Total de visualizações de página

quinta-feira, 23 de abril de 2020

A CIVILIZAÇÃO NA EURÁSIA



                As primeiras civilizações surgiram nas férteis áreas, em alguns pontos espalhados pelas bacias desabitadas ou esparsamente habitadas dos principais rio da Eurásia, que desciam dos contrafortes montanhosos , onde a agricultura começou para irrigar as planícies áridas do Oriente Próximo. Sociedades complexas surgiram da necessidade de organização para controlar populações sustentadas por sistemas agrícolas das baixadas férteis. 
                 À medida que as comunidades agrícolas se estendiam das colinas para as planícies aluviais, desenvolveram-se sociedades hierarquicamente  semelhantes nas bacias dos rios Tigre-Eufrates, Nilo, Amarelo e Indus. A primeira foi a da Mesopotâmia , por volta de 3500 a.C., com influência já identificada no Egito primitivo, tendo instituído a civilização urbana em 3200 a.C.. Talvez tenha inspirado indiretamente  a civilização de Harappa no vale do rio Indus, em 2.500 a.C. 
            Essas sociedades possuíam características comuns: o desenvolvimento de cidades, a escrita, grandes edifícios públicos, além do aparato político do Estado. Em conjunto a revolução urbana levou à civilização. Os excedentes agrícolas obtidos com irrigação permitiram a urbanização porque já era possível empregar um significativo segmento da sociedade em atividades não agrícolas, como manufatura e comércio. Isso originou uma classe governante que enriqueceu com a exploração do trabalho, cobrando impostos e exercendo o controle político, militar e religioso. O governante geralmente era o sacerdote chefe ou tinha o apoio do clero. O templo era o centro e elemento importante do  sistema político. O controle centralizado fomentou um sistema legal especializado. Exército e burocracia permanentes e a divisão da sociedade em classes diferentes. O Estado mantinha  escribas, geralmente treinados e empregados nos templos. A primeira escrita foi usada na administração para acompanhar mercadorias, salários e impostos, desenvolvendo-se depois para registrar e enviar mensagens. 
                  Edifícios públicos monumentais reforçavam a autoridade do estado que detinha o controle do comércio de longa distância. Mercadorias raras e valiosas (metal, madeiras e gemas) eram sempre solicitadas e expedições comerciais eram enviadas para consegui-las. Artigos de luxo e matérias-primas importadas eram trocadas por têxteis e outros produtos manufaturados das cidades-estado civilizadas. esta atividade comercial levou à comunicação entre cidades das planícies aluviais e os centros menores dos vales ribeirinhos de regiões circunvizinhas, onde processos de urbanização ocorriam em escala menor. É difícil separar causa e efeito nesta rede de centros comerciais em expansão que formava um grande arco do Mediterrâneo Oriental ao vale do Indus. Apenas a civilização chinesa se desenvolveu relativamente isolada, protegida pelo Himalaia e a selva do Sudeste Asiático, interagindo principalmente com as comunidades de camponeses vizinhas, algumas praticando técnicas avançadas de trabalho em bronze. 
              No norte e oeste da Europa, embora o trabalho em cobre e bronze fosse praticado somente nas vilas, a população era muito pequena e dispersa para necessitar de organização elaborada. Mas há provas de ligações comerciais acompanhando os principais sistemas fluviais e a costa, indicando a importância das embarcações e da pesca. Mas a riqueza  da comunidade não era armazenada comunalmente e não havia organização semelhante a dos centros fortificados do Oriente Próximo. 
                  Nas estepes, o cavalo e a carroça deram origem a um sistema de vida móvel de pastores nômades. ao mesmo tempo, grupos de agricultores camponeses continuavam a marcha para leste acompanhando o cinturão de florestas da Rússia Central, penetrando a região ao sul dos montes Urais em 2.000 a.C. . Este movimento ao longo da floresta e da estepe inaugurou uma das principais rotas entre China e noroeste da Eurásia no fim do 2º milênio a.C.
               O contraste entre as principais civilizações e seus vizinhos (pastores nômades do norte, grupos de camponeses das florestas da Europa e da selva da Indochina) estava na centralização das economias. Como as mercadorias eram arrecadadas e distribuídas, era preciso manter um registro permanente . O desenvolvimento de sistemas de escrita é característico das primeiras sociedades urbanas e os primeiros registros escritos geralmente não eram mais do que listas do que estava guardado nos depósitos. Mas, uma vez inventado um sistema flexível de escrita, ele foi utilizado para registrar mitos, lendas e poesia, além de transações comerciais. 
              Em cada região a escrita primitiva foi pictográfica ou, mais precisamente, ideográfica, com sinais para palavras individuais ou conceitos. Logo isto se tornou incômodo e eventualmente símbolos foram utilizados para sons ao invés de ideias. As imagens adquiriram formas e significados mais arbitrários. Um sistema bem-sucedido foi desenvolvido na Mesopotâmia, onde o estilo terminado em forma retangular foi utilizado para escrever impressões em forma de cunha (cuneiforme) em placas de barro. As primeiras inscrições encontradas em Warka (antiga Uruk), no sul da Mesopotâmia, eram ideográficas e não fonéticas e, embora não se tenha muita certeza da linguagem na qual foram escritas, algumas características sugerem ser da Suméria. Mais tarde esta escrita foi adaptada para escrever outras línguas: acadiano antigo, eblaíta, amorita, babilônio, assírio, elamita, hurrita e hitita, línguas semitas e indo-européias, entre outras. 
             Os pictogramas chineses provavelmente foram uma invenção independente, mas a escrita da Mesopotâmia pode ter inspirado a usada pelas civilizações do Indus. Os hieroglifos egípcios (entalhes sagrados) talvez se inspiraram na Mesopotâmia, mas desenvolveram uma tradição própria e devem ter influenciado os centros palacianos de Creta a desenvolver as escritas Linear A e Linear B. 
             A inventibilidade dos escribas evidencia-se na criação de um sistema alfabético no início do 2º milênio a.C., que utilizou sinais hieroglíficos egípcios não para representar palavras, mas para indicar o sol da letra inicial da palavra em canaanita. Este alfabeto evoluiu para a escrita semita do Oriente Próximo (fenício, aramaico, hebreu e arábico) e foi passado anos romanos pelos gregos, até formar a base da maioria das escritas modernas européias. 
             Embora a América, a Austrália e a África ao sul do Saara ainda estivessem fora do curso principal da história mundial, onde permaneceriam durante outros mil anos, as civilizações da Europa e da Ásia (Eurásia) formavam, naquela época, um cinturão contínuo . Até 100 d.C., quando a era clássica se encontrava em seu apogeu, uma cadeia de impérios estendia-se de Roma, que abrangia toda a bacia do Mediterrâneo, através da Pátria e do Império Kushan até a China, constituindo um zona ininterrupta de vida civilizada, do Atlântico aso Pacífico. 
                Este foi o fato novo e importante na história do mundo eurasiano. A área de civilização manteve-se limitada e exposta a implacáveis pressões bárbaras e os progressos nas diferentes regiões permaneceram amplamente autônomos; com a expansão das importantes civilizações e a eliminação das lacunas geográficas existentes entre elas, porém, o caminho estava aberto para contatos inter-regionais e intercâmbios culturais que deixaram uma marca duradoura. No oeste,a expansão do helenismo criou uma única área cultural que se estendeu, durante algum tempo, das fronteiras da Índia à Grã-Bretanha; no leste , a expansão das civilizações chinesas e indiana resultou em uma espécie de simbiose cultural, na Indochina. Essas áreas culturais mais amplas proporcionaram um veículo não apenas para o comércio, mas também para a transmissão de ideias, tecnologia e instituições e, acima de tudo, para a difusão das grandes  religiões do mundo. Começando com o budismo, e continuando depois com o judaísmo, zoroastrismo, cristianismo e islamismo, a religião tornou-se um elo unificador poderoso no mundo eurasiano, com consequências políticas culturais e religiosas. 

