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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

FATOS QUE MOLDARAM A CHINA IMPERIAL

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          No ano 304 d.C., nômades Xsiung-nu, primos próximos do hunos, penetraram através da Grande Muralha e saquearam as antigas capitais da China do lo-yang e Ch'ang-an, dando início a quase três séculos de comoção e de governo estrangeiro. Outro povo nômade, os heftalitas ou hunos brancos, arrasou o império Gupta em 455 e, no transcurso de trinta anos, devastou as cidades e mosteiros da Índia Setentrional. Os heftalitas  não se detiveram ali e avançaram  sobre o grande império da Pérsia sassânida que somente sobreviveu graças a concessões territoriais e grandes perdas.
           Ainda que os danos sofridos pelos furiosos ataques e incursões foram considerados e a recuperação total ter demorado centenas de anos, as civilizações clássicas da Ásia Oriental e Meridional sobrevivera. Mesmo sendo temporariamente afetadas, estas civilizações demonstraram seu vigor ressurgindo das cinzas tão logo retornaram a situações mais estáveis.  Assim, estas antigas tradições clássicas trouxeram a maior contribuição individual para as impressionantes civilizações medievais que floresceram na Índia e China.  
               È incontestável que a maior civilização do Oriente Meridional foi a China. mesmo sofrendo séculos de transtornos, a tradição tanto governamental como cultural permaneceu intacta na essência, e os chineses aspiraram à restauração de um império unificado estável como se fosse o estado natural das coisas. Quando o império retornou no fim do século VI, marcou o início de uma nova idade de ouro na qual a civilização chinesa alcançou seu apogeu sob a dinastia dos Tang e dos Sung. 
       Entretanto, a ameaça de incursões vindas da Ásia central continuou a projetar-se sobre as civilizações estabelecidas no perímetro euro-asiáticos e os nômades das estepes fariam uma última tentativa antes que os séculos medievais chegassem ao fim. No ´seculo XIII ocorreu o nascimento de um novo império nômade, os mongóis, que por um momento ameaçou arrasarem as civilizações do leste e do oeste numa orgia de ataques  e destruições. Apesar de suas fantásticas conquistas territoriais, as civilizações continuaram florescendo e o reinado estrangeiro cedeu lugar novamente às dinastias locais na China e no Oriente Próximo. Uma nova e transcendental invenção - a pólvora -, difundida ironicamente no oeste pelos mongóis, faria  com que os cavaleiros nômades das estepes  já não pudessem dominar nem aterrorizar os camponeses e moradores das áreas civilizadas. O desaparecimento dos canatos mongóis representa o fim de uma era de terror iniciada com os ataques dos nômades das estepes às antigas cidades da Mesopotâmia há 4 mil anos. Também marca o início de outra era, onde todas as vantagens militares, políticas e econômicas radicavam nos Estados e impérios estabelecidos na Eurásia urbanizada, desde a China dos Ming no Oriente até a Europa do Renascimento no Ocidente. A extensa luta entre o deserto, as estepes e as cidades tinha terminado com a vitória definitiva destas últimas. 
             Depois de três séculos de fragmentação, a China foi reunificada em 589 pela dinastia Sui, cujo reinado durou apenas  35 anos. Contudo, foi o suficiente para fundar os alicerces duradouros do  Império Tang sobre a base de um sistema centralizado e a divisão em prefeituras para uma melhor administração regional. O Estado também patrocinou um estilo de budismo que foi aceito tanto no norte como no sul e construiu um sistema de canais que ligava Yang-tsé com o Rio Amarelo e a capital Sui em Ch'ang-an. 
           Infelizmente a dinastia Sui não se limitou apenas à reorganização interna e às obras públicas, envolveu-se também em conquistas externas num esforço para reavivar, de um só golpe, os êxitos do período Han. Esta combinação impôs uma caga demasiadamente pesada sobre a nascente administração e a China do Sui foi derrubada por uma rebelião em 1617. isto poderia ter sido prelúdio de outro longo período de fragmentação e de guerras civis, porém, afortunadamente, o Tang, uma família ligada por casamentos com os arruinados Sui, conseguiram, rapidamente, retomar o controle e restituir a ordem.  
         A sua ascensão ao poder marca realmente o início de uma nova idade de ouro. 
            O Estado Tang  foi um império forte e centralizado, dotado de um sistema administrativo simples, mas eficaz, dirigido por funcionários públicos que eram admitidos nos cargos após terem sido aprovados em exames públicos. No início, observaram a lição de seus predecessores Sui e se concentraram na consolidação interna. A ameaça  dos nômades do  norte ainda estava presente na memória de muitos chineses e os T'ang adotaram medidas para completar a reconstrução da Grande Muralha, inciada pelos Sui. O imenso Exército permanente estacionado ao longo da Muralha recebia equipamentos e alimentos vindos de todas as regiões da China através da rede fluvial e de canais. Entretanto, passados cinquentaa nos desde sua ascensão ao poder, os T'ang não ficaram satisfeitos com a consolidação das fronteiras existentes e iniciaram uma série de campanhas militares em grande escala com o intuito de estender o seu reinado até o Vietnã, Coréia e Ásia Central. estas campanhas envolveram grandes contingentes de tropas - 150 mil homens participaram nas campanhas da Coréia no ano de 660 -, mas, finalmente as pressões provocaram a ruína dos T'ang, como antes acontecera com os Sui. No entanto, durante algum tempo, todos os acontecimentos evoluíram favoravelmente, e no auge do seu poder, por volta de 700, o controle chinês compreendia  um território nunca antes alcançado. 
            Todo esse avanço territorial deve-se, sem dúvida ao considerado fundador da dinastia T'ang. Ele distinguiu-sem por ser e obstinado militar e, ao mesmo tempo, um brilhante administrador. Durante seu reinado, se estabeleceram contados comas civilizações da Pérsia e da Índia e floresceram as artes e as letras. 
             O vasto império T'ang, com uma população aproximada de 60 milhões de habitantes, deixou inexplicavelmente poucos vestígios. Os mais impressionantes  são os colossais túmulos reais  ao norte da capital T'ang, Ch'ng-an, que ainda não foram totalmente escavados. Contudo, as escavações na própria cidade de Ch'ang-an tê revelado muitos detalhes do seu desenho, muralhas, entradas, mercados, ruas e prédios públicos que, somados às fontes literárias, possibilitam obter muma descrição apurada da antiga cidade.  Entrem as descobertas mais importantes estão as ruínas do palácio real e três túmulos imperiais que continham valiosos objetos funerários e magníficas pinturas murais da vida na corte. 
            Os monumentos mais espetaculares, porém, são talvez os templos budistas ricamente adornados, escavados na rocha, encontrados nos territórios da Ásia Central. Em Tung-huang, perto do ponto onde o Caminho da Seda abandona a China e penetra no deserto, sobrevivem centenas de santuários escavados nas rochas com elaboradas decorações. Tn-huang prodigalizou um valioso tesouro em livros e documentos, escondidos durante uma invasão do século XI, que incluía o Sutra Diamante, o exemplar impresso mais antigo encontrado até agora, datado do anmo de 868. Trata-se de uma coleção de orações budistas chinesas impressas não por impressão tipográfica (inventada somente no século XIV na Coréia), mas com blocos de madeira. Somente alguns poucos séculos depois, a mesma tecnologia de blocos de madeira foi utilizada pelos Sung para imprimir o primeiro papel-moeda do mundo. 
             A próspera economia da China T'ang estimulou um amplo comércio exterior, os mercadores vinham para ch'ang-on oriundos de lugares tão remotos como a Índia. Pérsia, Arábia e o Japão. Os artistas chineses captaram com precisão a aparência diferente e pouco familiar desses estrangeiros nas suas pinturas, desenhos e, o mais surpreendente, em figuras de cerâmicas. os artistas também, deixaram registrados os gostos dos aristocratas T'ang pela caça e o pólo em ricas pinturas funerárias e nos vistosos cavalos de cerâmica vitrificada que estão entre suas  obras-mestras mais valorizadas.
          O século VIII foi uma época de crise. O enorme império T'ang estava seriamente enfraquecido por reveses sofridos no estrangeiro e revoltas internas. A insurreição foi controlada com dificuldades, porém, sem poder evitar que os insurretos destruíssem Ch'ang-an, a capital T'ang, que era a maior cidade do mundo, com mais de um milhão de habitantes. Diante desses acontecimentos, a China começou a se orientar rumo sul, cada vez mais longe do tradicional Rio Amarelo. Entretanto, embora as políticas centralizadas do século VII fossem abandonadas, a China, no seu conjunto, continuou prosperando. O poder foi transferido para as províncias, estimulando a transformação das capitais provinciais em grandes e opulentas metrópoles. Houve também u,ma massiva movimentação da população rumo ao fértil vale do Yang-tsé, onde novos métodos agrícolas produziam enormes excedentes de grãos. O comércio se desenvolveu rapidamente, formando-se numa rede de pequenas cidades mercados por todo o país. 
              Porém o êxito econômico não foi capaz de salvar os T'ang e, em 907, a dinastia finalmente desapareceu. Logo se seguiram várias décadas de comoção e a China novamente se fragmentou em pequenos reinos independentes. Somente em 979 uma nova dinastia, os Sung, conseguiu restaurar a unidade, porém as afastadas províncias do domínio dos T'ang se haviam perdido. A Ásia Central já não fazia parte do império dos Sung e o Vietnã do Norte se emancipou como reino independente.  Por outro lado, os liaos, um povo mongol localizado além da Grande Muralha, assolaram parte do nordeste da China, e os tangutes, de língua tibetana,fizeram o mesmo na zona fronteiriça do noroeste. 
          Ch'ang-an, a antiga capital imperial dos T'ang, era também o centro cultural e econômico do seu vasto império. Era uma cidade enorme, com um milhão de habitantes que moravam em mais de uma centena de distritos murados, fechados à noite. existiam mais de cem templos budistas, taoistas, e no bairro estrangeiro, zoroástricos e nestorianos. Com mais de uma centena de grêmios de comerciantes, Ch'ang-an era uma importante cidade comercial e seus mercados vendiam todas as variedades de artigos exóticos e comuns. Os mercados foram parcialmente escavados, revelando moedas de prata de Bizâncio e da Pérsia e os sulcos deixados pelas carroças ha 1200 anos atrás. 
