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segunda-feira, 30 de março de 2020

O HOMO SAPIENS E O OURO



              Em todo o mundo o ouro é proclamado como o rei dos metais. Ele é protagonista de muitas fábulas e lendas, as quais, naturalmente refletem a importância que este lindo metal sempre teve na vida dos indivíduos e dos povos. Embora os homens sempre lhe houvessem ambicionada a posse, nem sempre gozou de boa fama.  Realmente, lendas e fábulas, condensando a experiência amarga de séculos , representam-no como um autêntico semeador de males. Da ingênua história da galinha encantada, que botava ovos de ouro, à trágica epopeia dos Nibelunges , que custodiam o "Ouro do Reno", da mítica empresa de Jasão, que conquista o Rosão de Ouro, ao tormento do ávido rei Midas, que transforma em ouro tudo quanto toca, as vicissitudes do nobre metal estão sempre entremeadas de castigos, desilusões, dores, lutos e crimes. Se tais são as fábulas, não se pode dizer, todavia, que a realidade seja muito diferente. 
              Mas quais são os motivos por que o ouro foi proclamado de maneira tão unânime, o rei dos metais? Antes de tudo, ele é belo; possui esplêndida cor amarela brilhante. É bastante pesado e também muito flexível e maleável. Pode ser laminado até se obterem folhas de espessura de dois milionésimos de milímetro. É inalterável ao ar; a a ferrugem, que destrói o próprio ferro, não o afeta. 
             As moedas e as jóias, restituídas à luz pelas escavações dos túmulos e das cidades sepultadas, e os escritos dos historiadores antigos e poetas nos dão uma ideia bem clara da importância que o ouro teve nas civilizações orientais  do passado e mediterrâneas. 
           No antigo Egito, ouro e dinheiro eram sinônimos; objetos de ouro se encontram espalhados a granel, nos fabulosos tesouros dos faraós, cujos belíssimos adereços demonstram a grande habilidade dos artifícios egípcios. Homero fala de baixos-relevos executados em chapas de ouro, que decoravam as paredes do palácio de Menelau. Plínio e Heródoto referem-se a estátuas, todas de ouro maciço, também de dimensões colossais, existentes nos templos da Grécia e do Oriente. 
                 Em Roma, no ano 215 a.C., foi promulgada uma lei que proibia às mulheres usar mais de quinze gramas de ouro nos ornamentos pessoais. A austeridade dos costumes corria parelha com a modéstia dos cidadãos. Mas, em seguida às vastas conquistas, que proporcionaram enorme presa de guerra e também a posse de numerosas minas, os imperadores e os ricos exibiram, em matéria de objetos de ouro, um luxo e uma abundância compráveis somente à magnificência das cortes orientais. 
                 É certo que o Oriente parecia ser a terra mais rica em ouro, mas os Etruscos, e mais tarde os Romanos, dedicaram especial atenção à extração do precioso metal. Na Naturalis História", Plínio diz que, no "agro vercelês", era proibido empregar mais do que 5.000 homens no trabalho das areias auríferas. 
               Os povos bárbaros amaram grandemente o ouro e exibiram colares maciços, braceletes e fivelas, para ornamentar seus chefes. Todavia, suas invasões, com a exaustão das jazidas e a pobreza dos comércios, causaram rarefação e dispersão do ouro, cujo prestígio diminuiu sensivelmente. 
                   A produção do ouro na Idade Média foi mínima, em face da antiga. Foi uma época de muito pavor devido às mortes praticadas por fanáticos religiosos que queimavam as pessoas consideradas hereges. As minas foram quase abandonadas totalmente e somente os Árabes as reativaram, na Espanha.  Mas, se diminuiu a quantidade do ouro, não diminuiu seu encanto. De fato, os alquimistas demonstraram bastante afã na procura da famosa pedra filosofal, que poderia transformar em ouro os vis metais. Contudo, se os alquimistas não conseguiram encontrá-loem seus alambiques, encontraram-no os grandes navegadores, atirando-se à descoberta de novas terras. 
               Dois objetivos visava a viagem de Cristóvão Colombo: propagar a fé e encontrar ouro. Talvez Martim Afonso Pinzon e seus companheiros não houvessem seguido o grande genovês se não estivessem atraídos pela miragem de atingir o distante Cipango, onde se dizia ser o ouro tão abundante que era empregado para cobrir os tetos dos templos e dos palácios. 
