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domingo, 12 de abril de 2020

A GRANDEZA E DECADÊNCIA DE BIZÂNCIO

 

                    Do século IV a.C. até o século II da nossa era, houve um intervalo, na histórias da humanidade. Foi quando o caminho da civilização se identifica com o de Roma. Quando surge a herdeira desta, em cultura  e civilização: Bizâncio. 

              No século V, enquanto os governantes germânicos tomavam o controle do Império Romano do ocidente, o Império Oriental experimentava uma espécie de ressurreição. A batalha de Adrianópolis em 378 d.C. havia marcado o ponto mais baixo na sorte do Oriente. Entretanto, quase dois séculos depois de Adrianópolis, o Império Romano Oriental continuava florescendo. Respaldado pela riqueza do grande Império do Oriente Próximo, que compreendia não somente a Ásia Menor, como também Síria e Egito; as grandes muralhas da cidade permitiram a Constantinopla resistir às numerosas incursões que efetuavam os godos e os hunos através do Danúbio, e quase todas as gerações de habitantes vieram, dos muros da cidade, o rastro de devastação que deixavam as sucessivas hordas invasoras. Não bastante, com os reinados dos imperadores Anastácio (491 x 518) e Justiniano (527 x 565) a estabilidade retornou. 
                   O Império Bizantino foi uma tentativa de continuação do  Império Romano na antiguidade, passando pela Idade Média. Sua capital, Constantinopla (atual Istambul), originariamente era conhecida como Bizâncio. Ela inicialmente era a parte oriental do Império Romano, e na época era conhecida como Império Romano do Oriente. Inicialmente sobreviveu à fragmentação e ao colapso  do Império Romano do Ocidente no século V e continuou a prosperar, existindo por mais de mil anos até sua queda diante da expansão dos turcos otomanos em 1453. Nesta época era chamada apenas de Império Romano. 
                    Durante os primeiros século do império bizantino, as lutas religiosas eram frequentes, e geralmente degeneravam em verdadeiras e próprias batalhas. Num imenso crepúsculo de sangue, a gloria de Roma ia-se obscurecendo, submergia pelo cerrado nevoeiro nórdico, quando o imenso edifício dos Césares se dobrava ante o choque das hordas bárbaras. 
                Quando os dois filhos do imperador Teodósio, Arcádio e Honório, dividiram entre si os domínio paterno, a Itália estava em plena dissolução entre os muros de Ravena, Honório, imperador do Ocidente, sentia a maré dos bárbaros invadir o território romano, sem que contra eles se levantasse a antiga muralha das legiões. Hérulos, Godos, Hunos, Bávaros, Vândalos, todos convergiam para as planícies da Europa mediterrâneo, considerada presa rica e certa. O Oriente estava mais calmo, menos pressionado pelo ímpeto dos bárbaros. Assim, pouco a pouco, ante o progressivo desmoronar da organização romana, Bizâncio, a cidade que Constantino elegera rua capital, assumiu todas as prerrogativas de capital, até que, no ano 476, deposto o último imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, o chefe hérulo Odoacre mandou as insígnias do poder a Bizâncio, como que querendo significar que o imperador do Oriente (então Leão I) era o único herdeiro do nome e do domínio romano. E tal foi, de fato, durante muitos séculos, embora o seu domínio territorial, em determinados períodos, a bem pouca coisa. 
                  A leão I sucedeu Justino I, e a este o sobrinho, pedro Sabácio, que assumiu o nome de Justiniano. Hábil chefe e ótimo conhecedor dos homens, ele soube descobrir, entre seus generais, os únicos que podiam enfrentar a avassaladora ameaça dos bárbaros: Belisário e Narses, os chefes guerreiros que reconquistaram para Bizâncio, em nome da antiga roma, quase todas a Itália, e boa parte do Oriente e da África. Mas ainda maior se revelou a sabedoria de Justiniano, ao recolher, por intermédio de seus juristas, o máximo tesouro que Roma deixara: suas leis. O "Corpus Juris Civilis", isto é, a coletânea dessas leis, foi, por mais de mil anos, o único código da Europa, que passou a ser governada pelo  espírito romano, ainda quando o império havia séculos que desaparecera.
