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quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

A DESINTEGRAÇÃO DO IMPÉRIO OTOMANO

 



              Entre o início de século XIX e o fim da Primeira Guerra mundial , o Império Otomano desintegrou-se, apesar dos grandes esforços realizados para reformar e modernizar sua estrutura. A constante penetração comercial  e colonial européia no Levante e no norte da Africa minaram sua frágil economia, e as crescentes demandas de independência nacional entre os povos súditos provocaram a separação ou a perda  para domínios estrangeiros de grandes regiões.
           O período entre 1800 e 1923 assistiu lentamente à fragmentação do Império  Otomano. Assolado por guerras e revoltas dos povos subjugados, que exigiam a independência, o Império foi pouco a pouco perdendo territórios. Diante  da desintegração gradual, guerras e ruína financeira, os sultões tentaram reformar o Estado. Mas, ao mesmo tempo, crescia a oposição ao governo, culminando na Revolução Turca Jovem de 1908/9. Os governos, porém, estavam de mãos atadas, pois o destino do Império era, em parte, decidido pelas grandes potências. Estas preferiam a sobrevivência de um Estado otomano enfraquecido à ausência de poder no sudeste da Europa, o que poderia levar ao colapso total. 
              A expedição napoleônica ao Egito em 1798 foi o primeiro sinal do  renovado interesse pela região manifesto pelas grandes potências. Napoleão foi derrotado pelos britânicos. A paz foi conseguida em 1802 e, três anos depois, Mohamed Ali foi designado governador pelo sultão. Em sua administração e no governo de seu filho Ibraim, o Egito foi independente  da Sublime Porta (governo otomano). Ibraim invadiu a Síria e a Anatólia e derrotou o exército otomano, em 1839, na batalha de Nejd. Em 1841, o sultão reconheceu Mohamed Ali como vice-rei hereditário do Egito e Ibraim como governador de Creta. Em 1881, os franceses anexaram a Tunízia; no ano  seguinte, os britânicos ocuparam o Egito.  Houve guerras contra a Rússia, rebeliões nas províncias árabes e revoltas frequentes noa Bálcãs. As revoltas haviam começado em 1821, com a Guerra da independência grega, que resultara no reconhecimento do Reino Grego, em 1830. Os otomanos já haviam perdido 40% de seu império em 1882 e mais do que isso no início de século XX. As Guerras dos Bálcãs terminaram em 1913, com os otomanos renunciando a maior parte das ilhas do Egeu, Creta, Trácia, Macedônia e Albânia. No norte da África, em 1912, os italianos tomaram a Líbia. Entre 1908 e 1913, o governo otomano foi obrigado as ceder 30% de seus territórios restantes. 
           A invasão napoleônica, portanto, marcou o começo assimilação cultural entre o Ocidente e Oriente. Os europeus levaram a tecnologia, as ideias políticas e filosofias a uma região que não conheceu nem o Renascimento nem a Ilustração. No Egito propriamente dito, o ano de 1798, marcou o fim do domínio real de Constantinopla; o comandante otomano do Egito, Mohamed Ali, enviado em 1803 para restabelecer a ordem, fundou uma dinastia em 1805 que durou até a revolução de 1952. O filho de Mohamed Ali, Ibraim Pascha, dirigiu as expedições  a Nejd para submeter os wahabitas, adeptos de um tipo de Islã puritano, de desafiaram a autoridade otomana em Hejaz e no Iraque. Ibraim Pascha também conquistou toda a região compreendida entre o Egito e a atual Turquia, entre os anos de 1831 e 1839, e somente foi dissuadido de aniquilar a autoridade central do império pela pressão  da Grã-Bretanha e da França. Posteriormente, as pretensões egípcias se limitaram ao próprio Egito e Sudão. 
             Nesse período, as grandes potências interferiram nos negócios otomanos. O Protocolo de Londres, de 1830, estabeleceu o Reino da Grécia, garantido pela Grã-Bretanha, Rússia e França. O governo hereditário de Mohamed Ali, no Egito, foi organizado, em 1840, pelo Tratado de Londres, através  de um acordo entre Rússia, Áustria, Prússia, Grã-Bretanha e governo otomano. 
           Enfrentando estes e outros desafios à sua autoridade, o Império Otomano teve de adotar uma série de importantes reformas nas forças armadas e no âmbito das leis, da educação, da religião e do governo. 
             Durante o século XIX, os sultões tentaram modernizar o Império. Fizeram reformas militares nem sempre bem-sucedidas; Selim III pretendia criar um exército moderno, mas foi deposto em 1807, quando suas tropas se amotinaram contra as reformas. Esforços anteriores para introduzir reformas também haviam fracassado, devido à intransigência das forças militares tradicionais, os janízaros, que recebiam como uma ameaça a sua própria situação. Foi Mahmud II (1808 a 1839) quem resolveu evitar este obstáculo, ao dissolver o poder dos janízaros em uma sangrenta batalha em 1826. Dois editos, um de 1839 e outro de 1856, garantiram os direitos dos súditos a sua segurança pessoal e a de seus bens e a total igualdade entre muçulmanos e cristãos no império. Estas reformas significaram também pagar tributos justos e reduzir o serviço militar. O novo marco legal não se ajustou de todo à realidade; logo a oposição começou a surgir. Além disso, a ênfase na igualdade entre muçulmanos e cristãos serviu como desculpa para a intervenção das potências europeias em nome de seus protegidos cristãos e outros; os ortodoxos, receberam o apoio da Rússia;os maronitas e outros católicos, a proteção da França; os drusos e judeus foram protegidos pelos britânicos. A intervenção estrangeira foi uma das causas da Guerra da Crimeia (1853 a 1856) e da crise do Líbano de 1860 a 1861, ao passo que a pressão da Rússia e da Áustria foram transcendentais para assegurar a independência da Bulgária, Montenegro, Sérvia e Romênia nos meados de 1878. Em 1876, a situação na Bulgária levou à convocação, pela Grã-Bretanha de uma conferência internacional, em Istambul. Embora o sultão desaprovasse  a convocação, não teve forças para impedi-la. Mas ele rejeitou as propostas da conferência, o que levou a sua dissolução e à criação do Protocolo de Londres,  de 1877. Esse protocolo exigia a desmobilização  dos exércitos russo e otomano nos Bálcãs e a introdução de reformas, sob a supervisão das grandes potências. Em 1878 as regalias concedidas aos russos  pelo Tratado de Santo Estêvão alarmaram as outras potências. Um acordo de paz menos favorável à Rússia foi elaborado no Congresso de Berlim,no mesmo ano. 
            As finanças Império se deterioraram rapidamente até que, em 1875, o Estado praticamente faliu e o sultão Abdulaziz suspendeu o pagamento dos juros da dívida otomana. O Império tornou-se dependente  de governos estrangeiros. No final de 1881, o sultão concordou com a supervisão das finanças do governo por banqueiros europeus. Pelo decreto de Muharrem, foi criada  a Comissão da Dívida Pública Otomana. 
             De modo que, ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano estava reduzido ao que atualmente é a Turquia, um pequeno território do sudeste da Europa, e às províncias árabes na Ásia. Mais a oeste, o norte da África estava totalmente dominado pelas potências; os franceses invadiram a Argélia em 1830 e no ano de 1900 já havia cerca de 200 mil colonos franceses instalados ali. Fatos semelhantes ocorreram em Túnis, ainda que em, menor escala, depois da invasão francesa de 1881; no Marrocos - que, na realidade, nunca fez parte do Império Otomano - depois de 1912, e na Líbia, invadida e colonizada pela Itália, depois de 1911. No Egito, o aparecimento do nacionalismo e os perigos que representou para os investimentos estrangeiros, estimados, então, em 100 milhões de libras esterlinas, serviram de pretexto para a ocupação britânica em 1882. 
            Na outras províncias árabes houve manifestações de descontentamento, sobretudo durante o longo e opressivo reinado de Abdul-Hamid II (1876 / 1909). Os ideais de autonomia, encorajados pelo ressurgimento da literatura árabe e as campanhas para reformar este idioma, pouco a pouco foram conseguindo uma maior aceitação. Abdul-Hamid havia suspendido o Parlamento, que representava um dos maiores êxitos da segunda onda de reformadores otomanos, em 1878. A oposição a seu regime culminou com a resolução dos Jovens Turcos de 1908/1909, apoiada pela maioria dos grupos étnicos que restavam no império. Entretanto, depois dessa revolução, o governo passou a "enfatizar o caráter turco" de todas as instituições governamentais, legislativas e educacionais, atitude que terminou por alienar muitos árabes e, em larga medida, serviu para chegar a um convênio com a Grã-Bretanha durante a Grande Guerra. Mas, posteriormente, se viram decepcionados, posto que as consequências do arrojo de paz terminariam por colocar a maior parte do Oriente Médio sob o firme domínio colonial britânico e francês. Após a derrota da Turquia, seu novo governante, Mustafá Kemal (Ataturk), aboliu o califado e tentou organizar um Estado exclusivamente secular. 
            À medida que o processo de desintegração continuava, apareceram novas formas de comércio e comunicações, sem grande parte financiados com capitais estrangeiros, que começaram a transformar o império. Em 1914, a Turquia e o Egito já contavam com uma importante rede ferroviária, bancos, companhias de mineração e serviços públicos, tais como empresas portuárias, de transporte urbano, de água potável e eletricidade. O norte da África e o Oriente Médio converteram-se em importantes mercados para os produtos europeus. Desse modo, a Argélia começou as exportar vinha, o Líbano a produzir seda e, talvez o fato mais importante, o Egito iniciou a exportação de algodão. A partir de 1822, a demanda pelo algodão egípcio chegou a multiplicar-se dez vez\es durante a guerra civil norte-americana e em seguida quase triplicou novamente, chegando aos 27 milhões de libras esterlinas antes de 1914. 
             Após a Primeira Guerra Mundial, na qual  a Turquia entrou em 1914, ao lado dos alemães, o Oriente Médio caiu sob controle  britânico e Francês. O sultão colaborou com a Grã-Bretanha, mas o sultanato foi abolido por Mustafá Kemal, líder da oposição, em  1920. Dois anos antes a Turquia  assinara o Tratado de Sèvres, desfavorável ao país. Em 1923, foi assinado o Tratado de Lausanne, constituindo uma nova Turquia dos escombros  do Império Otomano. 
          A partir do século XIX, o Irã teve uma evolução política semelhante.  A dinastia Kajar (1779/ 1924) sofreu a constante intervenção britânica e russa em seus assuntos internos, culminando com a divisão do país em esferas de influência das duas potências, em 1907. Contudo, a Rebelião do Tabaco de 1896/1898 e a Revolução Constitucional de 1905/ 1911 serviram para despertar a consciência nacional e política, até que, finalmente, a dinastia Kajar foi destituída por um golpe militar liderado por Reza Khan Pahlevi, em 1924. No período entre as duas guerras foi descoberto o petróleo na Península Arábica, Irã e Iraque, o atrativo mais apreciado e cobiçado da região. 

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sábado, 19 de dezembro de 2020

