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sábado, 7 de novembro de 2020

A HISTÓRIA DO IMPÉRIO INCA

 



          O império inca, o maior de todos Estados pré-colombianos, atingiu a maturidade em menos de um século. Ao redor do ano 1300, a tribo instalou-se num vale no alto dos Andes peruanos, ode estabeleceu sua capital, Cuzco. Inicialmente era apenas um grupo entre muitos, envolvidos em constantes conflitos de pouca importância, e foi somente em 1438, quando o Inca Pachacuti subiu ao trono, que se implantou o estrado inca fortemente centralizado e conquistador de vastos territórios. 
        O Império Inca  baseou-se em antigas tradições de Estado e civilização do Peru. A primeira civilização andina, chavin, havia sido fundada ao redor de 2.500 anos antes, sendo sucedida por um caleidoscópio de cidades e povos. Entre os anos 500 e 1.000 surgiram dois impérios que dominavam a maior parte dos Andes centrais e meridionais e parte do litoral. O primeiro deles teve o nome de sua capital, Tiahuanaco, uma populosa cidade localizada no desolado altiplano da Bolívia, centro de peregrinação dos Andes. O segundo império, Huari, estava radicado mais ao norte. Ambos impérios administravam seus extensos territórios dos centros criados de forma planejada, onde funcionários do governo supervisionavam as grandes obras públicas realizadas pelos habitantes como forma de tributo. Os incas foram eficientes na aplicação desses sistemas de administração. 
               Os incas também apreenderam muito da magnífica civilização chimu, que dominou o litoral norte do Peru a partir do ano 700 até sua derrota pelos incas em 1476. Os incas adotaram a eficaz política colonial e a rede de comunicação dos chimus, assimilando suas técnicas de fundição de metais, os têxteis e a produção massiva de cerâmica. 
           Nenhum destes impérios primitivos igualou os incas em tamanho, No apogeu, entre os anos 1493 e 1525, o Império Inca abrangia uma área de aproximadamente 3.500 quilômetros de comprimento, penetrando no interior, desde o litoral,uma média de 320 quilômetros. Os êxitos militares incas deviam-se ao treinamento de jovens nobres, nos quais se inculcava atividades belicosas,  e a existência de um exército permanente que podia atingir depressa todas as comarcas do império. A extensa rede de caminhos permitia que as notícias viajassem rapidamente, facilitando também às tropas chegarem nos lugares conflitivos com um mínimo de demora. Os incas desenvolveram grandes estradas no litoral e nas montanhas unidas por caminhos interligados, totalizando aproximadamente 40 mil quilômetros. Apenas os viajantes oficiais podiam usar os caminhos e abrigarem nos mais de mil tambos ou refúgios de descanso distanciados a intervalos de um dia de viagem. Muitos caminhos tinham apenas um metro de largura, adequados somente para pedestres e lhamas com carga, ainda que os principais caminhos atingiam 16 metros de largura para permitir a passagem dos exércitos. As mensagens eram levadas pelos shasqui, corredores de revesamento que podiam cobrir cerca de 250 quilômetros  por dia; cada homem corria dois ou três quilômetros, e então passa para o seguinte. Os caminhos eram construídos à base de trabalho obrigatório denominado mita; escavavam-se  túneis através de despenhadeiros, as estradas  eram construídas cruzando pântanos e precipícios, ligando-as através de pontes suspensas de pedra ou de madeira de até 70 metros de comprimento.
              Estes caminhos também eram utilizados para o transporte de grandes cargas transportadas nas costas dos homens ou sobre o lombo de lhamas até os depósitos regionais de alimentos. Em Huanuco Pampa os celeiros podiam conter 36 milhões de litros de grãos, e muitas dessas cidades eram centros de produção industrial onde grandes fábricas de tecidos e de cerâmica produziam em larga escala artigos altamente padronizados. Havia pouco espaço para criatividade individual. A cerâmica inca, por exemplo, mostra pouca variação na forma ou decoração, pois é normalmente adornada com desenhos geométricos pintados em intervalos regulares. As ferramentas de metal e pedra, os adornos metálicos, tais como pequenas figuras de homens e animais, e os desenhos têxteis eram todos similares a uniformes.