               Mas devíamos chegar ao século XIX, para assistirmos à corrida do ouro. Na Califórnia, em 1579, já Sir Frances Drake, o corsário tornado almirante da marinha inglesa, vira o ouro misturado com areia. Muito ocupado, porém, para demorar-se naquelas terras, não o apanhara. Cerca de três séculos depois, dois homens descobriram, involuntariamente, o precioso metal, quase no mesmo lugar. O primeiro deles foi G. Augusto Sutter, nascido na Alemanha e emigrado para a América em busca de fortuna. Atraído pela fertilidade daquela zona, estabeleceu-se no vale do Sacramento, com o intuito de formar uma grande colônia agrícola. Bem cedo se tornou o homem mais importante do lugar. Mas, um dia, um seu jovem carpinteiro, James Wilson Marshall, ao controlar um canal de descarga, onde deixara a água correr a noite inteira, viu brilhar algumas palhetas entre a areia levada: o ouro!
               Wilson Marshall comunicou imediatamente a descoberta a Suter e ambos, de comum acordo, resolveram manter segredo, para não convulsionar a tranquila existência da colônia. Mas foi um segredo de breve duração. Misteriosamente, difundiu-se a notícia de que, no vale do sacramento, havia ouro, e, pouco tempo depois, uma enorme multidão de buscadores de ouro acorria à Califórnia. 
                Daquela improvisada e fabulosa riqueza, foi vítima Sutter; expropriado de suas terras, morreu na maior miséria em 1880, distante do lugar que ele sonhara tornar tão propício à agricultura. Em 1849, começou, pois, a corrida do ouro, em todas as terras onde se descobriam novas jazidas: a Califórnia, a África do Sul, o Canadá, a Austrália, ficaram sendo a meta de inúmeros aventureiros, que para lá acorriam de todos os pontos do mundo. Suas histórias estão repletas de fadigas e perigos, de rapinas e lutas, de riquezas conquistadas á custa de sacrifícios inauditos e perdas, às vezes, em poucas horas, nas casas de jogo que ali pululavam. 


                    Na época do descobrimento do Brasil, os portugueses tinham todo o interesse voltado para os presumíveis metais preciosos da nova colônia. E, enquanto essas riquezas sonhadas não brotavam da terra, a coro decidiu a exploração agrícola do solo brasileiro. 
           Somente no fim do século XVI apareceram ouro, prata e outros metais, em pequena quantidade, na Capitania de São Vicente. Mas, somente quando se descobriram maiores jazidas, ao sul de São Vicente, é que Portugal se animou a organizar uma exploração sistemática e bem aparelhada. Entre 1586 me 1604, uma verdadeira multidão de mineiros, fundidores, ferreiros e outros trabalhadores especializados aportaram no Sul do brasil, devidamente equipados para exercerem suas funções. Nessa época, as lavras de São Paulo, Curitiba e Paranaguá desempenharam um papel preparatório para a grande idade do ouro no Brasil. 
               Quando a exploração do ouro começou alguns trabalhadores garimpeiros se viam, de uma hora para outra, donos de importantes jazidas. Foi o que aconteceu a um certo Miguel Sutil, modesto comerciante nas cercanias de pequenas lavras do sertão de Mato Grosso. Enviou ele dois escravos em busca de mel e recebeu de volta pepitas de ouro, achadas por acaso. 
              As lavras de Cuiabá formavam, juntamente com outras próximas, o primeiro núcleo minerador de fama. Sua celebridade atravessou os limites do Brasil e chegou a Portugal, chamando as atenções para a colônia. Pessoas de várias classes e tipos afluíram às lavras de Miguel Sutil: pobres e ricos, nobres e plebeus, negros, brancos, escravos e índios. A terra tornou-se campo de arrojadas aventuras, e nela a vida era um ofício altamente inseguro e perigoso. Raro era o dia que acabava sem um crime. A morte era fato comum, e o modo mais banal de morrer era assassinado ou de fome. O roubo não causava espanto. Roubavam os negros, os brancos, os índios. Até os padres roubavam. A desordem chegou a tal ponto que só os viajantes munidos de passaporte podiam entrar em Cuiabá. Mas um passaporte não era difícil de forjar. Não havia proibições nem decretos intransponíveis. Impostos, taxas e quintos eram sonegados á coroa. De todo modo se burlava o Governo e suas determinações. As dificuldades de fiscalização ainda continuam até hoje, e o tráfico e burla fiscal é incalculável. 