As ligações comerciais, culturais e Religiosas na Eurásia
    Poucas pessoas no Oriente Próximo ou na Europa sabiam algo sobre o leste da Ásia até o surgimento da Pérsia Aquemênida no século VI a.C. A própria China era quase desconhecida até pouco antes da era cristã. Mas, embora quase não existissem provas de encontros  nos primeiros séculos, está claro que houve influências e apropriações importantes. O bronze já dava lugar ao ferro no Ocidente quando apareceu pela primeira vez na China, mas uma excelência técnica sem igual foi logos atingida nos reinos de Shang e Chou, ao longo do rio Huang (Amarelo).  A mariposa da seda é originária de Assam e bengala, mas foi primeiro no norte da China que as pessoas aprenderam a desembaraçar um fio único e inteiro a partir de seus casulo. O jade, o mais apreciado material usado pelos entalhadores chineses veio da extremidade oeste da árida e perigosa bacia do Tarim; as sementes de trigo originaram-se do extremo oeste; búfalo e aves domésticas, do sudeste da Ásia; o cultivo do arroz irrigado era comum no leste e sudeste da Ásia; as conchas de cauri, a primeira moeda chinesa, provavelmente vieram das ilhas Maldivas. Tudo isso deve ter sido introduzido por nômades e mercadores itinerantes, além das fronteiras da China.    
            O contato econômico e cultural entre os extremos do mundo antigo atingiu o apogeu no século 2 d.C.. Roma e China Han nunca tiveram relações diplomáticas formais. mas bens de luxo circulavam livremente, especialmente do Oriente para o ocidente, e mercadorias caras e não volumosas como seda e especiarias podiam ser transportadas em caravanas ou navios. Em troca, ouro e prata, a maioria em forma de moedas, eram movimentados em grandes quantidades por terra e mar. Entre as fronteiras dessas grandes civilizações, o Império Kushan do Afeganistão e do norte da Índia e o Império Parto da Pérsia fomentaram o comércio, mantendo e fortificando as estradas protegendo as caravanas e prosperando com os impostos. 
               Ao sul, no oceano Índico, até 120 navios gregos bordejavam regularmente os portos do mar Vermelho e da Índia, aproveitando-se das monções. navio árabes comercializavam pelos portos da costa noroeste da Índia, Golfo Pérsico, Litoral da Arábia (que fornecia incenso) e os mercados de  Abissínia e Somália. O Império Romano exportava vidro, cobre, estanho, chumbo, coral vermelho, tecidos, cerâmica e sobretudo moeda. O principal produto importado do oriente era incenso árabe e seda chinesa e, da Índia, pedras preciosas, musselina e especiarias, especialmente pimenta. Outras substâncias aromáticas chegaram ai Império vindas das Índias Orientais via Madagascar e Africa oriental. caravanas que iam do Império ao portos de Charax e Apólogos, no Golfo Pérsico, pertenciam e eram organizadas e acompanhadas  pelo deserto por cidadãos de Palmira, cidade cujo papel de entreposto do deserto trouxe riqueza para financiar edifícios públicos espetaculares até ser derrotada pelos romanos, em 273 d.C. . Mais ao sul a cidade de Petra desempenhava a mesma função para as caravanas que viajavam entre os portos de Leucecome Arcinoe no mar Vermelho, e Gerrha, no Golfo Pérsico.O entreposto mais importante foi Alexandria, cidade com 1 milhão de habitantes que recebia bens do Oriente dos portos de Berenice, Myos Hormus e Clysma, no mar Vermelho, que iam para o Império Romano. Também exportava produtos próprios; linho, medicamentos árabes perfumes indianos, papiro, artigos de vidro e principalmente cereais egípcios, que ajudavam a alimentar a população de Roma. 
             Finalmente, o cavalo e o camelo permitiram a transformação das estepes da Ásia central em rota comercial. Durante os esforços chineses para controlar Sinkiang, o general Pan Ch'ao, que defendia os oásis do norte e oeste contra os incursores, derrotou uma poderosa invasão Kushan por parte da Índia em 90 d.C., conduziu um exército através das montanhas de Pamir para atingir o mar Cáspio e fez contato com os partos. Com as rotas de seda do sul e norte seguras, em 97 d.C. um embaixador chinês foi enviado à Antioquia . 
              Antes disso, por quase 200 anos, caravanas ligavam os dois impérios. Havia pontos bem estabelecidos em que os comerciantes do oeste (gregos, árabes, romanos, iranianos e indianos) trocavam mercadorias com os mercadores nômades que se encarregavam dos trechos intermediários da jornada, entregando-as, por vez, aos chineses, nas fronteiras distantes. 
                No século 2 d.C., essa ligações de comércio foram consolidados quando Yüeh-chic e tocários uniram-se para criar o Império Kushan, da metade norte da Índia até parte do bloco central asiático. Mesmo sob o domínio dos aquemênidas, comércio, estradas e transporte eram temas de preocupação. A Estrada real de Dario percorria 2.700 km  bem fertilizados de Efeso a Susa; rota mais longa ligava a Babilônia e Ecbátana e Bactra (moderna Balkh), no Afeganistão. os selêucidas mantinham uma rede de comércio que se estendia sobre o planalto Pérsico a partir da nova capital Selêucia. Quando a Báctria se tornou independente (250 x 139 a.C.), formou a associação para uma rede de rodas de caravanas ligando Sibéria e China ao grande centro comercial da Índia. Todavia. Taxila, e à Pérsia, mar Vermelho, Golfo Pérsico e cidades-entreposto do Mediterrâneo, como Antioquia e Alexandria. Grandes empresas de comércio da Bátria mantinham filiais e agentes na China. O s partos, sob domínio de Tiridates (247 x 212 a.C.), transferiram a capital para Hecatompylos, na estrada de caravanas da Selêucia à Bátria. Os kushans, com suas "mil cidades", completavam a cadeia. 
              Mas essa cadeia não se sustentou por muito tempo. Até o início do século III d.C., a rota de 4.000 quilômetros da Síria ao Tarim encontrava-se sob pressão. Os chineses foram expulsos da bacia do tarim, interrompendo as principais rotas. Roma e China viram-se pressionadas ao norte pelo bárbaros. A demanda por produtos estrangeiros teve que ser atendida cada vez mais pela rota marítima(menos ameaçada e mais econômica para cargas volumosas), cujo tráfego havia crescido rapidamente desde que o piloto Hipalo descobrira a monção, provavelmente em 100 a.C.. Nessa época, navios com capacidade de até 500 toneladas bordejavam com os ventos das monções para os portos indianos: Barbaricum, na foz do rio Indus; Barygaza, mais ao sul; e Muziris, 320 Km ao norte da extremidade sul da Índia. No inverno, os ventos sopravam na direção oposta e os navios gregos voltavam carregados com produtos do oriente. Mercadores gregos ocasionais podem ter chegado mais a leste que Muziris ou Taprobana (Ceilão), mas, como norma, recebiam produtos chineses dos mercados indianos. O Império Chinês chegava, nessa época, até Haiphong, no sul. É provável que indianos e chineses tenham se encontrado em Oc Eo, sul do  Camboja, ponto em que os indianos embarcavam as mercadorias para oeste, transportando-as pela península da Malásia e o sul da Índia. O desenvolvimento da rota marítima reduziu o preço da seda no mundo romano e aumentou o emprego das especiarias orientais na culinária de Roma. 
             O volume de comércio do leste flutuava segundo as condições internas dos impérios Romano e Chinês e terras intermediárias.  De tempos em tempos, as guerras entre Roma e Pérsia interferiam nas rotas terrestres, enquanto desordens entre os árabes podiam impedir o embarque pela costa árabe. A partir do século 5 d.C., a progressiva conquista pelos bárbaros de províncias do Império Romano no Ocidente reduziu a demanda pelos artigos de luxo orientais naquelas áreas. As províncias orientais do Império permaneceram prósperas até o fim do século VI e a era das conquistas árabes. 
                 Todas as grandes religiões do mundo se originaram na Ásia e três delas (Judaísmo, cristianismo e islamismo) em uma área relativamente pequena da Ásia Ocidental. Igualmente notável é a concentração de grandes líderes espirituais em diferentes partes do mundo no século VI a.C. ou em um período próximo. Foi a época de Confúcio e talvez de Lao-tsé, na China; de Zoroastro, na Pérsia; de Gautama, o Buda, na Índia; do maior dos profetas hebreus, chamado o segundo Isaías (Isaías 40-55); e de Pitágoras, na Grécia. É possível que o aparecimento de civilizações que se diziam universais desse origem a religiões universais; ou então as novas religiões eram uma reação às tensões nas sociedades existentes e à necessidade de uma saída espiritual e uma fé que transcendesse um politeísmo supersticioso. De qualquer forma, o movimento em direção a uma única realidade espiritual coincidiu com a procura dos pensadores gregos de um princípio único que explicasse o mundo material. 
             O hinduísmo é a mais antiga das religiões mundiais, embora, segundo definição mais precisa, não se trate de uma religião do mundo, mas sim da religião do povo da Índia (hindu significa pertencente aos indianos). É abrangente e complexo; enfatiza a "forma certa de viver", mas admite vegetarianismo, sacrifício humano, asceticismo e orgias. Seus cultos se expressam na riqueza do comportamento externo e na devoção da meditação interior, nas crenças mais simples dos aldeãos e na obscura argumentação dos filósofos. O hinduísmo não é uma religião no sentido missionário. 
               Já o budismo, originário de um movimento reformista dentro do hinduísmo, é uma das grandes religiões missionárias. Ironicamente, embora tenha se expandido com sucesso até grande parte da Ásia, hoje não há budistas na Índia. Gautama, o Buda(significa o Iluminado), foi um príncipe indiano que viveu nos séculos V e VI a.C. e desistiu de sua posição na "Grande Renúncia". Seis anos depois, foi iluminado sob uma figueira e atingiu o nirvana, a obliteração do desejo. O primeiro marco do budismo foi o reinado do  imperador indiano  Asoka, entre os anos 274 a 232 a.C.. Após se converter  à religião, tornou-se um homem de paz e elevados princípios. Logo, o budismo chegou ao Ceilão (Sri Lanka) e Myanma (ex-Birmânia), e alcançou a China no século I ou II d.C., a Coréia no século IV e o Japão no século VI.
           O budismo é incomum por não estar centrado em um deus. Sua mensagem é a da libertação do sofrimento através da aniquilação do desejo. Essa é a doutrina que, com Buda e a comunidade, forma a essência do budismo. Houve apenas um grande cisma no budismo cerca de 500 anos após sua fundação, entre a corrente theravada, conservadora e a mahayana, universalista. O budismo theravada  é forte em Sri-Lanka, Myanma e Tailândia; já o mahayana exerceu atração mais a leste. O budismo se espalhou pela costa do sudeste da Ásia e pela rota da seda através da Ásia Central. 
                 A China possuía antigas tradições de veneração ancestral e o culto aos espíritos da natureza. A partir do século V a.C., dois sistemas tornaram-se dominantes, pelo menos entre as classes superiores. Um foi o sistema ético de Kung Futzu ou Confúcio, entre os anos 551 a 479 a.C., e o outro foi a religião mística de tao, associada á obscura figura de Lao-tsé. Tão significa "o caminho", isto é, o caminho para que o universo ou a humanidade estejam em harmonia com o mundo através da prática da quietude. Estes dois sistemas, com o budismo, constituíram as três religiões da China tradicional. No Japão, o budismo desafiou o enraizado Xinto e o culto aos espíritos no século VI d.C., e apenas no final da era Tokugawa o xintoísmo  reviveu como essência e expressão da identidade japonesa. 
                  Os judeus eram um povo pouco numeroso que, segundo a tradição, mudou da Mesopotâmia para a Palestina. Sua história documentada começou com a fuga à opressão no Egito, segundo o líder Moisés. Eles atribuíram a tal fuga a um ser divino chamado Jeová ou o Senhor com quem fizeram aliança de que seriam o seu povo e ele seria o seu deus, aliança associada às exigências simples, mas profundamente morais dos Dez mandamentos, os fundamentos da Tora ou a Lei. A princípio tratava-se de um povo único, marcado por leis sobre alimentação, circuncisão e outros costumes religiosos. O fato de ser Jeová um deus que os adotara do exterior carregava as sementes do universalismo e uma série de profetas mantiveram o desafio da probidade ética e religiosa. Os judeus sofreram continuamente a dominação política e militar de outros povos e a consequente diáspora levou-os a grande parte do Mediterrâneo e também para leste. Mais tarde, como resultado da perseguição aos cristãos, os  judeus migraram para locais ainda mais distantes. 
                 O judaísmo deu origem ao cristianismo, que se espalhou primeiro pelo Império Romano e, mais tarde, por zonas mais distantes. Também o islamismo aceita as tradições do judaísmo e cristianismo e vê Maomé (570 x 632) como um profeta da linha que inclui Moisés e jesus. O islamismo nasceu para ser uma religião missionária. De um lado, se estendeu pela África do Norte, Espanha e Europa; de outro, atingiu a Índia. 
             O zoroastrismo começou na Pérsia e está associado a Zoroastro ou Zaratustra, outra figura obscura. Ele encara a vida como uma batalha entre  as forças do bem e do mal. Sob a forma do mitraísmo, se espalhou pelo Império Romano até ser banido pelo cristianismo. Hoje é representado pela pequena seita indiana dos parses.
              Naturalmente, vários outros credos não conseguiram realizar a transição para religiões mundiais. O panteão grego, adotado e adaptado pelos romanos, reverenciava um deus do Céu, Zeus (Júpiter), e outras divindades, todas com funções especiais. Os celtas (cujo clero, os druidas, foi suprimido sob acusações de sacrifício humano), os escandinavos (cujos deuses Odin, Tor e outros deram nomes em inglês para os dias da semana) e os povos germânicos, todos tinham deuses próprios, assim como os povos da Ásia Menor. A deusa egípcia Ísis era adorada até no ocidente latino. A maioria dessas crenças despareceu, mas às vezes influenciaram as religiões que as substituíram. As práticas de seus cultos sobrevivem hoje em outras religiões. Mas apenas as religiões mundiais oferecem os vínculos que uniram áreas anteriormente separadas. 
             Não é surpresa que as grandes religiões do mundo estejam ligadas ao desenvolvimento das grandes civilizações ribeirinhas do Nilo, da Mesopotâmia, do Indus e rio da China. Poderia ser que as religiões não tivessem surgido sem essas civilizações. Mas os rios foram apenas um dos fatores que contribuíram para a disseminação das religiões. 
              Geralmente, a expansão seguia as rotas de comércio. As religiões  eram exportadas por comerciantes, soldados, administradores e viajantes comuns, assim como por missionários. O budismo se espalhou ao longo da costa do sudeste da Ásia e também pela rota da seda através da Ásia central. Os impérios Romano e Chinês eram pontos de atração e governos pacíficos ajudaram na difusão religiosa. Escritores cristãos afirmam que a paz trazida por Roma foi provavelmente destinada à expansão do cristianismo.



PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo


OS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO EUROPÉIA


             O s primeiros povoados "tell" de tijolos de barro, pouco antes de 6.000 anos a.C., situavam-se a oeste do Mar Egeu, em Creta (Cnossos)  e na planície da Tessália (Argissa). A agricultura se estendeu para lá a partir da Anatólia. As rotas pelo Egeu eram conhecidas graças aos pequenos barcos pesqueiros e o transporte  de obsidiana para o continente vindo da ilha de Melos (no Egeu). A cultura dos primeiros agricultores europeus era similar à de seus contemporâneos do ano do outro lado do Egeu, que ainda não usavam a cerâmica. 
                 As primeiras experiências com o cultivo de cereais e a domesticação de animais começaram no Oriente Próximo há 10 mil anos. O estilo de vida agrícola já estava consolidado quando vilarejos agrícolas surgiram nas áreas adjacentes de sudoeste da Europa, 2 mil anos mais tarde. Dali a agricultura estendeu-se pelas regiões férteis da Europa Central, alcançando os Países Baixos em 5.000 a. C.  Pouco depois, se difundiu para o norte e oeste da Europa, incluindo Dinamarca e Ilhas Britânicas, sendo adotada pelas comunidades que praticavam  a caça e coleta em 4.000 a.C. 
                Técnicas anatólias logo se expandiram: recipientes pintados eram usados na Grécia e Bulgária em 5.500 a.C. . O povoamento agrícola havia se estendido pela vale do Vardar até o norte dos Bálcãs  e região inferior do Danúbio. Os vilarejos eram agrupamentos de casas quadradas de tijolo, todas com idêntica disposição de lareiras e áreas de cozinhar e dormir. Em geral havia uma casa comunitária maior ou santuário. A economia baseava-se na criação de carneiros, cultivo de trigo e leguminosos. 
              O vilarejos ficavam em planícies, junto a áreas de solo fértil, com  água em abundância. Por centenas de anos, espalharam-se pelo interior até a Hungria. Depois, as moradias quadradas de tijolo de barro foram substituídas por causas alongadas de madeira, e vilarejos como Bylany na ex Tcheco-Eslováquia ou Cologne-Lindenthal na Alemanha não se tornaram "tells". O povoamento estendeu-se pela Europa, do nordeste da França ao sudoeste da Rússia, nos trechos de solo produzidos pela erosão do loes - poeira fértil soprada pelo vento e assentada, na Idade do gelo, além das margens meridionais das geleiras. A cerâmica característica é decorada com linhas entalhadas em espiral ou faixas com desenhos meândricos. Esta uniformidade cultura reflete a rápida dispersão do povoamento pelos vales dos rios (especialmente Danúbio e Renos), em 5.000 a.C. . Na parte oriental da região, os vilarejos foram se agrupando ao redor das casas comunitárias. Mas a oeste havia pequenas aldeias de duas ou três casas alongadas. O gado era mais importante do que o rebanho de carneiros no interior europeu plano e coberto de florestas e o trigo continuou a ser cultivo de subsistência. Os povoamentos ficavam junto a pequenos rios ou riachos e quase sempre sobre os loess. os povoadores usavam pequenos machados de pedra, mas não limpavam grandes áreas longe dos curso d'água. E praticavam horticultura intensa nos vales ao redor dos povoados. 
             Um modelo persistia, com evoluções e mudanças, até 4.000 a.C. . Nesta época, nos Bálcãs, a densidade populacional aumentara e houve expansão em direção aos contrafortes e encostas mais baixas das montanhas. O povoamento "tell" se multiplicou nas planícies e estas comunidades prósperas praticavam o comércio e experimentavam ampla variedade de materias-primas para decoração ou fabricação de utensílios. A cerâmica começou a ser decorada com pinturas multicoloridas, usando ocre, grafite e manganês.  Tal como no Oriente Próximo, nas montanhas próximas aos povoamentos permanentes havia abundância de minérios de cobre, facilmente manipulados, o que permitiu a descoberta das propriedades dos metais e técnicas simples de fundição e moldagem. A primitiva metalurgia na Europa estava confinada aos Bálcãs e à bacia dos Cárpatos. O trabalho em cobre parece ter surgido independentemente do desenvolvimento da metalurgia no Oriente Próximo. O uso de moldes de duas partes produzia pequenos ornamentos e objetos maiores. O outro também era trabalhado e sepulturas com aplicações de cobre ou ouro, como os sepulcros do cemitério de varna, testemunham o surgimento de uma sociedade estratificada.
                  Paralelamente às comunidades agrícolas primitivas, pequenos grupos de caçadores, pescadores e os que praticavam a coleta prosseguiam em seu antigo modo de vida em áreas intocadas pela nova economia. Populações de caçadores viviam  de maneira diversa nas primeiras regiões escolhidas pelos agricultores e a rapidez com que a agricultura se estendeu pelas terras de "loess" talvez reflita, em parte, a falta de concorrência local; porém, onde as florestas eram mais  abertas, os caçadores eram mais numerosos. estavam bem estabelecidos nos terrenos de morenas, salpicados de lagos, que apareceram com a retração das geleiras ao redor dos Alpes e na borda setentrional da planície do norte da Europa, rica em animais selvagens, peixes e plantas comestíveis. Os primórdios do período pós-glacial, quando ocorreram as primeiras experiências agrícolas no oriente Próximo, foram proveitosos para os caçadores das florestas européias. Mas com o passar do tempo, a vida se tornava mais fácil; as florestas se adensavam á medida que o "carvalho" e a "faia" se expandiam em direção ao norte, os lagos eram colmatados e as costas desapareciam pela elevação do nível dos mares. Com o aumento das populações, cresciam as pressões e muitos grupos por fim adotaram a nova forma de economia. 
               Em grandes áreas da Europa Ocidental, a agricultura foi adotada pela primeira vez por volta de 4.000 a.C. e o desmatamento de campos nas costas rochosas do Atlântico, ou em meio às morenas da Europa Setentrional, foi uma oportunidade para a criação de monumentos mais duráveis, como cemitérios e santuárias fúnebres nas pequenas aldeias dos primitivos agricultores. Enormes blocos de pedra eram empilhados, ciando monumentos megalíticos ao longo do Báltico e das bordas atlânticas da Europa. Alguns túmulos megalíticos foram construídos na Bretanha e em Portugal em 4.500 a.C., mas 2 mil anos depois formas  elaboradas eram construídas na Irlanda e na Espanha. Outros tipos de monumentos megalíticos são as fileiras de pedra de Carnac na Bretanha e os círculos de pedra das Ilhas Britânicas. 
                 De 4.000 a 2.500 a.C., fatos marcantes mudaram o padrão de vida consagrado. Novas áreas tornaram-se predominantes e inovações afetaram as regiões mais antigas. As áreas desenvolvidas incluíam a planície do norte da Europa, as estepes do sul da Rússia e o Egeu. Neste mar, a pesca e o comércio marítimo desviaram a atenção das planícies do interior da Grécia para as costas e ilhas, onde a primeira civilização européia viria a se desenvolver. A sudeste da Europa, muitos povoamentos "tell" desapareceram e na bacia dos Cárpatos surgiram túmulos pré-históricos típicos das estepes, sugerindo a chegada dos nômades entre os povos agrícolas estabelecidos. Prova desta ligação co  o Leste é dada pela metalurgia, com o surgimento de desenhos e técnicas caucasianas. 
                Veículos com rodas surgiram em 3.500 a.C. . Animais de tração passaram a ser usados para carroças e arado. O desmatamento em larga escala tornou-se necessário e minas de sílex ajudaram a fornecer pedra para a fabricação de machados. A ocupação do norte e oeste da Europa mudou a configuração cultural do continente. A importância do eixo Reno/Danúbio declinou; com a colonização dos solos arenosos no norte da Europa após 2.500 a.C., os Bálcãs passaram a refletir um atraso entre a economia em desenvolvimento do centro-norte europeu e a nascente civilização marítima do mar Egeu. 

PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo


quinta-feira, 16 de abril de 2020

A RECUPERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA EUROPA.



                No final do século V d.C. as conquistas bárbaras haviam começado a estabilizar-se na forma de reinos, emergindo um novo mapa político da Europa. Ainda assim, a força da cultura romana resistiu à mudança de governantes. A ordem social romana havia sido decapitada, os recém-chegados haviam tomado as principais posições; entretanto, os germânicos sempre foram uma minoria. O poder  estava em suas mãos, mas eram os habitantes locais que asseguravam o desenvolvimento normal destes reinos.  Governantes sábios, como Teodorico, o ostrogodo, se esforçavam para reconciliar godos e romanos em uma Itália próspera e unificada., e patrocinaram os artistas e arquitetos romanos. Seu palácio e seu túmulo em Ravena (Itália) são exemplos notáveis da sobrevivência das tradições arquitetônicas romanas. Inclusive os mais anti-romanos, os vândalos, conservaram muito da cultura romana adaptando-a simplesmente para seu próprios fins; os príncipes vândalos viviam em luxuosas vilas esquipando os edifícios com banheiras e pisos de mosaicos, de forma muito similar aos anrtigos aristocratas romanos. 
                   Na Europa Continental, as cidades seguiram prosperando, porém com menos riqueza e população que antes. A urbanização era um conceito basicamente desconhecido para os novos líderes germânicos, e a administração cívica recaía principalmente nos bispos, já que, embora os súditos romanos tivesse sido despojados em grande parte do poder secular, a autoridade religiosa continuou nas mãos dos povos locais. O cristianismo seguia sendo a religião majoritária de governantes e governados, proporcionando um poderoso vínculo com o passado. E, apesar da supremacia dos soberanos de idioma germânico, foram as línguas romances, baseadas no latim, o idioma dos povos romanos, que triunfaram na maioria das ex-províncias do Império Ocidental, com exceção da Bretanha. 
               O fim do domínio romano na Europa Continental esteve marcado, como consequência, não por uma súbita crise, mas por uma mudança gradual, sendo apenas a culminância de processos internos que vinham se desenvolvendo por vários séculos. A economia seguiu um padrão similar de mudança e transformação. O Império Romano entrara em decadência econômica desde pelo menos o séculos II e as tentativas de reforma e renovação no século IV haviam tido poucos efeitos duradouros. As cidades do Império Ocidental enfraqueceram lentamente, a economia baseada no dinheiro se contraiu e o comércio e a indústria declinaram. A ruptura causada pela ascensão germânica ao poder aceleraram este processo, no entanto, não o determinaram. 
                Os trabalhos em vidro na zona do Reno continuaram florescendo durante os séculos V e VI, e seus artigos de luxo eram exportados para a Bretanha, Gália, Alemanha do Norte e Escandinávia. O comércio vinícola continuou a realizar-se pelas rotas tradicionais durante algum tempo depois do desmembramento político do império. Os mercadores gauleses ainda forneciam vinho aos mosteiros da Irlanda no século VI, e quase na mesma época os governantes em Cornwall importavam azeite de oliva da Tunísia. Contudo, ainda que os laços nunca tenham se interrompido completamente, a decadência econômica e a fragmentação política diminuíram gradualmente a frequência do intercâmbio e estimularam em cada região da Europa Ocidental o desenvolvimento interno. De todas as províncias do Império Ocidental, em nenhuma parte este processo foi mais acentuado do que na Bretanha. 
              Enquanto os ostrogodos, visigodos e vândalos estavam ocupados no sul da Europa, uma série de êxitos semelhantes desencadeara-se a noroeste. A Bretanha, a mais distante das províncias romanas, foi atacada por saqueadores marítimos no século III. A partir do século V, as guarnições romanas foram transferidas para o continente a fim de participar das guerras dinásticas, ficando a Bretanha a mercê dos povos germânicos não somente para a pilhagem como também para a colonização. na costa leste dominaram os anglos, enquanto no sul os saxões alcançavam os maiores progressos. estes dois povos, além dos jutos, que se estabeleceram principalmente em Kent, cruzaram o Mar do Norte vindos da Jutlândia e das zonas fronteiriças à Alemanha do Norte, navegando pelos rios e estuários em seus botes a remos de fundo plano. A medida que os povos germânicos empurraram os bretões livres em direção a oeste, começaram a formar-se novos reinos no leste, que se juntaria nos séculos posteriores formando uma nova Inglaterra unificada. 
                  Estes reinos anglo-saxões diferiam da Itália ostrogoda ou da Espanha visigoda por não se basearem nos princípios da administração provincial romana, tendo um desenvolvimento exclusivamente germânico. A razão é que na Bretanha os principais centros de civilização romana, as vilas e cidades, haviam desaparecido muito antes de os anglos saxões começarem a estabelecer-se. A transformação decisiva ocorreu ao redor do ano 410, quando cessou a cunhagem de moedas e com ela a economia de mercado. As tropas e a burocracia deixaram de receber seus salários de Roma e os romanos-britânicos foram abandonados à sua própria sorte. 
               Quando os anglo-saxões começaram a colonizar a Bretanha, próximo ao ano 450 d.C., a nova ordem social - rudimentar a princípio - era essencialmente germânica, baseada em torno do séquito real e dos bandos guerreiros e apoiada na lei consuetudinária.
               Além disso, mais que se deixar conquistar, como as populações da França, Espanha ou norte da África, muitos dos romanos-britânicos que sobreviveram fugiram para o oeste, deixando aos anglo-saxões, numericamente dominantes, grande parte  do loeste e do sul da Bretanha.  O anglo-saxão substituiu o latim como idioma principal. Os reis  eram enterrados à maneira de seus antepassados da Alemanha e Escandinávia, com ricas oferendas mortuárias, com armaduras, baixelas de metal precioso, com frequência provenientes de lugares remotos, e às vezes, como em Sutton Hoo, todo o enterro era colocado em um barco debaixo de um montículo funerário. É difícil imaginar um contraste maior que o enterro do barco de Sutton Hoo, essencialmente germânico, e a tumba de Teodorico em Ravena, com uma cúpula inspirada na estilo clássico. Ambos eram os lugares de repouso de governantes bárbaros que haviam estabelecido seus reinos sobre as ruínas do Império do Ocidente. 
               Outro contraste com os reinos do sul foi a introdução da religião pagã dos germânicos na Inglaterra. Foi necessário que os missionários realizassem uma campanha em duas frentes - pelo oeste isolado , mas ainda cristão da Bretanha e através do canal pelos francos  cristianizados - para trazer aos reinos anglo-saxões da Inglaterra pra dentro do redil da igreja. A missão de Agostinho a Kent em 597 d.C. foi seguida por vários êxitos espetaculares e retrocessos frustrados. No transcurso de apenas 100 anos, entretanto, os mosteiros cristãos da Inglaterra do norte estavam produzindo magníficos livros ilustrados, tais como o Evangelho de Lindisfarne, considerado uma das obras mais importantes da época. Em princípio do século VIII foram os missionários anglo-saxões como Willibrord e Bonifácio que levaram a catequese aos germânicos no continente recém-conquistado pelos francos. 
               Foi o êxito do cristianismo que finalmente proporcionou a base para a cultura comum da Europa Ocidental na Alta Idade Média, sendo o latim o idioma da classe culta e do Direito romano uma poderosa influência nas normas da Igreja me do Estado. Quando diminuiu o nível de alfabetização - já desnecessário para a administração dos reinos pós-romanos, foi a igreja que conservou viva a chama do conhecimento e manteve a scriptoria monástica, que garantiu na sobrevivência dos textos  clássicos até os tempos modernos. 
Os Francos
             Os Francos foram os ganhadores incontestáveis das invasões bárbaras. Durante o século V haviam cruzado a fronteira do Reno e se estabelecido na Bélgica e no noroeste da França. Poucos teriam adivinhado que, de todos os povos germânicos que chegaram, seriam os francos - povos de alianças primitivas e governados por régulos - o fundadores da França, o reino mais poderoso da Europa medieval. E foi na França, em lugar da Espanha ou da Itália, onde a combinação madura de cultura clássica e germânica, que caracteriza a civilização medieval européia, alcançou sua mais alta expressão, primeiro na arte romântica e depois no gótico. 
            A primeira grande era de desenvolvimento cultural e político francês ocorreu no século VIII, sob Carlos Magno. O monarca fez reviver o conceito de império na Europa Ocidental. Entretanto, não foi somente um renascimento do Império Romano pagão e sim um novo e devoto reino cristão dedicado à propagação da fé e à defesa do papado. 
               As raízes do Império Carolíngio encontram-se no reino formado por Clóvis no século V. Chegou ao poder em 486 d.C., e em um reinado de apenas trinta anos conseguiu unir os povos francos em um só reino e estender espetacularmente os limites de seu poder. A vitória crucial de Clóvis sobre os visigodos aconteceu em Vouillé, perto de 511, seu domínio se estendia até o Atlântico e somente uma estreita faixa de terra o separava do Mediterrâneo. Até meados do século VI haviam alcançado os limites naturais da França, e o reino merovíngio (como era chamado o reino de Clóvis e seus sucessores) abrangia dos Alpes aos Pirineus, do Mediterrâneo ao Canal das Mancha e do Atlântico até além Reno. 
               Em 751, numa transição pacífica, o poder merovíngio passou às mãos dos carolíngios, sob os quais o antigo reino franco atingiria seu apogeu. O máximo florescimento foi alcançado com o reinado de Carlos Magno (768 x 814) e presenciou muitos êxitos militares, políticos e econômicos. De sete pés de altura, segundo dizem, voz aguda e áspero bigode, Carlos Magno foi sem dúvida o maior governador europeu de sua época; um homem experimentado na guerra, um administrador capaz, feroz defensor da Igreja e do cristianismo e um grande mecenas da arte. O reino que fortaleceu e expandiu se converteu finalmente em império. No dia de natal do ano 800, o papa Leão III, em uma consciente alusão ao poder da antiga Roma, coroou "Carlos Augusto, grande e pacífico imperador dos romanos". 
              Em retrospectiva, os reinados de Carlos Magno e seu sucessor, Luiz, o Piedoso (814 x 840), foram reconhecidos como um período de renascimento político e cultural. Por mais de meio século o Estado franco pareceu seguro, estendendo suas fronteiras até à Itália, Espanha e Alemanha. Dentro deses limites, o conhecimento e as artes foram testemunhas de um tímido florescimento, que não era simplesmente um renascer da antiga cultura romana, mas algo novo e vital. A corte em Aquisgrã refletiu o êxito e as ambições do império de Carlos Magno. Construiu-se um imponente complexo palaciano, utilizando mármores trazidos da Itália e copiando consistentemente os modelos romanos no desenho de diversas salas. Havia uma grande aula palatina (salão de audiências) de linha romanas, e no extremo oposto do complexo existia uma capela edificada segundo o modelo de uma igreja do século VI construída por Justiniano, imperador bizantino, em Ravena. Os eruditos mais importantes  da época congregaram-se na corte de Carlos magno e, com o estímulo do exemplo e proteção reais, construíram-se grandes igrejas e mosteiros de pedra em todo o império, desde São Filiberto de Grandlieu, perto da desembocadura do Loire, até Corvey, às margens do Rio Weser, no coração da saxônia recentemente conquistada. 
             Ainda que o renascimento carolíngio revelasse, quanto à arquitetura, um retorno das antigas formas romanas, isto é, um novo interesse nas construções de pedra que havia desaparecido na Europa do Norte por vários séculos, em outros aspectos marcou um rompimento fundamental com o passado romano. Durante o período em que a Gália fazia parte do Império Romano, o latim havia se convertido na linguagem tanto dos aristocratas e da classe educada como das pessoas comuns. Assim se manteve apesar do colapso do Império Romano no Ocidente e da introdução das línguas germânicas. Entretanto, mediante um processo natural de Transformação, o latim evoluiu, distanciando-se de suas raízes clássicas, e nos tempos de Carlos Magno estava em vias de converter-se no idioma que conhecemos como francês. Porém, o latim continuou sendo o idioma da liturgia da Igreja e da classe educada (a linguagem dos registros escritos) e até fins do século VIII, a distância entre o latim e o francês antigo coloquial era tão grande que Carlos Magno teve de estimular a fundação de escolas para o clero, que já não podia compreender facilmente as bíblias que estava usando.
                A tragédia da época carolíngia foi sua curta duração. Com todos os adornos da herança imperial romana, a base era fundamentalmente germânica. A Carlos Magno somente sobreviveu um filho, Luis, o Piedoso, motivo pelo qual pode deixar-lhe o império intacto. Mas quando Luis morreu, em 840, o costume germânico de dividira herança o obrigou a repartir o reino carolíngio entre seus três filhos. O império, então dividido e debilitado, caiu presa de uma nova onda de invasões por terra e por mar. Vieram os vikings do norte, os árabes do sul e os temidos magiares ao leste. Este fatos mergulharam as terras francas numa nova era obscura que duraria mais de 100 anos. 
Europa Medieval
              O período de 100 anos transcorrido desde a desintegração do Império Carolíngio no século IX até o surgimento do novo Império Germânico em meados do século X foi um dos piores momentos para a Europa. Acossados pelos vikings no norte e no oeste, os árabes no sul e os magiares no leste , os primeiros estados simplesmente não tiveram mo controle e a coordenação necessários para afastar os invasores. Cidades e mosteiros foram saqueados; diminuiu a população e o governo central foi aniquilado.
               Um dos povos invasores do norte, o vikings, expandiu-se devido ao excesso de habitantes nas suas terras de origem, e pelo descontentamento político que nelas reinava como consequência da formação de grandes domínios territoriais. Apoiados pelos avanços técnicos, abandonaram as penosas navegações a remo, substituindo-as por quilhas reforçadas, mastros e velas. Começa assim o saque sistemático do litoral europeu e, com o tempo, o seu estabelecimento no continente. Os vikings dinamarqueses estabelecidos  na desembocadura do Sena negociaram sua permanência com os reis francos e mantiveram suas conquistas na qualidade de feudo; este é o território que mais tarde será conhecido pelo nome de Normandia
             Não obstante, graças à obra européia dos primeiros séculos, esta nova era obscura não resultou ser um afastamento prolongado da civilização, mas apenas um retrocesso temporário. As tradições do Estado e da Igreja não se perderam, foram recuperados rapidamente. Praticamente foi como se tivessem sido mitigadas pela experiência da adversidade, já no século XI, a Europa ocidental se desenvolvia rapidamente, tanto cultural como economicamente. De fato, no fim do século XIV, havia-se recuperado grande parte dos territórios perdidos quando da queda de Roma, e a Itália estava às portas daquele novo auge da criação humana conhecido como o Renascimento. 
               Contudo, apesar de que a civilização da Alta Idade Média devia muito ao mundo clássico da Grécia e de roma, não foi de nenhuma forma uma imitação. Pelo contrário, adotou novos valores, novas filosofias, novas estruturas políticas e econômicas e novas formas na arte. As grandes catedrais românticas dos séculos XI e XII seguiram em muitas formas a tradição - se bem que interrompida - da arquitetura clássica. 


PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo 

domingo, 12 de abril de 2020

O AVANÇO ÁRABE E A IMPOSIÇÃO DO ISLAMISMO



                   Quando se fala em Árabes, em civilização árabe, é preciso esclarecer uma coisa ; sob tal nome vai designado um conjunto de povos, diversos quanto aos hábitos e história, que a religião de Maomé acomunou, mas não amalgamou, nunca, completamente. Esse líder guerreiro tinha como objetivo único impor seus pensamentos religiosos a todos os seres viventes da terra; isso, como se sabe claramente, é uma utopia. Ele dizia "Somente Alá é deus e Maomé é profeta".    
         As religiões ainda exercem muita influência sobre os povos do mundo todo; principalmente entre aqueles menos favorecidos econômica e culturalmente. Em nome de Deus  mataram milhões de pessoas; muito mais do que todas as guerras políticas, incluindo a primeira e segunda guerras mundiais. Mas no quesito religião, os muçulmanos, embora cruéis, não superaram a Igreja de Roma quando olhamos para a "Santa inquisição", as "Cruzadas" e os "Templários". 
                 Os verdadeiros árabes, oriundos da região compreendida entre o Golfo Pérsico e o Mar vermelho, constituem, sempre, o cerne guerreiro do islã e, como compatriotas de Maomé, formaram o núcleo mais compacto. Entretanto, o imenso patrimônio de arte e cultura, que traz sua marca, não foi obra deles, mas sim de povos muito mais civilizados, que eles subjugaram, tais como os Siríacos e os Persas. Também neste caso, portanto, assistimos ao habitual fenômeno dos bárbaros, que sobrepujaram povos muito mais antigos e muito mais cultos do que eles, assimilando-lhes, em seguida, o tesouro espiritual.  
                 Mas quando as hordas germânicas, que invadiram a Europa, eram movidas somente pela sede de saque, os Árabes eram impulsionados por um objetivo bem ais elevado: a difusão de sua própria religião, o apostolado (ainda que de espada em punho) entre os povos que permaneciam imersos nas névoas da idolatria. 
             Maomé nasceu em Meca, uma cidade da Arábia Ocidental, ao redor de 570 d.C. Nessa data, Meca era o principal centro comercial da Arábia Ocidental, e era também um importante centro de peregrinação, dedicado ao culto da Caaba, a "Pedra Negra" (um meteoro que caiu naquele local, e, segunda a crença muçulmana, foi enviado por Alá). A mensagem de Maomé aos seus seguidores os convidava a deixarem de adorar ídolos e se submeter à vontade de Alá. 
             À medida que seus seguidores cresciam em número, Maomé provocou a hostilidade da aristocracia dos mercadores de meca, que temiam que a aceitação de sua mensagem significasse uma ameaça para o santuário. A hostilidade se transformou em perseguição e em 622 Maomé e seus seguidores se retiraram para Iatreb, cerca de 450 quilômetros a noroeste de Meca. A data dessa migração, ou hégira em árabe, o 16 de julho de 622, marca o começo do islã e, portanto, do calendário muçulmano. 
                Em homenagem ao profeta, Iatreb passou a chamar-se Medina, a partir da qual, no ano de 630, Maomé retornou a Meca, eliminou os ídolos e transformou a Caaba no ponto central da nova religião do islã. Este foi o primeiro passo para um incrível processo de expansão religiosa que levaria o Islã para a Espanha e a África Ocidental, e tão longe quanto a Ásia Central e a Indonésia. O desenvolvimento e a expansão inicial do islão devem ser assinalados no contexto das relações comerciais que se haviam desenvolvido no Oriente Próximo  e na Arábia durante os períodos helenísticos e romano. O surgimento do urbanismo no Mediterrâneo oriental criou uma nova e maciça demanda de matérias-primas que estimulo o comércio com todas as regiões circundantes. A Arábia do Sul foi muito importante como fonte de incenso e mirra para os altares dos templos no Egito, Síria e Levante, estabelecendo-se colônias de mercadores cristãos e judeus do Oriente Próximo nas cidades oásis da Arábia Ocidental, que constituíam pontos de paradas nas rotas comerciais. A prematura introdução do judaísmo e do cristianismo na Arábia Ocidental criou o ambiente cultural e religioso no qual desenvolveu-se o Islão, e a tolerância islâmica das duas "religiões do livro" mais antigas possibilitou que os muçulmanos conseguissem êxitos nas províncias do Oriente Próximo pertencentes ao Império Bizantino. 
            A doutrina de Maomé pugnava a "Guerra Santa", prometia o paraíso a quem morresse combatendo os infiéis. É interessante observar que os combatentes acreditavam piamente nesta promessa, tanto que até hoje não se incomodam de morrer, pois acreditam que irão imediatamente encontrar com Alá, onde viverão eternamente felizes. Isso não acontece com as demais religiões. A história nos conta que Joana D'Arc (uma rara exceção) realmente acreditava que, ao morrer, iria encontrar seu Deus que a esperava na vida eterna; ela era profundamente católica  praticante, mas não agradou aos interesses dos líderes da sua religião e, por isso, foi queimada viva numa fogueira. O que vemos é que todos,  os que se dizem fiéis religiosos,  temem diante da morte; querem viver mais do que Matusalém, que, segundo informações bíblicas, viveu 966 anos. 
             Maomé foi guerreiro muito inteligente e logo conseguiu muitos fiéis para sua causa. Instintiva e profundamente fanáticos, como todos os Orientais, os Árabes tomaram a ordem ao pé da letra e dela fizeram uma razão de vida ou morte. 
               Da Meca, a maré beduína espalhou-se, quebrando todo e qualquer obstáculo, primeiro no Oriente e mais tarde no Ocidente. Sob o reinado do primeiro Califa Abu Bekr, amigo e sucessor de Maomé, foram conquistadas a Síria e depois a Mesopotâmia (632 x 634); no reinado de Omar, segundo Califa, a meia-lua (símbolo islâmico)cintilou no Egito e na Pérsia, onde derrubou a dinastia sassânida, avançando para o Oriente, indo até ao Turquestão. Seduzidos pela nova doutrina, que pregava a igualdade entre ricos e pobres e que era um misto de judaísmo e cristianismo, os povos se rebelavam contra os feudatários sacerdotes, abrindo caminho para os cavaleiros do Islã. Assim, as verdes bandeiras do Profeta percorreram, qual uma rajada, toda a África Setentrional, que foi arrebatada aos Bizantinos, penetraram no coração da Ásia, além de Amu Daria, e chegaram até ao Vale do Indo.

