O currículo de cada um é uma história que não se pode mudar.
A Inquisição da Igreja Católica foi estabelecida na França pelo Papa Gregório IX em 1231. Segundo a história, sua intenção era combater a heresia dos cátaros (sociedade secreta que já existia na Idade Média), uma seita cuja doutrina contrariava todos os princípios que os Evangelhos e a Igreja defenderam desde o início do cristianismo.
Para entendermos a questão é importante levar em conta o contexto mental , histórico, cultural e político da época. É preciso ter consciência de que a moral humana evolui quando vamos analisar acontecimentos antigos.
A história nos mostra que o Sacro Imperador Romano-Germânico Fernando I deu, também, total liberdade aos luteranos contra os anabatistas (grupo cristão que não se adaptava às ideias da Igreja). Lutero, o responsável pelo cisma no cristianismo, foi considerado "herege" ele próprio também encorajava a perseguição daqueles que considerava herege. Portanto, houve também grupos de Inquisição Protestante; eles esfolaram vivos os monges da Abadia de São Bernardo e depois passaram sal em suas carnes vivas, antes de pendurá-los no campanário do mosteiro. Em Augsburbo, no ano de 1528, cerca de 170 anabatistas foram aprisionados pelos protestantes e muitos foram queimados vivos. Na época, o célebre teatrólogo Johann Matthäus Meyfart (também protestante) descreveu a tortura aplicada pela inquisição protestante, que ele presenciou, qualificando-a como uma intolerável bestialidade. Portanto, é preciso lembrar que a Idade Média foi uma época de extrema crueldade.
A Espanha, que, fazia apenas um século, surgira das lutas internas e das guerras contra os Mouros, absorvida ,durante alguns decênios, naquele mosaico de povos que era o império de Carlos V, encontrou-se, à morte deste,sob o reinado de Filipe II, como o mais forte estado da Europa. Como sabemos, Carlos V dividira a herança de seu império entre seu filho e seu irmão: ao primeiro,com os imensos territórios que gravitavam em torno da coroa da Espanha, cabia também o ônus das por seu pai, e sobretudo, aquele da velha pendência com a França. O exército espanhol, que irrompeu em território francês, sob a chefia de Emanuel Felisberto de Sabóia, encontrou desprevenidas as forças adversárias, porque o Duque de Guisa havia transferido grande parte delas para a Itália. Emanuel Felisberto seu máximo esforço contra o baluarte de São Quintino, que dominava as estradas de convergência do inimigo e, em uma épica batalha campal, derrotou as tropas francesas. Consequência lógica deste combate decisivo foi a paz, uma paz de que ambas as partes tinham necessidade. Firmada em Castelo Cambrésis em 1559, ela sancionava as conquistas européias de Carlos V, ratificando, assim, a posição hegemônica da Espanha. Diferente de seu pai, que era de nascimento e de educação flamengo, Filipe II era claramente espanhol, embora usasse o nome de uma família estrangeira, e durante todo o seu reinado, ocupou-se exclusivamente com a Espanha. Dizendo que se ocupou com a Espanha não se pode dizer que ele cuidasse muito dos interesses espanhóis, que dele tiveram somente humilhações e taxas pesadas, pode-se seguramente dizer que se comportou como um rei da Espanha e não qual um Habsburgo, ignorando os laços que sua família contraíra, desde séculos, com o mundo germânico. Homem ambicioso,teimoso, e por vezes cruel, Filipe governou como autocrata, não tolerando intromissões alheias em seus planos e chamando a si um enorme trabalho político e burocrático. Tendo subido ao trono no período de maior desordem religiosa, quando recrudesciam, em toda a Europa, lutas entre católicos e protestantes, ele se erigiu a defensor da Igreja, contra as "heresias", tanto em seus domínios como no exterior. Na Espanha, a intransig ência religiosa alcançara, então, o máximo rigor. Sobre a Inquisição espanhola, já se disse muita coisa, não certo em tom laudatório, pois, ainda hoje, seu nome e o de Tomás de Torquemada, primeiro Grande Inquisidor, se encontram envoltos num sombrio reverbero de sangue e terror. Desta triste fama são, em boa parte, responsáveis os protestantes, que se recordam somente das perseguições sofridas por eles e não daquelas que infligiram aos católicos. Em uma época de conflitos religiosos, era muito explicável que a Igreja procurasse, por todos os meios, extirpar das consciências, a seu ver, o sutil veneno do protestantismo. De outro lado, os acusados eram entregues ao "braço secular", isto é, à fogueira, somente no último momento, quando não mais fosse possível qualquer esperança de redenção e, se exageros de rigor houve - nem é possível negá-los-, eles foram atribuídos aos homens, frequentemente obsecados por fins políticos e não à Igreja. Nesse aspecto político-religioso do reinado de Filipe II, reaparece a insurreição das Flandres, região marcadamente luterana, sobre a qual o rigorismo do Rei e de seus governantes se exerceu em toda a sua dureza. Chefiados por Guilherme de Orange, chamado o "Taciturno", pelo Conde de Egmont e pelo Conde de Hornes, os nobres dos Países-Baixos rebelaram-se ante a intransigência dos católicos: o "gueux", isto é, os mendigos, como orgulhosamente os denominou Margarida Farnésio, regente dos Países-Baixos, alargaram suas planícies, rompendo os diques, a fim de impedir ao exército do Duque de Alba, enviado por Filipe II para sufocar a revolta, de ocupar as cidades do litoral. A repressão foi igualmente implacável, mas isso não bastou para domar os valentes habitantes das costas holandesas (aos quais a Inglaterra dava boa ajuda), que acabaram por se declararem independentes da Espanha, elegendo seu "Statolder", ou seja, governador, o invicto Guilherme de Orange. Depois de haver libertado Leyla do sítio do Duque de Alba, o "Taciturno" foi assassinado por um sicário do rei. Isto, todavia, não serviu para abater o moral dos Holandeses, que,reunidos na Liga de Gand, separaram-se irremediavelmente da Espanha em 1576.
Como sabemos, Filipe, tendo morrido sua segunda esposa, Maria, a Católica, rainha da Inglaterra, hostilizou abertamente o reinado de Elizabeth, defendendo maria Stuart. Seu ato de maior relevo, naqueles anos, foi enviar contra a Inglaterra uma frota destinada a truncar-lhe a nascente influência. A "Invencível Armada" esfacelou-se ante as defesas britânicas, depois de haver ficado semidestruída por uma tempestade em 1588. Em resumo, embora enormemente poderoso, Filipe II não soube valer-se de sua força, preparando, involuntariamente, a decadência da nação para a qual sonhava o perpétuo domínio mundial.
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