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domingo, 5 de abril de 2020

NAVEGADORES E SUAS GRANDES DESCOBERTAS

A Era dos Descobrimentos
As façanhas marítimas dos séculos XV e XVI abrem um novo horizonte para a humanidade; comprova-se a redondeza da Terra; descobre-se novos mares que se interligam. 
Com a ajuda de instrumentos astronômicos de grande utilidade, os navegantes puderam levar a cabo viagens de exploração marítima. Entre eles contavam com a Esfera armilar do século XVI. O Astrolábio, instrumento que determina posições e alturas dos corpos celestes. A Bússola, aparelho simples que indica a orientação do navio com respeito ao norte magnético. 

                     O primeiro nome que a história das explorações nos registrou é de Píteas, um marinheiro fócio da colônia de Marselha. De seu extraordinário cruzeiro pelos mares nórdicos, que o levou a tocar as costas inglesas, as Ilhas Órcades e a Islândia (que os antigos denominavam Tule), falam-nos, com um pouco de ceticismo, Estrabão, Aristóteles e Platão, mas exatamente as notícias que mais deixaram incrédulos seus contemporâneos são para nós a prova da veracidade de suas narrativas. Hoje, uma viagem à Islândia não apresenta imprevistos nem risco algum; mas, devemos pensar o que isso deveria ser então, há vinte e quatro séculos, para homens desprovidos de bússola e de cartas náuticas, que navegam por mares desconhecidos, sobre barcos pouco maiores do que uma canoa. Era uma empreitada épica, que somente se concretizava graças à excepcional  experiência marinheira de Píteas e a uma não indiferente dose de sorte; na verdade, desde essa época até à Idade Média, nunca mais foi tentada e, se o foi, ninguém lhe narrou as peripécias. 
                 Chegamos, assim, ao fim do século XII; um grande impulso de Renascimento percorria a Europa e concitava os homens a olharem em torno de si, para redescobrir o mundo. "Os antigos ensinaram-nos que, além do grande anel do Oceano que rodeia a terra, nada mais existe; pois bem, veremos se isso é mesmo verdade! Assim pareciam conjeturar esse grandes do pensamento científico, ainda atados a uma cultura enferrujada,mas ávidos de conhecimentos, como as crianças. 
                 E eis que, em 1291, duas velas se apresentam à embocadura do estreito de Gibraltar: são a Allegranza" e a "Santo Antônio", dois barcos que o armador genovês Tedísio Dória aprontara para a primeira exploração "permare Oceannum et partes Indiae". Eram comandados pelos irmãos Ugolino e Vadino, também genoveses; ambos haviam zarpado justamente com o objetivo de encontrar o caminho das Índias, contornando a África. Mas deles e de sua grande aventura nunca mais houve notícias; o mistério estendeu um véu impenetrável sobre seu destino, como a água do mar na esteira das duas caravelas. Dizem que teriam naufragados na costa ocidental da África (ou talvez, além do cabo da Boa Esperança, ao norte de madagascar), foram capturados pelos indígenas e levados para a Etiópia; alguns anos depois, de fato, Sorleone Vivaldi, filho de Ugolino, chegou até Axum, à procura do pai. Contudo, sua viagem abria caminho a todos os demais navegadores: as proas do "Allegranza! e do "Santo Antônio" haviam forçado, pela primeira vez, as portas do ignoto, indicando aos pósteros o rumo do Ocidente. 
               E, por mais de um século, nenhuma vela  latina ousou seguir a rota dos Vivaldi, na vasta solidão do Oceano. Os primeiro que se aventuraram novamente além das Colunas de Hércules foram ainda dois italianos, os Zeno, de Veneza, que, no século XV, seguiram para o Norte, até às ilhas Far-Oere e à Islândia, no rumo traçado por Piteas e pelos pilotos fenícios. Entretanto, ao trono de Portugal subira um infante ativo e de larga experiência marítima, D. Henrique, "o Navegador". Sob sua orientação, as caravelas enfrentaram as grandes rotas oceânicas, reconhecendo costas e ilhas longínquas, executando relevos cartográficos de inestimável valor. Marinheiros corajosos e destemidos, como Gil Eannes, Nuno Tristão, Antônio Gonçalves, João Santarango, Pero de Escobar, interrogavam os ventos e as estrelas, controlavam a direção das correntes e a profundidade dos abismos, Observavam o voo das aves migratórias, a altura e a praticabilidade das costas, adestravam-se nas Manobras de alto mar. Em 1455, uma caravela portuguesa, comandada pelo veneziano Luiz Cadamosto, cruzava ao largo do golfo da guiné; quando, do horizonte marinho, emergiram as alturas das ilhas de Cabo Verde, os marinheiros avistaram uma vela, e depois outras embarcações européias, perdidas como eles naquelas latitudes. Eram as caravelas de Antonio Usodimare, genovês; ele se uniu a Cadamosto e, juntos, os dois italianos exploraram as ilhas, realizaram os relevos oportunos e subiram, por 60 milhas, em chalupas,  o rio Gâmbia. A viagem dos dois amigos durou dois anos. Em 1457, eles traziam para Lisboa grande quantidade de material técnico e geográfico, utilíssimo para quem fosse seguir-lhes as pegadas. 
               A partir daquele momento, a febre por descobrimentos invadira toda a Europa; as expedições sucediam-se uma após outra, tocando terras e latitudes sempre mais longínquas, as cartas náuticas assumiam uma forma mais precisa, estabeleciam-se colônias e bases para a atracação. Portugal, posto avançado da civilização latina no Oceano Atlântico, era sempre o ponto de partida das explorações em larga escala. 
              Em 1487, Bartolomeu Dias, um capitão português que participara de muitas expedições precedentes, zarpou da foz do Tejo e dirigiu-se para o Sul, costeando a África. Lá pelo meio do verão, dobrou a ponta extrema do continente, sob o látego de uma violenta borrasca, que ameaçava por a pique seu frágil barco; uma coluna erigida nos rochedos do "cabo das tormentas", que separa o Atlântico do Oceano Índico, perpetua sua última atracação. Depois de haver atingido oito graus ao sul da África, no mar deserto de ilhas e velas, Dias retomou o caminho de volta. As narrativas de seus marujos encheram de admiração toda a Europa; seus preciosos testemunhos demonstravam que o caminho para as Índias estava aberto, que agora bastava apenas percorrê-lo até ao fundo. 
                 Dez anos depois, em 1497, enfrentavam o mar três caravelas portuguesas (a S. Gabriel, a S. Rafael e a Bérrio), seguidas por um navio de carga, (S. Miguel); todas comandadas por Vasco da Gama )almirante-mor), que, depois de haver cuidado de todos os preparativos, até aos mínimos pormenores, orientou-a na perigosa rota de Bartolomeu Dias, rumo ao sonho dourado das Índias. Em novembro, os quatro barcos enfrentaram o inferno de espuma e vento do Cabo, que, embora houvesse sido rebatizado "da Boa Esperança", não deixara de ser menos perigoso; subiram para o Norte, ao longo da costa oriental africana, tocando a península árabe e, numa última e homérica velejada de dois meses, no grande deserto de água do Oceano Índico, chegaram a Calicut.  As tripulações estavam esgotadas, dizimadas pelas tempestades e pelo escorbuto (doença comum entre marinheiros pela falta de vitamina C) , mas a meta ambicionada fora atingida, os tesouros incalculáveis das Índias estavam ao alcance da velha nação européia. 
                A epopeia de Vasco da Gama, imortalizada em "Os Lusíadas", o imortal poema épico de Camões, assinalou o ponto máximo dos heroicos e gloriosos marinheiros portugueses. 
                    Durante muitos séculos, o mundo conhecia apenas aquilo que já a antiguidade sabia, isto é, a Europa, o ocidente da Ásia, o norte da África e algumas noções da Índia e da China, ainda do tempo de Marco Polo.
               Com o aparecimento da bússola, as viagens se tornaram mais fáceis e o espírito de aventura fez o resto, sem falar no interesse comercial que as animava. O infante português D. Henrique, em princípios do século XV, fundou, em Sagres, um centro de pesquisas e estudos de geografia e navegação, incrementando ainda mais os descobrimentos a que se haviam lançados os portugueses. Ali se aprendia a arte de navegar, o uso dos instrumentos e estudavam-se os portulanos, partas que orientavam os pilotos da época. Os portugueses lançaram-se ao mar e chegaram aos Açores, à Madeira, às costa da Guiné e do Congo. Bartolomeu Dias descobriu o extremo sul da África, o cabo das Tormentas, chamado, depois, por D. João II, da Boa Esperança. Seguindo essa rota, Vasco da Gama, em 1498, chegava a Calicut, na Índia, façanha notável para o tempo. Já nessa época, também os espanhóis acabaram acreditando em Colombo, que procurava o Oriente pelo Ocidente, certo da esfericidade da Terra, e os soberanos Fernando e Isabel, os "Reis Católicos", deram-lhe três caravelas: Santa Maria, Nina e Pinta. Colombo partiu de Palos em 3 de agosto de 1492 e, a 12 de outubro, após muitas peripécias, descobriu a primeira terra do Novo Mundo:> a ilha de Guanaani, uma das Lucaias, e, indo para o Sul, descobriu também Cuba e Haiti. Mas o nome do continente que ele descobriu deriva de Américo Vespucci, famoso piloto florentino, seu contemporâneo.;
           Portugal, tencionando ampliar suas conquistas marítimas, armou uma esquadra, composta de dez naus de grande calado, duas caravelas e navios de mantimentos, com uma tripulação de 1500 homens, marinheiros e soldados. O comando foi confiado a Pedro Álvares Cabral, que levou consigo os mais notáveis nautas lusos da época: Nicolau Coelho, companheiro de Vasco da Gama na expedição às Índias, Bartolomeu Dias e muitos outros Mestres, pilotos e práticos, além de 9 clérigos seculares, 8 frades franciscanos, sob a direção de Frei Henrique de Soares, de Coimbra. O rei D. Manuel I, o Venturoso, compareceu à cerimônia de partida, em 8 de março de 1500, mas só no dia 9 puderam transpor o Tejo e enfrentar o oceano. No dia 14, passaram pelas Canárias e, no dia 23, junto à ilhas de Cabo Verde, onde se desgarrou uma das naus, a de Vasco de Ataíde, que acabou regressando a Portugal. Procurando evitar as calmarias do golfo de Guiné, a esquadra navegou em pleno oceano. Em 21 de abril, começaram a ter sinais de terra próxima, com pássaros, ervas e paus flutuantes. E, no dia seguinte, à tarde, viram, ao longe, o pico de um monte, a que Cabral denominou "Monte s", por achar-se no oitavário da Páscoa. Estava descoberto o Brasil. 
               No dia imediato, 23, a esquadra fundeou a meia légua da costa, junto à foz do rio Caí, que Nicolau Coelho explorou. Surgiram, então, os primeiros indígenas, cerca de vinte, em atitude pacífica. Cabral tratou de conduzir a frota para um porto "muito bem seguro" e assim, no dia 24 abrigaram-se, num canto mais ao norte, contra a tempestade próxima. Ali se achava a ilha da Coroa Vermelha, onde, num domingo, dia 26, frei Henrique Soares celebrou a primeira missa do Brasil. Os dias restantes foram aproveitados para prover a esquadra de água e mantimentos da terra. A 1º de maio, realizou-se o solene desembarque e erigiu-se uma grande cruz\ de madeira, em terra firme, para efetivar a posse da terra descoberta, a quem Cabral chamou de "Ilha de Vera Cruz", depois mudado para "Terra de Santa Cruz". Frei Henrique celebrou a segunda missa, assistida, com curiosidade, por cerca de 60 índios. Em 2 de maio, Cabral prosseguiu viagem para o Oriente, deixando na terra dois degredados, aos quais se juntaram dous grumetes desertores. 