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL



                Em 1914, as potências  europeias estavam divididas em dois campos rivais. Após o início da guerra, os dois grupos procuraram aliados. A Alemanha e a Áustria-Hungria receberam a adesão da Turquia e da Bulgária. A Rússia, a França e a Grã-Bretanha ganharam o apoio do Japão, Itália Romênia e, após muito esforço, da Grécia. De longe o principal partidário da causa aliada foram os EUA, que só declararam guerra à Alemanha em 6 de abril de 1917. Na Europa, o preço em vidas humanas e destruição material alterou o concepção sobre a guerra. Estima-se que mais de 8 milhões de combatentes tenham morrido. 
             Na Primeira Guerra mundial surgiram grandes nomes da história universal. Foram importantes líderes, brilhantes estrategistas que até então não eram conhecidos do grande público. Entre eles podemos destacar o general alemão Paul L. von Hindemburg, que assumiu o comando do Exército germânico na frente oriental, obtendo uma brilhante vitória contra os russos em Tannemberg; o marechal francês Ferdinand Foch, comandante-em-chefe da frente, onde organizou  e dirigiu com êxito, a "batalha da França" em 1918; Guilherme II, imperador da Alemanha de 1888 a 1918, que declarou guerra à Rússia no dia 1º de agosto de 1914 e à França dois dias depois. 
              Grande parte da guerra da frente ocidental desenvolveu-se nas trincheiras, que até os finais de 1914 se estendiam a partir do Canal da Mancha até a fronteira com a Suíça. A ideia de uma guerra curta e de fácil vitória desvaneceu-se rapidamente, e as espantosas condições  que tiveram de suportar os soldados nas valetas cheias de barro custaram um alto número de vidas. Já se disse que a Grande Guerra cavou trincheiras  na alma mais profundas do que qualquer uma das cavadas em Flandres. Foi o fim traumático da Belle Époque, que enterrou o sonho de que o progresso só podia ser bom. A Teoria Darwinista da sobrevivência dos mais aptos no mundo animal foi estendida à sociedade humana. 
              A mecanização fez sua estréia neste conflito e a guerra terrestre viu-se transformada pelo uso de gases venenosos e metralhadoras. Foi justamente nesta guerra que Hitler surgiu como mensageiro nessas trincheiras. Era um jovem nacionalista que sentia-se orgulhoso de participar e realmente correu grandes riscos porque ia de trincheira em trincheira levando informações a todos. Na noite de 13 de outubro de 1918, foi apanhado por um violento ataque a gás britânico, numa colina situada ao sul de Werwick, durante a última Batalha de Ypres. Ele próprio contou: "Recuei cambaleante, os olhos a arder, levando comigo o meu último relato de guerra. Poucas horas mais tarde meus olhos se haviam convertidos em brasas vivas. Tudo escurecera em meu redor". Um fato curioso sobre seu bigode aconteceu justamente quando ele quase morreu asfixiado; tinha um bigode grande e por causa disso a máscara antigases não o vedava plenamente. Quando percebeu isso ele moldou seu tradicional bigode e o manteve para sempre. 
               A "Primeira Guerra Mundial" começou em agosto de 1914 e marcou o fim de um período da História Universal e começo de outro. Essa guerra, que se iniciou como um conflito europeu, converteu-se em 1917 numa guerra mundial e, como tal, pode ser considerada uma ponte entra a era do predomínio da Europa e a da política internacional. A centelha que acendeu o estopim foi o assassinato do príncipe herdeiro da Áustria, o arquiduque Francisco Ferdinando, por um terrorista bósnio em Sarajevo, no dia 28 de junho de 1914. A Áustria-Hungria viu aí a oportunidade de uma guerra que diminuísse ou destruísse as ambições sérvias junto aos povos eslavos em território austro-húngaro. Na crise que se seguiu ao atentado, nenhuma das potências revelou-se disposta  a aceitar uma derrota diplomática. Os  sérvios confiavam nas suas forças armadas e no apoio da Rússia. Os austro-húngaros contavam com sua aliança com a Alemanha para impedir a intervenção russa.  Finalmente, a guerra tomou o lugar das manobras diplomáticas. O que se iniciou como uma crise localizada se transformou rapidamente numa guerra global. 
            Todos pensaram que seria uma guerra curta, que já estaria terminada no Natal de 1914. A Luta não seguiu de acordo  com as estimativas militares; em vez de grandes  batalhas decisivas, que durariam apenas alguns dias, encerrando a guerra em semanas, a realidade foi a de um combate quase contínuo em todos os pontos em que as tropas estavam em contato. Ficou evidente que era impossível sustentar esse ritmo de combate com os estoques de munição planejados para as batalhas, quase inteiramente consumidos nas primeiras semanas; foi necessário desmobilizar tropas, devolvendo trabalhadores às indústrias. 
            Os alemães sabiam que suas possibilidades de travar com êxito uma guerra prolongada em duas frentes eram escassas. Sua estratégia bélica, idealizada por Schlieffen em 1905 era cercar e aniquilar o Exército francês passando pela Bélgica antes de que os russos tivessem tempo de mobilizar suas tropas; mas estes reagiram de maneira incrivelmente rápida; invadiram a Prússia Oriental, derrotaram o Oitavo Exército Alemão em Gumbinnen (no dia 20 de agosto) e forçaram o deslocamento das tropas reservas da Alemanha para a frente oeste. Os alemães conseguiram derrotar os invasores russos em Tannenberg (entre o dia 26 e 29 de agosto), mas não contavam com tropas suficientes para aproveitar  esta vitória. Os alemães também foram vencidos no oeste pelos aliados, na batalha do Marne, entre os dias 5 e 8 de setembro. O Plano Schlieffen constituía um risco para os alemães; se falhasse, não tinham outra alternativa. Entre os dias 8 e 12 de setembro, os russos infligiram uma esmagadora derrota aos austríacos em Lemberg. Por último, em novembro, o Exército alemão e o dos aliados fracassaram na tentativa de deslocar-se mutuamente em Flandres, e os dois inimigos se dedicaram a cavar trincheiras numa linha de aproximadamente 650 quilômetros entre o Canal da Mancha e a fronteira suíça. No leste, como o número de homens e armas era menor, ainda era possível continuar com a guerra móvel, possibilidade que foi brilhantemente aproveitada pelos alemães em Gorlice-Tarnov, em 1915, e pelo general russo Brusilov, em 1916. 
             A oeste, em compensação, desde o início de 1915 dominaram o cenário bélico as trincheiras, as cercas de arame farpado, a artilharia, as metralhadoras  e o barro. O plano de Schliffen era arriscado; com seus fracasso, não restou aos alemães estratégia alternativa. De 8 a 12 de setembro, houve grande vitória russa sobre a Áustria, em Lemmberg. Uma tentativa  simultânea do exército alemão e dos aliados, de vencer o outro, fracassou em Flandres, em novembro, e ambos entrincheiraram-se numa linha de frente de 644 Km.                  >> A guerra móvel converteu-se em uma guerra de desgaste. Um soldado entrincheirado com uma metralhadora era mais que suficiente para deter o avanço de centenas de homens em campo aberto. As ferrovias podiam trazer os defensores muito mais rapidamente  do que podia avançar a infantaria através das rupturas da frente de batalha, obtidas a um custo humano muito grande.
            Entretanto, os aliados não podiam tolerar a ocupação da Bélgica e o norte da França pelos alemães e, inevitavelmente, procuravam forma de expulsá-los dali. Isso deu lugar, em 1915, a repetidas ofensivas francesas em Artois e Champagne, que foram apoiadas por pequenas arremetidas dos ingleses em Neuve Chapelle e Laos. os aliados programaram uma ofensiva conjunta para o ano de 1916 na região do Somme, mas os alemães se adiantaram e atacaram primeiro em Verdum com a intenção de debilitar o Exército francês. As perdas humanas se elevavam a mais de 700 mil homens. No dia 1º de julho de 1916, os britânicos lançaram sua primeira grande ofensiva da guerra no Somme. A luta durou até novembro e as baixas superavam pelo menos a um milhão de soldados.Contudo, não conseguiu romper o impasse no qual se encontrava a guerra.  
           O conflito converteu-se em uma guerra total e requeria a mobilização da indústria, que foi levada a cabo por Loyd George na Grã-Bretanha. Buscaram a resposta à paralisação nas trincheiras através da tecnologia. Pela primeira vez um gás venenoso foi utilizado pelos alemães em Bolinova, em janeiro de 1915; os ingleses inventaram os tanques e e utilizaram 32 deles na última etapa da batalha do Somme, mas,  devido às dificuldades de fabricação, somente puderam ser utilizados de forma maciça na batalha de Cambray, em novembro de 19917, onde tampouco foram decisivos.
              Para repelir a ocupação alemã na Bélgica e norte da França, foram feitas, em 1915, ofensivas francesas em Artois e na Champagne, ajudadas por ofensivas britânicas em Neuve Chapele e Laos. 
             A luta também chegou aos céus, onde um grupo de aviões de reconhecimento, em 1914, deu lugar a aviões de caça, bombardeiros e detectores de artilharia. Com o Zepelim e o bombardeiro Gotha de longo alcance, os alemães introduziram o bombardeio estratégico das cidades inimigas. Os aliados recorreram aos bloqueios navais para paralisar as indústrias e matar  de fome a população das Potências Centrais. A Alemanha replicou com ataques de submarinos à frota inglesa. 
              Com o fracasso a oeste, os aliados procuraram sucesso em outras frentes: em Dardanelos (abril de 1915 a janeiro de 1916), na Mesopotâmia contra os turcos, em solônica em apoio aos sérvios. Tudo acabou em fracasso. A Itália, que entrou na guerra do lado aliado em maio de 1915, também falhou.
               Os aliados planejavam, para 1916, uma ofensiva conjunta no Somme, mas os alemães atacaram primeiro, em Verdum. As baixas foram superiores a 700 mil soldados. Em 1º de julho de 1916, os ingleses lançaram a primeira ofensiva maciça,no Somme. A luta foi até novembro, com 1 milhão de baixas. 
          Derrotados no Ocidente, os aliados buscaram a compensação em outras frentes: nos Dardanelos (de abril de 1915 a janeiro de 1916); na ofensiva contra os turcos na Mesopotâmia; no desembarque em Salônica para ajudar aos sérvios. Entretanto, tudo fracassou. A Itália, que se incorporou à guerra ao lado dos aliados em 23 de maio de 1915, também não pôde vencer as forças austríacas em Isonzo. 
             Nessa época, o conflito tornou-se guerra total, exigindo mobilização da indústria, conduzida por Rathenau, na Alemanha, e por Lloyd George, na Grã-Bretanha.  Contra o impasse, buscou-se tecnologia: o Gás venenoso foi usado pelos alemães em Bolinów, em janeiro de 1915; os ingleses inventaram  o tanque e usaram 36  deles na batalha do Somme. Por dificuldade de produção, só em novembro de 1917, em Cambrai, houve o primeiro ataque em massa de tanques, também incapazes de resolver o impasse. 
          Na frente oriental, apesar da ofensiva austro-germânica de 1915 em Golice-Tarnov e um transcendental  avanço russo sob o comando do general Brusilov em 1916, não houve ações decisivas. A resistência sérvia foi destroçada, mas os alemães enfrentavam agora a guerra em duas frentes que tanto haviam temido. Em fins de 1916, todos os combatentes reconheciam que ainda estavam muito longe da vitória. Havia quem acreditasse na paz, mas as exigências expansionistas descartavam uma solução pacífica. A guerra continuou sob novos e implacáveis líderes: os militares Hindenburg  e Ludendorff, da Alemanha, e os civis Lloyd George, da Gã-Bretanha, e Clemenceau, da França. No dia 10 de fevereiro de 1917, a Alemanha declarou guerra submarina sem quartel com a esperança de submeter a Inglaterra. Os ingleses puderam neutralizar esses ataques graças a um sistema de comboios posto em prática em maio de 1917. Entretanto, a ofensiva com os submarinos precipitou a entrada  dos Estados Unidos na guerra, no dia 6 de abril de 1917, o que constituiu uma ajuda potencialmente decisiva para os aliados.
             Em março desse mesmo ano eclodiu a revolução na Rússia, provocada pelas grandes perdas humanas, o cansaço da guerra e a má situação econômica. O czar abdicou em 15 de março de 1917. O futuro da Rússia como aliado era incerto. Em maio, a França também de defrontava com graves problemas. Uma ofensiva dirigida pelo novo comandante-em-chefe, Nivelle, não conseguiu o objetivo prometido de obter uma vitória que conduzisse à paz. Quase todo o Exército francês se amotinou, e na frente interna o descontentamento era geral. os ingleses ´programaram uma ofensiva em Ypres como a melhor maneira de evitar a pressão sobre os franceses e animar a Rússia. A ofensiva de "Passcheendaele", arruinada pelo mau tempo, não pode romper a frente alemã; os dois lados sofreram cerca de 250 mil baixas cada um. 
