cidades na região da selva. No mesmo Akan, existiam vários Estados pequenos e sabe-se que as cidades de Bono Manso e Begho foram importantes centros políticos. Begho, entre 1400 e 1750, era uma cidade mercado que atuava como centro de coleta de ouro e mantinha estreitos vínculos com o Império Mali, principalmente com a grande cidade comercial de Jenne. O comércio exterior da cidade reflete-se diretamente no seu sistema de pesos e medidas. No início, eram utilizadas as unidades islâmicas de peso na corte do rei Begho, clara evidência da importância das rotas que iam de Begho para os centros islâmicos da savana e o Sahel e, depois, através do Saara para o Mediterrâneo. Contudo, ao redor de 1500, os pesos islâmicos foram substituídos pelo padrão europeu, introduzido pelos mercadores portugueses. A chegada de navios lusitanos no litoral africano ocidental transtornou seriamente o comércio tradicional transsaariano quando abriu importantes e novos mercados de exportação ao sul.
Na Nigéria, o reino meridional mais importante desse período foi Benin. Fundado no século XI ou XII, estava centralizado na grande cidade de Benin, onde o obá, que era o chefe político e religioso, morava com sua corte. A economia de Benin baseava-se no comércio, principalmente de escravos, primeiro com os reinos da savana ao norte e em seguida com os europeus pelo litoral. A cidade em si estava cercada por enormes aterros, incluindo um circuíto interno de defesa que media 17 metros desde o fundo da vala até a parte superior dos muros. Um sistema defensivo desse porte deve ter exigido muitas horas e homens para ser construído, fato que evidencia o poder doas obas. Entretanto, é provável que as relíquias mais famosas do reino de Benin sejam as cabeças de latão, algumas datadas do século XV. Similares às antigas cabeças de latão e terra-cota de Ifé, representam os obas, chefes de tribos, cerimônias da corte, caçadores, comerciantes e inclusive soldados portugueses. A maioria das cabeças de latão de Benin foram roubadas por colonos europeus no século XIX e doadas a museus ocidentais, restando pouquíssimas na Nigéria. Atualmente, algumas dessas peças estão retornando para sua terra de origem.
Os povos bantos da África careciam de cidades e não conheciam a escrita. Sua arquitetura monumental, fruto de um florescimento cultural local que devia pouco ou nada ao contato externo, permite, porém, outorgar-lhe a categoria de civilização.
O argumento levantado no início deste século de que as maravilhas do Grande Zimbábue não puderam ser criadas por africanos negros, mas devia-se à influência do Oriente Próximo - dos navegantes fenícios ou da rainha de Sabá - já não é levado a sério pelos arqueólogos atuais. Porém, negar esses românticos mitos modernos a respeito do passado não tornam menos impressionantes as grandes estátuas da Ilha de Páscoa ou as muralhas do Grande Zimbábue; pelo contrário, serve para aumentar nossa admiração pelas grandes obras feitas pelas sociedades humanas de diversas partes do mundo durante o período conhecido na história européia com Idade Média.
Enquanto a África Ocidental estava separada das civilizações clássicas da Grécia e de Roma pelas areias do Saara, a Africa Oriental estava isolada por montanhas e pântanos. Um dos traços mais importantes da história africana é a influência egípcia circunscrita à parte setentrional do grande Vale do Nilo. Fica evidente que fortes influências egípcias penetraram o Sudão pelo menos até a confluência do Nilo Azul e o Nilo Branco em Kartum. Mais além, porém, interferiam barreiras naturais: as terras altas etíopes e o pântano Sudd. Desta forma as civilizações nativas que se desenvolveram na Etiópia possuíam mais vínculos com a Arábia do que com o Egito.