                 Gaspar de Lemos foi incumbido de levar ao rei a notícia do descobrimento, cujas peripécias foram relatadas minuciosamente por Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra. Gaspar de Lemos chegou a Lisboa em junho ou julho do mesmo ano. O rei, jubiloso com a notícia, organizou uma expedição exploradora, contratando os serviços de Américo Vespucci que, com Gaspar de Lemos, partiu do Tejo em maio de 1501, chegando ao Brasil em 16 de agosto. Essa frota, composta de três naus, explorou todo o litoral até ao cabo de Santa Maria, regressando a Lisboa após 16 meses de viagem , em 7 de setembro de 1502. Em 1503, D. Manuel ordenou nova expedição, agora sob o comando de Gonçalo Coelho, vindo também Vespucci, como capitão de um dos seis navios. Entretanto, o que mais preocupava os portugueses, àquele tempo, eram as fabulosas riquezas da  Índia, o que fez com que as novas terras fossem assoladas por corsários que aqui vinham abastecer-se de pau-brasil.  Isso fazia perigar o domínio português e, em 1517, D. Manuel protestou junto ao rei da Espanha e ao da França. Em 1516, D. Manuel enviou ao Brasil uma esquadrilha de defesa, sob o comando de Cristóvão Jacques, que aqui se manteve até 1519, indo ao rio da Prata. Em 1526, já sob o reinado de D. João III, Cristóvão Jacques voltou para cá, com o título de "governador das partes do Brasil", aprisionando vários navios franceses e mais de 300 tripulantes. Mas, para povoar o Brasil, Portugal ainda levaria alguns decênios.
                 Quanto a Pedro Alvares Cabral, Dom Manuel recebeu-o com muitas honrarias, mas, infelizmente, nuca mais lhe utilizou os serviços e, se não sofreu tanto como Cristóvão Colombo (que morreu perseguido, vítima da calúnia e da inveja de seus ex-companheiros de glória), também terminou seus dias quase esquecido, ignorado, em Santarém, não se sabendo ao certo nem o ano de seu falecimento, pois uns dizem que é 1520 e, outros, 1526, além de porem dúvida, até, que houvesse feito intencionalmente a descoberta do Brasil, alegando que o fizera devido a um acidental desvio de sua rota, o que está desmentido por fatos e documentos, que comprovam que o grande almirante português sabia muito bem o que procurava, ao lançar-se ao mar, na histórica manhã de 9 de março de 1500. Pedro Alvares Cabral, Senhor de Belmonte e Alcaide-mor de Azurara, foi neto paterno de Fernão Alvares Cabral, guarda-mor do Infante D. Henrique, fundador da Escola de Sagres.  
                  Os primeiros passos para o descobrimento mundial e a expansão européia foram dados pelos navegantes portugueses da Escola de Sagres. Contornaram a costa noroeste da África descobrindo, por sua vez, rotas até a Madeira, as Canárias e os Açores. Posteriormente, trataram de encontrar uma rota marítima que conduzisse à Ásia. os primeiros exploradores dobraram o extremo da África e entram em contato com pilotos árabes que navegavam no Oceano Índico. A tentativa para estabelecer uma rota ocidental permitiu a Colombo, por exemplo, descobrir um continente  até então desconhecido: a América. Até 1520, era sabido que todos os oceanos estavam interconectados e que o mundo era muito mais extenso do que se imaginava na época. A procura de rotas que conduzissem às Ásia pelo norte, ao redor do Canadá e da Escandinávia, foi infrutífera devido aos blocos de gelo. 
                 Em 1480, os mais importantes povos de navegadores estavam separados por mares não mapeados e por continentes com extensão e forma ignoradas. A navegação marítima regular européia se restringia ao Atlântico Norte, Mediterrâneo me Báltico. A costa ocidental africana foi explorada superficialmente e só depois pelos europeus. A costa, desde o Gabão até Moçambique, era desconhecida pelo transporte marítimo regular de longa distância. Nas Américas, nas costas do Equador e Peru e no Caribe, praticava-se a navegação marítima com balsas e jangadas. Mas não houve contato com  a Europa nem com áreas do Pacífico,até onde se saiba. No Oriente, povos de navegadores se entrecruzavam Navios indianos, persas e árabes infestavam o norte do oceano Índico. As embarcações chinesas, que haviam navegado até a África Oriental, perto de 1480 não iam além de Málaga, mas dividiam com os navegadores nativos, principalmente os javaneses, as águas rasas do arquipélago malasiano. Não havia transporte marítimo que passasse pelo sul do oceano Índico; os contatos dos javaneses com Madagascar haviam cessado. A navegação chinesa, intensa nos mares da China e no arquipélago, alcançava apenas as Filipinas, a leste. As grandes áreas do Pacífico Central eram cruzadas por canoas polinésias. No Pacífico Norte, existia transporte marítimo apenas nas águas costeiras do Japão e Coreia. 
                 Entre 1480 e 1780, os exploradores europeus interligaram as áreas isoladas das rotas marítimas e abriram as portas dos oceanos para navios europeus, exceto nas regiões polares. No fim do século 15, dois grupos de navegadores procuraram uma passagem marítima até a Ásia Meridional, para estabelecer o comércio de especiarias por uma rota mais direta. Um destes grupos, com base em Portugal, viajando para sudeste com pessoal nativo do Oriente, conseguiu chegar ao oceano Índico (1488),Malabar (1498), Málaga (1511) e ilhas Molucas (1512). O outro grupo, com base na Espanha e viajando para oeste e sudoeste, obteve menos sucesso em suas metas imediatas, mas seus esforços foram mais frutíferos; os espanhóis chegaram ao caribe (1492) e costa setentrional da América do Sul (1498). Por fim, atingiram o sudoeste da Ásia (1521), mas por um caminho inadequado às rotas comerciais. Na busca, demonstraram que o Pacífico era um vasto oceano e não, como se supunha, um braço do oceano Índico. Para atingir o Pacífico, tiveram que circunavegar uma imensa porção de terra, que julgavam ser uma península da Ásia, mas que, por volta de 1520, reconheceram ser um "novo mundo". Só no século XVIII comprovou-se que este continente  estava separado da Ásia. Os ibéricos começaram a ocupar a área descoberta e por mais de cem anos a mantiveram como possessão exclusiva. 
               As descobertas espanholas e portuguesas mostraram que todos os oceanos, pelo menos no hemisfério sul, se interligavam. Por um século, Espanha e Portugal, pelo uso da força ou ameaças, impediram que outros europeus usassem as passagens descobertas, exceto em incursões ocasionais. Assim, o terceiro grande grupo de navegadores, constituído por ingleses, franceses  ou holandeses, procurou outras passagens para a Ásia no hemisfério norte, a oeste, noroeste ou nordeste. Descobriu outra porção de terra, de dimensões continentais e com uma costa que se estendia do caribe ao Ártico, abrindo caminho para a exploração e colonização, pelos europeus do norte, da porção oriental da América do Norte. 
              Após 1632, a busca por passagens ao norte foi abandonada. Grupos poderosos na Inglaterra e Holanda desafiaram o monopólio ibérico e estabeleceram comércio com a Ásia, usando as rotas meridionais. Os últimos 75 anos de século XVII e os primeiro 25 do século XVIII foram de colonização e consolidação comercial mais do que de descobertas. O estímulo dado pelas Companhia Holandesa das Índias Orientais da Tasman para exploração da costa australiana em 1633/53 foi uma exceção, da qual a companhia se arrependeu. Viagens de bucaneiros ou navegadores particulares, na virada do século, também não tiveram resultados práticos. 
               Um segundo período de descobertas começou no século XVIII, motivado pela curiosidade científica e expectativas de vantagens comerciais. As viagens eram organizadas por governos e realizadas em navios de guerra comandados por oficiais da Marinha, às vezes levando cientistas e pintores. As metas eram a exploração do Pacífico, em particular de um ponto ao sul, onde existia um grande continente que se acreditava, com base em Ptolomeu, Ortelius e outros, estender-se do trópico de Capricórnio até o Pacífico Sul, e a descoberta de um estreito entre o nordeste da Ásia e o noroeste da América que levasse ao Ártico e talvez de volta ao Atlântico, a antiga passagem do Noroeste. Os resultados em parte foram negativos; não havia continente meridional habitável além da Austrália; a passagem para o Ártico existia, só que obstruída pelo gelo. Mas muitas ilhas foram descobertas; viu-se que a Nova Zelândia tinha duas ilhas principais e suas costas foram mapeadas; a costa leste da Austrália foi explorada e povoada; a configuração das costas americana e asiática do Pacífico Norte foi determinada; e solucionaram-se problemas de sobrevivência em longas viagens marítimas. Por volta de 1780, como lamentou oi explorador francês La Pérouse, restavam no mundo poucas costas para explorar. 
Cristóvão Colombo
                    Cristóvão Colombo saiu do lar de um modesto tecelão genovês, onde nasceu em 1451 ou 1452. Ambicionava a ascensão social e material. Estes foram os reais objetivos que procurou alcançar com afinco, por um método que o romance cavalheiresco tornou familiar no século XV: as façanhas marítimas de renome. Sua vocação de explorar procedia da vida de marinheiro que começou com muito pouca idade e que, segundo diziam, "predispõe a todo aquele que a segue a desejar conhecer os segredos deste mundo".      
                  O fato de se mudar de Gênova para Lisboa, ao redor de 1477, e casar-se com uma dama pertencente a uma das famílias nobres de menor linhagem de Portugal, pode ter contribuído para concentrar suas ambições. Até 1489, e talvez antes, em 1482, adquiriu certos conhecimentos de literatura geográfica.  Entretanto, sua formação essencial era como navegante prático. Até meados da década de 1480 pode ter realizado o que divulgava posteriormente: de "haver navegado por todos os mares  que os homens tenham navegado", exceto o Oceano Índico. 
             O propósito obsessivo que lhe atribuem normalmente não é corroborado pela fontes originais. Tinha em mente pelo menos três projetos: a busca de novas ilhas no Atlântico, a procura do mundo dos "antípodas" e a travessia em direção oeste até à Ásia. A primeira meta era plausível, porém um pouco trivial. A segunda relacionava-se a uma especulação comum da cosmografia do final da Idade Média; que uma terra desconhecida devia ocupar parte do hemisfério inexplorado, baseado  na teoria de que um oceano tão extenso teria um efeito perturbador e que a geografia do planeta  estaria desequilibrada. A terceira era considerada teoricamente possível, apesar de saber-se que o tamanho do globo era demasiado para impedir tal travessia. Inclusive, segundo os cálculos mais favoráveis, Colombo deveria ter percorrido, na latitude que havia escolhido (a das Canárias), entre 5 mil e 6.750 milhas marítimas, em uma época em que a máxima distância explorada normalmente por um barco em mar aberto em rotas conhecidas era inferior a 800 milhas. A proeza parecia estar fora do alcance de qualquer navio daquele tempo. 
                Colombo estava decidido a dominar os obstáculos práticos, aparentemente insuperáveis, de cruzar o Atlântico. Seus próprios escritos provam, sem dúvida alguma, que, na época em que realizou sua extraordinária viagem, estava pessoalmente comprometido a chegar à Ásia, ainda quando os termos de sua incumbência falavam de maneira mais cautelosa de "ilhas e terra firme  no oceano". Seu otimismo parecia basear-se em três razões: a primeira, que o mundo era menor do que geralmente se acreditava; os cálculos que registrou posteriormente lançavam uma cifra 25% inferior à real e em 8% à de qualquer de seus contemporâneos. Em segundo lugar, junto a muitos cosmógrafos, supunha que a grande massa de terra euro-asiática estendia-se a maior distância em direção ao leste do que se presumia tradicionalmente. Finalmente, esperava poder asportar, no transcurso da viagem, em especial na legendária Ilha de Cipango, que Marco Polo informou encontrar-se  a 1.500     milhas mar adentro a contar da China. Estes três elos da corrente de seu raciocínio eram fracos: o primeiro era completamente falso; a segundo, altamente hipotético; e o terceiro apoiava-se na autoridade de Marco Polo, cuja descrição do Oriente era colocada em dúvida de maneira generalizada. 
                Apesar disso, existiam eruditas minoritárias que apoiavam algumas partes de seu projeto. Em Florença e Nuremberg, por exemplo, havia cosmógrafos que sustentavam, ainda que em menor grau que Colombo, o ponto de vista de que o planeta era pequeno e o Atlântico navegável. Colombo era apoiado também, na corte espanhola,  por dois especialistas conceituados. O consenso  das opiniões sábias, entretanto, lhe era desfavorável, sendo obrigado a retratar-se de seus alardes de experiência prática para compensar sua evidente deficiência de conhecimentos.  