            A corte T'ang foi profundamente influenciada pela cultura estrangeira e pelo ágil estilo de vida dos povos fronteiriços. A elite T'ang era formada por exímios cavaleiros dedicados à caça e ao pólo. 
             Sob os T'ang as redes comerciais se estenderam até a Índia, Pérsia, Japão e Arábia  e a economia desenvolveu-se. Osa mercadores viajavam em camelos desde o Oriente Médio pela Rota da Seda buscando mercadorias exóticas. 
           Ali estavam também o Grande Vestíbulo do templo Nandan, Shensi, o edifício de madeira mais antigo da China. Somente os edifícios da mesma época que sobreviveram em outros lugares dão uma ideia de como brilhava Ch'anf-an na sua glória.
          Contudo, dentro destas fronteiras reduzidas, a China prosperava como nunca. A população, que no século VII alcançava os 60 milhões de habitantes, chegou a mais de 100 milhões no ano 1100, sendo que quase a metade habitava agora no centro e no sul. O predomínio econômico do Yang-tsé estava finalmente estabelecido, embora a capital Sung ainda permanecesse por algum tempo no norte, na grande cidade comercial de Kai-feng. Esta cidade li8gava-se por canais com o litoral do pacífico e as caravanas de  camelos chegavam até ali desde a Ásia Central, como acontecera em Ch'ang-an em tempos passados. Entreetanto, as rotas navegáveis da China até a Índia e o Golfo Pérsico eram agora mais importantes. No período Sung, a China era uma potência marítima de primeira magnitude, e sua frota sulcava livremente os mares do sudeste da Ásia e o Ocenao Índico. Moedas e porcelana chinesa têm sido encontradas no litoral da Arábia e perto do estreito de Ormuz. Tudo isso devido á invenção chinesa da bússola. Ainda assim, em termos gerais, a China da dinastia Sung manteve-se muito mais afastada  do mundo exterior que a dos T'ang. as influências estrangeiras tinham sido visíveis em muitos aspectos da vida diária, desde a música até as cepas de vinho e a filosofia budista. A cultura Sunga foi significativamente mais introvertida e receosa do mundo além de suas fronteiras. Essa seria uma característica principal da China nos ´seculos posteriores. 
         Sob a dinastia Sung, a China foi muito mais rica e populosa do que sob os T'ang. As regiões como Fukien, atrasadas no século VIII, chegaram a ser centros importantes e de refinada cultura. O próspero sul sobreviveu inclusive à crise do século XII, quando os Chin, nortistas oriundos da Manchúria, devastaram a maior parte da China Setentrional e tomaram a capital K'aifeng. mesmo com dois terços do seu tamanho  original, a China Sung era uma sólida forla política e econômica. Hang-chou, perto do delta do Yang-tsé, converteu-se na nova capital e logo superou  K'ai-feng em beleza e refinamento. Um século depois, Marco Polo diria que um passeio pelo belo Lago Ocidental de Hang-chou produzia "maior refresco" e deleite que qualquer outra experiência na Terra. 
              A capital Sung K'ai-feng, era uma grande cidade comercial convertida  em capital, enquanto Ch'ang-an foi construída pelos T'ang especialmente como a sede simbólica do poder. K'ai-feng, localizada ao longo do canal que levava ao sul, era o centro de uma região produtora importante dotada de uma indústria de ferro que utilizava o cavalo para fundição. Os Sung construíram pagodes pré-fabricados de ferro fundido. Durante o período Sung, o centro de gravidade da China  - político,cultural e econômico - se deslocou desde a China Setentrional até o Yang-tsé. A rede comercial ainda incluía caravanas de camelos até a Ásia interior, porém, o tráfego fluvial se fez predominantemente. 
             A china  no século XIII era ainda mais populosa, produtiva e próspera do que a Europa Ocidental da época. Apesar das derrotas militares  e de fronteiras reduzidas, as realizações culturais e o êxito econômico dos Sung ainda se incluíam entre as maravilhas da época.; No  entanto, enquanto os dignitários chineses comemoravam e se divertiam nos seus "barcos do prazer" no Lago Ocidental de Hang-chou, ameaçadoras nuvens de tempestade projetavam-se  no horizonte setentrional. Muito longo, na Ásia Central, uma nova onda de invasores das estepes começava a se formar, e destruiria não só os Sung, mas também o Califado de Bagdá e os reinos cristãos da Europa Oriental: eram os mongóis. Este primitivo povo nômade das estepes da Ásia Central, causaram uma tremendo impacto na história mundial. Muito lembrados pela ferocidade de sua investida, estabeleceram um império de grande extensão que abrangia desde a Hungria até o pacífico. Esta foi a última, e provavelmente  a mais violenta, das incursões nômades que a civilização teve de suportar e seus efeitos foram consideráveis. A organização política da Ásia e de uma grande parte da Europa foi alterada; povos inteiros foram expulsos e dispersos; milhões foram assassinados ou morreram de fome e a influência e destruição das principais religiões do mundo foram decididamente modificadas. Eram verdadeiras feras selvagens; matavam por prazer e estupraram e engravidaram tantas mulheres que hoje, cerca milhões de pessoas possuem traços de seu DNA. 
            Embora tenham sido um trágico episódio na história dosa países afetados, as invasões mongóis trouxeram uma nova unidade para a maior parte da Eurásia, que permitiu o acesso europeu à Ásia e ao Extremo Oriente; foi assim que Marco Polo pôde viajar para a China em 1271. Da mesma forma, foram os mongóis que cederam à Europa e ao Ocidente uma nova invenção militar que ironicamente traria o fim da era das invasões vindas das estepes: as armas de fogo, com o uso da pólvora inventada pelos chineses. 
               Ainda falando sobre os mongóis, é importante lembrar  que Gengis Khan, seu maior líder, começou sua campanha para dominar o mundo em 1211, quando invadiu o Império Chin da China Setentrional, penetrando através da Grande Muralha. Nem as maciças fortificações de 12 metros de altura por 12 metros de largura puderam salvar Pequim, a capital Chin, que caiu perante os invasores em 1215. Seus edifícios foram saqueados e queimados e seus habitantes assassinados ou escravizado de acordo com a estratégia bélica habitual dos mongóis: a campanha do terror. 
              De fato, os mongóis causaram uma imensa destruição na China Setentrional no começo do século XIII. A maior parte das terras deixaram de ser cultivadas e as cidades e indústrias foram devastadas. Sob o domínio mongol, os chineses foram explorados de forma cruel, a produtividade diminuiu e o comércio foi interrompido. O resultado final foi a revolta dos súditos chineses contra os amos mongóis, que acabaram  derrotados, a criação de uma nova dinastia  chinesa  em 1368: os Ming. 
             Chu Yuan-chang, o primeiro imperador Ming, foi uma exceção na história chinesa: um humilde camponês que fundou uma dinastia imperial. Nascido em 1328 num ambiente de profunda pobreza, Chu abriu caminho rumo ao cume do mundo político chinês. Ao longo de sua vida foi monge budista, bandido e comandante militar. Talvez o seu instável passado explique por que,como imperador, visse conspirações em toda  a parte. 
               O seu temor a uma insurreição era tal que, em 1380, Chu destituiu todos os seus principais conselheiros, assumindo pessoalmente quase todas as funções executivas do governo. Esse sistema funcionou bem para Chu e para alguns dos seus mais vigorosos sucessores; porém, quando estiveram no trono homens menos capazes ou menos dedicados à sua tarefa, as atividades de governo podiam chegar a uma virtual paralisação devido à falta de direção central. 
               Depois da morte de Chu, em 1398, aos 70 anos, houve uma disputa pela sucessão, da qual saiu vitorioso seu quarto filho, que chegou a ser conhecido como o imperador Yung-lo. Durante a vida do seu pai, Yung0lo encarregou-se de Pequim, a antiga capital dos mongóis, no norte do país. Rapidamente transformou-a na capital Ming. Utilizando  mais de 200 mil operários, reconstruiu as muralhas de adobe empregando , pela primeira vez, pedras e tijolos, criando a que atualmente é chamada "A Cidade Proibida", que converteu no seu quartel-general. Yung-lo lançou também uma série de campanhas contra os mongóis, na tentativa de estabelecer uma defesa contra as tribos das estepes. Apesar disso, não conseguiu capturar nenhum dos seus líderes, o quem o levou a construir novas muralhas defensivas e reforçar as guarnições do norte. Para administrar as tropas e os residentes da capital, aperfeiçoou e alargou o Grande canal, que se estendeu por 1600 quilômetros, desde Hang-chou até o sul de Pequim, tornando-o uma das maravilhas do mundo. Cerca de 20 mil embarcações chegaram a transportar anualmente mais de 200 milo toneladas de grãos para o norte pelo Grande Canal e seus numerosos diques, protegidos por 160 mil guardas mantidos pela dinastia Ming para garantir essa vital linha de abastecimento do seu império.  
               Aproximadamente de 1400 até 1600, Pequim, a principal capital do Império Ming, foi a maior e a mais populosa cidade da Terra. Estudos detalhados baseados em escavações, registros literários e visuais e mapas posteriores têm remitido aos arqueólogos reconstituírem a cidade tal como se erguia  no ano 1600. A cidade atual conserva o traçado básico da capital Ming, que compreendia originalmente três recintos murados. No centro estava localizada a cidade do palácio (agora denominada de Cidade Proibida), que compreende os palácios imperiais residenciais e de audiências. Ao redor deles estava a Cidade Imperial com os escritórios burocráticos dos eunucos, jardins, parques, depósitos e fábricas. Uma muralha de terra batida resvestida com tijolos cercava a cidade. Em 1553 foi construída outra muralha para proteger os subúrbios do sul da cidade e o Altar do Céu, que haviam sido saqueados pelos mongóis quando atacaram Pequim em 1550. A partir dai ma parte norte da cidade foi designada como a cidade interior, e a parte sul cercada pela nova muralha, como a cidade exterior. As muralhas da cidade interior estendiam-se por  6,5 quilômetros de leste a oeste e 5,5 quilômetros de norte a sul. As muralhas da cidade exterior percorriam 8 quilômetros de leste a oeste. À leste da cidade do palácio estavam os lagos e jardins do parque imperial. Depois de 1500, muitos imperadores Ming decidiram residir nesse parque e não na cidade do palácio. A maioria dos escritores burocráticos dos eunucos estava ao norte e nordeste  dela, enquanto os principais escritórios militares  e civis do governo imperial estavam localizados imediatamente ao sul, em ambos os lados da avenida principal que percorria desde a entrada  principal na cidade interior até a entrada principal da cidade do palácio. As audiências se realizavam geralmente no pátio localizado no extremo sul da cidade do palácio. O centro comercial mais importante da cidade ficava ao sul da cidade interior. Eram destinados muito mais espaços nas cidades para as áreas comerciais e residenciais do que nos tempos Han e T'ang, o que reflete uma tendência iniciada no período Sung.