                  Bizâncio era uma curiosa e caótica cidade, ponde de reunião de todas as ideias e dos costumes do Oriente e do ocidente, um labirinto de templos, de casebres e palácios, uma babel de idiomas diferentes, uma mixórdia de raças e costumes. E sua história se lhe assemelha, pois não passa de uma história de fatos e figuras, em que os imperadores eram escorraçados do trono por uma revolta de pretorianos e desapareciam repentinamente, arrebatados pelo veneno ou pelos punhais das conspirações do Palácio. Maurício, Fócio, Constantino, Anastácio, são vultos que aparecem, por poucos decênios, à ribalta da história, sempre em guerra com os bárbaros ou com seus parentes, preocupados com as heresias religiosas, pelas lutas entre os Pontífices romanos e os Patriarcas de Bizâncio, e ameaçados, finalmente, pela imensa onda muçulmana. Em 717, toma as rédeas do governo um grande general:leão III, o Isáurico, e com ele se inicia,para Bizâncio, um breve período de glória, que reconduzirá as insígnias romanas àquele esplendor que parecia ter-se ofuscado para sempre. 
                 A maior desventura, para o Império Bizantino, foi a de progredir e viver numa época em que poderosas forças se movimentavam para a conquista do mundo. Do norte, baixavam jovens e belicosos povos da raça germânica ou eslava, decididos a encontrar nos confins do antigo império romano pousos mais confortáveis. Do Oriente, avançava qual maré bravia a enorme horda do Islã, impelida à conquista do Mediterrâneo por imponente fervor religioso. Constantinopla, com sua civilização antiga e complexa, em que se fundiam todas as correntes espirituais que haviam dado vida ao mundo antigo, debatia-se numa morsa de ferro, de que somente por breves períodos  conseguiu afrouxar o aperto. nem os Bizantinos, governantes e povo, eram suficientes para criar um dique eficaz contra o irromper dos bárbaros do Oriente e do Ocidente e eram muitos céticos, antigos e cultos, para se dedicarem ao ofício das armas. A grandeza de Bizâncio deve ser procurada, portanto, muito mais em sua história espiritual do que na política, frequentemente bastante envenenada pelas facções e traições. Seu próprio domínio territorial sempre foi impreciso e aleatório, variando de ano para ano, segundo as alternativas da sorte nas guerras, porque os Bizantinos, pacifistas intransigentes, foram, por uma curiosa contradição histórica, constantemente empenhados em obras belicosas, próximas ou distantes. 
                 Bizâncio começou com uma herança urbana helenística; as costas mediterrâneas  e balcânicas estavam coalhadas de cidades gregas, porém estas adotaram um caráter cada vez mais rural depois do século VI d.C. Do ponto de vista estratégico, Bizâncio esteve sempre combatendo em duas frentes insustentáveis: contra os eslavos e depois os francos  no oeste e contra os árabes e em seguida os turcos selêucidas no leste. Bizâncio se mantinha unida administrativamente por uma rede de praças fortes militares e eclesiásticas. 
                   As igrejas bizantinas foram construídas sob forte influência da Igreja Ortodoxa; se encontram ao longo de todo o mundo mediterrâneo oriental. Manifesta-se de forma mais clara em mosaicos distintivos, ícones e um estilo de arquitetura de igreja baseado no plano horizontal da cruz grega de proporções iguais, com elevações de sucessivos arcos de meio ponto e coroados por cúpulas achatadas, construídas em sua maior parte  de tijolos . A basílica de São Sérgio e São Baco em Constantinopla são um bom exemplo. 
                   A arte bizantina atingiu seu máximo esplendor durante o reinado de Justiniano. Sobressaiu, especialmente, por sua magnífica arquitetura, que era acompanhada por uma suntuosa mobília de marfins talhados, jóias diversas e mosaicos de brilhantes policromados. A excepcional cátedra de marfim talhado que os imperador justiniano deu de presente para o arcebispo de Ravena, Maximiano. O mosaico da igreja São Vital de Ravena representa a Imperatriz Teodora com seu séquito levando presentes para a igreja. 
