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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A ERA MODERNA DA EUROPA


            Partindo do ano de 1500, isto é  - segundo um esquema tradicional, algo arbitrário e irracional - ao início da chamada Era Moderna. Um olhar sobre a Europa, nesta parte do século; um quadro extremamente variado, em cujos detalhes, todavia, não tardamos em perceber o influxo de um único impulso, quase um vento novo, que sopra por igual em todos os recantos do continente: a cidades se expandem, os navios aportam, após longas viagens, carregados de preciosos despojos, tudo  a reflorir na opulência de uma extraordinária primavera. E, na verdade, o Renascimento é a estupenda primavera da Europa, da velha e martirizada Europa, que ressurge, jovem e nova, do tenebroso período medieval. 
                A barbárie germânica, após esfacelar a muito sólida estrutura do Império Romano, não soubera substituir em nada aquele perfeito organismo jurídico e burocrático.  De um estado centralizador e bem coordenado que funciona perfeitamente; passara-se a um caótico aglomerado de feudos, que acabaram  por desinteressar-se completamente do poder central para viver vida própria. A economia do feudo era de tipo arcaico, fechada e nitidamente rural, baseada nos produtos locais e sobre permutas in natura; o dinheiro era escasso e circulava pouco. Felizmente, as cidades superaram o domínio e o velho escambo  e, aos poucos,  para ela afluíam os escorraçados pela prepotência dos grandes feudatários  que conseguiram extinguir. Às cidades, portanto, aos poucos  vieram os camponeses fugitivos, os soldados descontentes ou desocupados, criando uma população heterogênea, mas rica de novos fermentos. Chefiados por nobres cidadãos, adversários naturais daqueles provincianos, estes novos trabalhadores conseguiram eliminar quase que completamente a influência dos grandes feudatários, nos centros urbanos; implantaram indústrias, ampliaram redes comerciais, criando aquela classe burguesa que dentro em breve iria apoderar-se da riqueza da cidade. 
               A burguesia, única força viva que pudesse opor-se aos seus vassalos rebeldes, dirigiram-se soberanos, quando o ressurgente espírito nacional os compeliu a fazer valer seus direitos sobre territórios que já estavam fugindo completamente de suas mãos, ou melhor, à sua autoridade. Vimos como os reis da França, da Espanha e da Inglaterra e os próprios Imperadores procuravam propiciar a si mesmos a simpatia das cidades, concedendo-lhes privilégios e isenções. O resultado desse conjunto de fatores foi, antes de tudo, a formação de robustas corporações mercantis ou artesanais e, a seguir, de indústrias florescentes, com permutas comerciais de vasto alcance; em segundo lugar, a progressiva decadência dos privilégios e do poder feudal. Os nobres deixavam seus castelos pelos palácios citadinos, enquanto os servos da gleba se tornavam meeiros ou pequenos proprietários; finalmente, o nascimento de grandes Estados nacionais, concentrados em torno de uma dinastia, que assumia, mais de fato do que de direito, as prerrogativas soberanas. 
           Na França, o rei dispunha, enfim, de um exército permanente, de largos recursos financeiros, de uma burocracia organizada e eficiente; reinava como soberano absoluto, sem temer intromissões de parte do parlamento ou de oposição de parte dos feudatários. 
               O rei da Espanha, escorado pelas cortes dominava, incontrastado, sobre toda a península Ibérica, libertada dos Muçulmanos.
            O rei da Inglaterra, após extinta a maior parte da aristocracia na "Guerra das Duas Rosas", era o efetivo senhor do seu país, embora a constituição o conservasse preso ao respeito formal às Câmaras, a dos Lordes e a dos Comuns. 
                 Somente a Alemanha ainda estava subdividida em vários pequenos potentados, todos, porém, sob a influência da Casa da Áustria. Tal como a Itália, a Alemanha concebeu, embora muito tarde, a ideia de nacionalidade e reuniu-se num único Estado somente em um passado bastante recente. 
                À transformação política se juntava um profundo desenvolvimento cultural, uma sede de conhecimentos, de novas orientações e, ao mesmo tempo, redescobrimento de valores que jaziam, havia séculos, esquecidos; depois do brumoso parêntese barbárico, a civilização mediterrânea do homo sapiens, enriquecida por experiências amadurecidas e vivificadas pelo cristianismo, voltava a  encontrar a si mesma e retomava, sob novas formas, seu harmônico impulso. Da poeira dos arquivos conventuais, vinha à luz o tesouro da cultura latina, a muito custo conservada, pelos monges, no silêncio da noite medieval: em Florença, Gimesto Platão fazia reviver, para os humanistas latinos, a puríssima beleza da Hélade; rebuscava-se por entre as colunas  decepadas, escavava-se por entre as ruínas dos fôros imperiais e eis resplendendo novamente ao sol os mosaicos  e as estátuas de mármore e os bronzes cinzelados de um mundo muito maior e civilizado. Da Itália, modos de vida, peças de arte, idéias e homens de gênio conquistavam a Europa qual um tufão, varrendo das cortes e das cidades do norte as últimas brumas medievais. 
