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sexta-feira, 27 de março de 2020

O SISTEMA DE ESCRAVIDÃO HUMANA





                E escravidão, ou escravismo, é a prática social em que um ser humano, pela força, assume direitos de propriedade sobre outro ser humano designado por escravo. 
             Desde os tempos mais remotos, em algumas sociedades, os escravos eram legalmente definidos como uma simples mercadoria ou como despojo de guerra.
                É errôneo imaginar que somente os negros africanos foram usados como escravo. Desde a mais antiga civilização houve o sistema de escravidão. Na China muitos escravos morreram construindo a Grande Muralha; também no Egito eles escravizavam pessoas na construção das pirâmides. Na América, os Incas e Astecas utilizavam os escravos vencidos na guerra para fazer sacrifícios aos deuses. Em nossos dias, a escravidão é feita principalmente pelo sistema econômico e, em muitos casos, também social. Muitas mulheres são usadas e vendidas como escravas sexuais. 

A escravidão em Roma
                 Na Itália, o  costume teve suas origens durante as vitórias romanas sobre povos vizinhos da península itálica no século VII a.C. Nessa época, porém, a divisão das terras ainda em pequenas propriedades não exigia grande contingentes de mão de obra. Contudo, ela passa a se fazer cada vez mais necessária, á medida que progride a conquista da península e se modifica a estrutura econômico-social (século IV a.C); as terras concentram-se nas mãos de poucos patrícios (classe nobre,dos grandes proprietários) e muitos camponeses são desviados de suas atividades agrícolas para trabalhos bélicos. Por isso, os escravos passam a ser encarados como a mão-de-obra disponível, que pode ser encaminhada para fazer o trabalho nos latifúndios. Roma prossegue as conquistas. Grandes extensões da Europa, Ásia e África, sucessivamente, caem sob seu domínio. E muitos de seus habitantes são levados à península, escravizados. 
                No século I a.C. , uma segunda fonte aumentou o fluxo de escravos: o comércio, exercido por piratas de escravos trazidos da Áfreica, Espanha, Gália e sobretudo da Ásia Menor. E a condição de escravo podia decorrer também da servi poenae, punição aplicada entre os próprios romanos, pela infração de certas leis; emanava, além do mais, do direito paterno de vender os filhos; era também prerrogativa do credor, em relação ao devedor insolvente (direito que só muito mais tarde foi extinto). 
             O historiador inglês Blair calculou a proporção de três escravos para cada cidadão livre, durante o período que se estendeu a conquista da Grécia (146 a.C) ao reinado de Alexandre Severo (222 - 235). Com base nessa proporção, o número total de escravos durante o reinado de Cláudio (41 - 54) é estimado em 20.832.000. 
                A consciência da força coletiva foi despertada nos escravos pela vida em grupo. As primeiras manifestações de revolta contra o cativeiro arrebentam na Itália Meridional e na Sicília. 
             Por três vezes, com intervalos de trinta anos, um incidente doméstico suscitou uma grande sublevação. Essas revoltas, alimentadas inclusive pelo exemplo de violência dado pelas próprias autoridades, foram chamadas "guerras servis", porque sua repressão implicou em verdadeiras operações militares. E, para fazer frente à ameaça que elas representavam para a ordem social e a civilização romana, mas de uma vez facções aristocráticas colidentes se aliaram. 
                 As duas primeiras rebeliões partiram da Sicília para pontos da Itália Meridional. A primeira foi liderada por Euno, de 136 a 132 a.C., e derrotada pelo Cônsul Rupílio. Como uma música de fundo, uma série de revoltas parciais prepararam a segunda grande sublevação (104 a.C.). Comandada por Trifo e Atênio, foi tão infrutífera quanto a precedente. 
                A terceira "guerra" eclodiu na própria Itália. O líder era Espártaco, escravo trácio. Desde 73 a.C., ele vinha insuflando a ideia libertária entre seus iguais, até granjear 70 mil adeptos, entre os quais muitos celtas e germanos.Compreendendo que a permanência na Itália na condição de rebelde significava a morte, conduziu seus homens a verdadeira liberdade; abriu-lhes caminho pelo Norte da Itália para suas terras natais.  Entretanto, ultrapassada a Gália Cisalpína (no extremo Norte), Espártaco inexplicavelmente retornou à Itália Meridional.
            Foi quanto bastou. Crasso confinou-os à extremidade da península, enquanto Verres defendia a Sicília. No ano 71 a.C. terminara a luta e começava a caça aos rebeldes. O resultado foram 6 mil cruzes da Via Apia, a ornamentar o regresso vitorioso do general, que mais tarde se tornaria Consul. 
