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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

A RELIGIÃO E O PODER DO PAPA NA IDADE MÉDIA



          O papel espiritual da Igreja na Idade Média sempre esteve associado à sua atuação no campo político. No século XII, a Igreja era a instituição mais rica e poderosa da Europa. 
            Porém, com o fim do sistema feudal e o surgimento do capitalismo na Baixa Idade Média, a Igreja entrou em crise. À medida que a burguesia prosperava intelectual e financeiramente, muitos passaram a ignorar as proibições da Igreja às atividades  econômicas lucrativas, e também  com o fato  de que seus reis centralizavam a autoridade política, o poder do papa e do alto clero entrou em crise.
             Essa crise repercutiu no interior do próprio clero: os bispos passaram a exigir que o papa fizesse reformas na Igreja, e muitos fiéis aderiram às novas formas religiosas alternativas, que procuravam recuperar a essência dos "ensinamentos de Jesus". 
            O burguês - homem dos tempos modernos - impôs à sociedade em transformação a sua mentalidade dinâmica, voltada para as preocupações terrenas. O conhecimento e a arte dos séculos XII e XIV expressaram claramente essa mudança. 
               Em 1122, ao terminar a guerra entre o papa e o imperador do Sacro Império, a Igreja atingiu seu apogeu. A atuação do papa Inocêncio II (1189 - 1216) mostra bem isso. Ele ampliou os Estados da Igreja na Itália, convocou a Quarta Cruzada e subjugou reis, como João Sem-Terra, da Inglaterra, e os fiéis que haviam aderido a doutrinas contrárias aos ensinamentos da Igreja. 
                Afirmando que a Igreja tinha sido fundada por Cristo, os papas passaram a dominar a política internacional com base em sua autoridade de "representantes de Jesus na Terra". O sistema feudal, dividindo o poder entre numerosos nobres e reis, contribuiu para esse domínio do papa sobre todo o mundo ocidental. 
               Mas com as novas condições econômicas e sociais implantadas pelo capitalismo em desenvolvimento, o poder da Igreja começou a ser disputado pelas monarquias nacionais. 
            O conflito entre Felipe, o Belo, rei da França, e o papa Bonifácio VIII é um bom exemplo dos conflitos entre o Estado e o papa do século XIV. 
             Felipe, o Belo, e seus colaboradores pretendiam obrigar a Igreja a pagar impostos à França, como os demais súditos do reino. O papa, no entanto, reivindicava o direito de suserania (decisão) mundial sobre o poder dos reis. Essa pressão para não pagar impostos, apesar de toda a evolução da sociedade perdura até nossos dias, e acontece porque muitos políticos atuais aproveitam-se disso para se elegerem e reelegeram indefinidamente na sombra do cristianismo.
              Em 1303 o papa Bonifácio VIII foi aprisionado e morto. Em 1305, Felipe conseguiu impor um papa de origem francesa, Clemente V.  Finalmente, em 1309, a própria sede do papa foi transferida da Itália para Avignon, no sul da França. 
                 No século XIII, a Igreja criou um novo meio para se defender das ameaças à sua autoridade: os Tribunais da Santa Inquisição. Através desses tribunais, as pessoas acusadas de heresia eram presas, tinham seus bens confiscados e eram submetidas a interrogatórios por, bispos e abades. Para obter a confissão dos acusados, os inquisidores os submetiam a torturas cruéis. Quem fosse considerado herege ou dado a praticas de bruxaria era condenado à morte na fogueira, em praça pública. Esse espetáculo servia para espalhar o terror entre as pessoas e assim forçá-las a abandonar as doutrinas consideradas heréticas e a se submeterem aos ensinamentos da Igreja. Essa foi a época mais cruel daquele "negro período" da Santa Inquisição: "aos heréticos a fogueira!" Essa era uma sentença comum nos julgamentos dos tribunais inquisitivos, estabelecidos pela papa Inocêncio II no final do século XII e início do século XIII. Eram considerados heréticos os curandeiros e as bruxas, as pessoas que ministravam "passes", os conhecedores das plantas medicinais, os alquimistas que procuravam a formula para fabricar ouro, e todos os adeptos de correntes místicas que, que buscando recuperar a simplicidade da vida de Cristo, eram acusados de desviar-se da "verdadeira" fé cristã, aquela que realmente interessava à Igreja. Os Tribunais da Inquisição usavam de extrema violência contra essas pessoas. A morte na fogueira, a tortura e o exorcismo público dos "possuídos pelo demônio" espalhavam o terror entre as populações  da França, Itália e Espanha, que não ousavam mais contestar o poder da Igreja. 