                             Quando Colombo chegou ao Panamá, em uma das suas viagens, observou que outro grande oceano se estendia, acreditando erroneamente que era o Índico. Por este motivo, as ilhas do Caribe foram chamadas de Índias Ocidentais e os nativos denominados índios. 



A descoberta da Austrália
               A descoberta da Austrália é um contínuo suceder-se de incríveis e heroicos episódios. Hábeis marinheiros localizaram-lhe as costas, exploradores perderam a vida ao atravessarem os ardentes desertos, sem contar os marinheiros cujas embarcações não resistiram às tempestades do violentos temporais marítimos e naufragaram. O intuito sempre foi abrir à humanidade novos caminhos, que os conduzissem às exuberantes terras desconhecidas. 

            Quem foi o primeiro a chegar, entre os homens do velho mundo, após atravessar oceanos, mares e arquipélagos, até àquele continente, que pode conter vários países da Europa em seu interior, todo circundado de numerosas ilhas grandes e pequenas, que hoje nós chamamos de Austrália.
               O Novíssimo Continente (deve este nome ao fato de ter sido o último, na ordem dos descobrimentos) não teve, como a América, um seu "Cristóvão Colombo"; não houve homem que tivesse a certeza, ao tocar por primeiro suas costas, de ter posto sobre aquela misteriosa terra, da qual Marco Polo já dera notícias em "Il Milione" (Milhão). Entretanto, já em 1400, numerosos navegantes, cujos nomes não foram guardados, haviam aportado por várias vezes ás costas australianas, sem que o soubessem. As primeiras notícias que nos parecem críveis e fundadas dizem respeito a um francês chamado "De Gonneville", que em 1503 teria tocado o norte da Austrália. Um dos primeiros documentos chegados até nós é, sem dúvida, a carta geográfica de "Oronce Finé", de 1531, na qual está assinalada a presença de um continente austral sob o nome de "Java Grande".  Todos os geógrafos o julgavam um imenso continente, que se estendera em redor do polo Sul. Tivemos que aguardar, porém, o seculo XVI para entrar  realmente nas grandes descobertas. Espanhóis e Portugueses disputavam entre si o predomino dos mares e conservavam em segredo os resultados de suas navegações, no intuito de não fornecer elementos ao adversário. E foi justamente um português, Luiz Vaz de Torres que, em 1525, cumprindo travessia do Pacífico, navegou por todo o estreito que separa a Nova Guiné da Austrália (que, em seguida, tomou seu nome) alçando as Molucas, sem sequer suspeitar de haver passado tão próximo do misterioso continente. Outros navegantes, que também passaram por aquele local, já haviam avistado as costas rochosas.  Mas um fato novo, assas importante, interveio para fazer precipitar o sucesso da tão desejada exploração da Austrália; o efêmero império asiático dos portugueses cedeu ante o poderio da frota holandesa que, pouco a pouco, se assegurara o predomínio sobre todas as Índias Orientais. 
            As numerosíssimas ilhas do arquipélago de Sonda se tornaram um verdadeiro trampolim para os ousados  navegantes que, desde as longínquas terras das tulipas, se haviam embrenhado ao outro extremo do globo. Eles, que no início do século tinham descoberto a Nova Guiné, organizaram numerosas expedições, que atingiram as costas ocidentais da Austrália, subindo, depois, para o Norte. 
                    É bastante provável que também Willem Janszoon nunca tenha sabido que fora um dos primeiros homens brancos que puseram pé na Austrália. Quando, lá por volta de 1610, com seu bergantim "Duyjken" (é para ficarmos estarrecidos, só em pensar como, sobre tão pequenos e inseguros barcos, ousassem empreender viagens tão longas e aventurosas) costeou a península de cabo York até ao Cabo Keerweer, (primeira descoberta australiana positiva) julgou encontrar-se ainda no prosseguimento da Nova Guiné! 
               Em 1616, outro navegante, Dick Hartogszoon, que, do Cabo da Boa Esperança, pretendia alcançar Java, transportado por uma tempestade e por ventos violentíssimos, foi obrigado a seguir uma rota mais meridional e, após vários dias de solidão no Oceano, atinge a costa ocidental australiana, junto a uma ilha que ainda hoje lhe conserva o nome. Involuntariamente, ele havia descoberto uma nova via, uma via que seria seguida por outros homens audazes e que somente em dez anos iria permitir o reconhecimento de toda a costa ocidental australiana. 

                A essas regiões foi dado o nome de "Nova Holanda", nome que se conservou por muito tempo, embora os holandeses ali não houvessem fundado colônia alguma. De fato, o aspecto das terras descobertas era, por toda parte, desolador e inóspito; os navegantes, que se haviam atrevido a avançar para o interior, tinham esbarrado em selvagens crudelíssimos, decididamente hostis, e muitos deles acabaram deixando a vida nos combates e emboscadas. 
          Quando o governo holandês resolveu explorar a fundo aquelas terras de que, praticamente, nada se sabia, enviou, em 1642, um hábil capitão de marinha, Abel Jansen Tasman, com dois navios, para o Oceano do Sul. Sua missão, fruto talvez de grande audácia, mas também de habilidade e sorte, é uma dessas que permanecem inesquecíveis na história de todas as explorações. 
                 Na verdade, Tasman, provindo do aberto Oceano Índico, descobriu, no extremo sul da Austrália, aquela terra a que ele chamou de "Van Diemen", mas que, mais tarde, recebeu, muito justamente, o nome de "Tasmânia"; atingiu depois, pela primeira vez, a Nova Zelândia e retornou através do estreito de Torres, após navegar mais de 500 milhas em águas de todo desconhecidas, demonstrando ser falsa a teoria dos que julgavam ser a Austrália uma imensa terra que se estendia em redor do polo, qual uma ilha. 
                  Mas, no entanto, ia declinando também o poderio marítimo dos Holandeses, ao passo que chegava a vez da Inglaterra de apoderar-se do domínio dos mares. Durante quase um século, as longas guerras no continente europeu mantiveram os povos do velho mundo impossibilitados de prosseguir no trabalho iniciado pelos navegadores espanhóis, e as explorações foram retomadas, em grande estilo, somente na segunda metade do século XVIII, depois que a constituição da Companhia Inglesa das Índias Orientais causara uma intensificação nas viagens e nos negócios comerciais. Os ingleses já se haviam tornado senhores do campo, e coube a um deles - James Cook - o mérito de pôr pé firme na Austrália. 

                   Em 19 de abril de 1770, provindo da Nova Zelândia, seu barco lança âncoras na baía de Pint Hicks, no extremo sul da costa oriental. Depois de uma breve parada, ele volta para o norte, realizando uma minuciosa exploração, enfrentando, com decisão, os nativos, sempre ameaçadores e temíveis. No "Cabo Tribulation", o navio de Cook teve de parar, encalhado perigosamente; para repará-lo, foi obrigado a permanecer quase três meses naquela costa desoladora. Finalmente, em 21 de agosto, com seus homens extenuados pelas fadigas e privações, alcança Cabo York, reatravessando o estreito de Torres, tão longamente ignorado, apesar da descoberta espanhola, após haver explorado cerca de 600 milhas de costas inteiramente desconhecidas. Sua audaz tarefa conseguira demonstrar, entre outras coisas, que Austrália e Nova Guiné eram completamente separadas; além disso Cook regressava ao mundo civilizado com uma enorme quantidade de maravilhosas notícias sobre a gente encontrada, e também  sobre a fauna e a flora descobertas. Ele tomou posse daquelas terras em nome da Grã-Bretanha e batizou-as com o título de "Nova Gales do Sul", como lembrança de sua terra natal, nome que conserva ainda a região sul-ocidental da Austrália. Infelizmente, ao invés de enviar para o Nervosíssimo Continente homens fortes e resolutos, para conseguirem levar até lá o progresso, os ingleses, a princípio, para lá só remeteram os mais perigosos malfeitores, transformando aqueles belíssimos locais em colônias  de deportação. Também, aquela que é hoje a belíssima cidade de Sidnei teve origens bem pouco nobres; um grupo de deportados, expulsos da Inglaterra, foram os homens que lhe construíram as primeiras casas. 
              Estamos no final do século XVIII. Data desse momento, porém, a conquista real e verdadeira da Austrália. As expedições multiplicaram-se; os exploradores, quase que competindo entre si, tornaram-se sempre mais audazes, avançando para a hinterlândia. Em 1802, um oficial da Marinha, Flinders, que, poucos anos antes, sobre uma baleeira, havia circunavegado em primeiro lugar a Tasmânia, ao comando de um navio especialmente aparelhado, explora minuciosamente toda a costa meridional, penetrando no coração das novas terras. Tudo indica que foi Flinders quem empregou pela primeira vez a palavra "Austrália", para indicar aquele continente, que conservava ainda o segredo de sua riqueza. 
            A exploração terrestre encontrou certos obstáculos mais graves ainda do que a marítima; dois inimigos, um mais forte que o outro, foram ao encontro dos primeiros exploradores: a configuração do terreno, particularmente áspero e intransitável, e os selvagens, combativos e cruéis. 
                Os primeiros centro habitados tinham surgido na costa de Nova Gales do Sul, mas ninguém conseguira avançar muito nem superar a impérvia barreira dos Montes Azuis, que barrava o acesso para a hinterlândia. O mérito da tarefa, na verdade, coube, desta vez, não a exploradores, mas a dois modestos colonos, os ingleses Blaxland e Wentwort, e um pouco, também, à espantosa seca do verão de 1813. 
               Durante meses e meses, realmente, além de não cair uma única gota d'água sobre as plantações, um sol abrasador como nunca queimara todas as culturas penosamente produzidas, e terrível seca, que parecia não ter mais fim, queimaram até ao último fio de erva. E então, impelidos pela necessidade de encontraram  novas pastagens para os animais, que dia a dia iam perecendo e que não havia meio de nutrir, eles se puseram em marcha, rumo à serra dos Montes Azuis, esperando que, além daqueles cimos, onde pairavam nuvenzinhas brancas, houvesse terras não abrasadas pelo sol. Quantos dias caminharam sob os raios solares, quantas noites transcorreram naquele oprimente afã, sem poder cerrar os olhos?
               A emoção que experimentaram, uma vez alcançado o ponto alto da região foi talvez altíssima; sob seus olhos, a perder de vista, abria-se verdejante, luxuriante de esplêndida vegetação, rica e exuberante, a planície que depois foi denominada Fish River. Uma estupenda paisagem, que para os dois exaustos agricultores, por certo, representava o coroamento de suas esperanças. 
            Seguindo a nova trilha, em busca de pastos e de zonas agrícolas, outros homens começaram a subir os rios, rumo ao interior, para explorar, traçando as primeiras vias de comunicação, e assim se conseguiu entrelaçar estas velhas colônias com as novas, que se iam implantando ao norte da Austrália, junto à ilha de Melville. Mas um novo mistério surgia; não se conseguia compreender que direção seguiriam todos aqueles rios encontrados no interior, tão numerosos que o explorador Oxley chegara até a pensar na existência de um mar interno, que os recebesse a todos. 
              Contudo, o sacrifício desses homens não foi inútil. Pelas estradas abertas por eles, passaram os colonos e suas famílias. A Austrália deixou de ser a terra dos deportados para transformar-se na terra do futuro. 


              Em 1828, então, o governador  Farling confiou ao capitão Charles Stuart uma caravana bem organizada, para estudar bem a região; durante uma viagem aventurosa de muitos meses, ele descobriu, através de zonas infestadas de perigosíssimos selvagens, o Rio Darling; seguiu-lhe o curso até a confluência com o Marry e, daqui, chegou à sua foz, no Oceano Índico, demonstrando que quase todos os rios encontrados pelos precedentes exploradores eram meros afluentes do próprio Darling. 
