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terça-feira, 12 de maio de 2020

A REVOLUÇÃO FRANCESA - CAUSAS E CONSEQUEÊNCIAS



                Durante o reinado de Luiz XIV, a cidade fora enriquecida de palácios e monumentos, jardins luxuriantes de vegetação floresceram às margens do Sena; poetas, pintores, cultores de letras acorreram de toda parte, atraídos pelo fausto da Corte. A revolta do povo com as mordomias absurdas só aumentava dia a dia. O Rei Sol, ainda não satisfeito com o palácio de seus avós, mandou construir o de Versalhes, no lugar onde ficava o cassino de caça de Luiz XII. Sobre aquele terreno, outrora paludoso e insalubre, situado a poucos quilômetros de Paris, formou-se, como que por encanto, uma pequena cidade, circundada de maravilhosos parque ew jardins, alegrada e animada por espelho de lagos e chafarizes, e gargalhar de regatos. Naquela cidade de sonho, encontram asilo naquela época, nada menos dezoito mil nobre literatos. Mantida às do povo ativo e laborioso da vizinhança, a Corte entregava-se ao ócio, a jogos e festas, alternando as caças com récitas de gala. (Fazendo um paralelo - Brasília não está nada longe da antiga França Feudal).
               
               Não era mais o tempo em que o povo parisiense podia, nas assembleias, pesar com sua opinião nas decisões do rei.  Luiz XIV impusera seu domínio absoluto. 
             - "Isso é legal porque eu quero! - L'État cèste moi!" - eram suas frases preferidas. E o que o Rei Sol dizia, perante todos os nobres conselheiros, a pomposa corte de Versalhes, onde viviam como pássaros em gaiola de ouro, era mesmo lei, e a eles só restava obedecer. 
              Cresceram as injustiças e as vexações, choveram as taxas e os impostos, diminuíram os direitos do bravo povo da França, durante os reinados de Luiz XV e Luiz XVI; e, se Luiz XIV, embora na dureza de seu governo, havia excitado uma iluminada política exterior, seus sucessores não foram capazes de adornar-se ente os olhos dos súditos com qualquer mérito particular. 
               E as diferenças entre os privilégios da nobreza e os do clero com respeito ao "Terceiro Estado", a bancarrota financeira do Estado e a debilidade demonstrada pelo monarca Luiz XVI para manejar esta situação, junto com a força adquirida pelas ideias iluministas, propiciaram o movimento revolucionário que eclodiu em julho de 1789 com a simbólica "Queda da Bastilha".
                 O perigo da revolução começou a desenhar-se em setembro de 1715; nesta data  morria Luiz XIV, a quem os cronistas franceses chamavam de "Rei Sol", um rei  que não tinha por certo qualidades para dirigir um país, mas que, apesar de tudo, usufruía dos últimos reflexos da glória de Richelieu e de Mazarino, de maneira a dar aos seus súditos menos exigentes a impressão de resplender com luz própria.  Subia ao trono um menino de cinco anos, bisneto do defunto soberano, sob o nome de Luis XV; a regência fora confiada ao Duque de Orleans, um homem corpulento, mas algo curto de intelecto, que,certamente, não poderia levar a França a melhor sorte, tanto a nação já estava comprometida pelos desacertos de Luiz IV. De fato, as tentativas de instaurar uma sólida política financeira, isto é, de operar aquele reerguimento da economia de que o país tinha tanta necessidade como do ar, fracassaram uma após outra; contribuíam para criar o caos econômico a incompetência dos ministros (o próprio banqueiro Law, um escocês que conquistara a confiança do Regente, revelou-se um parlapatão), as enormes despesas da corte, as loucas especulações dos príncipes, a indiferença de quem deveria arcar com o peso das responsabilidades. As intrigas da corte misturavam-se à política interna e até àquela externa embaraçando-lhes e variando-lhes o curso de maneira imprevisível; homens sem qualquer valor alcançavam cargos altíssimos, devido ao favor do soberano; compravam os postos de comando ou os obtinham por meio de recomendações; uma classe privilegiada, constituída de nobres e clero, espremia sistematicamente o povo e delapidava milhões; as coisas se tornaram cada vez piores depois do advento ao poder do soberano, tornado maior de idade; Luis XV era homem de inteligência viva, de discreta cultura, mas não teve nunca nem vontade nem força para intervir eficazmente na política de seus ministros; ou talvez visse muito bem onde e como estivessem precipitando as coisas e considerava já inútil qualquer tentativa para salvar um barco que fazia água por todos os lados. "Depois de mim, o dilúvio" é a frase que os historiadores lhe atribuem, frase impregnada de um sorridente cinismo, que pode ser apreciada por algum particular, mas que faz estremecer um chefe de estado. As intrigas da corte, dirigidas por poderosíssimas favoritas do Rei, multiplicaram-se as despesas e as dívidas tornaram-se ainda mais imponentes. As guerras de sucessão, polonesa e austríaca, e a guerra dos "Sete Anos" reduziram o prestígio militar e político da França. 
