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quinta-feira, 19 de março de 2020

AGONIA E QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO - SUA HERANÇA DISPUTADA

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Os Celtas
                      A inteira Gália está dividida em três partes, numa das quais os belgas, noutra os Aquitânicos, e, na terceira, aqueles que, em nossa língua, se denominam Celtas, em Galli. 
                     Assim, em seu límpido latim, Caio Júlio César inicia a longa narrativa de suas campanhas além dos Alpes. Com fria exatidão, César demora-se em descrever cada tribo Gália, desde os belicosos Helvécios, aos Séquanos ,aos Éduos, aos Vênetos da Normandia, sempre naquele estilo impecável do homem evoluído, que observa os usos e os costumes dos povos selvagens. E realmente selvagens apareciam, então, aos olhos italianos, os habitantes da França, da Inglaterra e da Alemanha; bárbaros de língua gutural, ignaros de tudo que fosse arte, dedicados unicamente ao manejo das armas, precariamente abrigados em aglomerações de cabanas recobertas de ramos, míseros tugúrios, que contrastavam com o esplendor dos palácios romanos. 
                Na realidade, ao tempo das campanhas de César, isto é, no ano 55 a.C., os Celtas já haviam recebido, desde séculos, o influxo civilizador dos Gregos e dos Latinos. Eram, portanto, bem menos rústicos de quanto poderiam ser se o espírito comercial dos habitantes de Marselha; e a expansão romana, não tivessem contribuído para acender neles uma faísca de cultura cívica e progresso técnico. Os únicos vestígios da "civilização" dos Celtas (com este nome era designado não um povo, mas sim, um tronco racial) são esses colossais maciços quadrados e polidos, chamados dolmens, que ainda se encontram em algumas localidades da França e da Inglaterra meridional, restos de obscuras práticas religiosas, oficiadas por uma casta sacerdotal fechada e ciosíssima, a casta dos "druidas", dedicada a uma sangrenta magia, sobre a qual mesmo então não era fácil obter pormenores precisos. De seus numerosos povoados, alguns dos quais eram grandes como cidades, nada mais, porém, nos restou. Sobre eles surgiram as hodiernas cidades francesas, de maneira que a subdivisão em regiões, em departamentos, da França atual respeita, em linhas gerais, as disposições das antigas tribos célticas. Uma rudimentar agricultura, o pastoreio, uma ou outra modesta manufatura, eram as únicas atividades dos Galos. Privados de leis, presos somente a hábitos e tradições quase sempre cruéis, sem qualquer forma de escritura própria, eles vivia, à época de cristo, tal como as populações itálicas dois mil anos antes. 
              Apesar disso, podiam considerar-se civilizados, em confronto com seus vizinhos de além Reno, os Germanos, a quem haviam ensinado o uso do ferro, a fabricação da cerveja, os rudimentos do comércio. Selvagens, esses, cuja ferocidade a Itália teve ocasião de experimentar quando as duas tribos germânicas dos Cimbros e dos Teutões irromperam do outro lado dos Alpes; colossais homens louros, que pareciam ter saído das cavernas primordiais, ignorantes e cruéis, tanto no aspecto físico como nos modos, e que chegaram a causar horror aos cultos latinos. Estes, na realidade, não tentaram jamais, seriamente, a conquista das terras além do Reno, especialmente depois da severa derrota que as legiões de varo sofreram no escuro pinheiral das selvas de Teutoburgo, por obra dos Germanos de Armínio. Tácito, o historiador latino que os estudou bem de perto, admira-lhes o heroísmo em guerra, os hábitos rudes e fortes, e compara-os com a cívica moleza dos romanos. Garante, outrossim, que são autênticos indígenas de suas regiões, não originários de outras terras, parecendo-lhe impossível que alguém possa escolher, voluntariamente, a Germânia como morada. 
                É bem provável que Tácito tinha razão; os Germanos, primos dos Celtas, e pertencentes, como estes, ao grande tronco indo-europeu, tendiam mais para abandonar suas florestas nórdicas em busca dos suaves climas meridionais do que ali se estabelecerem definitivamente.  Justamente por esse fato, os que afirmam a superioridade da raça germânica (à qual pertencem também os Anglo-saxões) procuram demonstrar a contribuição essencial de seus antepassados a todas as civilizações do mundo antigo, do qual os louros salteadores nórdicos teriam construído a aristocracia dirigente. É bem verdade, ao invés, que, se civilização é, como é mesmo, sinônimo de antiguidade e de continuidade de história, ninguém é mais bárbaro, ainda hoje, do que os herdeiros de Armínio e Ariovisto. 

               A Ilha Britânica, conquistada por Júlio César, no ano 54 a.C., praticamente perdida durante os turbulentosa reinados de Nero e Calígula, fora recuperada por Tibério Claudio no ano 41 de nossa era cristã, solidamente fortificada e dotada de guarnições, por Domiciano e seus sucessores. O domínio romano estendia-se a toda a Inglaterra e daí até às elevações montanhosas da Escócia, onde o imperador Hélio Adriano mandara construir um longo sistema de diques e torres, que cortava a ilha, do  mar do Norte ao Atlântico, mais além, viviam as altivas e "selvagens" tribos escocesas, com as quais os Romanos preferiam não lidar.
                      O vale de Adriano, do qual ainda existem  alguns vestígios de ruínas, foi erigido pelas tropas romanas estacionadas na Britânia, para defender a Inglaterra das invasões dos  Escoceses. 