              Restava, ainda, uma via por abrir: aquela que, passando de norte  ao sul e atravessando toda a Austrália, lhe revelasse o derradeiro segredo. A tentativa efetuada em 1844, pelo alemão Luiz Leichhardt, terminara tragicamente ; vítima de sua audácia e de sua coragem, Leichhardt desaparecera, e dele nada mais se soube, nem se conseguiu encontrar-lhe o corpo. 
                O governo, em 1858, ofereceu um prêmio de 10 mil esterlinas que, por primeiro,  conseguisse efetuar a travessia, partindo de Adelaide. Tentou a prova o escocês Mac Douall Stuart, que, em 1860, parte e, na primeira tentativa, chega até 400 quilômetros da meta final, o Golfo de Carpentaria. Mas, a escassez de víveres obriga-o a voltar. Um segunda tentativa - dois anos depois - mas, a fome e a intransponível vegetação sobre pujaram a tenacidade e fizeram-no desistir, a não mais de 200 quilômetros da costa. Contemporaneamente, outra expedição, comandada pelo irlandês Burke, tendo por companheiros Wills, Gray e Kink, consegue atravessar todo o deserto. Já bem perto do mar, resolveram não prosseguir, ante o perigo de ficarem sem víveres numa zona tão desértica, porém, no caminho de volta, não mais conseguem localizar a caravana que haviam deixado atrás de si, com os reabastecimentos. Na floresta densíssima, primeiro Gray, atacado pelas febres malignas, morre, assistido em vão pelos amigos. Depois, quebrantados pela fome, tombam também Burke e Wills. Unicamente King, encontrado e socorrido por uma tribo de indígenas mansos, foi salvo e, mais tarde, descoberto pela expedição de Horvitt. 
                   Finalmente, em 1863, na sua terceira tentativa, Stuart sente a satisfação de alcançar o versante Golfo de Carpentaria. A estrada por ele seguida foi, anos depois, aquela usada para implantar a linha telegráfica que ainda hoje liga os centros meridionais á costa do norte. 
            Os corpos de Burke e Wills, encontrados, foram conduzidos para Adelaide, onde podemos ver um monumento recordando o sacrifício de ambos. 
                 Entretanto, as notícias sobre a fertilidade e a riqueza das novas regiões descobertas rapidamente chegaram à Europa; a Austrália não permaneceria mais terra desolada para deportados. Chegam, aos milhares, os colonos, levando consigo exemplares das melhores raças bovinas, que rapidamente se multiplicam, adaptando-se ao novo ambiente. Em 1850, os Brancos já se contam por mais de 300 mil. Surgem as primeiras cidades: Sidnei, camberre (sua capital) e Adelaide. às originárias três colônias (Austrália Ocidental, Austrália Meridional e Nova Gales do Sul) acrescentam-se a Tasmânia, Vitória e Queensland.
             Em 1901, três colônias se unem numa só república federal integrando o Commonwealth britânico, sempre submetidas, porém, à coroa da Inglaterra. As primeiras cidades, agora já prósperas, outras, ricas e belíssimas, se juntam: Vitória, Perth e Melbourne. A austrália acolhe e assimila rapidamente a civilização que lhe chega do velho Mundo, através das vastas imigrações européias. 
                E todos encontraram, naquela terra boa e dadivosa, muito bem-estar e conforto, e contribuem para o progresso da nova pátria, com seu trabalho. Hoje, a Austrália  já está em plena civilização moderna; no rol dos países mais progressistas. E ela pode, ainda,acolher, na imensa vastidão de suas privilegiadas terras, milhões de homens, e o isolamento em que vivera por tantos milênios ficou sendo apenas uma remota recordação histórica. 


A descoberta da América


                Américo Vespúcio, um florentino, seguindo a trilha de Colombo, tão audaz quanto este, porém, mais afortunado, impelindo sua navegação até ao longo das costas do Brasil, foi o primeiro que teve a intuição de haver tocado um novo continente, que, mais tarde, foi batizado de América.
           A cidade de Florença parecia uma terra abençoada por deus, tamanha era a abundância de gênios que, nascidos ou que apenas viveram entre suas muralhas, se tornaram famosos no campo das artes, das letras e das ciências. A esta brilhante legião de homens ilustres juntou-se, no período da Renascença, aquele que deu o nome à América. Américo Vespúcio nascera de nobre e antiga família florentina. Desde a infância, devido á dignidade de sua origem e a facilidade de poder conviver com sábios, foi formando uma ótima bagagem científica e conheceu, talvez pessoalmente, o célebre Paolo Toscanelli del Pozzo, que iria fornecer, mais tarde, a Colombo preciosas indicações para estudar e preparar sua arrojada expedição. 
             Tendo ingressado, ainda muito moço, na grande casa comercial do banqueiro Lourenço di Pier Francesco dei Médici, teve a ventura de ser enviado, em 1492, para Sevilha, a fim de trabalhar na empresa de Giannotto Bernardi, um florentino que, como tantos outros seus concidadãos, estabeleceram-se na Espanha, a fim de poder adquirir diretamente os produtos oriundos do "país das especiarias". Eram aqueles, para Espanha e Portugal, anos fervilhantes de entusiasmo; da lendária escola náutica, de sagres, fundada por Henrique, "o Navegador", tinham saído Fernando Pó que, em 1471, chegara até o equador, e Bartolomeu Dias que, em 1487, tocara o Cabo da Boa Esperança, descobrindo a tão desejada passagem para as Índias. Mas o eco de suas proezas ia-se amortecendo, justamente no ano da chegada à Espanha de Américo Vespúcio, diante de um audaz navegador genovês, Cristóvão Colombo que, tentando atingir o Oriente pelas vias do Ocidente, chegar a uma terra misteriosa, talvez o longínquo Cipango, tão decantado por Marco Polo.
                Um homem ousado, um italiano, atrevera-se a navegar, durante setenta dias, em mares desconhecidos. Américo acendeu-se de entusiasmo pelo genovês. A paixão científica, que nele se revelara na adolescência e que os tráficos e o comércio não haviam embotado, dominando-o completamente. Desde aquele instante, Vespúcio não mais perdeu tempo; aperfeiçoou-se na ciência náutica, acompanhou apaixonadamente o desenvolvimento das sucessivas expedições de Colombo que, também, talvez conheceram pessoalmente, quando, tendo morrido Bernardi e, ao assumir o lugar deste, sua casa obrigada a contribuir para o equipamento da terceira expedição do grande genovês; finalmente, informou-se sobre os novos acordos firmados entre Espanha e Portugal, que regularam a posse dos novos descobrimentos. A notícia de que o Oriente fora alcançado pelos caminhos do Ocidente, na verdade, alarma os portugueses, que receavam perder o fruto de tantos anos de expedição marítima. Eles tinham, portanto, entabulado negociações com a Espanha e submetido a questão da arbitragem ao Papa Alexandre VI, que traçara a "linha de demarcação" (1494) (conhecida como Tratado de Tordesilhas) do Polo Norte ao Polo Sul, cem léguas a poente dos Açores e demarcara as terras descobertas  ou por descobrir a oriente daquela linha a Portugal e, as do ocidente à Espanha. 
              Finalmente, em 1499, eis que se apresenta a grande ocasião; sob a augusta proteção do bispo de Fonseca  Alonso de Ojeda, estava preparando uma expedição, que, devido a ser uma iniciativa privada, não poderia manter uma rota que perturbasse aquela oficial, a de Colombo e que, ao mesmo tempo, não ultrapassasse a linha de demarcação. Ojeda e seu companheiro, Della Cosa, não eram, certamente, os homens adequados para um jovem como Vespúcio, audaz e, ao mesmo tempo previdente e astucioso, equipado, e honestíssimo até ao escrúpulo. Della Costa, realmente, e ainda mais Ojeda, eram aventureiros, movidos muito mais pela ambição do que por uma paixão científica; eram homens que, como se revelaram mais tarde, não teriam hesitado em cometer toda a sorte de abusos, contanto que pudessem atribuir a si mesmos os méritos alheios. Vespúcio, todavia, seguiu com eles, parece que na qualidade de cosmógrafo ou piloto ou ainda, segundo alguns historiadores, como comandante de duas caravelas subvencionadas pela sua casa comercial.  
             Ao alvorecer do dia 18 de maio de 1499, numa aurora límpida e serena, que pressagiava uma calma navegação, quatro caravelas partiram de Cádis e, diferentemente da primeira expedição de Colombo, a travessia do Atlântico transcorreu sem nenhuma dificuldade; o mar mantinha-se tranquilo, o céu sereno, a tripulação confiante e disciplinada. 
              Colombo em setenta dias, Américo Vespúcio em vinte e três! Este foi o brado inaugural com que foi aclamado Vespúcio quando, após vinte e três dias de navegação, o continente surgiu à altura da hodierna Guiana Francesa, luxuriante de vegetação, a poucas milhas das caravelas; contudo, a fase mais importante da expedição estava por iniciar-se. 
          No dia seguinte, a "Assuncion" e a "Santa Maria" zarpavam, sob o comando de Vespúcio, rumo ao Sul, a fim de dobrar o lendário Cabo da Boa esperança, enquanto Ojeda e Della Cosa, após haverem tentado inutilmente dissuadir o florentino de seu projeto e induzi-lo  a segui-los para o Norte, prosseguiram para rotas mais seguras. Depois de alguns dias de navegação, um  estranho fenômeno espantou os tripulantes; a água do mar era doce. Embora eles continuassem avançando por milhas e milhas, a água doce não demonstrava desparecer. Vespúcio tendo desconfiado de que pouco distante estaria a foz de algum rio, cujo volume de águas deveria ser imenso, teve um primeiro pressentimento, o de encontrar-se diante de uma terra nova e bastante extensa; de fato, nenhum dos viajantes que haviam trazido notícias sobre o Oriente acenara à presença de um curso de água tão caudaloso. Para ter confirmação mandou baixar duas chalupas (embarcação de pequeno porte) e, levando consigo homens de sua maior confiança, prosseguiu pela costa; vislumbrando a imenso foz do rio, subiu-lhe a correnteza, por mais de dez milhas. Ante seus olhos atônitos, a nova terra revelou-se uma fonte inesgotável de surpresas: árvores de uma espécie jamais vista espalharam-se pelas margens; uma extraordinária variedade de animais povoava as águas, às vezes, o rápido voo de um pássaro nunca visto singrava o ar, acima de suas cabeças. Seis meses antes de Pinzon, Américo Vespúcio, segundo os italianos, descobrira o rio Amazonas. 

               Esta foi a primeira surpresa. Outras se seguiram, quando, costeando o hodierno Brasil até o Cabo de São Roque e pondo o pé naquela região, alguns meses antes que Cabral, ao que parece, Vespúcio teve o pressentimento de que a terra se estendesse, ainda, por notável comprimento, continuidade e extensão, o que excluía a hipótese de que aquilo fosse o continente asiático. Preferiu, porém, naquela primeira expedição, não ir além, a fim de não transpor a linha de demarcação fixada pelo Tratado de Tordesilhas e, rumando para São Domingos, onde o aguardavam as caravelas de Ojeda, não se esqueceu de perlustrar Paria, Venezuela e a Colômbia. Em junho de 1500, Américo Vespúcio voltou à Espanha. Bastante aclamado pela tripulação e pelo povo, a fama de Vespúcio parecia querer superar a de Colombo, que, em seguida a uma série de expedições infortunadas, ia marchando para o declínio. A importância de suas revelações era grande, mas, de outro lado, eram de molde a interessar muito mais a Portugal do que à Espanha. Por este motivo, Américo Vespúcio não exitou em oferecer seus serviços ao rei Manuel I, "o Venturoso", de Portugal, quando este manifestou desejos de preparar uma expedição que, costeando o continente, tentasse abrir uma passagem pelas ilhas Molucas (Indonésia). Entre os navegadores da época, Vespúcio era o mais qualificado para 
chefiar esta nova tarefa, pois, aos seus inegáveis dotes de navegador, acrescentava a experiência adquirida durante a viagem precedente, sua honestidade, e a popularidade de que gozava entre os marujos; o rei de Portugal sentiu-se muito satisfeito em nomeá-lo comandante da expedição, que foi preparada com todo o cuidado, segundo os desejos do florentino. Partindo de Lisboa, em fins de maio de 1500, Vespúcio, assistido pelo vento e pelo mar favoráveis, após transpor o cabo de São Roque, prosseguiu para lá do limite alcançado da primeira vez, por mais de 2.300 milhas. As frequentes paradas ao longo da costa, que por toda parte oferecia novo material para observação, seja pela novidade da fauna e da flora, seja pela índole diversa de seus habitantes, permitiram a Vespúcio consolidar sua hipótese, formulada na primeira viagem, isto é, ter tocado uma terra desconhecida para o mundo geográfico. Entusiasmado pela incrível descoberta, quis levar a navegação ao limite máximo de suas possibilidades e da tripulação e, com uma antecedência sobre o descobrimento de Fernão de Magalhães, chegar às proximidades do estreito que separa a América do Sul da Terra do Fogo. 
             Em 22 de julho de 1502, estava de regresso a Lisboa; nenhum grave incidente lhe obstaculara a viagem, os marujos tinham permanecido fiéis até ao fim, os navios haviam enfrentado magnificamente o oceano, o tempo mantivera-se constante. A fortuna, que sempre o favorecera desde o nascimento, protegera-o até ao fim. Em 1508, a coroa espanhola conferiu-lhe a máxima honorificência, nomeando-o "Piloto Maior". Os cientistas do mundo inteiro, cinco anos antes de sua morte, ocorrida subitamente em 1512, quiseram tribular-lhe outra honraria ainda maior, aceitando a proposta do grande cartógrafo e cosmógrafo alemão Martim Waldseemüller. Num opúsculo publicado em 1507, em Saint Dié (Lorena - França) e intitulado "Introdução à Cosmografia", Martim propôs que fosse dado o nome de "América" às terras do Novo Mundo, ao sul das Antilhas, descobertas por Américo Vespúcio. Depois, na carta anexa ao opúsculo, deu o mesmo nome às terras que, nos séculos XV e XVI, constituíam o núcleo da América do Sul, Mas, em seguida, arrependeu-se por não haver batizado o novo continente com o nome de Colômbia, perpetuando a glória do sumo genovês. 
                A mais antiga carta geográfica da América foi desenhada em 1500, por Giovanni Della Cosa, companheiro de Colombo em suas duas primeiras viagens e, depois, de Américo Vespúcio. 
A Rota de Magalhães
                 As etapas decisivas na revelação da natureza do Pacífico - o descobrimento das rotas leste-oeste pelo Pacífico Central e a rota de regresso através dos ventos do oeste no norte - foram consumadas por pequenos grupos de espanhóis e portugueses nos séculos XVI e XVII. As viagens cruciais foram Magalhães (1520 x 1521), de Saavedra em 1527, Urdaneta em 1565 e Mendaña em 1567. 
                 Da mesma forma que a travessia atlântica de Colombo, a de Magalhães pelo pacífico foi o resultado da sorte e cálculos  errôneos: sorte, porque o inverno em San Julián atrasou sua chegada ao pacífico até o verão meridional,garantindo que cruzaria a linha do Equador quando os ventos do nordeste fossem mais favoráveis; cálculos errôneos porque parece ter acreditado que as Ilhas das Especiarias (Molucas), em direção às quais se dirigia, localizavam-se  a não mais de oitenta dias de navegação, através de um mar que oferecia escalas intermediárias. Se soubesse que enfrentaria 99 dias de navegação sem descanso, somente teria aceitado o risco pela fome e falta de água. 
                   O caminho escolhido por Magalhães quase o leva ao desastre. Depois de dobrar o Cabo Horn (Antártica Chilena), seguiu uma direção em diagonal através das calmarias e, em um oceano coberto de arquipélagos, não avistou terra desde o dia em que entrou no Pacífico, em 28 de novembro de 1520, até avistar Guam, em 6 de março de 1521. Durante os primeiros vinte dias manteve rumo norte, talvez para deixar atrás os mares frios o mais rapidamente possível. Logo alterou seu curso de forma gradual em direção a oeste, chegando ao Equador no dia 31 de fevereiro de 1521. Avistou pequenas ilhas em 24 de janeiro e novamente no dia 4 de fevereiro, mas não pode desembarcar. A altura do Equador tomou a surpreendente decisão de continuar em direção ao noroeste, em vez  de fazê-lo diretamente em direção ao oeste, rumo à suposta localização das ilhas das Especiarias. Este fato alimentou a conjectura de que seu principal destino era a mítica Ilha de Cipango. Em todo caso, até a data em que avistaram Guam, os exploradores já bebiam água deteriorada e comiam bolachas cheias de vermes "que cheiravam a urina de ratos". Desafiados por "ladrões" da ilha, Magalhães impôs o tom da conduta européia no Pacífico, queimando suas aldeias antes de partir, já reabastecidos, em 9 de março. 
                  Uma observação feita por um de seus  companheiros de viagem sugere que esperava que sua próxima parada fosse nas costas da China. Transcorridos sete dias avistou Samar, nas Filipinas; havia encontrado por casualidade as ilhas que formaria o ponto central da navegação espanhola no Pacífico durante os 100 anos seguintes. Apesar de que a morte de Magalhães no final de abril, em uma imprudente intervenção em conflitos locais, prejudicou o prestígio espanhol, a única nave sobrevivente da frota de cinco barcos que havia zarpado três anos antes pôde voltar para casa, a Espanha, pelo Cabo da Boa Esperança . Considerou-se que este fato e seu valioso carregamento de especiarias justificassem a viagem. 
                 Magalhães havia exposto a vastidão do Pacífico e identificado inestimáveis pontos de escala na busca de uma rota viável leste-oeste pelo Pacífico com destino à Ásia. os exploradores que seguiram Magalhães desde o cabo Horn - como Loaisa, em 1526, e Schouten  e La Maire, em 1616 - somente realizavam escassos progressos com respeito ao conhecimento do oceano. O traçado das rotas utilizáveis para conhecimento e exploração do pacífico foi produto das viagens desde a Nova Espanha; a primeira delas, a de Alvaro de Saavedra em 1527 e 1528, foi decisiva. Saavedra descobriu a melhor rota periférica e reforçou Loaisa nas Filipinas num momento em que os protuguêses ameaçavam eliminar os espanhóis. Pode-se dizer que Magalhães e seus sucessores descobriram uma das principais rotas de acesso direto desde o Atlântico com os alísios do sudeste; Saavedra e seus sucessores estabeleceram outra desde a Nova Espanha diretamente através do Pacífico Norte. A última rota viável em direção leste-oeste, através do pacífico Sul desde o Peru, demorou mais a ser explorada. 
                  A navegação do pacífico pela rota de Magalhães via Guam foi dirigida desde a Nova Espanha em direção às metas comerciais confiáveis; as especiarias das Molucas, as sedas da China, os lingotes de prata do Japão. Somente com crescimento das colônias espanholas no Peru nasceu o incentivo para tentar descobrir terras desconhecidas no Pacífico Sul, onde os colonizadores pudessem esperar recompensas tão opulentas como as desfrutadas pelas suas contrapartes mais ao norte. Três diferentes tradições estimularam tais tentativas: a lenda "inca" de ricas ilhas no interior do Mar Ocidental; mito de um grande "continente desconhecido no sul" Terra Austrália"; e os rumores oriundos do Chile de que a verdadeira localização das legendárias Amazonas e das minas do rei Salomão estavam na mesma direção. 



A conquista do Polo Norte
               Aos tempos de Alexandre - o Grande -, Pietas de Massália, um mercador grego, desejou tentar a aventura e transferira-se para lá, onde hoje está  o grande  porto francês de Marselha, indo para além das "Colunas de Hércules";ali se abria o infinito oceano, talvez em busca de riquezas, de terras e povos desconhecidos. Iniciou sua empreitada subindo pata o Norte, para os mares setentrionais da Europa, onde os nevoeiros eram frios, o mar sempre tempestuoso e o céu cinzento e ameaçador. Aportou as terras em que o sol quase nunca se esconde e o dia é interminável. 
                Parou às costas da Noruega, em Tule, terra misteriosa e lendária, além da qual havia somente a desoladora e ofuscante alvura dos gelos e um céu ainda mais cinzento. Está é a história do navegador que, para muitos, existiu somente na lenda. Mais de mil anos ainda deviam transcorrer antes que outro homem se aventurasse a rumar para o gélido Norte.  Era necessário aguardar até o ano  de 870, para aparecer o norueguês Othar que, com seu barco, conseguiu tocar o Cabo Norte, a ponta extrema setentrional da Noruega e, dali, arrancar para a península de Kola, no interior do Mar Branco. 
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             O início da conquista dos mares do norte data deste tempos. Se pensarmos nas condições de então, ficaremos sabendo que espantosas dificuldades, quase intransponíveis, se apresentavam aos arrojados navegantes. Quando os Escandinavos principiaram a expandir-se para o círculo boreal, estávamos nos albores do ano 1.000. A descoberta da Islândia e da Groenlândia, que quer dizer "Terra Verde", foram os primeiros resultados dessas navegações. Nas costas meridionais, surgiram algumas colônias de empreendedores pescadores, em busca de mares piscosos (com bastante peixes). 
                Não se pode falar a verdade sobre os primeiros descobridores sem lembrar do nome de Leif Ericsson. Eric (Erik, em sua língua norueguesa), e seu pai, Jaederen, tinham siado ambos exilados da Noruega, por assassínio, lá pelo ano cristão de 970. Emigrando para a Islândia, levaram consigo as incorrigíveis inclinações de sua família. O pai morreu pouco depois da translação- possivelmente, e com justiça, por degolamento. à vista disso tomou o caminho do sul da ilha. Ali, não tardou a brigar com os seus vizinhos, nos arredores de Eirikstad; por fim, matou vários destes, com toda probabilidade a sangue frio, uma vez que um Tribunal local, indeterminado, que não deveria ser corporação muito delicada, o condenou ao banimento. 
               Eric e sua mulher, mais um punhado de brutos - auxiliares, capangas  e escravos capturados em incursões marítimas - mudaram-se , então, para uma fazenda, numa pequena ilha, ao largo da costa da Islândia. Mas nem a natureza de Eric, nem as circunstâncias, parece que se modificaram grandemente.  Dentro de pouco tempo, começou de novo a derramar sangue. Por um Tribunal, em 980, ele e seus capangas fora declarados definitivamente fora da lei, sendo perseguidos e caçados nas praias da Islândia. 
                   Nestes apuros, Eric, banido da Noruega, banido da Islândia, lembrou-se de uma curiosa história. A narrativa havia corrido de boca em boca, nos cochichos de inverno, das cozinhas da Islândia, partindo dos lábios de um tal Gunnbjoern, que havia navegado, por acidente e pela força de ventos contrários, em mares do Ocidente, tendo tido, então o vislumbre de cumes nevados, de terras ainda sem nome. Eric resolveu carregar os seus barcos e procurar essas terras por conta própria. 
                 Os limites do Oceano Ocidental e aquele lugar era conhecido como Golfo do Medo, mas  sua ignorância os manteve em boa forma. A costa oriental da Groenlândia, elevada e desabitada, coberta de gelo, foi vista, com considerável excitação. Mas a costa era rochosa e nua. Eric viu que seria inútil desembarcar ali. Em consequência, viajou para o sul, durante dias incertos; contornou o ponto que, nas geografias modernas, é denominado Cabo Farewell, e ali bordejou uma orla de terra em que as neves eternas  se haviam metido, embora ela erguesse os seus picos bem ao norte, imóveis e de cor azul pálida, na linha do horizonte. Numa selvagem maranha de fiordes e de barrancos, Eric arrastou, nos seus longos braços, os seus homens, que iam de pé e que fitavam a terra e a água, enquanto cuidavam do gado de bordo - porquanto havia gado nos botes.Curvavam-se ao sopro que vinha das pastagens de outono. A maravilha e a especulação pugnavam, nos broncos cérebros dos campônios noruegueses. Logo adiante, encontraram boa ancoragem e desembarcaram.