              Quando estourou a Terceira Guerra Civil, conhecida como a "Revolta dos Escravos",  a viagem do comandante Marco Licínio Crasso  tinha sido lenda; ela fazia paradas frequentes. Fora precedido pelas tropas que deveriam preparar as cruzes para sua chegada; ele próprio viajava com os prisioneiros, divididos em grupos, mantidos próximos uns dos outros por compridas cordas. Diante de seu exército, estendia-se a estrada, interminável e franqueada por cruzes vazias; atrás de seu exército, em cada cruz estava pregado um homem. Crasso não tinha pressa. Aproximava-se tranquilamente da capital, interrompendo a marcha três vezes por dia. Durante as paradas, tirava-se a sorte para a sucessão de prisioneiros a crucificar entre aquela etapa e a sucessiva. O exército fazia 15 milhas por dia, e a cada dia deixava atrás quinhentos crucificados, como marcos vivos da estrada. (citação do romance Espártaco, de Arthur Koestler).
               Foi na Via Ápia, no ano 71 a.C. entre Cápua e Roma, 6 mil cruzes assinalavam o fim de uma insurreição, que por três anos ameaçara a República Romana. Frustrara-se o levante de 70 mil escravos comandados por Espártaco. Os corpos expostos, crucificados, eram advertência de roma a novas tentativas de libertação.
          Aos cidadãos romanos, entretanto, o espetáculo não despertava nenhum sentimento humano mais profundo. Não havia porque lamentar escravos, meras "coisas" cujo destino era vontade do "dono", seu senhor. Prisioneiros de guerra que, poupados à morte, passavam a ser patrimônio do estado. Constituíam, portanto, assim como o resultado dos saques, bem vendáveis a particulares.  
                O fim da escravidão era coisa inconcebível. Quase todo trabalho produtivo nos domínios romanos era obra de escravos. 
                  Em Roma os escravos eram divididos em "servi publici", de propriedade  do estado, e "servi privati", de propriedade dos cidadãos. Os primeiros serviam aos magistrados em trabalhos como os de mensageiro, serventes de cortes baixas, prisões, limpeza de esgotos e manutenção de aquedutos. O mesmo valia para as províncias romanas. 
                 Os servi punblicis eram de duas espécies: os que compunham família rústica e os que formavam a família urbana. Os primeiros trabalhavam no campo, chefiados pelos "villicus", também escravo. Ocupavam-se com a criação de gado, o preparo da comida, a confecção de roupa e instrumentos, bem como assistiam seu senhor praticar esportes rurais. A maioria,entretanto, era aproveitada no pastoreio, atividade que ocupava, permanentemente, o homem que devia se alimentado o anos todo. No mais, cuidavam das hortas e pomares que cobriam grandes extensões da península a partir do século a.C.
                A família urbana era composta pelos servos incumbidos dos afazeres domésticos na cidade: alimentação, asseio, conforto e entretenimento do amo. Os mais belos eram destinados à guarda dos senhores, em suas andanças; os mais fortes, ao transporte de liteira; os mais diligentes e cortês, à função de mensageiros. O desenvolvimento dos hábitos luxuosos exigiu cada vez mais escravos, diversificando suas funções até o exagero de haver criados exclusivamente para friccionar o amo após o banho, ou cuidar de suas sandálias. 
                 Médicos, secretários, bibliotecários, copistas, preparadores de pergaminho, filósofos, pedagogos, preparadores, contadores, gerentes e agentes de comércio dependiam da aristocracia. O mesmo ocorria com atores, mímicos, malabaristas e gladiadores, este eleitos entre os prisioneiros mais treinados na guerra; geralmente samnitas, gauleses e trácios, que eram alimentados e frequentavam escolas especiais. À medida que o gosto pelos jogos sangrentos se aguçava entre os romanos, cresce o número de escravos gladiadores. 
                Pelo que se observa, a única atividade que restava aos romanos, além da guerra, era a de ser amo
                A forma de tratar os escravos tinha suas normas e peculiaridades especiais. 
               Em De agricultura, um tratado de economia, Catão fixa em trinta o número de escravos da propriedade ideal. E estipula certas normas para seu tratamento que são: cuidar que não morram de fome, de trabalho extenuante ou por excesso de espancamento. os escravos eram um capital que devia ser preservado. Quando envelhecidos ou doentes, deveriam ser vendidos, não apenas com "as velhas carroças e ferros velhos", mas também com "os bois que também estavam ficando velhos". 