                   As expedições francesas na Itália só aconteceram depois da morte de Carlos VIII, em Fornovo di Taro no ano de 1498, que morreu depois de ter batido a cabeça numa porta muito baixa.  A herança  de seu trono e de sua política passou ao filho de seu primo, Luis de Orleans que, durante muitos anos, trabalhava  para tomar o trono do legítimo rei.  Luis XII, apesar da velha inimizade que o dividia das ideias de Carlos VII, abraçou-lhe imediatamente o programa.   No início de 1500 os exércitos franceses moveram-se e baixaram suas tropas  dos Alpes aprisionando Ludovico, o Mouro, todo o Ducado de Milão cai nas mãos de Luiz, que se apropriava, logo a seguir, do Reino de Nápoles. Para divisão deste último, surgiu uma questão com a Espanha, degenerada depois em guerra e encerrada com a perda do reino recém-conquistado. Mas nem por isso Luis abandonou seus planos de expansão e glória do império, concentrado na Itália, que então era a presa mais rica e mais fácil. 
Fornovo di Taro - Itália

            Em 1509 encontramos novamente as tropas francesas que avança em território veneziano. O Imperador, o rei da França e o Papa tinham firmado aliança, a Liga de cambrai, contra a muito poderosa República adriática. Veneza foi batida no campo de batalha, mas soube jogar tão bem suas cartas que acabou desfazendo a Liga e lançando o Papa contra a França. 
       Estava, então, sobre o trono de São Pedro, Júlio II, Della Rovere, bom político e homem de ação, italiano fervoroso. Mal tolerando a ingerência estrangeira e especialmente a francesa, aquém dos Alpes, ele promoveu uma nova união, a "Santa Liga", a fim de proteger o Estado Pontifício. O grito de "Fora os bárbaros!" devia ter tido o poder de sacudir os príncipes italianos, mas nem um só destes se alistou nas fileiras do grande papa guerreiro, de modo que a Santa Liga se tornou uma aliança anglo-hispano-pontifícia, contra Luiz XII. Este defendeu-se valorosamente. Junto a Ravena, um dos seus generais, o jovem e valente Conde Gastão de Foix, desbaratou o exército da Liga, cobrindo-se de glória, mas perdendo a vida. De todos os lados, todavia, os inimigos avançavam, e as tropas francesas sofreram duras derrotas em todas as frentes, dos Pireneus ao Franco Condado; os Ingleses vinham fortes de Calais - esta cidade, àquele tempo, era ainda uma possessão britânica - e com grande vitória na chamada batalha dos "esporões de ouro", ameaçavam o coração da própria França. Mas os aliados não conseguiram entrar em acordo para uma ação em conjunto e esmagar definitivamente a monarquia francesa. Entretanto, com a morte de Luis XII em 1515, o reino se encontrava igualmente em gravíssima situação. 
                   Subira ao trono um jovem de vinte e um anos, Francisco de Angoulême, valoroso, moço cheio de ardor e iniciativa; as biografias e os retratos o representam como um homem disposto e alegre, de requintada sensibilidade artística. Poucos meses depois de sua ascensão ao trono, ei-lo na Itália, para reafirmar as pretensões de seu antecessor sobre o Milanês. 
                   A batalha de Marignan assinalou seu primeiro triunfo militar. Derrotadas as milícias  de Sforza, o jovem rei tornou-se senhor do rico Ducado. Papa Júlio II, pontífice guerreiro que não desdenhava de cavalgar à frente de suas tropas,  (lembremo-nos que no sítio de Mirândola, ele escalara, pessoalmente, entre os primeiros, as muralhas da cidade) tinha morrido. Sucedera-lhe Leão X, dos Médicis, homem mais de gabinete e de corte do que de guerra. 
               A estrada das conquistas estava aberta: alemães e franceses batiam-se nas planícies italianas, sem recear oposição de parte dos príncipes locais. Em 1519, apesar das tentativas de Francisco I, que procurava impedir um fato tão ruinoso para ele e para a França, Carlos de Habsburgo assumiu o trono imperial e concentrava sobre sua pessoa as coroas da Espanha e da Áustria. A França estava circundada, por todos os lados, por gente dos Habsburgos. Agora, entre os dois soberanos não podia existir outra coisa que não fosse a guerra. Não mais se tratava do domínio da Itália, mas do predomínio da Europa. Em 1521 (Carlos estava com vinte e um anos e, Francisco I, com vinte e sete) a longa luta tinha início, com nítida prevalência de forças de parte do Habsgurgo, que conseguira levar ao sólio  pontifício um cardeal de sua confiança, Adriano de Utrecht (papa sob o nome de Adriano VI), que estreitara aliança com o rei da Inglaterra, Henrique VIII Tudor. A batalha decisiva ocorreu perto das muralhas de Pávia em 1525, onde o soberano francês se bateu feito um leão; foi desmontado duas vezes do cavalo e afinal sobrepujado pelo número e aprisionado. E pouco depois escrevia à sua mãe: "Tudo está perdido, menos a vida e a honra que estão salvas." Conta-se que rodeado por inimigos, Francisco I defendeu-se heroicamente. Dizem que, reerguendo-se, de espada em punho, após haver sido desmontado da sela, gritara: "Meu reino por um cavalo!"