O primeiro grande reino que surgiu na África Oriental deveu muito do seu desenvolvimento aos prósperos contatos comerciais com as ativas cidades do Egito e do Mediterrâneo Oriental. Aparentemente, a procura por incenso e mirra, espécies aromáticas disponíveis somente na Arábia Meridional e na Somália, ativou o motor da civilização. O Egito, principalmente, utilizava o incenso em cerimônias religiosas e abalsamamento, enquanto a mirra era usada frequentemente em todo o Oriente Próximo como matéria-prima de caros perfumes e cosméticos. No início, a mirra e o incenso eram comercializados pelas caravanas de camelos ao longo das rotas terrestres, desde a Arábia Meridional, através d Meca e Medina, até Petra, o Jordão e o Mediterrâneo.
Contudo, quando os conhecimentos marítimos se aperfeiçoaram, uma crescente proporção do comércio passou a utilizar as rotas marítimas e este avanço trouxe às primeira civilizações da Etiópia sua grande oportunidade. Um importante reino nasceu à beira do Mar Vermelho, tendo por centro Axum, sua capital. Próximo ao século IV d.C., Axum havia se tornado o poder comercial predominante da região com frotas de barcos mercantes que utilizavam as vias marítimas não apenas até o cabo do mar Vermelho, mas também até a Pérsia, Índia e Zanzibar. Axum atuava tanto como exportador de marfim e outros produtos da África Oriental como também de intermediário do comércio marítimo entre o mundo mediterrâneo e os mercados de especiarias da Índia. No sécvuloIV, os reis de Axum se converteram ao cristianismo e daí em diante existiram laços diplomáticos entre este vigoroso Estado e o Império de Bizâncio, embora Axum sempre guardasse certa distância política e religiosa.
O reino de Axum floresceu durante mais de 5500 anos, desde o século III até o século VIII d.C., estabelecendo as bases de uma civilização cristã duradoura que deu origem à lenda européia medieval do Preste João, um poderoso protetor cristão que governava uma terra axótica e misteriosa.
A Igreja Cristã floresceu no Egito pós-romano e, aproximadamente, no ano 300 d.C. expandiu-se em direção ao sul para estabelecer-se na Etiópia sob os monarcas de Axum. Os reis de Axum diziam sere descendentes diretos de Salomão e da rainha de Sabá. O cristianismo de Axum, uma vez que seus vizinhos se converteram ao Islã, levou-os a um isolamento e à decadência final. Para impedir esse processo, o centro do poder transladou-se ao sul, para Lalibela, onde por volta de 1200 construíram dez amplas igrejas esculpidas na rocha, ainda em uso na atualidade, apesare de isoladas do resto do mundo cristão durante muitos séculos. A Etiópia conservou sua fé característica e seus rituais coptos. A igreja de São Jorge na Lalibela foi esculpida em rocha viva.
A realidade era menos impressionante. O surgimento do Islã no século VII, começou a ameaçar a supremacia do reino de Axum, e um ataque sobre Jidda,o porto de Meca, em 1702, desencadeou toda a fúria da vingança muçulmana. A dinastia axumita manteve precária existência por outros 200 anos e, finalmente, extinguiu-se no século X. Contudo, a tradição cristã conseguiu ser mais permanente, apesar dos ataques islâmicos que partiam do vale do Nilo e do Mar vermelho. Uma nova dinastia cristã fundou sua capital em Lalibela, no século XII, construindo, durante os séculos que se seguiram, uma série de grandiosas igrejas esculpidas em rocha, principalmente na capital.
A Etiópia cristã sobreviveu,porém, somente como um Estado isolado, cercado por potências islâmicas hostis. Mais do sul, o Islã, e não o cristianismo, era a religião dominante ao longo do litoral da África Oriental. Os mercadores árabes começaram a comercializar e a estabelecer-se ali no século IX, criando prósperas cidades comerciais, como Manda, que exportava madeira de mangue e possivelmente ferro e marfim em troca de fina cerâmica e outras importações de luxo. Ao redor do século XIII, a hegemonia havia passado de manda para Kilwa, onde os edifícios de pedra e argamassa começaram a substituir os de adobe. Um palácio extraordinário, o Husumi Kubwa, foi erguido para a dinastia árabe governante desse importante porto comercial. Da mesma forma que tinha acontecido com mandas, Kilwa dependia muito das exportações de matérias-primas típicas da África Oriental, como ouro, marfim, chifres, couros, casco de tartarugas marinhas e escravos do interior. tais mercadorias eram vendidas na arábia e na Índia em troca de cerâmica chinesa e islâmica.