          Na frente ocidental somente houve guerra móvel nas etapas iniciais e finais. Desde o fim de 1914 até a primavera de 1918, a superioridade do sistema de defesa de trincheiras e metralhadoras, sobre o lento avanço da infantaria, impôs mobilização. Somente quando os exércitos de debilitaram por anos de desgaste, continuaram os avanços. Na Europa do Leste e nos Bálcãs, a guerra não foi mais ágil apesar da menor densidade de homens e de defesas mais fracas. A frente italiana junto ao Rio Isonzo também se viu afetada pelo imobilismo, que somente foi quebrado em outubro de 1917 pela vitória germano-austríaca em Caporetto e a vitória italiana em Vittório Vêneto, um ano depois. 
           Durante o último ano de guerra, os avanços no bombardeio da artilharia tornaram possível a destruição total e precisa de áreas selecionada. O mesmo ocorreu com numerosas cidades próximas às fronteiras; Ypres foi alvo de fogo incessante até ficar reduzida a escombros. 
            Em novembro de 1917, os bolcheviques apoderaram-se do governo da Rússia e em dezembro solicitaram a paz em Brest-Litovsk. Por fim os alemães podiam concentrar todas as suas forças na frente ocidental. Em 21 de março de 1918, Hindenburg e Ludendorff lançaram uma série de ofensivas que indicavam a vitória no Ocidente, antes que os norte-americanos chegassem com toda a sua força. Apesar do êxito inicial, os alemães fracassaram. No dia 18 de julho, o novo generalíssimo aliado, Foch, lançou um contra-ataque francês. Em 8 de agosto, foi seguido por Haig com um êxito deslumbrante no Somme. Daí em diante, os aliados golpearam o inimigo sem piedade e romperam a Linha Hindemburg entre os dias 27 e 30 de setembro. Entretanto, os aliados da Alemanha - Áustria,Turquia e Bulgária - começavam a ceder diante dos ataques aliados. Em 29 de setembro, Ludendorff reconheceu a derrota e exortou seu governo a pedir um armistício imediatamente. Em outubro a esquadra alemã se amotinou, seguindo-se a revolução e a abdicação do Kaiser. O novo governo alemão aceitou as condições do armistício dos aliados. A luta armada terminou no dia 11 de novembro de 1918. 
                O caráter traumático e chocante deste conflito global ainda molda o juízo que temos sobre a guerra, alertando-nos sobre o preço que se paga quando se crê, erradamente, que os assuntos militares possam ser puramente militares.
             O custo material e humano da guerra foi enorme; as consequências políticas e sociais, incalculáveis. A Europa de 1914 desapareceu. 
           É difícil, hoje, entender  o entusiasmo com que as declarações de guerra foram recebidas pelas populações dos países envolvidos; milhares se apresentaram  como voluntários. Houve manifestações patrióticas entusiasmadas de todos os setores das sociedades envolvidas. Esse entusiasmo ingênuo via a guerra como um momento glorioso, um recurso necessário para o engrandecimento das nações. As paixões populares inflamadas pelas promessas de glória e insufladas pelo sentimento de superioridade de cada povo, exigiam resultados e cobravam a promessa militar de uma vitória completa, definitiva e imediata. Logo no início, as tropas entusiasmadas e estimuladas pelo culto à ofensiva, se confrontavam com o horror de uma guerra dominada  pelo poder de fogo e onde a defensiva era suprema. Mas logo e realidade tomou conta dos combatentes. As baixas eram enormes.
            Graças à indústria, cada potência européia era capaz da criação e sustento de forças em tempo de guerra com um efetivo de milhões. A complexidade do processo de reunião, despacho por trens e concentração das tropas mobilizadas era tal que, uma vez iniciado, pouco ou nada podia ser feito para impedi-lo, sob pena de se estar desarmado diante de um inimigo mobilizado. 
             Assim que a mobilização começou, os altos comandos assumiram o controle da guerra e, em nome do profissionalismo militar, isolaram seus governos das decisões. Independentemente do fato fato de que a Alemanha entrara na guerra para respaldar a Áustria-Hungria, o Grande Estado Maior Alemão só tinha um plano: uma ofensiva completa contra a França, que produzisse vitória antes que a lenta mobilização russa pudesse estar completa. 
             O grande avanço tecnológico dos meios de destruição fazia supor uma guerra inteiramente nova, embora começada sob o espírito romântico. A duração de  quatro anos (1914 a 1918),  a estabilização prolongada das frentes de atrito e a universalização do conflito, tudo acompanhado das dificuldades de grande monta geradas por escassez, cansaço, grande destruição e imensa mortalidade, transformaram a Primeira Guerra Mundial. 
            Diante da progressiva convocação de homens, mortos aos milhões, mulheres substituíram-nos em serviços urbanos e na produção industrial, acentuando as reivindicações feministas.  Antigas dependências políticas encontraram ocasião de fortalecer aspirações  de autonomia, como na Irlanda e na Índia. Contradições acentuadas motivaram motins militares dentre os beligerantes e movimentos  socialistas na Rússia e na Alemanha. Aspirações nacionalistas viram no desastre o império austro-húngaro a oportunidade de alcançar ou reforçar a independência ou mudar o estatuto sob o qual viviam boêmios, tchecos, húngaros, croatas, italianos, sérvios, bósnios, montenegrinos. O mundo todo mudou. No Oriente Médio e na Ásia Menor, tudo mudaria com a tomada do poder pelos jovens turcos e pela definição de novos protetorados árabes da Inglaterra e da França, em maio ao avanço do movimento sionista que buscava a nova fundação do Estado de Israel. Redesenhava-se o mapa político daquela região, como se fazia na Europa, onde retalhavam-se os vencidos e surgiam países novos, como a Iugoslávia, e Hungria e a Tcheco-Eslováquia.
               Mas, a guerra não ficou confinada apenas à Europa. Para proteger os poços de petróleo persas, uma força anglo-indiana ocupou Basra em 22 de novembro de 1914, e marchou sobre Bagdá  em outubro de 1915. Foi forçada a retirar-se e render-se aos turcos em Kut (abril/916). Enquanto isso, os britânicos reiteraram uma tentativa turca de cruzar o canal de Suez em 1915, e uma força de contra-ofensiva entrou na Palestina, em 1916. Ali os britânicos foram beneficiados pela revolta árabe que eles próprios instigaram contra o governo otomano e que eclodiu em junto de 1916 sob o xerife Hussein de Meca. Mas foram repelidos pelos turcos em Gaza (1917).  Ao norte, os russos ocuparam a Armênia Turca em Julho de 1916, e a mantiveram sob controle até a Revolução Russa devolver a iniciativa aos otomanos. No final de 1917, as forças britânicas, sob o general Allemby, reagruparam-se e conseguiram passar de Gaza até Jerusalém em 11 de dezembro. Na Mesopotâmia, Kut foi retomada e Bagdá capturada em 10 de março de 1917. Mossul foi ocupada após o armistício anglo-turco em 20 de outubro de 1918, enquanto Damasco caiu sob o ataque das tropas britânicas e árabes no início do mesmo mês. 
              A guerra espalhou-se pela África e Extremo Oriente, onde a Alemanha perdeu suas colônias. Os sul-africanos conquistaram a África do Sudoeste Alemã, em julho de 1915, e os ingleses e franceses tomaram Camarões e Togo. Na África do Leste Alemã, os ingleses enfrentaram uma tarefa mais difícil, devido à defesa alemã, sob o comando do general Von Lettow-Vorbeck. No Pacífico, nos primeiros quatro meses de guerra, tropas australianas, neozelandesas e japonesas capturaram as colônias alemãs. As concessões na China também caíram nas mãos de japoneses e ingleses. 
                 Na frente ocidental, apenas os estágios inicial e final viveram uma guerra de movimento. Do final de 1914 à primavera de 1918, a superioridade da defesa, baseada no sistema de trincheiras e metralhadoras, contra a lenta ofensiva da infantaria, precedida pelo fogo concentrado de artilharia, levou a um impasse. Só quando os exércitos já estavam enfraquecidos, após anos de atritos, foi possível avançar rapidamente. Na Europa Oriental e nos Bálcãs, com menor concentração de efetivos e defesas mais fracas, a guerra foi mais móvel. A frente italiana, ao longo do rio Isonzo, viveu outro impasse, apesar de 11 ofensivas contra os austríacos, até a vitória germano-austrícaca em Caporetto, em outubro de 1917, e a vitória italiana em Vittorio Veneto, um ano mais tarde. 
             Nos anos finais do século XIX e nos iniciais do XX, o nacionalismo exacerbado francês se soma ao apego militar à ofensiva na ideia de que os franceses, de todos os povos, eram imbuídos de um espírito de combatente único - o furor gálico - que lhes daria a vitória contra o fogo de seus inimigos. Quando o front se estabilizou, inspirados  por essa convicção e açulados pelo General Foch, que recusava a aceitar o impasse, comandantes e soldados franceses se atiravam com abandono ao ataque, confiantes de  de seu èlan triunfaria. Centenas de milhares  de jovens poilus, em seus vistosos uniformes  de pantalonas vermelhas, se lançaram contra as metralhadoras e canhões alemães em ataques inúteis. A carnificina foi enorme; a maior parte dos generais que comandavam as unidades francesas no início da guerra foram substituídos antes do fim do ano; indivíduos arruinados, remoídos pela culpa e incapazes de dar conta da tragédia que viviam. Do milhão e meio de franceses que tombaram na Primeira Guerra, metade morreu nos primeiros quatro meses, buscando vencer o fogo germânico com ímpeto gaulês. 
            O impacto dessas baixas foi enorme, tanto para as convicções dos sobreviventes, desiludidos, quanto para as populações e famílias dos países envolvidos. Antes mesmo da primeira neve cair, as linhas de frente estavam onde ficaram, com pequenas alterações, até 1918. Entre as linhas de fogo, ao longo de todo o front, o contínuo de refregas  e tiroteios passou a ser interrompido aqui e ali pelo início de arranjos informais do tipo "viver e deixar viver". 
          Os sonhos românticos que os soldados  alimentavam ao ir para a guerra metamorfosearam-se num cinismo realista em que a única meta era continuar vivo. 
            No  Natal de 1914, aconteceu algo de extraordinário; ao longo do front, os combates cessaram. Ao amanhecer, franceses, ingleses e alemães saíram de suas trincheiras.  Dezenas, talvez centenas de milhares de homens  abandonaram suas armas e seguiram para a chamada  "terra-de-ninguém". Confraternizaram-se trocando lembranças e presentes, exibindo fotos e cartas da família, comemorando o natal, desejando a paz. Os altos comandos viram nisso a ante-sala da revolução. A disciplina militar era percebida como a única capaz de sustar o processo pelo qual os soldados pudessem decidir-se a tomar o poder. O espectro do inusitado motim desta guerra e da revolução, que visitaria a Europa em 1917, passou como uma sombra gélida  por sobre os generais e altos comandos. A reação foi imediata e incisiva: fogo de artilharia  sobre a "terra-de-ninguém"; estritas medidas disciplinares contra os envolvidos; punições e perseguições, visitas e discursos. Pela primeira vez em muitas semanas, os oficiais visitaram as trincheiras, trazendo presentes, identificando líderes, exortando os soldados ao esforço de luta, escolhendo informantes, lembrando o dever e o ódio ao inimigo. 
            O armistício de 11 de novembro de 1918 confirmou de um lado os grandes perdedores: Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia (império otomano) e Bulgária;  de outro lado, Grã-Bretanha, França, Bélgica, Itália, Estados Unidos, Japão e outros países, dentre os quais o Brasil. A Rússia, que começara ao lado da França, assinara a paz em separado em março, em meio ao caos revolucionário e a grande sofrimento. Contra ela ainda se fariam, sem êxito, operações militares  para apoiar a contra-revolução. Destacar-se-iam a Polônia e a Finlândia e criou-se uma fieira de países neo-independentes retirados do antigo império czarista (Estônia, Letônia e Lituânia) formando o "cordão sanitário" para isolar geograficamente que viria ser a União das Repúblicas Socialistas  Soviéticas em 1923. O armistício foi seguido pelo tratado de Versalhes em 1919, sob a ameaça de remobilização contra a Alemanha, findando hostilidades bélicas, fixando dividas e ampliando ressentimentos. Se a guerra estava vencida, o meno não aconteceu com a paz que para muitos pareceu perdida, particularmente a Itália. 
             A  Liga das Nações proposta pelo presidente Wilson, dos EUA, não daria solução pacífica aos desentendimentos internacionais, como também foram apenas sonhos os tratados de desarmamento começados em 1921. O fraco crescimento e pouca prosperidade que se seguiram á depressão do fim da guerra foram efêmeros. E especulação econômica levaria á crise de 1929 com a devastação que se lhe seguiu. As impossibilidades da crença liberal para conduzir favoravelmente as grandes questões postas nos ano 20, diante do desemprego, das greves, das arruaças, da instabilidade, da desordem e do medo resultariam no drama do fascismo e do nazismo.  


