Quando se fala em Árabes, em civilização árabe, é preciso esclarecer uma coisa ; sob tal nome vai designado um conjunto de povos, diversos quanto aos hábitos e história, que a religião de Maomé acomunou, mas não amalgamou, nunca, completamente. Esse líder guerreiro tinha como objetivo único impor seus pensamentos religiosos a todos os seres viventes da terra; isso, como se sabe claramente, é uma utopia. Ele dizia "Somente Alá é deus e Maomé é profeta".
As religiões ainda exercem muita influência sobre os povos do mundo todo; principalmente entre aqueles menos favorecidos econômica e culturalmente. Em nome de Deus mataram milhões de pessoas; muito mais do que todas as guerras políticas, incluindo a primeira e segunda guerras mundiais. Mas no quesito religião, os muçulmanos, embora cruéis, não superaram a Igreja de Roma quando olhamos para a "Santa inquisição", as "Cruzadas" e os "Templários".
Os verdadeiros árabes, oriundos da região compreendida entre o Golfo Pérsico e o Mar vermelho, constituem, sempre, o cerne guerreiro do islã e, como compatriotas de Maomé, formaram o núcleo mais compacto. Entretanto, o imenso patrimônio de arte e cultura, que traz sua marca, não foi obra deles, mas sim de povos muito mais civilizados, que eles subjugaram, tais como os Siríacos e os Persas. Também neste caso, portanto, assistimos ao habitual fenômeno dos bárbaros, que sobrepujaram povos muito mais antigos e muito mais cultos do que eles, assimilando-lhes, em seguida, o tesouro espiritual.
Mas quando as hordas germânicas, que invadiram a Europa, eram movidas somente pela sede de saque, os Árabes eram impulsionados por um objetivo bem ais elevado: a difusão de sua própria religião, o apostolado (ainda que de espada em punho) entre os povos que permaneciam imersos nas névoas da idolatria.
Maomé nasceu em Meca, uma cidade da Arábia Ocidental, ao redor de 570 d.C. Nessa data, Meca era o principal centro comercial da Arábia Ocidental, e era também um importante centro de peregrinação, dedicado ao culto da Caaba, a "Pedra Negra" (um meteoro que caiu naquele local, e, segunda a crença muçulmana, foi enviado por Alá). A mensagem de Maomé aos seus seguidores os convidava a deixarem de adorar ídolos e se submeter à vontade de Alá.
À medida que seus seguidores cresciam em número, Maomé provocou a hostilidade da aristocracia dos mercadores de meca, que temiam que a aceitação de sua mensagem significasse uma ameaça para o santuário. A hostilidade se transformou em perseguição e em 622 Maomé e seus seguidores se retiraram para Iatreb, cerca de 450 quilômetros a noroeste de Meca. A data dessa migração, ou hégira em árabe, o 16 de julho de 622, marca o começo do islã e, portanto, do calendário muçulmano.
Em homenagem ao profeta, Iatreb passou a chamar-se Medina, a partir da qual, no ano de 630, Maomé retornou a Meca, eliminou os ídolos e transformou a Caaba no ponto central da nova religião do islã. Este foi o primeiro passo para um incrível processo de expansão religiosa que levaria o Islã para a Espanha e a África Ocidental, e tão longe quanto a Ásia Central e a Indonésia. O desenvolvimento e a expansão inicial do islão devem ser assinalados no contexto das relações comerciais que se haviam desenvolvido no Oriente Próximo e na Arábia durante os períodos helenísticos e romano. O surgimento do urbanismo no Mediterrâneo oriental criou uma nova e maciça demanda de matérias-primas que estimulo o comércio com todas as regiões circundantes. A Arábia do Sul foi muito importante como fonte de incenso e mirra para os altares dos templos no Egito, Síria e Levante, estabelecendo-se colônias de mercadores cristãos e judeus do Oriente Próximo nas cidades oásis da Arábia Ocidental, que constituíam pontos de paradas nas rotas comerciais. A prematura introdução do judaísmo e do cristianismo na Arábia Ocidental criou o ambiente cultural e religioso no qual desenvolveu-se o Islão, e a tolerância islâmica das duas "religiões do livro" mais antigas possibilitou que os muçulmanos conseguissem êxitos nas províncias do Oriente Próximo pertencentes ao Império Bizantino.