            À medida que Império Inca se ampliava, foram construídas novas cidades nas áreas recém-conquistadas. Os administradores locais impunham impostos de aproximadamente 66% sobre os produtos agrícolas e objetos elaborados, tais como tecidos e cerveja de milho. Também utilizaram o trabalho forçado, ou mita, em projetos de construção de caminhos, sistemas de irrigação e esgoto, construção de plataformas agrícolas, trabalhos de extração em pedreiras e minas, bem como na construção de cidades e de imponentes fortalezas estatais. 
              É surpreendente que essa complexa burocracia não tivesse alguma forma de escrita. Os registros eram mantidos em quipus, pedaços de barbante com laçadas em intervalos significativos, feitos por um funcionário específico, o quipucamayoc.  Estes registros  de impostos eram baseados num sistema decimal de cálculo, porém podem ter servido também como um "lembrete" para informação de caráter histórico e cultural. 
            A hierarquia social estritamente regulamentada do Estado inca tinha forma piramidal. Na cúspide estava o "Zapan Inca", chefe absoluto em assuntos políticos, religiosos e militares. Acreditava-se que o Zapan Inca descendia do deus Sol, a principal divindade inca. A aristocracia, essencialmente parentes do Zapan Inca, ocupava cargos de conselheiros e governadores provinciais. A deidade mais importante era Viracocha, o Deus criador. Os funcionários de menor categoria eram responsáveis em última instância perante o Zapan Inca através de representantes da categoria imediatamente superior, o que garantia o controle em todos os níveis da sociedade. Na base estavam os camponeses, cuja laboriosa agricultura de irrigação constituía o fundamento econômico do Estado inca e que continuavam adorando espíritos locais de mananciais e pedras sagradas junto com o culto oficial inca ao Sol. 
          O sistema padecia de dois defeitos graves: em primeiro lugar, sem uma cabeça efetiva, o Estado se desintegraria, já que não havia nenhuma coesão entre as classes da sociedade; em segundo lugar, não existia uma linha bem definida de sucessão ao trono. Para desgraça dos incas, a chegada de Francisco Pizzaro em 1532 coincidiu com uma disputa de sucessão no Império Inca, permitindo que os espanhóis capturassem o Zapan Inca em uma armadilha. Rapidamente o Império Inca foi desestruturado, os templos foram despojados de seus ornamentos e o sistema social e político andino, que evoluíra por 5 mil anos, recebeu um golpe mortal  do qual nunca se recuperou.
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         A lenda conta que, após o dilúvio andino, o  Sol pousou seu primeiro raio no lago Titicaca. E foi no dedo do Sol levante que cresceu subitamente a pitoresca e silenciosa armada de centenas de balsa de totora de canas secas como ouro, atadas em longos feixes fusiformes, com a popa e a proa erguidas como uma ponta de tamanco. O vento do lago sopra as altas velas da embarcação de junco. Na frente, um navegador aborígine, com um poncho vermelho, mantém-se em pé, com uma percha comprida na mão para dirigir a embarcação. Agachada atrás, sua companheira fia a lã de lhama em um fuso de madeira. Às vezes uma lhama lhes serve de escolta a bordo, com um floco de lã rosa-vivo em cada orelha."
          "Manco Capac e mama Ocllo vêm do leste, da ilha do Sol, ao coração do lago sagrado, fiéis à tradição. No cais, sempre mudos, inalteráveis como sonâmbulos, os índios contemplam os grandes personagens de sua gênese, com uma coroa de ouro enfeitada de penas na cabeça e um disco solar em ouro resplandescentes no peito. Os semideuses finalmente chegaram!"