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O NACIONALISMO E AS NOVAS FRONTEIRAS DA EUROPA PÓS GUERRA

 


            A Revolução Francesa, ao destruir  o antigo regime, foi a grande catalisadora  das mudanças na Europa. Os exércitos revolucionários levavam consigo são somente o lema de "liberdade, igualdade e fraternidade", mas as ideias de liberalismo, autogoverno e nacionalismo que seriam os termas centrais da história européia no século XIX e XX. Mesmo antes de 1789, como uma reação contra o espírito racional, alguns escritores, como Helder (1744 - 1803, haviam destacado o sentido de identidade nacional. Entretanto, o Estado ainda era considerado como um patrimônio dinástico, como um latifundiária ao qual a os proprietários menores deviam lealdade e servidão. Essa concepção foi desafiada pelos governo revolucionários franceses, que instigaram os povos oprimidos a levantarem-se contra seus amos e governantes. Contudo, foi a opressão francesa  sob Napoleão que provocou reações nacionalistas na Espanha, na Rússia, no Tirol e, por último (depois de 1807, na Alemanha. Ela foi uma das causas do nacionalismo do final do século XIX. 
            Apesar de tudo, não se deve exagerar a força do nacionalismo na primeira metade do século XIX. Até 1866, a maioria dos alemães e italianos tinham mais interesse pelos seus governantes e cultura provinciais (bávara, de Hesse,  toscana, emiliana) do que pelo ideal da unidade nacional. Somente onde havia governos estrangeiros surgiam protestos exaltados, principalmente das classes médias (advogados, professores e comerciantes). Na Itália contra a Áustria, na Irlanda contra a Inglaterra, na Bélgica contra a Holanda, na Grécia contra a Turquia, na Polônia contra a Rússia e na Noruega contra a Suécia. Estes protestos poucas vezes afetavam as massas camponesas, isto é, o grosso da população européia da época. Inclusive o Império Otomano - apesar do incompetente governo turco, cada vez mais corrupto e opressivo, e do ressentimento dos cristãos contra o poder absoluto dos muçulmanos - havia uma pequena oposição nacionalista ativa,exceto na região que, durante a década de 1820, seria convertida no centro da Grécia moderna. No vasto Império Austríaco, que governava uma grande variedade de nacionalidades, somente se mostraram inquietos os tchecos e os húngaros; ambos os povos, orgulhosos de um passado independente, buscavam a autonomia dentro do império e não a independência nacional.
           Por outro lado, depois da derrota de napoleão em 1815, as potências vitoriosas mostravam-se hostis às aspirações nacionalistas, que associavam, com razão, ao liberalismo e viam como uma ameaça à autoridade constituída. No Congresso  de Viena, as potências adotaram, sob a influência da Talleyrand e Metternich, o princípio da "legitimidade" como base para retraçar o mapa da Europa. Metternich pensava que a qualquer concessão ao nacionalismo seria fatal para a Áustria e resistiu em todas as frentes até 1848. Nesse período, somente a Grécia e a Bélgica (1830) conseguiram a independência e, em ambos os casos, existiam circunstâncias, em particular, a rivalidade  das Grandes Potências. Em outras partes, como a Polônia (1831 - 1846), na Alemanha  (1848), na It´palia (1848) e na Hungria (1849, devido a desacordos internos e à solidariedade das potências conservadoras, os levantes nacionalistas  fracassaram. O poloneses, dispersos em três  impérios, continuaram sendo um povos submetido até 1918/19. Os húngaros, entretanto, aproveitando a debilidade austríaca em sua guerra contra a Prússia, usaram de habilidade para obter o mesmo status que a população de idioma germânico, segundo o  Ausgleich (compromisso de dualidade austro-húngaro) de 1867. 
           Na Itália e na Alemanha, o provincianismo e a apatia foram superados pelas políticas expansionista do Piemonte e da  Prússia. Depois de 1854, a nova geração de estadistas europeus não conseguiu preservar a antiga ordem, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento comercial e industrial dava um novo impulso ao desejo de unidade nacional. A nacionalidade emergiu, então, como uma força estabilizadora;isto é, pensava-se que os Estados nacionais unificados não teriam maiores ambições e alguns apóstolos do nacionalismo, como Mazzini (1805 - 1872),  prognosticavam uma nova era na qual os estados nacionais, uma vez estabilizados, cooperariam pacificamente numa federação democrática de povos. Depois de 1870, ficou claro que isso era uma ilusão. É certo que antes de 1918 os tchecos da Boêmia haviam aspirado mais do que a autonomia dentro do Império dos Habsburgos e que os eslavos da Bósnia e Herzegovina se conformavam em trocar o domínio turco pelo austríaco, mas apesar disso as ideias nacionalistas se propagavam rapidamente, em especial entre os povos dos Bálcãs. Ainda que o critério básico da nacionalidade fosse o idioma, os grupos linguísticos estavam tão entremeados que uma divisão baseada na língua era absolutamente impraticável, sobretudo na península dos Bálcãs. Por outro lado, aqueles que desejavam recuperar seus irmãos perdidos há tempos nem sempre reconheciam o idioma como o único critério de nacionalidade. Na Macedônia, os gregos, os sérvios e os búlgaros estabeleceram demandas nacionalistas muito conflitantes e, do mesmo modo que os nacionalistas do Império Habsburgo, expressaram-nas em termos de folclore, da literatura, da história nacional e das teorias raciais e linguísticas. Em consequência, por volta de 1913 os turcos haviam perdido quase todas as colônias na Europa. As preocupações nacionalistas, entretanto,não estavam confinadas somente aos Impérios Turco ou Habsburgo: a Grã-Bretanha tinha problemas com a irlanda e a Noruega exigia sua separação da Suécia.
             O sistema de alianças que existia antes da guerra não contribuía para melhorar esta situação. No ano de 1872, para isolar a França, realizou-se a Aliança dos Três Imperadores ( Alemanha, Rússia e Áustria), que foi renovada em 1881. Uma ano mais tarde, em 1882, formou-se a Tríplice Aliança, mas desta vez entre a Alemanha, a Áustria e a Itália. Em 1891, devido aos problemas nos Bálcãs, a Rússia afastou-se da Aliança dos Imperadores e, em 1894, assinou um tratado com a França. 
           A Inglaterra, que manteve uma política de isolamento no continente, estabeleceu uma "Entente Cordial"com a França em 1906, que terminaria por se converter na Tríplice Entente em 1914. 
            Estes blocos se enfrentavam na guerra e a perda do caráter das alianças e sua pouca flexibilidade tornara impraticável um entendimento que desse como resultado a paz. 
                Os tratados de paz de 1919 apoiaram-se numa série de pactos e alianças, que tinham como objetivos principais: que a Alemanha tratasse de reverter o veredito da Primeira Guerra Mundial; levantar um "cordão sanitário"contra os bolcheviques da Rússia; conservar os ajustes territoriais na Europa Oriental e evitar a revisão  dos tratados, sobretudo os da Hungria. O mapa da Europa mudou radicalmente e mostra claramente a posição chave da França aliada à Polônia, como principal pilar da Pequena Entente e o relativo isolamento dos dois "intrusos", isto é, a Alemanha (que somente recuperou a liberdade de ação depois de 1934) e a União Soviética.
              A queda das Potências Centrais no outono de 1918 e os tratados de paz que os aliados assinaram posteriormente - o de Versalhes com a Alemanha (28 de junho de 1919), de Saint Germain com a Áustria (10 de setembro de 1919), Neuilly com Bulgária (27 de novembro de 1919) e de Trianon com a Hungria (4 de junho de 1920) - deram origem a importantes mudanças nas fronteiras. Criaram-se novos Estados e expandiram-se os que tiveram a sorte de permanecer ao lado dos vencedores. Estes novos Estados foram a Finlândia, a Estônia, a Letônia e a Lituânia (todos independentes da Rússia, seu antigo senhor); a Polônia (reconstituída a partir dos restos dos três impérios que participaram de sua divisão no século XVIII); A Tchecoslováquia, que abrangia as antigas "Terras da Coroa" dos Habsburgos: Boêmia, Morávia e Silésia, junto à Eslováquia e a Rutênia dos Carpatos, ex-território húngaro; e a Iuguslávia, que reagrupou os territórios dos antigos reinos independentes da Sérvia e Montenegro, as terras da ex-coroa croata, as ex-províncias turcas da Bósnia e Herzegovina e as províncias dos Habsburgos na Eslovênia e Dalmácia. A Romênia teve uma enorme expansão territorial, recebendo a Transilvânia, a Bucovina , a Bessarábia e a Dobrudja meridional, que pertenceram respectivamente à Hungria, Áustria,  Rússia e Bulgária. A Itália se anexou o sul do Tirol (Alto Adige) e Trieste, a ex-província da Istria dos Habsburgos. A França recuperou a Alsácia e Lorena e a Belgica guardou para si as pequenas regiões de Eupen e Maldédy. Os plebiscitos que se realizaram nas regiões disputadas da Alta Silésia, Marienwender, Allenstein e  Schleseig terminaram em soluções relativamente  satisfatórias a partir do ponto de vista étnico, apesar de os poloneses terem feito grandes esforços para anexar a Alta Silésia pelas armas. 
            Em todos os demais assentamentos, os elementos étnicos ficaram tremendamente insatisfeitos. Os descontentamentos espalharam-se por todo o mapa da Europa do leste, salvo em algumas  regiões fronteiriças entre a Grécia e a Turquia, onde, no final da guerra grego-turca de 1920/22, negociou-se um grande intercâmbio de populações. Dantzig e os territórios da Sarre ficaram  sob a soberania do Alto Comissariado da Liga das Nações, e o Sarre foi devolvido aos alemães em virtude de um plebiscito realizado em janeiro de 1935. A paz com a Turquia foi adiada até a assinatura do Tratado de Lausanne em 24 de julho de 1923, devido à dificuldade que tiveram os aliados para impor condições a um renascente movimento nacionalista turco, apesar de obterem o apoio dos gregos. A colonização na fronteira oriental da Europa teve de esperar o triunfo dos bolcheviques na guerra civil russa, o rechaço à invasão da Rússia pela Polônia e a invasão da Polônia pelos soviéticos. As potências ocidentais propuseram uma mediação para estabelecer a fronteira na Linha Curzon (Conferência de Spa em julho de 1920).  Finalmente, a fronteira fixada em virtude do "Tratado de Riga", em outubro de 1920, deixou em território polonês uma minoria bastante significativa  de russos brancos e ucranianos. 
           A destruição do império dos Habsburgos,o desarmamento da Alemanha e as consequências da revolução e da guerra civil russa alteraram por completo o equilíbrio do poder na Europa. Teoricamente, em termos de população e de capacidade industrial, a Alemanha ficava sem contrapeso na Europa Central. A única esperança dos países que podiam perder com uma revisão dos tratados de paz era que a aliança mantivesse uma força militar avassaladora, capaz de enfrentar qualquer ressurgimento do poderio alemão. A França tratou de manter a Alemanha em seus limites, assinando alianças  com os novos Estados da Polônia e da Tchecoslováquia e recorrendo ao tema das reparações de guerra. Entretanto, os esforços da França por instigar um movimento separatista na região do Reno e sua ocupação na região do Ruhr, em 1923, para obrigar a Alemanha a pagar reparações de guerra, foram desastrosos. A partir desse momento, a Alemanha e a França se aproximaram mais e o Tratado de Locarno em 1925 estabeleceu um sistema de garantias ao longo das fronteiras franco-alemã e belga-alemã. A Alemanha incorporou-se à Liga das Nações em 1926, mas ao mesmo tempo assinou um pacto de amizade e de não agressão com a União Soviética; as tropas francesas e inglesas que ocupavam a região do Reno foram retirando-se sistematicamente e as potências europeias iniciaram conversações para chegar a um acordo de desarmamento mundial. 
              Apesar de todas essas providências, o equilíbrio continuou precário. Em 1929, a Europa aparentava ter, pelos menos superficialmente, um sistrema estável  que constituía uma garantia contra qualquer conflito bélico pelas sanções estabelecidas no Pacto da Liga das Nações. Entretanto, ficou demonstrado o quão ilusória era esta segurança quando a conquista de Vilna (Lituânia) pela Polônia já  em 1920, e  a ação naval da Itália contra a ilha grega de Corfu, em 1923, ficaram impunes. Outras fraquezas eram a falta de estabilidade da política interna de muitas das potências europeias, sobretudo na Europa Oriental, e a fragilidade do sistema econômico internacional. A tensão causada pela guerra de 1914 a 1918 e as imperfeições dos acordos de paz, assim como os importantes e< às vezes, desastrosos surtos inflacionários produzidos pelos ajustes, juntaram-se para fortalecer os grupos, partidos e movimentos antiparlamentares e revolucionários, tanto de esquerda como de direita, que saíram fortalecidos da guerra. A revolução Russa levou à formação de uma Terceira Internacional Socialista (Komintern). A insistência da Rússia em que todos os movimentos e partidos que se afiliassem a ela tinham de seguir suas instruções e modelo de organização dividiu os partidos socialistas da Europa em facções rivais; esta divisão, entre os socialistas parlamentares e os comunistas revolucionários, tornou inevitável sua derrota pela direita. Alguns dos novos regimes e movimentos se organizaram sobre a base de ideias totalitárias nacionalistas, de acordo com o modelo do fascismo italiano, que alcançou o poder em 1922. Outros (Polônia, Iugoslávia e Grécia) foram simples tiranias militares burocráticas. na Alemanha, levantamentos armados e distúrbios públicos generalizados criaram um ambiente de guerra civil incipiente, até a recuperação econômica em 1924. A Grã-Bretanha sofreu uma série de greves que culminaram na Greve Geral em 1926; a Irlanda se viu assolada, entre 1919 e 1922, por uma violenta guerra de guerrilha entre as forças nacionalistas, que formaram o seu próprio governo clandestino em 1919, e as forças armadas inglesas. O entendimento de 1921 manteve o Ulster, reduto dos leais e protestantes, sob o poder do governo britânico e converteu a Irlanda em um domínio do império, mas originou um doloroso confronto dentro do Novo estado Livre da Irlanda entre radicais e moderados, que somente foi resolvido em 1923. 
             A estabilidade dos anos 1925 a 1929 foi mais aparente que real e, com o início da depressão financeira e econômica, o caos retornou à Europa. O desemprego aumentou de forma dramática na Alemanha e na Grã-Bretanha. Na Alemanha, os movimentos antiparlamentares de direita e de esquerda, nazistas e comunistas, incrementaram tremendamente seu poder depois de 1930. Na Alemanha, após o fracasso de Bruning, Papen e Schleicher em formar um governo nacional eficiente, Hitler foi nomeado chanceler em janeiro de 1933 e os nazistas começaram a absorver ou a abolir todos os demais partidos. Na Grã-Bretanha, por outro lado, um governo "nacional", que obteve uma grande maioria nas eleições gerais de 1933, manteve o controle parlamentar. 
             Com a vitória de Hitler e a fragilidade econômica da Grã-Bretanha e a da França (onde o governo de Daladier foi deposto em 1934 por violentas manifestações de direita), o precário equilíbrio de paz da Europa ficou irremediavelmente prejudicados. A Primeira Guerra Mundial não somente destruiu os três principais impérios europeus, bem como desprestigiou o sistema econômico e político existente. os novos Estados herdaram como governantes os opositores parlamentares das antigas autocracias, que assumiram a responsabilidade pela derrota e o caos econômico que se seguiu. Para a direita eram traidores; para a esquerda, arautos da recessão econômica e do desemprego. Inclusive onde os regimes parlamentares sobreviveram à inflação desenfreada e ás desordens civis que tiveram lugar entre os anos 1919 e 1923, não foram capazes de  suportar as tensões de uma nova depressão. Além disso, a organização da cooperação internacional recentemente criada, a Liga das Nações, ainda com a incorporação da União Soviética em 1934, não pode resistir á pressão dos poderes que a formavam. Os povos da Europa sofreram demasiadas mudanças e desastres a partir de 1914. Não é de se estranhar, portanto, que tanta gente tenha acreditado nas promessa de um governo autoritário sem perguntar seus objetivos nem pedir credenciais a seus líderes. 
              