Francisco I assinando a renúncia.
               Prisioneiro da corte de Madri, Francisco I é obrigado a renunciar á Borgonha, Flandres, Artois, ao Reino de Nápoles e ao Milanês. Seus filhos permaneceram na Espanha, como reféns, depois de sua libertações. 
              Mas, nem tudo fora perdido, como rei pudera supor no transtorno da derrota. O "Tratado de Madri", que ele foi obrigado a assinar, era, na verdade, desastroso, mas a França não se encontrava ainda prostrada e a luta recomeçaria pouco depois. 
               Entre as grandes figuras da história européia, notável é aquela de Carlos Habsburgo, sobre, a qual convergem riquezas e títulos de um monarca fabuloso. De sua mãe, Joana "a Louca", filha única de Fernando, o Católico, e de Isabel de Castela, recebeu o  Aragão,  Castela, os reinos de Nápoles, Sicília e Sardenha, as possessões americanas; do pai, Filipe, arquiduque da Áustria, herdou a Áustria, a Estíria, a Caríntia, as Flandres, os Países-Baixos. Portanto, Metade da Europa. E, quando Carl,os recebeu toda essa graça divina, contava apenas seis anos de idade. Nasceram em 1500, em Gand, e tinha sido educado num clima repleto de arte e de requintada cultura; à morte de seu pai, em 1506, a rainha Joana enlouquecera, e por isso seu avô materno, Fernando, teve que assumir a tutela do futuro senhor do mundo. Morto Fernando e desaparecido também Maximiliano, a candidatura do jovem de dezenove anos ao trono do Império se apresentava inevitável, pois era o herdeiro direto da casa de Habsburgo, que desde séculos detinha o título e era apoiado por grande parte da nobreza e pelo próprio Pontífice Leão X. Assim, em 20 de outubro de 1520, a coroa de Carlos Magno brilhou sobre a cabeça de Carlos V. 
               As primeira dificuldades, o novo imperador encontrou-as na Espanha: flamengo de nascimento e de educação, entrou em choque com as cortes,expressão do fervente nacionalismo espanhol surgido das guerras contra os Mouros. Para contornar a situação, ele acenou a tendência absoluta, de "soberano pela graça de Deus", já inaugurada pelo seu avô Fernando. 
              Contemporaneamente aos negócios da Espanha, ele devia cuidar daqueles da Alemanha, onde o cisma luterano provocava as primeiras perigosas desordens, e daqueles da Itália, onde seu poder estava sendo ameaçado pela expansão francesa. Com um domínio tão eriçado de contrastes, acabou lutando, quase que com armas iguais, contra seu grande antagonista, Francisco I, que tinha atrás de si uma nação unida e poderosa como era a França. Todavia, desde 1521, ano em que se iniciaram as hostilidades entre os dois jovens soberanos, a fortuna sorriu às armas imperiais; como se sabe, Francisco I foi repetidamente batido em todas as frentes, da Navarra às Flandres e ao Milanês. Nesta série de reveses, destacaram-se no campo francês, as excepcionais virtudes de Baiardo, cujo valor pessoal salvou o exército de completa derrota, e no campo espanhol a covardia e a traição do Condestável de Bordão, um primo do rei da França, que se passara para as hostes dos imperiais. Pierre du Terrail de Bayard, "o cavaleiro sem mancha e sem medo", foi e ainda continua sendo o protótipo do guerreiro e do cavaleiro leal. Durante a campanha de Luiz XII, ele invadira sozinho Milão, atacando as milícias de Sforza; na Apúlia, em 1501, salvara o exército defendendo com poucos homens a passagem do Guarigliano; na batalha de Agnadello, contra os Venezianos, dirigira pessoalmente o ataque, realizando prodígios de valor. Francisco I considerava-o quase como um pai. Em 1523, o exército francês é derrotado pelos espanhóis, perto de Sésia, e Baiardo defende-lhe a retirada, com uma retaguarda de cavaleiros. Afinal, tendo ficado sozinho na ponte, sozinho contra todo o exército espanhol, não é a lança de um seu par, mas sim uma pedra, atirada por um obscuro soldado, que o abate. Dizem que, agonizando, encontrou-se com o Condestável de Borbão e mostrou ao príncipe traidor como morre um fidalgo, enfrentando o inimigo. 
             A campanha de 1521 a 1525 encerrou-se com a batalha de Pávia e com a prisão de Francisco I, em Madri. mal se viu livre, Francisco declarou que o tratado por ele assinado não devia considerar-se válido, porque lhe fora imposto à força (argumento capcioso, como podemos ver, porque todos os tratados de  paz são impostos pelo vencedor ao vencido) e começou a movimentar-se a fim de granjear aliados. Obteve o apoio de todos os maiores príncipes italianos e a adesão do rei da Inglaterra. Desta vez, Francisco I não se mexeu, isto é, não mandou um exército para sustentar os aliados sobre os quais se lançava a ira do Imperador e o resultado foi que uma avalancha de Lansquenetes, mercenários alemães, baixou na Itália onde, reforçada por contingentes espanhóis e ferrarenses, saqueou todas as cidades e aldeias. Giovanni delle Bande Nere, o "condottiere" famoso por sua audácia e pela sua crueldade, procurou contê-los; sua família, isto é, os Médicis, estava ao lado de Francisco I. Mas, em Bogoforte, Giovanni foi ferido mortalmente. Foi preciso amputar-lhe uma perna (ele mesmo fez luz aos cirurgiões) e logo depois morreu. Os lansquenetes dirigiram-se para Roma, (também o Papa estava ao lado dos Franceses), sitiaram-na e saquearam-na horrivelmente em maio de 1527. Clemente VII saiu do Castelo Santo Ângelo, onde se encontrava, somente depois de haver assinado um tratado humilhante e haver repudiado sua aliança com a França. Carlos V era, realmente, o senhor da Europa. 
                 Como se viu, Carlos V e Francisco I tinham escolhido, como campo de batalha e de conquista a Itália, que era, na primeira metade do século XVI, a região mais rica da Europa e, ao mesmo tempo, a mais fraca. Cada cidade possuía uma corte ducal ou principesca e enriquecia-se dia-a-dia, de mais palácios e de jardins, de ouro e de obras de arte; os campos eram esplendidamente cultivados, especialmente no Milanês e na Emília; dezenas de milhares de artesãos, de oficinas, produziam  o melhor que se pudesse encontrar no mundo civilizado. A esse estado de graça correspondia, porém, uma fraqueza cívica; a extrema subdivisão em pequenos Estados, se era fecunda de obras de paz era, por outro lado, fonte de uma extrema instabilidade política. A profissão de soldado era confiada a mercenários, reunidos em pequenos pelotões de ventura, a soldo dos vários príncipes. A única preocupação dos grandes senhores era aquela de alimentar-se  ao lado do provável vencedor, ainda que estrangeiro. A segunda guerra, contra Francisco I, deu a Carlos V a posse efetiva da Itália, da qual ele foi coroado rei, em Bolonha, no mês de fevereiro de 1530; os pequenos soberanos italianos tornaram-se fantoches, nas mãos do imperador que,como primeiro ato de sua nova soberania, derrubou a república de Florença, restaurando os Médicis, na pessoa do Duque Alexandre. Outro ato importante desse período foi a entrega da ilha de Malta à antiga Ordem Militar dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, expulsos pelos turcos de sua sede em Rodes. Nesse ínterim, outras e mais graves preocupações atormentavam o jovem imperador, suja sorte, gravando-o com tantas e tão imensas responsabilidades, não lhe tinha, por certo, preparado uma vida fácil. No interior, justamente no coração do Império, o cisma luterano flamejava, dividindo os príncipes e os povos e pondo Carlos V, herdeiro da tradição católica da coroa espanhola, eram uma bem difícil posição: Já muitos senhores, entre os quais os eleitores da Saxônia e de Brandenburgo, tinham-se unido em uma liga e ameaçavam, com suas aproximações a Francisco I, a própria estabilidade do Império. Nos confins orientais, em terras da Hungria, apresentavam-se ameaçadoras as vanguardas de Solimão II, sultão da Turquia, que marchava sobre  a Áustria e Viena. O imperador tinha necessidade de todas as suas forças para enfrentar a ameaça muçulmana. Assim, Carlos V teve que,temporariamente, pactuar com os protestantes, concedendo-lhes o livre exercício do culto luterano, a fim de reunir todas as suas forças e lançá-las contra Solimão; este julgou conveniente evitar o choque e retirou-se, sem combater, para além das fronteiras húngaras, enquanto um de seus melhores homens, o pirata Khair-ed-Din, conhecido por "Barba-Roxa" (um cristão renegado que, à frente das galeras turcas, devastava o Mediterrâneo) era expulso de Tunísia pelo valor de Andrea Dória,  grande almirante genovês a serviço de Carlos V. Durante os combates, refulgiu o valor de Catarina Segurana, uma jovem nicense, que se atirou sobre os Turcos, que irrompiam pelas muralhas, arrancando-lhes o estandarte do Profeta.  