              Em princípios do século VIII, o domínio dos Califas(no trono de Bagdá subira a dinastia Omíadas) abraçava todo o Mediterrâneo oriental e meridional, até ao Atlântico. Em 711, o comandante árabe Tarik varreu o último dos reinos romano-barbáricos, o dos Visigodos, estabelecendo-se firmemente na península. 
          Vejamos as data: desde 622, o ano da Hégira, isto é, ao início da era islâmica, transcorrera cerca de um século, cem anos de lutas, que deram aos Árabes um enorme poder e imensos territórios. os filhos dos cameleiros do Hedjaz apresentavam-se, de armas em punho, às portas   da Europa, irrompendo para além dos Pireneus, nas planícies de Aquitânia. Mas, aqui se verificou o choque fatal, quando foi contida, finalmente, a terrível maré muçulmana. Em 732, perto de Poitiers, os Berberes, comandados por Abd-el-Raman, encontraram-se com homens mais duros do que eles, os Francos de Carlos Martelo, e esborraram-se completamente ante os exércitos contrários. O Islã chegara ao ápice de sua expansão; a Europa estava salva deles. 
                 Finalmente chegava o fim do império dos califas. Quando os cabeludos guerreiros de Carlos Martelo, aos pés das colinas de Poitiers, contiveram o choque maciço da maré árabe, o grande impulso expansionista do islã no máximo de seu poderio. Do Oriente ao Ocidente , de Constantinopla aos Pireneus, a imensa tenaz árabe estreitava-se sobre a Europa. Territórios intermináveis, milhões de homens, cidades e riquezas, tudo havia tombado, quase sem combater, ante o rápido avanço dos sequazes do Profeta. Pequenos exércitos, de não mãos de dez mil homens, exíguos pelotões de cavaleiros de longos mantos, montados em ágeis ginetes do deserto, tinham afrontado atrevidamente grandes forças militares sabidamente organizadas.


             Dezoito mil homens haviam bastado para conquistar o poderoso império Persa, não mais de quatro mil dominaram o Egito, defendido por trinta mil bizantinos, e parecia que o esvoaçar dos mantos e o cintilar das cimitarras tornassem inertes os cultos ocidentais. '
            A batalha de Poitiers, porém, quebrou o encanto. desde esse dia, inexplicavelmente, os Árabes se detiveram, recuando lentamente dos postos mais avançados, continuando a guerra, mas de preferência no mar. Aqui, eles adotaram o mesmo método, de rápidos golpes armados, que lhe haviam dado tanta sorte em terra. Era o método dos salteadores beduínos, que se atiravam de galope sobre as inermes caravanas e despareciam depois da pilhagem, na imensa poeira do deserto. Assim, entre os séculos VIII e IX, caíram em poder do islã quase todas as

ilhas do mediterrâneo, das baleares à Sicília. E  destas novas bases barbarescas saíam rápidas incursões às costas do continente. Ainda hoje são visíveis, ao longo das praias e das enseadas da Itália, as antigas torres de atalaia, de onde se dominam largos trechos de mar, destinados a avistar a distância o surgir das velas sarracenas. Muitas vezes, naqueles séculos obscuros, o povo das cidades  mediterrâneas, despertado noite alta por um angustioso bimbalhar de sinos, precisou correr para fora de casa, subir as colinas, a fim de salvar os filhos e seus bens, ou então, correr para as muralhas a fim de despejar chumbo derretido ao atirar terríveis flechas sobre os esquadrões de corsários árabes, que haviam desembarcado, de improviso, para saquear. 