               A Cidade Proibida com o palácio residencial e de audiência  está localizada num recinto murado no centro da cidade imperial de Pequim. 
            A residência do imperador, feita de prédios de madeira vermelha e amarela cercados de terraços, escadas e balaustradas de mármore branco, contrastava com o meio natural. A maior porta do palácio é a do Meio-dia, composta de grande  saguão central e quatro pavilhões. Mais para o norte está o pavilhão através do qual se ingressa no Palácio do Céu, residência privada do  imperador. As habitações exclusivamente imperiais estavam ao lado oeste do palácio, bem como os pavilhões para a imperatriz e a concubina imperial. 
            Um dos aspectos mais característicos da arquitetura aristocrática chinesa eram as construções com terraços em diferentes níveis. 
             Na Cidade Proibida encontram-se também os retângulos  concêntricos a da proibição: uma ordem arquitetônica onde tudo é defesa de outra defesa e cada elemento é o parapeito do seguinte, terminando no centro com a Cidade Proibida de aproximadamente 720 milo metros quadrados, onde foram construídas 9.999 habitações. 
           No coração da Cidade Proibida, cerado por 72 pilares adornados com dragões enrodilhados, está o trono de ouro do imperador, local onde só ele tinha acesso. 

        Yung-lo não restringiu apenas ao norte suas políticas expansivas. Enviou também exércitos para Anam (Vietnã), onde, embora tivessem conseguido anexar temporariamente as regiões setentrionais, logo estiveram envolvidos numa confusa guerra de guerrilha. Com muito mais êxito, Yung-lo começou a estender sua influência marítima. Enormes frotas de "barcos coletores" foram construídos em Nanking e enviadas numa sucessão de sete viagens para o Sudeste Asiático, Índia, Ceilão, Arábia e inclusive para o litoral  oriental da Árica. Projetadas em parte para exibir a bandeira Ming e anunciar a posição de Yung-lo como o máximo governante do mundo, essas expedições marítimas eram de uma envergadura  fantástica. Na quarta viagem, realizada nos anos 1413 - 1415, zarparam 63 ou mais grandes barcos com aproximadamente 28 mil homens na tripulação. As demais viagens não foram menos Importantes. Em contraposição, o navegante português  Vasco da Gama entrou no Oceano Índico em 1498 com apenas quatro pequenos barcos e escassos 500 homens. As frotas chinesas, comandadas pelo eunuco muçulmano Cheng Ho, retornaram com valiosos tributos, governantes submissos, incluindo, em 411, o rei do ceilão, e raridades, como girafas, leões e espécimes exóticos. 
          Mas, mesmo que essas viagens estimulassem a vaidade de Yung-lo e excitassem sua curiosidade, seu custo superava em muito o valor dos tributos conseguidos. Pouco depois de sua morte, em 1424, as viagens e colônias, como Anam, foram abandonadas. 
         Quase imediatamente os recursos do império tiveram de ser redistribuídos para enfrentar uma nova ameaça vinda no norte. Em 1449, o descendente de Yung-lo, Cheng-t'ung, um jovem imperador  com ambições de grandeza e cercado de péssimos conselheiros, liderou uma expedição para o norte de Pequim que terminou em desastre. Não longe da capital, o próprio imperador foi capturado de maneira humilhante pelos mongóis e destronado por seus indignados súditos. Os mongóis deixaram de pagar tributos aos Ming e, em troca, pressionaram os chineses com uma série de exigências políticas e econômicas. Quando estas eram desobedecidas, lançavam ataques ao império, atingindo em muitos casos os subúrbios de Pequim. O  governo imperial respondeu renovando e entendendo o que conhecemos como a Grande Muralha, até que alcançasse as impressionantes  dimensões atuais: mais de 5 mil quilômetros. Certamente constituiu uma prova incontestável das habilidades logísticas e tenológicas da dinastia Ming. Porém,, mesmo assim, nem sempre conseguiu manteve afastados os mongóis. Desde então, a dinastia teve de manter-se na defensiva.   
          A fronteira norte não era o único problema da China dos Ming. Depois que as viagens oceânicas  terminaram na década de 1430, as defesas litorâneas  foram descuidadas e o comércio ultramarino  proibido, exceto aquele realizado sob estrito controle do governo. Não é surpreendente, pois, que no ano 1500 o contrabando viesse a se tornar um problema frequente nas províncias a sudeste de Chekiang, Fukien e Kwangting. Por volta de 1550, os mares próximos á China estavam infestados de bandos de contrabandistas e piratas fortemente armados que aterrorizavam os habitantes das regiões litorâneas do país. Esses indivíduos são frequentemente aludidos em relatos chineses como "piratas japoneses", porém de fato em sua maioria eram marinheiros chineses  cujas fontes de trabalho e de sobrevivência tinham sido ameaçadas pelas políticas governamentais. Pela primeira vez na história da China,m o litoral do Sudeste Asiático tornou-se uma fronteira de fundamental importância militar. 
          A primeira prioridade dos Ming foi a restauração da vida normal. Os sistemas de irrigação e de esgoto foram reconstruídos, foi realizado o reflorestamento em grande escala e enormes quantidades de pessoas foram deslocadas para o norte para povoar novamente as áreas devastadas. Ao contrário dos Sung, que tinham dependido fortemente do comércio da manufatura como fonte de renda, os Ming retornaram ao sistema anterior baseado na produção agrícola. Da mesma forma, abandonaram o papel-moeda, do qual os mongóis tinham feito mau uso. Foi reorganizado o Exército nas fronteiras com colônias militares, reconstruindo-se a Grande Muralha. Também foi restaurada a rede  de canais, construindo-se outros para ligar Pequim com a capital Ming e com os centros povoados e agrícolas do vale de Yang-tsé. 
            Com esses esforços, a população tornou a crescer  mais uma vez. Em 1393, o número de habitantes chegava a 60 milhões, 40% menos do que nas últimas épocas dos Sung. Em 1580, depois de dois séculos de governo Ming, tinha atingido 130 milhões, introduzindo-se novos cultivos e técnicas agrícolas melhoradas para alimentar a crescente população. Com o florescimento econômico, o comércio e a indústria revigoraram e  as grandes cidades do delta do Yang-tsé - Nanking, Suchou, Wuxi, Sungiang e hang-chou - se tornaram centros industriais, principalmente de têxteis. No fim do século XVI, o comércio recebeu outros estímulos graças ao fluxo de prata vindo do Novo Mundo, recebia como pagamento pelas exportações de chá, seda e cerâmica. 
             A riqueza da corte Ming se reflete no grande complexo palaciano criado no centro de Pequim,cidade que sob essa dinastia chegou a ser, por algum tempo, a maior e mais populosa da Terra. Sua magnificência é também observada nos túmulos dos imperadores Ming, localizados no norte de Pequim. Ali,m com uma disposição que lembra o Vale dos Reis, no Egito, treze imperadores  Ming descansam em túmulos ricamente adornados. Um dos mais valiosos e melhor conhecidos é o de Wan-li, imperador de 1573 até 1620. Os artigos funerários incluíam numerosos utensílios de ouro e prata, tecidos de brocado, roupas e objetos pessoais do imperador e suas esposas e as insígnias reais. Um túmulo mais antigo, do príncipe Chu Tan em Chou-shian, no sul de Pequim, continha uma comitiva de mais de 400 estatuetas de madeira e uma coleção de valiosos livros impressos nos séculos XIII e XIV. 
        Lentamente, a opulenta corte dos Ming começou a se isolar cada vez mais do resto da China. Depois de 1582, os imperadores se negaram a realizar as tarefas imperiais e inclusive a se reunir com seus ministros. O poder passou às mãos dou eunucos que, com seu próprio Exército e polícia secreta, podiam, sem distinção, aterrorizar a plebe e os funcionários. O resultado era previsível. Em 1644, a dinastia Ming acabou, como tantas outras, devido a uma grande revolta popular, deixando espaço para um povo da Manchúria que não era chinês entrar em cena e estabelecer a última dinastia da China imperial: os Ch'ing. 
                Partindo de suas terras localizadas nas montanhas do sudeste da Manchúria, esse povo expandiu-se  gradualmente, nas primeiras décadas  do século XVII, até as autuais províncias de Liaoning e Kirin. Com a ajuda de um grande número de chineses, estabeleceram um governo estável de estilo chinês com capital em Mukden (atual Shenyang) entre 1625 e 1644. A paretir deste ponto invadiram a Coréia, reduzindo-a a vassalagem em 1637, e a Mongólia Interior, que se converteu em colônia manchu entre 1624 e 1635. Quando os Ming foram derrotados pelo rebelde Li Tsu-ch'eng em 1644, os manchus invadiram a China er proclamaram uma nova dinastia. Próximo ao ano de 1652, apesare da resistência dos partidários dos Ming no sul, a maior parte do país estava sob o controle manchu. A resistência continuou no sudoeste até 1659 e, na costa sudeste, os partidários dos Ming ocuparam Taiwan em 1662 (que antes nunca havia estado sob controle chinês), onde permaneceram até 1683. 
             Logo que a rebelião dos Três Vassalos foi reprimida, os Ch'ing desfrutaram de um século de paz e prosperidade  sob uma sucessão de governantes muito capazes. Os manchus mantiveram um lugar preponderante do governo e, sobretudo, no Exército, e foram capazes de estabelecer uma boa relação de trabalho com os funcionários chineses, sendo que até o final do século XVIII, profundamente influenciados pela educação e cultura chinesas, começaram a perder sua marcada identidade. Houve uma série de insurreição das minorias étnicas que foram cruelmente exploradas tanto pelos chineses como pelos manchus. Houve rebeliões tribais em Yunnan (1726 - 1729), entre os miao de Kueichou (1795 - 1797) e novamente em 1829, e entre os yao de Kuangsi em 1790. A maioria muçulmana chinesa rebelou-se em Kansu entre 1781 e 1784. As rebeliões tribais massivas de Chin-ch'uan na parte ocidental de Sechuan foram mais sérias. Estas eclodiram pela primeira vez em 1746 - 1749, e após  alguns anos de calma, renovaram-se em 1746 - 1779. Finalmente, restaurou-se a ordem depois de custos das operações militares. ocorreu uma nova rebelião entre 1787 e 1788, no território recentemente ocupado de Taiwan. Entretanto, todos estes distúrbios ocorreram em áreas periféricas e não apresentaram maiores ameaças para a dinastia. 