O comércio árabe exerceu uma grande estímulo sobre o desenvolvimento econômico e social do interior. Como na África Ocidental, os primeiros assentamentos comerciais islâmicos foram logo seguidos pelo desenvolvimento de Estados centralizados nas regiões florestais de onde se obtinham valiosas matérias-primas. O comércio no interior da África Oriental ficou nas mãos de uma poderosa elite que controlava a exportação de matérias-primas para o litoral e utilizava as importações e os artigos de metal produzidos na região para mostrar seu prestígio e nível social. Em lugares como Ingombe Ilede, o cobre era fundido em molde em forma de cruz e os lingotes assim produzidos eram amplamente comercializados, e é provável que serviram como uma espécie de moeda.
Os magníficos recintos de pedra no Grande Zimbábue eram certamente o centro de operações de um grupo de governantes que controlava a produção e exportação de ouro das planícies do Zimbábue. O Grande Zimbábue era, sem dúvida,o maior assentamento do seu gênero, abrangendo cerca de 40 hectares antes de sua decadência no século XV; entretanto, existiam mais de uma centena destes recintos de pedra na região. Alguns deles alojavam famílias individuais, enquanto outros, como Chummungwa e Manekweni, eram capitais territoriais. Em conjunto, constituíam um sistema comercial integrado que estava unido ao litoral. Outros sinais de mudanças sociais podem ser observados nas sepulturas de Sanga, no Zaire. Antes de 1300, os túmulos desse cemitério continham cerâmica e metal, inclusive jóias de cobre; o metal era extraído a cerca de 300 quilômetros ao sul, em Kansanshi e Kipushi. Num curto espaço de tempo, porém, estes objetos de valor foram complementados por outros artigos, entre eles gongos de ferro, que ainda são considerados símbolos tradicionais da monarquia na região.
A semelhança entre o desenvolvimento da África Ocidental e Oriental é impressionante. Em ambos os casos, os primeiros sinais da civilização foram rapidamente ultrapassados pelo tremendo impacto dos mercadores islâmicos de regiões mais povoadas. O deserto do Saara e o Oceano Índico tiveram papéis compatíveis neste processo, ambos atuando como barreiras, mas aumentando, ao mesmo tempo, o valor dos produtos comercializados por seu intermédio. As cidades comerciais muçulmanas da savana da África Ocidental foram cabeças de ponte da mesma forma que os povos árabes no litoral da África Oriental. Em ambas as regiões, o resultado não foi apenas o estabelecimento de novos Estados islâmicos, mas também o desenvolvimento das primeiras civilizações autenticamente nativas da África do Subsaara: Benin, Akan e Zimbábue.
As civilizações medievais da África, Polinésia e América, sem ligação com o mundo clássico da Eurásia, ilustram a diversidade das realizações humanas e a expressão cultural em uma escala geograficamente mais ampla que nunca. É surpreendente pensar, por exemplo, que no 1487, quando Michelangelo tinha 12 anos, os astecas sacrificaram 20 mil pessoas na consagração de seu novo templo em Tenochtitlán. Foram os caminhos separados e independentes do desenvolvimento cultural nas diferentes regiões do mundo que contribuíram para esses surpreendentes contrastes. Contudo, os dias da grande diversidade já estavam por terminar. os reinos africanos acharam-se sob a crescente influência dos portugueses à medida que transcorria o século XV e o isolamento da América terminou no ano 1492 com a chegada de Cristóvão Colombo. Ao redor do ano 1550 as grandes civilizações da América haviam chegado ao fim e a escravidão estava desmoralizando e despovoando os outrora poderosos reinos da África Ocidental. Dai em diante, o predomínio pertenceria á civilização européia; contudo, as civilizações autóctones (que nasceu e vive na região) da África e da América não desapareceram sem deixar marcas. Ainda hoje são realizadas tradicionalmente oferendas nas montanhas da América do Sul que remontam à época dos incas.