             Todas essas lutas eram conduzidas ou financiadas pelos fidalgos da região e, na verdade, aos poucos, o império dos Árabes, sempre dependendo nominalmente do Califa de bagá, foi-se fracionando em muitos potentados menores. Não bastava ter vencido, era necessário saber governar; e os Árabes, impelidos de repente para a ribalta da História, por um irresistível impulso religioso, não estavam preparados para a Imensa tarefa. Culturalmente, já se disse, eles eram pouco mais que bárbaros, de modo que todo o infinito patrimônio artístico e científico que lhes tem sido atribuído, na realidade pertencia aos Persas, Siríacos, Gregos e Italianos. Tiveram, todavia, o grande mérito de saber compreender a importância de quanto haviam conquistado e de assimilá-lo prontamente. 
            A religião de Maomé era uma poderosa "sugestão espiritual", que ligou voluntariamente aos novos senhores os sábios da Grécia e do Oriente, tanto que, durante muito tempo, os manuscritos da era clássica foram  Europa, tornada bárbara pelos germanos, através das universidades árabes. E, para o progresso do mundo de então, ao qual todas as civilizações do oriente contribuíram, muito atestam as maravilhosas arquiteturas espanhola e sicilianas, os fabulosos palácios de Damasco, os belos livros ricamente encadernados, os tapetes e a tapeçaria, que parecem restos de um paraíso desconhecido. No século X, a grande expansão árabe terminara; o próprio império dos califas, depois da glória da dinastia abássidas, que sucedera aos Oníades,  ia-se esfacelando aos poucos. 
             Mas o poderio do islão estava alto e glorioso; dos árabes, a Europa iria haurir os germes de sua nova história; da união entre o duro mundo romano-germânico e a sabedoria do Oriente, nasceria a flor da Renascença. 
             Sob os califas Omíadas (661 x 750), o Islã dominou a terceira parte do mundo antigo, formando assim o império mais extenso jamais vistos. As fronteiras ficaram relativamente estáveis na dinastia seguinte, os abássidas (750 x 1258, quando o comércio a distância foi incrementado e as condições pacíficas estimularam o crescimento econômico. Também um fantástico florescimento cultural que sintetizou com exito muitos dos progressos dos povos subjugados, incluindo os geco-romanos do Mediterrâneo Oriental e os persas do irã. Houve um renascimento com a construção de magníficos edifícios, com artesãos talentosos e um novo avanço do conhecimento. Os palácios do meio do deserto, na Síria e na Jordânia, incorporaram balneários e mosaicos da melhor tradição greco-romana, sendo construídos pelos descendentes diretos de artesãos que tinham usufruído da proteção bizantina. Os eruditos e cientistas islâmicos imitaram e desenvolveram o trabalho de seus predecessores greco-romanos. Em certos aspectos, efetivamente, foram os omíadas e abássida, mais que bizantinos ou europeus ocidentais, os herdeiros das artes e do saber da Grécia e de Roma. 
                Com a acensão da dinastia abássida, houve uma mudança no ambiente cultural - transferindo-se do Mediterrâneo para a Mesopotâmia e para a Pérsia. A capital omíada havia sido Damasco, mas em 766 os abássidas a transferem para Bagdá. Estrategicamente localizada à beira do Tigre, na interseção das principais rotas comerciais do oriente e Ocidente, Bagdá tornou-se um poderoso símbolo do domínio abássida. A "Cidade Circular", um complexo administrativo, tinha muralhas duplas de tijolos de barro com quatro entradas nos pontos cardeais. O califa instalou seu palácio no centro da Cidade Circular; os funcionários habitavam num anel de residências, no interior das muralhas. os mercados e a maioria da população estavam do lado de fora, ao redor do antigo centro de Al Karkh. 
                   Samarra, a capital abássida se estende 40 quilômetros ao longo do Rio Tigre, foi a capital do califado abássida de 836 a 892. A forma longitudinal da cidade deve-se provavelmente aos problemas de abastecimento de água, sem bem que isso provocou dificuldade de comunicação e falta de segurança. Não havia muralha exterior, e os habitantes (principalmente soldados e operários recrutados) estavam confinados em bairros fechados auto-suficientes. Fundado pelo califa Al-Mu'tasim, o núcleo da cidade original estava ao redor de Jawsaq-Al-Khaqani; os califas posteriores acrescentaram novas áreas. O califa Al-Mutawakkl anexou um novo setor no norte, Ja'fariyya m(859 x 861), com vários bairros, palácios e a mesquita de Abu Dulaf. Depois do seu assassinato, a corte se transferiu para o sul da cidade, onde foram construídas novas estruturas. Depois da morte do oitavo califa, Al-Mu'tamid, a capital abássida retornou novamente para Bagdá. 
                 As mesquitas, os edifícios mais importantes do Islã, existiam em todas as cidades islâmicas.  Apesar das variações, todas tinham um pátio e salão coberto para orações com um mihrab, um nicho da muralha, que indicava a direção da oração, voltada para Meca. Outra característica era o minarete, ou torre, de onde os fiéis são chamados para a oração. Uma das mesquitas maiores foi construída na Espanha, em Córdova, foi iniciada em 785 e podia alojar 5.500 fiéis; a maior de todas, porém, era a Grande mesquita, erguida em Samarra, Iraque, pelo califa Al-Mutawakkil, em 849 x 850. Se bem que, provavelmente, o mais imponente dos antigos edifícios religiosos do Islã não seja uma dessas grandes mesquitas, mas sim o santuário menor da Cúpula da Rocha em Jerusalém, ricamente decorado com mosaicos de frutas, vinho e árvores, pois considerava-se idolatria representar figuras humanas e animais num contexto religioso. 
                 No apogeu do califado abássida, as redes comerciais islâmicas estenderam-se do Sudeste Asiático até o Atlântico. É possível acompanhar as rotas das caravanas desde a Ásia Central até a China, pelas ruínas das caravaneiras (postos no caminho que forneciam comida e refúgio para os viajantes). Os árabes também dominavam os mares com suas embarcações; eram navios com aparelhos latino, fabricados com tábuas de teca ou de coqueiro costuradas com barbante de Palmeira. Eram comercializados ouro, marfim e escravos da África; uma ampla variedade de artigos, especiarias e cerâmica do Extremo Oriente; âmbar, couros e cera do Báltico, em troca de artigos de luxo, como madeiras talhadas, trabalhos em metal, objetos de vidro, testeis, azulejos e cerâmicas envernizadas. Enquanto Bizâncio lutava para se recuperar dos golpes do século VII e a Europa ainda aguardava o desenvolvimento de Estados medievais estáveis, a luz da civilização brilhava com vivacidade nas prósperas cidades do mundo islâmico. 
               No início do século IX, uma série de poderosos impérios estendiam-se desde o Atlântico até o Pacífico; carolíngio, bizantino, abássidas, a dinastia T'ang na China. Além das condições mais estáveis, existia o renascimento dos contatos transasiáticos, fatos que poderiam ter levado a acreditar numa nova era de ouro para a Eurásia. Na Europa estas expectativas foram destruídas com os acontecimentos das décadas seguintes; as incursões do viking e magiares, o colapso dos carolíngios e um novo ciclo de insegurança e decadência econômica.
               O século X marca um novo ponto crucial. No Ocidente, o Império Franco de Carlos Magno jazia em ruínas, mas os poderosos soberanos da Inglaterra e da Alemanha repeliram as ameaças dos vikings e magiares, criando reinos unificados que resistiriam às vicissitudes dos séculos seguintes. No leste, Império Abássida começou a se dividir originando reinos independentes no Egito e no Afeganistão. Não obstante, a cultura islâmica continuou florescendo e seus vizinhos do norte, os bizantinos, desfrutaram um renascimento político e econômico nesse período. Os vikings, ferozes como invasores, tiveram êxito como mercadores, abrindo novas rotas a distância sustentadas por uma rede de cidades comerciais.  
              Para os europeus, muito havia mudado e muito se havia perdido desde que Roma caiu diante os godos no século V; porém, próximo do fim do século X haviam-se estabelecido as bases para um renascimento cultural e econômico. No começo do novo milênio, a Europa do Norte começou a se livrar do pesadelo de séculos de violência e decadência e pode iniciar com maior confiança o seu caminho rumo à grandes catedrais góticas da Alta Idade Média. 
             Em 1258, o califado abássida, enfraquecido, porém sempre o símbolo supremo da unidade e autoridade para a maioria dos muçulmanos, foi derrotado em Bagdá pelas forças amplamente superiores dos mongóis. Embora o conceito do califado fosse revivido pelos otomanos no começo do século XVI, os acontecimentos  de 1258 determinaram uma nítida virada na história muçulmana. 
             A transformação do mundo islâmico tinha iniciado, de fato, vários séculos antes. No começo do século X, os esforços dos califas abássidas para manter a unidade política do Islã se esgotaram. Em 909, o Egito separou-se sob uma linhagem independente de califas, os fatímidas, e outras regiões, entre elas, Afeganistão e Transoxiana, logo seguiram o seu exemplo. No século seguinte houve mudanças dramáticas, quando um belicoso povo turco, os seldjúcidas, atacou o que restou do reinado abássida assumindo o controle político e deixando apenas os assuntos religiosos na mão do califa. Poderosos sultões seldjúcidas derrotaram os bizantinos em Mansikert em 1071 e iniciaram a expansão na Anatólia. 
              Porém sua hegemonia durou menos de dois séculos. Em 1423, os seldjúcidas foram derrotados pelos mongóis na batalha de Kosedag, sendo radicalmente modificado o mapa político do Islã nos anos que se seguiram.
          Depois da derrota em Alain Jalut, entretanto, os mongóis se retiraram para a Pérsia, deixando um vazio de poder na Anatólia. Bizâncio esperava  levar vantagem desses acontecimentos, mas o saque de Constantinopla pelos cruzados vindos do Ocidente em 1204 e a criação de um império latino rival na Grécia e nos Bálcãs tinham enfraquecido fatalmente o Império Bizantino. Como resultado, o território abandonado pelos nômades, localizado entre Bizâncio e os mongóis, foi logo ocupado por dez pequenos Estados turcos, que disputavam a supremacia política da região. Todos justificavam sua existência afirmando que eram ghazis, guerreiros de fé, que procuravam anexar territórios não muçulmanos para fazê-los entrar no rebanho do Islã. No começo do século XIV, um desses pequenos Estados beligerantes era governado por um chefe chamado Osman (Uthman, em árabe),  do qual deriva o nome da dinastia dos otomanos
          Sob Osman (1281 / 1324) o seu filho Orkhan (1324 / 1360), o Estado otomano se expandiu gradativamente às expensas de seus vizinhos muçulmanos e cristãos. Um dos maiores êxitos foi a captura, em 1326, depois de um bloqueio de cinco anos,  da cidade bizantina de Bursa. Imediatamente os otomanos a transformaram em sua capital e os primeiros sultões foram sepultados em magníficos túmulos dentro da Grande Mesquita da cidade. A elite dos otomanos fez de Bursa um centro artístico e de ensino, ao passo que os turcos se transformavam de nômades em sedentários, e seus líderes, de chefes, passaram a ser governadores. Orkhan começou a cunhagem de sua própria moeda, sinal inequívoco de independência e estabilidade, e recrutou administradores para que o ajudassem a dirigir o Estado. 
          A medida que os otomanos se organizavam melhor, os serviços dos seus eficientes soldados tinham maior procura. Em 1346, Orkhan emprestou cerca de 5.500 soldados para um nobre bizantino, João Cantacuceno, que desejava ser imperador. Depois de consegui-lo, em recompensa, o novo imperador desposou a filha do sultão. Essa associação  também possibilitou que Orkhan e seus seguidores se instalassem na margem européia do Bósforo, acontecimento crucial para a futura expansão do poderio otomano. Os turcos ocuparam Trácia e o útil porto de Galipoli , no setor europeu do Bósforo. Então Orkhan enviou rapidamente  grandes contingentes de súditos para que povoassem as ricas terras europeias que tinha adquirido. Quando morreu, em 1360, tinha duplicado sua herança, que porém continuava sendo pequena: com 30 mil milhas quadradas, o Estado otomano tinha aproximadamente o mesmo tamanho que a Irlanda, ou o Estado de Maine.  
           Entretanto, Murad I, filho de Orkhan, aumentou imediatamente seu controle sobre a Europa; em 1361 capturou Andrinopla, segunda cidade importante de Bizâncio depois de Constantinopla. Murad a rebatizou de Edirne e tornou sua capital.
             Este avanço do Islã na Europa provocou inquietação entre os Estados cristãos além dos Bálcãs. Em 1389, o rei da Sérvia e seus aliados formaram um grande exército, sendo derrotado pelos otomanos na decisiva batalha de Kosovo. Embora Murad tenha  morrido no combate, seu filho e sucessor Bajazet aproveitou plenamente a vitória. Poucos anos depois tinha anexado o reino da Bulgária (1393), arrasado com um grande exército cruzado em Nicópolis (1393) e maioria dos estados independentes  da Anatólia também tinham sido absorvidos pelo Estado otomano, que se estendia desde os Cárpatos até os Montes Taurus, abrangendo ao redor de 267 mil milhas quadradas. 
           Sob Bajazet, o império otomano desenvolvia muitas características  que o fariam posteriormente famoso. No núcleo do sistema político estavam o sultão com sua família, já que a tribo de Osman continuava sendo o centro do Estado. Estavam cercados por uma espécie de corte aristocrática constituída pelos membros da antiga elite turca e servidos pelos vizires, delegados do sultão que supervisionavam sua administração. 
            Porém, ali também havia inovações. A corte turca funcionava de acordo com um protocolo exigente, introduzido por Bizâncio (provavelmente iniciado pela esposa grega de Orkhan), enquanto o Exército dos guerreiros ghazis, voluntários de Osman e Orkhan, foram substituídos por tropas bem treinadas, recrutas especialmente entre jovens capturados nas guerras balcânicas. Foram chamado de "Força Nova"; os yeni-tcheri, conhecidos por janízaros e facilmente reconhecíveis em ação  por seus altos e emplumados chapéus. Murad também recrutou jovens cristãos dos Bálcãs e lhes ensinou a língua, a lei e a fé turcas, para que pudessem ingressas na administração otomana
             Porém, na Ásia, a expansão otomana foi menos popular. Em 1390 o sultão Bajazet, apelidade Yildirim - Raio - por suas campanhas relâmpagos, começou a atacar seus vizinhos orirentais, exigindo lealdade. Os governantes que não o fizeram foram depostos. Infelizmente para ele, um desses soberanos era Timur, o Coxo, conhecido como Tamerlão, descendente de Gengis khan, comandante de vastos exércitos e conquistador de um império que se estendia da Pérsia até a Índia. Em 1402 enganou Bajazet com suas manobras e atacou Ancara, principal cidade da Anatólia. Quando as forças do sultão se aproximaram,  foram arrasadas e Bajazet capturado. Os domínios otomanos na Ásia Menor foram assolados sistematicamente  e os governos depostos por Bajazet restritos às suas possessões. 
             A catástrofe de Ancara poderia ter significado o fim do governo, porém, paradoxalmente, os turcos foram resgatados por seus inimigos. Em troca de uma remuneração adequada, navios mercantes italianos transportaram os sobreviventes da batalha a salvo para a Europa. Além disso, Tamerlão morreu em 1405, mantes de conseguir criar Estados sucessórios na Anatólia capazes de enfrentar as posições dos otomanos que permaneciam intactas. A seguir, houve um vazio de onze anos, entre 1402 e 1413, quando os Estados balcânicos e os emirados anatólios aproveitaram a oportunidade proporcionada pela vitória mongol para se livrar do governo otomano. Bajazet morreu em cativeiro no ano seguinte à sua derrota. Porém, o Império Otomano se recuperou, e com Maomé II (1451 / 1481) conseguiu a mai espetacular de suas conquistas: a captura de Constantinopla em 1453. Suas grandes muralhas, de mais de 30 metros de altura, haviam suportado muitos cercos anteriores (sete dos mesmos otomanos), mas Maomé II foi capaz de assestar contra estas antigas defesas, construídas mil anos antes, a maior inovação militar do Renascimento: uma bateria de canhões. Alguns deles, como o "Canhão dos Dardanelos", atualmente em exposição na Torre de Londres, mediam quase 7 metros de comprimento e lançavam um projétil de pedra que pesava 676 libras. No dia 5 de abril, o Exército turco, com aproximadamente 150 mil homens, posicionou-se frente á capital de Constantinopla, defendia por apenas 8 mil soldados, e no dia 29 de maio, após o terceiro assalto, a cidade caiu finalmente em poder dos turcos.  
               Foi uma vitória de grande importância. No plano religioso, cumpriu com um desejo do próprio profeta Maomé que queria que um dia Constantinopla fosse conquistada pelas forças do Islã.  
                  Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, permaneceu por mais de um milênio como seu centro político. Apesar dos sucessivos assédios que sofreu de diferentes povos, a cidade não caiu em mãos estrangeiras até 1204. Entretanto, a conquista pelos turcos otomanos em 1453 foi a que acabaria para sempre com sua tradição latina.
           Aproveitando-se do terror produzido pela queda de Constantinopla, Maomé II empreendeu a conquista da Grécia, Sérvia e Valáquia. Pensava seriamente em invadir também a Itália, por isso conquistou, em 1480, o Estreito de Otranto. Entretanto, antes de empreender a campanha, decidiu eliminar do Mediterrâneo Oriental, enclaves latinos e apoderar-se da ilha de Rodes. E$m maio de 1481, os otomanos atacaram a ilha, porém, após dois meses de combate, tiveram de se retirar, depois de sofrer grandes perdas. 
             Parte da estratégia dos otomanos para apoderar-se de Constantinopla foi a construção de fortalezas. Em 1452 ergueram a fortificação de Rumeli-Hisar, às margens europeias do Bósforo, para cortar a comunicação da cidade com suas fontes tradicionais de abastecimento e impedir a ajuda naval ocidental. 

PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo 




A GRANDEZA E DECADÊNCIA DE BIZÂNCIO

 

                    Do século IV a.C. até o século II da nossa era, houve um intervalo, na histórias da humanidade. Foi quando o caminho da civilização se identifica com o de Roma. Quando surge a herdeira desta, em cultura  e civilização: Bizâncio. 