             Ao finalizar o século XVIII, o conflito adquiriu uma nova dimensão. Nessa época, ainda  que a China fosse imensamente poderosa, produtiva e muito povoada, vislumbrava-se uma grande crise econômica. A área adequada para a agricultura, que se ampliou graças à introdução de novos cultivos (milho, batata-doce, amendoim e tabaco) nos séculos XVI e XVII, estava agora totalmente ocupada. A única região apta para o tipo de agricultura chinesa era a Manchúria, sendo preservada deliberadamente como terra natal dos manchus, ficando proibido o estabelecimento chinês nesta região. Entretanto, a população - cujo crescimento foi contido pelas epidemias no final dos séculos XVI e XVII e pelas rebeliões e guerras no final da época Ming e começo da Ch1'ing -triplicou, entre 1650 e 1800, de 100 para 300 milhões, e continuou crescendo em ritmo acelerado. Ao redor do ano de 1850 era de 420 milhões de habitantes. Esta população em constante crescimento precisava ser alimentada mediante o cultivo  intensivo de uma área limitada e, no final do século XVIII, a pressão demográfica começava a gerar privações e um empobrecimento geral. 
              Estas privações começaram a produzir ventes e rebeliões entre a população chinesa, geralmente incitados por sociedades secretas. A primeira deflagração importante foi uma série de motins conhecida como a Rebelião do Lótus Branco, que se originou nas regiões montanhosas de Sechuan, Shensi e Hupeh em 1795 - 1804 e, novamente, ainda que em menor escala, alguns anos mais tarde. Em 1786 - 1788 eclodiu em Shantung uma rebelião da seita dos da seita dos Oito Trigramas e em 1811, um levante de grande proporção da seita da Doutrina Celestial em Honan, Hopeh (Chihli) e Shantung,  acompanhado por um golpe de Estado em Pequim, finalmente destruída em 1814. Desencadearam-se mais levantes entre os povos fronteiriços: os tibetanos perto de Kuku Nor em 1807, os yaos em Kueichou (1833), e em Sinkiang, onde os oásis de Yarkand e Kashgar permaneceram em franca insurreição entre 1825 e 1828. 
              Os problemas econômicos básicos do país intensificaram-se devido à política de expansão, gerando grandes tensões na ineficiente administração financeira do império. Outro fator que contribuiu foi o comércio exterior. Durante os ´seculos XVII e XVII, um ativo comércio de exportação, especialmente de chá, seda, porcelana e produtos artesanais, desenvolveu-se sob a licença do governo de Cantão e com os russos em Kyakhta. Ainda que a economia chinesa fosse auto-suficiente, estas exportações eram remuneradas principalmente com prata, a medida padrão de pagamento na China. No fim do século XVIII, as potências estrangeiras começavam a introduzir ´´opio na China, desde a Índia e o Oriente Médio, para pagar suas exportações. Em 1830, as importações de ópio, ultrapassavam as exportações chinesas de chá e seda e começou uma fuga de prata para o exterior, causando efeitos cada vez mais negativos sobre a economia chinesa, prejudicando ainda mais as finanças estatais. 
               Além disso, e eficiência do governo Ch'ing começou a declinar rapidamente. No final do século XVIII, a corrupção dominava todos os níveis do governo, afetando tanto a corte como a administração civil e os exércitos manchus, cuja desmoralização, falta de provisões  e equipamentos ficaram demonstrados na rebelião do Lótus Branco. Por outro lado,a administração não se modernizou o suficiente para contrabalançar o ritmo do grande crescimento demográfico; no  princípio do século XIX, a burocracia imperial era insuficiente  e o governo delegava cada vez mais suas funções aos membros da nobreza local, atuando como seus agentes não recebendo nenhuma remuneração. 
               Em 1820 a China manchu era o maior e o mais povoado império do mundo. Ela controlava diretamente grandes territórios no interior da Ásia e dominava extensas áreas como Estados tributários: Coréia, Indochina, Sião, Birmânia e Nepal. Porém, dentro deste imenso império, o controle administrativo e militar da dinastia Ch'ing declinava gradualmente, à proporção que as pressões econômicas exigiam medidas que poderiam ser, alternativamente, uma inovação tecnológica em grande escala ou uma reorganização radical do país. nenhuma das duas soluções foi alvitada e, enquanto isso, a China enfrentava novas pressões das potências expansionistas ocidentais. 


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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

AS GUERRAS E O COMÉRCIO NA IDADE MÉDIA

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        Durante a maior parte  da Idade Média, a Europa Ocidental foi uma sociedade organizada para a guerra. A ordem social e econômica se estabeleceu em função das demandas do estado de guerra e um dos objetivos principais do sistema feudal foi a manutenção de uma força de cavaleiros armados. Teoricamente, no Estado feudal, todas as terras pertenciam ao ri, que distribuía parcelas aos senhores, como vassalos, em troca dos seus serviços. Estes, por sua vez, entregavam terras para outros senhores e assim sucessivamente.  Para formar um exército medieval, o rei convocava os seus vassalos para que formassem parte do Exército e reunissem um número determinado de cavaleiros; cumpriam com esta exigência levando seus próprios vassalos, que por sua vez chamavam os seus, e assim sucessivamente até a menor parcela de terra capaz de equipar  e manter um cavaleiro.  
         O cavaleiro medieval era um grande guerreiro adestrado, treinado desde jovem, mediante a prática constante  e a experiência direta com a guerra. Lutar era a razão de ser e o principal passatempo da nobreza; oathos do valor militar e a lealdade ao senhor eram enormes. mas um cavaleiro medieval com cavalo de combate, armadura e escudeiro constituía um investimento custoso. De fato, no século VIII costumava-se dizer que o equipamento militar para um homem custava ao redor de 20 bois, equivalente ao necessário para que dez famílias lavrassem a terra. 
 |o entanto, uma força efetiva de cavaleiros era essencial para a segurança de qualquer reino ou principado, e as estruturas sociais e econômicas se adaptavam de acordo com essa necessidade. 
         A superioridade do cavaleiro montado foi uma novidade na Idade Média e dependeu em grande parte da introdução do estribo. A cavalaria sempre foi importante para a guerra, mas a capacidade de realizar um ataque coordenado a galope com lanças só surgiu quando os cavaleiros tiveram um apoio firme para os pés e puderam assegura-se de não serem derrubados pela força do impacto. O estribo de ferro, oriundo do nordeste da Chia no século IV, foi levado para o Ocidente por guerreiros nômades durante o século VII.  Com o uso do estribo, homem e cavalo formavam uma força única, como se fosse um só corpo.  Como todas as inovações militares, suas vantagens foram rapidamente reconhecidas, sendo logo utilizado pela cavalaria bizantina e pelos cavaleiros de Carlos magno. Durante quase mil anos, na Europa, a principal característica da guerra foi a carga maciça da cavalaria. 
               Os guerreiros de Carlos |magno e de Guilherme da Normandia utilizavam colete de malha, mas aqueles dos séculos posteriores se protegiam com uma couraça de placas de ferro acopladas. Da mesma forma, foi desenvolvida a criação de cavalos maiores e mais fortes que pudessem suportar o peso adicional. Os animais eram levados para a guerra com armadura. 
      A orientação militar da sociedade fazia com que grandes esforços e riquezas fossem destinados a armamentos e fortificações. Lentamente começaram a ser utilizados coletes de malha com proteções de ferro nas partes mais vulneráveis, e no século XIV apareceram as armaduras de ferro. As armas ofensivas procuravam acompanhar a evolução, primeiro com a adoção da besta chinesa, durante o século X, que possibilitava atravessar a couraça mais grossa, logo, no século XIV, com o desenvolvimento do canhão. Os canhões não eram usados apenas em operações de campo, mas também nos cercos, que constituíam uma das principais características das guerras medievais. A insegurança generalizada e as frequentes hostilidades obrigaram a adotar defesas seguras e todos os nobres que podiam dar-se a esse luxo construíram castelos  ou casas fortificadas. No início as fortificações eram construídas  de terra e de madeira, porém, durante o século XI, apareceram cada vez mais as fortificações de alvenaria. O projeto da arquitetura militar foi ficando mais sofisticados durante a Idade Média, tendo deixado impressionantes  monumentos medievais, tais como o castelo construído por Eduardo I em Gales ou as fortalezas dos cruzados no Levante.   
Besta de repetição

Besta comum

       O rumo dos acontecimentos no norte da Itália durante a Alta Idade Média diferenciou-se significativamente daquele da Europa ao norte dos Alpes. Reunificada pelos generais de justiniano por um breve  período em meados do século VI, a Itália voltou rapidamente a se fragmentar  e no fim do século IX estava dividida entre bizantinos, lombardos, árabes e francos. Nessa época confusa, os poderosos senhores feudais consolidaram seus controle sobre as zonas rurais, enquanto árabes e magiares atacavam sem impunidade. Apesar destes revezes, a Itália conseguiu manter nas cidades o nível de cultura perdido no resto do país e que constitui a base do renascimento cultural e econômico nos séculos vindouros. Os principais portos, como Veneza, Nápoles, Gaeta e Amalfi, continuaram funcionando sob o domínio bizantino e seguiam respeitando as leis escritas. De fato, o nível de educação era surpreendentemente considerando-se a insegurança  da época e o confuso ambiente político; os registros demonstram que em algumas cidades mais de 75% das testemunhas em juízo sabiam o seu nome, embora provavelmente estas pessoas pertencessem aos setores mais privilegiados da sociedade. 
           Com o surgimento das Cidades-Estado, os conflitos entre o papa e o império e o poder das cidades impediram a unificação da Itália. Depois do ano de 1250 o poder das Cidades-Estados independentes era exercido por oligarquias republicanas ou por déspotas que com frequência surgiam como alternativa à violência das facções políticas em luta. No entanto, isto demonstrou ser positivo. Gênova e Veneza tornaram-se os portos livres mais poderosos da Europa, criando vínculos vitais entre os mercados e os produtores do leste e do noroeste da Europa. Florença tornou-se um poderoso centro financeiro e em muitas repúblicas surgiam hábeis administradores e empresários, que estabeleceriam as bases do Renascimento europeu. A Alegoria do Bom e do Mau Governo, de Ambrósio Lorenzetti  enfeita o Palazzo Público em Siena e comemora as virtudes do planejamento urbano republicano e da administração pública. 