Três processos dominaram a história da África de 1500 a 1800. O primeiro foi o crescimento de grandes unidades políticas na maior parte da África negra. Por três séculos, Estados africanos política e culturalmente independentes atingiram o apogeu e, através do cinturão sudanês da África Ocidental, substituíram impérios estabelecidos como os de Gana e Mali. Em 1464, Sunni Ali, um dos mais famosos reis e heróis militares africanos, tornou-se governante do povo Songai, que habitava a margem leste da curva do Niger.
As conquista de Sunni Ali construíram o vasto império Songai, mas seu filho foi deposto por Askia, o Grande, que reinou de 1493 a 1528. O comércio floresceu - especialmente através do Saara - e o Império Songai incorporou grandes cidades comerciais, como Timbuktu, Jenne (Djenné) e Gao, que se tornaram centros muçulmanos de aprendizado e devoção.
Comunidades de mercadores das ricas cidades - Estado hauçás e outras dos dyolas, povo mandinga de Mali e Songai possibilitaram o crescimento de vários Estados (Mossi-Dagomba e Akan-Ashanti) nas savanas e florestas ao sul do Niger. Perto de 1500, Oyo e Benin, dois grandes estados da Nigéria, emergiram das florestas a oeste do delta do Niger, onde magníficos exemplos das artes plásticas da Árica eram produzidos como as terracotas e bronzes de Ife e Benin.
Por toda a África negra, processos semelhantes estavam em andamento, dando lugar a reinos poderosos a partir de sociedades agrícolas, que trabalhavam o ferro e criavam gado. Em ambientes favoráveis, a população cresceu, o rebanho de gado aumentou e as economias se diversificaram; e o comércio se expandiu, especialmente o de bens produzidos com ferro e cobre. Quando os portugueses aportaram na costa sul do estuário do rio Congo (Zaire), em 1484, chegaram justamente ao reino de Congo. Ao sul da bacia do Congo havia uma série de estados de língua banto, incluindo os reinos de Luba e Lunda; nas terras férteis entre os lagos da África Oriental uma sucessão de Estados se desenvolveu, os mais importantes Ruanda e Buganda.
Outra região próspera era o platô do atual Zimbábue (antiga Rodésia), com diversos reinos ali baseados; o Império Monomotapa, conhecido dos portugueses e outros europeus, situava-se a nordeste da moderna Harare. Diversos outros povos que viviam entre os grandes reinos e o sul da África desenvolveram aos poucos Estados menores e menos brilhantes.
Os primeiros traços de ocupação do Zimbábue datam do início da Idade do Ferro. A região foi ocupada pela segunda vez no século X, por povos que comercializavam cobre e ouro e 200 anos depois, pedras eram trabalhadas para atividades de construção. Mais tarde, o fogo destruiu o Zimbábue, reconstruído em meados do século XIV. As ruínas atuais são impressionantes: um imenso palácio no vale é circundado por uma muralha de mais de 10 metros de altura, construída de pedra trabalhada; o monte que domina o palácio é encimado por um templo maciço ao acrópole. No auge da grandeza, o Zimbábue era o centro político e religioso de um Estado mercantil considerável, com conexões em regiões tão longínquas quanto a China.