                Muito distante da Itália para ser inteiramente colonizada, a Britânia jamais se encontrou inteiramente com o mundo romano; assim, quando, no princípio do século V, as guarnições romanas abandonaram definitivamente a ilha, esta recaiu rapidamente na primitiva barbárie. Desunida e perturbada pelas contínuas incursões dos Escoceses, que se tornaram ousados depois da partida dos Romanos, a Inglaterra acabou por acolher prazeirosamente os rudes povos de raça germânica, os Sênones a princípio, depois os Anglos, que, no século seguinte, desabaram em catadupas sobre suas costas, ocupando bem depressa o inteiro país. Foram-se constituindo, dessa maneira, graças aos novos senhores, pequenos reinos independentes, dos quais os maiores eram o Essex, o Sussex, o Kent, o Wessex; baluarte da antiga estirpe britânica permaneceu somente o Gales, onde ela sobreviveu até hoje, com seus costumes e sua mesma língua. 
                  As primeiras luzes da civilização alí chegaram, a essa gente ainda jejuns de leis e de cultura, da Igreja de Roma, que, em 596, sob os auspícios do Papa Gregório Magno, pala enviou o monge Agostinho, com alguns companheiros, para pregar o "Verbo de Cristo". A conversão do rei Etebred e de alguns dos principais senhores, a fundação da abadia de Canterbury (que desde essa época passou a gozar de uma certa proeminência sobre as demais da Inglaterra), o difundir da educação religiosa, foram outros tantos passos para a frente, na estrada da civilização. 
                  No século IX, o rei Egberto conseguiu reunir num só reino todos os pequenos potentados da ilha; seguiu-se, depois, a restauração de uma monarquia nacional, com Eduardo, o Confessor, elevado ao trono em 1042, após a morte de Canuto, último rei Dano. A Eduardo, na falta de herdeiros diretos, sucedeu o conde de Wessex, Haroldo, que todavia, por ocasião de seu naufrágio nas costas normandas, empenhara-se em sustentar os direitos ao trono inglês do duque Guilherme da Normandia. Este, mal teve notícias da eleição de Haroldo, partiu, com suas forças, rumo à Grã-Bretanha, a fim de fazer valer suas pretensões e punir o Conde perjuro. 
                Em 1066, na planície de Hastings, as tropas inglesas e os cavaleiros normandos encontraram-se frente à frente; o choque, breve e violento como todas as batalhas da quela época, terminou com a morte de Haroldo e a esmagadora vitória de Guilherme. Tornado árbitro do destino do país, Guilherme redistribuiu títulos e terras, entregando-os aos seus companheiros; foi-se, dessa maneira, formando, em torno do soberano, uma poderosa aristocracia franco-normanda, senhora, com direitos hereditários, dos bens e da vida dos cidadãos. 
                A dinastia de Guilherme o Conquistador  se extinguiu com seus filhos, Guilherme II e Henrique I; por ocasião da morte deste último, o reino passou às mãos de um seus parente, Henrique II, da família dos Plantagenetas - era o ano de 1135. Este que havia desposado Leonora, filha do duque de Aquitânia, encontrou-se, por direito de matrimônio, senhor não só da Inglaterra e da Normandia, mas também de todo o Languedoc, ou  seja, metade da França. os reis da França, naturalmente, não viam com bons olhos esse ultra-potencial britânico e procuraram, também com o auxílio dos Papas, contê-lo ou anulá-lo. Das manobras políticas passou-se logo a vias de fato, isto é, a uma guerra aberta entre Felipe Augusto, rei da França, e Ricardo Coração de Leão, filho de Henrique II e rei da Inglaterra; a este último sucedeu o filho João (chamado, depois, "sem terra") que precisou ratificar um ato nominal de abdicação e obediência ao Pontífice. Disto se aproveitaram os Lordes, ou seja, os nobres feudatários, para conseguir ainda maior poderio, às custas do soberano; em 1215, eles obrigaram João a firmar um documento, a "Magna Cartha Libertatum", que colocava todo e qualquer ato do rei sob o controle da Câmara do Lordes. Esta data assinala a primeira vitória dos súditos contra o absolutismo real, é o primeiro esboço daquela "Monarquia Constitucional" que faz, ainda hoje, da Inglaterra o mais alto exemplo de sábia democracia. 
                    
O Reino da Espanha
                 Roma e seu povo mergulham na escuridão e, aos poucos, vão se desagregando ante a notícia do imprevisto golpe de Anibal da Espanha. Esta nação, até então dividida em duas zonas de influência, entre Cartagineses e Romanos, entrava, assim, oficialmente, na História; seis séculos de domínio romano deviam,mais tarde, assimilá-la completamente aos usos do Império. 
                Suevos e Visigodos, depois, saquearam o país, sem encontrar oposição, e acabaram por ali se instalar, exatamente como ocorreram na Itália com os Godos e os Longobardos. Também aqui, como na península italiana, os bárbaros eram uma pequena minoria, com relação aos nativos, mas eram uma minoria armada, que podia impor-se, senão sobrepor-se, aos vencidos. Prevaleceram, não sem luta, os Visigodos sobre os Suevos e fundaram um daqueles reinos romanos-barbáricos, que floresceram, naqueles tempos, nos velhos domínios imperiais. Todavia, a rude inexperiência germânica e os dissídios políticos e religiosos minavam a base dos conquistadores Visigodos, que sobreviveu mais de dois séculos - de 474 a 717 - sobretudo pela ausência de fortes inimigos externos. Quando em 711, o chefe árabe Tarik desembarcou em Caple (a moderna Gibraltar), o fim do  reino barbárico ficou assinalado. Desbaratado um exército visigodo, em "Xerez de la Frontera", os cavaleiros do Profeta avançaram rapidamente, favorecidos pela rivalidade entre os chefes inimigos e pela inércia da população hispano-romana, que constituía a enorme maioria, à qual os novos conquistadores vinham prometendo liberdade de culto e de instituições. Quando, porém, os Espanhóis percebem que os novos amos eram pouco maleáveis, especialmente em matérias de religião, começaram a emigrar em massa para regiões do oriente e do norte, mas impérvias e menos expostas a invasões. A princípio, a Espanha não foi mais do quer uma província do Califado de Damasco; mais tarde, porém, as discórdias entre as tribos e a distância da capital favoreceram a autonomia dos emires, tanto que,em 912, o emir de Córdova, Abd-el-Ramann III, da dinastia Omníade, proclamou a si próprio Califa. 