           A recuperação do comércio exterior, durante os séculos XI e XII, significou uma grande oportunidade para as cidades do norte da Itália, situação aproveitada com vigor. Já no fim do século X, os italianos mantinham relações comerciais com Constantinopla, a Alexandria muçulmana e a Inglaterra anglo-saxônica. Veneza foi beneficiada por taxas preferenciais concedidas pelos senhores bizantinos, tendo rapidamente dominado o comércio no leste do Mediterrâneo. Gênova e Pisa, por outro lado, estreitaram seus vínculos com o norte da África, exportando tecidos da Lombardia e da Alemanha em troca de joias, perfumes e especiarias do Oriente. 
         À medida que o comércio se desenvolvia, os mercadores ricos e as classes profissionais começaram a exigir de seus senhores maior participação no controle sobre as cidades italianas do norte. Surgiram novos sistemas de governo comunal nos quais os grupos de cidadãos mais importantes elegiam seus próprios conselhos e oficiais, nascendo assim as Cidades-Repúblicas italianas. As cidades eram independentes e entre seus habitantes havia um poderoso sentimento  de patriotismo. Foram construídos impressionantes prédios públicos, palazzi publici, como centros do governo da cidade, com altas torres que simbolizavam a autoridade do município. Em Siena, a torre do Palazzo Público foi construída especialmente alta para superar a catedral e assim simbolizar a supremacia, na cidade, do poder secular sobre o eclesiástico. O orgulho cívico se manteve apesar de o governo republicano, no ano de 1250, ter dado lugar ao domínio senhorial - governo de famílias de déspotas como os Médicis em Florença ou os Visconti em Milão.
           O êxito econômico trouxe consigo o crescimento urbano. Em 1200, Pádua tinha mais de 15 mil habitantes; em 1320, 35 mil; ao passo que, no fim do século XIV, Florença tinha quase 100 mil habitantes e poderia ter competido com as principais cidades do mundo clássico em tamanho ne sofisticação. Porém, houve retrocessos. O rápido desenvolvimento das cidades trouxe enormes desigualdades de riqueza entre os bem-sucedidos mercadores e os cidadãos pobres. O cristianismo foi fundamental para a ressurreição da Europa medieval. Ao invés da secularidade do cristianismo ocidental, o cristianismo oriental olhava com horror o mundo secular e se recolhia na espiritualidade mística. Os franciscanos, uma ordem de pregadores mendicantes, surgiram como resposta a estes novos problemas e tentaram levar a religião à classe marginalizada pelos processos de mudança que estavam fora do seu controle. Contudo, apesar dos novos problemas, as cidades italianas estavam à vanguarda do desenvolvimento cultural europeu durante os séculos XIII e XIV: o berço de Dante Alighieri, Boccacio e Petrarca, de Giotto e de Duccio. Mais próspera e culturalmente mais desenvolvida, a Itália, no ano de 1400, estava entrando numa nora era: o Renascimento.
           Enquanto o comércio e o urbanismo se desenvolviam rapidamente ao sul da Europa, os reinos da Europa Oriental se  recuperavam da depredação causada pelas invasões dos mongóis. Ao norte dos Cárpatos e ao leste do Elba começaram a surgir poderosos Estados: Boêmia, Hungria e Polônia. Em meados do século, entre os anos de 1.330 e 1.380, houve uma notável recuperação governamental e grandes inovações. Foram fundadas universidades em Praga, no ano de 1348; Cracóvia, em 1364; Viena, em 1365; e Pécs, em 1367. A Boêmia se tornou uma grande potência financeira após a abertura das minas de prata de Kutna Hora, no século XIII. A polônia obteve lucros com a abertura da rota do mar Báltico pelos mercadores alemães, tornando-se um importante exportador de madeiras e cereais.  Utilizando uma nova força econômica, os governantes desse período - Carlos IV da Boêmia, Casimiro II da Polônia e Luiz, o Grande, da Hungria - estabeleceram Estados centralizados segundo o modelo ocidental. Seus Objetivos eram controlar a nobreza, incentivar a formação de novas classes econômicas, codificar as leis e estabelecer tribunais reais perante os quais todas as classes sociais se submeteriam, principalmente a nobreza. 
         O fator decisivo na transformação da Europa do Leste, porém, foi o fluxo dos colonos alemães e flamengos, que limparam os bosques, secaram pântanos, fundaram povoados e criaram grandes reservas  de terras cultiváveis capazes de sustentar uma população crescente. A colonização alemã ao leste, inicialmente militar e destruidora, logo tornou-se uma ampla corrente de migração camponesa com o apoio de príncipes eslavos, ansiosos por aumentar seus territórios. Uma segunda corrente imigratória veio pelo mar, com a fundação de uma série de cidades  alemães ao longo do litoral báltico: Lubeck, Rostock, Stettin, Kolberg. Destas emergiu a poderosa Liga Hanseática, fundada no ano de 1358. 
        Menos pacífica foram, as incursões dos cavaleiros, uma ordem de cavaleiros cruzados convocada pelo duque polaco de Moscóvia  contra  seus vizinhos pagãos prussianos. A conquista da Prússia, ao contrário da colonização alemã além do Rio Oder, foi uma cruel operação militar seguida de uma colonização  sistemática. Entre os anos de 1280 e 1410 foram fundadas perto de 1400 aldeias  e 93 cidades. Mas, o êxito dos cavaleiros teutônicos e suas claras ambições territoriais converteram-nos numa ameaça para a Polônia e à Lituânia; a expansão germânica foi detida no início do século XV. Entretanto, as mudanças do século XIV tiveram grande importância e o surgimento da Polônia, Hungria e Boêmia representou uma nova era na história da Europa Oriental. 
           O mapa feudal da França era muito complexo, com as possessões inglesas estendo-se desde a Normandia até o litoral do Mediterrâneo. A determinação dos reis franceses em garantir seu poder sobre esta terras e sobre Flandres gerou uma série de guerras importantes. No século XIV as despesas da guerra e a centralização haviam provocado sérios problemas internos. 
           Depois do importante desenvolvimento cultural e econômico dos séculos XII e XIII, os reveses do século XIV tiveram grande impacto sobre a Europa Ocidental. A causa foi um monstro de três cabeças: a guerra, a peste e a insurreição popular. 
             Nenhum pais da Europa Ocidental esteve livre da guerra durante os séculos da Idade Média, mas as guerras do século XIV foram especialmente brutais e destruidoras. Amais sanguinária foi a chamada Guerra dos Cem anos, na qual as rivalidades dinásticas entre a Inglaterra e a França, que existiam desde o ano de 1.204 pela perda dos domínios angevinos na França, explodiram em conflito aberto. O motivo alegado foi a acusação de Eduardo II, rei da Inglaterra, de que a coroa francesa havia causado a morte do último rei francês de dinastia dos Capetos, Carlos IV, no ano de 1328. As hostilidades começaram seriamente  com a batalha naval de Sluis, além do Rio Escalda, em 1.340, onde a frota inglesa foi a vitoriosa. Eduardo III tentou conquistar a França, conseguindo importantes vitórias sobre as forças francesas em Crécy (1346) e Poitiers, dez anos mais tarde. Porém, apesar de a captura do rei da França e a decadência de grande parte da nobreza, as forças inglesas foram incapazes de obter um êxito duradouro. Aos poucos, os franceses recuperaram, próximo ao fim do século, a maior parte das conquistas territoriais dos ingleses e a vitória de Henrique V em Azincourt determinou o início de um novo ciclo de vitórias que os ingleses não puderam consolidar. A mensagem era clara: os habitantes da França se consideravam franceses e não estavam dispostos a se deixar governar  por um poder estrangeiro. O principal resultado das guerras foi a crise econômica e a escassez. Ao mesmo tempo, os Estados aumentavam os impostos para financiamento da luta e os soldados saqueavam tudo o que encontravam pela frente. 
GUERRA DOS CEM ANOS
           Se o objetivo da  Guerra dos Cem Anos era fortalecer as identidades nacionais, o segundo fator da crise do século XIV não respeitou as fronteiras. Em 1346, chegaram à Europa os primeiros rumores sobre uma grave peste que assolava o Oriente. Falava-se do despovoamento da Índia, da Síria e da mesopotâmia cobertas de cadáveres. Não transcorreu muito  tempo para que a própria Europa se visse afetada pela peste. Ironicamente, a causa foi o êxito da economia européia. Nos séculos anteriores, o contato entre Europa e o Oriente havia sido muito escasso e as epidemias não tiveram oportunidade de se propagar. Contudo, próximo do século XIV, as cidades italianas mantinham relações comerciais com a parte oriental do mediterrâneo e compravam seda e especiarias da China e da Ásia central. As consequências foram desastrosas para a Europa.
               A monarquia da Europa Ocidental, sem financiamento e enfraquecida por guerra e problemas  internos, sofreu severos transtornos ao longo do século XIV. A recessão, aliada à fome e a peste, provocou conflitos em todos os países entre a autocracia e as oligarquias urbanas, por uma parte, e os camponeses e o proletariado urbano, pela outra. A igreja Ocidental sofria  o cisma, e povo pedia ao papa que falace com Deus para livrá-los da peste.  
             Em outubro de 1347, uma frota de doze galeras genovesas chegou ao porto siciliano de Messina; os tripulantes traziam "a doença aderida aos ossos". Em poucos dias, Messina estava afetada por uma grave epidemia e no ano seguinte toda a Itália estava contagiada. Nas populosas cidades italianas, aproximadamente a metade dos habitantes desapareceu e apenas as comunidade de remotas áreas rurais conseguiram sobreviver sem ser afetadas. Em Veneza, durante a pior época da Peste Negra, 600 pessoas morriam diariamente. da Itália, a peste se estendeu para outras regiões da Europa: França, em meados do ano 1.348; Inglaterra, Espanha e Alemanha, no fim do mesmo ano; escócia em 1.349; e Escandinávia em 1.350. 