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

OS PROBLEMAS ENTRE ISRAEL E PALESTINA

 



            A partir do ano 1945, o Oriente  Médio passou por uma situação de agitação  quase permanente e, sobretudo na última década, observou-se  um grande aumento  da violência e do sofrimento humano. Quase todos os governos da região foram extremamente autocráticos ou na forma de ditaduras militares; a maioria das regiões revelou-se repressiva com as comunidades minoritárias, os dissidentes políticos  e, inclusive, com as organizações políticas.   
            Imediatamente após a Segunda Guerra mundial, um misto de cansaço, depressão econômica e oposição interna obrigaram à Grã-Bretanha e a França  a abandonarem de forma gradual o controle sobre a região. Estas mudanças foram acompanhadas de um crescente nacionalismo, continuando na década de 50, e que junto com o fim do isolamento soviético impulsionou os estados Unidos a interessarem-se mais ativamente  pelos assuntos do Oriente Médio. A "Doutrina Eisenhower (1957) prometeu ajuda norte-americana aos regimes supostamente  ameaçados pela agressão soviética.  As intimidações  veladas e abertas dos estados Unidos, sobretudo na Jordânia em 1957 e no Líbano em 1958, incitaram os outros Estados a estabelecer relações  políticas e militares mais estreitas entre si e com a União Soviética. 
             Nos anos de 1950 e 1960, os estados Unidos converteram-se na influência externa mais poderosa do Oriente Médio, utilizando o temor à expansão soviética como pretexto para aumentar seu apoio a Israel, que junto com Arábia saudita e ao Irã (até 1979) representaram  os interesses norte-americanos na região. A instabilidade inerente dos Estados revolucionários" (Egito, Iraque e Síria) tornava-os sócios pouco confiáveis para a União Soviética. Os países árabes não podiam aliar-se de forma efetiva contra Israel, em parte porque deviam manter suas tropas regulares em suas capitais em épocas de crise para sustentar seus regimes impopulares. 
            A criação do Estado de Israel provocou um clima de  guerra com os árabes palestinos. Por causa do conflito, dois terços da população árabe tiveram de abandonar seus lares. Em 1948, soldados israelenses celebravam o estabelecimento do primeiro Estado judeu na Palestina desde a conquista romana. Israel prosperou graças às diferenças entre os países árabes, especialmente à medida que evidenciou-se, nos anos 70, que a União Soviética não estava disposta a se arriscar em uma confrontação com Israel. A invasão do Afeganistão em 1979, considerada a ação militar de maior envergadura da União Soviética, foi uma aberração mais onerosa  do que sintomática de uma política global. 
          Durante séculos, a Palestina foi povoada  por uma maioria muçulmana de idioma árabe e por minorias cristãs e judaicas, mas no final do século XIX, as proporções começaram a mudar à medida que os judeus da Europa Oriental passaram a migrar, devido à pressão da perseguição russa e movidos pelo novo ideal sionista de voltar a formar um estado nacional judeu. Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, o governo britânico declarou que era partidário da criação de uma pátria judaica na Palestina, desde que a situação da população não-judaica não fosse prejudicada. Estas duas condições ficaram assinaladas no mandato em virtude do qual a Grã-Bretanha administrou o país, sujeito à supervisão da Liga das Nações.  Mas tais condições tornaram-se difíceis de conciliar, sobretudo depois que Hitler chegou ao poder e devido ao aumento considerável da emigração judaica a partir da Europa. Os temores árabes deram lugar a um grave insurreição antes da Segunda Guerra Mundial. Após a gurra e o holocausto dos judeus europeus, houve a exigência de que se permitisse aos sobreviventes  imigrar. A pressão norte-americana em apoio a esta medida e o temor dos árabes de que a imigração conduzisse ao domínio ou ao despojo obrigaram o governo britânico a declarar sua intensão de  retirar-se da região. 
              No dia 29 de novembro de 1947, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou um plano de divisão da palestina em dois Estados, um árabe e outro judeu, em virtude do qual Jerusalém ficaria sob controle internacional. O plano foi recusado pelos árabes. No dia em que as tropas inglesas se retiraram, em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclamou o Estado de Israel e em seguida eclodiu uma guerra entre judeus e árabes palestinos apoiados pelos Estados árabes vizinhos, cujos exércitos  foram derrotados. A maior parte da Palestina passou a ser o Estado de Israel; o restante foi juntado com a Transjordânia, para converter-se em Jordânia, e a Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito. Durante e após a luta, dois terços dos árabes palestinos passaram a ser refugiados na Jordânia, em Gaza, na Síria e no Líbano, que foram substituídos, em sua maioria, por imigrantes judeus provenientes do norte da África e do Oriente Médio. Entretanto, depois de 1948, os refugiados palestinos manifestaram seu desejo de voltar e ter seu próprio Estado; Israel negou-se a ouvir  as  demandas dos palestinos e os estados árabes negaram-se a reconhecer Israel. Estes fatores, junto com a intervenção das forças externas, tiveram como consequência três guerras: em 1956, os israelenses, após sofrerem crescentes incursões guerrilheiras, atacaram o Egito, em conivência com a Grã-Bretanha e a França, mas foram obrigados a retirar-se pela pressão dos estados Unidos e da Uni]ão Soviética;em junho de 1967, os israelenses mobilizaram-se para evitar a ameaça que representa o fechamento dos Estreitos  de Tiran ao tráfego naval israelense por Nasser e ocupou a margem ocidental do Rio Jordão (depois que a Jordânia se aliou ao Egito). O Sinai e as Colinas de Galã, na Síria; em 1973, um ataque egípcio e sírio contra Israel não teve êxito militar e abriu uma nova etapa de negociações. O presidente Sadat, do Egito, não desejava continuar a luta e sua visita a Jerusalém (em novembro de 1977), seguida pelos acordos árabe-israelenses de Camp David (1978), assim confirmou a sua intensão. Entretanto, o governo do partido Likud, liderado por Begin, começou a endurecer sua posição em relação àq margem ocidental (que diziam formava parte do Israel bíblico), aumentando consideravelmente os assentamentos nessa região. O centro do conflito mudou-se em 1978, quando Israel invadiu o sul do Líbano para reagir à atividade guerrilheira Palestina da OLP, e as forças israelenses chegaram a Beirute no verão de 1982.  
          O sistema político libanês baseia-se na distribuição de cargos entre as diversas comunidades (moronita, ortodoxa, católica, cristãos armênios, sunitas, muçulmanos xiitas e drusos) de maneira tal que assegure o predomínio dos maronitas, ainda que na década de 70 não fosse a maior comunidade. As forças de oposição uniram-se aos guerrilheiros palestinos (OLP) em meados dos anos 70 para tentar obrigar os maronitas a aceitar a criação de um Líbano democrático e secular, mas as duas forças foram controladas graças à intervenção da Síria em 1976. Posteriormente, o Líbano se converteu no principal cenário do conflito árabe-israelense. O país foi ocupado de forma permanente por tropas sírias e as forças israelenses  o invadiram duas vezes: em 1978 e,em maior escala, em 1982, quando expulsaram a OLP de Beirute. A retirada de israel, em 1985, não serviu para controlar a reorganização, de fato, do países os conflitos entre facções - nas quais a força xiita de Amal e Hezbolá tiveram um papel preponderante - continuaram até fins da década de 80. 
            O conflito "árabe-israelense", dominou a política do Oriente Médio a partir  de 1948. Da mesma maneira que as quatro guerras mais importantes entre os países árabes e Israel, o conflito se transferiu para o Líbano, devido ao grande número de palestinos que vivem neste país e porque a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) usou-o como base para operações guerrilheiras contra Israel desde 1948. A partir de sua fundação, Israel estendeu suas fronteiras de 1948 em direção à margem ocidental do Rio Jordão e a Gaza (1967), à Península  do Sinai (1956, 1967, 1982), às Colinas de Galã (em 1967 e oficialmente incorporadas a Israel em 1981), controlando grandes áreas do sul do Líbano desde 1978. A visita do presidente egípcio Anuar el-Sadat a Israel em 1977 e o tratado bilateral entre ambas as nações assinado posteriormente resultavam na devolução da Península do Sinai para o Egito em 1982. Israel justificou esta expansão territorial e a criação de um grande número de assentamentos na margem  ocidental ocupada, declarando que necessitava assegurar suas fronteiras e proteger seus cidadãos contra os ataques guerrilheiros. Cerca de 300 israelenses morreram em consequência destes ataques entre 1967 e 1982, alguns em incidentes particularmente bárbaros, como o massacre de Maalot, em março de 1978, onde a maioria das 34 vítimas e 78 feridos eram crianças. Entretanto, na invasão do sul do Líbano, como represália, 2 mil civis palestinos e libaneses foram mortos, e entre 15 e 20 perderam a vida nas operações em torno de Beirute nos meses de junho e agosto de 1982. 
            Apesar  de que a tônica no conflito árabe-israelense foi a violência, também se obtiveram algumas importantes aproximações como os acordos de paz de "Camp David", nos quais participaram o primeiro-ministro israelense Manahem Begim e o presidente egípcio Anuar el-Sadat, em Jerusalém, no ano de 1977, e pelos quais ambos dividiriam o Prêmio Nobel da Paz em 1978. 
           O caminho da paz, na verdade, continuou difícil. os momentos de tranquilidade diminuíram  entre árabes e israelenses; em 1987, a OLP convocou o levante palestino nos territórios ocupados e a luta desigual que sustentou com o Exército israelense  atraiu novamente a atenção do mundo. A Intifada criou uma situação desagradável para Israel; a guerra não convencional e não declarada o obrigou a radicalizar as medidas repressivas, que resultaram na deterioração de sua imagem internacional e desgastou a moral nos territórios ocupados de Gaza e Cisjordânia. Iniciando a década de 1990, a realidade da sociedade israelense, com a rebeldia da juventude, os movimentos pacifistas, a crise econômica, a desilusão militar e o desejo de finalizar a guerra por parte da maioria silenciosa, abriu caminho, nos setores mais progressistas, à ideia de trocar a paz por terra, que não foi compartilhada pleos setores conservadores. 
             As mudanças sofridas pelo mundo nos últimos tempos alteraram a situação árabe-israelense. A queda da União Soviética como potência rompeu a bipolaridade e deixou sem apoio os aliados árabes da ex-URSS e a OLP, que contava com suas simpatias, modificando assim a situação no Oriente Médio. 
            A Guerra do Golfo  foi outro pólo desestabilizador. Israel teve de suportar ser alvo dos mísseis do líder iraquiano Saddam Hussein, sem responder a eles em respeito aos novos amigos dos norte-americanos. Mas quem mais perdeu com o resultado da Guerra do Golfo foi a OLP e Yasser Arafat, que se alinharam junto ao derrotado Hussein e perderam com isso a amizade e ajuda financeira tanto dos Emirados  como da Arábia Saudita, provocando a crise na organização. Todos estes acontecimentos tornaram compreensível a análise "realista" tanto israelense como palestina, que os aproximou a um acordo que antes parecia inaceitável. 
              Em setembro de 1993, o líder da OLP, Yasser Arafat,  e o trabalhista Yitzhak Rabin, que subiu ao poder em Israel em 1992, dispuseram-se a negociar: primeiro em Oslo, depois em Túnis e Jerusalém, até que em Washington, israelenses e palestinos chegaram a um acordo de paz. O Acordo "Gaza e Jericó primeiro" não resolveu todos os problemas que arrastavam décadas de guerra; não existia compromisso da criação de um Estado palestino, nem consignava a situação de Jerusalém ou das fronteiras, mas a autonomia restringida implicava na retirada antecipada das tropas israelenses da Faixa de Gaza e da Cisjordânia de Jericó. Apesar das negociações continuarem, o acordo de paz subscrito em Washington, no dia 13 de setembro de 1993, entre Arafat e Rabin, representou o primeiro passo. 
            Nas últimas décadas foram feitos esforços para solucionar os problemas da pobreza e do subdesenvolvimento da região. Mesmo quando foram dados grandes passos em matéria de saúde, educação e serviços de bem-estar social  em muitos países, a combinação de políticas estaduais e a crescente inflação tenderam a aumentar as diferenças entre ricos e pobres. A rapidez das mudanças, a ideia de que o Ocidente e a "modernização" são culpadas por muitos males contemporâneos e a falência moral e ideológica da maioria dos regimes políticos uniram-se para criar um sentimento de perplexidade e impotência. Portanto, não é de estranhar  que grande parte dos jovens e migrantes sintam-se frustrados pela prática de um tipo de "islamismo político". 