Entre 1500 e 1800, o curso da história africana desenvolveu-se seguindo tanto linhas bem estabelecidas quanto novos caminhos. A interação entre a África mediterrânea e a África sudanesa, que começaram em épocas pré-romanas, teve continuidade, com o Islã fazendo profundas investidas pela África tropical. Os Estados e culturas africanos, geralmente localizados bem no interior do continente, continuaram seu crescimento constante e lento - com alguns períodos mais dinâmicos . Porém, muitas partes da África caíram sobre a crescente influência econômica dos Estados ocidentais europeus, com profundas consequências políticas e econômicas para as populações costeiras.
Segundo processo histórico dominante foi a contínua expansão do Islã. Não apenas o norte da África estava islamizado, mas entre 1500 e 1800, o Islã consolidou posição em terras sudanesas e se espalhou para o sul e pela costa leste da Árica. No Chifre da África, a rivalidade inicialmente comercial entre a Etiópia cristã e os Estados costeiros muçulmanos transformou-se em longo conflito político e religioso; o sultão de Adal, Ahmad Gran, lançou, em 1520, um ataque violento e os exércitos muçulmanos alcançaram o centro da Etiópia. Pagan Oromo, de Galla, com tropas vindas do sul e do leste, invadiu e sitiou o exaurido império cristão e o próprio sultanato de Adal.
Em 1517, os otomanos conquistaram os mamelucos no Egito e passaram a controlar Trípoli e Túnis; Argel era governada por príncipes piratas aliados dos otomanos. O único Estado a permanecer independente foi o Marrocos, governado em quase todo o período por facções da dinastia Xerife.
No século XVI, a maior parte da costa norte da África foi cenário de conflitos econômicos e religiosos entre as potências cristãs, especialmente Espanha e Portugal, e entre o Império Otomano e o Marrocos. Em 1590, no auge do poder, o Marrocos invadiu o Império Songai e organizou um Estado dependente no Sudão; essa invasão desorganizou a vida econômica da região mas, no início do século XVIII, comércio e política da África Ocidental muçulmana voltaram a crescer, numa explosão do proselitismo islâmico que chegou ao ápice com as grandes Guerras Santas de 1790. O terceiro processo assistiu ao crescente envolvimento dos europeus nos destinos da África, à medida em que procuravam ouro, marfim, madeira e, sobretudo, escravos para trabalhar nas minas e plantações das Américas. Embora em 1800 o número de possessões européias em território africano fosse pequeno, o domínio das rotas comerciais oceânicas teve efeito direto e indireto sobre a maioria dos africanos, inclusive os que habitavam o interior. Após 1652, colonos holandeses e huguenotes franceses chegaram ao extremo sul da África e por volta de 1800 já tinham exterminado ou conquistado os povos khoisan, mas encontraram a resistência dos bandos do sudeste.
O comércio de escravos começou com os portugueses, seguidos pelos holandeses, franceses e britânicos, com a instalação de feitorias na costa, onde eram comprados os escravos. Entre 1450 e 1870, pelo menos 11,5 milhões de africanos foram capturados para venda dos quais talvez 10 milhões tenham sobrevivido aos horrores da travessia para as Américas. A maioria dos escravos era originária da costa oeste da África, mas por volta de 1800 a América Oriental contribuía não só para o sistema atlântico, como enviava escravos para a Índia e o mundo muçulmano. Nem isso fez a tradicional rota transaariana declinar.
Os efeitos precisos do comércio de escravos são tema de calorosos debates, especialmente quanto ao montante da população e o surgimento de Estados como Daomé ou Ashanti, fornecedores de escravos. Em termos globais, os europeus foram os mais beneficiados e o desenvolvimento econômico da África foi provavelmente sustado. Por volta de 1800, os africanos tinham feito progressos no desenvolvimento de formas sociais e políticas muito nítidas, mas sua independência já estava comprometida.