             Nos primeiros tempos da escravidão, as leis outorgavam ao amo o domínio total sobre o escravo, e subtraiam a este o direito de propriedade. Assim, tudo que ele eventualmente possuísse era, por direito,  do amo. Na prática, entretanto,  era-lhe permitido acumular proventos, ou parte da própria produção, formando o que se chamava de "peculium" (pecúlio). A união entre escravo e escrava não tinha efeito legal, sendo considerada como simples coabitação, que o amo tolerava, mas podia desfazer a qualquer momento. E o direito penal era extremamente severo quando se julgava um escravo. 
                 Uma pequena diferença se fazia sentir entre o tratamento dispensado aos escravos rústicos e urbanos; os amos eram mais benévolos com estes. Em ambos os casos, no entanto, o único limite à arbitrariedade  dos senhores era seu próprio interesse econômico. 
                    Em Roma, a libertação só era admitida se conquistada por meios pacíficos ()manumissão); por outorga do próprio senhor, ou mediante pagamento . Se a manumissão se efetuasse por testamento, ou outro documento comprobatório, era justa; se nenhum documento a comprovasse, era minis justa. Em ambos os casos, a situação do escravo liberto não era muito clara. Só foi definida em 19 d.C., pela Lei Norbana que, com restrições, equiparava sua condição à dos colonos latinos; o liberto permanecia ligado ao senhor, por obrigações como a "obsequium" (deferência) e o "officium" (ajuda). A negligência no cumprimento destas obrigações acarretava, inclusive, a perda da liberdade. Nem o liberto nem seus filhos tinham direitos civis. Só em determinadas condições tornavam-se cidadãos. 
                 Muitas vezes, a manumissão mediante pagamento era de interesse do amo, que podia, assim, comprar escravos mais novos. O número de manumissão cresceu, até que os imperadores as limitassem; no ano 2 d.C. foram proibidas; em 8 d.C. a Lei Fúria Canina estabeleceu em cem o número de escravos libertos por testamento. 
                 Os libertos seguiam dois caminhos: fundiam-se à massa imensa de desocupados sustentados pelo estado, ou integravam à população, influindo em seus costumes e cultura. 
               A partir do século I, cada vez mais foram surgindo objeções morais á escravidão, a ponto de ela ser considerada incompatível com as leis da natureza. Os ideais igualitários do cristianismo endossaram tal concepção.  a cessão das guerras de conquista punha paradeiro ao fluxo de escravos. E as manumissões diminuíram o número dos já existentes. 
                 Mas a escravidão só terminou realmente com a transformação econômica radical, que esfacelara o Império Romano. E com o aparecimento das relações feudais, onde o trabalho produtivo era basicamente reservado aos servos que se encontravam vinculados á terra.
                 À escravidão sucedeu uma pseudo-liberdade, a servidão. O escravo simplesmente trocaria de amo; em vez de cervo do homem, seria servo da terra. 

A escravidão nas Américas
                 Desde a sua introdução no continente americano, a presença do escravo caracterizou as extensas plantações de produtos destinados à exportação. E foi o que ocorreu no Brasil, nas Antilhas e no Sul dos Estados Unidos. No entanto, quando esse tipo de agricultura não era a atividade econômica básica, a mão-de-obra escrava não se adequava satisfatoriamente, e tendia a perder importância no quadro geral da economia. 
           No Brasil, quando o açúcar, que então era a monocultura de exportação, entrou em decadência, surgiram outras atividades como a mineração de ouro em Minas Gerais; ao mesmo tempo diminuiu o número de escravos. 

                 A expansão marítima dos países Europeus, a partir de século XV, na qual se incluem a descoberta e a colonização do Brasil, foi apenas um capítulo importante da história do comércio europeu. A meta era o Oriente e suas especiarias tão valorizadas nas capitais do Velho Continente.
                 Com este espírito os portugueses aportaram em terras do Brasil. E foi com certa decepção que olharam as novas terras, parcamente habitadas por tribos primitivas. Eles, também, esperavam encontrar ouro, e essa foi outra decepção, porque os índios brasileiros não conheciam este metal tão cobiçado no Velho Mundo. 
               Mas à decepção do primeiro momento,seguiu-se a descoberta de uma mercadoria muito valiosa. Espalhado por larga faixa da costa brasileira, lá estava o pau-brasil, do qual se extraia um corante muito usado em tinturaria. A primeira ocupação do território brasileiro foi consequência de exploração dessa madeira de cor avermelhada.