            Esta reconstituição popular da lenda de Manco Capac apoia-se em uma das versões do mito da fundação do império, que nos foi dada por Garcilaso de la Vega, no Capítulo XV do livro I de seus Comentários Reales de los Incas: "Nosso Pai, o Sol", diz o cronista a seu tio, um velho nobre inca, "vendo os homens tal como eu lhe disse, teve piedade deles e encinou do céu à terra um filho e uma filha para que os instruíssem no conhecimento do Nosso pai, o Sol, para que o adorassem e o considerassem como seu deus e para que lhes dessem preceitos e leis, a fim de que vivessem como homens racionais e civilizados (...). Com estas ordens e instruções, Nosso Pai, o Sol, colocou seu filho e sua filha no lago Titicaca, que se encontra a oitenta léguas daqui (Cuzco), e disse-lhes para ir onde quisessem e que, onde parassem para comer e dormir, tentassem enterrasse no solo uma barra de ouro de meia túesa de comprimento e dois dedos de espessura que ele lhes deu como sinal e prova de que, onde a barra fosse enterrada pela primeira vez, seria lá que Nosso Pai, o Sol,  queria que eles se instalassem". 
              Devido à leitura de  alguns relatos, numerosos historiadores perguntaram-se até se os primeiros soberanos do Império Inca eram personagens míticos. Sem dúvida, a história dos primeiros incas oferece-nos ainda sérios problemas, pois os acontecimentos transmitidos pelas crônicas não são sempre atribuídos aos mesmos soberanos. Mas deve-se daí deduzir que Manco Capac e seus sucessores diretos não existiram? 
        Sabemos que,desde Manco Capac, doze incas subiram ao trono e que os dois últimos, Huascar e Atahuallpa, reinaram ao mesmo tempo. Sabemos igualmente que uma geração de soberanos equivalia, então, aos uns vinte anos. Foi assim para os onze reis da França que se sucederam de  Filippe II, coroado  em 1270, a Carlos VIII, morto em 1498. Podemos, então, deduzir que o império |Inca foi fundado por volta do ano 1300. 
             Um certo número de relatos nos permite levantar o véu que a tradição incaica mais oficial lançara sobre a verdadeira ascendência de Manco Capac. Em 1542, o padre Cristóbal de Molina colheu o testemunho de dois quipucamayoc, os "escribas" dos quipu, Collapina e Supno. Escreve o padre: "Eles disseram que seus pais e avós, grandes quipucamayoc, contaram a seus filhos e netos, recomendando-lhes segredo, que Manco Capac era filho de um curaca".ç
            Evidentemente esta verdade não convinha ser dita em um império onde o sagrado ocupava um lugar importante e onde Manco Capac só representava plenamente seu papel de arquiteto primordial, sendo um semideus, filho do Sol. Apesar de seu caráter lendário, estas narrações são por demais precisas para terem sido totalmente inventadas. 
            Nas montanhas, a uns cinquenta quilômetros de Cuzco,numa gruta designada pelo nome de Pacaritambu, que se encontra o Manco Copac da tradição inca, com seus três irmãos e quatro irmãs, à frente de dez tribos leais.  De fato, não sabemos se estes oito personagens - talvez mais numerosos - eram realmente irmãos e irmãs. Este parentesco pode muito bem significar que nosso heróis pertenciam simplesmente à mesma raça. E não é surpreendente que estes sobreviventes de Tiahuanaco tenham levado o título de ayar. Este termo que, segundo Garcilaso de la Vega, "não tem nenhum sentido na línguageral do Peru", insto é, em quitchoua, e que "devia tê-lo na língua particular dos incas", apresenta surpreendentes similitudes com a palavra escandinava yarl, que quer dizer conde, e que "pronunciada por um índio", diz Jacques de Mahieu, "soaria como ayar, exceto no aumentativo".
          No caminho de Cuzco, os quatro imrãos não tardariam a brigar. Ayar Cachi, que tinha poderes sobrenaturais, dizem, foi atraído por seus três iemãos a uma caverna cuja entrada foi imediatamente obstruída por grandes blocos de rocha. Ayar Uchu foi deixado para trás para servir ao Sol, mas o mito contanos que foi transformado em pedra na montanha Huanacauri. Ayar Manco e Ayar Auca, os dois sobreviventes, instalaram-se em Cuzco, onde o segundo,por sua vez, morreu logo depois. Como único chefe que restou, Manco mandou primeiro construir cabanas com teto de palha, na confluência do Huatanay e do Tullumayo, a cerca de um quilômetro e meio da colina escarpada na qual foi construída, bem mais tarde, a cidadela de Sacsahuaman. O local era tão pantanoso e insalubre, por os rios de verdadeiras torrentes transbordavam frequentemente. Mas era a vontade do deus Sol. Foi lá, portanto, que construíram em pedras o primeiro edifício, que, servindo também de santuário, recebeu o nome de a Casa do Sol. 