               Crueldades semelhantes a humanidade só voltou a conhecer com o surgimento do holocausto de Hitler. 
            No ano 1377, quando a Igreja pretendeu transferir novamente sua sede para Roma, ocorreu o cisma, isto é, uma divisão dentro da própria Igreja, através da liderança simultânea de dois papas: Clemente VII, eleito em Avignon, e Urbano VI, escolhido em Roma. 
               A fim de resolver a crise do papado, eram necessárias reformas na estrutura eclesiástica. Os bispos que desejavam essas reformas pretendiam ocupar o poder deixado pelo enfraquecimento da autoridade do papa. 
               Os problemas da Igreja agravaram-se ainda mais em 1409, quando o Sacro Império elegeu um terceiro papa. Os três papas entraram em choque, cada qual buscando legitimar sua liderança sobre a cristandade. 
            A disputa foi resolvida no Concílio de Constança (1414 - 1418), que reuniu cardeais, bispos e doutores de toda a Europa. Os três papas foram depostos e um novo chefe supremo da Igreja foi eleito. O Concílio também julgou e condenou João Huss e Jerônimo de Praga à morte na fogueira, por liderarem um movimento reformista na Boêmia. Esse movimento denunciava a ambição do clero por prestígio político e bens materiais. 
              O aumento de riquezas materiais pela Igreja e o envolvimento do alto clero em questões políticas criaram tensões dentro da própria comunidade eclesiástica, que, de modo geral, começou a perder seu prestígio junto aos fiéis. 
            Mas, se estas prática existiam na Igreja desde a Alta Idade Média, por que então, durante séculos, ela exerceu seu poder sem ser acusada de nada? Porque, na Alta Idade Média, as ideias e os valores pregados pela Igreja justificavam  sua dominação sobre as sociedades européias: a crença no paraíso e a salvação da alma após a morte e a ameaça do inferno às pessoas que não seguissem o caminho indicado pelos sacerdotes católicos.  
               Com  o desenvolvimento do capitalismo e a ascensão da burguesia, na Baixa Idade Média, a posse de terra deixou de ser a base da economia. O comércio, ou seja, a compra de mercadorias por baixo do custo e sua revenda com lucro passou a ser a fonte de riqueza. 
             A fim de agir com maior liberdade, livre das proibições da Igreja em relação ao lucro e à usura, os burgueses precisavam introduzir novas idéias e valores na sociedade. Passou-se, assim, a duvidar de que o homem era dono de seu próprio destino, diminuindo sua subordinação a Deus.
               A insatisfação dos cristãos em relação ao comportamento do clero favoreceu o aparecimento de doutrinas contrárias aos ensinamentos da Igreja. Essas doutrinas foram chamadas pela Igreja de heresias. Heresia é uma palavra de origem grega que significa erro, opinião divergente. Lembrando que tudo o que era considerado heresia acabavam em julgamento pela Santa Inquisição e a condenação poderia ser até a queima do herege vivo numa fogueira. Lembrando também que todos os bens materiais do "herege" condenado passava automaticamente para a Igreja. 
             Nos séculos XII e XIII, os movimentos heréticos proliferaram muito, especialmente na França, atraindo de modo particular a população mais humilde. As heresias mais importantes desse período foram a valdense, que pregava o desapego aos bens terrenos, e a albigense, que legitimava a mortificação do corpo como forma de alcançar a pureza de espírito. 
                  Na Espanha a maior defensora das atitudes da Igreja foi a rainha Isabel de Castela (1451 - 1504), apelidada de "a católica". Casou-se com Fernando de Aragão seu primo. Devido ao parentesco pediu autorização a Igreja, que fez uma exceção e  prontamente atendeu.
                 Desde então a Igreja sempre esteve na defensiva de suas pregações absurdas.
            Além de perseguir os considerados heréticos, a Igreja procurou recuperar sua boa margem junto aos fiéis, oferecendo-lhes um exemplo real de imitação da pobreza de Cristo. Para isso, o papa Honório II reconheceu e aprovou as ordens mendicantes dos Dominicanos e dos Franciscanos, respectivamente nos anos 1216 e 1223. Também a Igreja perseguiu os judeus e muitos foram mortos simplesmente por serem judeus.  Segundo a história, no governo de Isabel  de Aragão foi construído o mosteiro das Carmelitas no terreno que teria sido o maior cemitério de judeus na Espanha.  Essas ordens eram formadas por religiosos que se entregavam a uma vida de orações, renunciavam à riqueza e viviam apenas do que as pessoas lhe davam, como fazia o Buda. 

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