              No século V, enquanto os governantes germânicos tomavam o controle do Império Romano do ocidente, o Império Oriental experimentava uma espécie de ressurreição. A batalha de Adrianópolis em 378 d.C. havia marcado o ponto mais baixo na sorte do Oriente. Entretanto, quase dois séculos depois de Adrianópolis, o Império Romano Oriental continuava florescendo. Respaldado pela riqueza do grande Império do Oriente Próximo, que compreendia não somente a Ásia Menor, como também Síria e Egito; as grandes muralhas da cidade permitiram a Constantinopla resistir às numerosas incursões que efetuavam os godos e os hunos através do Danúbio, e quase todas as gerações de habitantes vieram, dos muros da cidade, o rastro de devastação que deixavam as sucessivas hordas invasoras. Não bastante, com os reinados dos imperadores Anastácio (491 x 518) e Justiniano (527 x 565) a estabilidade retornou. 
                   O Império Bizantino foi uma tentativa de continuação do  Império Romano na antiguidade, passando pela Idade Média. Sua capital, Constantinopla (atual Istambul), originariamente era conhecida como Bizâncio. Ela inicialmente era a parte oriental do Império Romano, e na época era conhecida como Império Romano do Oriente. Inicialmente sobreviveu à fragmentação e ao colapso  do Império Romano do Ocidente no século V e continuou a prosperar, existindo por mais de mil anos até sua queda diante da expansão dos turcos otomanos em 1453. Nesta época era chamada apenas de Império Romano. 
                    Durante os primeiros século do império bizantino, as lutas religiosas eram frequentes, e geralmente degeneravam em verdadeiras e próprias batalhas. Num imenso crepúsculo de sangue, a gloria de Roma ia-se obscurecendo, submergia pelo cerrado nevoeiro nórdico, quando o imenso edifício dos Césares se dobrava ante o choque das hordas bárbaras. 
                Quando os dois filhos do imperador Teodósio, Arcádio e Honório, dividiram entre si os domínio paterno, a Itália estava em plena dissolução entre os muros de Ravena, Honório, imperador do Ocidente, sentia a maré dos bárbaros invadir o território romano, sem que contra eles se levantasse a antiga muralha das legiões. Hérulos, Godos, Hunos, Bávaros, Vândalos, todos convergiam para as planícies da Europa mediterrâneo, considerada presa rica e certa. O Oriente estava mais calmo, menos pressionado pelo ímpeto dos bárbaros. Assim, pouco a pouco, ante o progressivo desmoronar da organização romana, Bizâncio, a cidade que Constantino elegera rua capital, assumiu todas as prerrogativas de capital, até que, no ano 476, deposto o último imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, o chefe hérulo Odoacre mandou as insígnias do poder a Bizâncio, como que querendo significar que o imperador do Oriente (então Leão I) era o único herdeiro do nome e do domínio romano. E tal foi, de fato, durante muitos séculos, embora o seu domínio territorial, em determinados períodos, a bem pouca coisa. 
                  A leão I sucedeu Justino I, e a este o sobrinho, pedro Sabácio, que assumiu o nome de Justiniano. Hábil chefe e ótimo conhecedor dos homens, ele soube descobrir, entre seus generais, os únicos que podiam enfrentar a avassaladora ameaça dos bárbaros: Belisário e Narses, os chefes guerreiros que reconquistaram para Bizâncio, em nome da antiga roma, quase todas a Itália, e boa parte do Oriente e da África. Mas ainda maior se revelou a sabedoria de Justiniano, ao recolher, por intermédio de seus juristas, o máximo tesouro que Roma deixara: suas leis. O "Corpus Juris Civilis", isto é, a coletânea dessas leis, foi, por mais de mil anos, o único código da Europa, que passou a ser governada pelo  espírito romano, ainda quando o império havia séculos que desaparecera.
                  Bizâncio era uma curiosa e caótica cidade, ponde de reunião de todas as ideias e dos costumes do Oriente e do ocidente, um labirinto de templos, de casebres e palácios, uma babel de idiomas diferentes, uma mixórdia de raças e costumes. E sua história se lhe assemelha, pois não passa de uma história de fatos e figuras, em que os imperadores eram escorraçados do trono por uma revolta de pretorianos e desapareciam repentinamente, arrebatados pelo veneno ou pelos punhais das conspirações do Palácio. Maurício, Fócio, Constantino, Anastácio, são vultos que aparecem, por poucos decênios, à ribalta da história, sempre em guerra com os bárbaros ou com seus parentes, preocupados com as heresias religiosas, pelas lutas entre os Pontífices romanos e os Patriarcas de Bizâncio, e ameaçados, finalmente, pela imensa onda muçulmana. Em 717, toma as rédeas do governo um grande general:leão III, o Isáurico, e com ele se inicia,para Bizâncio, um breve período de glória, que reconduzirá as insígnias romanas àquele esplendor que parecia ter-se ofuscado para sempre. 
                 A maior desventura, para o Império Bizantino, foi a de progredir e viver numa época em que poderosas forças se movimentavam para a conquista do mundo. Do norte, baixavam jovens e belicosos povos da raça germânica ou eslava, decididos a encontrar nos confins do antigo império romano pousos mais confortáveis. Do Oriente, avançava qual maré bravia a enorme horda do Islã, impelida à conquista do Mediterrâneo por imponente fervor religioso. Constantinopla, com sua civilização antiga e complexa, em que se fundiam todas as correntes espirituais que haviam dado vida ao mundo antigo, debatia-se numa morsa de ferro, de que somente por breves períodos  conseguiu afrouxar o aperto. nem os Bizantinos, governantes e povo, eram suficientes para criar um dique eficaz contra o irromper dos bárbaros do Oriente e do Ocidente e eram muitos céticos, antigos e cultos, para se dedicarem ao ofício das armas. A grandeza de Bizâncio deve ser procurada, portanto, muito mais em sua história espiritual do que na política, frequentemente bastante envenenada pelas facções e traições. Seu próprio domínio territorial sempre foi impreciso e aleatório, variando de ano para ano, segundo as alternativas da sorte nas guerras, porque os Bizantinos, pacifistas intransigentes, foram, por uma curiosa contradição histórica, constantemente empenhados em obras belicosas, próximas ou distantes. 
                 Bizâncio começou com uma herança urbana helenística; as costas mediterrâneas  e balcânicas estavam coalhadas de cidades gregas, porém estas adotaram um caráter cada vez mais rural depois do século VI d.C. Do ponto de vista estratégico, Bizâncio esteve sempre combatendo em duas frentes insustentáveis: contra os eslavos e depois os francos  no oeste e contra os árabes e em seguida os turcos selêucidas no leste. Bizâncio se mantinha unida administrativamente por uma rede de praças fortes militares e eclesiásticas. 
                   As igrejas bizantinas foram construídas sob forte influência da Igreja Ortodoxa; se encontram ao longo de todo o mundo mediterrâneo oriental. Manifesta-se de forma mais clara em mosaicos distintivos, ícones e um estilo de arquitetura de igreja baseado no plano horizontal da cruz grega de proporções iguais, com elevações de sucessivos arcos de meio ponto e coroados por cúpulas achatadas, construídas em sua maior parte  de tijolos . A basílica de São Sérgio e São Baco em Constantinopla são um bom exemplo. 
                   A arte bizantina atingiu seu máximo esplendor durante o reinado de Justiniano. Sobressaiu, especialmente, por sua magnífica arquitetura, que era acompanhada por uma suntuosa mobília de marfins talhados, jóias diversas e mosaicos de brilhantes policromados. A excepcional cátedra de marfim talhado que os imperador justiniano deu de presente para o arcebispo de Ravena, Maximiano. O mosaico da igreja São Vital de Ravena representa a Imperatriz Teodora com seu séquito levando presentes para a igreja. 
                O reino de Justiniano marca um ponto crítico no desenvolvimento do Oriente. Os governantes romanos estabelecidos em Constantinopla não haviam renunciado a suas reivindicações sobre os velhos territórios do Império Ocidental, agora ocupados por francos e godos; porém Justiniano foi o único que fez uma tentativa séria para reconquistá-los. primeiro dirigiu-se ao reino vândalo do norte da África, que se rendeu depois de uma campanha relativamente breve em 533 e 534. Posteriormente, seus exércitos dirigiram-se à Itália ostrogoda, onde reconquistaram Roma em 538 e Ravena um ano mais tarde. Por um momento pareceu que as glórias do Império Romano poderiam reviver. Entretanto, os acontecimentos das décadas seguintes demonstraram que não seria assim. No ano 542, uma grande peste deu um devastador golpe nas ainda populosas cidades  do mediterrâneo Oriental; a guerra na Itália prolongou-se tediosamente por trinta anos, e Justiniano ficou imobilizado em uma custosa e interminável luta com o império rival da Pérsia Sassânida no leste. Depois de sua morte, a situação deteriorou-se ainda mais; grande parte da Itália perdeu-se ante um novo povo: os lombardos. Em 627 os eslavos cruzaram o Danúbio e assolaram as províncias balcânicas, sitiando a mesma Constantinopla e as prósperas cidades da Síria romana foram saqueadas pelos persas. Mas o pior estava por vir. Quando as forças da Islã conquistaram a Síria ao redor de 630 e Egito na década seguinte, amputaram as províncias mais ricas do Império Oriental; e em 717, quando os exércitos árabes assediaram Constantinopla por terra e por mar, parecia que o Império Oriental não sobreviveria. Uma vez mais a crise foi superada e, em dois séculos, imperadores enérgicos e capazes conseguiram reafirmar o controle sobre a Ásia menor, os Bálcãs, Sicília e Itália meridional. 
                 O Império Bizantino do século X pode ter sido o descendente direto da antiga Roma, mas em caráter distanciava muito da idade de ouro do século II, e inclusive da era de Justiniano. Nos séculos V e VI as epidemias, a deterioração econômica e as condições instáveis provocaram a diminuição da população e uma notória redução na importância e riqueza das cidades que haviam sido o pilar do mundo clássico. A maioria delas ficaram reduzidas a meros povoados e as instituições públicas foram abandonadas, ou por causa do ataque de eslavos, avaros e árabes ou porque seus cidadãos as consideraram um gasto indesejável. Em Éfeso, capital da Ásia romana, os mercados, galerias, balneários, teatros e espaços públicos foram substituídos, em princípio, por basílicas cristãs dentro de reduzidas muralhas. A cidade cresceu para dentro, apinhando-se ao redor da fortaleza da guarnição e a igreja de peregrinação. Por outro lado, os estudos de população na Macedônia e no Ponto (ao sul do Mar negro) mostram um quadro diferente, que revela o florescimento das economias locais até que os excedentes de mercado deram lugar a um renascimento urbano, no século X. 
                 Ainda que outras cidades tenham decaído, Constantinopla manteve seu dinamismo como capital do Império Bizantino. Cercada pelas grandes muralhas teodosianas do século V - ainda imponentes na atualidade -, possuía uma política e cultura própria e, ainda que demasiado grande para seu império , seguiu sendo até o século XIII a cidade mais rica e mais populosa da cristandade. 
                  Os povoados prósperos eram a coluna vertebral da agricultura bizantina. O cultivo mais importante era o trigo e o pão resultante era comido pelos ricos e pelos pobres. As verduras também eram um componente generalizado da dieta e o vinho, que variava em qualidade, com frequência misturava-se à água, sendo a bebida habitual do Mediterrâneo Oriental. O óleo de oliveira se empregava profusamente nas comidas, como ainda se faz hoje na região. Os arados e enxadas com pontas de metal eram utilizadas para trabalhar a terra e as machadinhas e facas de podar, nas vinhas e nas hortas de oliveira. Sempre  que possível, a moagem de grãos era feita em moinhos de água, que eram de propriedade  da comunidade ou de um rico proprietário; nos lugares onde não havia força hidráulica eram usados bois ou mulas para fazewr girar pesadas pedras do moinho. algumas zonas eram especializadas em produtos específicos que não estavam facilmente em outras regiões.
             No século IV o cristianismo converteu-se na religião oficial do Império Romano e do século IV ao século VI a proteção imperial fez surgir no Mediterrâneo Oriental grandes basílicas com naves laterais, que têm seu ponto culminante na de Santa Sofia de Justiniano, em Constantinopla (532 x 537). 
               No século VII tinham terminado os dias desses enormes e arrojados projetos, mas a fé cristã seguia sendo um tema emotivo para o povo bizantino. Já nos tempos de Justiniano ocorreram distúrbios nas ruas de Constantinopla por diferenças sobre doutrina religiosa, tornando-se evidente o forte laço que unia a vida religiosa com a secular no mundo bizantino. No Ocidente, os governantes germânicos, de crenças cristãs heréticas, assumiram o controle secular, mas no âmbito religioso dos súditos, de crenças ortodoxas, estabeleceram uma hierarquia religiosa paralela na qual os sacerdotes e bispos obedeciam ao papa de Roma como a autoridade máxima em assuntos religiosos. Em Bizâncio, a autoridade secular e religiosa concentrava-se na pessoa do imperador. Em consequência, seu ponto de vista - a opinião religiosa apoiada pelo poderio político e militar - era mais importante do que qualquer posicionamento do papa romano no Ocidente. Isso ficou particularmente evidente no longo período dos imperadores iconoclastas (726 x 843), quando foram destruídas as estátuas e imagens dos edifícios religiosos em todo o Império Bizantino argumentando que era heréticas.Foi só depois desse período que a complexa iconografia das imagens e pinturas murais religiosas de Bizâncio pode evoluir. 
             No século VII, Bizâncio adotou uma posição agressiva contra os árabes e eslavos, e o império se transformou num mosaico de grandes feudos controlados por comandantes militares e aristocratas regionais. O governo estava preocupado em satisfazer as necessidades do Exército e da armada, e cada província era obrigada a contribuir com efetivos militares e a manter tanto as unidades da frota como as grandes fortalezas das guarnições. As funções-chaves do Estado, tais como a arrecadação de impostos, foram transferidas para grandes propriedades rurais locais, originariam,ente só de forma vitalícia, porém, mais tarde, de forma hereditária. De modo que, à medida que cresciam as pressões militares e a economia monetária declinava, a administração burocrática centralizada que o Império Bizantino havia herdado da antiga Roma, sucumbia gradativamente diante dos mesmos processos que criaram os Estados feudais da Europa Ocidental. 
                As fronteiras do império mudaram muito ao longo de sua existência, que passou por vários ciclos de instabilidade. Durante muito tempo, ao longo de sua existência, passou por vários ciclos de declínio e recuperação. Durante o reinado de Justiniano (517 x 565), alcançou sua maior extensão apos reconquistar muitos dos territórios mediterrâneos antes pertencentes à porção ocidental do Império Romano, incluindo o norte da África, Península Itálica e parte da Península Ibérica. Durante o reinado de Maurício (582 x 602), as fronteiras foram expandidas e o norte estabilizado. Quando este foi assassinado houve um conflito que durou duas décadas com o Império Sassânida que exauriu os recursos de Bizâncio e contribuiu para suas grandes perdas territoriais durante as invasões muçulmanas do século XII. Durante a dinastia macedônica (século X x XII), o império expandiu-se novamente e viveu um renascimento de dois séculos, que chegou ao fim com a perda de grande parte da Ásia Menor para os turcos seljúcidas após a derrota na Batalha de Manziquerta no ano 1071. 
               O período mais feliz de Bizâncio foi, certamente, entre os séculos IX e XI, quando reinou a dinastia macedônica. O fundador desta, Basilião I, iniciou restabelecendo a paz religiosa, isto é, depondo o falso Patriarca Fócio, que travara luta contra o papado; as controvérsias religiosas incidiam profundamente na política e nos destinos do império bizantino. É preciso lembrar que quem realmente mandava, em todos esses séculos, eram os papas, verdadeiros herdeiros dos despojos da velho Império Romano. 
              O novo imperador conseguiu, depois, derrotar os Árabes, na Itália e na Ásia, estendendo os limites do império, que ficara reduzido a bem pouca coisa, e dando novo alento aos Cristãos do oriente, sufocados pelas invasões muçulmanas. Sua obra foi continuada e ampliada pelos sucessores, Romano II, Nicéforo II, o Foca e Basílio II; este último esmagou no sangue uma revolta dos Búlgaros. 
               No século XII, durante a Restauração Comnena, o império recuperou parte do território perdido e restabeleceu sua dominância. No entanto, após a morte de Antônio I Comneno (1182 x 1185) e o fim da dinastia "Comnena" no final do século XII, o império entrou em declínio novamente. Recebeu um golpe fatal em 1204, no contexto da Quarta Cruzada, quando foi dissolvido e dividido em reinos latinos e gregos concorrentes. Apesar de Constantinopla ter sido reconquistada e o império restabelecido em 1261, sob os imperadores paleólegos, o império teve que enfrentar diversos estados vizinhos rivais por mais 2300 anos para sobreviver. Contudo, este período foi o mais produtivo culturalmente de toda sua história. 
                Bons períodos sucediam-se para Bizâncio; na verdade, períodos de anarquia e agitação política; os imperadores eram conduzidos ao trono pelo trabalho de  uma facção religiosa, mas logo eram dali apeados, devido a uma conspiração; os feudatários, os comandantes do exército, os patriarcas, hostilizavam-se uns contra os outros e combatiam-se abertamente. Foi durante um desses turvos períodos que o Patriarca de Bizâncio, Miguel Cerulário, conseguiu realizar a definitiva separação da Igreja de Roma, depois de séculos de diatribes teológicas e de surdas lutas contra o papado. Este grande "Cisma do Oriente", em 1054,  contribuiu sempre mais para separar Bizâncio do resto da Europa. Árabes, Búlgaros, Eslavos, Turcos, Normandos, atacavam o império. E nisso estiveram presentes, também os Venezianos, Tanto que Manuel I, o Comneno, imperador, em 1171, provocou uma espécie de revolta popular contra eles, mandando prendê-los e trucidá-los. Essa foi uma das causa que provocaram o primeiro grande desmoronamento do império de Bizâncio; os venezianos não pensaram mais senão em vingança e em reconquistar os privilégios perdidos. Assim, em 1204, o doge de Veneza, Emília Dândolo, que chefiava a IV Cruzada (organização incentivada pela Igreja), interveio com um pretexto qualquer nos negócios de Bizâncio, atacou a cidade e entregou-a ao saque. Entre os gritos dos feridos e o sinistro clarão dos incêndios, nascia o efêmero "Império Latino do Oriente", pálida sombra do grande império bizantino. este ressurgiu mais tarde, mas não passou de um fantasma do que fora o grande edifício de Justiniano e Leão II. 
                Sucessivas guerras civis no século XIV minaram ainda mais a força do já enfraquecido império e mais territórios foram perdidos nas guerras "bizantino-otomanas", que culminaram na "Queda de Constantinopla" e na conquista dos territórios remanescentes pelo Império Otomano no século XV.
                Entretanto, de todos os golpes dados ao Império Bizantino, o mais serio  foi a conquista das províncias assírias, egípcias e do norte da África pelos exércitos do Islã, que significa "resignação à vontade de Deus"; os  muçulmanos acreditam que deus falou através de Maomé e que seu livro sagrado, o Alcorão (ou narração), é a palavra de Deus transmitida a Maomé, o Apóstolo e profeta de Deus. 
Os Bizantinos
                   Durante os primeiros séculos do império bizantino, as lutas religiosas eram frequentes, e geralmente degeneravam em verdadeiras e próprias batalhas. 
              Num imenso crepúsculo de sangue, a glória de Roma ia-se obscurecendo, submergida pelo cerrado nevoeiro nórdico, quando o imenso edifício dos Césares se dobrava ante o choque das hordas bárbaras. 
              Quando os dois filhos do imperador Teodósio, Arcádio e Honório, dividiram entre si o domínio paterno, a Itália estava em plena dissolução; encerrado entre muros de Ravena, Honório, imperador do ocidente, sentia a maré dos bárbaros invadir o território romano, sem que contra eles se levantasse a antiga muralha das legiões. Hérulos, Godos, Bávaros, Vândalos, todos convergiam para as planícies da Europa mediterrânea, considerada presa rica e certa. O Oriente estava mais calmo, menos pressionado pelo ímpeto dos bárbaros. Assim, pouco a pouco, ante o progressivo desmoronar da organização romana, Bizâncio, a cidade  que Constantino elegera sua capital, assumiu todas as prerrogativas de capital, até que, no ano 476, deposto o último imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, o chefe hérulo Odoacre mandou as insígnias do poder a Bizâncio, como que querendo significar que o imperador do Oriente, então Leão I, era o único herdeiro do nome e do domínio romano. E tal foi, de fato, durante muitos séculos, embora o seu domínio territorial se reduzisse, em determinados períodos, a bem pouca coisa.  
                A Leão I sucedeu Justino I, e a este o sobrinho. Pedro Sabácio, que assumiu o nome de Justiniano. Hábil chefe e ótimo conhecedor dos homens, ele soube descobrir, entre seus generais, os únicos que podiam enfrentar a avassaladora ameaça dos bárbaros: Belisário e Narses. os chefes guerreiros que conquistaram para Bizâncio,em nome da antiga Roma, quase toda a Itália, e boa parte do Oriente e da África.  A sabedoria de Justiniano refulgiu, mais que nas campanhas militares, em seu imponente trabalho de codificação. Mas ainda maior se revelou a sabedoria de Justiniano, ao recolher, por intermédio de seus juristas, o  máximo tesouro que Roma : suas leis. O "corpus Juris Civilis", isto é, a coletânea dessas leis, foi, por mais de mil anos, o único código da Europa, que passou a ser governado pelo espírito romano, ainda quando o império havia séculos que desaparecera. 
                   Bizâncio era uma curiosa e caótica cidade, ponto de reunião de todas as idéias e dos costumes do Oriente e do Ocidente, um labirinto de templos, de casebres e palácios, uma babel de idiomas diferentes, uma mixórdia de raças e costumes. E sua história se lhe assemelha, pois não passa de uma história de fatos e figuras, em que os imperadores eram escorraçados do trono por uma revolta de pretorianos e desapareciam repentinamente, arrebatados pelo veneno ou pelos punhais das conspirações do palácio. Maurício, Fócio, Constantino, Anastácio, são vultos que aparecem, por poucos decênios, à ribalta da história, sempre em guerra com os bárbaros ou com seus parentes, preocupados com as heresias religiosas, pelas lutas entre os Pontífices romanos e os Patriarcas de Bizâncio, e ameaçados, finalmente, pela imensa onda muçulmana. Em 717, toma as rédeas do governo um grande general: Leão III, o Isáurico, e com ele se inicia, para Bizâncio, um breve período do glória, que reconduzia as insígnias romanas àquele esplendor que parecia ter-se ofuscado para sempre. 