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

ASCENSÃO DO NACIONALISMO NA EUROPA

 






         A Revolução Francesa, ao destruir  o antigo regime, foi o grande catalizador  das mudanças na Europa. Os exércitos revolucionários espalharam não apenas o lema "liberdade, Igualdade e Fraternidade", mas também as idéias de liberalismo, auto-governo e nacionalismo, que se tornaram os principais temas da história européia do século 19. Mesmo antes de 1789, como reação do espírito racional do iluminismo, escritores como Helder (1744/1803) enfatizaram o sentimento de identidade nacional. O Estado, porém, ainda era considerado um patrimônio dinástico a que nobres de menor importância deviam obediência e fidelidade. este conceito foi questionado  pelos governos revolucionários franceses que incitavam os povos oprimidos contra  seus senhores e governos. O regime  opressivo de napoleão Bonaparte provocou reações nacionalistas na Espanha, Rússia, Tirol e, após 1807, na Alemanha. 
           No início do século XIX, o espírito nacionalista  não era tão intenso. Até 1866, a maioria dos alemães e italianos vinculava-se mais a suas cultura provinciais (bávaros, toscanos, emilianos) do que a um ideal de  unidade nacional. Os protestos limitavam-se às regiões sob o domínio estrangeiro, vindos da classe média (advogados, professores, homens de negócio): na Itália, contra a Áustria; na Irlanda, contra a Inglaterra; na Bélgica, contra a Holanda; na Grécia, contra a Turquia; na Polônia, contra  a Rússia; na Noruega, contra a Suécia. Raramente tais protestos chegavam às massas camponesas, ainda a maior parte da população. Mesmo no Império Otomano, apesar  do opressivo e progressivamente incompetente governo turco e do ressentimento dos cristãos contra a arbitrariedade dos  muçulmanos, havia pouca resistência nacionalista. A exceção era a região que, na década de 1920, constituiria a moderna Grécia. No Império Austríaco, que abrangia inúmeras nacionalidades, apenas os tchecos e húngaros mostravam-se rebeldes.  Mas eles buscavam não a independência, mas a autonomia dentro do império. 
          Após a derrota de napoleão em 1815, as potências vencedoras se posicionaram contra aspirações nacionalistas, que associavam ao liberalismo e viam como ameça  ao poder constituído. No Congresso de Viena, sob influência de Talleyrand e Meternich, foi adotado o princípio da "legitimidade" para redesenhar o mapa da Europa. Para Metternich, concessões ao nacionalismo  seriam fatais para a Áustria e contra isso se opôs até 1848. Neste período, só a Grécia e a Bélgica (1830) alcançaram a independência. As revoltas nacionalistas fracassaram na Polônia (1831 e 1846), Alemanha (1848), Itália (1848) e Hungria (1849), devido a dissidências internas e à solidariedade entre os poderes conservadores.  Os poloneses, dispersos por três  impérios, continuaram dominados até 1918/19. Já os húngaros, aproveitando os pontos  fracos da Áustria na guerra com a Prússia, alcançaram posição semelhante à da população de língua  alemã do "Ausgleich" (compromisso) de 1867. 
             Na Itália e na Alemanha, o provincianismo  e a apatia foram sobrepujados pelo expansionismo do Piemonte e da Prússia. Após 1848, a nova geração de estadistas europeus deixou de defender a antiga ordem e a expansão industrial impulsionou os anseios  de unidade nacional. O Nacionalismo passou a ser visto como uma força estabilizadora. Defensores do  nacionalismo, como Mazzini (1805/72), previam uma nova era em que nações unificadas  cooperariam pacificamente, formando federações democráticas  entre os povos.  Após 1870, tornou-se evidente que isto era uma ilusão. Ainda que seja verdade que os Tchecos da Boêmia nunca tenham, antes de 1918, desejado mais do que a autonomia dentro do Império dos Habsburgos e que os Eslavos da Bósnia-Herzegóvina tenham ficado satisfeitos em trocar o domínio austríaco pelo turco, as ideias nacionalistas logo se difundiram, especialmente entre os povos balcânicos. Embora o critério básico para definir a nacionalidade fosse a língua, grupos linguísticos estavam tão misturados que a separação pelo idioma era quase impossível, principalmente na península  balcânica. As divisões linguísticas raramente podiam ser estabelecidas com precisão e as fronteiras políticas deixaram muitas vezes minorias linguísticas, e até mesmo maiorias, sob o domínio estrangeiro. Algumas línguas eram muito dispersas. Entre elas podemos destacar o servo (ou vênedo, lusácio  na Prússia e saxônia; o masuriano, na Prússia Oriental; o valáquio, na Macedônia, Epiro e Transilvânia; o galego, dialeto português, na Gália, Espanha; e o iídiche, falado por parte dos judeus. Havia cerca de 5 milhões de judeus na Europa, muitos em grandes cidades, mas a maioria vivendo em guetos (Lituânia, Rússia, Polônia , Ucrânia, Bessarábia e Crimeia). 
          Na Macedônia, gregos, sérvios e búlgaros, assim como os nacionalistas Habsburgos, reivindicavam a inclusão, na construção do mito de nacionalidade, de tema como folclore, literatura, história nacional,  teorias linguística e racial. Como resultado  dessas ações nacionalistas, em 1913, os turcos haviam perdido quase todas as possessões na Europa.  As inquietações nacionalistas não estavam restritas aos impérios Turco e dos Habsburgos. A Grã-Bretanha enfrentou "distúrbios" na Irlanda e a Noruega exigiu a separação da Suécia. 
             As atividades nacionalistas dos sérvios na Bósnia e a decisão da Áustria-Hungria de combatê-las foi a causa mais imediata da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918). Esta guerra levou à desagregação dos impérios dos Habsburgos. Alemão e Russo e à formação da Tcheco-Eslováquia, Polônia, Iugoslávia, Hungria, Estônia, Letônia e Lituânia.  Ainda que constituídos dentro do princípio da autodeterminação nacional, dois desses Estados, a Tcheco-Eslováquia  e a Polônia, abrigavam grande contingente de alemães, cujo resgate tornou-se objeto da política alemã. 
            A partir do  final do século XVIII, os russos incentivaram levantes nas províncias turcas dos Bálcãs. As grandes potências, temendo o domínio russo no Oriente Médio e desejando mantes o império Otomano, esforçaram-se em pacificar os Bálcãs, obtendo concessões para eslavos, gregos e romanos. Após a Guerra da Crimeia, em 1856, impuseram um acordo para a Rússia e a Turquia. Em 1878, no Congresso de Berlin, reconheceram a independência da Sérvia, Montenegro e Romênia, mas reduziram o território que o Tratado Pan-Eslavo de San Stefano havia determinado para o novo Principado da Bulgária. Essa convulsão política mostrou às potências a rivalidade entre os povos da península balcânica e a Incompatibilidade de suas próprias ambições para aquela região. No 30 anos seguintes, apesar das crescentes discórdias religiosas e raciais na  Macedônia e da guerra greco-turca de 1897, as potências defenderam a configuração territorial existente, buscando pacificar os Bálcãs cristãos através de um programa de reforma administrativas sob a supervisão de austríacos e russos. mas a anexação da Bósnia pelo Império Austro-Húngaro (1908) reavivou o nacionalismo e destruiu a unidade das potências.  Em 1912, os países balcânicos formaram uma liga para expulsar os turcos da Macedônia. Após a  vitória, porém, reacenderam-se antigas rivalidades. A Segunda Guerra Balcânica deixou em poder da Sérvia e da Grécia a maior parte da Macedônia e partes da Albânia. 


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domingo, 13 de dezembro de 2020

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO RUSSO E SUA RECUPERAÇÃO --

 