                 Aqueles, na verdade, foram os primeiros europeus a chegar à Groenlândia. Mas não foram os primeiros habitantes. Velejando pelas costas ocidentais acima, negras, nuas e desoladas, eles desembarcaram, e ali encontraram armadilhas de pedra, bem co o ossos, e até petrechos de metal, como as narrativas asseguram. Diante disso eles se impressionaram, com considerável espanto. Daí por diante, não tiveram dúvida de que, ao seu redor, nada era seguro; agarraram suas machadinhas, pondo-se à espera de visão ou de som de revoluteios, que somente poderiam ser de inimigos da espécie norueguesa. Mas o lugar era silencioso e abandonado. Não havia ali mais do que gritos de pássaros marinhos, e do que o sussurro da grama longo do outono... Eric retomou suas explorações. 
                 Durante três anos, explorou e revistou aquelas costas, com uma diligência que nos parece difícil explicar. Finalmente fundou Eiriksfjord, lá em baixo, numa colina, a oriente, com um grupo de casinholas de pedra não rebocada, mas o suficiente para abrigar os homens e o gado. 
            Resistiram mais de quatro séculos distantes do mundo civilizado. O mar, infelizmente, rendia pouco, a terra era dura e inóspita, as comunicações com a Europa muito perigosas e quase nulas. Os descendentes dos primeiros homens que puseram pé na terra groenlandesa resolveram, então, abandoná-la e voltar para o Sul. 
                   As consequências que se seguiram à descoberta da rota de navegação através do Atlântico fizeram com que se concentrasse, no seu descobridor, mais atenção do que a que foi prestada a qualquer outro conquistador da terra. Colombo tem sido encarado através de inúmeros olhos e de inúmeros pontos de vista. Já foi aclamado como herói, tal com o seu filho, Ferdinando, o contemplara; e já foi acusado de ser manhoso embusteiro, que Las Casas pensou ver nele. 
                Entretanto, o genovês não foi o primeiro europeu descobridor da América; Leif Ericsson,  numa procura semelhante, tinha-o precedido; os míticos viajantes irlandeses dos séculos sétimo e oitavo, talvez o tenham precedido também; e, muito mais profundamente, o desgarrado piloto, que ele encontrou na ilha da Madeira, tinha-o precedido. Sua descoberta não foi a de um Novo Mundo, coisa que, ele, durante toda a sua vida energicamente negou e desautorizou. Sua descoberta foi a da rota de navegação através do Atlântico. 
                Com a descoberta da América ("façanha atribuída a Américo Vespúcio") apareceu um novo problema: alcançar o Norte, para transpor o novo continente, e dali retomar a marcha, rumo às terras do Oriente, tão cobiçadas pelos mercadores. Procurava-se  uma passagem e a busca se dirigiu para duas direções: "Passagem Noroeste" e "Passagem Nordeste"; todas as tentativas, todas as expedições, nos mares polares, ocorridas nos séculos XVI, XVII e XVIII, foram dirigidas para essa meta. 
          Em Londres, constituíram-se a Companhia dos Mercantes, riquíssima sociedade armadora de muitos navios, que tinham sob sua dependência os melhores capitães de longo curso. Desde o ano de 1500, começaram a impelir para o Norte da Rússia suas próprias tripulações, com o objetivo de aumentar o comércio com o Oriente. Os nomes de Hugo Willoughby, de Artur Patt, de Cabot, de Jackman, estão ligados às primeiras aventurosas expedições, que conseguiram atingir as ilhas de Nova Zembla e o mar de Kara. Nos fins do século, um holandês, Guilherme Berentz (1560 x 1597), no comando de três navios, avançou até à ponta extrema da Nova Zelândia e, dobrando para o Norte, descobriu a "ilha dos Ursos" e a grande Svalbard. 
                   Se o inverno não estivesse extremamente duro, certamente, o corajoso navegador teria alcançado terras ainda mais distantes. Mas os gelos, tendo-lhe aprisionado o barco, obrigaram-no a hibernar, em trágicas condições, sem o equipamento necessário para resistir ao mortífero frio. Barentz deixou a vida no deserto de gelo, vítima de sua audácia. As dificuldades encontradas desanimaram os holandeses, que desistiram da busca da "Porta Oriental". 
            Reaparece nos mares a bandeira inglesa; é uma tentativa nova  e corajosa aquela de Henry Hudson, que, em 1607, tenta diretamente a travessia da área polar, subindo de novo as costas da Groenlândia, rumo ao Norte. Ao 81º de latitude, uma altíssima barreira de gelo o detém e obriga-o a voltar para o Sul. 
           Neste mesmo período, os ingleses da América do Norte iniciaram, com mais sorte, a procura da "passagem do Noroeste".  As terras a ocidente da Groenlândia revelaram-se um intrincado labirinto de lagos, estreitos, ilhas, penínsulas. No meio destes, procuravam, com tenacidade, abrir uma brecha para o Oriente. A Companhia dos Mercantes confia uma forte expedição a Henry Hudson, recém-chegado da Nova Zelândia, a fim de que faça o possível para alcançar o pacífico. A sorte, a princípio, parecia-lhe propícia; eis que, à sua frente, se abre um estreito na direção do Oeste. 
                 Depois de uma longa navegação, ele viu abrir-se um enorme espaço; parecias tratar-se, realmente de um mar aberto e, por alguns dias, Hudson deixa-se embalar pela esperança de que se encontrava no Oceano. Infelizmente, foi apenas uma ilusão, logo desfeita. Quando percebeu que estava numa vasta baía, sobreveio o inverno, duríssimo. A turma rebela-se. O medo da morte entre os blocos de gelo enfurece aqueles estressados marinheiros, que o abandonam com seu filho, num barco, em alto mar, onde ambos perecem. 
                Durante mais de um século, não se fizeram mais tentativas. A caça às baleias impele os marinheiros nórdicos para mares glaciais, e pode-se crer que alguma baleeira, perseguindo os cobiçados cetáceos feridos, tenha chegado bem ao Norte, na direção do Polo, talvez para lá do 80º, paralelo. 
             Em 1789, escocês Alexandre Mackenzie (1755 x 1820), ao explorar o Canadá setentrional, descobre e segue até a foz do mar glacial aquele rio que lhe lhe conserva o nome. Poucos anos  antes, o capitão James Cook  (1728 x 1779), ao seguir a costa americana do Pacífico,chegara até ao estreito de Bering e navegara por largo trecho do Oceano Glacial Ártico. 
                O infrutuoso suceder-se de tantas tentativas, o trágico naufrágio de numerosas expedições, das quais muito raramente seus membros voltaram com vida, haviam demonstrado que, sob o ponto de vista comercial, não havia mais interesse algum num corredor que permitisse atingir, por caminho mais curto, as Índias. Os Mares, gelados durante muitos meses do ano, e a navegação, sempre arriscada, não ofereciam garantias necessárias para um tráfego comercial regular. 
             Foram os estudos científicos aliados ao desejo nunca satisfeito do Homem para conquistar até o mais remoto ângulo da Terra que imprimiriam novas marchas para a conquista do Polo. 
                No início do verão de 1817, os pescadores de baleias tinham notado um excepcional degelo e um tepor no ar, como nunca antes se verificara. Aproveitando estas favoráveis condições, William Eduardo Parry (1790 x 1855) empreende uma viagem ao Ártico, a oriente da Groenlândia, que lhe permite transpor todo o Lancaster Sound, até chegar á vista daquela terra chamada "Terra de Kanks". Sem que ele mesmo percebesse, completara quase todo o trajeto que une o estreito de Davis ao de Bering, do Atlântico ao Pacífico. 
             Quando o navegador inglês resolve tentar a grande exploração, rumando diretamente para o Polo, lança seu navio até onde os gelos não impediam a navegação,depois do que transformando algumas canoas em trenós, avançou pelo deserto gelado, chegando aos 82º e 45º de latitude, ponto máximo, que ficaria insuperado até 1876. 
                 Finalmente, em 26 de outubro de 1850, numa milésima tentativa, Roberto joão Le Mesurier Mac Clure (1807 x 1873), conquista a "passagem Noroeste". Através do estreito de Bering, o explorador, ao comando do navio "Investigador", atinge a Terra de Banks" e dali, prosseguindo de trenós pela extensão do gelo, consegue chegar à foz setentrional do Melville Sound, aonde, 30 anos antes, chegara Parry, vindo do mar de Baffin. Na ilha de Melville, ocorre o emocionante encontro com a tripulação inglesa do capitão Kellett, proveniente da Grã-Bretanha, que também tentava a travessia.  A conquista desta meta, em vão tentada durante dois séculos, converge os esforços dos audazes pioneiros para o Polo, primícia ambicionada por ingleses e americanos. Ninguém, até então, conseguira aproximar-se mais de 700 quilômetros do Pólo Ártico. 
              Uma grande expedição é organizada em 1873, por dois oficiais austríacos, Júlio de Payer e Carlos Weiprecht, com o navio "Tegetthoff", cuja  tripulação era composta, em sua maioria, de marinheiros italianos. Sua aventura foi realmente sem precedentes. Alcançada a Nova Zembla, foram surpreendidos por uma imprevista onde de gelo, que os aprisiona inexoravelmente. O barco é arrastado, durante meses, á deriva, junto ao banco de gelo que o encerra. O espectro da fome, da morte por inanição, atormenta oficiais e marinheiros, que somente podem alimentar -se com arenques defumados, de que tinham farta reserva no barco, e de pássaros marinhos que conseguiam abater. Para acalmar a sede, são obrigados a dissolver pedaços de gelo, acendendo fogos em madeirame do próprio navio. Entregue às misteriosas correntes polares, o "Tegetthoff" chega às ilhas, até então desconhecidas, da Terra de Francisco José. Depois de um ano do início daquele constante navegar sem meta, os náufragos foram recolhidos por uma baleeira russa e levados de volta ao mundo habitado. 
        Cinco anos mais tarde, também a "Passagem Noroeste" é conquistada. Um navio sueco, o "Vega", onde, como oficial, se encontrava também Giacomo Bove (1852 x 1887, que partira de Göteborg  (atual Gotemburgo) e comandado por Nordenskjöld, chega à foz do Ienissei. Mas a esperança de chagar ao estreito de Bering antes dos fins de agosto desaparece com o principiar 
Gotemburgo atual
da estação infernal. E também para a expedição sueca houve um ano de encarceramento, entre os blocos de gelo; somente em julho do ano seguinte, com o degelo, o barco pode rumar livre para o Oceano pacífico. 
            O Polo Norte continua resistindo aos intrépidos conquistadores. resiste, defende-se, e mata muitos desses arrojados. Chega a vez do norueguês Fridtjof Nansen (1861 x 1930), que deseja realizar uma corajosa experiência. Ele está convicto de que uma corrente marinha passa através da bacia polar e e flui do alto mar siberiano até a Groenlândia, provavelmente, bem perto do Pólo, mas, eis que, a bordo do "Fram", Nansen em 1893, deixa-se aprisionar pelos gelos. Durante 35 meses, ele, com seu barco, é arrastado das ilhas da "Nova Sibéria" às de Svalbard, onde os bancos, finalmente, o deixam livre. Durante longuíssima deriva, Nansen alcançara 86º de latitude, a pouco mais de 400 quilômetros do Pólo. 
                 Em seguida, chega a vez dos italianos, por tradição, grandes exploradores. Famosa foi a expedição de Luiz Amedeo, Duque dos Abruzzos, que, com "Stella Polare", zarpa de Oslo, atinge a Terra de Francisco José e, mais ao norte do arquipélago, a ilha Príncipe Rodolfo. Daqui, onde foi instalada a estação de inverno, Humberto Cagni avança, por meio de trenós, 
puxados por cães, especialmente treinados para essa tarefa, até 86º e 33º de latitude; 35 quilômetros mais perto do Pólo de quanto houvessem alcançados Nansen. A expedição confirma que não existem mais terras naquela latitude, mas somente imensas, infinitas planícies de gelo. 
             A tão ambicionada meta de tantos exploradores que, para alcançá-la, deram a própria vida, finalmente é atingida; a honra cabe ao americano Robert Edwin Peary. Em 1909, a expedição de Roberto Peary parte do cabo Colúmbia, da Terra de Grant, apontando decididamente para o Norte. A coluna, que avança por entre o gelo, sob o comando do explorador americano, compreende 22 homens, 133 cães e 19 trenós. O frio terrível mata muitos cães e põe fora de combate diversos homens. Mais de uma vez, Peary esteve a pique de regressar, desmoralizando e aniquilado pela duríssima luta. Mas a proximidade da meta, que agora parece estar ao alcance de sua mão, convence-o de que deve resistir. Finalmente, em 6 de abril, pela primeira vez, um homem põe o pé nos gelos do Pólo Norte, a milhares de quilômetros do mais próximo lugar habitado. 