                   Durante sete anos (1674 x 1681), Fernão Dias Pais, acompanhado de seu filho, Garcia pais, de seu genro, Manuel da Borba, e de dezenas de índios e negros, embrenharam-se pelos sertões da parte centro-sul do Brasil. Não descobriu as esmeraldas e prata que buscava, mas abriu caminho pára outras expedições e contribuiu para a formação dos principais arraiais mineiros.
              A região fascinava os sonhadores do ouro. Em 1693, o paulista Antônio Rodrigues Arzão entrou pelos sertões das Gerais á procura de índios para escravizar, e descobriu ouro. Cinco anos depois, outro paulista, o taubateano Antônio Dias de Oliveira, descobriu o precioso metal em Vila Rica, hoje Ouro Preto.  As ricas jazidas imediatamente atraíram para lá numerosas expedições. 
              Ao saber das boas notícias, Portugal respirou aliviado e criou novo alento; suas finanças minguavam inexoravelmente, e o ouro brasileiro podia não só devolver à metrópole o passado esplendor, como ainda levá-la a um fausto maior. Mas o Brasil, como colônia, continuou pobre até o século XVIII. As pessoas, estas sim, ficavam cada vez mais ricas. Segundo o historiador português Pinheiro Chagas, "a metrópole fazia quanto podia, não para enriquecer e desenvolver a colônia, mas para sugar os recursos desse vasto território, tomando sempre a maior cautela em não deixá-la crescer em opulência e bem estar". 
                O trato de todo um século com metais preciosos foi escola para muitos homens, que se tornaram aptos a reconhecer os maiores tesouros, só descobertos na última década do século XVIII. 
              Durante o século XVIII a febre do ouro tomou conta de todos. Não havia quem não se embrenhasse nos sertões á procura de fortuna. O Brasil conheceu, então, um esplendor que assombrava a própria Europa. A Colônia, agora enriquecida, já não dependia tanto da metrópole. O monopólio comercial da coroa ia aos poucos dando lugar a uma participação de lucros. 
               Politicamente começa a correr o desejo de cortar os vínculos que prendiam o Brasil a Portugal. Nas Minas Gerais, centro do ouro, formou-se um inquietante núcleo de conspiração e revoltas contra a coroa. 
                Profundas modificações sociais se efetuaram. Na época da cana-de-açúcar havia praticamente só duas classes sociais: o o senhor e o escravo. O ouro criou uma terceira, intermediária, formada de pequenos mineradores, artesãos, comerciantes, intelectuais e funcionários da administração. O trabalho escravo também se diferenciou: às vezes se fazia afastado do proprietário, às vezes sob suas vistas, às vezes até por conta própria. Vila Rica, núcleo minerador dos mais famosos , foi o centro de grande desenvolvimento. Ali se concentraram os intelectuais que no último decênio do século XVIII organizaram a Inconfidência. 
                A população brasileira, do século XVII ao XVIII, crescera dez vezes com multidões que provinham de toda parte da colônia e do exterior, e se concentravam sobretudo nas regiões auríferas. A abertura de uma ampla frente de povoamento promoveu o desenvolvimento das vias de comunicação por terra. As Minas ficaram ligadas a São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, Bahia e a zona da bacia do Prata, de onde recebiam grandes levas de muares. Em 1763, a sede política da colônia foi deslocada de Salvador para o Rio de janeiro, a fim de controlar mais de perto as atividades na zona do ouro e usufruir prontamente seus benefícios. 
              Ao terminar o século XVII, a febre do oura havia passado. Os grande veios não mais produziam como antes. Desta época de glória faustosas igrejas e imponentes edifícios, atestado permanente das áureas grandezas do Brasil colônia. 
                  O ouro do Brasil ainda continuou a despertar a esperança e ambição nos últimos anos. Novas jazidas foram descoberta e atraíram multidões como na Serra pelada. Mas a época das grandes aventuras acabou. Hoje, a produção de ouro é constante, regulada por exploração industrial das jazidas. 

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