               Entretanto, a desforra dos Cristãos se ia processando; o reino de Navarra, a cavaleiro dos Pirineus, a resistência às incursões árabes, e o pequeno reino das Astúrias, junto ao Golfo de Biscaia, ia-se dilatando para o ocidente, à custa dos maometanos. Afonso II, Ordonho II, Afonso V, rei das Áustrias, arrancaram, pedaço a pedaço, ao Califado de Córdova, num século de batalhas, as regiões de Castela e Leão, ao passo que, sob o reinado de Sancho Garcez, a Navarra, conquistou terras além do Ebro. 
              Naqueles séculos, ao fim do primeiro milênio, a história da Espanha se nos apresenta em contínua mutação; contudo, entre continuados dissídios internos, a ofensiva cristã ganhava terreno lentamente; Badajoz, Sevilha e Toledo caíram uma após outra, sob crescente hegemonia do rei de Castela e leão, que avançou suas fronteiras das margens do Tejo, isto é, nos territórios do moderno Portugal. Herói da arrancada cristã foi um jovem guerreiro, Rui Dias de Bivar, denominado "Cid  Campeador", que, amparado numa audácia legendária e por uma prodigiosa fortuna, não sofreu jamais uma derrota em toda a sua movimentada carreira de guerra. 
                  Impelidos pelo fanatismo religioso e pela avidez do saque, não satisfeitos ainda com as conquistas que os haviam conduzidos à Síria, à Palestina, ao Egito e à África setentrional, no ano de 711, os Árabes invadiram a Espanha e, após destruir o reino dos Visigodos e tentar penetrar na França, estabeleceram-se na península ibérica. Esplêndidos cultores da arte, ótimos agricultores, tenazes no espírito de colonização, eles souberam, de início, conservar solidamente unidas as populações que, sobretudo nas localidades meridionais, foram gradualmente se arabizando. Quando, em sua pátria, a dinastia dos Omíades substituiu a dos Abássidas, e a capital foi transferida de Damasco para Bagdá, os Árabes da Espanha, cujo poder era, acima de tudo, devido ao último Omíade, fundador do "califado de Córdova", sentiram-se sempre menos ligados ao poder central e formaram alguns califados independentes. Sua força, embora ainda ameaçadora e expansível, diminuiu, então, notadamente, devido ás discórdias internas, que bem depressa surgiram entre os vários califas; e a nobreza espanhola católica disso se aproveitou para reagir e iniciar a gradual reconquista das terras invadidas. 
                  Em fins do século XI, estavam em mãos espanholas os reinos de leão, Castela, Navarra e Aragão, mas ainda muitas terras se encontravam em mãos dos inimigos. A situação política, aliás, não estava muito clara. Do lado dos Árabes, as discórdias entre os diversos califas minavam-lhe o poderio; do lado espanhol, a ambição de alguns grãs senhores fazia com que estes, no intuito de adquirir maior riqueza e poder, às vezes se aliassem com o inimigo. A população ibérica, se bem que sentisse desejo de ficar livre, sob soberanos espanhóis ou católicos,  nem sempre estava pronta para reagir contra o estrangeiro. A reconquista da Espanha, realmente, só muito mais tarde se completaria, pelos fins do século XIV, graças a Fernando e Isabel, soberanos de Aragão e Castela, mas este definitivo triunfo foi preparado por homens como Cid, isto é, homens que, na confusa situação política de então, sempre agiram com a ideia precípua de resgatar a própria terra das mãos do invasor, em nome fé católica e do próprio soberano, sem se importar com vantagens pessoais. 
              O avanço espanhol foi contido, por algum tempo, pela intervenção dos mouros da África que, em 1086, em Zalaca, infligiram uma séria derrota nas tropas de Afonso VI de Castela; mas, poucos anos depois, castelhanos e aragoneses iam novamente para diante e retomavam a lenta conquista dos territórios do califado árabe. 
                   À época em que viveu o guerreiro Rodrigo Dias, (mais conhecido como "El Cid" ou "Cid, o Campeador".) a Espanha atravessava um dos mais críticos momentos da reconquista; e Cid foi o hidalgo que, com seu valor, não só soube, frequentemente, levantar a sorte da Instável fortuna espanhola, mas também ser aquele que concentrou no soberano e na população a vontade de uma terra liberta do invasor e unida na mesma fé religiosa; por essas razões, ele
mereceu que suas proezas fossem perpetuadas e transmitidas á posteridade, transfiguradas pelos poetas, os quais, de sua figura, fizeram o símbolo do heroísmo que compeliu os espanhóis a combater contra os infiéis dominadores. Muitos séculos se passaram, e as escassas notícias históricas de sua vida, até nos chegadas pelas crônicas escritas pelos seus contemporâneos, acrescentaram-se vários episódios legendários. Rodrigo Dias - El Cid - nasceu em Bivar, na pequena nobreza de burgo e, em sua primeira mocidade esteve a serviço de Fernando I, rei de Castela e leão.   Embora tenha realmente existido, já se tornou um personagem de lenda. Conta-se que foi expulso por Alfonso VI, devido a uma conspiração palaciana, onde teria participado com outros membros do palácio. Alguns episódios lendários, verdadeiros uma não, inspiraram o dramaturgo Guilherme de Castro a compor o belíssimo drama  teatral "El Cid". Contudo, é certo que sempre gozou de plena confiança de Fernando I, tanto que este, ao morrer, nomeou-o conselheiro de seus filhos. Quando, em 1065, segundo a vontade do defunto soberano, o reino foi dividido entre os cinco filhos. Rodrigo passou a servir o mais velho, Sancho, ao qual coubera o governo de Castela.