           É difícil calcular os índices de mortalidade, mas acredita-se que a "Peste Negra" eliminou aproximadamente, um terso da população europeia entre os anos 1.347 e 1.350, com novos surtos graves que causaram perdas consideráveis de vida entre as décadas dos anos de 1.360 e 1.370. O resultado foi uma séria desordem econômica e social, com uma acentuada escassez de alimentos, mão-de-obra e consequente inflação. A diminuição da população favoreceu os camponeses, que encontraram novas oportunidades de melhorias materiais. Porém, muitas destas esperanças  frustraram-se pela reação dos senhores e da nobreza urbana. Foram criadas leis trabalhistas num esforço para fixar os camponeses na terra e regulamentar os salários urbanos. Isto provocou muitas revoltas populares, principalmente em Flandres e na Inglaterra, onde a grande revolução camponesa do ano de 1.381 teve como causa a rejeição de um novo imposto e o radicalismo religioso que, por sua vez, gerou um espírito anticlerical. os governos reprimiram essas revoltas  com severidade. 
             A peste, que teve origem  asiática espalhou-se pelo continente  europeu aniquilando em dois anos um terço da sua população. Até o início do século XVIII não transcorreu uma década  sem que houvesse algum novo surto de importância. Ao contrário da fome, a peste afetava as pessoas de todos os estratos e classes sociais e os efeitos psicológicos forma consideráveis. A doença, que depois se descobriu ser transmitida pelas pulgas e transportadas por ratos em porões de navios mercantes, foi especialmente virulenta e muitos poucos dos que foram contagiados sobreviveram. A morte repentina se tornou um fenômeno cotidiano, e com frequência se encarava como tal. As seitas que pregavam o iminente dia do Juízo final eram comuns; e nos  Contos de Canterbury, de Chaucer (aproximadamente no ano 1387), e no Decameron, de Boccacio (aproximadamente em 1353), a morte era representada como um misterioso andarilho, sempre prestes a se apresentar perante algum viajante desafortunado. 

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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

POLINÉSIA - ILHA DA PÁSCOA, NOVA ZELÂNDIA E AUSTRÁLIA




               As ilhas da Polinésia  são, sem dúvida, um dos lugares mais isolados do mundo .Cercados por vastos espaços  oceânicos, não mé surpreendente que fossem uma das últimas regiões colonizadas do planeta. Além disso, é um tributo à destreza dos navegadores dos primitivos povos do Pacífico Ocidental que, por volta do ano 1.000 d.C., todas as ilhas habitáveis já estivessem sido descobertas e povoadas. 
              Não podem existir dúvidas de que as raízes biológicas, linguísticas e tecnológicas da cultura política  estão nas ilhas orientais do sudeste da Ásia. O desenvolvimento do cultivo de arros na China Meridional, há aproximadamente 7.500 anos, deu origem a uma expansão gradativa da população, através de Taiwan e das Filipinas, em direção às ilhas da indonésia Central e Ocidental. Esta expansão foi a base da dispersão polinésica. O traço marcante dos primeiros colonos da Polinésia é um tipo especial de cerâmica conhecida como os artigos de lápita. Ao redor de 1.500 a.C os colonos que fabricavam cerâmica lapidada espalharam-se rapidamente  pelo Pacífico num raio de aproximadamente  4 mil quilômetros. Levavam consigo plantas e animais domesticados, entre eles a árvore da fruta-pão, a a bananeira e o porco, e eram navegantes experientes que utilizavam canoas similares ao catamarã havaiano. 
               Todos os colonos atingiram as ilhas Tonga e Samoa na Polinésia até o ano 1.000 a.C., porém, somente nos anos 400 e 900 d.C. é que chegaram pela primeira vez às distantes ilhas do Havaí, Páscoa e Nova Zelândia. Por isso, muitas das ilhas haviam sido habitadas a somente mil anos, quando chegaram os europeus, razão pela qual ainda conservavam um alto grau de homogeneidade física e linguística. Aproximadamente 35 idiomas estreitamente ligados tinham se desenvolvidos  ma partir dos idiomas comuns ancestrais, existindo claras similaridades religiosas e sociais. Todas mas sociedades da Polinésia eram governadas por chefes que exerciam tanto o poder religioso como o político. O cargo de chefe era transferido através de linhagens aristocráticas e existia uma nítida divisão  social entre elite e plebe. Em algumas das ilhas mais densamente povoadas, como Tonga, Samoa e Havaí, os governantes exerciam amplos poderes, exigindo trabalho, tributos e obediência dos súditos. 
              A importância da religião nas culturas medievais do Sudeste Asiático está claramente refletida no tamanho e na rica decoração dos recintos religiosos da região Pagan , localizada sobre uma vasta planície perto do Rio Irrawaddy, só era superado em tamanho por Angkor. Em Pagam, cerca do século XII, milhares de templos budistas cobriam uma área de mais de 60 quilômetros quadrados. Estes recintos estavam ricamente adornados com baixos-relevos e figuras ornamentais. 
                As aldeias primitivas e budistas e hindus, com isoladas inscrições sânscritas ((séculos V e VI), foram sucedidas em algumas áreas por conjuntos de templos (seculos VIII e XIII) que representavam importantes centros políticos, especialmente em Pagan e Angkor, em Java central. Estes foram seguidos pelos reinos Mon, Thai e Birmanês no continente e os sultanatos malaios nas zonas marítimas. O Vietnã adotou costumes chineses entre os séculos I e IX, desenvolvendo-se posteriormente como reino independente, absorvendo o reino de Champa no sul.
             As estátuas da Ilha de Páscoa são, talvez, os monumentos mais famosos da Polinésia. Eles são, ao mesmo tempo, testemunho de um grande desenvolvimento cultural, e de seu desastroso colapso.  Quando os colonizadores  chegaram pela primeira vez, cerca do ano 400 d.C., a Ilha da Páscoa era rica em recursos naturais, com bosques nas ladeiras dos vulcões inativos. Os primeiros assentamentos floresceram dando vida a uma complexa estrutura social com vários clãs rivais  localizados em diferentes partes da ilha. Ao redor de 1.000 d.C., estes clãs iniciaram a construção de monumentos plataformas rituais, ou ahu, suportes de colossais estátuas talhadas de seus deuses ancestrais. As pedras para as estátuas vinham de várias pedreiras e as estátuas eram talhadas no mesmo lugar. O transporte até os ahu para erguê-las deve ter necessitado de trenós e cavaletes, representando uma monumental empreitada. O tamanho e o número de estátuas erguidas indica que uma parte significativa das energias das comunidades era dedicada a esta tarefa; a única explicação possível é a rivalidade entre os clãs, ao tratar cada um de criar um ahu mais imponente que o de seus vizinhos. Devido ao fato de que na sociedade polinésia o poder ritual e político eram inseparáveis, os caudilhos dominantes  estavam obrigados a consolidar sua posição mediante a construção de estátuas. 
            A ilha da Páscoa, povoada pela primeira vez por polinésios cerca  de 400 d.D., constitui um dos enigmas  da Pré-história do mundo. Seus habitantes - que nunca devem ter ultrapassado os 7 mil - parecem que estavam imbuídos de um desejo sem precedente de talhar e erguer estátuas de pedra entre os anos 1.000 e 1.600 d. C. A partir desse ponto a cultura entrou em decadência, quando a ilha já não pode produzir suficiente quantidade de alimentos e de madeira. No fim do século XVIII e no início do XIX, todas as estátuas foram derrubadas com a face para baixo; os exemplares de Ahu Akivi foram erguidos novamente. Muitas estátuas ainda estão inacabadas e parcialmente enterradas tanto na ladeira exterior como interior da cratera do Rano Raraku, e indicam também um súbito e catastrófico fim das atividades nas pedreiras. 

             A raça maori, de origem polinésica, habitou a Nova Zelândia a partir do ano 750 d.C., aproximadamente, até o século XVIII, quando havia entre 100 e 150 mil nativos. Em 1840, foi proclamada a soberania britânica com base na igualdade de direitos tanto dos maoris como dos europeus, mas logo começou a surgir a desigualdade e o antagonismo racial. As demandas insaciáveis de terras dos colonizadores levaram ao que se conhece como as "Guerras das Terras", nas quais foram confiscados os territórios maoris, adotando desonrosos métodos de compra.No princípio de 1870, os maoris foram obrigados a adaptar-se à sua condição desigual, mas, graças à sua própria resistência e políticas governamentais mais inteligentes, puderam melhorar sua situação a partir da década de 1920. 
           Os problemas que a Inglaterra enfrentou no século XX com sua colônia mais importante somente se solucionaram com a independência da Índia em 1947. Mas apesar de a "Joia do Império" ser o domínio mais importante dos ingleses, não era o único. Outros territórios sob influência inglesa foram os da Austrália e Nova Zelândia que, embora tenham sido descobertos pelos portugueses em 1600, passaram ao poder da Grã-Bretanha quando James Cook, em 1770, se apossou dos mesmo. 
          Antes do descobrimento europeu no século XVII não existia contato nem semelhança entre a Austrália e a Nova Zelândia. Sua evolução a partir da colonização branca, ainda que paralela, foi diferente. Os maoris da Nova Zelândia compartilhavam a civilização  das ilhas vizinhas (de onde emigraram originalmente). Por outro lado, os habitantes aborígenes da Austrália mantiveram pouco contato com a Ásia (de onde vieram), depois que a subida dos níveis dos mares converteu o continente australiano em uma grande ilha. Dispersos em um meio ambiente quente e seco, os nativos se dedicaram à caça e coleta, mas não pastoreavam nem cultivavam o solo; não construíram assentamentos e identificavam seu destino com as características naturais da terra por onde vagavam. Mantiveram-se livres da influência estrangeira até o final da expansão européia. 