              Entretanto, a morte de Francisco Sforza II, em 1535, oferecia a Francisco I oportunidade para uma nova guerra; uma guerra que terminaria em nada, por haver-se interposto o Papa Paulo II Farnésio, quando as sortes estavam indecisas.  A "trégua de Nice", promovida pelo Pontífice, durou até 1542, ano em que as tropas francesas e imperiais se enfrentaram para uma quarta guerra. A paz de Crépy, concluída em 1544, deixava as coisas mais ou menos como antes.
Concílio de Trento
              No entanto, contra o alastrar da heresia luterana, o mundo católico estava preparando uma adequada reação: em 1545 o Papa Paulo II instala solenemente o Concílio de Trento, destinado a lançar as bases  de uma eficaz reação católica ante a avassaladora, então chamada,  "heresia protestante". O Concílio durou de 1545 a 1563, contribuiu, sobretudo, para moralizar  os costumes do clero católico que estava totalmente à vontade para praticar seus desmandos. O principal objetivo do Papa era restabelecer a força da igreja de Roma que, pelo fausto e as ambições mundanas do prelados, as lutas dinásticas e o desenfreado nepotismo, haviam afastado da verdadeira prática cristã. Enquanto Carlos V e as tropas francesas - (Francisco I já tinha morrido, e seu sucessor, Henrique II, aliara-se aos Turcos, contra os Imperiais (se digladiavam de novo, asperamente, os Cardeais, reunidos no castelo de Trento, elaboravam as novas regras que deviam moralizar a vida do clero e tornar inoperantes as acusações luteranas. A Alemanha, apesar dos muitos esforços do Papa e do Imperador, estava perdida para o catolicismo, pelo menos em parte. O grande domínio, que Carlos V sonhara abrigar sob o cetro, evaporara-se, por obra dos protestantes e dos franceses. Carlos V  resolveu, então, abdicar, confiando a seu irmão Fernando os domínios alemães e a coroa imperial e, a seu filho Filipe, a Espanha, a Itália e os Países-Baixos, retirando-se para um cela do convento  de São Justo, na Extremadura. Cansado do poder, o home sobre quem já pairava a sombra da morte, que nivela os prícipes aos humildes, viveu seus últimos anos em silêncio, meditando, talvez sobre a precariedade das glórias e das ambições humanas. 
                 Enquanto, nos campos de batalha da Itália e França, Carlos V e Francisco I  estavam empenhados em luta sem quartel, que tinha alvo o domínio da Europa, além da Mancha, o poderio inglês ia lentamente se consolidando. A aristocracia, cerne da nação, saíra esgotada e empobrecida da Guerra das Duas Rosas; a monarquia, ao contrário, liberta do controle por vez tirânico dos lordes, ganhara em autoridade e prestígio. Como bem nos lembramos, ao fim da guerra civil, subira ao trono Henrique Tudor, que encarnava em sua pessoa a herança e os direitos dos Lancaster e dos York, e na realidade, como sempre acontece após um longo período de desordem e sangue, sob seu reinado, a Inglaterra retomou a senha do progresso, expandindo seu comércio e reforçando aquilo que estava destinado a tornar-se o instrumento de seu poder: a frota. Sempre sob o reinado de Henrique VII Tudor, o navegador veneziano João Cabot, que estava, desde anos, a serviço da coroa inglesa, alcançou Terra Nova e as costas do Labrador, assegurando à Inglaterra, com esta expedição, a posse sobre aqueles imensos territórios. De qualquer forma, os tempos ainda não estavam maduros para que Henrique VII pensasse em desenvolver a expansão inglesa rumo ao Ocidente. 
                Henrique VIII, que sucedera ao seu pai em 1509, encontrou-se em uma situação de notável preeminência, seja no interior, onde o Parlamento estava quase sem prestígio, seja no exterior; ; o rei da Inglaterra, no momento em que a França e a Espanha estavam para engalfinhar-se, representava um aliado cobiçado por ambos os contendores. Este novo rei, que subira ao trono com apenas dezoito anos, era dotado de caráter forte e violento, um misto de engenho - em dose assaz notável - energia juvenil, orgulho e obstinação. 
                Ele jamais demonstrara muitos escrúpulos a respeito da vida ou da liberdade alheias e, quando julgava oportuno , agia com impecável dureza, desfazendo-se de seus inimigos ou opositores, sem o mínimo respeito pela opinião pública. Nos primeiros anos de seu governo, administrou com pulso forte e iluminada sabedoria. Negaceando entre a Espanha e França, Henrique VIII procurava reconquistar, no continente, os territórios perdidos depois da Guerra dos Cem  Anos e até, quando a sorte parecia estar contra Francisco I, tentou fazer valer velhos direitos da coroa inglesa ao trono da França.  Mas, sua mais importante ação, pelo menos aquela que teve mais graves consequências, desenrolou-se no campo religioso. Henrique, a princípio combatera os Luteranos e até, tendo escrito um opúsculo contra suas teorias, granjeara do Papa o título de "Defensor da Fé". 
              Em seguida, o rei desposara, com autorização especial do Pontífice, sua cunhada Catarina de Aragão, e este matrimônio o ligava, em certo sentido, à política espanhola; quando resolveu aliar-se à frança, em 1530, procurou conseguir do Papa Clemente VII a anulação do casamento, mas o Papa permaneceu irredutível. Isso provocou a irada rebelião do autocrata inglês, que resolveu desligar a igreja britânica de Roma e proclamou-se, com a cumplicidade de uma parte do alto clero, chefe espiritual de seu país. Contemporaneamente, fez decretar pelo arcebispo de Cantuária a nulidade de seu casamento e contraiu novas núpcias com uma nobre dama de origem italiana, Ana Bolena. Contra esse golpe do rei, sancionado no ato da Supremacia em 1534, com o qual se impunha a todos os ingleses o reconhecimento da nova hierarquia religiosa, insurgiram-se alguns dentre os maios dignos homens da época, entre eles Tomás More, (personagem que havia recentemente sido canonizado pela Igreja), eminente estudioso e homem político, que recusou categoricamente dobrar-se ante o capricho do soberano, afrontando o patíbulo com a serena e heroica resignação dos antigos mártires. 
               A nova Igreja Anglicana conserva, em sua origem, quase que inteiramente, o patrimônio litúrgico e dogmático do catolicismo, mas, subtraindo-se à autoridade do Papa, maculava-se com a mais grave das "heresias", criando motivos para uma série de acontecimentos de grande importância, tanto no campo político como no espiritual. Para começar, Henrique VIII usou de sua posição de Chefe da Igreja a fim de anular também seu casamento com Ana Bolena, que ele mandou decapitar. A seguir, casou-se mais quatro vezes, ora se divorciando, ora incumbindo o carrasco de livrá-lo da esposa. À sua morte, a coroa passou para a cabeça de um menino de apenas dez anos, Eduardo VI, filho de Henrique e de sua terceira esposa, mas o reizinho, enfermiço, não passou de um brinquedo nas mãos do lorde Seymour que, sob o título de Protetor, governou a Inglaterra praticamente durante seis anos do reinado de Eduardo VI, que morreu (de doença ou de veneno), em 1553. Na corte real, vivia então, uma menina de rosto inteligente, bastante vivaz, mais do que a sua estirpe exigia. E essa menina, Elizabeth, filha de Henrique e de Ana Bolena, estava destinada a tornar-se uma das maiores rainhas da Inglaterra.
                Quando morreu Henrique VIII, viviam em Londres, três herdeiros diretos do seu título, nascidos de diferentes matrimônios: Maria, filha de Henrique e de Catarina de Aragão, Elizabeth, filha de Ana Bolena, e Eduardo, filho de Joana de Seymour. Naturalmente, foi o varão que subiu ao trono, mas sua tenra idade, fez com que, durante os poucos anos de seu reinado, ficasse à mercê dos maiores senhores da corte. De têmpera bem diferente era sua irmã, que lhe suceda em 1533. Crescida no culto à mãe, católica, autoritária e violenta que nem o pai, desembaraçou-se logo dos adversários. Sua ascensão ao trono, ocorrida em flagrante contraste ao testamento do irmão, foi, por si própria, uma ato de força; e sua política, a política de uma soberana católica num país de cismáticos, foi a natural consequência disso. As piras e as forcas floresceram nas praças da Inglaterra; os "hereges" foram exilados, mortos, obrigados a conversões que não desejavam; as leis de Henrique VIII foram revogadas e o culto católico restaurados oficialmente. Para essa tão decidida atitude de Maria contribuíram diversos fatores: além de seu caráter e de sua educação, o casamento com Filipe, herdeiro do trono espanhol e católico militante, e a surda rivalidade com sua irmão Elizabeth, que os protestantes haviam quase eleito como seu símbolo. Como sempre, a política de violência servia apenas para criar mártires e fomentar a reação dos cismáticos. A reação católica, promovida por Maria, contra o culto cismático instaurado por seu pai, foi tão violenta que lhe valeu o apelido de sanguinária. fogueiras queimando hereges surgiram em toda as praças inglesas.