                  As feitorias - entrepostos comerciais à beira-mar, próximo das matas onde se encontrava a árvore cobiçada - raras vezes eram estabelecimento permanentes. De modo geral, os portugueses fixavam-se numa determinada área até que se esgotassem as reservas naturais, mudando-se em seguida. 
                Esta exploração rudimentar quase não deixou rastro. Não serviu para fixar qualquer núcleo de povoamento. Sua única consequência foi a destruição impiedosa das florestas nativas. Por isso, a decadência da exploração do pau-brasil foi rápida. Em alguns decênios esgotava-se o melhor das matas costeiras, e o negócio perdeu todo o interesse. 
               Os nativos (índios) da colônia foram aproveitados no trabalho pesado desde os primeiros dias.  E foi graças á presença de tribos no litoral brasileiro que a empresa do pau-brasil se desenvolveu. Sua cooperação era facilmente obtida em troca de tecidos, peças de vestuário (principalmente coloridas), miçangas e rosários cristãos que os nativos gostavam de usar como colar; também foices, facões, canivetes, facas, panelas, e outras quinquilharias. Dessa forma não havia propriamente uma escravidão, mas uma troca de produtos. Os indígenas conheciam bem o local e iam para as matas devastando-as; e em seguida abandoavam aquele local e iam para outro, e assim foram destruindo as madeiras de pau-brasil até quase sua extinção. Mas chegou um momento em que os próprios portugueses resolveram agir e impedir essa devastação insana criando leis e proibindo a derrubada dessa preciosa madeira. 
                   Nos primeiros anos do século XVI, Portugal via o Brasil apenas como um entreposto comercial, mas as incursões de franceses e ingleses fizeram com que mudasse de ideia: ou se colonizava a nova terra ou ela passaria a ter outro dono. Era importante produzir algum produto que tivesse fácil aceitação na Europa para que fosse exportado. Colonizar significava plantar e produzir. Foi, assim, que iniciou-se o cultivo da cana para produzir açúcar para os nobres europeus. Significava também trazer colonos portugueses, pela sedução do lucro fácil com pouco trabalho. 
                  Atraídos pelas promessas de uma empresa lucrativa, o colono português jamais pensou em fazer o trabalho pesado. Veio para a colônia com empresário de um negócio rendoso, mas só a contragosto como trabalhador. Outros trabalhariam em seu lugar. 
                  Um circunstância reforçou esta mentalidade: o caráter da agricultura tropical. O cultivo da cana só é lucrativo em laga escala , isto é, em grandes unidades produtoras, reunindo um número avultado de trabalhadores. Para cada proprietário, deveria haver sempre muitos trabalhadores, que eram subordinados e sem propriedade.
             Por outro lado, era escassa a população de Portugal. A falta de braços na metrópole era tão grande que, em meados do século XVI, parte de seu território ainda se achava abandonada, a tal ponto que já fora introduzido o trabalho escravo. 
                    Mas quem trabalharia? De início pensou-se nos índios nativos. 
              Com a mesma benevolência - usando os métodos anteriores da troca de produtos europeus por mão de obra - de início os indígenas aceitaram trabalhar na lavoura de cana. Mas, à medida que afluíam mais colonos, ia decrescendo o interesse dos índios pelos objetos insignificantes com que eram pagos os seus serviços.
              O índio, por natureza nômade, adaptara-se bem ao trabalho esporádico e livre da extração do pau-brasil. (eles já costumavam derrubar as árvores para fazer suas plantações e, dessa forma, o trabalho não lhe era estranho).  O mesmo não acontecia com a atividade  organizada e sedentária como a agricultura, sujeita aos rigores da disciplina. 
                   Ao s poucos tornou-se necessário forçá-lo ao trabalho, manter vigilância para impedir sua fuga. Daí para a escravidão foi um passo. Não eram decorridos ainda trinta anos do estabelecimento da agricultura na colônia, e a escravidão do índio já estava consolidada. 
                 Forçados ao cativeiro, os indígenas resistiram, defendendo-se valentemente, guerreiros que eram. A princípio fugiam para longe dos centros coloniais. Mas logo tiveram de enfrentar os colonos que iam buscá-los onde estivesse. Com esse fim foram organizadas expedições especiais, com as "Entrada Paulistas" que avançavam pelo sertão de fugitivos ou, com esse pretexto, aprisionavam os nativos para utilizá-los nas lavouras. 