A doutrina de Maomé pugnava a "Guerra Santa", prometia o paraíso a quem morresse combatendo os infiéis. É interessante observar que os combatentes acreditavam piamente nesta promessa, tanto que até hoje não se incomodam de morrer, pois acreditam que irão imediatamente encontrar com Alá, onde viverão eternamente felizes. Isso não acontece com as demais religiões. A história nos conta que Joana D'Arc (uma rara exceção) realmente acreditava que, ao morrer, iria encontrar seu Deus que a esperava na vida eterna; ela era profundamente católica praticante, mas não agradou aos interesses dos líderes da sua religião e, por isso, foi queimada viva numa fogueira. O que vemos é que todos, os que se dizem fiéis religiosos, temem diante da morte; querem viver mais do que Matusalém, que, segundo informações bíblicas, viveu 966 anos.
Maomé foi guerreiro muito inteligente e logo conseguiu muitos fiéis para sua causa. Instintiva e profundamente fanáticos, como todos os Orientais, os Árabes tomaram a ordem ao pé da letra e dela fizeram uma razão de vida ou morte.
Da Meca, a maré beduína espalhou-se, quebrando todo e qualquer obstáculo, primeiro no Oriente e mais tarde no Ocidente. Sob o reinado do primeiro Califa Abu Bekr, amigo e sucessor de Maomé, foram conquistadas a Síria e depois a Mesopotâmia (632 x 634); no reinado de Omar, segundo Califa, a meia-lua (símbolo islâmico)cintilou no Egito e na Pérsia, onde derrubou a dinastia sassânida, avançando para o Oriente, indo até ao Turquestão. Seduzidos pela nova doutrina, que pregava a igualdade entre ricos e pobres e que era um misto de judaísmo e cristianismo, os povos se rebelavam contra os feudatários sacerdotes, abrindo caminho para os cavaleiros do Islã. Assim, as verdes bandeiras do Profeta percorreram, qual uma rajada, toda a África Setentrional, que foi arrebatada aos Bizantinos, penetraram no coração da Ásia, além de Amu Daria, e chegaram até ao Vale do Indo.
Em princípios do século VIII, o domínio dos Califas(no trono de Bagdá subira a dinastia Omíadas) abraçava todo o Mediterrâneo oriental e meridional, até ao Atlântico. Em 711, o comandante árabe Tarik varreu o último dos reinos romano-barbáricos, o dos Visigodos, estabelecendo-se firmemente na península.
Vejamos as data: desde 622, o ano da Hégira, isto é, ao início da era islâmica, transcorrera cerca de um século, cem anos de lutas, que deram aos Árabes um enorme poder e imensos territórios. os filhos dos cameleiros do Hedjaz apresentavam-se, de armas em punho, às portas da Europa, irrompendo para além dos Pireneus, nas planícies de Aquitânia. Mas, aqui se verificou o choque fatal, quando foi contida, finalmente, a terrível maré muçulmana. Em 732, perto de Poitiers, os Berberes, comandados por Abd-el-Raman, encontraram-se com homens mais duros do que eles, os Francos de Carlos Martelo, e esborraram-se completamente ante os exércitos contrários. O Islã chegara ao ápice de sua expansão; a Europa estava salva deles.
Finalmente chegava o fim do império dos califas. Quando os cabeludos guerreiros de Carlos Martelo, aos pés das colinas de Poitiers, contiveram o choque maciço da maré árabe, o grande impulso expansionista do islã no máximo de seu poderio. Do Oriente ao Ocidente , de Constantinopla aos Pireneus, a imensa tenaz árabe estreitava-se sobre a Europa. Territórios intermináveis, milhões de homens, cidades e riquezas, tudo havia tombado, quase sem combater, ante o rápido avanço dos sequazes do Profeta. Pequenos exércitos, de não mãos de dez mil homens, exíguos pelotões de cavaleiros de longos mantos, montados em ágeis ginetes do deserto, tinham afrontado atrevidamente grandes forças militares sabidamente organizadas.