               Apesar do ódio de raça e de religião, a longa permanência dos Árabes na Espanha não deixou de produzir seus frutos; a ela devemos grande parte das antigas instituições culturais espanholas, as melhores jóias da arquitetura medieval, os famosos artesanatos de Córdova e de Toledo, que difundiram pela Europa preciosos couros finamente trabalhados e belíssimas lâminas damasquinadas. Mas, a função histórica do islã ia chegando ao término; tal como na Espanha, assim, em toda a Europa amanhecia o renascimento da latinidade, longamente comprimida sob o pesado domínio barbárico. 

O surgimento do Sagrado Império Romano


                      Acampados sob os escombros da grandeza latina, a  Germânia foi fundamental para reacender a chama do ideal "Sagrado Império Romano", que eles mesmos haviam apagado. Agora era necessário continuar aquela obra de civilização que Roma construíra durante séculos. Extinta, entre as discórdias de princípios e prepotências de nobres, a dinastia carolíngia, também a autoridade imperial se tornou letra morta; foi somente com Otão I, duque de Saxônia e rei da germânia, que ela ressuscitou, com o florescer da monarquia alemã. Otão preocupou-se, antes de mais nada, em fortificar a autoridade do rei em seu próprio país, submetendo os feudatários recalcitrantes, em alargar sua influência no exterior, subjugando a Dinamarca e esmagando os Húngaros, na batalha de Lech no ano 955. Poucos anos depois, em 962, por ocasião de uma descida sobre a Itália, provocada pela Papa, que via os direitos eclesiásticos sempre mais desprezados pelos feudatários, Otão entrava triunfalmente em Roma, e ali recebia a coroa de Carlos Magno. Último da dinastia saxônia foi Otão II, cuja vida mereceria uma longa descrição, ambientado naquela Roma medieval, ensanguentada pelas facções, povoada ainda pelas grandes sombras imperiais. 
              Deslumbrado ante o imenso revérbero da romanidade, que ele sonhara reeditar naquele mundo perdido, sentiu-se chamado a governar os romanos, débeis herdeiros do maior grande povo da Europa, rumo a um novo porvir de domínio. Talvez nunca como então o velho mundo latino esteve tão perto de fundir-se com a impulsiva mocidade germânica. Mas, a absurda tentativa, somente concebida por um jovem entusiasta, todo absorto em sua esplêndida utopi, fracassou devido à hostilidade dos nobres alemães e pelas incompreensões dos senhores romanos, que pensavam mais na própria ambição pessoal do que no futuro da pátria. Quando o desiludido imperador morreu, no ano 1002,  ele contava apenas 22 anos de idade, o trono imperial permaneceu vago por algum tempo, caindo, em seguida, o poder da dinastia Sálica. Foi então, com Conrado I e, mais ainda, com seus sucessores Henrique II e Henrique IV, que o Império, organismo agora poderoso, mais firme do qualquer outro reino europeu, veio a esbarrar de encontro à autoridade papal: os imperadores, de fato, arrogavam-se o direito de nomear seus próprios bispos, que eram, além disso, titulares de feudos, ao passo que os pontífices reclamavam para a Igreja tal privilégio.  A "luta pelas investiduras", que gravou profundamente a história italiana, teve seu momento mais dramático no episódio de Canossa e, seu epílogo, no acordo de Worms em 1122, de onde o poder imperial saiu abaladome os feudatários receberam vantagens. 
               Extinta a dinastia Sálica, ei-las,  frente a frente, disputando a primazia alemã e o império, duas grandes facções: aquela chefiada pela família Hohenstaufen de Suábia e aquela guiada pelos Wolf da Baviera, da qual tomou o nome, na Itália, o partido Guelfo, que hostilizava os Suevos. Conquistaram o poder, os Hohenstaufen. Enquanto os dois primeiros soberanos desta família, Frederico I e Henrique VI, conservavam firmemente seu poder alemão, procurando, ao mesmo tempo, salvar os territórios além dos Alpes, que se iam gradualmente esfacelando. Frederico II, quando da dinastia de Suábia, desprezou a Germânia e preferiu manter sua corte na Sicília. Isto acelerou a desagregação do Império, isto é, o fracionamento da germânia em muitos pequenos estados independentes, dando-lhes aquela forma política  que, mais ou menos, conservou até fins do século XIX.  Assim, nem Conrado IV nem seu filho Conradino, último dos Hohenstaufen, encontraram na Germânia aquele apoio de que necessitavam. Conradino, abandonado por todos, morreu na Itália, decapitado por Carlos de Anjou. 
                 Com o fim dos Suevos, seguiu-se um período confuso, de anarquia, chamado "o grande interregno", que durou de 1250 até 1273, mas, já surgia, em terras germânicas, um novo astro, destinado a um mais duradouro esplendor: a dinastia dos Habsburgos. 

O Reino da França
                         No princípio do século V  Império Romano já estava em franca desagregação. Os últimos fantasmas de soberanos, desaventurados herdeiros dos Césares, apareciam e despareciam na sombria corete de Ravena
                 O "Juízo de deus", para o qual se apelava na Idade Mádia, a fim de resolver processos insolúveis, consistia em submeter o acusado a uma prova, da qual, se inocente, devia sais ileso. Mulheres acusadas de feitiçaria eram obrigadas a caminhar descalças sobre brasas ou imersar em água fervente; par os nobres recorria-se aos duelos, em campo fechado, na presença de juízes, entre eles o sábio abade Suger, conselheiro dos reis Luiz VI e Luiz VII.