               Com a morte do Delfim, Luiz XVI, que era seu neto, encontrou nas mãos um país à beira da bancarrota, uma nobreza indolente, uma plebe irritada e sediciosa; a única classe que revelava uma robusta vitalidade era a burguesia, nutrida pelo pensamento iluminista, que estava derrubando um após outro os fetiches da época feudal. Luiz XVI, filho do Grande Delfim da França, era um rapaz culto, bastante esperto, mas tímido e de caráter manso, ao contrário da esposa, que era, ao invés, ardente e impulsiva; ele ocupava-se com geografia, ciências naturais e tinha até aquilo que os americanos chamam de "hobby", um trabalho manual, com que se distraia nas horas de lazer. No início de seu reinado, recebido favoravelmente por todas as camadas sociais, ele confiara as forças da França a um hábil ministro, Turgot, que estabelecera um vasto programa em todos os setores da administração pública. Todavia, as eternas intrigas da corte fizeram com que somente dois anos depois, em 1776, Turgot fosse demitido e substituído por Jacques Necker. Este, que soube quanto de bom havia no programa de seu predecessor, ficou logo em posição desfavorável perante a nobreza, devido a certas suas públicas revelações quanto às despesas da corte (cerca de sessenta milhões de francos, de então) e, em 1781, teve que demitir-se. A dispensa de Necker fez ainda mais agradar o descontentamento que lavrava entre a população, que já não mais sofria o jogo feudal, agora cônscia de seus direitos e aspirante a uma mais larga justiça distributiva. 
                 Os ministros que se seguiram, Calombe e Loménie de Brienne, ligados aos interesses das classes privilegiadas, aumentaram o dissídio entre o povo e a coroa, tornaram irremediável a anarquia do erário, arruinaram, em poucas palavras, tudo quanto Turgot e Necker tinham iniciado; de todos os lados, reclamavam-se reformas, tanto pelos chefes populares como pelos intelectuais, até que o Rei, debatendo-se entre as opostas correntes, viu-se obrigado a convocar os Estados Gerais, supremo congresso da nação francesa. A última convocação remonta ao ano de 1614, mas bem diferente era, em 1788, a atmosfera em que os representantes da aristocracia, do clero e do terceiro estado se preparavam para deliberar sobre os destinos de seu país. As eleições de deputado à suprema assembléia foram tumultuadas; cidades e campos, e a própria Paris, já viviam em um clima de revolta. O rei e a corte assistiam, se não indiferentes, certamente como estranhos a esta explosão de ideias e de sentimentos desde muito tempo contidos. Até que, em 1788, o descontentamento do povo explodiu de maneira tangível, com demonstrações de cortejos pelas ruas de Paris. 
               O período do reinado de Luiz XVI (1774 a 1792) assiste às últimas e frustradas tentativas de conciliar os interesses em conflito . Enquanto o monarca ensaiava tímidas  tentativas de controlar a crise, a aristocracia e o Terceiro Estado (burguesia e povo); cada vez mais irreconciliáveis, preparavam-se para o confronto final, que acabou eclodindo.
                "Mas, eles não tem pão? Ora,  porque não comem bolos?" Esta frase atribuída a Maria Antonieta fê-la passar para a história como um modelo de falta de visão dos problemas sociais e de cinismo. A rainha da França, com a revolução nas ruas, achava possível que o povo escolhesse entre pão e bolos. 
               A simples possibilidade de que a esposa de Luiz XVI haja pronunciado realmente tais palavras, seja por insensata frivolidade, seja por pura ignorância, bem demonstra o abismo existente na França entre as classes sociais, no exemplo representadas pelos seus extremos: a nobreza (da qual a rainha era um expoente) e a população pobre de Paris. 
                Dir-se-ia que os nobres (inclusive o alto clero), a burguesia, o povo das cidades e os camponeses viviam em mundos diferentes. Presa aos seus interesses particulares, a nobreza era incapaz de perceber as aspirações das outras classes, insensível ao que se passa fora de seu próprio círculo social. Detentora de todos os privilégios, recusava-se a abrir mão de qualquer deles, até que lhes foram tomados pela força no último decênio do século XVIII. 
              O final do século XVIII foi uma época de transtornos em muitas partes do hemisfério ocidental, atribuídos, direta e indiretamente, à efervescência das ideias conhecidas como Iluminismo, reflexo das necessidades e tensões de uma sociedade em transformação. Tais ideias baseavam-se no novo conhecimento científico do século XVII, engendrando uma nova fé na razão e no progresso. Por um lado, isto levou a uma resistência à autoridade e a uma afirmação dos direitos humanos, expressados na famosa declaração de Jean-Jacques Rousseau de que o homem nasce livre, mas em todas as partes está acorrentado. Por outro lado, as novas ideias foram uma inspiração para os monarcas, que, no final do século XVII, começaram a concentrar o poder em suas próprias mãos e a governar mediante agentes burocráticos nomeados por eles. Governantes centralizadores e iluministas  como José II da Áustria (1780 x 1790) ou Frederico II da Prússia (1740 x 1786) inspiravam-se nos filósofos racionalistas como os enciclopedistas, para quem o governo era uma ciência que leva à eficiente satisfação das necessidades. Entretanto, suas atividades centralizadoras encontraram resistência em todos aqueles que tinham interesses criados no Antigo Regime: Igrejas, agremiações e corporações e, sobretudo, a aristocracia. Seus líderes recorreram às teorias de Charles Montesquieu e Burke para demonstrar que a sociedade era uma formação orgânica e seus agrupamentos tradicionais não só conferiam direitos inalienáveis a seus membros como produziam um equilíbrio de poder que resguarda os indivíduos da tirania. isso e o desejo de autonomia das províncias deram origem a um descontentamento. Ficou claro, que a efervescência não se deteria aí. 
               O mais provável era que ocorresse uma rebelião nas origens onde a aristocracia podia contar  com o apoio dos camponeses; mas na Europa Oriental estes últimos ainda eram servos, e era pouco provável que se rebelassem para apoiar os latifundiários, que eram seus opressores diretos. Contudo, as inovações também desagradavam aos camponeses, que às vezes lutavam tenaz,mente para conservar sua forma de vida tradicional, como o fizeram na Rússia sob o domínio de Pugache e na Hungria de José II. 
               Na Europa Ocidental, uma reação semelhante dos camponeses diante do poderio estrangeiros nas revolução belga teve certa importância. Por outro lado, os camponeses poloneses tinham poucos incentivos para apoiar a nobreza nas insurreição de 1791 e 1794 e o mesmo aconteceu na Irlanda, onde os nacionalistas de classe média, que contavam com o descontentamento dos camponeses em relação aos latifundiários ingleses, sentiram-se fraudados e sucumbiram frente às forças armadas britânicas por não chegar-lhes ajuda da França. Em compensação, os camponeses sérvios, que se insurgiram em 1804 na primeira revolta nacionalista dos Bálcãs, resistiram durante três anos até serem subjugados pelos exércitos reorganizados do sultão. 
                 As revoluções aparecem em grande escala pela primeira vez nas colônias inglesas da América. Recorrendo à filosofia de Locke sobre o direito natural, os colonizadores negavam-se a pagar impostos estabelecidos por um parlamento em Londres no qual não estavam representados. Em 1775, a disputa chegou a uma guerra declarada. Os homens moderados que mantiveram a antiga estrutura da sociedade foram substituídos por outros com objetivos mais democráticos e a guerra pela independência nacional ganhou apoio em todas as camadas sociais, incluindo pequenos agricultores, trabalhadores das cidades e a numerosa burguesia. O exemplo norte-americano para os rebeldes nos Países Baixos, assim como na França, cujas tropas lutaram no lado norte-americano durante a guerra. Mas na Holanda  e na Bélgica, as facções estavam muito divididas entre objetivos reacionários e progressistas e no êxito  frente à intervenção estrangeira. 
            A burguesia de Paris, que mais de perto pudera ver o esfacelamento da Corte, deu o exemplo. Atrás dela movimentaram-se as outras regiões da França, arrebatados pelo mesmo vendaval revolucionário. O Terceiro Estado, que abrangia os operários, os artesãos, os trabalhadores rurais, os homens de profissões liberais, os comerciantes, e que contava em seu seio a fina flor dos intelectuais, homens ilustres, cultos, estudiosos, espíritos amantes da justiça, reivindicou, afinal, seus direitos postergados. 
                No final do século XVIII, os sistemas econômicos e culturais das sociedades americanas eram mais evoluídos e complexos do que os regimes que as governavam. No centro e leste da Europa, governantes esclarecidos se empenhavam em instituir sistemas de governo mais centralizados e burocráticos em sociedades ainda basicamente feudais. Várias revoluções na Europa Ocidental me no Novo Mundo originaram sistemas políticos de governos abertos, sujeitos à prestação de contas, regidos por constituições escritas e com assembleias eleitas. ainda que raramente democráticas. Em outras regiões, governantes como José II e catarina a Grande da Rússia, viram fracassar reformas frente aos poderes da nobreza e estruturas econômicas feudais predominantemente agrárias. A assim chamada era das revoluções foi limitada geograficamente e serviu para distanciar ainda mais a Europa Oriental da Ocidental. 