                O reino de Justiniano marca um ponto crítico no desenvolvimento do Oriente. Os governantes romanos estabelecidos em Constantinopla não haviam renunciado a suas reivindicações sobre os velhos territórios do Império Ocidental, agora ocupados por francos e godos; porém Justiniano foi o único que fez uma tentativa séria para reconquistá-los. primeiro dirigiu-se ao reino vândalo do norte da África, que se rendeu depois de uma campanha relativamente breve em 533 e 534. Posteriormente, seus exércitos dirigiram-se à Itália ostrogoda, onde reconquistaram Roma em 538 e Ravena um ano mais tarde. Por um momento pareceu que as glórias do Império Romano poderiam reviver. Entretanto, os acontecimentos das décadas seguintes demonstraram que não seria assim. No ano 542, uma grande peste deu um devastador golpe nas ainda populosas cidades  do mediterrâneo Oriental; a guerra na Itália prolongou-se tediosamente por trinta anos, e Justiniano ficou imobilizado em uma custosa e interminável luta com o império rival da Pérsia Sassânida no leste. Depois de sua morte, a situação deteriorou-se ainda mais; grande parte da Itália perdeu-se ante um novo povo: os lombardos. Em 627 os eslavos cruzaram o Danúbio e assolaram as províncias balcânicas, sitiando a mesma Constantinopla e as prósperas cidades da Síria romana foram saqueadas pelos persas. Mas o pior estava por vir. Quando as forças da Islã conquistaram a Síria ao redor de 630 e Egito na década seguinte, amputaram as províncias mais ricas do Império Oriental; e em 717, quando os exércitos árabes assediaram Constantinopla por terra e por mar, parecia que o Império Oriental não sobreviveria. Uma vez mais a crise foi superada e, em dois séculos, imperadores enérgicos e capazes conseguiram reafirmar o controle sobre a Ásia menor, os Bálcãs, Sicília e Itália meridional. 
                 O Império Bizantino do século X pode ter sido o descendente direto da antiga Roma, mas em caráter distanciava muito da idade de ouro do século II, e inclusive da era de Justiniano. Nos séculos V e VI as epidemias, a deterioração econômica e as condições instáveis provocaram a diminuição da população e uma notória redução na importância e riqueza das cidades que haviam sido o pilar do mundo clássico. A maioria delas ficaram reduzidas a meros povoados e as instituições públicas foram abandonadas, ou por causa do ataque de eslavos, avaros e árabes ou porque seus cidadãos as consideraram um gasto indesejável. Em Éfeso, capital da Ásia romana, os mercados, galerias, balneários, teatros e espaços públicos foram substituídos, em princípio, por basílicas cristãs dentro de reduzidas muralhas. A cidade cresceu para dentro, apinhando-se ao redor da fortaleza da guarnição e a igreja de peregrinação. Por outro lado, os estudos de população na Macedônia e no Ponto (ao sul do Mar negro) mostram um quadro diferente, que revela o florescimento das economias locais até que os excedentes de mercado deram lugar a um renascimento urbano, no século X. 
                 Ainda que outras cidades tenham decaído, Constantinopla manteve seu dinamismo como capital do Império Bizantino. Cercada pelas grandes muralhas teodosianas do século V - ainda imponentes na atualidade -, possuía uma política e cultura própria e, ainda que demasiado grande para seu império , seguiu sendo até o século XIII a cidade mais rica e mais populosa da cristandade. 
                  Os povoados prósperos eram a coluna vertebral da agricultura bizantina. O cultivo mais importante era o trigo e o pão resultante era comido pelos ricos e pelos pobres. As verduras também eram um componente generalizado da dieta e o vinho, que variava em qualidade, com frequência misturava-se à água, sendo a bebida habitual do Mediterrâneo Oriental. O óleo de oliveira se empregava profusamente nas comidas, como ainda se faz hoje na região. Os arados e enxadas com pontas de metal eram utilizadas para trabalhar a terra e as machadinhas e facas de podar, nas vinhas e nas hortas de oliveira. Sempre  que possível, a moagem de grãos era feita em moinhos de água, que eram de propriedade  da comunidade ou de um rico proprietário; nos lugares onde não havia força hidráulica eram usados bois ou mulas para fazewr girar pesadas pedras do moinho. algumas zonas eram especializadas em produtos específicos que não estavam facilmente em outras regiões.
             No século IV o cristianismo converteu-se na religião oficial do Império Romano e do século IV ao século VI a proteção imperial fez surgir no Mediterrâneo Oriental grandes basílicas com naves laterais, que têm seu ponto culminante na de Santa Sofia de Justiniano, em Constantinopla (532 x 537). 
               No século VII tinham terminado os dias desses enormes e arrojados projetos, mas a fé cristã seguia sendo um tema emotivo para o povo bizantino. Já nos tempos de Justiniano ocorreram distúrbios nas ruas de Constantinopla por diferenças sobre doutrina religiosa, tornando-se evidente o forte laço que unia a vida religiosa com a secular no mundo bizantino. No Ocidente, os governantes germânicos, de crenças cristãs heréticas, assumiram o controle secular, mas no âmbito religioso dos súditos, de crenças ortodoxas, estabeleceram uma hierarquia religiosa paralela na qual os sacerdotes e bispos obedeciam ao papa de Roma como a autoridade máxima em assuntos religiosos. Em Bizâncio, a autoridade secular e religiosa concentrava-se na pessoa do imperador. Em consequência, seu ponto de vista - a opinião religiosa apoiada pelo poderio político e militar - era mais importante do que qualquer posicionamento do papa romano no Ocidente. Isso ficou particularmente evidente no longo período dos imperadores iconoclastas (726 x 843), quando foram destruídas as estátuas e imagens dos edifícios religiosos em todo o Império Bizantino argumentando que era heréticas.Foi só depois desse período que a complexa iconografia das imagens e pinturas murais religiosas de Bizâncio pode evoluir. 
             No século VII, Bizâncio adotou uma posição agressiva contra os árabes e eslavos, e o império se transformou num mosaico de grandes feudos controlados por comandantes militares e aristocratas regionais. O governo estava preocupado em satisfazer as necessidades do Exército e da armada, e cada província era obrigada a contribuir com efetivos militares e a manter tanto as unidades da frota como as grandes fortalezas das guarnições. As funções-chaves do Estado, tais como a arrecadação de impostos, foram transferidas para grandes propriedades rurais locais, originariam,ente só de forma vitalícia, porém, mais tarde, de forma hereditária. De modo que, à medida que cresciam as pressões militares e a economia monetária declinava, a administração burocrática centralizada que o Império Bizantino havia herdado da antiga Roma, sucumbia gradativamente diante dos mesmos processos que criaram os Estados feudais da Europa Ocidental. 
                As fronteiras do império mudaram muito ao longo de sua existência, que passou por vários ciclos de instabilidade. Durante muito tempo, ao longo de sua existência, passou por vários ciclos de declínio e recuperação. Durante o reinado de Justiniano (517 x 565), alcançou sua maior extensão apos reconquistar muitos dos territórios mediterrâneos antes pertencentes à porção ocidental do Império Romano, incluindo o norte da África, Península Itálica e parte da Península Ibérica. Durante o reinado de Maurício (582 x 602), as fronteiras foram expandidas e o norte estabilizado. Quando este foi assassinado houve um conflito que durou duas décadas com o Império Sassânida que exauriu os recursos de Bizâncio e contribuiu para suas grandes perdas territoriais durante as invasões muçulmanas do século XII. Durante a dinastia macedônica (século X x XII), o império expandiu-se novamente e viveu um renascimento de dois séculos, que chegou ao fim com a perda de grande parte da Ásia Menor para os turcos seljúcidas após a derrota na Batalha de Manziquerta no ano 1071. 
               O período mais feliz de Bizâncio foi, certamente, entre os séculos IX e XI, quando reinou a dinastia macedônica. O fundador desta, Basilião I, iniciou restabelecendo a paz religiosa, isto é, depondo o falso Patriarca Fócio, que travara luta contra o papado; as controvérsias religiosas incidiam profundamente na política e nos destinos do império bizantino. É preciso lembrar que quem realmente mandava, em todos esses séculos, eram os papas, verdadeiros herdeiros dos despojos da velho Império Romano. 
              O novo imperador conseguiu, depois, derrotar os Árabes, na Itália e na Ásia, estendendo os limites do império, que ficara reduzido a bem pouca coisa, e dando novo alento aos Cristãos do oriente, sufocados pelas invasões muçulmanas. Sua obra foi continuada e ampliada pelos sucessores, Romano II, Nicéforo II, o Foca e Basílio II; este último esmagou no sangue uma revolta dos Búlgaros. 