Até o ano de 1879, a África continuava sendo um território quase desconhecido às potências européias; era somente um intrincado caleidoscópio de reinos tribais e territórios de caça delimitados pela tradição. Antes de 1880 eram poucas as regiões africanas dominadas diretamente pela Europa. Ao norte, a França estava empenhada em conquistar a Argélia a partir da década de 1830; na África Ocidental havia pequenas colônias francesas e britânicas (Senegal, Serra Leoa, Costa do Ouro, Lagos e Gabão) e antigas mas decadentes colônias portuguesas em Angola e ao longo do vale do Zambeze, em Moçambique. Somente havia uma verdadeira penetração na África Meridional, onde os colonos britânicos do cabo já estavam em franca hostilidade com os africâneres do Transval e do Estado Livre de Orange. Nas demais regiões, salvo na Argélia francesa e os Estados endividados do Egito e Tunísia, a ocupação, inclusive a influência estrangeira, estava reduzida a um punhado de centros de intercâmbio, destacamentos militares e as ilhas frente às costas, como Madagascar e Zamzibar. Entretanto, em apenas duas décadas todo o continente foi conquistado,anexado, disputado e repartido. Das quarenta unidades políticas em que foi dividido - às vezes somente com uma régua e um lápis empunhado em Londres, Paris ou Berlim - 36 deles ficaram sob o domínio direto da Europa. Somente a Etiópia, que lutou contra os italianos por sua independência, e a Libéria, que mantinha laços econômicos com os Estados Unidos, podiam afirmar que eram verdadeiramente independentes. A França, o país mais beneficiado, controlava quase 10 milhões de quilômetros quadrados de uma superfície total de 20 milhões que a África tem.
Foram muitos os fatores que contribuíram para esta expansão imperialista. O auge da industrialização na Europa criou a necessidade de abrir novos mercados e deu origem a tensões sociais até então desconhecidas, para os quais alguns políticos (como Joseph Chamberlain , por exemplo) viram na colonização uma boa saída. As rivalidades entre os Estados europeus foram transladados ao mundo exterior e particularmente ao continente africano. Isto significou que, algumas oportunidades, os incidentes mais triviais entre comerciantes europeus competidores na África se convertessem em grandes crises internacionais e que as iniciativas locais dos agentes desencadeassem todo tipo de confusas manobras para apoderar-se do continente. A divisão da África foi, em grande medida, fruto do respaldo que as metrópoles davam às atividades descoordenadas de seus representantes locais para os quais a melhor maneira de solucionar pequenos conflitos, fosse com Estados africanos ou europeus, era apoderar-se de mais territórios.
Na África Ocidental foram os franceses os mais inclinados a esse tipo de ações. Uma das mais importantes foi a façanha do Exército da França, quando tentou avançar pelo Rio Senegal até chegar ao Alto Niger. Os oficiais franceses, que não tiveram a oportunidade de se vingar da derrota de 1870, buscaram a glória nas poeirentas planícies ao sul do Saara (região do Sudão). Isto fez com que entrassem em conflito com os britânicos em Gâmbia e Serra Leoa e com alguns Estados africanos, como os impérios de Samory e de El-Hadj Omar. Na costa da África Ocidental houve uma intensa rivalidade anglo-francesa nas regiões da Costa do Ouro, Togo, Daomé e Ioruba. Os franceses endureceram sua atitude frente à Grã-Bretanha após a invasão e ocupação unilateral do Egito pelos ingleses em 1882, mas foi a intervenção de outras potências europeias que levou a eclosão do conflito em todo o continente.
Depois da épica viagem do explorador Stanley pelo Rio Congo, em 1877, o ambicioso rei Leopoldo da Bélgica contratou-o para seu serviço pessoal. Em 1879, Stanley regressou ao Baixo Congo e fundou as bases do enorme domínio privado que o rei reservou para seu uso pessoal na bacia do Rio Congo. A façanha de Stanley encontrou imitadores . O francês De Brazza conseguiu alguns tratados de vital importância com os chefes africanos e, quando regressou à Europa, a França imediatamente os reconheceu. Esta ação da França provocou uma rápida reação dos ingleses e dos portugueses, que acabou em nada devido à pressão exercida por Bismarck. O chanceler prussiano quis compensar os desejos de vingança dos franceses pela perda da Alsácia dando-lhes liberdade na África, e conseguiu isso chantageando a Grã-Bretanha em função do ocorrido no Egito. Logo, a própria Alemanha, durante o governo de Bismarck, entrou na carreira expansionista apoderando-se de territórios em quatro regiões muito distantes entre si: Togo, Camarões, sudoeste da África e África Oriental. As ações francesas e alemães na África Ocidental obrigaram a Grã-Bretanha a uma intervenção imediata, sobretudo para assegurar os territórios que se converteriam posteriormente no Estado da Nigéria. O coração da África foi deixado aos franceses, os quais em 1900 ultrapassaram, a região ocidental do Sudão.
A presença alemã no sul da África reavivou as ambições portuguesas e a ameaça de expansão africânder deu origem a incursões inglesas no interior da África Central, onde mais tarde seriam Rodésia, Zâmbia e Malávi. A iniciativa desta incursões foi principalmente de Cecil Rhodes, industrial e político do Cabo. Além disso, a colonização alemã na África Oriental (Tanganica) deu origem a uma contrapartida britânica quando o primeiro ministro, Lord Salisbury, reclamou para a Inglaterra a região dos Grandes lagos (Uganda) e o território adjacente até a costa, que seria mais tarde o Quênia. A partir de sua posição no Egito, os ingleses também foram levados a intervir nos assuntos do Sudão, que se rebelou contra o Egito em 1881 sob o mando do lider religioso islâmico Mahdi. Simultaneamente, os êxitos franceses na parte ocidental (a ocupação do Gabão no Congo Ocidental, a conquista do antigo reino de Daomé em 1893 e as incursões por três rotas distintas em direção ao Lago Tchad) levaram a Grã-Bretanha a mobilizar os recursos da Companhia Real do Niger para conquistar os emirados de Nupe e Ilorin e para envolver-se em uma série de choques armados. Estes não foram somente com os franceses, mas - pela primeira vez - com os Estados africanos que estavam dentro de sua área de comércio. A tensão alcançou seu ápice em 1898, quando o comandante francês Marchand enfrentou, depois de uma marcha de dois anos a partir do Gabão, as tropas britânicas em Fashoda, no Nilo Branco, e ambos os países estiveram a ponto de entrar em uma guerra aberta.
A divisão da África, que havia começado como um processo relativamente pacífico, estava provocando agora derramamento de sangue cada vez maiores. A Etiópia aplicou uma humilhante derrota aos italianos em Adowa, em 1896. Cerca de 20 mil sudaneses morreram quando a Grã-Bretanha arrasou o Estado de Mahdi. Enquanto avançavam para o norte, as forças colonizadoras de Rhodes se enfrentaram em encarniçadas batalhas com os matabelés e os mashonas, e em todos os lugares se generalizava o uso dos rifles de repetição e da metralhadora Maxim por parte dos colonizadores brancos.
O conflito alcançou seu ponto máximo na Guerra dos Böers (1899 - 1902), na qual os britânicos obtiveram, com grande dificuldade, o domínio das jazidas de ouro de Transvaal (descobertas em Witwatersrand em 1886) e absorveram as repúblicas bôeres. As hostilidades começaram com a incursão de Jameson, em 1896, que foi um rotundo fracasso e significou o desprestígio de Rhodes. Entretando Chamberlain, o ministro britânico às colônias, e Milner, o alto comissariado na Cidade do Cabo, seguiram pressionando para impor as politicas de Rhodes quase até chegar à guerra. Por outro lado, os africanos, apesar de se oporem tenazmente aos "movimentos de avançada" das potências européias, nunca se uniram para formar uma resistência conjunta e foram facilmente derrotados estando divididos. Dos muitos Estados africanos que ainda seguiram mantendo uma precária independência em 1902, a Líbia foi dividida Itália em 1911 e o Marrocos sobreviveu até 1912, antes de ser dividido entre a França e a Espanha.
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