               E também na política externa Maria foi desastrada; seu casamento com Filipe compeliu-a a uma guerra bem catastrófica para as armas inglesas e que terminou com a perda do último baluarte britânico no continente: Calais. A derrota foi um verdadeiro traumatismo moral para a rainha, já acabrunhada pelo cansaço de uma política que suscitava novos adversários; no mesmo ano, ela morreu, com notável alívio de seu povo, ofendido pela aliança com a Espanha e pela opressão religiosa. A perda de Calais e, com isso, as últimas esperanças inglesas no continente, tinha sido sua maior mágoa. Talvez Maria não tivesse previsto que, justamente aquela derrota, trucando as derradeiras veleidades britânicas quanto ao continente, acentuava o isolamento geográfico do país, obrigando-o a ir procurar no mar aquela  fortuna que lhe fora negada em terra firma. Tal situação, de fato, ficou desde logo bem patente à soberana que sucedeu a Maria, Elizabeth, a jovem  de vinte e cinco anos, mulher de caráter firme e autoritário ainda mais do que a irmã, mas muito melhor dotada de intuição política, e que soube exaltar aqueles valores nacionais e aquele patrimônio que Maria, indiferente ao destino do povo, havia ignorado. Desde os primeiros anos  de seu reinado, viu-se circundada pela geral simpatia e apoiada tanto pela burguesia como pela nobreza. Elizabeth contava, sobre a irmã, a grande vantagem de ser protestante; na Inglaterra o catolicismo possuía bem poucos prosélitos convictos. Com uma série de leis, Elizabeth impôs novamente sua supremacia ao clero britânico, proibiu, de maneira sempre mais draconiana, o culto católico, perseguindo, enfim, os adversários religiosos com aquele encarniça,mento que propiciara a Maria o apelido de "Sanguinária". Em sua figura de mulher austera e fria (pelo menos na aparência), em seu desdém pela casamento e as alianças continentais, os Ingleses viram a exaltação dos caracteres da estirpe; o próprio parlamento abdicou, voluntariamente, de suas prerrogativas, deixando a Elizabeth mão livre tanto na política interna como na externa. A crise religiosa, que perturbava a Europa, viu a Inglaterra elisabetiana situada decididamente ao lado dos luteranos, posição a que a rainha foi obrigada ainda pela presença no trono da Escócia de sua prima, Maria Stuart, perigosa defensora do Catolicismo. Também a Escócia, de outro lado, estava perturbada por tumultos. Maria Stuart precisava defender-se das conspirações e das prepotências de seus lordes, quase todos protestantes, e, por sua vez, procurava entender-se com a Espanha e com a França para restaurar o culto romano na Inglaterra. 
                 Quando, em 1568, em seguida a um novo levante de seus adversários, Maria viu-se obrigada a fugir da Escócia e procurar asilo junto à sua poderosa prima, foi ali recebida com aparente cortesia, pois sua presença era demasiadamente perigosa para ser grata. De fato, duas conspirações ameaçaram de perto a vida de Elizabeth, e a todas as duas Maria não ficara neutra: a primeira, em 1572, que terminou com a morte dos cabeças - o banqueiro italiano Ridolfi e o Duque de Norfolk;  a segunda, em 1585, com a cumplicidade de Filipe II e dos Guisa, chefes do catolicismo francês. Maria Stuart foi então decapitada, por ordem da soberana, na fortaleza de Fotheringay em 1587. A morte de Maria Stuart, acusada de conspirar contra Elizabeth , truncou para sempre as esperanças dos católicos ingleses. Maria deu provas, nos últimos instantes, de sua grande firmeza, recusando-se a abjurar sua crença.  Foi sua morte, verdadeiramente heroica, que decidiu Filipe II a concretizar a expedição contra a Inglaterra que, desde muito tempo, estava organizado. Mas sua frota de invasão, denominada pomposamente "Invencível Armada", foi literalmente desbaratada pelos ingleses, validamente coadjuvados por tempestades e pela experiência dos comandantes espanhóis. E, com essa vitória, a Grã-Bretanha apresentava-se ao mundo na qualidade de dominadora dos mares. 
                 O reinado de Elizabeth foi marcado por inúmeras insurreições nas fronteiras escocesas e, desde essa época, a rivalidade entre os dois povos tão afins provocou episódios de sangue e verdadeiras batalhas.