             Os primeiros incas eram também camponeses, que só pegavam em armas para defender suas terras e para se apropriar das dos outros. Organizaram-se,como os índios, em comunidades que chamaram igualmente de ayllu. O território desta comunidades, essencialmente agrárias, chamava-se marka e sua proteção era assegurada por uma pequena fortaleza situada em um ponto elevado próximo ao vilarejo, a pucara.
             As nações formavam o segundo nível da organização social indígena, e contavam com número variável de ayllu.  Estas unidades maiores podiamreagrupar-se, segundo critérios étnicos, sob a forma de federações de caráter mais ou menos monárquico. Algumas correspondiam a grupos étincos que ocupavam dezenas de milhares de quilômetros quadrados. Outras correspondiam somente a tribos que habitavam um pequeno vale. Os "lupaka", por exemplo, constituíam um verdadeiro reino que se estendia sobre toda a margem ocidental do lago Titicaca, desde o golfo de Puno até a baía de Guaqui, e que possuía mais de cem mil habitantes no começo do século XVI. este reino, cuja influência propagava-se em todos os Andesmeridionais, era formado pelo reagrupamento de seis nações (Zepita, Ynguyo, Pomata, Juli, Llave e  Acora), sob a autoridade de um curaca de uma sétima(Chucuito).  A maior das nações (Juli) possuía vinte e sete ayllu, e a menor (Yunguyo), seis. 
            A chegada dos incas e sua atitude nitidamente expansionista levaram estes "reinos ou principados"a colocar um fim às eternas guerras, pelas quais disputavam os territórios e os pastos, e a reagrupar-se sob a fomrma de confederações provisórias ou permanentes. A dos Collas, no lago Titicaca, e a dos Chancas, a oeste de Cuzco, não tardariam a causar graves dificuldades aos recém-chegados e a conduzi-los, às vezes contra sua vontade, a guerras longínquas que nem sempre tinham premeditado.
          Com mortes e sucessões, as organizações sociais foram, muitas vezes com guerra, ampliando as leis e formas de viver de todos os incas. 
            Pachacutec foi, sem dúvida nenhuma, um dos soberanos mais importantes do império inca. Sua obra, ao mesmo tempo militar, política, jur´[idica, social e religiosa, valeu-lhe o título de "Reformador do Mundo".  Ele dedicou-se a recolocar em ordem completa a ideologia cuzquiana, sobretudo em matéria religiosa. Tratava-se antes de tudo de redefinir as relações entre o deus Sol e Viracocha, duas divindades do império, que narrações mitológicas mal-esclarecidas colocava, às vezes, como entidades rivais. 
           A ideologia incaica, assim reestruturada, iria ritualizar e desvitalizar as brigas de família. Um novo grupo de sábios, sacerdotes e educadores, os amauta, tomariam o lugar da velha casta sacerdotal do Hurin. 
            Pachacutec empreendeu igualmente a reconstrução e o embelezamento de Cuszco. " os amauta,especialistas em arquitetura, os agrimensores sayu-choctausuyoc e as corporações interessadas em urbanismo, fizeram um plano em relevo da futura cidade. Construções como o palácio de Roca e de Viracocha, a escola de administração e o convento das Mulheres escolhidas seriam conservadas e o templo do Sol aumentado. Mas a maioria das outras casas deveriam ser demolidas. Pachacutec aceitou os projetos e, para facilitar a tarefa dos construtores, mandou expulsar o habitantes cuja presença não era absolutamente necessária, mas não os deixou desabrigados, foram instalados nas circunvizinhanças. Cinquenta mil trabalhadores foram empregados inicialmente na obra,  mas o nome de seus mestres permanece desconhecido. 