                  Acuados, os indígenas revidavam à altura, assaltando os estabelecimentos dos colonos brancos. E quando obtinham uma vitória não deixavam pedra sobre pedra, destruindo tudo e todos os que lhes caíam nas mãos. O núcleos de povoamento ao sul dos atuais Estados da Bahia e espírito Santo nunca puderam organizar-se normalmente devido às constantes incursões dos nativos. 
               Esta luta durou dois séculos. E causou tantas perturbações para a atividade da colônia que a coroa portuguesa foi obrigada a interferir. Contudo, a sua atuação foi quase sempre dúbia: permitia a escravização de prisioneiros de guerras "consideradas justas", e nunca conseguiu evitar na prática que os colonos continuassem a praticar excessos, do que resultou o extermínio de boa parte da população nativa. 
                No século XVIII, o Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, procurou pôr um ponto final nos conflitos, considerando que os nativos jamais se renderiam. Criou-se uma legislação que garantia certos direitos aos nativos e estimulava os casamentos mistos. Mas a situação de fato pouco se modificou. Enquanto faltassem braços para a lavoura, o índio seria perseguido, com o amparo da lei contra ele.
            Um fator, porém, foi decisivo para a substituição do trabalho indígena: sua baixa produtividade. Além da resistência tenaz que opôs à escravidão, o índio era mau trabalhador, de pouca resistência física e,portanto, baixíssima eficiência. Sua civilização era muito primitiva. Não sabia trabalhar metais, apenas atingira o estágio da pedra polida, e só conhecia técnicas muito rudimentares de cultivo.  Não podia, por isso, adaptar-se à técnicas requeridas para altas produções nas grandes lavouras. Nesse momento a escravidão negra foi a solução alternativa. 
                     Os portugueses já estavam preparados para a substituição do índio pelo negro. Desde meados do século XV traficavam com negros escravos adquiridos nas costas da África. Serviços domésticos, trabalhos urbanos pesados e mesmo uma parte da agricultura eram incumbências de escravos, na metrópole portuguesa. Também nas ilhas da Madeira e Cabo Verde, colonizadas na segunda metade do século, o grosso do trabalho era realizado por braço escravo. 
                 Não se sabe ao certo quando apareceram pela primeira vez no Brasil. Há quem diga que vieram já na primeira expedição oficial de povoadores, em 1530. Mas, na segunda metade do século XVI, já eram numerosos.  
                   Na verdade, o comercio de escravos começou com os portugueses, seguidos pelos holandeses, franceses e britânicos, com a instalação de feitorias na costa, onde eram comprados os escravos. Entre 1450 e 1870, pelo menos 11,5 milhões de africanos foram capturados para a venda, dos quais talvez 10 milhões tenham sobrevivido aos horrores da travessia para as Américas. A maioria dos escravos era originária da costa oeste da África,mas por volta de 1800 a África Oriental contribuía não só para o sistema atlântico, como enviava escravos para a Índia e o mundo muçulmano. Nem isso fez a tradicional rota transaariana declinar.  
             A troca do braço índio pelo negro, que se prolongou até o fim da era colonial, foi rápida em algumas regiões - as mais ricas e importantes, como Pernambuco e Bahia, onde a lavoura canavieira exigia sempre mais trabalhadores - e lenta em outras áreas. Contra o negro havia um forte argumento: seu custo. Não que eles fossem caros na África. Mas morriam em grande número durante a viagem para o Brasil. Mal alimentados, amontoados nos porões dos navios, nas piores condições de higiene, somente uma parte dos cativos alcançava seu destino. Seu valor foi, assim, sempre muito alto no mercado colonial. Só as regiões mais ricas e florescentes podiam pagar o seu preço.  As zonas mais pobres tiveram que se contentar com o trabalho dos nativos, caso dos territórios da Amazônia, Pará, Ceará, Maranhão e São Paulo, que só conheceriam o escravo negro no século XIX.
                  O comércio de escravos enriqueceu os traficantes  europeus. No século XVIII, em São Domingos, América Central, um negro era revendido por um preço seis  vezes maior do que era comprado pelo traficante na costa ocidental da África. Esse lucro enorme foi a causa da deportação de aproximadamente oito milhões  de homens negros, naquele século. Em 1770, a Inglaterra dominava o tráfico negreiro, com uma poderosa frota, composta de cerca de duzentos barcos, seguida plea França, Portugal, Holanda e Dinamarca. 
                 Nas missões religiosas tudo foi diferente. À escravidão sumária e brutal realizada pelos colonos, os jesuítas opuseram a segregação dos nativos nas reduções - aldeias de indígenas dirigidas por religiosos, espalhadas por diversos pontos do território da colônia. 
                   Com paciência e habilidade, conseguiram induzir os indígenas ao trabalho, ensinando-lhes costumes e técnicas dos brancos. As missões m chegaram a ser bastante prósperas, desenvolvendo a agricultura e o artesanato. 
               Mas as companhia religiosas, sobretudo a Companhia de jesus, a mais a mais importante, não estavam empenhadas na obra de colonização portuguesa. Tinham objetivos religiosos e materiais próprios, chocando-se frequentemente com os colonizadores, que invadiam as missões para apresar os indígenas. 
              A luta entre jesuítas e colonos, em torno da escravidão dos nativos, abrangeu os primeiros séculos da vida da colônia. Só terminou, na época de Pombal, a A Companhia de Jesus foi definitivamente expulsa do brasil. Isso se deu, naturalmente, pela pressão do colonizadores que precisavam a mão de obra nativa. 
                  Não havia diferença entre o trabalho do índio e o do negro importado da África. Era a mesma escravidão. Só que os indígenas africanos tinham uma cultura um pouco mais avançada que os nativos brasileiros: melhor artesanato e um sistema mais eficiente de exploração do solo, graças ao conhecimento dos instrumentos de metal.  A organização social de algumas tribos africanas já incluía a servidão. Em contato com as feitorias portuguesas na costa atlântica da África, as tribos dominadores passaram a trocar,por mercadorias, "lotes" de membros  das comunidades sob seu jugo. Assim nasceu o comércio negreiro, que se prolongou do século XV ao XIX, com características de grande empresa mercantil. Por intermédio da  tribo de contato, os lusos desmembravam os grupos subjugados, deles separando os homens, mulheres e crianças de melhor porte físico. Isto desorganizava a sociedade tribal, condenando-a a uma rápida decadência. 
             Ao chegarem ao Brasil, os negros escravizados eram vendidos. Cada comprador adquiria apenas alguns negros e, dessa forma, membros da mesma tribo eram separados para prevenir qualquer revolta organizada. Seu trabalho era fiscalizado por feitores autorizados a punir qualquer insubordinação. Sem conhecer suficientemente a terra, como a conhecia  o índio nativo, e ameaçado de terríveis castigos corporais, o negro dificilmente recorria á tentativa de fuga. E, habituado como estava a um trabalho mais sedentário, o nativo africano adaptou-se melhor que o índio ás características da agricultura colonial. 
                 O negro deu o ar de sua presença em todo o Brasil. Nas primeiras décadas do século XVIII constituíam um terço da população total da colônia. Nas extensas plantações de cana, de tabaco ou de algodão, na mineração e na indústria de charque do extremos sul, garantiu com seu trabalho o sucesso da empresa colonial. A produção de matérias-primas tropicais, que deu vida à colônia e enriqueceu a metrópole, repousou sempre no braço escravo.
                 Seu trabalho não se resumiu á grande lavoura. O escravo foi constantemente utilizado nos serviços domésticos e no pequeno artesanato que se desenvolveu à sombra das extensas plantações ou ainda nas zonas de mineração. 
                  A escravidão sobreviveu à colônia. Proclamada a "Independência", a atividade escrava continuou a ser a base mais importante de toda a produção do país. Ainda o trabalho escravo sustentou, no século XIX, o surto inicial de um novo produto de grande aceitação nos mercados europeus: o café. 
                Esse fenômeno tinha basicamente duas causas. Em primeiro lugar, mão-de-obra escrava, sem poder aquisitivo e consumindo o mínimo necessário à sua sobrevivência, não cria um mercado interno que possa absorver toda a produção que deixou de ser exportada. Assim, a economia escrava deve ter um mercado fixo no exterior (no caso, a Europa, e principalmente a Inglaterra). A Europa consumia produtos tropicais como o açúcar, o algodão e o fumo e café. Mas não compraria cevada ou centeio, por exemplo, que o próprio solo europeu produzia. Os estados do Norte dos EUA, de clima semelhante ao do Velho Mundo, dedicavam-se a uma agricultura destinada, em sua maior parte, ao consumo interno, pois seus produtos (milho, alfafa, centeiro, cevada e frutas) não encontravam mercado na Europa. 
                A outra causa da inadaptação do trabalho escravo em atividades não agrícolas é dada pela sua própria condição: os interesses de um ser humano, submetido á escravidão, são muito restritos. Ele, que não tem poder de decisão nem mesmo sobre as coisas básicas da própria vida, torna-se, para tudo, dependente das ordens recebidas. E assim, não é possível atribuir ao escravo tarefas que exijam iniciativa e decisões, mesmo porque ele não tem nenhum estímulo para tomá-las. Por essa razão sua importância econômica diminui quando das das atividades mineradoras no Brasil. Vejamos, como exemplo, que na marinha romana a tarefa puramente mecânica de remar era executada por escravos, mas os marinheiros encarregados de outras funções eram sempre homens livres. 
                Em 1850 é abolido o tráfico de escravos africanos. A partir deste momento, o negro se transforma numa peça cara e antieconômica. A lavoura cafeeira em expansão exige cada vez mais trabalhadores. Torna-se mais barato pagar um salário do que comprar e manter um escravo. A escravidão é abolida a 13 de maio de 1888. 
                Durante todo o período colonial, o branco veio para o Brasil sempre como senhor. Ou então como comerciante, estabelecido nas principais cidades do litoral, já no segundo século da colonização. Mas existiram algumas exceções.  
                  Os territórios fronteiriços da colônia passaram por dias difíceis. Despovoados, sua pose foi contestada a Portugal por espanhóis, franceses e outros povos europeus. Eram frequentemente invadidos e a coroa não tinha como  defendê-los. A única solução foi povoá-los. 
                Assim, entre 1748 e 1756, apesar de ainda existir a escravidão, incia-se o estímulo à imigração, a fim de povoar os territórios estratégicos do Rio Grande do Sul, Santa catarina e Pará. Vieram para cá famílias inteiras de colonos açorianos e madeirenses, que eram destinados à agricultura. Faziam parte da colonização por casais, realizada na época de Pombal. A todas essas famílias de colonos a coroa garantia a posse de pequenos lotes de terra e os meios necessários para a sobrevivência. 
                  Mas a imigração começou de fato com a chegada ao Brasil da família real portuguesa  e com a assinatura de um decreto, em 1808, permitindo ao governo conceder terras a estrangeiros, principalmente europeus. 
                    Entre 1884 (pouco antes da abolição da escravatura) e 1914 chegaram com regularidade as primeiras grande levas de imigrantes - italianos, espanhóis, alemães, portugueses, eslavos e japoneses. Várias cidades do rio Grande do Sul, Santa catarina, Paraná e São Paulo tiveram início com a colonização alemã, italiana e eslava. 
                Em menor escala, vieram ainda elementos precedentes do Oriente Próximo, os sírio-libaneses e os judeus. 
                Voltando os olhos para o que aconteceu em outros países, lembremos que foi com a navegação que a região chamada Nova Inglaterra, no norte do Estados Unidos, se desenvolveram. Tornaram-se pescadores e mercadores. Forneciam gêneros de primeira necessidade aos fazendeiros das Antilhas, dos quais compravam escravos, mas apenas para revendê-los no Sul dos estados Unidos. A venda ou leilão de escravos era uma atividade comum nos estados do Sul. Utilizados para trabalhos domésticos e agrícolas, principalmente nas plantações de algodão, os escravos negros eram valorizados segundo suas capacidades físicas. Nos Estados Unidos nas décadas de 1850 e 1860 apareceu grande quantidade de textos contra a escravidão, nos quais se comparavam os males das plantações com as virtudes da emancipação. Dessa maneira, os escravos nunca tiveram papel de destaque nos Estados do Norte daquele país; por ocasião da independência, seu número não atingia quatro por cento da população total. O Norte comprovara a superioridade da mão-de-obra livre em sua economia, e a escravidão é abolida em rápida sucessão nos Estados da Nova Inglaterra.  Nos primeiros anos do século XIX, praticamente em todo o Norte dos EUA não existia mais escravidão. 
                No século XVII o escravo é introduzido nas lavouras de fumo da Virgínia, e com ele a agricultura torna-se mais rentável. O poderio dos grande fazendeiros aumenta com a adoção do escravo, as culturas progridem em extensão, e os pequenos lavradores brancos, impossibilitados de enfrentar a competição, abandonam suas terras. Uma boa parcela desse lavradores expulso emigrou para o Oeste, transformando-se em "pioneiros".  Tal processo acelerou-se com o desenvolvimento da revolução Industrial na Inglaterra, onde as novas fábricas de tecidos compravam toa a produção algodoeira, estimulando as plantações da Carolina do Norte, Tenessi, Kentucky, Maryland e Virgínia. 
                Contudo, o plantio extensivo do algodão exaure rapidamente o solo, e a produção daqueles estados começou a decair, transferindo-se para outras terras como as do Alabama, Mississípi, Louisiana, Texas e Arkansas. Enquanto se dava essa transferência, as terras do Leste perdiam o valor, e seus fazendeiros eram obrigados a desenvolver outras atividades. 
               A Inglaterra, que era o grande traficante da época, já não fornecia escravos às Antilhas, e com isso os estados do Norte  (EUA) deixaram de obter rendimentos com o comércio de negros. Não foi difícil promulgar uma lei, em 1808, proibindo o tráfico negreiro, o que valorizava a mão-de-obra livre, de que dispunha em quantidade. Por sua vez, o velho Sul, cuja agricultura decadente não comportava mais escravos, com essa lei veria aumentar rapidamente o preço dos negros que possuía. Com efeito, esse preço quadruplicou entre 1815 e 1850, e os antigos Estados algodoeiros passaram a basear sua economia na criação de escravos -m estabelecida nos mesmo molde da criação de gado - que eram vendidos aos novos Estados algodoeiros. Entre 1820 e 1860, cerca de 742 mil negros foram assim negociados. E nesses estados, mais de 30% da população era escrava, enquanto os seus proprietários, os grandes fazendeiros, não chegavam aos 6%. O restante constituía-se de brancos pobres. 
               O Norte, com forte mercado interno e uma indústria nascente, tornava-se pouco a pouco economicamente mais importante que o Sul, preso à monocultura de exportação e ainda muito dependente do trabalho escravo. Isso refletia-se na luta pela conquista do poder, que era mantido pelos políticos do Sul, desde a independência. Embora em 1860 os Estados Unidos da ainda fossem uma nação agrícola, e o algodão do Sul sua maior riqueza,o Norte já contestava tal hegemonia política. O abolicionismo surge como uma arma de pressão empunhada pelo Norte, contra a economia sulina. 
                Em 1860, um nortista (Abraão Lincoln) ganha as eleições presidenciais. Os sulistas, sentindo fugir-lhes o poder e ameaçados em sua economia, pretendem abandonar a União. Onze Estados do Sul fundam os "Estados Confederados da América", que que guerrearam os demais durante cinco anos. Uma das medidas que o Norte lançou mão para vencer a Guerra de Secessão foi exatamente a abolição da escravatura em 1863. 
                   A consequência da medida, tomada nessas circunstâncias, foi que no Sul o negro livre passou a simbolizar a frustração do antigo poderio perdido, o que o tornou vítima de preconceitos raciais, dos mais ferozes que se conhecem. Por outro lado, a abolição não foi seguida de medidas que propiciassem a elevação do padrão de vida do negro norte-americano. Este permaneceu constituindo a grande massa de pobres. O negro, inculto e indefeso, sofreu discriminações, perseguições e linchamentos. 
                  As leis promulgadas após a Segundo Guerra Mundial, para equiparar os direitos civis, mostraram-se incapazes de eliminar os preconceitos. Isso motivou o surgimento de uma consciência negra a exigir igualdade de fato e disposta a lutar por ela. Mas os preconceitos e acirramento de ânimos continua até hoje. E os EUA enfrentam nos movimentos negros de hoje a pior crise social da sua história.
                   Um grande exemplo nos deu Simão Bolívar, que foi chamado Libertador da América Espanhola. Militar brilhante, homem culto, tão liberal e moderno que emancipou todos os escravos de sua fazenda, logo no início da Independência  da América Espanhola. 

Escravidão Britânica
             Em 1807, tinha sido abolido o tráfico dos escravos, graças à eficaz ação do partido "whig", e a marinha britânica conduzira, em todos os mares, uma verdadeira guerra contra todos os navios negreiros; mas centenas de milhares, talvez milhões, eram, ainda, os homens de cor sujeitos à escravidão, em todas as parte do mundo. Pois bem, em 18233, o ministério Grey - ainda uma vez os "whigs" estavam no poder - propôs e obteve que, em todos os territórios sujeitos à coroa britânica,a escravidão fosse abolida, o que foi pontualmente cumprido, naquele mesmo ano, depois que o governo britânico pagou nada menos que vinte milhões de esterlinas aos senhores de escravos, para ressarci-los do prejuízo sofrido. Se pensarmos que, trinta anos depois, metade do povo americano enfrentava uma guerra sangrenta para manter a escravatura, mais podemos apreciar a prova de civilização dada pelos ingleses. 

Escravidão na Rússia
                  A escravidão na Rússia foi diferente. Os grandes principados e também os menores participavam do comércio internacional  de escravos. Ocasionalmente vendiam prisioneiros de guerra como escravos, por vezes com as respectivas mulheres e filhos. 

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