Dezoito mil homens haviam bastado para conquistar o poderoso império Persa, não mais de quatro mil dominaram o Egito, defendido por trinta mil bizantinos, e parecia que o esvoaçar dos mantos e o cintilar das cimitarras tornassem inertes os cultos ocidentais. '
A batalha de Poitiers, porém, quebrou o encanto. desde esse dia, inexplicavelmente, os Árabes se detiveram, recuando lentamente dos postos mais avançados, continuando a guerra, mas de preferência no mar. Aqui, eles adotaram o mesmo método, de rápidos golpes armados, que lhe haviam dado tanta sorte em terra. Era o método dos salteadores beduínos, que se atiravam de galope sobre as inermes caravanas e despareciam depois da pilhagem, na imensa poeira do deserto. Assim, entre os séculos VIII e IX, caíram em poder do islã quase todas as
ilhas do mediterrâneo, das baleares à Sicília. E destas novas bases barbarescas saíam rápidas incursões às costas do continente. Ainda hoje são visíveis, ao longo das praias e das enseadas da Itália, as antigas torres de atalaia, de onde se dominam largos trechos de mar, destinados a avistar a distância o surgir das velas sarracenas. Muitas vezes, naqueles séculos obscuros, o povo das cidades mediterrâneas, despertado noite alta por um angustioso bimbalhar de sinos, precisou correr para fora de casa, subir as colinas, a fim de salvar os filhos e seus bens, ou então, correr para as muralhas a fim de despejar chumbo derretido ao atirar terríveis flechas sobre os esquadrões de corsários árabes, que haviam desembarcado, de improviso, para saquear.
Todas essas lutas eram conduzidas ou financiadas pelos fidalgos da região e, na verdade, aos poucos, o império dos Árabes, sempre dependendo nominalmente do Califa de bagá, foi-se fracionando em muitos potentados menores. Não bastava ter vencido, era necessário saber governar; e os Árabes, impelidos de repente para a ribalta da História, por um irresistível impulso religioso, não estavam preparados para a Imensa tarefa. Culturalmente, já se disse, eles eram pouco mais que bárbaros, de modo que todo o infinito patrimônio artístico e científico que lhes tem sido atribuído, na realidade pertencia aos Persas, Siríacos, Gregos e Italianos. Tiveram, todavia, o grande mérito de saber compreender a importância de quanto haviam conquistado e de assimilá-lo prontamente.
A religião de Maomé era uma poderosa "sugestão espiritual", que ligou voluntariamente aos novos senhores os sábios da Grécia e do Oriente, tanto que, durante muito tempo, os manuscritos da era clássica foram Europa, tornada bárbara pelos germanos, através das universidades árabes. E, para o progresso do mundo de então, ao qual todas as civilizações do oriente contribuíram, muito atestam as maravilhosas arquiteturas espanhola e sicilianas, os fabulosos palácios de Damasco, os belos livros ricamente encadernados, os tapetes e a tapeçaria, que parecem restos de um paraíso desconhecido. No século X, a grande expansão árabe terminara; o próprio império dos califas, depois da glória da dinastia abássidas, que sucedera aos Oníades, ia-se esfacelando aos poucos.
Mas o poderio do islão estava alto e glorioso; dos árabes, a Europa iria haurir os germes de sua nova história; da união entre o duro mundo romano-germânico e a sabedoria do Oriente, nasceria a flor da Renascença.