             O empreendedor inca mandou também construir a famosa fortaleza de Sacsahuaman, e continuou a desenvolver a rede de estradas. 
              É talvez a Pachacutec que se deve também a misteriosa cidade perdida dos incas, tão conhecida do mundo atual chamada de Machu Picchu. O nome Machu Picchu quer dizer velho pico.
              Mas nem todos os historiadores concordam em atribuir  a construção de Machu Picchu ao inca Pachacutec, visto que o caráter grandioso do lugar inflamou  a imaginação dos amantes do fantástico e de alguns pesquisadores pouco escrupulosos. Se a arqueologia só nos informa poucas coisas, a História talvez nos permita ver mais claro. É no reinado de Pachacutec que o império enfrenta, pela primeira vez, os povos selvagens do Estado e ergue, na fronteira oriental, uma série de fortificações da qual Machu Picchu  aparece como um dos elos. Certamente  a cidade não é, a bem dizer, uma cidadela, mas sua localização e disposição garantem-lhe uma segurança quase total. Várias entrada ligan-na a diferentes  fortins que os incas haviam plantado nos pontos elevados da vizinhança.
           Manuel chaves Ballon, que foi encarregado dos trabalhos de restauração de Machu Picchu, acredita que a cidade "foi começada sob o governo de Pachacutec e jamais terminada". 
              Após o reinado de doze incas, Viracocha, que era o mais supersticioso, já tinha uma previsão em relação à invasão dos estrangeiros que nunca tinha visto, mas cuja força mágica pressentia, é reveladora do estado de espírito de uma fração, pelo menos, da aristocracia inca. Tudo se passa como se a reforma religiosa de Pachacutec, em favor do Deusa-Sol, não tivesse conseguido prevalecer sobre a memória coletiva dos incas, sempre habitada pela aparição do deus-herói  Viracocha. Quando já estava tomado pela doença, o soberano reuniu sua família e os altos dignitários para lhe dizer:  
             "-Nosso Pai, o Sol, revelou-me que após o reinado de doze incas, seus filhos, aparecerá neste país uma espécie de homens que nops são desconhecidos e que devem dominar nossos Estados. Eles pertencem sem dúvida ao povo daqueles que vieram outrora do mar... Estejam certos de que estes estrangeiros chegarão  a este país e cumprirão o oráculo!"
               Foi Gracilaso de la Vega, o semi-inca de raça real, que nos transmitiu esta revelação. 
               A exploração da costa do Pacífico do istmo do Panamá progrediu lentamente na década posterior ao seu descobrimento por Balboa. A expedição que chegou mais longe - a de Gaspar de Espinosa, que explorou por terra e por mar até Punta Burica em 1519 - dirigiu-se ao norte. Como as expedições realizadas em direção ao sul, até o "Mar do Sul", por ordens de Balboa, em 1514, 1515 e 1517, conseguiram tão pouco. Pascoal de Andagoya declarava em 1522 que "esta terra nunca foi vista, nem por mar nem por terra, desde o Golfo de São Miguel em direção ao sul". Andagoya era lugar-tenente de Pedrarias Dávila, que substituiu Balboa e mandou executá-lo. Portanto, tinha um interesse pessoal em eliminar os méritos de seus predecessores e atribuir-se a honra de apoderar-se das primeiras notícias da existência do Peru. Sem dúvida, os termos pelos quais posteriormente recordou a tarefa que lhe dera Pedrarias em 1522 - descobrir a maior parte do Peru e a costa além do Golfo de São Miguel - talvez revelem somente a influência de uma memória retrospectiva. A viagem de Andagoya em 1522, feita por conta própria, foi a primeira na qual se informa de "uma província chamada Biru" e inspirou diretamente a conquista de Pizarro. Parece improvável que seu Biru fosse o grande Império de Tahuantinsuyu, ao qual se deu o nome de "Peru".Entretanto, é possível que a expedição de Andagoya se aventura no coração do que é na atualidade a Colômbia. 
          A longa história da assimilação do Biru e Tahuantinsuyu, e da transformação de ambos no denominado Peru, começa na verdade com a formação de uma companhia do Panamá em outubro de 1525 para seguir o rastro da informação de Andagoya. Os recursos foram imobilizados em segredo por Gaspar de Espinosa, que se apoiou em um sacerdote, Ernando de Luque, como seu titular. Os sócios ativos eram Diego de Almagro e Francisco Pizarro. Ambos eram filhos ilegítimos, o primeiro, um aventureiro que se converteu em um soldado desertor e aos 15 anos; o segundo, um veterano do grupo de Balboa. A necessidade dos sócios de obter fama e dinheiro ficou evidente e claro nas exigências que fizeram à coroa. Estas foram satisfeitas ao estabelecer-se que, ao conquistador do Peru, Luque seria bispo; Almagro, um governador "nobre de estabilidade reconhecida" e o iletrado Pizarro, "governador, capitão-geral e colonizador". 
            Antes de obter estas atrativas promessas, Pizarro e Almagro tiveram de sofrer penúrias e privações inconcebíveis durante os três anos de viagens preparatórias de exploração, a partir de dezembro de 1524. 
               
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      há 25 de setembro de 1513, após abrir caminho através da floresta panamenha com sua pequena tropa armada. Vasco Nuñez de Balboa cravou a bandeira de Castilha nas areias do Mar del Sur, o mar desconhecido que Magalhães chamaria de Oceano Pacífico. Entre os poucos exploradores distinguira-se um modesto oficial, de 38 anos, quase quase analfabeto, Francisco Pizarro.  
          A morte e o sofrimento eram a sorte cotidiana destes aventureiros do Novo Mundo, mas nada poderia detê-los. Fascinados pelo enigma dourado do continente índio, estes conquistadores um tanto rudes estavam certos de ter o Eldorado na ponta de suas espadas. Estavam prontos a suportar as pieres tormentas, a massacrar e saquear impiedosamente, a avançar "a alma entre os dentes", como se dizia. Personificavam um espírito de conquista que, mais tarde, foi muito criticado nos salões da sociedade mais culta. Mas, naquele momento, eles estavam dispostos a enfrentar qualquer risco para atingir seus objetivos nada civilizados. 
             Desde que os espanhóis pousaram lá a primeira bandeira, o Panamá tornou-se um grande burgo. Era a capital da Castilla de Ouro, uma colônia que não justificava seu nome, pois das cinquenta caravelas que, cada ano, levavam a Sevilha o ouro do Novo Mundo, muito poucas procederam desta região inospitaleira, sem lenda nem riquezas. 

            Em 1524 Pizarro arquitetou novos planos. Este capitão de cinquenta anos, de barba negra e ambições desmedidas, tinha como amigo um oficial menor, plebeu, analfabeto, igualmente abandonado pelos pais nas escadarias de uma Igreja, em Nova Castilla chamado Diego de Almagro. Ambos, cansados da vida sedentária que levavam há alguns meses, ouviram com paixão as narrações de Pascual de Andagoya, o primeiro a empreender expedições em direção ao sul do continente. Trouxe também algumas histórias maravilhosas sobre uma região longíqua que se chamava Pirú, onde onde vivia uma grande população cujo príncipe acreditava-se de origem divina, e cujos palácios, dizia-se, eram tapetados de ouro. O próprio Pizarro havia encontrado, alguns anos antes, um jovem índio que lhe indicara o sul com a mão direita dizendo: "Conheço um país onde se bebe e se come em vasilha de ouro!".    
           Oito meses mais tarde, dois barcos de pequena capacidade retornavam ao mar com cento e sessenta homens e alguns cavalos. Pizarro desembarcou na embocadura do rio San Juan, na costa da atual Colômbia. Enquanto almagro retornava ao Panamá para procurar reforços, o piloto Bartolomeu Ruiz recebeu ordens de continuar sua rota com a segunda caravela a de atravessar o Equador, 700 quilômetros ao sul. 
            O primeiro contato com a civilização Inca ocorreu quando um marujo gritou: - Hai mujeres! Ele avistou algumas mulheres que estavam à bordo de uma  rústica que uma grande vela, enfunada pelo vento naquele local. Com uma manobra o navio aproximou-se desta surpreendente jangada, formada de enormes troncos de árvores, brancos e lisos, amarrados com cordas. Na parte traseira, elevava-se um camarote de bambu e uma cabine de juncos. 