                  Quando Hugo Capeto subiu ao trono da França, estávamos no anos de 987. O território sobre o qual ele reinava nominalmente se encontrava dividido em muitíssimos departamentos autônomos. Dos castelos fortificados das colinas, os feudatários exerciam seu poder incondicional, desprezando a autoridade soberana. 
           Como sabemos, Hugo Capeto sucedia aos últimos e já desautorados monarcas do trono Carolíngio, que se haviam deixado sobrepujar pelo prepotente feudalismo franco. Ele, que era o mais rebelde entre os feudatários, que chegava até a depor o próprio soberano, achou de bom alvitre precaver-se contra igual perigo e fez sentir que o reino da França era novamente capaz de fazer valer seus direitos. Não era esta, todavia, uma tarefa que se pudesse cumprir em poucos decênios; nem Hugo Capeto nem seu filho Roberto II conseguiram tal intento, embora alcançando o apreciável resultado de conquistar para a monarquia muitos feudos menores e o grande ducado de Borgonha. 
               Os reis da França, é verdade que a contragosto, tinham sido obrigados a manter em seu próprio reino um temível foco de rebelião e de guerras; o ducado da Normandia, dominado pelos poderosos conquistadores noruegueses. Sob o reinado de Filipe I, quarto soberano da dinastia dos Capetos, os Normandos da bretanha recomeçaram seu impulso expansionista, conquistando a Itália meridional, sob as insígnias de tancredo de Altavila, e Inglaterra, com o séquito de Guilherme, "o Conquistador". Esta última tentativa veio criar um estado de fato e de excepcional gravidade; na verdade, o rei da Inglaterra passou a ser, contemporaneamente, vassalo do rei da França - como duque de Normandia - e a possuir, de direito, uma importante cabeça de ponte no continente. As consequências logo se fizeram sentir, sob o reinado de Luiz VI, filho de Filipe, que precisou defender seu próprio território da invasão de Henrique I, da Inglaterra, apoiado pelos Normandos e por alguns senhores do condado de Anjou. A luta, surda durante o reinado de Luiz VI e de Luiz VII (que tiveram o abade Suger, o mais precioso dos conselheiros), deflagrou abertamente, com a morte de Henrique II, Plantageneta, rei da Inglaterra; Filipe II Augusto, um dos maiores soberanos que a França já tivera até então, conseguiu fazer com que seu sucessor, João Sem Terra, abdicasse; despojou-o de seus feudos franceses e coligou, contra os Plantagenetas, muitos de seus vassalos. Contra ele, marcharam o rei deposto e o Imperador da Germãnia, mas, perto de Lille, Filipe Augusto enfrentara as tropas confederadas, derrotando-as. Seu triunfo foi devido não só à sua hábil política exterior, mas também á habilidade com que soubera atrair para seu lado o povo e senhores. Filipe Augustodesfrutou, com vantagem para a coroa, até a cruzada contra os Albigenses - hereges que negavam a ressurreição de cristo e que pululavam no sul da França - que o Papa iniciara em 1208. Os Albigenses tinham seu máximo sustentáculo no mais poderoso feudatário do sul, Raimundo VI, conde de Tolosa. Filipe Augusto, para não tomar parte abertamente nos horrores de uma guerra civil, confiou a direção das operações a Simão de Montfort, um de seus fiéis, o qual devastou a a Provença e o Languedoc, (região administrativa) varrendo, em pouco tempo, os hereges e seus aliados e,o que é mais importante, ampliando os domínios da coroa até ao Mediterrâneo. 
                   Luiz VIII, "o Leão", sucedido em 1223 ao pai, consolidou as conquistas já feitas e apoderou-se do  condado de Blois; seu filho, Carlos, que ele investiu no condado de Anjou, foi aquele que tanta influência teve no destino da Itália meridional. 
                Ao morrer Luiz VIII, a coroa passou para seu filho, que era ainda uma criança, tanto que a mãe, Branca de castela, conservou a regência durante dez anos. A rainha, mulher forte e hábil, soube dominar os  turbulentos e administrar sabiamente o estado, de modo que, quando, em 12356, Luis IX assumiu o poder, encontrou em suas mãos um organismo sólido e organizado. Deste rei que a Igreja venera sob o nome de São Luiz.


  Depois de um longo período de paz e prosperidade, o mundo romano mergulha numa crise no século III A pressão dos germanos pelo norte, e a do recém-criado Império Sassânida da Pérsia, pelo leste, provocando a queda do governo civil, depois do assassinato do imperador Alexandre Severo em 235 d.C. Os exércitos das diversas províncias procuravam converter seus próprios comandantes em imperadores, e destruíam a economia.  No Ocidente, os gauleses libertaram-se do domínio romano e formaram seu próprio império, sob Póstumo, entre os anos 259 e 269 d.C. No entanto, no leste, os sassânidas invadiram a Síria, derrotaram e capturaram o Imperador Valeriano, saquearam Antioquia, a terceira cidade do mundo romano, e promoveram a criação de um Estado oriental independente, governado pela "imperatriz"Zenóbia de palmira. Simultaneamente, o império foi atacado pela peste que, no decorrer dos quatro séculos seguintes, irrompia periodicamente.  
               A desvalorização da moeda e a inflação somaram-se à angústia geral, exacerbada por uma balança comercial adversa, que provocou a saída desmedida de ouro para o Oriente. A inflação atingiu níveis gravíssimos, inclusive de uma perspectiva atual: uma medida de trigo que no século I d.C custava 6 dracmas no Egito, aumentou para 200 no ano 276, para 9.000 em 314 e para 78.000 no ano 334 e, mais adiante, chegou a mais de 2 milhões. Não é surpreendente, portanto, que os protestos contra os impostos tenham se tornado endêmicos. Nas fronteiras se chegou inclusive à deserção para o lado dos bárbaros. Foi necessária a ação de uma série de imperadores fortes, entre os anos 268 e 284, para reverter a onda de invasões e restituir a ordem interna. 
                Quando Diocleciano assumiu o poder em 284, era evidente que todo o império não podia se manter unido nas mãos de um só governante. Para descentralizar o império, Diocleciano dividiu o poder, conservando a parte oriental e cedendo para Maximiano, que havia sido promovido á dignidade  de Augusto, a parte ocidental, cada um com seu respectivo César como subordinado. As províncias foram reorganizadas em quatro prefeituras e doze dioceses. Extinguindo com isso o principado, os civis haviam sido derrotados pelos militares. Ainda mais, era necessário encontrar uma nova estrutura para a autoridade imperial; sob a influência de ideias  orientais, o Princeps  converteu-se em Dominus, isto é, em amo ou governante absoluto à frente de uma grande burocracia. 
                  O centro de gravidade se inclinava para o Oriente e, no ano de 330, o imperador Constantino fundou uma nova capital e cidade cristã em Bizâncio, rebatizada Constantinopla. Uma reforma do sistema tributário deu origem a uma breve melhora econômica. A crise foi adiada, porém não superada. Embora, teoricamente, o império fosse governado de forma conjunta, vagarosamente se dividiu em duas metades, oriental e ocidental., e as províncias mais afastadas caíram nas mãos de invasores bárbaros. 
                   A riqueza e o prestígio do Império Romano, inclusive na sua época de decadência no Ocidente, atraíram os povos que ficavam além das suas fronteiras. Alguns chegavam simplesmente para se estabelecer sob a proteção do regime romano, outros para saquear. Alguns generais bárbaros ambiciosos, dos quais o império dependia cada vez mais, exerciam uma influência considerável. O fim do império não foi um colapso espetacular produto das invasões dos bárbaros, e sim um declínio gradativo. No século V, o governo romano do Ocidente se enfraqueceu a ponto de a própria capital ficar exposta a ataques. O saque de Roma pelos visigodos de Alarico em 410 marca o fim de uma era; porém durante o século V os bárbaros ajudaram tanto a sustentar como a destruir aquilo que restava do Império Romano do Ocidente.  O Exército que venceu Átila, rei dos hunos, nos campos Cataláunicos, ao norte da França, em 451, pode ter tido tantos godos e hunos na qualidade de mercenários e aliados com o Exército que enfrentava. No fim do século, o Império Romano do Ocidente havia desaparecido e tinha sido substituído por uma série de reinos bárbaros: os visigodos na Espanha e no sudoeste da França, os francos no norte da França, os ostrogodos na Itália e os vândalos no norte da África. 
                  Em princípio do século V, entre as tribos de raça  germânica que, em massa, transferiram-separa além do reno, rumo às ricas terras de Roma. 
               O império estava em plena desagregação. Os últimos fantasmas de soberanos, desaventurados herdeiros dos Césares, apareciam e desapareciam na sombria corte de Ravena, sacudidos pelas conspirações e pelas rivalidades dos chefes bárbaros. A Britânia, a Espanha e Átrica  estavam perdidas irremediavelmente; na Gália, as migrações bárbaras tinham-se sucedido gradualmente de maneira que, pouco a pouco, os recém-chegados, de raça germânica, haviam-se, em parte, misturado ás populações célticas e aos próprios Romanos. Estes recém-vindos eram os Francos; não mais civilizados do que os Hunos e os Vândalos, mas, justamente pelo caráter pacífico de sua invasão, foram melhor tolerados. Ao princípio do século V, os Francos, instalados nas Gálias, estavam divididos em dois grupos de tribos: os Sálios e os Ripuários, que combatiam asperamente entre si. 
                 Dos primeiros reis francos, Faramundo, Clodião, Meroveu, Childerico, conhecemos-lhes somente os nomes, a nós transmitidos pelas lendas. O primeiro soberano que deixou claros sinais de sua passagem foi Clodoveu, que viveu entre os anos 465 e 511. Originário de uma tribo sálica, soube abrigar, sob seu cetro, todos os povos de sua raça. 
           Convertendo-se ao cristianismo, com todo seu povo, Clodoveu recebeu de Anastácio, imperador de Bizâncio, o título de Cônsul, o que lhe conferiu uma espécie de investidura oficial, dando-lhe, e a seus descendentes, o governo seguro dos territórios gálicos. Foi este o primeiro ato de constituição daquilo que, depois, com o decorrer dos séculos, se transformaria num dos mais poderosos estados da Europa, pois, em Clodoveu, já se encontrava, em germe, o espírito de Carlos Magno e de Luis, o Santo. Depois de sua morte, o reinado caiu num longo período de lutas civis, que o fracionaram nos reinos menores da Áustria, de Orleãs, de paris, de Soissons, de Borgonha e da Aquitânia, que se reagruparam, mais tarde, em duas grandes regiões: a Áustria Oriental e a Nêustria Ocidental. Sobre todos estes pequenos e grandes domínios, reinavam os descendentes de Clodoveu, combatendo, entre si, para se apoderarem do poder central; na realidade, esta dinastia merovíngia (assim denominada devido ao seu fundados, Meroveu) não soube criar nada de estável, de modo que, devido aos últimos seus expoentes, desfibrados pelo ócio da corte, mereceram o apelido de "reis mandriões". 
                Aos poucos, o poder efetivo fugiu-lhes das mãos para passar às de seus ministros, "os mestres do palácio", o primeiro dos quais e que assumiu verdadeira autoridade de soberano, foi Pipino de Heristal (684 - 714), mestre de palácio de Childerico II, rei da Áustria. Seu filho, Carlos Martelo, o vencedor dos Árabes, e o filho deste, Pipino, o Breve, consolidaram a supremacia da casa. Este último, num golpe de estado, apoderou-se definitivamente  da coroa, depondo o último rei merovíngio, Childerico III (751).
                 Mas quem conduziu ao supremo fastígio o poder da nova dinastia foi o filho mais novos de Pipino, o Breve, Carlos, o qual, com rápidas investidas, abateu, um após outro, o reino dos Longobardos, na Itália, dos Bávaros e saxões, na Alemanha, quebrou o orgulho dos Árabes, rechaçando-os para além dos Pirineus. No ano 800, nascia, graças a ele, uma estrutura política destinada a durar mais de mil anos: o Sagrado Império Romano, herdeiro consagrado do império dos Césares, que assumiu a tarefa de congregar sob o cetro e autoridade de um árbitro supremo, todos os povos cristãos da Europa. Em Carlos, que mais tarde foi denominado Carlos magno, vislumbramos, ainda hoje, o cérebro mais alto da Idade Média, a figura mais sólida, a primeira grande personalidade surgida so choque entre as jovens forças germânicas e a milenar sabedoria latina. 
              Entretanto, no Oriente, o regime romano e suas tradições sobreviveram à crise do século V, e no século VI experimentou uma breve recuperação durante o reinado de Justiniano (527 - 565 d.C.) O imperador tentou inclusive reconquistar algumas regiões do Império do ocidente que haviam caído nas mãos dos bárbaros e conseguiu recuperar o norte da África e a maior parte da Itália. Porém, estas vitórias foram apenas passageiras e os efeitos da tensão que essas aventuras militares provocou no Império Oriental obscureceram os últimos anos do seu reinado. Seus sucessores tiveram de enfrentar outra série de crises, como a ocupação das províncias dos Bálcãs pelos avaros, os assaltos dos sassânidas e o inexorável avanço do Islão. Porém, apesar de ter sido despojado de todas suas províncias orientais, o Império Bizantino sobreviveu contra toda adversidade mais de mil anos, até que os turcos conquistaram Constantinopla, em 1453.  
             Dois séculos depois do colapso do Império do Ocidente, a monarquia bizantina conservava as instituições romanas e continuava usando o latim nas cortes. Apesar do grego ter substituído o latim e da administração pública estar menos concentrada, o Império Oriental reuniu as duas obras monumentais do Direito Romano: os códigos de Teodósio e de Justiniano. O Oriente também conservou e transmitiu para o mundo moderno o legado do mundo antigo . Inclusive no Ocidente sobreviveram muitas tradições romanas, principalmente através da Igreja Cristã. Desde Nero, no século I a.C. até Diocleciano, no fim do século III, os imperadores romanos haviam perseguido de forma intermitente a nova fé. O cristianismo, porém, começou a se difundir, e durante o reinado de Constantino (312 - 337, numa extraordinária mudança política imperial, tronou-se a religião oficial do mundo romano. Os templos dos deuses antigos foram fechados ou transformados em igrejas do cristianismo; construíram-se basílicas nas cidades do império e a nova religião atingiu até os bárbaros além das fronteiras imperiais. A Igreja Cristã copiou inclusive as estruturas organizacionais do Império Romano. As dioceses refletiam as divisões administrativas de Diocleciano; os bispos tinham suas sedes nas principais cidades  e se reuniam em sínodos nas capitais provinciais, e os sacerdotes dos grandes centros metropolitanos recebiam uma dignidade especial. Roma, a Sé episcopal de São Pedro, tinha procedência em "dignidade", mas não em autoridade, e seus bispos compartilhavam a hierarquia e o poder com os de Antioquia e Alexandria, que em seguida se somaram aos de Constantinopla no ano 381, e Jerusalém no ano 451. Até fins do século IV não foram encontradas expressões claras de primazia papal. 
                Quando o poder centralizado do Império do Ocidente ficou destruído, foram os chefes da Igreja, os bispos, que se tornaram figuras-chaves da sociedade. Eles foram muito hábeis e até converteram muitos bárbaros invasores. O destino de Roma era ser um grande centro cristão, e já na época de Constantino teve início a construção de magníficas igrejas. Com a queda do Império Romano, a Igreja Católica Apostólica Romana ficou sendo a maior herdeira e estendeu seu domínio por todo o mundo.  Nos países católicos, em qualquer cidade, por menor que seja, sempre tem uma igreja subordinada  Vaticano. 
                 Durante toda a Idade Média,e para além dela, já erigida em sede papal, Roma manteve parte da sua antiga importância, mas a sua população diminuiu consideravelmente. Era apenas uma modesta cidade com algumas dezenas de milhares de habitantes quando foi eleita capital da Itália unificada em 1870. 
                 A decadência do Império deteriorara profundamente a sua estrutura organizacional e nem mesmo a honra de Teodósio, o Grande, valeu para contê-la. Nascido na Espanha, Teodósio fizera-se notar pela vitória obtida na Penônia sobre os Sámatas, em 378, e por haver combatido valentemente os Visigodos. 
                 Morto o imperador do Oriente, Valente, o Imperador do Ocidente, Graciano nomeou Teodósio como sucessor. Não se passaram muitos anos e Teodósio, após ter derrotado dois usurpadores do trono do Oriente, encontrou-se senhor de todo o Império. Infelizmente, morreu pouco depois, no ano 395, deixando no trono do Ocidente seu filho Honório e, sobre o do Oriente, outro seu filho, Arcádio. Teodósio foi general valorosíssimo, prudente administrador, severo repressor de rebeliões. O Cristianismo deve-lhe o famoso edito de 380, que declarava a fé em Cristo religião oficial. 
                O não esteve à altura do pai. Arcádio, no Oriente, conseguiu, graças ao destino  favorável, conservar quase imune seu território às invasões dos bárbaros. Mas o mesmo não aconteceu no Império do Ocidente, contra o qual se lançaram, em invasões sucessivas, as tribos góticas.