               No século XII, durante a Restauração Comnena, o império recuperou parte do território perdido e restabeleceu sua dominância. No entanto, após a morte de Antônio I Comneno (1182 x 1185) e o fim da dinastia "Comnena" no final do século XII, o império entrou em declínio novamente. Recebeu um golpe fatal em 1204, no contexto da Quarta Cruzada, quando foi dissolvido e dividido em reinos latinos e gregos concorrentes. Apesar de Constantinopla ter sido reconquistada e o império restabelecido em 1261, sob os imperadores paleólegos, o império teve que enfrentar diversos estados vizinhos rivais por mais 2300 anos para sobreviver. Contudo, este período foi o mais produtivo culturalmente de toda sua história. 
                Bons períodos sucediam-se para Bizâncio; na verdade, períodos de anarquia e agitação política; os imperadores eram conduzidos ao trono pelo trabalho de  uma facção religiosa, mas logo eram dali apeados, devido a uma conspiração; os feudatários, os comandantes do exército, os patriarcas, hostilizavam-se uns contra os outros e combatiam-se abertamente. Foi durante um desses turvos períodos que o Patriarca de Bizâncio, Miguel Cerulário, conseguiu realizar a definitiva separação da Igreja de Roma, depois de séculos de diatribes teológicas e de surdas lutas contra o papado. Este grande "Cisma do Oriente", em 1054,  contribuiu sempre mais para separar Bizâncio do resto da Europa. Árabes, Búlgaros, Eslavos, Turcos, Normandos, atacavam o império. E nisso estiveram presentes, também os Venezianos, Tanto que Manuel I, o Comneno, imperador, em 1171, provocou uma espécie de revolta popular contra eles, mandando prendê-los e trucidá-los. Essa foi uma das causa que provocaram o primeiro grande desmoronamento do império de Bizâncio; os venezianos não pensaram mais senão em vingança e em reconquistar os privilégios perdidos. Assim, em 1204, o doge de Veneza, Emília Dândolo, que chefiava a IV Cruzada (organização incentivada pela Igreja), interveio com um pretexto qualquer nos negócios de Bizâncio, atacou a cidade e entregou-a ao saque. Entre os gritos dos feridos e o sinistro clarão dos incêndios, nascia o efêmero "Império Latino do Oriente", pálida sombra do grande império bizantino. este ressurgiu mais tarde, mas não passou de um fantasma do que fora o grande edifício de Justiniano e Leão II. 
                Sucessivas guerras civis no século XIV minaram ainda mais a força do já enfraquecido império e mais territórios foram perdidos nas guerras "bizantino-otomanas", que culminaram na "Queda de Constantinopla" e na conquista dos territórios remanescentes pelo Império Otomano no século XV.
                Entretanto, de todos os golpes dados ao Império Bizantino, o mais serio  foi a conquista das províncias assírias, egípcias e do norte da África pelos exércitos do Islã, que significa "resignação à vontade de Deus"; os  muçulmanos acreditam que deus falou através de Maomé e que seu livro sagrado, o Alcorão (ou narração), é a palavra de Deus transmitida a Maomé, o Apóstolo e profeta de Deus. 
Os Bizantinos
                   Durante os primeiros séculos do império bizantino, as lutas religiosas eram frequentes, e geralmente degeneravam em verdadeiras e próprias batalhas. 
              Num imenso crepúsculo de sangue, a glória de Roma ia-se obscurecendo, submergida pelo cerrado nevoeiro nórdico, quando o imenso edifício dos Césares se dobrava ante o choque das hordas bárbaras. 
              Quando os dois filhos do imperador Teodósio, Arcádio e Honório, dividiram entre si o domínio paterno, a Itália estava em plena dissolução; encerrado entre muros de Ravena, Honório, imperador do ocidente, sentia a maré dos bárbaros invadir o território romano, sem que contra eles se levantasse a antiga muralha das legiões. Hérulos, Godos, Bávaros, Vândalos, todos convergiam para as planícies da Europa mediterrânea, considerada presa rica e certa. O Oriente estava mais calmo, menos pressionado pelo ímpeto dos bárbaros. Assim, pouco a pouco, ante o progressivo desmoronar da organização romana, Bizâncio, a cidade  que Constantino elegera sua capital, assumiu todas as prerrogativas de capital, até que, no ano 476, deposto o último imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, o chefe hérulo Odoacre mandou as insígnias do poder a Bizâncio, como que querendo significar que o imperador do Oriente, então Leão I, era o único herdeiro do nome e do domínio romano. E tal foi, de fato, durante muitos séculos, embora o seu domínio territorial se reduzisse, em determinados períodos, a bem pouca coisa.  