              O fim do imenso império colonial que a Espanha conquistara e tão mal administrara no Novo Mundo; um desfecho repentino e deplorável, que demonstrou como o poderio espanhol se baseava em alicerces inseguros, como um faustoso edifício corroído pelos anos, que um magote de revolucionários fez ruir, enquanto a maior das grandes potências se expandia e fortificava seu domínio de além-mar, não com a força das armas mas com a outra, bem mais válida, de uma apurada expansão comercial e política. A perda das colônias americanas, duríssimo golpe, que teria aniquilado a fibra e as esperanças de qualquer país, não tinha diminuído a irresistível ascensão da grandeza britânica, pois, desta feita, um insucesso serviu para que seus homens de governo corrigissem seus próprios erros e mudassem de rumo. A Grã Bretanha percebeu., e isto já estava na consciência do povo antes que na das classes dirigentes, que o mundo mudava de aspecto, que não mais se poderiam empregar os métodos displicentes com que a Espanha e Portugal se haviam enriquecido, que se deviam acautelar, evitar uma nova revoltya de colonos, ou seja, adotar uma política bem mais esclarecida. E, ainda mais, que não era lícito ufanar-se dos próprios princípios de humanidade e, ao mesmo tempo, comportar-se de maneira de todo oposta a tais princípios. Nesta obra reformadora, a Grá Bretanha foi grandemente amparada pelo seu regime parlamentar, que permitiu à voz do bom senso fazer-se ouvir, cedo ou tarde, também entre os homens do governo. Em 1807, tinha sido abolido o tráfico dos escravos, graças à eficaz ação do partido "whig", e a marinha britânica conduzira, em todos os mares, uma verdadeira guerra contra todos os navios negreiros; mas centenas de milhares, talvez milhões, eram ainda, os homens de cor sujeitos à escravidão, em todas as partes do mundo. Pois bem, 1833, o ministério Grey - ainda uma vez os "whigs" estavam no poder - propôs e obteve que, em todos os territórios sujeitos à coroa britânica, a escravidão fosse abolida, o que foi prontamente cumprido, naquele mesmo ano, depois que o governo britânico pagou nada menos que vinte milhões de esterlinas aos senhores dos escravos, para ressarci-los  do prejuízo sofrido. Se pensarmos que, trinta anos depois, metade do povo americano enfrentava uma guerra sangrenta para manter a escravatura, mais podemos apreciar a prova de civilização dada pelos ingleses.  
                  A libertação dos escravos, realizada pelos ingleses, em 1833, poderá parecer-nos uma óbvia providência, a nós latinos, mas no mundo anglo-saxão, de civilização relativamente recente, constituem uma grande vitória das correntes renovadoras, milhares de seus irmãos gemiam sob o chicote, nos campos e nas fábricas dos Estados Unidos.
           O advento da revolução industrial e o melhoramento das condições de vida tinham determinado, nos primeiros decênios do século XIX, um brusco incremento numérico da população britânica. A válvula natural destes abalos demográficos é sempre a imigração (quando não é a guerra), e assim, o êxodo para as colônias tinha notavelmente aumentado.  Eis, então, na Colônia do Cabo, na África do Sul, que se apresenta o choque inevitável entre os recém-chegados e os "boers", os colonos holandeses já radicados ali desde muito tempo; estes julgavam prejudicados seus próprios interesses e iniciaram uma lenta, colossal emigração para o norte, no intuito de se libertarem para sempre dos odiosos dominadores. Tudo em vão, porque, pouco depois que os "boers" tinham dominado as ferozes tribos zulus de Natal e se haviam já estabelecido naquele território, os ingleses anexaram ao seu domínio também aquela província, lançando as bases de uma futura breve e sangrenta guerra.

           Outra importante corrente migratória convergiu das Ilhas Britânicas para o Canadá, a mais evoluída entre as colônias da Coroa e a que mais facilmente poderia imitar o exemplo dos estados Unidos. Aqui, porém, os fermentos seccionistas foram dominados, com habilidade, pelo governador Lorde Durham que, a custo de tornar-se impopular entre os numerosos colonos franceses da região e junto à parte mais reacionária do parlamento britânico, coordenou e obteve uma espécie de autonomia para a colônia, que teve um parlamento próprio, constituindo, assim, um primeiro rudimentar exemplo daqueles que seriam os "dominions", colunas do império britânico. 
               Nas antípodas, duas colônias iam adquirindo importância preeminente: a Áustria, ainda em grande parte inexplorada, mas que já prometia proporcionar imensas riquezas, e a Nova Zelândia, arrancada a duras penas das miras coloniais dos franceses. A Nova Zelândia, tão distante da metrópole, nasceu e floresceu como um verdadeiro Estado democrático, de cunho realmente religioso, graças a algumas seitas protestantes que fizeram prosélitos.  Na Austrália, porém, a população branca não era o que se poderia desejar de bom, dado o hábito inveterado de para lá se enviarem delinquentes; os pobres indígenas, pertencentes à raça mais atrasada do mundo, pouco mais evoluída, física e espiritualmente, dos nossos ancestrais de duzentos mil anos, sofreram a prepotência e a crueldade dos criminosos, que em alguns casos,chegaram até a cometer verdadeiros morticínios. Mas já duas novas riquezas, a criação de carneiros e a extração do ouro, chamavam da Inglaterra uma nova, mais calma e civilizada corrente migratória, base da futura prosperidade australiana.            
             
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