Sob os califas Omíadas (661 x 750), o Islã dominou a terceira parte do mundo antigo, formando assim o império mais extenso jamais vistos. As fronteiras ficaram relativamente estáveis na dinastia seguinte, os abássidas (750 x 1258, quando o comércio a distância foi incrementado e as condições pacíficas estimularam o crescimento econômico. Também um fantástico florescimento cultural que sintetizou com exito muitos dos progressos dos povos subjugados, incluindo os geco-romanos do Mediterrâneo Oriental e os persas do irã. Houve um renascimento com a construção de magníficos edifícios, com artesãos talentosos e um novo avanço do conhecimento. Os palácios do meio do deserto, na Síria e na Jordânia, incorporaram balneários e mosaicos da melhor tradição greco-romana, sendo construídos pelos descendentes diretos de artesãos que tinham usufruído da proteção bizantina. Os eruditos e cientistas islâmicos imitaram e desenvolveram o trabalho de seus predecessores greco-romanos. Em certos aspectos, efetivamente, foram os omíadas e abássida, mais que bizantinos ou europeus ocidentais, os herdeiros das artes e do saber da Grécia e de Roma.
Com a acensão da dinastia abássida, houve uma mudança no ambiente cultural - transferindo-se do Mediterrâneo para a Mesopotâmia e para a Pérsia. A capital omíada havia sido Damasco, mas em 766 os abássidas a transferem para Bagdá. Estrategicamente localizada à beira do Tigre, na interseção das principais rotas comerciais do oriente e Ocidente, Bagdá tornou-se um poderoso símbolo do domínio abássida. A "Cidade Circular", um complexo administrativo, tinha muralhas duplas de tijolos de barro com quatro entradas nos pontos cardeais. O califa instalou seu palácio no centro da Cidade Circular; os funcionários habitavam num anel de residências, no interior das muralhas. os mercados e a maioria da população estavam do lado de fora, ao redor do antigo centro de Al Karkh.
Samarra, a capital abássida se estende 40 quilômetros ao longo do Rio Tigre, foi a capital do califado abássida de 836 a 892. A forma longitudinal da cidade deve-se provavelmente aos problemas de abastecimento de água, sem bem que isso provocou dificuldade de comunicação e falta de segurança. Não havia muralha exterior, e os habitantes (principalmente soldados e operários recrutados) estavam confinados em bairros fechados auto-suficientes. Fundado pelo califa Al-Mu'tasim, o núcleo da cidade original estava ao redor de Jawsaq-Al-Khaqani; os califas posteriores acrescentaram novas áreas. O califa Al-Mutawakkl anexou um novo setor no norte, Ja'fariyya m(859 x 861), com vários bairros, palácios e a mesquita de Abu Dulaf. Depois do seu assassinato, a corte se transferiu para o sul da cidade, onde foram construídas novas estruturas. Depois da morte do oitavo califa, Al-Mu'tamid, a capital abássida retornou novamente para Bagdá.
As mesquitas, os edifícios mais importantes do Islã, existiam em todas as cidades islâmicas. Apesar das variações, todas tinham um pátio e salão coberto para orações com um mihrab, um nicho da muralha, que indicava a direção da oração, voltada para Meca. Outra característica era o minarete, ou torre, de onde os fiéis são chamados para a oração. Uma das mesquitas maiores foi construída na Espanha, em Córdova, foi iniciada em 785 e podia alojar 5.500 fiéis; a maior de todas, porém, era a Grande mesquita, erguida em Samarra, Iraque, pelo califa Al-Mutawakkil, em 849 x 850. Se bem que, provavelmente, o mais imponente dos antigos edifícios religiosos do Islã não seja uma dessas grandes mesquitas, mas sim o santuário menor da Cúpula da Rocha em Jerusalém, ricamente decorado com mosaicos de frutas, vinho e árvores, pois considerava-se idolatria representar figuras humanas e animais num contexto religioso.
No apogeu do califado abássida, as redes comerciais islâmicas estenderam-se do Sudeste Asiático até o Atlântico. É possível acompanhar as rotas das caravanas desde a Ásia Central até a China, pelas ruínas das caravaneiras (postos no caminho que forneciam comida e refúgio para os viajantes). Os árabes também dominavam os mares com suas embarcações; eram navios com aparelhos latino, fabricados com tábuas de teca ou de coqueiro costuradas com barbante de Palmeira. Eram comercializados ouro, marfim e escravos da África; uma ampla variedade de artigos, especiarias e cerâmica do Extremo Oriente; âmbar, couros e cera do Báltico, em troca de artigos de luxo, como madeiras talhadas, trabalhos em metal, objetos de vidro, testeis, azulejos e cerâmicas envernizadas. Enquanto Bizâncio lutava para se recuperar dos golpes do século VII e a Europa ainda aguardava o desenvolvimento de Estados medievais estáveis, a luz da civilização brilhava com vivacidade nas prósperas cidades do mundo islâmico.