              Durante 40 anos, após o Congresso de Viena, a Rússia foi a maior potência militar e em acordo com a Áustria e Prússia, usou a força para manter a ordem estabelecida em 1815. Grã Bretanha e França, porém, abandonaram os princípios que haviam inspirado o Congresso.   A opinião pública britânica abominava o absolutismo e a repressão do sistema russo, enquanto a França irradiava ideias revolucionárias. que ameaçavam as monarquias existentes. Para melhor compreender como aconteceu a decadência desse grande império é preciso saber dos últimos acontecimento de sua época de apogeu. 
               Após 1815, os interesses russos no Ocidente  concentravam-se nos Bálcãs e nos estreitos de Bósforo e Dardanelos, que ligavam o Mar Negro ao Mediterrâneo.  Os balcânicos da Turquia, eram, em sua maioria, eslavos ortodoxos e a Rússia se considerava  sua protetora. Como a Turquia ocupava os  dois lados do acesso da Rússia ao Mediterrâneo, era essencial que Constantinopla fosse favorável aos russos.   Mas França, Áustria e Prússia alimentavam ambições nessas regiões e a Grã-Bretanha  opunha-se a qualquer expansão russa. Em 1841, a Convenção Internacional dos Estreitos fechou o Bósforo aos navios de guerra  russos. Em 1853, a Rússia invadiu as províncias turcas do Danúbio e ganhou o controle do Mar Negro. Em 1854, Gã-Bretanha  e França invadiram a Crimeia. Enquanto isso, a Áustria, após conseguir a retirada dos russos, colocou suas tropas nos Bálcãs. Incapaz de desalojar os invasores, a Rússia, em 1850, aceitou os termos da Paz de Paris; nenhuma força naval nem bases seriam mantidas no Mar Negro. 
              Em 1877 as revoltas dos eslavos balânicos e a repressão pelos turcos provocaram nova invasão russa nos Bálcãs. Diante da oposição unânime das grandes potências, mais uma vez a Rússia  recuou. E no Congresso de Berlim (1878), mesmo tendo libertado os eslavos ortodoxos da opressão, a Rússia ficou isolada, enquanto os frutos da vitória foram para a Áustria ou Turquia.
                 Embora as ações da Rússia no Ocidente tenham falhado, sua expansão para o Oriente teve  êxito. O domínio militar sobre os nômades cazaques a leste do mar Cáspio foi garantido por fortaleza, desde Akmolinsk (1830) até Vernvy (atual -Almaty - Alma-Ata, 1854).
                Entre 1857 e 1864, ações nas montanhas completaram o controle russo do Cáucaso. Na Ásia Central foram subjugados os canatos uzbeques de Kokland, Bukhara e Khiva, os nômades turcomanos e os montanheses tadjiques e quirguizes. A Rússia adquiriu todo norte da Ásia e, para o interior, foi até a cadeia de montanhas que a separa da Pérsia, Afeganistão, Índia e China. A colonização da América do Norte continuou no século XIX, com a construção de fortalezas  ao sul, até a Califórnia (Fort Ross, 1812). Essa penetração durou pouco, mas o Alasca só foi vendido aos EUA em 1867. 
            No Extremo Oriente, os Tratados de Aigun (1858) e Pequim (1860) levaram a fronteira russa ao sul do rio Amur e, na costa do Pacífico, ao sul de Vladivostok (fundada em 1860). A região sul da ilha Sakhalina foi adquirida pelo Japão em troca  das ilhas Kirilas (1875). Em 1891, a ferrovia Transiberiana foi iniciada e, em 1898, a China alugou à Rússia Port Arthur (Lüshun), no mar Amarelo, que podia ser usado o ano todo. Uma ferrovia ligou-o à Transiberiana, concluída e, 1903. 
              A expansão russa, porém, chocou-se com os planos japoneses. As duas potências tinham interesses divergentes na Coréia e no sul da Manchúria, após a vitória japonesa sobre a China em 1894/95. Em 1904, após aliança com a Grã-Bretanha, o Japão atacou a Rússia, prejudicada por ter de lutar  longe de seus centros industriais. O Tratado de Portsmouth (1905) obrigou a Rússia a deixar a Manchúria e devolveu o sul de Sakhalina ao Japão. Essa derrota  no Oriente incentivou a revolução interna. Alexandre II (1855/81) havia iniciado reformas na década de 1860, para compensar o atraso revelado na Guerra da Crimeia; nova organização governamental ("zemstva"), reformas educacionais e mudanças radicais no sistema legal. Foi importante a emancipação dos servos, em 1861. Mas os camponeses, obrigados a ficar em suas comunidades de origem, sentiam-se lesados por ter de adquirir uma área menor do que a terra onde antes trabalhavam. Com o aumento da população rural, cresceu o desejo dos camponeses por mais terra. 
             No início do século XIX o grande Império Russo estava basicamente enfraquecido. Aquele poderoso e imenso Império já  não era mais um estado forte, pois, mesmo sendo rico, com inexorável patrimônio natural, agrícola e minerário, ele estava em decadência como um barco à deriva em mãos inexperientes.  Um sistema que, apesar de recente abolição da escravatura, ou seja, a servidão da gleba, conservava todas as características do regime feudal, com uma aristocracia soberba e um povo despido de qualquer direito cívico; um governo cego, ante o surgir de novas ideias;uma burguesia presa a superstições de uma época ultrapassada, uma agricultura primitiva, uma indústria pesada quase inexistente. Tal o estado da Rússia, nos últimos anos do século  XIX. A causa dessa anacronística situação política e social provocava, entre a juventude estudantil, ideias subversivas e até mesmo anárquicas. O governo tsarista reprimia, talvez debilmente, esses focos de revolta que, em geral,  não passavam de estéreis atos de violência, sem apresentar sequer um programa nem uma organização capaz de substituir o velho estado de coisas. Em todas as grandes obras narrativas russas da época (que deu ao mundo algumas dentre as maiores obras primas de todas as literaturas), percebe-se a impaciência de uma nova geração, sente-se que a massa, imóvel há séculos, já está movimentando; o regime dos Romannoff sustenta-se apenas por milagre, que ao primeiro choque sério ruirá inevitavelmente.
          Para a sorte do soberano e da classe  dominante, a revoltas ainda tinha um aspecto informe. Obrigada a permanecer na obscuridade, os grupos revolucionários não tinham ainda conseguido encontrar uma linha de conduta, nem um chefe. 
            Aquele Vladimir Ilitch Ulianov, que depois seria conhecido como  Nicolai Lenine, era então, apenas um jovem advogado, embebido de ideias marxistas e ninguém, mesmo quando foi ele processado e exilado para a Sibéria, poderia suspeitar nele o futuro animador da maior revolução social que a História  registra. Russo era, frise-se Bakunin, chefe dos anarquistas europeus; da Rússia fora para a Itália e jovem Ana Kulichoff, uma das maiores figuras do mundo anarquista, e depois socialista, da Europa. Mas o governo de Tzar não parecia levar não parecia levar a sério estes pioneiros débeis protestos de seu povo; nem mesmo quando, em 1905, diante do Palácio de Inverno de São Petersburgo, juntou-se uma enorme massa de operários, que gritavam, chefiados por um modesto e obscuro  padre finlandês, o "pepe" Gapon. Então, foi fácil às tropas repelir aquela multidão maltratada, com poucas descargas de fuzilaria. Mas, treze anos depois, aqueles tiros de fuzil seriam pagos com sangue. 
           Entrementes, também a política externa tal como os negócios internos iam à deriva. Depois da guerra sino-japonesa, vencida, como se sabe, pelas tropas do Sol Nascente, a Rússia interviria para diminuir o efeito da derrota chinesa, procurando bloquear a crescente influência do Japão no continente, especialmente na Coréia, para garantir bases militares e profícuas negociações na Manchúria. O episódio principal da guerra russo-japonesa foi a grande batalha de Tsushima. Os russos bateram-se com muita coragem o desprezo pela morte, mas a vitória sorria às naves japonesas, que foram favorecidas por improvisos nevoeiros e pela circunstância de que, aos primeiros tiros de canhão, ficara ferido o comandante em chefe da esquadra russa. 
           Durante  vários anos, as relações entre Rússia e Japão foram tensas, embora com alguns intervalos de tréguas de ambas as partes. Todavia, a Rússia demonstrou, por várias vezes, o desejo de não renunciar às suas idéias de expansão política e militar no Extremo Oriente, em aberto contraste com os precedentes acordos. 
        Finalmente, após longo tergiversar, em fevereiro de 1904, o Japão rompia bruscamente as negociações e, sem qualquer aviso diplomático, atacava, durante a noite, a frota russa ancorada na baia de Porto Artur, danificando-a. Parece que este sistema de atacar sem declaração de guerra, seja uma peculiaridade  oriental discutível, mas que produz, frequentemente, bons resultados. O fato é que, em poucas horas, a frota russa das águas chinesas foi destruída e os japoneses se tornaram senhores do mar, isto é, livres para desembarcar onde quisessem e de reabastecer suas tropas de ocupação. Porto Artur foi atacada por todos os lados pelas tropas do general Nogi, enquanto o corpo expedicionário, chefiado por Oiama, avançava, na Manchúria, contra o exército russo comandado por Kuropatkine. A guerra teve fazes alternadas de movimento e posições, mas não pôde jamais registrar um sucesso digno de nota. Em janeiro de 1905, caiu Porto Artur, após uma heroica defesa; em fevereiro, houve um choque decisivo, perto de Muken, na Manchúria, que terminou com a retirada dos Russos. 
           Desde outubro de 1904, a frota russa do Báltico, comandada pelo almirante Rodzestvensky, movera-se através dos oceanos, rumo ao mar do Japão. Ali chegou, após numerosas vicissitudes, em maio do ano seguinte, e ali, no estreito de Tsushima, encontrou, à sua espera, a esquadra do almirante Tojo. Foi um rápido massacre. os russos foram desbaratados até o último homem, enquanto o Japão se firmava, assim, ante o espanto dos Ocidentais, como uma das maiores potências do mundo. 
           O infeliz resultado da guerra contra o pequeno Japão, tornou muito impopular, na Rússia, Nicolau II, em que se via o responsável pela desgraçada situação do País. O Imperador e sua família estavam na residência estival de Tzasrkoie-Selo, que eles frequentavam até seu trágico fim. 
            A reação popular era inevitável. Em Leningrado, em 22 de janeiro de 1905, uma grande multidão de operários, chefiados pelo Pope Gapon, procurava apresentar-se ao Tzar, para levar-lhe algumas súplicas. A manifestação que, segundo as previsões da polícia, devia desenrolar-se tranquilamente, foi, porém, terminar de maneira trágica, porque as tropas, que estavam diante do palácio imperial, amedrontaram-se com a presença do povo, e começaram a atirar desordenadamente. Muitas mortes foram inevitáveis. 
            Depois desses acontecimentos, densas nuvens cobriam a Rússia em 1916. Suas grandes perdas diante dos germânicos, causaram manifesto mal estar entre o povo, e as revoltas que explodiram por toda parte eram sufocadas no sangue, pela polícia tsarista, com um rigor que beirava as raias da desumanidade. Já fazia mais de um século que a mocidade intelectual russa, orientada pelos anarquistas e pelos comunistas, não dava tréguas aos sustentáculos do regime. O mais importante desses movimentos tinha sido o de 1905, que impeliria Lenine a enunciar os princípios comunistas e que provocara levantes de operários e de tropas, ressaltando-se a famosa rebelião de marinheiros do couraçado "Potenkin". O fracasso desses motins e o exílio dos cabeças servira apenas para incentivar a criação de uma base mais sólida de propaganda, confiante nos fins pre-estabelecidos. Nesse estado de coisas, a guerra foi a faísca que provocou a explosão. A corte, entretanto, não deu a devida importância à onda que ia crescendo. O Tzar julgavas-se fortemente seguro em sua autocracia. Por esse tempo, a família imperial era dominada por singular figura de monge, de olhos acesos e longa barba; Gigorij Efimovic Rasputin, que passava das crises de misticismo ás mais clamorosas orgias, tendo conseguido sugestionar inteiramente a Tzarina e toda a corte. Homem de inegável engenho, Rasputin via na guerra uma ameaça direta ao regime e propugnava pela retirada da Rússia do conflito. A paradoxal situação medieval em que se encontrava a família imperial impressionou a nobreza e os parlamentares que procuravam induzir o Tzar a libertar-se daquele perigoso conselheiro. Foi necessária uma conspiração de nobres para liquidar o terrível monge que, apesar de envenenado, ferido com vários tiros de revolver, morreu somente por afogamento depois que o atiraram ao Neve. A imperatriz mandou erigir-lhe um majestoso túmulo, em Tsarkoe-Selo. 
           Isso tudo ocorreu em 1916. Meses depois, a revolução explodia em todo o seu furor. O Tzar foi levado  para Ecaterimburgo, com sua família. Sua abdicação em prol do arquiduque Miguel, seu irmão (seu filho e herdeiro estava gravemente enfermo)  não foi correta. O governo revolucionário provisório, constituído em 1917, não contava com bolchevistas, mas estes surgiram, vindos da Suíça, tendo á sua frente Lenine. Os alemães facilitaram-lhes o ingresso no país, dentro de um vagão blindado . Dos Estados Unidos, chegou outro grande revolucionário, Leão Trotzki. Ambos derrubaram o governo provisório, assumindo o poder. Para eles, a guerra era um absurdo, que devia cessar. Havia muito que fazer em sua pátria para que se pudesse continuar num conflito que custava sangue e milhões e que não levaria à Rússia vantagem alguma 
        Lenine e Trotzky foram os mais sólidos artífices da reviravolta política que envolveu o governo provisório revolucionário e levou ao poder os bolchevistas, ou seja, a ala extremista do partido. Trotzky, todavia, manifestou tendência mais moderadas. Trotzky foi o mais tenaz defensor da paz a qualquer custo. 
          Rapidamente foram iniciadas negociações com os  alemães - que assim viam, também concretizar-se o sucesso de suas manobras diplomáticas - e, cerca de um ano após o início da revolução, em março de 1918, foi assinada a paz, pelo tratado que recebeu o nome de Bresti-Litovski. 
        Os alemães se aproveitaram, como era lógico, da situação. Conheciam a desastrosa posição em que se encontrava o exército russo e sabiam que aos comunistas interessava a paz acima de tudo. Assim, privaram a Rússia das províncias das fronteiras e apropriaram-se de quanto puderam.
           A família imperial russa foi massacrada em Ecaterimburgo.  A terrível lógica da revolução exigia que desaparecessem os que poderiam ser o centro de uma futura reação. 
            No fim do século XIX, o governo iniciou  um programa de industrialização que priorizava as ferrovias para aperfeiçoar a defesa e reforçar a posição da Rússia na Europa, além de melhorar o transporte de pessoas e mercadorias. A meta principal era facilitar o deslocamento de tropas para a fronteira. O programa facilitou a migração de regiões superpovoadas da Rússia central para o oeste da Sibéria, assim como a ida de camponeses para áreas urbanas, ampliando o proletariado industrial. São Petersburgo e  Moscou tornaram-se centros têxteis e de manufatura em metal, enquanto o setor metalúrgico concentrou-se na Ucrânia. A população urbana cresceu de 6 milhões para 18 milhões entre 1863 e 1914. 
         Uma transformação econômica dessa  dimensão, num país atrasado, produziu descontentamento social e político. A insatisfação dos camponeses continuou e aumentaram os impostos e a pressão sobre a comercialização. Os trabalhadores passaram a protestar contra baixos salários e péssimas condições de trabalho. Os partidos revolucionários exploraram essa situação e novas classes profissionais exigiram uma reforma política. Depois da derrota na Guerra Russo-Japonesa, esse mal-estar culminou na revolução de 1905. O Czar Nicolau II (1894 - 1917) teve que criar um parlamento ("duma") e o primeiro-ministro Stolypin fez várias reformas. Em 1914, a Rússia foi arrasada pela Primeira Guerra Mundial. Após três anos, a inépcia política e militar e uma economia estrangulada provocaram a queda da dinastia Romanov. 
         A Revolução Russa de 1917 abriu nova época na história russa, transformando um país subdesenvolvido em superpotência industrial e militar, e mudou o padrão das relações internacionais. Acima de tudo, inaugurou a era das revoluções modernas. Ao mostrar que marxistas podiam chegar ao poder e iniciar a construção de uma sociedade socialista, os Bolcheviques inspiraram revolucionários no mundo todo. 
          Em fevereiro de 1917, a Primeira Guerra havia enfraquecido o governo czarista. Liberais, socialistas, homens de negócios, generais, nobres - todos conspiraram para sua derrubada. Mas os distúrbios em Petrogrado (São Petersburgo), que em quatro dias destruíram o regime, pouco se deveram à oposição organizada. A fome transformou exigências salariais em greve geral e filas de pão em protestos. Ao receber ordens de dispersar a multidão, as tropas se rebelaram. Nicolau II partiu de seu quartel-general em Mogilev para a capital, mas foi bloqueado pelos ferroviários. Abdicou em Pskov (15 de março) e políticos da "Duna" (Parlamento) instalaram um governo provisório. Mas seu poder estava limitado pelo Soviete (ou Conselho de Representantes dos Trabalhadores e Soldados de São Petersburgo (Petrogrado à época). Este, visto como liderança pelos sovietes de toda a Rússia, constituiu um governo alternativo. No início, esse duplo poder não era visível. Lideres de sovietes, mencheviques moderados e socialistas revolucionários, passaram, em maio, a integrar o governo, no começo apoiado até pelos bolcheviques. 
            A política bolchevique mudou quando Lênin retornou a Petrogrado. Toda a Europa, segundo ele, estava á beira de uma revolução socialista. Os marxistas deveriam derrubar o governo provisório e transferir o poder aos sovietes. Como a guerra se arrastava, generalizou-se o desejo de paz e houve deserções no Exército. Impacientes com a protelação da reforma agrária, camponeses  passaram a ocupar terras. Trabalhadores urbanos se tornaram mais militantes. Um levante popular ("Jornada de Julho") seguiu-se á desastrosa ofensiva do Exército em junho. A população buscava alternativas. Crescia o apoio aos bolcheviques, com sua promessa de paz, pão e terra. Em setembro, eles passaram e controlar os sovietes de Petrogrado e Moscou e, em outubro, ganharam a maioria no Segundo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia. Mas a ameaça também veio da direita. Em setembro, o general Kornilov, comandante-em-chefe, marchou para a capital para restaurar a ordem, mas foi abandonado por suas tropas. dois meses depois, em 25 de outubro (7 de novembro pelo calendário de 1918), os bolcheviques deram o golpe, destituíram o governo provisório e tomaram o poder. 