          Os ventos e correntes marinhas resguardavam o isolamento dos aborígenes. Embora os portugueses tivessem atingido a Austrália na década de 1520, o primeiro contato dos europeus nesta região do mundo foi produto do acaso. Os espanhóis, que davam a volta pelo Cabo Horn, navegavam pelo Pacífico em direção ao noroeste para evitar os ventos do oeste, enquanto os portugueses tomavam o rumo à Índia a partir do cabo da Boa Esperança. Estes últimos poderiam ter descoberto a Austrália antes de 1542, como fizeram os holandeses em 1600, quando aproveitaram os ventos do oeste para abrir uma rota mais rápida às Índias Orientais. Em 1642 - 1643, Tasman  descobriu as terras de Van Diemen (mais tarde chamadas de Tasmânia) e a Nova Zelândia, mas, ao encontrar-se somente com as inóspitas costas do norte e do oeste, não deu maior importância a este descobrimento. Foi um século mais tarde que a curiosidade científica levou Cook a explorar o Pacífico e descobrir, em 1770, a fértil costa oriental da Austrália, com sua extraordinária  flora e fauna. Este novo território despertou o interesse de cientistas e artistas europeus, mais que o de comerciantes.  Cook tomou posse das costas em nome da Grã-Bretanha, e as razões estratégicas e comerciais apresentadas pelo governo de Jorge II foram secundárias ao fundar  uma colônia  penal, em 1786, em Nova Gales do Sul. A enseada de Sidney foi colonizada em 1788 e a necessidade de contar com outras penitenciárias e postos avançados contra os franceses, que também eram ativos exploradores, levou os ingleses a fundar outras colônias na Ilha de Norfolk (1778), Neweastle (1801), Hobart (1804) e Brisbane (1824). Os marinheiros, que fizeram levantamentos cartográficos das costas meridionais, foram seguidos por uma horda de saqueadores dedicados à caça de baleias e focas. Já em 1829, a Grã-Bretanha anexou todo o continente ao domínio da coroa. 
             Provavelmente a Nova Zelândia foi o último território importante povoado na Polinésia, sendo colonizada no fim do primeiro milênio d.C., por agricultores polinésios que foram ancestrais dos maoris. Não se sabe exatamente de qual ilha vieram os primeiros povoadores, mas as Ilhas Cook, da Sociedade e Marquesas, são as mais prováveis.
             Na verdade a Nova Zelândia é maior do que todas as ilhas da Polinésia juntas; localiza-se  acima de 12 graus de latitude e tem um clima temperado. Mesmo que os primeiros povoadores houvessem tentado introduzir uma ampla gama de plantas tropicais e de animais, apenas a batata-doce e o cachorro deram bons resultados, enquanto outras plantas, incluindo o inhame, o"taro" e a abobora, se aclimataram ligeiramente na ilha do Norte, mais quente. O clima mais frio fez com que a agricultura  fosse impraticável na maior parte da Ilha do Sul., razão pela qual existiram apenas pequenas populações nômades durante a Pré-história  quer viviam da pesca, da criação de aves e plantas nativas.     Nas regiões mais quentes do norte, e especialmente no litoral central e setentrional da ilha do Norte, foram desenvolvidas, finalmente, densas populações agrícolas, cuja economia era baseada no cultivo da batata-doce e do caule subterrâneo das algas nativas. 
         Em todo o país, os primeiro povoadores e seus descendentes  imediatos puderam desfrutar das vantagens de um meio ambiente virgem; abundancia de dinornis (pássaros fáceis de caçar porque não voavam, hoje infelizmente extintos),  aves selvagens, mamíferos marinhos (especialmente focas) e moluscos. Em consequência, a agricultura não constituiu, por algum tempo, uma atividade importante nessas regiões do norte, ainda que nunca tenha sido totalmente abandonada - segundo testemunham as descobertas arqueológicas de delimitações de campos e celeiros de armazenagem de batata-doce, que remontam ao ano 1.100 d.C. A população das áreas central e norte da Ilha do Norte aparentemente começou a depender mais da agricultura depois de 1.300, devido, em parte, a drástica redução da disponibilidade dos recursos silvestres. Nesse momento, não menos de treze  espécies de dinornis e ouitros vinte tipos de aves estavam a caminho da extinção. É provável que a crescente dependência da agricultura tenha evoluído paralelamente com o aumento da população e com os conflitos na Ilha do Norte depois do ano de 1.300. Na Ilha do Sul, a população e a quantidade de assentamentos diminuíram na Pré-história mais tardia, já que o esgotamento dos recursos naturais não pôde ser compensado pela agricultura. 
          Esse período, compreendido entre os anos 1.000 e 1.300 d.C., é denominado Arcaico, enquanto a fase posterior ao ano 1.350 na Ilha do Norte e ao ano 1.650 no leste da Ilha do Sul denominam-se Maori Clássico O período clássico da Ilha do Norte é caracterizado por fortificações de barro e sistemas de agricultura intensiva, características que só aparecem escassas oportunidades nas Ilhas do Sul. Os instrumentos do período arcaico são com frequência muito similares aos da Polinésia Central contemporânea e incluem artigos como martelos, anzóis de osso, pedras e conchas, brincos e colares de osso para tatuagens. Sepulturas ricamente abastecidas, entre cujos artigos funerários encontram-se artefatos e garrafas para água feitos de ovos de dinornis (moa), foram recuperadas na localidade de Wairau Bar ao norte das Ilha do Sul, revelando uma sociedade estratificada. 
             Durante a fase clássica, a população aumentou rápida e simultaneamente, gerando um permanente conflito entre as tribos. Foram construídas fortalezas (pa) com aterros, fossos e paliçadas nas ladeiras de vulcões extintos, beirando íngremes penhascos, sobre montículos, em terrenos planos e em pântanos. Com o passar do tempo, as (pa) tornaram-se cada vez mais numerosas e fortemente defendidas, e os relatos de fins do século XVIII descrevem casas e depósitos localizados em torno de espaços centrais abertos (marae), incluindo, às vezes, áreas cultivadas dentro das defesas. 
              Embora a colônia britânica  na Nova Gales do Sul lutasse para ali se estabelecer, não foram ambientes hostis, mas políticos  territoriais e comerciais do Império Britânico que impediram  seu progresso inicial. Demonstrando energia para burlar  as restrições, em 1800 os resistentes de Sydney foram os primeiros a comercializar pele e óleo de foca, petróleo, madeira e carvão, além de produtos  do pacífico. Seguindo a recomendação do  comissário T.J. Bigge, de 1823, para que fosse permitido que Nova Gales do Sul e Terra de Van Diemem se desenvolvessem como colônias livres, os colonizadores não se voltaram para a criação de carneiros que produziam lã de alta qualidade. Em 1828, a Austrália exportou 900 toneladas de lã para a Grã-Bretanha. Contudo, só após 1830 o valor das exportações de lã excedeu o dos produtos costeiros marítimos. 
               Apesar de suas origens polinésias tropicais, evidenciadas na sua estrutura física e social, os maoris criaram uma cultura bastante diferenciam quando comparada com a de seus primos tropicais, devido ao seu especial clima temperado. A fase clássica, refletida principalmente nas fortalezas, na arte  nas canoas de um só casco e nas suas armas, representou um impressionante desenvolvimento cultural. Os polinésios das Ilhas do Sul e das Ilhas Chatham, por sua vez, ocupam um lugar destacado na antropologia mundial, já que foram uma das poucas populações que, como se sabe, mudaram de uma cultura agrícola para uma cultura de caça e coleta. 
             Em 1786, o governo britânico instalou uma colônia penal em Nova Gales. Arthur Philip fundou a primeiro colônia em Sydney em  1788 e a necessidade de proteger as rotas  marítimas contra os franceses (quer também exploravam o Pacífico) e de ter locais de punição secundária levou ao povoamento das ilhas Norfolk (1788/1814, e 1825/55, New-castle (1801), Hobart (1803/4), Leunceston (1804), Brisbane (1824 e Albany (1826). 
              Em 1829, a Grã-Bretanha anexou toda a Austrália, mas a colonização britânica limitou-se à planície de Cumberlapd, até a década  de 1830, quando a exploração para oeste e uma mudança na política do governo  levaram à ocupação de regiões pastoris no interior. Na década de 1850, a chegada de migrantes livres e a procura européia por lã tornou o sudeste do país uma vasta fazenda  de ovinos. A colonização pela iniciativa privada começou em Perth (1829), Melbourne (1835) e Adelaide (1836). O transporte de presos para o leste da Austrália cessou em 1840. Na década de 1850, descobertas de ouro produziram nova onde de migração livre. 
             A Nova Zelândia proclamou sua constituição em 1852, cuja dispersa colonização britânica foi traduzida em um sistema provinciano até o ano de 1876. Os primeiros anos de progresso da colônia basearam-se  no comércio de lã e do ouro, que foi impulsionado pelo mercado britânico. Após uma prolongada depressão, em 1900, começaram a melhorar as perspectivas  da Nova Zelândia ao diversificar seus produtos de exportação. A fama do país, conhecido como "o sul da Grã-Bretanha", refletiu no apoio que deu ao Reino Unido nas duas guerras mundiais. Desde que a Grã-Bretanha se incorporou |à Comunidade Econômica Européia, em 1973, a Nova Zelândia viu-se obrigada a ampliar seis mercados e atualmente a Austrália  é seu principal sócio comercial.  
            O pequeno assentamento da enseada de Sidney estava rodeado de montanhas; a esta região chegaram os colonos livres somente quando houve acesso às planícies do interior, após 1813. Em seguida aos exploradores, chegaram os ocupantes ilegais, que se instalaram em grandes extensões do sudeste da Austrália. Mesmo assim, algumas empresas privadas estabeleceram cabeças-de-ponte em Perth (1829), Melbourne (1835) e Adelaide (1836), depois convertidas em capitais das colônias independentes da Austrália Ocidental, Vitória e Austrália Meridional, junto com a Tasmânia, Queensaland e uma parte de Nova Gales do Sul, quando estas momearam governos responsáveis entre 1855 e 1890. Apesar da rivalidade entre as colônias, as diferenças regionais nunca foram tão graves a ponto de destruir o sentimento de destino comum. A federação das colônias reunidas no Commonwealth (comunidade) da Austrália, em 1901, tinha uma lógica que somente o distante oeste se negava a aceitar. 
            A colonização da Austrália aconteceu de uma maneira bem diferente da de Nova Zelândia, onde as guerras entre europeus e maoris provocaram uma coexistência, para não dizer uma igualdade, entre os velhos e novos habitantes do território. Na Austrália houve a destruição da civilização nativa. As tribos foram sucumbindo perante as enfermidades e armas europeias e suas terras foram expropriadas em virtude da legislação europeia. As instituições aborígenes sobreviveram no centro e no norte, onde também foram dizimadas. Os colonizadores, que se apoderavam e transformavam a terra, eram de origem predominantemente britânica, com uma mistura de irlandeses e escoceses, registrando-se uma proporção de dissidentes e proscritos, mais do que em seu próprio país. Estes fatores contribuíram para criar relativa homogeneidade e uma política que, apesar de ter tido um tom rancoroso, foi essencialmente democrática.  A colonização britânica esparsa refletiu-se até 1876 num sistema provincial. O progresso da colônia era inicialmente  baseado na lã e no ouro, destinados ao mercado britânico. Após longa depressão, por volta  de 1900, a maior variedade de produtos primários trouxe novas perspectivas ao país e uma dependência lucrativa do Reino Unido continuou na década de 1930. A reputação da "Grã-Bretanha do Sul" foi reforçada pelo apoio  do país ao Reino unido nas duas guerras mundiais. Desde ingresso da Grã-Bretanha na Comunidade  Econômica Européia, em 1973, a Nova Zelândia foi forçada  a diversificar seus mercados. Atualmente a Austrália é sua mais importante parceira comercial. Houve expansão na silvicultura, horticultura,  vinicultura, pesca e turismo. Mas o desemprego aumentou, agravando a situação racial, que também foi exacerbada pela imigração vinda do oeste da Polinésia. 