No início do século IX, uma série de poderosos impérios estendiam-se desde o Atlântico até o Pacífico; carolíngio, bizantino, abássidas, a dinastia T'ang na China. Além das condições mais estáveis, existia o renascimento dos contatos transasiáticos, fatos que poderiam ter levado a acreditar numa nova era de ouro para a Eurásia. Na Europa estas expectativas foram destruídas com os acontecimentos das décadas seguintes; as incursões do viking e magiares, o colapso dos carolíngios e um novo ciclo de insegurança e decadência econômica.
O século X marca um novo ponto crucial. No Ocidente, o Império Franco de Carlos Magno jazia em ruínas, mas os poderosos soberanos da Inglaterra e da Alemanha repeliram as ameaças dos vikings e magiares, criando reinos unificados que resistiriam às vicissitudes dos séculos seguintes. No leste, Império Abássida começou a se dividir originando reinos independentes no Egito e no Afeganistão. Não obstante, a cultura islâmica continuou florescendo e seus vizinhos do norte, os bizantinos, desfrutaram um renascimento político e econômico nesse período. Os vikings, ferozes como invasores, tiveram êxito como mercadores, abrindo novas rotas a distância sustentadas por uma rede de cidades comerciais.
Para os europeus, muito havia mudado e muito se havia perdido desde que Roma caiu diante os godos no século V; porém, próximo do fim do século X haviam-se estabelecido as bases para um renascimento cultural e econômico. No começo do novo milênio, a Europa do Norte começou a se livrar do pesadelo de séculos de violência e decadência e pode iniciar com maior confiança o seu caminho rumo à grandes catedrais góticas da Alta Idade Média.
Em 1258, o califado abássida, enfraquecido, porém sempre o símbolo supremo da unidade e autoridade para a maioria dos muçulmanos, foi derrotado em Bagdá pelas forças amplamente superiores dos mongóis. Embora o conceito do califado fosse revivido pelos otomanos no começo do século XVI, os acontecimentos de 1258 determinaram uma nítida virada na história muçulmana.
A transformação do mundo islâmico tinha iniciado, de fato, vários séculos antes. No começo do século X, os esforços dos califas abássidas para manter a unidade política do Islã se esgotaram. Em 909, o Egito separou-se sob uma linhagem independente de califas, os fatímidas, e outras regiões, entre elas, Afeganistão e Transoxiana, logo seguiram o seu exemplo. No século seguinte houve mudanças dramáticas, quando um belicoso povo turco, os seldjúcidas, atacou o que restou do reinado abássida assumindo o controle político e deixando apenas os assuntos religiosos na mão do califa. Poderosos sultões seldjúcidas derrotaram os bizantinos em Mansikert em 1071 e iniciaram a expansão na Anatólia.
Porém sua hegemonia durou menos de dois séculos. Em 1423, os seldjúcidas foram derrotados pelos mongóis na batalha de Kosedag, sendo radicalmente modificado o mapa político do Islã nos anos que se seguiram.
Depois da derrota em Alain Jalut, entretanto, os mongóis se retiraram para a Pérsia, deixando um vazio de poder na Anatólia. Bizâncio esperava levar vantagem desses acontecimentos, mas o saque de Constantinopla pelos cruzados vindos do Ocidente em 1204 e a criação de um império latino rival na Grécia e nos Bálcãs tinham enfraquecido fatalmente o Império Bizantino. Como resultado, o território abandonado pelos nômades, localizado entre Bizâncio e os mongóis, foi logo ocupado por dez pequenos Estados turcos, que disputavam a supremacia política da região. Todos justificavam sua existência afirmando que eram ghazis, guerreiros de fé, que procuravam anexar territórios não muçulmanos para fazê-los entrar no rebanho do Islã. No começo do século XIV, um desses pequenos Estados beligerantes era governado por um chefe chamado Osman (Uthman, em árabe), do qual deriva o nome da dinastia dos otomanos.