             Com esta façanha, não pode, porém, considerar-se encerrada a conquista do Pólo Ártico. Devemos recordar aqueles homens voluntariosos e os mártires que, uma vez aberta a estrada das geleiras, desejaram submeter ao domínio do homem também as vias celestes, sobre as intérminas planícies árticas, arriscando-se em audacíssimos voos. 
             Em 1926, Amundsen, no dirigível "Norge" voa, em 72 horas, das ilhas Svalbard até a Ponta Barrow, sobrevoando o Pólo. Dois anos depois depois, o comandante italiano Nórbile, no 
dirigível "Itália", enfrenta nova rota; das ilhas Svalbard, atinge o arquipélago francisco José e as ilhas Nicolau II. Mas, investido por violenta tempestade de neve, o dirigível cai sobre os gelos, e aí tem início a tremenda luta da tripulação para sobreviver à espera de socorros.  Morrem no trágico desastre, o jornalista Hugo Lago, o professor Aldo Pontremoli, os motoristas Alessandrini, Arduíno, Carati, Coicca e Pomella. 
            De todos os pontos do globo, homens corajosos oferecem-se para localizar a aeronave desaparecida e as tentativas se sucedem , numa nobre competição de generosidade. Os supérstites são encontrados, feridos,  em molambos, quase mortos, e reconduzidos à Pátria. Infelizmente, numa das incursões aéreas para descobrí-los,despareceram para sempre Amundsen e o capitão Guilbaud. Em memória do bravo norueguês, o governo italiano decretou a medalha de ouro ao valor aeronáutico. 
               Hoje, também no Pólo Norte, a ciência já soube impor-se ás forças da natureza e à crueza dos elementos locais. Observatórios astronômicos, estações de controle,instalações de rádio, são deslocados para o extremo norte da Groenlândia, para o Alasca, para todas as regiões árticas. Uma linha aérea sueca, entre outras, iniciou voos regulares para transporte de passageiros da Europa para a América do Norte, sobrevoando diretamente o Oceano Glacial Ártico. O dia 15 de novembro de 1954 assinala , para a aviação comercial, uma data histórica. Nesse dia, foi aberta ao tráfego de passageiros a rota polar; dois aparelhos S.A. S (Scandinavian Airlines System), dois "DC6B", decolam; um de Copenhague, rumo a Los Ângeles e outro, de Los Ângeles para Copenhague, seguindo a rota do "grande circulo". Conseguiu, assim,diminuir de 1600 quilômetros a linha antes seguida, que passava por Nova York. Durante a segunda guerra mundial, os americanos construíram bases nas ilhas do Canadá, servindo-se da rota polar para enviar à Europa seus bombardeiros. Entre outros voos sobre a zona ártica, devem-se assinalar, especialmente, o raide sem escalas de Bernt Balchen, pioneiro da aviação polar, companheiro do dinamarquês Knud Rasmussen, com o qual se ligava Fairbanks (Alasca) a Oslo. 
               Em 6 de outubro de 1946, o aparelho americano "Pacusan Dreambot" batia os recordes de distância, no percurso Honolulu, Alasca, Pólo magnético, Groenlândia, Londres, Paris, Roma e Cairo. 
            As grandes rotas aéreas sobrevoarão também o "grande círculo". A ligação Europa-América e Europa-japão, hoje, passaram a ser feitas regulamente sobre o Ártico. Em 1957, a S.A.S. inaugurou o atalho aéreo da "Passagem do Noroeste", entre a Europa e o Oriente Longínquo. 


Cristóvão Colombo
                 Nos países banhados pelo, nos tempos em que existiu Cristóvão Colombo, o sonho de superar limites e descobrir novas terras sempre foi o anseio dos grandes navegadores. Todavia sua figura emerge luminosa entre todos os navegadores de seu século. Ele nasceu em Gênova, no ano 1451, de uma família humilde de catadores de lã. O pai desejava fazer dele o herdeiro de sua pequena indústria e familiarizou-se, desde menino, com o movimento comercial. Mas, como todos os genoveses, que parecem sentir-se mais à vontade no oscilante tombadilho de seus navios do que em terra firme, Cristóvão amava o mar, amava a vida ativa, o movimento , o aroma da salsugem, o inflar das velas sob a brisa marinha e, com certeza, sempre com entusiasmo, as tarefas que o pai e as casas comerciais genovesas lhe confiavam para todos os portos do Mediterrâneo. Ciência náutica, desde adolescente, não conseguiu realmente aprender, mas experimentou sua própria audácia. E de quanto fosse necessário esta última qualidade a um capitão de mar é bem fácil supor, porque navegar naquele tempo, quando os instrumentos náuticos eram ainda imperfeitos, significava lançar-se à aventura e correr todos os riscos. 
               Foi provavelmente, alguma atividade comercial que o levou a Portugal, no ano 1476, e também interesses mercantis que o induziram a preferir Lisboa Gênova. Portugal era um país muito pequeno,mas, ao tempo de Colombo, possuía um grande rei: D. João II. 
              Devido ao seu estímulo, os marinheiros portugueses e estrangeiros arriscavam-se a explorar "mares nunca dantes navegados" e a arribar (levantar as velas) para  terras riquíssimas de promessas: os Açores, as ilhas de Cabo Verde, as costas da Guiné foram atingidas e exploradas. 
                De Lisboa, Colombo precisou zarpar, muitas vezes, para a Guiné e foi com certeza um navio português que o conduziu até a Islândia. Essa viagem que, para a época, em matéria de audácia, às expedições polares de hoje, deve ter tido o dom de incutir no futuro grande navegador a paixão pelas explorações e descobrimentos. 
             Colombo foi um explorador notável, tanto das costas como das rotas. Não pode determinar com precisão o primeiro lugar onde ancorou no "Novo Mundo"; de seu diário se poderia deduzir que foi em uma ilha, talvez localizada bem ao norte, nas Bahamas, mas suas  descrições são muito vagas para justificar as afirmações em favor de uma ilha em particular. Além das Bahamas, suas rotas podem ser reconstruídas de forma exata. Nas suas primeiras três viagens à América, reuniu um quadro notavelmente completo da costa do caribe, desde Cuba Meridional e Oriental até Dominica, e efetuou o primeiro descobrimento registrado da terra firme americana. Ele o reconheceu pelo que era: "um continente muito extenso do qual até este dia nada se sabia"e "outro mundo". 
              Um fato novo veio mudar-lhe a vida, dando-lhe a tranquilidade em que iria amadurecer seu grandioso projeto: conheceu Felipa Moniz Perestrello, nobre jovem, filha de Bartolomeu Perestrello, pertencente a uma família de valorosos lobos do mar, e por ela se apaixonou. Colombo devia ser, na ocasião, um belo rapaz, se formos crer na descrição que dele fez seu segundo filhos, Fernando: de alta estatura e porte atrevido , possuía um rosto franco, onde resplendiam as luzes vivíssimas dos olhos. A nobre família, tomada de simpatia pelo obscuro italiano, consentiu de bom grado ao casamento de Cristóvão e Felipa. Desse amor nasceu um filho, Diego, a quem Colombo sempre distinguiu com particular afeição. 
               Na casa da esposa, na ilha de Porto santo, Colombo pode dedicar-se como queria aos estudos científicos, que o apaixonavam cada vez mais. E eis que, em seu íntimo, vai-se corporificando pouco a pouco a grande ideia: chegar às Índias passando pelo Ocidente, ao invés de percorrer o costumeiro itinerário, rumo ao Oriente. Embora se baseasse num cálculo errado sobre a grandeza do Globo, Colombo possuía ideias cosmográficas bastante claras: "A terra é esférica" - afirma - "e os mares são navegáveis; nenhum monstro torna inacessíveis as águas ainda desconhecidas, porque, se nelas houvesse os animais horrendos que nos sugere a crendice popular, eles chegariam até as nossas costas, arrastados pelas correntes marítimas. Deve ser possível, portanto, atingir diretamente, indo para o ocidente, atravessando o Oceano, os países asiáticos que Marco Polo visitou; e, se o percurso for longo, ali deve haver, sem dúvida, ilhas ainda desconhecidas, que tornarão mais suave o trânsito e que serão, ao  mesmo tempo, novas fontes de riqueza". 
               Absurdo seria pensar que Colombo houvesse tido tão genial intuição sem a inspiração de algum grande cientista. Os críticos, de fato, positivavam que, alguns anos antes, ele tivera oportunidade de ler uma carta enviada pelo florentino Paulo Toscanelli dal Pozzo ao cônego português Martins, para que este a submetesse à apreciação do rei D. João II. Nessa carta, Toscanelli afirmava que a via mais curta para chegar ao Oriente não era aquela que os Portugueses seguiam, ao longo das costas da Guiné, mas sim aquela rumo ao Oriente, através do Atlântico. 
              Apesar de ser fundamentalmente o projeto, o rei D. João II não deu acolhida ao pedido de Colombo, que já desejava navios e tripulações para tentar uma expedição exploratória, pois suas ideias parecem exageradamente absurdas aos doutos conselheiros da corte, que ainda viviam embalados num mar de superstições. "Não é possível  que a Terra seja habitada, ao outro lado do hemisfério" - diziam em altos brados - "por que, então, os homens seriam obrigados a caminhar de cabeça para baixo e  pés para cima, e a chuva cairia de baixo para o alto! Se a  Terra fosse redonda, os navios, deslizando pelo declive, não poderiam parar nem subir de novo para retornarem à pátria!"
           Vendo que lhe negavam o que pedia, Colombo dirigiu-se, então, a Fernando e Isabel. Incauto momento aquele, para apresentar ousadas propostas! A Espanha estava empenhada na luta contra  os Mouros e o rei Fernando, demasiado preso aos seus compromissos de guerra, não lhe deu ouvidos. A rainha Isabel, entretanto, vencida pelos calorosos argumentos daquele desconhecido, promoveu uma amável discussão do projeto, entre os doutorados da Corte. Também estes, tal como haviam feito antes seus colegas e cientistas portugueses, naquele primeiro conclave em Salamanca, em 1486, não deram crédito algum às afirmações do Genovês e o projeto permaneceu engavetado por mais seis anos. 
               Quando os Mouros foram expulsos do solo  espanhol e Fernando pode, finalmente, pensar em aumentar seu reino, dotando-o de um vasto império colonial, Colombo, cuja longa espera e os sofrimentos por que passara lhe haviam conferido ai semblante um ar de maturidade, voltou de novo à corte, apoiado firmemente pelo confessor da rainha, o boníssimo franciscano Juan Perez. Para sua sorte, à nova reunião assistiram o italiano Giraldini, homem de ciência e muito estimado pelos soberanos espanhóis, e Luiz de Santangel, eminente homem de finanças.
              Contudo, a partida de Colombo não dependia apenas de aprovação dos especialistas, os sábios raramente governam, mas sim de apoio político e financeiro. Sua busca de patrocinadores começou a dar frutos na última metade da década de 1480, quando concentrou seus esforços na corte espanhola, onde alguns de seus conterrâneos genoveses eram financeiramente influentes e onde o funcionário do Tesouro Espanhol, Alonso de Quintanilha, havia reunido um consórcio com capital genovês para outro projeto na Atlântico: a conquista das Canárias. Este círculo constituiu a base do  financiamento de Colombo; aparentemente a maior parte do dinheiro para esta primeira viagem foi antecipada por Francisco Pinelli, banqueiro genovês de Sevilha, e Luiz de Santángel, funcionário do Tesouro da coroa de Aragão. O apoio foi obtido com as incansáveis recomendações do próprio Colombo, aliciando partidários dentro da Ordem Franciscana, com a qual parece ter tido uma relação especial, e em meio ao séquito do herdeiro do trono, onde cultivou algumas de suas amizades mais íntimas e duradouras.
              Fernando e Isabel foram influenciados a seu favor por causa da necessidade de uma nova fonte de ouro para poder se rivalizar com a prosperidade que Portugal obteve da África e para poder repor os recursos consumidos na conquista de Granada. Graças ao iluminado conselho de Giraldini e Staángel, os reis católicos concederam, afinal, a Colombo, sua augusta proteção. No dia 17 de abril de 1492, concluíram-se os acordos. As pretenções de grau de almirante e do título de vice-rei para todas as terras que fossem descobertas durante a navegação, da décima parte dos proventos que disso resultariam, das honras e privilégios quase soberanos, que Colombo pretendia, não tanto por cupidez, mas para tutelar e proteger sua obra, foram atendidas. 
               No dia 12 de maio, partiu ele para Palos de La Frontera, a fim de providenciar as três caravelas do que necessitava, duas das quais lçhe foram inteiramente fornecidas pelos próprios habitantes do  povoado. Essas embarcações tinham sido utilizadas, no passado, em pirataria. Colombo conheceu, em palos, um armador que lhe foi de grande ajuda: Martim Afonso de Pinzon, homem de mar e grande iniciativa, que gozava do máximo conceito entre seus concidadãos. Graças à sua intervenção, Colombo pode contar com sua ajuda uma tripulação seleta e disciplinada, pronta para corresponder á audácia do capitão. 
                Despontou, finalmente,  a aurora do dia marcado. Em 3 de agosto de 1492, a Pinta à frente, comandada por Pinzon, a Nina, cujo comando fora confiado ao irmão de martim Vivente, e a Santa Maria, na qual estava desfraldada a insígnia do capitão-geral, zarparam para o desconhecido. Depois de tantas vacilações, tantas desilusões e tanto sofrimento, a grande aventura começava. 
                 Para  alcançar as novas terras que aspirava, Colombo tinha de descobrir primeiro uma rota prática através do Atlântico. Sua primeira e indiscutível façanha foi a exploração do sistema de ventos do Atlântico Norte. Os exploradores marítimos que navegam na maior parte do mundo sempre preferem fazê-lo a vela com um vento contrário; a segurança de voltar para casa é, pelo menos, tão importante como a perspectiva de um novo descobrimento. Por isso, as tentativas mais conhecidas do século XV para ampliar a fronteira do Atlântico foram levadas a cabo na região dos ventos do oeste que sopram nos açores. Como ponto de partida, os Açores tinha a vantagem adicional de localizar-se bem a oeste, em uma latitude relativamente setentrional, prometendo uma curta passagem em direção a novas terras. Entretanto, a força dos ventos frustravam qualquer tentativa. Colombo teve êxito onde outros fracassaram porque realizou sua viagem mas ao sul, da Canárias, onde podia se deixar levar pelos ventos alísios do noroeste, aparentemente com a esperança de encontrar os ventos do oeste ao regressar. Suas duas primeiras travessias do Atlântico demonstravam a viabilidade deste plano. A terceira, barrada pelas calmarias equatoriais, comprovou que havia descoberto uma rota de valor incalculável.
                Quando a última terra conhecida foi deixada para trás e as imensas vagas do Oceano se abriram ante os olhos dos marujos, Colombo, incansável, velejou dias e noites sobre as bússolas e o leme, corrigindo as rotas, anotando os estranhos fenômenos que se iam verificando. Uma revoada de pássaros reanimava o moral da turma quando à proximidade de terra, uma enorme massa de erva flutuante (os sargaços), os vegetais desconhecidos e os estranhos aromas os espantavam, enquanto, nas mentes exasperadas pela longa espera, iam surgindo, com frequência sempre maior, falsas visões de terras que se desenhavam no horizonte. Setenta dias de navegação, num oceano desconhecido e misterioso; no dia 12 de outubro de 1492, às primeiras horas da manhã, quando a luz do dia dissipava a custo as brumas noturnas, revelou-se, afinal, aos olhos daquele que por primeiro ousara tentar o absurdo, luxuriante de vegetação, plena de promessas para um mundo futuro, a Nova Terra.
                - "Em nome de Fernando e de Isabel, a Católica, eu tomo posse, para Suas majestades, desta Terra" - foram as primeiras palavras de Colombo, na terra que ele chegou a beijar. 
                  São salvador (Guanahani, uma das Lucaias) foi a primeira a receber os homens vindos do mar, e houve alvoroço entre os habitantes da ilha, acorridos para recebê-los com ricos presentes que a terra oferecia. E  houve grande regozijo entre os marinheiros, que se reuniam em redor de seu grande Almirante . A força e a fé com que o grande navegador idealizara e cumprira a mirabolante viajem, foram reconhecidas pela maioria dos espanhóis. Desde aquele dramático dia, começou a exploração sistemática da ilha. 
                  Contudo, há um fato de relevância vital que normalmente os historiadores oficiais não relatam. Os espanhóis, sem saber, trouxeram consigo um inimigo invisível, o "vírus da varíola" que, mais tarde viria a dizimar várias tribos. Em contrapartida levaram de volta para a Europa o "vírus da Sífilis". Durante cerca de  60 dias, os marinheiros espanhóis passaram sem ver sequer um rosto feminino e, ao chegar encontraram centenas de mulheres nuas ou semi-nuas. De alguma forma tiveram contato sexual com elas e adquiriram o perigoso vírus que, ao voltar, levaram para o continente europeu. Os habitantes da América já conviviam e tinham imunidade à doença, mas, naturalmente desconheciam. O mesmo fato ocorreu quando outro navegador, Pedro Alvares Cabral chegou ao Brasil em 1500. 
              Os tripulantes buscavam ouro; somente por ambição e amor ao precioso metal, na verdade, haviam concordado em enfrentar os incríveis perigos daquela viagem. Colombo, ao invés, preocupava-se em melhor identificar aquelas terras que, por ele consideradas como as últimas ilhas do japão, não revelavam aquelas características que marco Polo descrevera ao regressar de sua viagem. 
                Abordou, em seguida, a Cuba e Haiti (que foi batizada como !"Hispaniola") e onde seu irmão fundou São Domingos. A tripulação da "Santa Maria", porém, foi obrigada a parar, devido ao mau estado da caravela, em Haiti, onde foi fundada a primeira colônia espanhola em terra americana: "La Navidad". No dia 3 de janeiro de 1493, a "Pinta" e a "Nina" voltaram para a Espanha, a fim de lá tornarem conhecido o grande acontecimento. O que foi o júbilo da Nação e de seus soberanos, que pressentiam, no descobrimento, uma futura riqueza e o início de uma era de grande potência, é bem fácil imaginar. As honras tributadas a Colombo, á sua chegada a Barcelona, foram verdadeiramente dignas do empreendimento. Foram-lhe, de fato, reconhecidos os privilégios por ele solicitados às vésperas do embarque e, em sinal de suma honraria, permitiram-lhe ornamentar o próprio brasão com as insígnias de Castela e leão. Mas, a alegria bem cedo teve de ceder lugar à desilusão e à desconfiança, quanto aos frutos que se poderiam auferir das novas terras, já que não havia vestígio de ouro tão ambicionado. Interessava muito a Isabel e Fernando ampliar as próprias conquistas e consolidá-las, mediante uma válida colocação de colonos, antes que os portugueses conseguissem alcançar os portos asiáticos, costeando a África, invadindo, dessarte, os novos mercados, com seus produtos, e a segunda expedição foi organizada com a máxima presteza; 17 navios transbordantes de agricultores e comandados por Colombo, partiram de Cádiz, em 25 de setembro de 1493, rumo a "Hispaniola". Ali os aguardava o primeiro grande desgosto: a colônia de "Navidad" tinha sido completamente destruída pelos indígenas, que haviam massacrado barbaramente os poucos espanhóis que tinham permanecido na terra. Mais a oriente, surgiu a primeira cidade, que recebeu o nome da grande rainha "Isabel". 
                À segunda expedição seguiu-se a terceira, a distância de dois anos, mas já sobreviera o desespero, por não se poder encontrar ouro, nem tampouco dominar aquela população que, de amiga e hospitaleira, se tornara, imprevisivelmente, hostil.
            Guadalupe, Dominica, Trinidad, foram tocadas por Colombo, durante suas viagens, na tentativa de chegar aos domínios do Grã-Cã, mas explodiu uma revolta na colônia de Isabel e o homem que fora tão aclamado, poucos anos antes, com um dos maiores beneficiários da Espanha, foi condenado injustamente pelos rebeldes e pela triste figura de Francisco Borbadilla, enviado pela coro, com plenos poderes sobre a ilha, e Colombo foi obrigado a regressar e apresentar-se aos soberanos, acorrentado qual um malfeitor. Quando a ordem de libertação de Fernando e Isabel chegou, era tarde demais; a glória de Cristóvão já chegara ao crepúsculo. Em novembro de 1500, outros navegadores mais jovens e mais afortunados, financiados egregiamente por outras nações, partiram nas pegadas de Colombo. Suas descobertas atiravam para o esquecimento  a heroica tarefa de Colombo, daquele homem que por primeiro ousara transpor um imenso oceano desconhecido, abrindo ao mundo ocidental uma nova via de expansão e enriquecimento. A quarta viagem, ocorrida em 1502, a mais rica de episódios, foi a muito custo aprovada pela opinião pública, como se quase ninguém mais esperasse qualquer êxito ou qualquer proveitos das expedições de Colombo. Todavia, esta viagem foi mais rica de descobrimentos. Colombo tocou as costas de Honduras, dos dos Mosquitos, da Costa Rica e do Panamá. Mas por toda parte o grande navegador era atormentado pela inveja de seus inimigos.
                As tentativas de despojá-lo da honra com os argumentos de que "quando zarpou não sabia onde ia, quando chegou não sabia onde estava e quando regressou não sabia onde esteve" não são válidas. Contudo Colombo ficou convencido de que "este mundo é pequeno" e que as novas terras estavam próximas ou contíguas à Ásia. Sua justificativa provinha de cálculos de longitude desatinadamente errôneos, baseados na medição dos eclipses. 
               Não estava sozinho em suas crenças. Apesar de ter numerosos detratores, houve quem o apoiou; um importante especialista da corte de Fernando e Isabel o considerava "um grande teórico maravilhosamente experimentado... um apostolo e embaixador de Deus" que nestes tempos sabe mais sobre isto que qualquer outro homem".  Os navegantes a posteriores a Colombo, entre eles Pinzón, Vespúcio e Magalhães, aceitaram sua descrição do mundo, a qual não foi descartada definitivamente pela evidência empírica até que a travessia de Magalhães pelo Pacífico revelou a vastidão do planeta. 
             No entanto, um grupo da corte nunca deixou de ridicularizar Colombo e por em dúvida suas teorias. As esplêndidas recompensas que reclamou jamais se materializaram. Havendo arriscado sua reputação com a reivindicação de ter encontrado uma rota para a Ásia, Colombo descobriu que o favor real era um jogo de penhor e sua posição duramente alcançada estava em perigo quando foi incapaz de entregar os frutos de suas promessas. Para o filho de um tecelão convertido em marinheiro, suas obras eram deslumbrantes; entretanto, ambições implacáveis condenaram seus últimos anos a uma frustração amarga da qual refugiou-se na autopercepção, quase messiânica de ser um profeta eleito por Deus. Morreu em maio de 1506, prometendo no seu leito de morte que "apesar de a enfermidade me angustiar sem piedade, ainda posso servir a Suas Altezas com serviços que nunca foram vistos!". 
             Minado pelas fadigas, pelas enfermidades, pelas desilusões, conseguiu voltar para a Espanha, onde foi friamente recebido pelo rei Fernando. 
           E, entre a indiferença geral, no dia 20 de maio de 1506, nos recessos de Valladolid, morria Critóvão Colombo, o homem que dera um novo mundo aos soberanos que lhe financiaram parcialmente sua viagem. E talvez a morte lhe tenha poupado a derradeira mágoa: a de saber que a terra que ele, como primeiro civilizado, tocara, fora batizada com o nome de um navegador tão audaz quanto ele, porém, mais afortunado, Américo Vespúcio. Um ano depois, realmente,m o mundo geográfico enriquecia-se com o nome de um novo continente: a América!




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