           Poucos pensavam que fossem capazes de mantê-lo. Os próprios bolcheviques achavam que só a revolução na Europa  Ocidental garantiria sua sobrevivência. Quando a Alemanha exigiu territórios para a volta da paz a maioria quis combater, mesmo sem esperanças. A determinação de Lênin de ganhar tempo prevaleceu e o Tratado de Brest-Litovsk foi assinado em março de 1918. Os exércitos dos russos brancos, apoiados por potências  estrangeiras, atacaram a jovem República Soviética. Aós três anos de guerra civil os bolcheviques saíram vitoriosos, mas a um alto preço: cerca de 13 milhões de mortos, na guerra e de fome; destruição da economia; e substituição da moeda pelo comércio de escambo que, combinado com um esforço de direção estatal da economia, recebeu o título de "comunismo de guera". Na luta com a contra-revolução, o poder ditatorial do partido Comunista substituiu as regras dos sovietes. Com o fim da guerra civil, houve greves e tumultos, culminando no motim da base naval de Kronstadt, em fevereiro de 1921, reprimido pelo regime. Em março, Lênin anunciou a Nova Política Econômica (NEP). O confisco de alimentos foi substituído por um imposto em gêneros e os camponeses puderam vender produtos excedentes no mercado. Empresas privadas foram liberadas  do controle estatal e o comércio varejista voltou  à iniciativa privada. O Estado reteve o controle de setores vitais: indústria pesada, bancos e comércio exterior.   <<<<<<
             Por volta de 1925, os níveis da produção agrícola e industrial pré-guerra estavam quase recuperados. A desconstrução interna foi seguida pela retomada de relações externas. Tratado de comércio com a Grã-Bretanha, em 1921, foi seguido pelo Tratado de Rapallo, de 1922, com a Alemanha, e do reconhecimento diplomático, entre outros, pera Grã-Bretanha e França, em 1924 (ano da criação da URSS). 
        Essa estabilidade temporária viu-se logo  ameaçada. Seria a NEP uma pausa antes  da retomada da ofensiva socialista ou um programa de longo prazo para a aquisição dos pré-requisitos para o socialismo? Lênin não deu a resposta antes de morrer, em janeiro de 1924. Na luta pela sucessão, emergiram duas linhas: a de Trotski, de encorajamento da revolução no exterior e rápida industrialização interna, e a de Stálin, de crescimento econômico gradual mais reconhecimento da manutenção temporária do capitalismo - "revolução permanente" versus "socialismo em um só país". Rotulado de extremista, Trotski, em 1925, foi afastado do governo. Stálin, que se trona secretário-geral em 1922, logo ganhou o controle absoluto. 
            O fracasso na obtenção de alimentos no campo ameaçou as cidades com a fome, pondo em risco o poder bolchevique e a revolução. Em 1929, explorando a imagem de isolamento interno e externo, Stálin iniciou a coletivização forçada da agricultura e a rápida industrialização, iniciando uma nova Revolução Soviética.
Revolução Russa 
                Nenhum outro acontecimento teve um efeito tão decisivo no mundo moderno como a Revolução Russa de 1917, uma vez que deu início a uma nova era na história da Rússia; transformou um país subdesenvolvido em uma superpotência industrial e militar e alterou profundamente o modelo das relações internacionais. Sobretudo, inaugurou a era das revoluções modernas. Ao demostrar que os marxistas podiam conquistar o poder e estabelecer sua "ditadura do proletariado" socialista, os bolcheviques serviram de inspiração aos revolucionários de todo o planeta para emular sua vitória. Depois de 1917, o mundo nuca voltaria a ser o mesmo. 
                  Em fevereiro de 1917, as tensões da guerra enfraqueceram fatalmente o governo czarista; liberais, socialistas, comerciantes, generais e nobres, todos estavam conspirando para destruí-lo. Entretanto,os distúrbios de Petrogrado, que demoliram o regime em quatro dias, não se devem inteiramente a uma oposição organizada. A fome transformou as exigências salariais em uma greve geral e as filas para comprar pão se converteram em manifestações. Quando a guarnição recebeu ordem de dispensar a multidão, amotinou-se. O czar Nicolau II partiu para a capital de seus quartéis em Mogilev, mas os operários ferroviários o impediram de chegar. No dia 15 de março, em Pskov, o czar abdicou e a autoridade passou a um governo provisório formado por importantes políticos da Duma. Contudo seu poder era limitado devido à existência do Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado. Este último, reconhecido como líder pelo resto dos Sovies de toda a Rússia, constituía efetivamente  uma alternativa de governo. Em princípio, a instabilidade produzida por esta dualidade de poder não foi aparente. Os dirigentes moderados do Soviete, mencheviques e socialistas revolucionários, apoiavam o governo e em maio passaram a formar parte dele. Inicialmente, inclusive os bolcheviques lhes deram abertamente seu apoio. Em junho de 1918 o czar Nicolai II e sua família foram assassinados em Ekaterinburg. 
            Em abril, quando Lenin regressou a Petrogrado, esta política reverteu-se completamente. Em sua opinião, toda a Europa estava à beira da revolução socialista. Portanto, os Marxistas deviam destruir o governo provisório e transferir todo o poder aos sovietes. Este foi o momentos decisivo. O governo, que lutava por manter a ordem  em um crescente caos, via-se agora em meio a um caos crescente. À medida  que se prolongava a guerra, espalhava-se o desejo de paz e aumentava as dispersões no Exército. Impacientes com o adiamento oficial da reforma agrária, os camponeses começaram a apoderar-se das terras. Os trabalhadores urbanos, descontentes com os fracassos das tentativas para melhorar suas condições, tornaram-se cada vez mais militantes e aumentou o apoio aos  bolcheviques, com suas promessas de paz, terra e pão. Em setembro, estes ganharam  o controle dos sovietes de Petrogrado e Moscou em e, em outubro, obtiveram a maioria no Segundo Congresso de Sovietes de toda a Rússia. A consequência era inevitável: um golpe de esquerda ou de direita. Em setembro, o comandante-em-chefe, general Kornilov, marchou em direção à capital somente para ser abandonado por suas tropas. Dois meses depois, no dia 7 de novembro (25 de outubro, segundo calendário russo), os bolcheviques atacaram e organizados por Trotsky, capturaram alguns pontos estratégicos em Petrogrado, prenderam os governantes e, em nome dos sovietes, assumiram o poder. 
         Contudo, poucas pessoas acreditavam que eles seriam capazes de manter o poder. Inclusive os bolcheviques pensavam que somente a revolução na Europa Ocidental poderia  garantir sua sobrevivência. Quando a Alemanha pediu humilhantes concessões territoriais em troca da paz, a grande maioria estava disposta e seguir combatendo - ainda que sem esperanças- em lugar de capitular. Entretanto, prevaleceu a determinação de Lenin de ganhar tempo e foi assinado o "Tratado de Brest-Litovsk".  Quase que de imediato, os exércitos russos brancos, ajudados pelas potências estrangeiras, atacaram a nascente República Soviética. <<<<<<<<< Depois de três anos de uma cruel guerra civil, os bolcheviques saíram vitoriosos, mas a um grande custo, já que durante a guerra - e posteriormente devido à fome - pereceram 13 milhões de pessoas. A economia estava destruída e, em 1920, a produção industrial alcançava apernas um sétimo de seu nível em 1913. O dinheiro perdeu todo o valor e foi substituído por um sistema de troca (escambo), o qual combinado com uma tentativa de direção estatal da economia, foi dignificado com o título de "comunismo de guerra". <<<<<<<<<A democracia pareceu na luta contra-revolucionária e o poder ditatorial exercido pelo Partido Comunista substituiu o governo dos sovietes em tudo, exceto no nome. Quando terminou a guerra, eclodiu uma onda de greves e distúrbios que culminaram em fevereiro de 1921 com um motim na base naval de Kronstadt. O regime não estava disposto a ceder e arrasou sem piedade a rebelião, mas as concessões econômicas foram mantidas. Em março de 1921, Lenin anunciou a "Nova Política Econômica (NPE)". A política de expropriação foi substituída por um "imposto em espécies" e foi permitido, aos camponeses, vender o excedente no mercado livre. As empresas privadas foram liberadas do controle governamental e o comércio varejista, na sua maioria, regressou às mãos particulares e, como consequência, a economia de mercado foi restaurada. Novamente os bolcheviques obtiveram uma trégua.  <<<<<<<

            No final de 1925, a produção industrial praticamente recuperou o nível que possuía antes aguerra e a relativa prosperidade criava uma atmosfera mais tranquila, que se refletia especialmente na vida cultural. Apesar do fracasso dos movimentos revolucionários em outros ligares, o reinício das relações com o mundo exterior produziu uma maior segurança. Em 1921 foi assinado um acordo comercial com a Grã-Bretanha, logo seguido pelo Tratado de Rapallo, em 1922, com a Alemanha. Finalmente, em 1924, foi obtido o reconhecimento diplomático  por parte da Grã-Bretanha, França e outros países europeus. 
           Entretanto, a Rússia Soviética estava isolada e rodeada de potências capitalistas hostis. A maioria da população era formada por camponeses dedicados à terra e compartilhava muito pouco dos objetivos de seus governantes socialistas, Isso tudo nos mostra que essa nova estabilidade não podia durar por muito tempo. 
          Portanto, a Nova Política Econômica foi apenas uma pausa antes que se renovasse a ofensiva socialista e não um programa de longo prazo para conseguir as condições econômicas prometidas pelo socialismo. è bom lembrar que Lenin não deu nenhuma previsão ou proposta antes da sua morte, ocorrida em janeiro de 1924.
            Durante a luta pela sucessão, surgiram duas linhas diferentes. Por um lado, a política de Trotsky, que incitava a revolução  no exterior e uma rápida industrialização interna, e, por outro lado, a estratégia de Stalin, que propunha o desenvolvimento econômico gradativo além do reconhecimento da estabilização temporária do capitalismo, isto é, a "revolução permanente" versus "o socialismo de um só país". 
                Qualificado de extremista, Trotsky foi afastado dos altos cargos do governo em 1925.  Agora, Stalin e Bukharin dominavam a política soviética e, ao que parecia, havia triunfado a moderação. 
             Como sabemos, a  meta de Trotsky era estender o comunismo a outros países; em troca, o triunfo de Stálin implicava em resolver os problemas internos do país, para o qual pôs em marcha o primeiro plano de industrialização em 1928. A Rússia voltou a olhar para os seus vastos territórios, a fim de obter os recursos necessários; a nova  meta econômica era o auto-abastecimento. Entretanto, uma de suas maiores dificuldades era a produção de alimentos. As cidades soviéticas sofreram um agudeza escassez em 1927/1928 e, novamente em 1929. Hoje, todos sabem que isto se devia à falta de conhecimento do regime para resolver os problemas agrícolas, mas, naquele momento, culpou-se os agricultores capitalistas ou kulaks de esconder o trigo para forçar os preços. No final de 1929, Stálin decidiu expropriar todos os campos privados, em um processo conhecido como "coletivização da agricultura" cujos resultados foram desastrosos. Os camponeses, por não terem forragem para seus animais, os sacrificaram; suas colheitas de grão foram requisitadas  e o estado inundou o mercado internacional como trigo a preços baixíssimos para poder importar maquinaria. A consequência destas medidas foi a grande fome de 1932/1933, afetando especialmente a Ucrânia  e causando a morte de milhões de pessoas. 
           Na década de 1930, devido à convulsionada situação da agricultura, cerca de 40 milhões de camponeses emigraram para outras cidades. Esta nova mão-de-obra foi empregada principalmente  na construção, o que provocou taxas de crescimento econômico extraordinárias e sem precedentes nos anos compreendidos no primeiro e segundo plano quinquenal.  A economia era sustentada pelas indústrias criadas na época dos últimos czares, quando a Rússia já era reconhecida como a quarta potência econômica do mundo.  Entretanto, em pouco tempo, surgiu um programa de capacitação técnica de emergência. Importou-se mais maquinaria com o produto das exportações de grãos e outros mecanismos. O resultado foi um grande crescimento das  indústrias do carvão, do ferro e do aço. Em 1928, existia uma indústria siderúrgica na Ucrânia e outra no centro dos Urais. Por volta de 1940, ambas foram expandidas e modernizadas. Criaram-se dois novos centros do ferro e do aço: um próximo à enorme jazida de ferro no sul dos Urais, na nova cidade de Magnitogorsk, e outro nos campos carboníferos de Kuzbass, em Stalinsk (atual Novokuzenetsk). 

               Esta  tarefa requeria um aparelho repressivo e, em 1936, Nikolai Yeshov, o diretor de KNCD, (Comissariado do Povo para Assuntos Internos), instaurou uma onda de terror conhecida como a "Grande Depuração", levando milhões de seres  humanos aos campos de trabalho forçados ou a morte no paredão. 
           Quando a Alemanha atacou em 1941, quase ninguém imaginava que a Rússia pudesse sobreviver mais do que duas semanas. Contudo, grande parte da industrialização dos primeiros planos quinquenais fora desenvolvida nas regiões orientais, portando,m longe do alcance dos alemães, o que se tornou um fator decisivo para a sobrevivência soviética. Durante a guerra acelerou-se a industrialização destas áreas estrategicamente  seguras, contudo, as regiões ocidentais do país foram devastadas. A agricultura foi muito afetada pela destruição das instalações e maquinaria agrícola. 
             Entretanto, a reconstrução econômica foi notável. Depois de 1950, a indústria pesada continuou aumentando sua produção e a indústria leve, abandonada na época de Stálin (1928 a 1953), também progrediu. Na Sibéria destruíram-se reservas de petróleo, gás, jazidas minerais que foram exploradas e construíram-se poderosas centrais hidrelétricas e termelétrica a carvão na Sibéria Oriental e Cazaquistão. A economia soviética uniu-se à dos demais países da Europa Oriental que caíram sob o poder comunista após a guerra, e a produção industrial de alta qualidade desta nações foi muito importante para o desenvolvimento tecnológico da União Soviética. 
           Os sucessores de Stálin foram obrigados a reconhecer a magnitude do problema agrícola. Uma população cada vez mais numerosa esperava melhorar sua qualidade de vida, como lhes prometeram em reiteradas oportunidades, mas a agricultura não dava sinais de aumentar sua produtividade além do que havia alcançado antes da revolução. Sob o regime de Khruschov, a produção de cereais aumentou consideravelmente e, em 1965, durante o governo de Brezhnev, fizeram-se esforços para melhorar a situação dos camponeses das fazendas coletivas. 
            Em 1980, a União Soviética foi reconhecida como "superpotência", tal qual os Estados Unidos da América, e com uma capacidade militar semelhante. Embora o produto interno bruto dos soviéticos fosse ainda muito menor do que o dos norte-americanos, o país ultrapassou os Estados Unidos na produção de ferro, cimento, aço e petróleo e logo começou a explorar as maiores reservas de gás do mundo. Apesar disto, a economia soviética entrou em crise no final dos anos 70. A corrida armamentista exigiu um esforço cada vez maior e agravou-se quando os Estados Unidos ameaçaram criar um sistema defensivo contra mísseis, conhecido como "Guerra das estrelas", o fato causou um grande alarme. Em 1985, um novo governante, Mikhail S. Gorbachov, assumiu o poder com um programa de reformas anunciado como "a revolução dentro da revolução". 
          A chegada de Putin.

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