                Os primeiros ataques levados a efeito por Alarico, rei dos Godos, em 402 e, em 405, pelo reis dos germanos, Radagásio, foram tornados sem efeito por Estilicão, um general vândalo, fiel "condottiere"   de Roma. Mas o usurpador Honório, receando que Estilicão lhe desejasse usurpar o trono, condenou-o à morte, tirando assim de Roma o único general capaz de enfrentar os bárbaros.
                 O inepto Honório, bloqueado pelo medo, em Ravena, capital do Império Ocidental, não se mexeu nem mesmo quando Alarico, em 410, chegou a a Roma com os seus Visigodos, expugnando-a e saqueando-a terrivelmente. 
           O sucessor, valentiniano II, sobrinho de Honório, não foi melhor do que o tio. Na verdade, com inveja do valorosíssimo general Écio, que, no ano de 451, batera Átila e seus Hunos nos Campos Cataláunicos, mandou matá-lo, eliminando, assim, o último defensor do Império. Surgiu um dissídio entre Valentiniano e o Patrício Máximo Petrônio; este armou uma conspiração, na qual tomaram parte dois correligionários de Écio, que trucidaram o monarca. Era o ano 455. E com ele se extinguia a descendência de Teodósio. 
                Subiu ao trono Máximo Petrônio, que desposou,à viva força, a viúva do defunto imperador Valentiniano III, Eudóxia. Segundo a legenda, foi ela quem chamou em seu socorro Genserico, rei dos Vândalos. Este bárbaro não permaneceu surdo ao apelo; da África, onde residia, desembarcou em ´Ostia, em 455, e efetuou um segundo ataque, em Roma que foi mitigado graças à obra corajosa e eloquente do papa Leão I, o mesmo que, três anos antes, conseguira induzir o feroz Átila a retirar-se, sem ir além do já atingido rio Míncio. Esta dos Vândalos foi a terceira das invasões barbáricas levadas a efeito na primeira metade do século V. Bastam estas três  primeiras invasões para demonstrar a debilidade do Império, que agonizava, tendo no trono dois imperadores inexpressivos, obrigados a valer-se de soldados mercenários de origem barbárica e, por isso, mais favoráveis aos seus co-irmãos invasores do que ao governo do qual recebiam dinheiros e honrarias. 
                  O esfacelamento do Império do Ocidente chegava ao seu epílogo no ano 476, que via o chefe de uma tribo barbárica, o hérulo Odoacre, depor o último imperador, Rômulo Augusto. Sem sequer haver o simulacro de uma eleição feita pelo Senado ou uma aclamação feita pelo povo, um bárbaro assumia o poder. Ele dirigia uma instância ao imperador que ocupava o trono de Bizâncio, afirmando querer governar a Itália em seu nome e declarava que ficaria satisfeito, depois, em receber não o título de rei, mas simplesmente aquele de patrício romano. 
                   O Império Romano terminou deixando sua herança aos papas. 
                   Na ruína do poderio romano, algo permanecia ainda do antigo esplendor: a herança que a cidade dos Césares perpetuava aos posteres. As legiões vitoriosas desapareceram, os "condottieres" famosos jazem em seus sepulcros, o formidável unitário esfacelou-se em tantos territórios autônomos, mas o nome Roma permanece como símbolo de força, de justiça, de civilização. 
                Antes que Justiniano, no século IV, ordenasse aos mais competentes contemporâneos que compusessem o "Corpus Juris", grandioso monumento elevado à justiça e projetado sobre os séculos vindouros, e antes ainda que Teodósio II, no ano 453, coordenasse, em um código único, o "Codex Theodosianis", as leis promulgadas por Constantino e pelos seus sucessores, a vida civil dos povos subordinados a Roma tinha sido regulada por leis, que dezenas e dezenas de cônsules, tribunos, edis, pretores, tinham ditado e que o Senado havia aprovado. Em todo o domínio latino, Roma governava com leis imparciais, talvez severas a respeito das infrações e dos crimes, mas iguais para todos. 
               Desde o Campidoglio até à última choupana perdida no meio das lindes da Penônia, o homem que declarava com orgulho Civis Romanus sum!" (eu sou cidadão romano!)queria, significar que gozava dos mesmos direitos e estava sujeito aos mesmos deveres de qualquer súdito do Império. Nem devemos esquecer a obra de unificação dos povos europeus e o progresso intelectual promovidos pela língua latina, bem como o perene testemunho de Roma, representado pelos monumentos civis e militares e por outras muitas obras públicas - arenas, pontes, aquedutos, mausoléus, estátuas, etc. que conservavam por longo tempo a lembrança de Roma entre as populações mais distantes. 
                Caído o Império do ocidente, os vários povos retomavam sua independência primitiva, mas não podiam esquecer os benefícios recebidos daqueles que os haviam encaminhadona senda da civilização e do progresso. De todo este conjunto  de leis, idiomas, obras, é, pois, formada aquela que se denominou a Herança de Roma, que se resume, afinal de contas, na difusão européia daquela ideia estatal orgânica, que atingira, no limiar da Idade Média, o máximo desenvolvimento. 
                As legiões romanas espalharam-se por todos os países e terras ocupados naquela época. Muitos de seus monumentos permaneceram, assim, para testemunhar o poder da Urbe. Entre eles está a "Casa Quadrada" de Nimes, que lembra bastante o Templo da Fortuna Viril, em Roma. 
                        Em todos os pontos, ruínas de aquedutos,pontes ou templos, construídos por arquitetos e operários latinos, ainda hoje recordam aos povos a força de expansão de Roma. É importante lembrar, como exemplo, as ruínas do Templo de Baco, em Baalbek, na Síria. 


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