Sob Osman (1281 / 1324) o seu filho Orkhan (1324 / 1360), o Estado otomano se expandiu gradativamente às expensas de seus vizinhos muçulmanos e cristãos. Um dos maiores êxitos foi a captura, em 1326, depois de um bloqueio de cinco anos, da cidade bizantina de Bursa. Imediatamente os otomanos a transformaram em sua capital e os primeiros sultões foram sepultados em magníficos túmulos dentro da Grande Mesquita da cidade. A elite dos otomanos fez de Bursa um centro artístico e de ensino, ao passo que os turcos se transformavam de nômades em sedentários, e seus líderes, de chefes, passaram a ser governadores. Orkhan começou a cunhagem de sua própria moeda, sinal inequívoco de independência e estabilidade, e recrutou administradores para que o ajudassem a dirigir o Estado.
A medida que os otomanos se organizavam melhor, os serviços dos seus eficientes soldados tinham maior procura. Em 1346, Orkhan emprestou cerca de 5.500 soldados para um nobre bizantino, João Cantacuceno, que desejava ser imperador. Depois de consegui-lo, em recompensa, o novo imperador desposou a filha do sultão. Essa associação também possibilitou que Orkhan e seus seguidores se instalassem na margem européia do Bósforo, acontecimento crucial para a futura expansão do poderio otomano. Os turcos ocuparam Trácia e o útil porto de Galipoli , no setor europeu do Bósforo. Então Orkhan enviou rapidamente grandes contingentes de súditos para que povoassem as ricas terras europeias que tinha adquirido. Quando morreu, em 1360, tinha duplicado sua herança, que porém continuava sendo pequena: com 30 mil milhas quadradas, o Estado otomano tinha aproximadamente o mesmo tamanho que a Irlanda, ou o Estado de Maine.
Entretanto, Murad I, filho de Orkhan, aumentou imediatamente seu controle sobre a Europa; em 1361 capturou Andrinopla, segunda cidade importante de Bizâncio depois de Constantinopla. Murad a rebatizou de Edirne e tornou sua capital.
Este avanço do Islã na Europa provocou inquietação entre os Estados cristãos além dos Bálcãs. Em 1389, o rei da Sérvia e seus aliados formaram um grande exército, sendo derrotado pelos otomanos na decisiva batalha de Kosovo. Embora Murad tenha morrido no combate, seu filho e sucessor Bajazet aproveitou plenamente a vitória. Poucos anos depois tinha anexado o reino da Bulgária (1393), arrasado com um grande exército cruzado em Nicópolis (1393) e maioria dos estados independentes da Anatólia também tinham sido absorvidos pelo Estado otomano, que se estendia desde os Cárpatos até os Montes Taurus, abrangendo ao redor de 267 mil milhas quadradas.
Sob Bajazet, o império otomano desenvolvia muitas características que o fariam posteriormente famoso. No núcleo do sistema político estavam o sultão com sua família, já que a tribo de Osman continuava sendo o centro do Estado. Estavam cercados por uma espécie de corte aristocrática constituída pelos membros da antiga elite turca e servidos pelos vizires, delegados do sultão que supervisionavam sua administração.
Porém, ali também havia inovações. A corte turca funcionava de acordo com um protocolo exigente, introduzido por Bizâncio (provavelmente iniciado pela esposa grega de Orkhan), enquanto o Exército dos guerreiros ghazis, voluntários de Osman e Orkhan, foram substituídos por tropas bem treinadas, recrutas especialmente entre jovens capturados nas guerras balcânicas. Foram chamado de "Força Nova"; os yeni-tcheri, conhecidos por janízaros e facilmente reconhecíveis em ação por seus altos e emplumados chapéus. Murad também recrutou jovens cristãos dos Bálcãs e lhes ensinou a língua, a lei e a fé turcas, para que pudessem ingressas na administração otomana.
Porém, na Ásia, a expansão otomana foi menos popular. Em 1390 o sultão Bajazet, apelidade Yildirim - Raio - por suas campanhas relâmpagos, começou a atacar seus vizinhos orirentais, exigindo lealdade. Os governantes que não o fizeram foram depostos. Infelizmente para ele, um desses soberanos era Timur, o Coxo, conhecido como Tamerlão, descendente de Gengis khan, comandante de vastos exércitos e conquistador de um império que se estendia da Pérsia até a Índia. Em 1402 enganou Bajazet com suas manobras e atacou Ancara, principal cidade da Anatólia. Quando as forças do sultão se aproximaram, foram arrasadas e Bajazet capturado. Os domínios otomanos na Ásia Menor foram assolados sistematicamente e os governos depostos por Bajazet restritos às suas possessões.
A catástrofe de Ancara poderia ter significado o fim do governo, porém, paradoxalmente, os turcos foram resgatados por seus inimigos. Em troca de uma remuneração adequada, navios mercantes italianos transportaram os sobreviventes da batalha a salvo para a Europa. Além disso, Tamerlão morreu em 1405, mantes de conseguir criar Estados sucessórios na Anatólia capazes de enfrentar as posições dos otomanos que permaneciam intactas. A seguir, houve um vazio de onze anos, entre 1402 e 1413, quando os Estados balcânicos e os emirados anatólios aproveitaram a oportunidade proporcionada pela vitória mongol para se livrar do governo otomano. Bajazet morreu em cativeiro no ano seguinte à sua derrota. Porém, o Império Otomano se recuperou, e com Maomé II (1451 / 1481) conseguiu a mai espetacular de suas conquistas: a captura de Constantinopla em 1453. Suas grandes muralhas, de mais de 30 metros de altura, haviam suportado muitos cercos anteriores (sete dos mesmos otomanos), mas Maomé II foi capaz de assestar contra estas antigas defesas, construídas mil anos antes, a maior inovação militar do Renascimento: uma bateria de canhões. Alguns deles, como o "Canhão dos Dardanelos", atualmente em exposição na Torre de Londres, mediam quase 7 metros de comprimento e lançavam um projétil de pedra que pesava 676 libras. No dia 5 de abril, o Exército turco, com aproximadamente 150 mil homens, posicionou-se frente á capital de Constantinopla, defendia por apenas 8 mil soldados, e no dia 29 de maio, após o terceiro assalto, a cidade caiu finalmente em poder dos turcos.
Foi uma vitória de grande importância. No plano religioso, cumpriu com um desejo do próprio profeta Maomé que queria que um dia Constantinopla fosse conquistada pelas forças do Islã.
Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, permaneceu por mais de um milênio como seu centro político. Apesar dos sucessivos assédios que sofreu de diferentes povos, a cidade não caiu em mãos estrangeiras até 1204. Entretanto, a conquista pelos turcos otomanos em 1453 foi a que acabaria para sempre com sua tradição latina.
Aproveitando-se do terror produzido pela queda de Constantinopla, Maomé II empreendeu a conquista da Grécia, Sérvia e Valáquia. Pensava seriamente em invadir também a Itália, por isso conquistou, em 1480, o Estreito de Otranto. Entretanto, antes de empreender a campanha, decidiu eliminar do Mediterrâneo Oriental, enclaves latinos e apoderar-se da ilha de Rodes. E$m maio de 1481, os otomanos atacaram a ilha, porém, após dois meses de combate, tiveram de se retirar, depois de sofrer grandes perdas.
Parte da estratégia dos otomanos para apoderar-se de Constantinopla foi a construção de fortalezas. Em 1452 ergueram a fortificação de Rumeli-Hisar, às margens europeias do Bósforo, para cortar a comunicação da cidade com suas fontes tradicionais de abastecimento e impedir a ajuda naval ocidental.
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