           As colônias australianas, assim como a Nova Zelândia, tiveram de conseguir sua auto-suficiência mediante o comercio. A terra foi trabalhada com fins econômicos, razão pela qual a agricultura de subsistência era escassa. Devido ao crescimento mercado mundial de lã, as terras de pastoreio do interior foram colonizados antes das ricas terras  cobertas de bosques da costa oriental. Estas tiveram de esperar o desenvolvimento da indústria leiteira e do açúcar em Queensland. Passada a década de 1860, espalhou-se o cultivo do trigo; vinte anos mais tarde o comércio de carne congelada começou a prosperar, propiciando o aumento  considerável da produção de carne. Entretanto, a colonização das regiões secas converteu-se em uma aventura muito arriscada e intermitente e quando a maioria da Austrália foi explorada e grande parte colonizada, nominalmente, até 1890, a exploração propriamente dita do país limitou-se às regiões onde existia chuva suficiente. Inclusive a irrigação teve pouco êxito longe dos sistemas fluviais do sudeste do continente.
               Na segunda metade do século XIX, os pastores ampliaram a criação de ovinos e  iniciaram a criação de gado para engorda no norte. Iniciou-se o plantio de trigo (planícies do interior) e cultivo de cana-de-açúcar e criação de gado leiteiro nas planícies costeiras e no interior. Na década de 1890, a maior parte da Austrália havia sido explorada  e povoada por europeus. Contudo, nem todos os povoamentos mostraram-se viáveis. 
              A prática apontou riscos de se implantar a agricultura e atividades pastoris em terras pobres e de baixa pluviosidade. Mesmo no século XX, apesar de programas de conservação de água e irrigação, grandes áreas permanecem à margem da vida européia. 
            Grupos de madeireiros e caçadores de focas e baleias, europeus e americanos, chegaram aos portos da Nova Zelândia a partir de  1790 e, nas décadas de 1810 e 1820, a baía  das ilhas tornou-se centro de atividade. Em 1840 a Grã-Bretanha negociou com os maoris a Ilha do Norte e  aproveitou o momento para anexar a Ilha  do Sul. Daí em diante, a ocupação européia da Nova Zelândia equiparou-se à da Austrália,  com atividades pastoris , agrícola, descobertas de ouro e migração livre. 
          A natureza comercial da indústria primária da Austrália fortaleceu o predomínio dos maiores portos sobre as províncias do interior. Assim, os novos sistemas de transporte consolidaram seu poder, depois que a ferrovia substituiu os carros puxados por bois e os botes nos rios que passaram a usar motores.  Nas décadas de 1850 e 1880, descobriram-se espetaculares jazidas de ouro e outros minerais, acrescentando uma nova riqueza ao continente e dando origem a uma imigração poliglota. Mesmo quando no início da febre  do ouro as pessoas começaram a transladar-se em direção ao interior, as cidades do litoral acabaram sendo as principais beneficiadas com a riqueza e o povoamento, sobretudo Melbourne e Sidney. Por volta de 1890, dois terços dos australianos viviam em áreas urbanas.  As colônias de Nova Gales do Sul, Victória, Austrália do Sul, Austrália ocidental, Tasmânia e Queensland tiveram representação governamental entre 1855 e  1890.  Contudo, o isolamento continuou porque Melbourne, a maior cidade da Austrália, não se voltava para a Ásia nem para o Pacífico, seus vizinhos naturais, mas sim a Londres e Liverpool. Este isolamento causou preocupação sobre a identidade nacional e exagerou os temores de ameaças externas. Apesar de certa rivalidade e de diferenças regionáis, as colônias se uniram para formar a "Commonwealth" (comunidade) da Austrália em  1901. A Nova Zelândia, dividida em seus províncias, recebeu uma representação governamental em 1856. À medida que aumentava o poder da administração central,diminuía o poder das províncias, até que ele foi abolido em 1876. Os dois pois países conquistaram a soberania  em o Estatuto  de Westminster, em 1931.


          De meados do século XIX e século XX, Austrália e Nova Zelândia destacaram-se  pela produção de lã, carne, cereais e laticínios. Na Austrália, as corridas do ouro das décadas de 1850 e 1880 trouxeram riquezas e aumentaram a população interior. Mas a expansão de sistemas de comunicação e transporte (navegação costeira e interiorana, estradas, ferrovias, telégrafo) aumentou a hegemonia  de cidades costeiras, como Sydney e Melbourne. Na década de 1890, dois terços  dos australianos viviam em cidades da costa, tendência que se manteve no século XX. A situação da Nova Zelândia é semelhante.  
            Após 820, o povoamento se estendeu para o interior a partir das cidades costeiras, mas vastas regiões áridas  do continente permanecem pouco povoadas e a população total só atingiu 5 milhões em 1918. Exportações de lã, trigo e minerais permitiram aos australianos desfrutar da maior renda per capta do mundo já em 1900, uma posição que não foi mantida apesar de grandes descobertas  recentes de minerais. A maioria dos australianos depende de empregos urbanos; segundo o censo de 1991, 62% da população ( já com 16/17 milhões) vivia nas 12 maiores cidades ou próximo delas, incluindo 3,5 milhões em Sydney e 3 milhões em Melbourne.  Camberra, capital federal desde 1927 e a maior cidade do interior, tinha 278.894 habitantes em 1991. 
       Livres de conflitos em casa até 1942, os australianos enfrentavam sua realidade somente quando cruzavam o mundo para combater nas guerras alheias.
              A influência dos indígenas sobre a cultura  emergente foi maior na Nova Zelândia do que na Austrália, tornando a sociedade mais tolerante. No final do século XIX, a xenofobia se alastrou pela Austrália, devido  ao isolamento cultural e agitações sindicais. De 1890 até  1960 a "White Austrália Policy" registrou o ingresso de europeus, o que não impediu a diversificação da sociedade, em especial pela migração  de sul-europeus após 1945. Entre os anos 1970 e 1980, a imigração asiática acelerou  este processo. Até recentemente a migração para a Nova Zelândia não era diversificada, mas o aumento das populações polinésias não-maoris provocou onde de violência.
          Atividades manufatureiras surgiram nas cidades, mas com investimento limitado, altos custo, baixa produtividade e mercados reduzidos. A indústria em geral só obtinha êxito graças a tarifas protecionistas. Desde 1950, foram descobertos na Austrália minerais, carvão, petróleo e gás, sempre destinados à exportação. No século  XX, mudanças econômicas e políticas no exterior e mudanças sociais internas obrigaram Austrália e Nova Zelândia a expandir o comércio com países de fora da antiga Comunidade Britânica. O surgimento  da Comunidade Européia, a perda  dos mercados tradicionais e a visão de que os países do pacífico seriam o exio econômico  do mundo no século XXI foram fatores importantes para promover a independência econômica da Grã-Bretanha. 
             O destino dos indígenas nos dois países  foi diferente. Na Austrália, violência, doenças e expropriação dizimaram os aborígenes no século XIX. A cultura tradicional sobreviveu melhor no norte, oeste e centro, mas houve adaptação às novas realidades. Os aborígenes tiveram de esperar até a segunda metade do século XX para definir  sua situação legal e obter direito à terra. Nos anos 70 e 80, o governo australiano investiu muito para melhorar a situação  dos aborígenes, embora sem muito sucesso. Na Nova Zelândia, o Tratado de Waitangi e a resistência mais bem-sucedida asseguraram a coexistência de maoris e europeus. Nos dois países, um consciência de identidade emergiu recentemente entre os indígenas, acompanhada por atividades políticas que refletem essa consciência .
              Até meados do século XX, esta sociedade predominantemente britânica se manteve dependente das exportações primárias, apesar do grande crescimento da indústria secundária, protegida pelas altas barreiras alfandegárias . Durante a Segunda Guerra Mundial, o fato de que a Austrália recorresse aos Estados Unidos, em vez da Inglaterra, para pedir proteção contra os japoneses foi um sinal de que neste continente importantes mudanças políticas estavam ocorrendo. Os governos de pós-guerra promoveram a imigração de outros países europeus, alheios à Grã-Bretanha, e, paulatinamente, abandonaram a política da Austrália branca, admitindo um número cada vez maior de asiáticos. A austrália compartilhou o crescimento econômico do Ocidente, ajudada pelo intercâmbio comercial com o Japão, baseado principalmente nas grandes exportações de ferroe e carvão, bem como no descobrimento de petróleo e gás em seus territórios. Sua nova dependência dos sócios comerciais do Pacífico foi confirmada depois que a Grã-Bretanha uniu-se à Comunidade Econômica Européia em 1973. A partir de então a importância de suas relações com esse país começou a diminuir rapidamente. Na década de 70, a inflação e a recessão mostravam as fraqueza estruturais de uma economia demasiadamente dependente da  exportação de produtos básicos e de indústrias subsidiadas e de altos custos. Uma inflação descontrolada contribuiu para destituir o governo do Partido Trabalhista, essencialmente reformista, em 1975, o que resultou, segundo a opinião dos australianos, numa crise constitucional. Depois de 1983, outro governo trabalhista apressou-se em demonstrar os mecanismos de regulação que durante décadas distorceram a realidade do mercado. Por coincidência, um governo trabalhista na Nova Zelândia seguiu um caminho paralelo.     
              Apesar das dificuldades econômicas, o Bicentenário da Colonização Europeia, em 1988, foi celebrado por uma sociedade muito mais variada e culturalmente rica. Entretanto, a Austrália seguia sem poder equilibrar a herança britânica com sua recente imigração cosmopolita e as demandas dos aborígenes desamparados que ainda subsistem no país. 

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