                A Leão I sucedeu Justino I, e a este o sobrinho. Pedro Sabácio, que assumiu o nome de Justiniano. Hábil chefe e ótimo conhecedor dos homens, ele soube descobrir, entre seus generais, os únicos que podiam enfrentar a avassaladora ameaça dos bárbaros: Belisário e Narses. os chefes guerreiros que conquistaram para Bizâncio,em nome da antiga Roma, quase toda a Itália, e boa parte do Oriente e da África.  A sabedoria de Justiniano refulgiu, mais que nas campanhas militares, em seu imponente trabalho de codificação. Mas ainda maior se revelou a sabedoria de Justiniano, ao recolher, por intermédio de seus juristas, o  máximo tesouro que Roma : suas leis. O "corpus Juris Civilis", isto é, a coletânea dessas leis, foi, por mais de mil anos, o único código da Europa, que passou a ser governado pelo espírito romano, ainda quando o império havia séculos que desaparecera. 
                   Bizâncio era uma curiosa e caótica cidade, ponto de reunião de todas as idéias e dos costumes do Oriente e do Ocidente, um labirinto de templos, de casebres e palácios, uma babel de idiomas diferentes, uma mixórdia de raças e costumes. E sua história se lhe assemelha, pois não passa de uma história de fatos e figuras, em que os imperadores eram escorraçados do trono por uma revolta de pretorianos e desapareciam repentinamente, arrebatados pelo veneno ou pelos punhais das conspirações do palácio. Maurício, Fócio, Constantino, Anastácio, são vultos que aparecem, por poucos decênios, à ribalta da história, sempre em guerra com os bárbaros ou com seus parentes, preocupados com as heresias religiosas, pelas lutas entre os Pontífices romanos e os Patriarcas de Bizâncio, e ameaçados, finalmente, pela imensa onda muçulmana. Em 717, toma as rédeas do governo um grande general: Leão III, o Isáurico, e com ele se inicia, para Bizâncio, um breve período do glória, que reconduzia as insígnias romanas àquele esplendor que parecia ter-se ofuscado para sempre. 

O fim de Bizâncio
                 O Império Latino do oriente, surgido da ousada política do Doge veneziano Henrique Dândalo (1108 a 1205), teve vida efêmera. os Cruzados havia feito, segundo o velho costume europeu, um mosaico de feudos, sobre cujos negócios o Imperador de Constantinopla, já bastante ocupado em salvar seu trono das incursões muçulmanas, tinha bem pouca ingerência. balduíno de Flandres, em 1204, obteve a coroa imperial; os venezianos asseguraram todos os portos e postos-chaves, inclusive a maior parte das ilhas do Egeu. Numerosos senhores italianos e franceses receberam feudos de diversa importância, entre os quais notáveis o principado de Acaia (herdado depois pelos Sabóias), o ducado de Atenas, passado pelas mãos de Otão de la Roche e Gualter de Brienne e, depois, à família florentina dos Acciaiuoli. Essa dispersão de poderes facilitou a obra de quem trabalhava para provocar a ruína do novo império. Os gregos eram hostis ao latinos, por motivos de culto e interesses comerciais; os herdeiros das dinastias imperiais bizantinas haviam-se refugiado na Ásia Menor ou nos territórios periféricos de seu velho domínio. Particularmente contra os venezianos, artífices da conquista e senhores incontrastados dos portos e das rotas do mediterrâneo oriental, dirigia-se o ódio dos povos subjugados. Miguel Ângelo Comneno, descendente da família que reinara em Constantinopla, avançou do Epiro contra o imperador Roberto de Courtenay, para derrotá-lo, conquistar a Trácia, Tessália e Macedônia e fazer-se coroar em Salônica. Sucesso de breve duração, porque, pouco depois, o novo imperador, batido e cegado pelos Búlgaros (cegar os p´roprios inimigos era um triste hábito balcânico), era obrigado a fugir. Intérprete das esperanças dos gregos, apareceu, então, a família Láscaris que, saída de Bizâncio, fundara um simulacro de império, em Nicéia.  Os ataques de João II Vatatze, de Teodoro e João Láscaris desmantelaram, entre 1230 e 1258, o Império Latino, reduzindo-o a somente Constantinopla. Em 1258, uma conspiração militar substituiu João IV Láscaris, ainda criança, por um hábil general, Miguel Paleólogo, que mandou cegar o menino e assumiu o poder. À conquista de Constantinopla opunham-se, ainda, somente os Venezianos, que haviam praticamente desacatado o imperador II. Miguel Paleólogo aliou-se aos genoveses, eternos rivais da Sereníssima, e, durante um assalto noturno, penetrou na cidade, fazendo grande mortandade de guerreiros e mercadores italianos em 1261. 
                O império dos Paleólogos compreendia só uma parte da Grécia e da Anatólia. os Venezianos conservavam as ilhas do Egeu, o Peloponeso e a Albânia (possessões que estavam reduzidas ao litoral); os genoveses obtinham novas bases para seu comércio, tanto em Constantinopla, nos subúrbios de Gálata e Pena, como no mar Negro. Era, como se vê, um império bem pobre, territorial e economicamente, porque a força da antiga riqueza de Bizâncio, os empórios comerciais, estava toda nas mãos dos italianos. 
             Apesar de sua evidente fraqueza, o império aguentou quase dois séculos, mantido pela coragem e pelo ouro dos genoveses e dos venezianos, que viam na sua sobrevivência a única oportunidade para seu comérciono Oriewnte. Mas, já no princípio do século XIV, desenhava-se, contra os territórios asiáticos de Bizâncio, a ameaça dos Turcos que, sob o comando de Ótmã ou Osmã I, baixavam do Mediterrâneo. Duas vezes, em poucos anos, os janízaros turcos cavalgaram até junto às muralhas de Constantinopla: a primeira, sob Orkhan-Ghazi e a segunda sob Bajazet I, o Raio. Ambas as vezes a cidade foi defendida apenas pelos Venezianos e Genoveses, finalmente unidos contra o perigo comum. Por sorte dos Paleólogos, em 1402, irrompia o Oriente uma nova onda de Mongóis, guiados por Tamerlão, (Timur, o Coxo), inteligentíssimo tártaro, que renovava as proezas de Gengis Khan e que dominava a Ásia, de seu palácio de Samarcanda. A ameaça obrigou os Turcos a voltarem a frente de combate para o oriente, a fim de defender-se do Mongóis, e o cerco em torno de Constantinopla afrouxou. De Bizâncio, partiram, para o Ocidente, desesperados apelos. Se o heropísmo de Jânio Hunyadi e de Jorge Castriota (este último, chamado Scanderberg, é o herói nacional albanês) valeu para deter as hordas de Murad II, o fim do milenar império, porém, estava selado. Quando, em 1453, as Insígnias da meia-Lua se desfraldaram novamente junto às muralhas de Constantinopla, o imperador Constantino XIII Paleólogo não pode opor mais do que poucos defensores, quase todos genoveses. O assédio teve pouca duração; em 30 de maio dquele ano, dominadas as bem provistas fortiificações da cidade, o sultão Maomé II entrava triunfante em Constantinopla. Desmoronava, naquele dia, para sempre, o Império Romano do Priente, carregado de séculos de glória e de civilização.  O último imperador, tombado heroicamente em combate, nas muralhas, trazia, por ironia da sorte, o mesmo nome do fundador do império: Constantino, o Grande. 
                 Quando Maomé morreu, em 632, o Islã ainda estava circunscrito à Arábia. O primeiro dos seus sucessores, o califa Abu Bakr (632 x 634), finalizou a conquista da Arábia e entrou na Palestina Meridional. O califa seguinte, Omar (634 x 644), avançou rumo a damasco, e presidiu o annus mirabilis de 636, quando os exércitos muçulmanos derrotaram amplamente bizantinos no Rio Yarmuk e os sassânidas em Qadisiya. Uma segunda vitória decisiva em Nehavend em 642 permitiu a Omar o acesso à Pérsia e, no transcurso de apenas dez anos, o limite oriental do Islão havia avançado até o Afeganistão e a Ásia Central. Ao mesmo tempo, no oeste a próspera província do Egito era derrubada pelos exércitos islâmicos. Daí em diante, os progressos começaram a diminuir, mas não antes de o Império Islâmico absorver todo o norte da África, a maior parte de Espanha visigoda, a totalidade da Armênia e do Paquistão, até o Rio Indo, onde os exércitos islâmicos acamparam em 711. 
                


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