           Havia realmente mulheres a bordo, e também ouro e prata, em resumo, do que se satisfazer um conquistador. Os peruanos, mais assutados que os espanhóis, deixaram-se abordar. O piloto ordenou jogar ao mar os mais recalcitrantes e oferecer aos outros algumas bugigangas. Algumas semanas mais tarde, um relato inflamado foi enviado a Carlos V; "com ornamentos pessoais, eles portavam inumeráveis peças de ouro e prata... sem contar as coroas e os diamantes, os cintos, pulseiras, escarcelas e couraças; nem os grampos, os brinquedos, os colares e  jóias engastaddos de pérolas e rubis; nem os espelhos ornados de prata; nem os cálices e outras taças. Vestiam-se com roupas de lã ou de Algodão, que lembravam as túnicas mouras... ou ainda com outros tecidos tingidos de vermelho, azul, amarelo, de todas as cores. Os tecidos são enfeitados 
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          Quando o ânimo dos companheiros de Pizarro fraquejava em 1527, conta-se que ele traçou uma linha na areia com sua espada e convidou àqueles  que desejassem continuar a cruzá-la com ele; os "Treze da Fama" salvaram a expedição tal como o fizeram, em outra ocasião (em março de 1526, os 20 mil pesos de ouro investidos por Espinosa "para ganhar ou perder como dispusesse Deus". Por sua parte, e apesar da perda de vários dedos e um olho em combates com os índios, Almagro era incansável para recrutar mais homens. Contudo, quando começou a conquista do império dos incas em janeiro de 1531, os espanhóis contavam somente com 185 homens. Tiveram sorte ao enfrentar a um  império que se desmoronava pela rebelião na sua periferia e uma guerra civil no seu núcleo. Sua estratégia foi copiada do exemplo de Cortês: capturar o soberano supremo e explorar o império através dele. Ainda que pouco acertado no México, este método mostrou-se mais útil em Tahuantinsuyu, que 3era muito mais parecido a um Estado unitário com efetivos centros de controle. 
            O estado de guerra civil permitiu a Pizarro estabelecer uma base na costa antes de aventurar-se em direção ao interior para enfrentar o governador do império. Sua própria rota seguiu o Caminho do Inca: um destacamento guiado por seu irmão subiu o campo até o alto caminho por Huancabanba. Quando se encontraram com Atahualpa para conferenciar em Cajamarca, em novembro de 1532, os espanhóis confiaram no fator surpresa e em suas armas de aço para superar a marcante desigualdade de forças de 15 para 1, capturá-lo e assim dissuadir os numerosos exércitos que este ainda comandava nos arredores. Pouco depois, os mesmos homens de  Atahualpa derrotaram e assassinaram seu meio-irmão Huáscar, em vingança pelo apoio que este último dera aos espanhóis. 
               Para liberar o inca cativo, Pizarro exigiu que um aposento do palácio fosse abarrotado com ouro, até a altura de nove pés, o que conseguiu. De todo o território começou a chegar o precioso metal para salvar Atahualpa. 
               Aqui Pizarro mostra sua deslealdade e falta de caráter.   Da mesma maneira que muitos sequestradores, ele apoderou-se do ouro e matou o refém aproveitando-se da confusão em Tahuantinsuyu. Sua intenção era capturar Cuzco, a principal cidade do Império Inca no sul, onde pretendia estabelecer um governo títere. Coube aos que chegaram depois da conquista - Sebastião, Diego de Almagro e Pedro Alvarado - disputar a honra de capturar a "capital"nortista de Quito. Almagro e Benalcázar mantiveram relações bastante fraternas e se uniram para livrar-se de Alvarado, pagando-lhe 120 mil ducados de ouro. O tesouro do Peru já estava começando a render dividendos. 
            Enalcázar era um homem de origem similar à de Almagro e Pizarro; chegou às Índias como um pobre fugitivo de um feudo familiar e, depois de prestar serviços a Pedrarias Dávila, conseguiu obter um barco e recrutou trinta homens para ajudar os conquistadores do Peru. Contribuiu para a história das explorações mais do que qualquer outro capitão, enviando grupos de reconhecimento em todas as direções. Uma vez assegurada a posição espanhola em Quito, empreendeu uma importante expedição por conta própria em direção às terras colombianas.
             O papel desempenhado por Benalcázar além dos limites do Império Inca no norte seria imitado no sul, ainda que com menos êxito, por Almagro. Chegou ao Peru sozinho depois da captura de Atahualpa e foi derrotado na conquista de Quito. Entretanto, de acordo com os termos das recompensas que a coroa espanhola dava aos conquistadores,  destinaram-lhe o governo de uma região aparentemente remota em "Nova Toledo", ao sul das comarcas incas. Estava disposto a lutar com os irmãos Pizarro por uma distribuição mais equitativa da pilhagem. No entanto, deixou-se persuadir a aventurar-se na conquista do Chile com capital fornecido pelos mencionados irmãos da pilhagem inca. Essa terra não era de todo desconhecida. O incas mantiveram reivindicações ancestrais de soberania chamando os habitantes "rebeldes". Além disso recordavam, possivelmente magnificadas, as fabulosas campanhas de Tupac Inca Yupangui, que o levaram tão ao sul como o Rio  Bío-Bío. Conheciam-se duas rotas em direção ao Chile, ambas perigosas: uma através do deserto de Atacama e outra através do altiplano desde  o Lago Titicaca. Almagro escolheu esta última porque pretendia reunir um grande exército conquistador de 12 mil índios. As proporções da expedição refletiam sua fantasia de conquistar um segundo Peru e não a realidade do inóspito terreno que devia cruzar sem provisões. Contudo, ao chegar a terrar férteis no Vale do Aconcágua, estabeleceu a viabilidade de uma futura expedição. 
           Almagro regressou ao Peru para iniciar uma série de destrutivas guerras entre seus seguidores e os de Pizarro, que conduz\iram à morte de ambos os protagonistas. Seus sucessores no sul foram homens de estirpe que deram um cunho curiosamente aristocrático à conquista e colonização da província mais remota do Império espanhol  na América. O primeiro foi Pedro de Valdivia, designado pela coroa como porta-estandarte de Pizarro. A morte de  Almagro proporcionou a Vadivia a oportunidade de solicitar aos monarcas os direitos de uma conquista própria. Em 1540 deu mostras de talento, organização e liderança de alto nível. Conduziu uma força de 150 espanhóis e 3 mil índios pela rota de regresso de Almagro através do deserto de Atacama e evitou i desastre obtendo do mar algumas provisões. Em 1544 retornou ao Peru, onde viu-se envolvido em guerras civis; entretanto, os 80 mil pesos de ouro que levou consigo permitiu-lhe retornar ao Chile com um grande número de novos recrutas.  Em sua segunda expedição atravessou o Rio Bío-Bío, o suposto limite da exploração inca, e se entregou plenamente à pacificação dos araucanos, índios indomáveis do sul do Chile, o que lhe custou a vida em 1554.  
                Nos anais da época, as rotas dos conquistadores em direção ao Peru e as expedições ao interior estão descritas de forma imprecisa: a de Andagoya é absolutamente baseada em conjeturas, as de Pizarro, Almagro, Benalcázar e Alvarado são um pouco menos, salvo aqueles trechos onde seguiram os caminhos conhecidos pelos incas.
               A desventura de Gonzalo Pizarro no Vale de Napo desalentaram os espanhóis a seguir explorando os vales existentes a oeste até a década de 1560. 
           Após sofrer privações durante três anos de viagens preparatórias, Francisco Pizarro em sua última expedição de 1531 a tão esperada conquista do Império Inca. Apoiado por um exército de somente 85 homens e 37 cavalos, travou contra os incas a batalha de Cajamarca, que lhe valeu a posse do império. Em 1535, Pizarro fundou a Cidade dos Reis, atual Lima, como capital do império conquistado. 
              O uso de cavalo em terrenos montanhosos impressionou extraordinariamente os índios. 






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