O fim de Bizâncio
                 O Império Latino do oriente, surgido da ousada política do Doge veneziano Henrique Dândalo (1108 a 1205), teve vida efêmera. os Cruzados havia feito, segundo o velho costume europeu, um mosaico de feudos, sobre cujos negócios o Imperador de Constantinopla, já bastante ocupado em salvar seu trono das incursões muçulmanas, tinha bem pouca ingerência. balduíno de Flandres, em 1204, obteve a coroa imperial; os venezianos asseguraram todos os portos e postos-chaves, inclusive a maior parte das ilhas do Egeu. Numerosos senhores italianos e franceses receberam feudos de diversa importância, entre os quais notáveis o principado de Acaia (herdado depois pelos Sabóias), o ducado de Atenas, passado pelas mãos de Otão de la Roche e Gualter de Brienne e, depois, à família florentina dos Acciaiuoli. Essa dispersão de poderes facilitou a obra de quem trabalhava para provocar a ruína do novo império. Os gregos eram hostis ao latinos, por motivos de culto e interesses comerciais; os herdeiros das dinastias imperiais bizantinas haviam-se refugiado na Ásia Menor ou nos territórios periféricos de seu velho domínio. Particularmente contra os venezianos, artífices da conquista e senhores incontrastados dos portos e das rotas do mediterrâneo oriental, dirigia-se o ódio dos povos subjugados. Miguel Ângelo Comneno, descendente da família que reinara em Constantinopla, avançou do Epiro contra o imperador Roberto de Courtenay, para derrotá-lo, conquistar a Trácia, Tessália e Macedônia e fazer-se coroar em Salônica. Sucesso de breve duração, porque, pouco depois, o novo imperador, batido e cegado pelos Búlgaros (cegar os p´roprios inimigos era um triste hábito balcânico), era obrigado a fugir. Intérprete das esperanças dos gregos, apareceu, então, a família Láscaris que, saída de Bizâncio, fundara um simulacro de império, em Nicéia.  Os ataques de João II Vatatze, de Teodoro e João Láscaris desmantelaram, entre 1230 e 1258, o Império Latino, reduzindo-o a somente Constantinopla. Em 1258, uma conspiração militar substituiu João IV Láscaris, ainda criança, por um hábil general, Miguel Paleólogo, que mandou cegar o menino e assumiu o poder. À conquista de Constantinopla opunham-se, ainda, somente os Venezianos, que haviam praticamente desacatado o imperador II. Miguel Paleólogo aliou-se aos genoveses, eternos rivais da Sereníssima, e, durante um assalto noturno, penetrou na cidade, fazendo grande mortandade de guerreiros e mercadores italianos em 1261. 
                O império dos Paleólogos compreendia só uma parte da Grécia e da Anatólia. os Venezianos conservavam as ilhas do Egeu, o Peloponeso e a Albânia (possessões que estavam reduzidas ao litoral); os genoveses obtinham novas bases para seu comércio, tanto em Constantinopla, nos subúrbios de Gálata e Pena, como no mar Negro. Era, como se vê, um império bem pobre, territorial e economicamente, porque a força da antiga riqueza de Bizâncio, os empórios comerciais, estava toda nas mãos dos italianos. 
             Apesar de sua evidente fraqueza, o império aguentou quase dois séculos, mantido pela coragem e pelo ouro dos genoveses e dos venezianos, que viam na sua sobrevivência a única oportunidade para seu comérciono Oriewnte. Mas, já no princípio do século XIV, desenhava-se, contra os territórios asiáticos de Bizâncio, a ameaça dos Turcos que, sob o comando de Ótmã ou Osmã I, baixavam do Mediterrâneo. Duas vezes, em poucos anos, os janízaros turcos cavalgaram até junto às muralhas de Constantinopla: a primeira, sob Orkhan-Ghazi e a segunda sob Bajazet I, o Raio. Ambas as vezes a cidade foi defendida apenas pelos Venezianos e Genoveses, finalmente unidos contra o perigo comum. Por sorte dos Paleólogos, em 1402, irrompia o Oriente uma nova onda de Mongóis, guiados por Tamerlão, (Timur, o Coxo), inteligentíssimo tártaro, que renovava as proezas de Gengis Khan e que dominava a Ásia, de seu palácio de Samarcanda. A ameaça obrigou os Turcos a voltarem a frente de combate para o oriente, a fim de defender-se do Mongóis, e o cerco em torno de Constantinopla afrouxou. De Bizâncio, partiram, para o Ocidente, desesperados apelos. Se o heropísmo de Jânio Hunyadi e de Jorge Castriota (este último, chamado Scanderberg, é o herói nacional albanês) valeu para deter as hordas de Murad II, o fim do milenar império, porém, estava selado. Quando, em 1453, as Insígnias da meia-Lua se desfraldaram novamente junto às muralhas de Constantinopla, o imperador Constantino XIII Paleólogo não pode opor mais do que poucos defensores, quase todos genoveses. O assédio teve pouca duração; em 30 de maio dquele ano, dominadas as bem provistas fortiificações da cidade, o sultão Maomé II entrava triunfante em Constantinopla. Desmoronava, naquele dia, para sempre, o Império Romano do Priente, carregado de séculos de glória e de civilização.  O último imperador, tombado heroicamente em combate, nas muralhas, trazia, por ironia da sorte, o mesmo nome do fundador do império: Constantino, o Grande. 
                 Quando Maomé morreu, em 632, o Islã ainda estava circunscrito à Arábia. O primeiro dos seus sucessores, o califa Abu Bakr (632 x 634), finalizou a conquista da Arábia e entrou na Palestina Meridional. O califa seguinte, Omar (634 x 644), avançou rumo a damasco, e presidiu o annus mirabilis de 636, quando os exércitos muçulmanos derrotaram amplamente bizantinos no Rio Yarmuk e os sassânidas em Qadisiya. Uma segunda vitória decisiva em Nehavend em 642 permitiu a Omar o acesso à Pérsia e, no transcurso de apenas dez anos, o limite oriental do Islão havia avançado até o Afeganistão e a Ásia Central. Ao mesmo tempo, no oeste a próspera província do Egito era derrubada pelos exércitos islâmicos. Daí em diante, os progressos começaram a diminuir, mas não antes de o Império Islâmico absorver todo o norte da África, a maior parte de Espanha visigoda, a totalidade da Armênia e do Paquistão, até o Rio Indo, onde os exércitos islâmicos acamparam em 711. 
                


PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo