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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

O SUL DA ÁSIA DESDE A INDEPENDÊNCIA --







       A independência, com o fim do domínio britânico, ocorreu em agosto de 1947 na Índia e Paquistão, em janeiro de 1948 na Birmânia e em fevereiro de 1948 no Ceilão. O processo de independência foi especialmente  difícil na Índia e Paquistão. A Conferência  Nacional Indiana havia apoiado a ideia de um governo central forte para promover o desenvolvimento econômico e a integração nacional, mas a Liga Muçulmana, liderada por Mohammed Ali Junnah, não concordou. O preço da independência, para o partido do Congresso dominado por hindus, foi a criação de um Estado muçulmano separado, o Paquistão, e a divisão das províncias do Punjab, no oeste, e de Bengala, no leste .  Distúrbios entre hindus  e muçulmanos e o desejo dos britânicos de deixar a Índia após a Segunda Guerra forçaram o vice-rei, Lord Mountbatten, a acelerar os planos para independência. Em 15 de agosto de 1947 nasceram os Estados da Índia e do Paquistão. 
          A delimitação das novas fronteiras levou a conflitos, particularmente no Punjab e Bengala. No Punjab, a fronteira passava por ricas terras cultivadas por sikhs, muçulmanos e hindus. Alastraram-se os distúrbios, seguidos de um êxodo em que muçulmanos foram para o Paquistão, no oeste, e sikhis e hindus, para a Índia, no leste. Essa divisão afetou especialmente as regiões do Punjab e Bengala. O resultado foi um grande êxodo. Cerca de 6 milhões de muçulmanos migraram do Punjab para o novo Paquistão e cerca de 4,5 milhões de sikhs e hindus migraram para as áreas entre Amritsar e Deli. Em Bengala, mais de 2 milhões de hindus deixaram o setor leste (hoje Bangladesh); milhares de muçulmanos de Bihar, Calcutá e outros locais procuraram abrigo em Bengala Oriental. A divisão de Bengala  teve resultados similares, mas, ao contrário do Paquistão Ocidental, o leste  reteve considerável minoria hindu. Cerca de 500 mil pessoas morreram na divisão e 14 milhões cruzaram as novas fronteiras.  
            A necessidade de realojar refugiados representou  grande ônus para os novos Estados. Conflitos entre imigrantes e residentes continuaram e o destino de 600 principados do subcontinente após a independência ficou indefinido: seus governantes podiam unir-se à Índia, ao Paquistão ou optar pela independência. A maioria dos Estados optou por um dos dois países. Outros, como Hyderabad, resistiram e foram absorvidos à força pela Índia. O governante hindu de Caxemira hesitou, mas a invasão de uma tribo fronteiriça, com apoio do Paquistão, persuadiu-o a unir seu Estado de maioria muçulmana à Índia, mas com promessa  de um plebiscito. Uma linha de cessar fogo da ONU foi aceita em 1949, mas a Caxemira continuou disputada por Índia e Paquistão.
           Todos os Estados do sul da Ásia enfrentaram  exigências de minorias religiosas,  étnicas e linguísticas. A tentativa do governo de promover o "hindi" como língua  nacional foi combatida no sul dravídico, especialmente na Província de Tâmil Nadu.  Em 1956, o governo Jawaharlal Nehru concordou em reorganizar os Estados com base na divisão linguística, mas continuaram os conflitos sobre fronteiras locais. No nordeste, grupos tribais liderados pelos Nagas e Mizos buscavam a independência. O conflito foi exacerbado por migrações através das fronteiras linguísticas (tâmeis que foram para Bombaim) e internacionais (bengaleses do Paquistão Oriental que foram, para Assam e Tripura). A divisão não resolveu o conflito entre hindus e muçulmanos, deixando a Índia com expressiva minoria muçulmana. As tensões comunitárias cresceram particularmente em centros religiosos, como a mesquita Babri, em Ayodhya. 
           No Paquistão, irromperam conflitos étnicos  e religiosos, particularmente em Sind, onde a população local enfrentou refugiados muhajir da Índia. Em 1971, essas diferenças desintegraram o país. O Paquistão Oriental, situado a 1,6 mil quilômetros do Ocidental, ressentiu-se de sua subordinação econômica e política. O líder militar do Paquistão, Yahya Khan, tentou reprimir as exigências de autonomia no leste, mas o governo da Índia interveio em favor da guerrilha local. O exército paquistanês foi derrotado e no lugar do Paquistão Oriental surgiu um novo país: Bangladesh.  
           No Ceilão, uma tranquila transferência de poder em 1948 assegurou estabilidade por 30 anos. Nesse período, a maioria budista cingalesa tentou consolidar seu domínio político. Cerca de 800 mil tâmeis que trabalhavam no cultivo do chá e descendiam de trabalhadores trazidos pelos britânicos perderam seus direitos civis após a independência. Muitos foram repatriados para a Índia; apenas cerca de 100 mil obtiveram a cidadania em 1986. A busca de uma política pró-budista e exclusivamente cingalesa para o Ceilão, rebatizado de Sri Lanka em 1972, aumentou o medo de exclusão dos empregos e da participação política entre a minoria tâmil hindu. Os tâmeis iniciaram uma campanha por um Estado autônomo ou, em último caso, por um país independente (Elam); em 1986, os rebeldes quase expulsaram as forças governamentais da península de Jaffina. Conflitos contínuos levaram a Índia a manter uma força de pacificação na área entre 1987/90.  
            Conflitos internos no sul da Ásia tiveram consequências regionais e domésticas que, aliadas a legados coloniais e busca de segurança, provocaram confrontos internos. Embora os franceses tivessem saído pacificamente de seus entraves costeiros em 1956, os portugueses só deixaram Goa à força em 1961. Uma disputa sobre a fronteira indiana no Himalaia provocou guerra entre a Índia e a China em 1962. Apesar da decisão chinesa de se retirar de grande parte do território ocupado, a guerra deixou a Índia insegura e levou à presença militar maciça na fronteira em litígio, à incorporação de Sikkim pela Índia em 1975 e a tentativas de estabelecimento de hegemonia indiana na região. Em 1965, o Paquistão tentou resolver pelas armas a disputa sobre Caxemira. Nessa luta, a Índia conquistou novos territórios, mas acordo  posterior restabeleceu a antiga fronteira. 
           Os principais países do sul da Ásia tentaram estabelecer regimes parlamentaristas, embora Nepal e Butão tenham mantido  suas monarquias. A democracia teve pouco sucesso devido a golpes militares e assassinatos políticos. Após um período de instabilidade parlamentarista, o Paquistão  enfrentou pela primeira vez o "estado de sítio"em 1958, com o general Ayub Khan. Ele e seu sucessor, Yahya Kan, mantiveram o controle militar sobre o Paquistão até 1971. Após seis anos de governo civil, em 1977 os militares voltaram com Zia ul-Haq. Após sua morte, em 1988, o governo civil foi precariamente restaurado. Em Bangladesh, a rápida experiência democrática terminou com o assassinato de Majibur Rahman, em 1975, e uma série de golpes militares. 
         A Índia manteve os militares nos quartéis, mas entre 1975/77 a primeira-ministra  Indira Gandhi decretou estado de emergência e convocou eleições, nas quais foi derrotada. Reeleita em 1980, ela enfrentou  instabilidade no Punjab, onde extremistas sikkis exigiam a criação de um Estado independente. Em 1985, Indira foi assassinada  por um guarda-costa sikh. Seu filho Rajiv tornou-se primeiro-ministro. Apesar da popularidade inicial, Rajiv enfrentou dificuldades ligadas ao Punjab, Sri Lanka e outras questões regionais. Após ser destituído do poder, também foi assassinado  em 1991, confirmando a trilha sangrenta de assassinatos e disputas políticas no sul da Ásia desde a divisão. 
           No Ceilão, os tâmeis hindus resistiram às pressões da maioria cingalesa budista, que se institucionalizou com a nova Constituição do Sri Lanka, em 1972. Líderes tâmeis exigiram um Estado separado numa federação flexível e, após 1983, a atividade guerrilheira dos Tigres Tâmeis e de outros militares acelerou o conflito com o exército do Sri Lanka, com massacres de civis dos dois lados. As tensões entre cingaleses e tâmeis aumentaram  após 1985, e o exército indiano interveio em 1987 para restabelecer a ordem. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

O SUDESTE ASIÁTICO A PARTIR DE 1945

 


           Revolta e guerra dominaram o Sudeste Asiático após 1945, (depois da Segunda Guerra Mundial). A retirada voluntária ou forçada das administrações  coloniais raramente resultou em paz ou estabilidade econômica. Rivalidades políticas, religiosas ou étnicas explodiram em conflitos nacionais ou internacionais. Entre 1945 e 1954 a Indochina lutou contra domínio colonial francês. Após a derrota em Dien Bien Phu (1954, os franceses se retiraram, mas os EUA se recusaram a assinar os acordos de Genebra; em vez disso, estabeleceram um governo contra-revolucionário em Saigon, p´residido por Ngo Dinh Diem. O resultado foi a segunda guerra indochinesa de 1957 a 1973. Apesar dos bombardeios de saturação e do envolvimento de mais de meio milhão de soldados em terra, os EUA não conseguiram quebrar a resistência norte-vietnamita. Por fim, um acordo firmado em 1973 resultou na queda do governo de Saigon em 1975, quando os EUA Finalmente se retiraram do Vietnã. 
         O avanço dos japoneses no Sudeste Asiático em, 1941/42 expulsou da região as potências coloniais ocidentais. Mas após a derrota do Japão em 1945, essas mesmas  potências procuraram reconquistar os territórios que controlavam antes da guerra, embora com ambições diferentes. 
          Os EUA voltaram às Filipinas onde, na década de 30, haviam estabelecido um cronograma de reforma constitucional e independência política. Muitos filipinos lutaram ao lado dos norte-americanos em 41 e durante a libertação de suas ilhas em 44. Apesar dos distúrbios políticos e destruição material causada pela guerra, os EUA deixaram as Filipinas, de acordo com o combinado, em julho de 1946. Mas a instabilidade política enfraqueceu a economia filipina na década de 80. A malversação do dinheiro  público pela família Marcos, o peso do protesto popular contra seu regime de 1983/86 e a insegurança da administração Aquino (sempre marcada por tentativas de golpe) trouxeram dificuldades econômicas. 
             Os anos de pós-guerra testemunharam, com o incentivo dos EUA, altas taxas de crescimento econômico  em parte do Leste e Sudeste Asiático. O fluxo comercial EUA - Japão  consistiu principalmente de exportações agrícolas para o Japão e importações de produtos eletrônicos  e automóveis pelos EUA; mas, como muitos outros países  asiáticos expandiram seus mercados de produtos manufaturados, eles se tornaram mais dependentes de matérias-primas importadas. O nível de investimentos norte-americanos e japoneses no Sudeste Asiático mostrou a importância da orla do Pacífico como esfera de influência econômica e revelou existência de um império informal de comércio e investimento centrado no Japão, Taiwan, Cingapura e costa  oeste dos EUA. 
          Ao contrário do que ocorreu entre EUA e Filipinas, os britânicos retornaram à Birmânia (Myanma) e à Malásia empenhados em restaurar o domínio colonial, mas logo receberam que a retirada seria inevitável. A Birmânia, cuja evolução constitucional  antes da guerra estava ligada à da Índia, seguiu-a rumo à independência política em janeiro de 1948. A retirada dos britânicos da Malásia começou no início dos anos 50. Os Estados peninsulares atingiram a independência política em 57 (em 63, Cingapura, Sabah e Sarawak juntaram-se a eles para formar uma união independente, a Federação Malaia).  A retirada da Malásia peninsular foi acompanhada de levante  comunista, a "Emergência", que durou de 1948 a 1960. Liderada pela etnia chinesa do Partido Comunista Malaio, estava preocupada não tanto em acabar com a administração  britânica e sim com a estrutura sócio-política do Estado que a sucederia. 
          Em posição absolutamente inversa, holandeses e franceses voltaram à Indonésia e Vietnã, respectivamente. Desejavam  restabelecer seu domínio, sem respeitar as ambições políticas dos povos locais; encontraram resistência de populações politizadas e, com frequência, armadas pelos japoneses. Resultado: holandeses e franceses enredaram-se em longas e sangrentas guerras coloniais. Favorecidos pela divisão dos líderes locais, os holandeses quase derrotaram a jovem República indonésia, mas a opinião pública mundial voltou-se contra eles. Os EUA forçaram a Holanda à retirada, sob ameaça de cortarem sua ajuda para a reconstrução da Europa; em dezembro de 49, os holandeses se retiraram. 
           A luta dos franceses no Vietnã foi mais longa e tornou-se um dos mais sangrentos conflitos do século XX. Após a rendição japonesa em agosto de 45, Ho Chi Minh estabeleceu um regime comunista no norte. No sul, os franceses reimpuseram seu domínio com pretensões de recriar seu império do  Sudeste Asiático, mesmo sem o Vietnã do Norte. Por mais de um ano, Ho Chi Minh procurou em vão persuadir os franceses  a saírem pacificamente, argumentando que o sul era parte de seu país. No final de 46 a guerra eclodiu entre seus seguidores (Viet Minh) e os franceses. Terminou com a humilhante derrota francesa em Dien Bien Phu, em 54. A saída da França, porém, não levou à unificação do Vietnã: durante a Conferência de Genebra, convocada após Dien Bien Phu, URSS e China pressionarem os Viet Minh a aceitar a divisão "temporária" do Vietnã pelo paralelo 17. Os Viet Minh presumiram que as eleições nacionais previstas para 1956 levariam à unificação sob governo comunista. Mas o novo  governo sul-vietnamita e seus aliados norte-americanos recusaram-se a assinar o Acordo de Genebra. Não houve eleições. 
          Em 1959, os norte-vietnamitas recorreram novamente às armas para obter a unificação. Om regime anticomunista do sul tinha  apoio dos EUA: a princípio, material bélico e conselheiros; após 65, tropas e ataques aéreos. Seguiu-se uma guerrilha em que o norte recebia suprimentos da China e da URSS. No final da década de 60, ficou claro que a intervenção norte-americana não poderia conter a "agressão" comunista ao sul e que o envolvimento dos EUA estava prejudicando a economia e dividindo a sociedade norte-americana (mais ainda em 70, com a extensão da guerra ao Camboja). As negociações entre Hanói e Washington começaram no final de 68, mas o acordo só foi firmado em 73, quando as tropas terrestres norte-americanas se retiraram. Os EUA continuaram a fornecer suprimentos para o regime de Saigon, mas quando os comunistas lançaram uma grande ofensiva militar na primavera de 1975, o exército do sul sucumbiu. O Vietnã estavas unificado, sob o controle de Hanói. 
            Três décadas de guerra arruinaram a economia vietnamita e as esperanças de rápida reconstrução econômica após a unificação não foram concretizadas. A liderança geriátrica e ideologicamente rígida do país descobriu que a construção de uma economia moderna requeria habilidade políticas e administrativas muito diferentes das usadas Para vencer os EUA. A paz real continuava ilusória: o Vietnã passou por rápido conflito com a  China e depois viu-se arrastado ao Camboja, onde suas tropas foram utilizadas na derrubada do regime de Pol Pot no final de 78. Somente após longo período de isolamento político e econômico, no final da década de 80, o Vietnã iniciou a abertura de sua economia para atrair tecnologia e investimentos. 
        A instabilidade política vietnamita após 45, aliada à rigidez ideológica, gerou consequências econômicas  nocivas em outras parte do Sudeste Asiático. Na Birmânia, o crescimento econômico desde a independência em 1948 continuou baixo, em parte devido a insurreições étnicas e comunistas, mas principalmente porque a liderança política birmanesa buscava a auto-suficiência econômica. Na Indonésia, antigas divisões políticas foram exacerbadas por tentativas de criar uma estrutura política e econômica coesa em um vasto arquipélago (desunido sob o domínio holandês). Rebeliões  regionais contra o poder central, notadamente a rebelião de Sumatra Ocidental em 58, tornaram-se marcantes nas década de 50 e 60. A indonésia, porém, resistiu à fragmentação devido à habilidade política do presidente Achmed Sukarno, que para sustentar o espírito da revolução, lançou numerosas campanhas - pela nacionalização das empresas holandesas na década de 50; pela soberania indonésia sobre o Irian Ocidental; contra a formação da federação Malaia em 63. A era Sukarno, com consequências econômicas prejudiciais, terminou em 65, quando foi substituído na presidência por Raden Suarto. 
           A adoção da tecnologia do microchip  e a exportação de produtos eletrônicos baratos trouxe prosperidade econômica  crescente e rápida à Malásia, Cingapura, Taiwan e Tailândia. Mas em países como a Birmânia (atualmente denominada  Myanma), a inquietação civil nas cidades e a devastação no campo acabaram com qualquer esperança de um rápido crescimento econômico. 
           Esses casos de instabilidade política contrastam com a taxas de crescimento da Malásia, Cingapura, Tailândia e mesmo da Indonésia desde o final da década de 60. Apesar da recessão mundial na década de 80, cada um desses países obteve taxa de crescimento média anual acima de 5%, graças à criação de uma base industrial voltada para os mercados externos na Ásia, Europa e América do Norte. As indústrias e exportações concentraram-se em produtos têxteis e eletrônicos e a Malásia, em parceria com empresa japonesa, começou a produzir um automóvel (o Proton). 
            Diversos fatores levaram ao rápido crescimento industrial essas economias, exceto  Cingapura, tinham mão-de-obra barata. enquanto a legislação trabalhista assegurava a submissão dos trabalhadores - atrativo extra para multinacionais que procuravam força de trabalho mal remunerada edócil. Os governos locais buscaram atrair  investimentos estrangeiros com incentivos  fiscais e infra-estrutura. Grande parte do investimento veio do Japão, que emergiu como principal parceiro econômico do Sudeste Asiático. A estabilidade política desempenhou papel importante ao sustentar a estratégia de desenvolvimento industrial e atração de investimento: Suharto na Indonésia, Lee em Cingapura e Mahathir na Malásia, todos governaram com firmeza e reprimiram a oposição interna. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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domingo, 17 de janeiro de 2021

O LESTE ASIÁTICO APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

 


          Finalizada a Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945, a paz voltou ao Japão. Mas o país estava em ruínas, suas principais cidades reduzidas a escombros e sua economia devastada. Acima de tudo, seu povo estava desorientado; não havia sido preparado para a derrota, especialmente para a derrota trazida por uma operação única e devastadora, o lançamento de bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, seguida pela ocupação de uma potência estrangeira. A ocupação do japão, colocado sob a autoridade da Comissão para o Extremo Oriente, incluía representantes de todos os  países que haviam lutado contra os japoneses. Mas tratava-se, de fato,  de ocupação norte-americana. Sob o comando do general Douglas MacArthur, a administração  de ocupação procurou desmilitarizar o Japão e criar um Estado pacífico e democrático. No início de 1946, o imperador negou publicamente sua divindade. A nova Constituição, de maio de 47, estipulou que a soberania pertence ao povo, criou a Dieta (o Parlamento Japonês), estabeleceu um Judiciário independente e renunciou à ideia da guerra como meio de resolver disputas internacionais. A nova administração reformou o sistema de educação japonês, removendo dos currículos tudo o que encorajava valores militares e autoritários; instituiu planos de reforma agrária, que encerraram o absenteísmo dos proprietários de terras; e buscou, embora sem sucesso, romper as concentrações de poder em grandes empresas. Entretanto, o avanço dos comunistas na China e a deterioração nas relações entre EUA e URSS, após 1948, levaram os norte-americanos  a ver no Japão um importante aliado, cujo valor dependeria da reconstrução de seu poder econômico. Em setembro de 1951, completado o trabalho, a ocupação foi formalmente encerrada. 
         Para a Coréia, a derrota do Japão pôs fim  ao regime colonial japonês, imposto em 1910, mas trouxe a divisão. Durante a guerra, ficara acertado que a URSS aceitaria a rendição das forças japonesas ao norte e os EUA ao sul do paralelo 38. Os soviéticos apoiaram a criação de um Estado comunista no norte, sob a chefia do líder guerrilheiro Kim Il-sung. Kim fundou um partido e um Estado  segundo modelo soviético: indústrias manufatureiras foram nacionalizadas; a reforma agrária foi realizada e Exército organizado. No sul, foi criada uma administração de ocupação norte-americana que, após a frustração das esperanças de unificação, trabalhou para estabelecer um governo representativo. Em agosto de 1948, Sygman Rhee, um ferrenho anticomunista, tornou-se presidente da República da Coréia, encerrando o governo  militar norte-americano. O país estava dividido, mas tanto o norte como o sul ambicionavam reuni-lo sob seu domínio.
         Em junho de 1950, os norte-coreanos atacaram o sul, repelindo as forças da Coréia do Sul e dos EUA para Pusan. Em setembro, houve o contra-ataque. Um desembarque anfíbio em Inchon, comandado por  MacArthur, levou à reconquista de Seul e a  uma nova ofensiva, que pretendia unificar a Coréia pela força. Em novembro de 1950, à medida que os norte-americanos avançavam para o rio Yalu, forças chinesas entraram na Coréia e recuperaram o controle do norte. Seguiu-se um impasse. Em abril de 1951, o presidente Truman demitiu MacArthur, nua indicação de que os EUA não queriam estender a guerra. Em julho, iniciaram-se negociações e, em julho de 1953, foi assinado um armistício. 
          O estabelecimento da República Popular  da China, em 1949, marcou um momento decisivo na história chinesa moderna. Após um século de conflitos internos e desagregação, quase sempre por ação de agressores externos, a China passou a ser governada por líderes que tinham uma visão clara da sociedade que desejavam criar. Quaisquer que tenham sido os excessos e fracassos desde 49, como a repressão sistemática, essa realização fundamental deve ser reconhecida. Isso também significa que a experiência da China moderna não deveria ser comparada aos avanços de seus vizinhos (o sucesso econômico do Japão, Coréia do Sul e Taiwan contrastando com a paralisia da China), mas com seu próprio passado. 
          A preocupação central do novo regime  chinês era a economia - elevação da produção  agrícola e a criação de indústrias de base. Até meados da década de 50, a China segui o modelo soviético de planejamento econômico. Embora seu Primeiro Plano Quinquenal tenha tido algum sucesso, no final dos anos 50 Mao Tse-tung perdeu a fé na abordagem dos planejadores e técnicos  e procurou mobilizar as energias revolucionárias da população chinesa. O "Grande Salto para a Frente" foi lançado no início  de 1958 e envolveu a criação de comunas rurais e associações urbanas encarnadas na organização da produção. Mas muitos projetos específicos (como a construção de fornalhas de fundo de quintal para produzir ferro e aço) revelaram-se inoperantes e, no início de 1961, o "Grande Salto" foi abandonado. Quatro anos mais tarde, Mao voltou a apelar para energias revolucionárias do povo chinês. Lançou a "Grande Revolução Cultural Proletária" (de 1965 a 1969) para impedir, pela "revolução permanente", o restabelecimento de interesses adquiridos, do carreirismo e da arrogância burocrática no partido e no Estado. Mais uma vez, a ideologia triunfou sobre a técnica, produzindo caos e miséria. 
              Após a guerra civil e a tomada de poder pelos comunistas, a China se desenvolveu rapidamente. A República Popular estabeleceu uma infra-estrutura industrial com crescente potencial petrolífero e nuclear. Mas a expansão industrial e agrícola se tornou lenta devido ao "Grande Salto Para Frente", do final da década de 50 e devido à Revolução Cultural, de meados da década de 60. O crescimento de sua economia permaneceu muito abaixo do de seus vizinhos no Extremo Oriente. Seu potencial de crescimento, contudo, é considerável. Numerosa população, vastos recursos naturais e baixos custo de produção, aliados ao latente  espírito empreendedor de seu povo, são bens a serem explorados.
           Nas relações exteriores, o novo regime comunista, mesmo não reconhecido pelos EUA e excluído das Nações Unidas, influiu na política mundial. A China desempenhou importante papel na Conferência de Genebra, em 1954, e na Conferência dos Estados Afro-Asiáticos. em  Bandung, Indonésia, em 1955. Nesse período manteve relações estreitas com a URSS, recebendo instalações industriais, empréstimos  e especialistas soviéticos. Mas esse relacionamento continha divergências sobre territórios e em relação à política e à ideologia no mundo comunista, particularmente após a morte de Stálin, em 1953. Quando Khruschov censurou Stálin, em 1956, e defendeu o conceito de coexistência pacífica com o bloco capitalista, o rompimento tornou-se inevitável. Este ocorreu em 1960. O reatamento das relações da China com o Ocidente somente ocorreu dez anos depois, após a "Revolução Cultural", e foi marcado  pela visita oficial à China do presidente norte-americano Richard Nixon, em 1972. 
          Mao morreu em setembro de 1976. Sob a nova figura dominante, Deng Xiaoping, houve grande virada na política pública econômica: voltaram os incentivos materiais; comércio e investimentos estrangeiros foram encorajados. Mas os novos rumos da economia foram acompanhados de pressão crescente por maior liberdade política, um campo no qual a liderança chinesa não cedeu, pois em 1989, protestos pró-democracia foram violentamente reprimidos em Pequim.  
           Ao terminar a ocupação, em 1951, o Japão iniciou um período de constante crescimento econômico e, após 20 anos, tornou-se uma superpotência econômica. A década de 50 assistiu à ênfase no desenvolvimento da indústria pesada. O Japão tornou-se o principal construtor de navios e o terceiro maior produtor de ferro e aço. Desde os anos 60, a indústria japonesa caminhou para a produção de artigos de alta tecnologia (carros, televisores, máquinas fotográficas e computadores), em boa parte para exportação. A maioria dos gigantes industriais e comerciais japoneses (Mitsui, Toyota e Mitsubishi - fundada por um ex samurai ) também estabeleceu-se no exterior (sudeste da Ásia e também Europa e América do Norte), ampliando, desde o início da década de 70, o volume dos investimentos estrangeiros do Japão. O apoio do governo e o caráter das relações empregatícias nas empresas, enfatizando amplas consultas e lealdade de grupo, foram fundamentais para a expansão econômica.  
          Da devastação do fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão  emergiu, a partir da década de 80, como potência econômica, desafiando até mesmo os EUA, seu vencedor e, após a guerra, potência ocupante.  Após a Guerra Mundial, à medida que as exportações japonesas  cresceram, também aumentaram  seus investimentos no exterior. No final da década de 80, o país havia se consolidado como superpotência econômica. Entretanto, por mais extraordinário que tenha sido o desempenho econômico do Japão desde 1945, o pais já teve de enfrentar a crise econômica global da década de 90. Mesmo transformado em superpotência econômica, o Japão permaneceu um pigmeu  no cenário político mundial.
         A península da Coréia, após a trégua de 53, foi dividida em dois regimes hostis e armados. O norte permaneceu sob a liderança de Kim Il-sung, objeto de enorme culto à personalidade. Com a divisão, na guerra civil de 1950/53, em comunista ao norte e capitalista ao sul, o desenvolvimento  das duas Coréias seguiu rumos contrastantes. A Coréia do Norte encasulou-se em seu auto-imposto isolamento comunista. Permaneceu atrasada e prejudicada pelo peso da rígida ideologia imposta por seu líder, o autoritário Kim Il-sung e continuada por seu filho Kim Jong-un. Embora as condições materiais da população tenham melhorado um pouco, o país, na prática, ignorou o mundo não-comunista. A Coréia do Sul, embora distante de um modelo democrático na maior parte do período pós-guerra, desenvolveu uma base industrial florescente. Em 1960, revoltas de estudantes encerraram o governo autoritário de  Syngman Rhee e um golpe militar levou Park Chung-hee ao poder, em 1963. Após o assassinato de Park em 1979, um novo homem forte, o general Chun Don Hwan, chegou ao poder. Como o Japão, no mesmo período,  especializou-se em produtos de alta tecnologia. Desde meados da década de 60, a Coréia do Sul alcançou rápida industrialização e emergiu como um dos pequenos tigres da economia asiática. Essa industrialização, orientada para produtos de consumo para exportação, ficou dependente de baixos custos e, no início, altos investimentos estrangeiros. Nesse período de rápido crescimento, o regime sul-coreano teve pouca tolerância com manifestações de oposição, reprimindo protestos comumente liderados por estudantes.
         A Guerra da Coreia levou a "Guerra Fria" ao Extremo Oriente. Ocupada em 45 por forças soviéticas e norte-americanas, em 48 a Coreia já estava, de fato, dividida. 
           

Nicéas Romeo Zanchett
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sábado, 16 de janeiro de 2021

A INDEPENDÊNCIA DAS COLÔNIAS E SAÍDA DOS IMPÉRIOS DESDE 1939


         Em 1939, sete potências europeias mantinham possessões  coloniais:Grã-Bretanha, França, Holanda, Bélgica, Espanha e Portugal. As três primeira empenhavam-se para que seus territórios evoluísse para o antagonismo. Esse compromisso era reforçado, na caso da Grã-Bretanha e da França, pelos mandatos recebidos da Liga das Nações sobre os territórios que antes faziam parte dos impérios Otomano e Alemão. Somente a Grã-Bretanha concebia como objetivo a evolução do autogoverno para a independência, objetivo alcançado pelos membros da Commonwealth (Comunidade Britânica). A Índia foi considerada a que mais demorou a absorver o processo. Asd demais potências Agiram mais em termos de evolução para uma cidadania comum, encarando mas colônias como regiões ultramarias do território metropolitano. Mas esses enfoques enfrentaram tanto a resistência de minorias de colonizadores europeus, com consequente tensão inter-racial, como a discordância entre o ideal de evolução europeu e das culturas de origem islâmica, hindu, budista  e confucionistas dos súditos das colônias. 
           A necessidade de criar elites nas colônias para cargos de níveis inferiores da administração favoreceu o crescimento de movimentos nacionalistas, alguns beneficiados  por influências soviéticas, chinesa ou japonesa. A relutância dos parlamentos ou eleitorados metropolitanos em financiar as administrações europeias também encorajou as potências coloniais a confiar nas autoridades locais, onde elas fossem poderosas. 
        Os acontecimentos da Segunda Guerra  tiveram efeitos revolucionários sobre os lentos processos de desenvolvimento nos principais impérios coloniais. Bélgica, França e Holanda foram invadidas pela Alemanha. Os governos da Bélgica e da Holanda refugiaram-se na Inglaterra: o da França aceitou a derrota e firmou um acordo tão estreito com Alemanha e Itália que, em parte dos territórios ultramarinos, surgiu um movimento anti-capitulação, e dos Franceses Livres, enquanto Grã-Bretanha e EUA assumiram a direção dos territórios do governo de Vichy no Oriente Médio e norte da África. As colônias africanas da Itália passaram a ser ocupadas pelos ingleses. No sudeste da Ásia, o Japão, aliado da Alemanha, expulsou as potências coloniais da Malásia, Índias Orientais Holandesas e Birmânia, instalando governos baseados em movimentos  nacionalistas locais (Em 1942 na Birmânia e em 45 nas Índias Orientais Holandesas e na indochina). Após  a rendição do Japão, esses governos ganharam apoio popular e puderam forçar a potência colonial a reconhecer sua independência. 
         Na Índeia, a guerra fez malograr a breve  experiência de autogoverno parcial, iniciando em 1937. Em 1942, Gandhi e a liderança do Partido do Congresso foram presos e o levante de massas do movimento "Deixem a Índia" foi reprimido. O líder radical Subhas Chandra Bose fugiu e organizou um Exército Nacional Indiano, com apoio japonês. No fim da guerra, o governo trabalhista, recém-eleito em Londres, decidiu facilitar o autogoverno da Índia. Mas os britânicos estavam fracos para impor um acordo político de sua escolha; nem eles nem o Partido do Congresso podiam impedir a exigência muçulmana de partilha do subcontinente e, em 47, o poder foi transferido a dois Estados: Índia e Paquistão. 
          Na França, a quarta República substituiu o antigo império por uma nova "Union Française", que reunia a França metropolitana e seus "departamentos" e territórios ultramarinos, além de um grupo de Estados associados, incluindo Laos e Camboja, e a República do Vietnã, de inspiração francesa. Mas no Vietnã a administração francófila enfrentou a oposição da República Democrática do Vietnã, empenhada na independência. Após a derrota de Dien Bien Phu, os franceses foram forçados, em 1954, a retirar-se. Na África, a Grã-Bretanha deu um passo decisivo em 57, ao conceder a independência a Gana. 
          A tentativa de resolver os problemas das minorias de colonizadores brancos na África Central, com a criação de uma Federação Centro-Africana, fracassou em 1963. A Rodésia, com autogoverno branco desde 1923, declarou a independência em 1965, sem consentimento britânico. A frança, após o colapso da Quarta República em 1958, substituiu a "Union Française" pela "Communauté Française ". Mas isso era inaceitável para a Guiné, que optou pela independência ; outros 13 países seguiram seu exemplo em 1960, ficando a Argélia como única colônia francesa na África. A fadiga de guerra e fragilidade econômica pós-guerra impediram os franceses, britânicos e holandeses de restaurar os impérios que os japoneses haviam desmantelados. A Grã-bretanha e a França continuaram a explorar novas matérias-primas e de baixo custo em seus impérios. Mas com o crescimento da oposição nacionalista e após o fracasso da Guerra de Suez, em 1996, a Grã-Bretanha estendeu a descolonização aos territórios  africanos. Entretanto, a Comunidade Britânica (Commonwealth) sobreviveu como ampla associação não política. Bélgica, Espanha e Portugal foram os últimos países a deixar seus impérios coloniais. A conquista da independência foi precedida por guerras civis e, frequentemente, seguida por conflitos de fronteira. 
              Territorialmente, os grandes impérios ainda estavam intactos em 1939. Mas enquanto a política britânica encarava a evolução de seu império no sentido de uma comunidade (Commonwealth) de nações, a França e outros países colonialistas pretendiam a assimilação das lideranças locais à cultura metropolitana. As agitações iniciais do nacionalismo pan-árabe e asiático foram estimuladas pelo Japão, pela China Kuomintang, pelo Comintem (Internacional Comunista) ou pela  propaganda da Itália e Alemanha nazista. 
           Nos territórios franceses do Oriente Médio e norte da África, a ocupação britânica  e norte-americana ajudou a revitalizar os movimentos de independência. As duas principais colônias da Itália (Líbia e Somália, colocadas em 1945 sob mandato das Nações Unidas, tornaram-se independentes em 1951 e 1960, respectivamente; a Eritréia foi absolvida pela Etiópia. A Grã-Bretanha  quis manter seus elos com o mundo árabe, após o fim do sistema de mandatos, estimulando a formação da Liga Árabe e do Pacto de Bagdá, aliança militar que ligava EUA, Grã-Bretanha, Paquistão e vários Estados do Oriente Médio pró-ocidentais. 
          Mas a criação do Estado de Israel, em  1948, a tomada do poder por Nasser no Egito, depois de 1952, e o desastroso resultado da invasão anglo-franco-israelense do Egito, em 1956, diminuíram a influência e credibilidade britânicas e francesas na região. Em 1960 e 1967, graves conflitos em Chipre e em Aden levaram ao afastamento da Grã-Bretanha. A partir de 1968, a presença britânica a leste de Suez foi abandonada. Em 1971, muitos dos pequenos governos de xeques do Golfo Pérsico formaram os "Emirados Árabe Unidos". A França, por sua vez, não pôde sustentar longos conflitos em mais de um de seus territórios norte-africanos; em 1956, Marrocos e Tunísia tornaram-se independentes, enquanto a Argélia viveu oito anos de guerra até a retirada francesa em 1962. 
         Devido à rapidez da mudança política em muitos territórios e à existência de divisões étnicas ou religiosas, não surpreende  que a retirada colonial tenha sido em geral  acompanhada de violência e instalação de regimes repressores. Em outros casos, as fronteiras ignoraram unidades étnicas out ribais, provocando conflitos. Em meados da década de 60, só Portugal mantinha colônias de importância na África. No entanto, longas guerrilhas e a queda da ditadura em Lisboa permitiram, em 1975, a independência, mas não a paz, em Angola e Moçambique. A Espanha continuou a ocupar pequenos encraves no Marrocos, mas em 1976 entregou o Saara Espanhol àquele país e à Mauritânia (esta desistiu depois de sua exigência). Após 213 anos de guerrilhas, terminou em 1980 o governo de minoria branca na Rodésia, que passou a chamar-se Zimbábue. A Namíbia tornou-se independente em 1990. A África do Sul, única sobrevivente do domínio branco no continente africano, elegeu um presidente negra em 1994. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

GUERRA NO PASSÍFICO E NA ÁSIA DE 1941 a 1945

 





         Tranquilizado por seu pacto de "não agressão com a Rússia e sem chance de vitória militar ou solução política para sua guerra na China, o Japão voltou-se para os impérios coloniais europeus no sudeste da Ásia. Ali os japoneses esperavam encontrar matérias-primas  e mercados para obter sua independência econômica dos EUA, cada vez menos amistosas. A antipatia e a crença na inevitabilidade do conflito perturbavam as relações Japão EUA. Após a deflagração da guerra na Europa e o colapso de muitas democracias, os EUA, cujos interesses no Extremo Oriente pareciam ameaçados pelo engrandecimento do Japão, se posicionaram na vanguarda da oposição à hegemonia japonesa na Ásia Oriental.
           Em junho de 1941, o Japão aproveitou-se  da invasão da URSS pela Alemanha, sua aliada do Eixo, para ocupar a Indochina, provocando o bloqueio econômico dos EUA. O Japão atacando a frota americana do Pacífico, em Pearl Harbor, em 7 de dezembro. Após dez anos consolidando suas Forças Armadas e quatro anos de guerra na Ásia, os japoneses optaram pela guerra na tentativa de prevenir a preparação militar dos EUA e ganhar tempo para obter recursos do sudeste da Ásia. 
         Ao desafiar os EUA, o Japão queria lutar contra a maior potência industrializada do mundo até chegar a um impasse, que permitisse uma paz negociada  e o reconhecimento de sua primazia na Ásia Oriental.  Os perigos implícitos e os estritos limites em que o Japão teria de conduzir tal guerra eram pouco compreendidos pelo Alto Comando japonês. Seis mesaes após o início da guerra no Pacífico, o Japão havia invadido  possessões norte-americanas, britânicas e holandesas no sudeste da Ásia: Hong Kong rendeu-se no Natal de 41; Cingapura, em 15 de fevereiro; as Índias Orientais Holandesas, em março; e a última base americana nas Filipinas, Corregidor, em 7 de maio. 
          Para eliminar a presença ocidental no oeste do Pacífico e sudeste da Ásia, os japoneses levaram a guerra à fronteira da Índia (até mesmo a Madagascar), à costa da Austrália e ao sudoeste do Pacífico. Mas mesmo no auge de seu avanço, falharam ao tentar impor aos EUA uma derrota naval capaz de debilitar a capacidade militar e o moral norte-americano. Ao contrário, uma derrota no mar de Coral, em maio de 42, foi seguida pela destruição de porta-aviões da Marinha imperial perto das ilhas Midway. Com estratégia defensiva, a Marinha Imperial sofreu duras perdas na campanha de Guadalcanal, a primeira contra-ofensiva dos EUA ( de agosto de 42 a  fevereiro de 43). 
               Nos primeiros seis meses da guerra na Ásia e no Pacífico, o Japão, por ter a iniciativa, uma cuidadosa preparação e a superioridade aeronaval na região, impôs derrotas humilhantes às potências ocidentais, Filipinas, Índias Orientais, Birmânia, Hong Kong, Malásia e Cingapura foram invadidas por forças japonesas à custos mínimos e frequentemente com muita facilidade. Mas nessa grande expansão no Pacífico, a vitória de que o Japão precisava para neutralizar o poder norte-americano não aconteceu. Seu intuito não era conquistar os EUA,  mas destruir o moral norte-americano e sua capacidade de disputar as conquistas japonesas no sudeste da Ásia. O ataque a Pearl Harbor incapacitou temporariamente a frota norte-americana no Pacífico. Mas a segurança da indústria norte-americana contra a destruição assegurou aos Estados Unidos a possibilidade de recobrar suas forças e lutar no Pacífico aguerra de desgaste que os japoneses estavam certos de ganhar. 
           Sem condições de concluir a guerra que iniciara, o Japão perdeu sua mobilidade estratégica. Foi obrigado a lutar defensivamente  em fronts separados e contra múltiplos inimigos, o principal deles os EUA, que prosseguiram com quatro investidas, além do apoio que ofereceram aos britânicos na Índia e aos chineses. Desde o início da gurra no Pacífico, em especial no final  de 43, os EUA conduziram uma campanha (principalmente submarina) bem-sucedida contra a frota japonesa. Perto do final da guerra, o  Japão enfrentou a fome e o colapso industrial pela escassez de carregamentos e importações necessárias para sustentar a população e os esforços bélicos. 
         Do final de 43 em diante, os EUA empregaram a eficiente estratégia de atacar ilha após ilha, usando forças anfíbias que desativaram os principais centros de resistência japoneses. Os avanços norte-americanos no Pacífico basearam-se na ofensiva irresistível de porta-aviões, levando a guerra às ilhas japonesas. Os porta-aviões permitiram à Marinha dos EUA vencer as batalhas do mar das Filipinas e do golfo de Leyte, em 44, para lutar depois pela supremacia aérea no Pacífico Ocidental e nas ilhas japonesas, impondo ao Japão duro bloqueio nas últimas semanas da guerra. Foram os porta-aviões que asseguraram a captura por forças anfíbias das ilhas Marianas - base próxima o bastante para permitir a ofensiva aérea que destruiu áreas urbanas japonesas nos últimos seis meses de guerra. Em maio de 1945, os avanços norte-americanos no Pacífico quase afastaram os japoneses do sudeste da Ásia, privando-os dos recursos pelos quais haviam entrado na guerra. A própria região vizinha do Japão estava em processo de desintegração com a reconquista da Birmânia pelos britânicos e a ofensiva dos aliados nas Índias Orientais. 
         Em 1943, no Cairo, os aliados anunciaram que lutariam até a rendição incondicional do Japão, despojando-o dos territórios  que conquistara após 1895. Embora o Japão não mostrasse sinais de rendição, os planejadores do pós-guerra, no Departamento de Estado nos EUA, acreditavam que o Japão desistiria da luta se soubesse o que os aliados queriam dizer com "rendição incondicional" e prepararam uma declaração definindo-a em termos específicos. Ao mesmo tempo, o trabalho secreto em uma arma nuclear, que Churchill e Roosevelt haviam acertado em 42, estava quase concluído. Em julho de 45, uma comissão  recomendou ao presidente Truman o uso da bomba contra o Japão. O Secretário da Guerra norte-americano, Henry Stimson, argumentou que antes se deveria dar ao Japão uma chance de render-se. Mas em Postdam, naquele mês, os líderes aliados aprovaram a Declaração de Postdam, pedindo ao Japão que se rendesse ou encarasse  a destruição. Confirmaram as exigências territoriais já feitas, exigiram a ocupação do Japão pelos aliados, a eliminação de suas Forças Armadas e a instalação de um governo responsável e pacifista. Quando o Japão recusou essas condições, Truman ordenou que a primeira bomba atômica fosse lançada sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945.  O número total de mortos foi de cerca de 150 mil. Naquele momento, o mundo entrara nja era nuclear. Três dias depois, a segunda  bomba foi lançada sobre Nagasaki e a Rússia entrou na guerra contra o Japão. Quando os ataques sobre Hiroshima e Nagasaki e a ofensiva soviética na Manchúria resultaram na sua rendição, em 15 de agosto  de 45, e o Japão estava exausto e derrotado. No dia 2 de setembro de 45, a bordo do "USS Missouri", na baía de Tóqui, o general MacArthur, supremo comandante aliado, aceitou a rendição do Japão. 
         A derrota japonesa teve duas fases: na primeira, ocorreu uma luta difícil no sudoeste do Pacífico; na segunda, aconteceu o colapso repentino e dramático dos japoneses em seu domínio no oeste do Pacífico. O avanço dos aliados no sudeste do Pacífico, entre julho de 42 e novembro de 43, após a derrota japonesa perto de Midway (junho de 42), enfraqueceu o Japão. Além disso, os aliados desencadearam uma campanha submarina bem-sucedida contra os navios japoneses. Em novembro de 44, quando os bombardeiros norte-americanos, baseados nas ilhas Marianas, atacaram de surpresa as ilhas japonesas pela primeira vez, a frota mercante do Japão estava quase toda destruída. A ocupação das Filipinas pelos aliados (final de 44) e de Okinawa (abril de 45) cortou a comunicação do Japão com o sudeste da Ásia. Após dois bombardeios atômicos em agosto, os Japão se rendeu. 
        O fim das hostilidades não trouxe a paz e estabilidade no Extremo Ocidente. A derrota européia em 1941 e a ocupação japonesa estimularam sentimentos nacionalistas e comunistas, que iriam alterar o mapa do leste e do sudeste da Ásia nas três décadas seguintes. A tentativa de recriar impérios coloniais, após a derrota do Japão, deu margem a décadas de conflitos na região. 
Nicéas Romeo Zanchett 

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terça-feira, 12 de janeiro de 2021

RIVALIDADES E ALIANÇAS EUROPEIAS - SÉCULOS XIX E XX





                As rivalidades e alianças europeias  que antecederam à Primeira Guerra Mundial foram fatores fundamentais que levaram ao desentendimento as nações mais poderosas do mundo de então. Esta guerra, que de início era apenas europeia e em 1917 tornou-se mundial, pode ser considerada uma ponte entre a era da hegemonia europeia e a da política global. Ela marcou o fim de um período da história e início de outro.
          Entre 1871 e 1914, o sistema de Estados atingiu seu apogeu na Europa. As grandes potências conseguiram estabelecer controles sobre o mundo não-europeu numa extensão até então nunca vista e procuraram garantir sua segurança através de uma estrutura de alianças e apoios diplomáticos. Enquanto permaneceu flexível , apesar das ameaças sempre implícitas de guerra, essa estrutura permitiu a solução pacífica das rivalidades políticas. 
            Em 12 anos, quatro guerras resolveram as disputas italianas e alemãs, e alteraram o mapa da Europa, da Dinamarca à Sicília. Após 1871, por 40 anos, não houve conflitos entre as grandes potências e, embora persistissem ressentimentos nacionalistas, as questões territoriais deixaram de ser problema para a maioria dos governos. 
        Das grandes potências, só a França não se conformou com a extensão do Império Alemão, que lhe roubara a primazia na Europa. Mais do que a cessão da Alsácia-Lorena, em 1871, esse inconformismo foi a principal causa da desavença franco-alemã, responsável por mudanças de apoio das grandes potências durante a paz armada de 1871 a 1914. Mas nada disso foi ameaça à paz; a França não podia desafiar  uma Alemanha que se tornara, no fim  do século XIX, a maior potência militar e industrial do mundo. Nem tinha condições, na primeira metade desse período de paz armada, de achar um aliado para contrabalancear o poder alemão. 
            Os outros cinco maiores  Estados europeus aceitaram o novo equilíbrio de poder  surgido em 1871. Nem Áustria-Hungria nem Rússia sentiam-se inclinados a apoiar a França, porque os três impérios do Leste  compartilhavam de uma ideologia conservadora de cooperação contra a ameaça de uma revolução proletária, vislumbrada por eles na Comuna de Paris, de 1871, nas atividades da Segunda Internacional, após 1889, e no progresso da democracia social com suas consequências sobre o progresso  da industrialização. Em 1882, o próprio governo italiano juntou-se aos conservadores e reprimiu a propaganda pró-independência que atingias os italianos ainda  sob o governo dos Habsburgos. Na década  de 1880, fatores econômicos, sociais, políticos e estratégicos levaram as potências  europeias (exceto a Áustria) a intensificar  suas atividades "imperialistas" fora da Europa. Disputas sobre Túnis (1881) e sobre o Egito (1882) fizeram com que as relações da França com a Itália e Grã-Bretanha se tornassem tão frias quanto suas relações com a Alemanha. Os elos dinásticos  entre os Hohenzollern e os Romanov, além do interesse comum de suprimir o nacionalismo polonês, ainda contavam nas relações russo-germânicas. Após 1871, por 20 anos, a Alemanha convenceu a maioria  da Europa de suas intenções pacíficas e conservadoras. A França ficou isolada.
              A "Aliança Dual de outubro de 1879, estipulou que a Alemanha não permitiria que a Áustria-Hungria sucumbisse a um ataque russo. Mas a Alemanha, como império conservador interessado em controlar a Polônia, tinha afinidades com a Rússia. Bismarck simpatizava com os esforços russos para consolidar sua posição na Bulgária. Ele explorou o novo papel da Alemanha, como aliada, para forçar  o alinhamento da Áustria-Hungria, ignorando seus esforços para obter o apoio da Grã-Bretanha, Itália e Alemanha contra a Rússia.    A Áustria-Hungria, rejeitada por Gladstone, voltou a cooperar com a Alemanha e a Rússia na Aliança dos Três Imperadores em 1881. A Monarquia Dual sustentou -se ainda com a Tríplice Aliança (1882), que garantiu a neutralidade da Itália em caso de guerra com a Rússia; suas alianças com a Sérvia e a Romênia diminuíram o risco  de a Rússia explorar o irredentismo sérvio e romeno contra ela. A Tríplice Aliança foi mais útil para a Alemanha, proporcionando assistência à Itália em caso de ataque francês. A Aliança dos Três Imperadores  sobreviveu à crise provocada pela união da Bulgária com a Romênia Oriental, em 1885, mas não resistiu à divergência russo-austríaca pelo controle da Bulgária em 1886/87. Bismarck prometera aos russos apoio contínuo no Tratado de Resseguro, mas os acordos "mediterrâneos" de fevereiro, março e dezembro de 1887, entre Grã-Bretanha, Itália e Áustria-Hungria (e Espanha, após maio), para resistir a supostos planos franceses e russos no Mediterrâneo e estreitos, aniquilaram a influência russa na Bulgária. 
                A Itália aderiu à aliança austro-germânica-romena em 1888 e, entre 1889 e 1894, a Alemanha, com novo imperador e novo chanceler, voltou a alinhar-se à Entente Mediterrânea. Após 1887, antes que o Tratado de Resseguro fosse abandonado, com a queda de Bismarck, em 1890, as relações russo-germânicas já haviam se deteriorado devido a disputas sobre tarifas e empréstimos. A França aproximou-se da Rússia; o primeiro de uma série de empréstimos  foi concluído em 1888 e uma convenção militar foi assinada em 1892. 
          Até 1905, fatores diplomáticos e econômicos deram à Alemanha segurança no campo armamentista. Com o "cerco" de 1914, o rápido desenvolvimento do complexo militar-industrial da Rússia e os gastos alemães com armamentos navais, fizeram com que o equilíbrio militar deixasse  de pender para as Potências Centrais. 
             Menos difícil que a desavença franco-alemã, mas igualmente persistente, foi o desacordo entre austro-húngaros e russo no sudeste da Europa, onde um mau governo e um nacionalismo rebelde ameaçaram destruir o Império Otomano. A Rússia achava vital a garantia de que nenhuma outra potência pudesse controlar os estreitos de Bósforo e Dardanelos (otomanos), por onde circulava a maior parte de sua exportação de cereais. O objetivo da Rússia era defensivo, mas suas táticas incluíam tanto a tentativa de influenciar o governo otomano como o incentivo à resistência dos cristãos, na esperança de substituir o império por satélites submissos. 
           Para a Áustria-Hungria, os esforços da Rússia em buscar a segurança , ampliando a influência no Império Otomano, pareciam perigosos por ameaçarem seus mercados "coloniais" nos Bálcãs e possibilitarem um conjunto de Estados buscando a independência  sob proteção russa. Mas, nesse período, os austríacos mantiveram um entendimento  com o governo czarista contra o nacionalismo revolucionário na Rússia e no Império Otomano. Quando esses acordos foram rompidos (1878, 1886, 1908), a Áustria-Hungria tentou obter o controle dos Estados balcânicos, formando coalizões internacionais contrárias à Rússia. 
           A Áustria-Hungria tinha o apoio do Reino Unido, onde muitos viam os interesses da Rússia no Império Otomano como ameaça às rotas para a Índia, por terra ou pelo canal de Suez. Por esse ponto de vista,as rotas já eram ameaçadas pelo expansionismo russo em direção à Pérsia e ao Afeganistão. Até o acordo anglo-russo de 1907, que removeu tais receios, A rivalidade entre os dois poderes no Oriente Próximo, na Ásia central e, na década de 1890, na China, foi determinante nas relações diplomáticas entre o Império Britânico e as potências continentais. A entente anglo-ítalo-austríaca de 1887/97 contra a Rússia (e a França) foi, segundo Salisbury  relatou à rainha Vitória, "tão próxima de uma aliança quanto o caráter parlamentar das nossas instituições o permitem". 
            No início da década de 1890, a Alemanha apoiou esse acordo. Em 1887, Bismarck aumentou as tarifas sobre importações de cereais russos para proteger proprietários de terras prussianos. Ele proibiu a prática russa de tomar emprestadas, na Bolsa de valores de Berlim, quantias necessárias para financiar ferrovias estratégicas e armamentos, considerados uma ameaça. Quando a França colocou a Bolsa de Paris à disposição da Rússia, abriu caminho para aliança franco-russa de 1894. As tentativas alemãs para evitar a cooperação com a Rússia no Extremo Oriente, após 1895, foram em parte bem-sucedidas. Mas a concentração dos interesses da Rússia na região levou os austríacos, em 1897, a restabelecerem a entente conservadora. Pela entente russo-austríaca de 1897, os alemães abandonaram a "Nova Ordem", cessando o apoio à Áustria-Hungria nos Bálcãs e cooperando, no Extremo Oriente, com Rússia e França. A Grã-Bretanha, após os massacres armênios, recusou-se a prometer lutar pelo sultão. A Áustria-Hungria, com conflitos internos e alianças balcânicas em declínio, conformou-se com uma entente com a Rússia para amenizar seus problemas nos Bálcãs em 1897. A Rússia melhorou sua posição na Bulgária, assinando uma convenção militar, em 1902, e na Sérvia, após um golpe nacionalista do exército, em 1903. 
               No fim da década de 1890, coexistiam três grupos de poder na Europa: o Império Britânico, a aliança franco-russa e a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria, Itália) que era um instável equilíbrio que permitia manobras políticas e, assim, favorecia a paz. 
              Em 1902, a França - em parte para enfraquecer a Tríplice Aliança - resolveu sua disputa de 20 anos com a Itália; em 1904 firmou acordos com a Grã-bretanha sobre o Egito e o Marrocos. Rússia e Áustria-Hungria ampliaram sua entente. Fracassaram os esforços alemães de se aproveitar dos problemas da Rússia em relação ao Japão, para renovar ligações formais com São Petersburgo e de intimidar a França, para que abandonasse seus acordos com a Grã-Bretanha. O elo anglo-francês foi reforçado depois que a Rússia acertou suas disputas  extra-européias com a Grã-bretanha, em 1907. 
          A simplificação dos alinhamentos políticos  num sistema bipolar começou com a "Weltpolitik" alemã, um desafio às três potências imperiais que convenceu a Grã-Bretanha  de que a Alemanha pretendia dominar a Europa. Em 1907, a Grã-Bretanha  uniu-se à França e à Rússia na Tríplice Entente, para conter ou "cercar" a Alemanha. Através de acordos com Itália, Grã-Bretanha me Espanha (1902/04), a França preparou-se para ampliar sua influência no Marrocos. As objeções alemãs às intromissões francesas entre 1905 e 1912 foram determinantes para encorajar o governo britânico a reforçar seus elos com a França, a fim de impedir que a Alemanha destruísse o equilíbrio de poder na Europa.
                 Entre as crises marroquinas de 1905 e 1911, as relações anglo-germânicas, complicadas pela questão naval, atingiram seu ponto mais baixo. O atrito entre Rússia e Áustria-Hungria quanto à "Guerra dos Porcos" austríaco-sérvia (1906/11), o projeto da Ferrovia Sanjak e a anexação da Bósnia e da Herzegovina encerraram a entente de 1897 e complicaram as relações russo-germânicas (embora o acordo de Potsdam, em novembro de 1910, sobre a estrada de ferro da Pérsia e Bagdá, tenha mostrado que a comunicação com São Petersburgo não havia sido rompida). Entre 1911 e 1914, as relações entre a Tríplice Entente se deterioraram. As restrições da última em relação às ambições da Itália e Albânia ajudaram a restaurar os laços entre a Itália e seus aliados. Em 1912/13, a Áustria-Hungria observava alarmada a Liga Balcânica, patrocinada pelos russos, expulsar os turcos da Europa. A aliança austríaco-romena era letra morta. Embora houvesse sinais de cooperação anglo-germânica quanto aos problemas balcânicos e coloniais, as relações russo-germânicas se deterioravam acentuadamente. 
                A simplificação dos alinhamentos políticos num sistema bipolar começou com a "Welpolitik" alemã, um desafio às três potências imperiais que convenceu a Grã-Bretanha de que a Alemanha pretendia dominar a Europa. Em 1907, a Grã-Bretanha  uniu-se à França e à Rússia na Tríplice Entente, para conter ou "cercar" a Alemanha. Em 1914, os alemães e os aliados austríacos preocupavam-se com esse cerco, especialmente nos Bálcãs. A ruptura  da entente austro-russa, quando a Áustria-Hungria anexou a Bósnia e a Herzegóvina (1908, e as guerras dos Bálcãs (1912, e 1913, que substituíram a "Turquia-na-Europa" por um complexo de estados balcânicos, criaram uma situação explosiva.  Em 1914, as ambições sérvias reabriram a disputa, obrigando Viena a tomar uma decisão. Quando Berlim, com medo do "cerco", decidiu apoiar Viena com maior peso do que permitiam os termos da aliança defensiva de 1879, começava acender o estopim  da Primeira Guerra Mundial. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

AS NOVAS REVOLTAS ANTICOLONIAIS

 


        O novo imperialismo, iniciado com a ocupação francesa de Túnis, em 1881, e com a ocupação britânica  do Egito em 1882, desencadeou reações anticolonialistas por toda a Ásia e África. A extensão, intensidade  e significado dessas ocupações raramente têm sido apreciados em sua totalidade. Na Tunísia, a intervenção francesa levou a um levante islâmico, seguido de combates no sul.   No Egito, os britânicos enfrentaram uma revolta nacionalista sob Arabi Pasha. A independ~encia não foi entregue passivamente  nem na África nem na Ásia. Em Annam  (Vietnã), o imperador Ham Neghi retirou-se para as montanhas em 1883 e resistiu à ocupação francesa até 1888. . Os britânicos sofreram reveses no Sudão, em poder do Mahdi e de seu sucessor, o Califa, com o aniquilamento da guarnição de Cartum, comandada pelo general Gordon, em 1885.  No Cáucaso, de 1834 a 1859, os russos enfrentaram a oposição de Shamil, "governante dos justos e exterminador dos infiéis", e encontraram mais resistência muçulmana na invasão da Ásia central. Os italianos  foram derrotados pelos abissínios, em Adowa, em 1896. Quando os EUA ocuparam as Filipinas, em 1898, se envolveram numa guerra dispendiosa com as forças nacionalistas de Emílio Aguinaldo, perdendo cerca de 7 mil homens até 1902.
         Mesmo após a ocupação, as potências europeias enfrentaram protestos quase contínuos. Aguinaldo foi capturado, mas a população islâmica de Mindanao ainda resistiu nas Filipinas. Na Indochina, o "Bandeiras Negras" continuou sua luta quando o imperador Ham Nighi foi capturado, em 1888. Após 1895, o novo líder, De Tham, enfrentou os franceses até 1913. Na África, os britânicos encontrartam resistência dos ashantis, matabeles, zulus e outros povos, e os alemães enfrentaram grandes revoltas dos hereno e maji-maji na África do Sul e Tanganica, em 1904 e 1905. 
          Na Ádsia,a resist~encia ao colonialismo europeu assumiu duas formas: nas áreas colonizadas, como Indochina Francesa e Índias Orientais Holandesas, a população nativa  optou pela luta armada para obter a independência; nos grandes impérios, como a China e Império Otomano, cuja integridade territorial estava ameaçada, a intervenção europeia teve como consequência revoltas contra as dinastias reinantes e início da modernização para enfrentar o Ocidente em igualdade de condições. A divisão da Árica entre as potências europeias, iniciada na Conferência de Berlim, em 1834, provocou um movimento de resistência entre os povos africanos, reação esta que nunca pôde ser reprimida durante o período de 1887 a 1917. 
         Essas resistências eram, em geral, uma explosão de ressentimentos, xenofobia e desespero, além de serem conservadoras e retrógradas, com forte componente religioso e tradicionalista. No Egito e norte das África, líderes nacionalistas como Afghani e Mohammed Abduh conclamaram seus povos a uma renovação islâmica, e o Mahdivva, que controlou o Sudão de 1881 até 1898, foi um movimento de reavivamento islâmico contra egípcios e europeus. O hinduísmo teve igual papel ao alimentar a resistência na Índia, assim como o confucionismo na China. Essa reação tradicionalista e conservadora ao imperialismo europeu, com poucas chances de sucesso diante da supremacia militar das potências coloniais, foi acompanhada por uma resposta mais positiva em países como a Turquia, Egito, China e Índia, onde a interferência do Ocidente já minara a velha ordem. A "falência" da Turquia, em 1875, e a do Egito, em 1879, mostraram que a saída para deter a invasão ocidental seria o fim das instituições arcaicas e dinastias  semifeudais e a realização de um programa  de modernização. Na Turquia, o assalto russo, em 1877, e o desmembramento do Império Otomano pelas potências europeias (Congresso de Berlim, 18878) atiçaram o patriotismo dos Jovens Turcos, que se amotinaram na revolução de 1908. Na China, a guerra com o Japão, em 1894/95, e sua consequência imediata, a ameaça de partilha, levaram à Reforma do Cem Dias de 1898 e, após seu fracasso, ao levante Boxer contra os estrangeiros. No Egito, a revolta de Arabi Pasha contra o quediva Tewfik (controlado pelos interesses europeus) voltou-se contra os estrangeiros após a ocupação britânicas de 1882. Na Índia, o Congresso Nacional (fundado em 1885), que buscava uma política moderada de reforma constitucional, recebeu, após 1905, a representação de um movimento radical de inspiração hindu, liderado por Bal Gangadhar Tilak.  
            Esses movimentos eram  mais "protonacionalistas" que nacionalistas; não tinham unidade e objetivos claramente definidos e nenhum alcançou resultados duradouros. No Império Otomano, os Jovens Turcos depuseram o sultão Abdul Hamid II em 1908, mas suas tentativas de reforma fracassaram. Na China, a república proclamada em 1912 transformou-se, um ano depois, na ditadura de Yuan Shihkai. Na Pérsi, greves e tumultos forçaram o xá, em 1906, a convocar uma Assembléia Nacional, o "majlis", que elaborou uma Constituição liberal. Quando seu sucessor tentou revogá-la, foi deposto (1909); mas o xá foi reintegrado ao cargo após dois anos e o "majlis"suprimido. Mesmo assim, os movimentos de resistência não podem ser considerados  um fracasso. Apesar de originalmente xenófobos, vinham se transformando, antes  de 1914, em movimentos nacionalistas modernos. Prova dessa mudança foi o surgimento de associações nacionalistas e partidos políticos. Muitos eram pequenos grupos  de uma elite insatisfeita, mas alguns  tinham grande adesão. O Sarekat Islam, primeira organização política e nacionalista da Indonésia, fundada em 1912, tinha 360  mil associados em 1916 e mais de 2 milhões  no final da Primeira Guerra Mundial. 
          A guerra instigou o nacionalismo na Ásia e na Árica, já existente antes de 1914. A resistência ganhara força com a vitória do Japão na Guerra Russo-Japonesa de 1904/05, ao demonstrar que os europeus não eram invencíveis. Os nacionalistas chineses consideraram a derrota russa para o Japão como a derrota do Ocidente pelo Oriente. Ela repercutiu pela Ásia, da Pérsia à Indochina, onde impulsionou a conspiração Chieu cotra a França (1906). A Primeira Guerra desviou a atenção das potências de suas  colônias, criando novas oportunidades. Quando os bvritânicos proclamaram o protetorado sobre o Egito, em 1914, instigaram a oposição e inflamaram o sentimento  antibritânico, já acirrado pelas execuções em Dinshaway, em 1906. Na Rússia, uma revolta eclodiu em 1916 entre os muçulmanos da Ásia Central. No norte da África, em 1915/16, os franceses enfrentaram insurreições na Tunísia, apoiados pelas tribos Sanusi do Saara, que guerreavam desde a ocupação italiana da Tripolitânia e Cirenaica, em 1911 e 1912. A França enfrentou ainda protestos em Annam, em 1916. Na Nyasalândia, a saída de tropas para enfrentar os alemães permitiu a John Chilembwe liderar uma revolta contra os britânicos em 1915. Apesar dos retrocessos e da repressão, a resistência persistiu. Nenhuma potência que disputara colônias em 1884 estava segura de suas possessões. Em nenhum lugar foi aceito o domínio europeu. As conquistas nacionalistas nesse período não tiveram grande importância, mas, ao manter viva a chama da resistência, iniciaram um processo que levou, uma geração depois, ao colapso dos impérios europeus e à emancipação dos povos colonizados. 
           Para lutar pacificamente ou com armas, muitos partidos e associações nacionalistas foram formadas. Em 1885 - Fundação do Congresso Nacional  Indiano; 1889 - União Otomana ("ittiad-i Osmani") primeiro grupo organizado de oposição turca em 1895, denominou-se União e Progreesso ("ittihat ve Terakki"), depois organização do movimento dos Jovens Turcos.; 1897 - Partido Nacional Egípcio ("al-Arabiya al-Fatat"), de Musatafá Kamil; 1905 - Sun Yatsen funda a organização revolucionária secreta chinesa "Tung Meng Hui" transformada em 1912 no "Kuomintang" (partido Nacionalista); 1905 - Fundação da Liga Muçulmana  de Toda Índia; 1907 - "Hizb al-Umma" (Partido do Povo), o0rgão do Saad Zaghlul", precursor do Paretido Nacionalista Egípcio, o "Wafd" (1919); 1908 - Primeira associação nacionalista da  indonésia, "Budi Utomo"; 1910 - n"Tunis al-Fatat" (Partido Tunisiano  Jovem) , precursor do Partido Constitucional  Tunisiano ("Destour"), de 1920; 1911 - Associação Árabe Jovem ("al-Jamiya al-Arabiya al- Fatat"), sefdiada na Síria após 1913; 1912 - Partrido Nacionalista da Indonésia, "Sarekat Islam" (Associação Islâmica); 1912 - Congresso Nacional Sul-Africano, depois Congresso nacional Africano; 1913 "Viet Nam Quang Phuc Hoi" (Associação para Restauração do Vietnã), organização revolucionária fundada por Phan Boi Chau. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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