               Grã-Bretanha e França (os dois principais estados da Europa Ocidental no final do século XVII) tinham economias desenvolvidas, com crescente mercado doméstico para as indústrias e comércio ultramarino em expansão. Eram também centros do iluminismo e os principais filósofos (embora não se manifestassem abertamente sobre política nem pregassem a revolução) com frequência aludiam ao distanciamento entre as necessidades da sociedade e a capacidade dos governos de atendê-las. 
                 A Grã-Bretanha possuía o sistema político mais avançado, calçado em um único parlamento nacional, que conferia certa representatividade ao governo, e um eficiente sistema fiscal. Já a França tinha sociedade e economia modernas, mas o governo dependia de um sistema tributário medieval. No último quarto do século XVIII, a monarquia  francesa tentou reformar o sistema fiscal, mas fracassou: interesses de setores como a nobreza e os proprietários de terras combinaram-se ao temor  de que uma monarquia financeiramente forte se tornasse despótica. Já a Grã-Bretanha evitou crise semelhante no plano interno, mas as tentativas de reformas administrativas nas treze colônias Norte Americanas geraram confrontos que culminaram na Revolução Americana. Isso se deu nos anos 1775 a 1781 com a independência dos colonos. Essa independência se deu porque os colonos foram forçados à rebelião por um Estado no caminho da tirania. A partir de então os colonos americanos ergueram estruturas políticas próprias, forjando um novo Estado; voltaram-se para os filósofos políticos do iluminismo, em especial Montesquieu, buscando formas de governo com equilíbrio entre os poderes; com a elaboração de uma Constituição escrita e formal, instituindo um regime de governos eleitos, os revolucionários norte-americanos promoveram o progresso da cultura política ocidental.
                  Uma revolução  Holanda em 1787/ 88 repetiu os acontecimentos da América do Norte. A frágil estrutura federal da república Holandesa parecia ameaçada por propostas de reforma do exército apresentadas pelo seu governante, o "stadholder" (um vice-rei e uma província da Holanda). O temor do despotismo motivou revoltas nas províncias e fez surgir um movimento patriótico, que exigia independência e participação. 
                Na França, em 1789, uma crescente crise financeira precipitou acontecimentos semelhantes , embora mais conturbados. Confrontado por uma oposição resoluta a seus planos de reforma fiscal. Luiz XVI convocou os Estados gerais, assembleias de representantes eleitos de todo o reino que não se reunia desde 1614. Esta medida trouxe um novo grupo para o centro da vida política francesa. A indecisão de Luiz XVI face a uma colheita desastrosa, sublevações no campo, falência iminente e, acima de tudo, o conflito hostil entre deputados da nobreza e da plebe criaram uma lacuna de poder logo preenchida pelos estados Gerais, agora a autoproclamada Assembleia Nacional. Colocando-se á frente dos acontecimentos, o organismo aboliu os privilégios fiscais (o que reduziu o poder político da nobreza, da Igreja e de muitas cidades e províncias) e criou um sistema administrativo uniforme com a extinção das antigas províncias e Assembleias locais. Em 1791, foi criado um Estado centralizado com uma nova Constituição baseada em uma monarquia limitada, em parceria com uma Assembleia eleita, fundamentada na riqueza. Cessava aí o consenso entre os revolucionários. Entre 1791 e 1799, a Revolução Francesa foi marcada por dissensões violentas na nova classe política, com questionamentos sobre o grau de democracia da Constituição, a validade da monarquia e, fundamentalmente, sobre a continuidade da revolução. Enquanto isso na América do Norte divergências semelhantes evoluíram de forma, em geral, tranquila. 
                Na França três fatores precipitaram a violência: Luiz XVI tentou emergir como centro de oposição à Constituição; muitas formas, especialmente as que afetavam a Igreja, eram impopulares no campo; e, acima de tudo, as outras potências européias logo interviram para tentar deter a Revolução que se aproximava e tirar partido de uma França debilitada. Tudo contribuiu  para jogar por terra o pacto de 1791. 
                 Em 1792, a França estava em guerra com Áustria e Prússia e, em 1793, com a Grã-Bretanha. No mesmo ano, Luiz XVI e a Constituição deram lugar a uma República com um governo de guerra apoiado em nova Convenção Nacional, eleita por sufrágio masculino universal. Dissensões levaram os revolucionários a uma guerra civil. E, após vários expurgos do governo e abandono da Constituição democrática de 1793, houve um consenso que permitiu a Napoleão tomar o poder em 1799 como ditador militar comprometido em proteger as novas classes políticas, embora privando-as do poder. 
                A diversidade na composição e nos interesses das diversas camadas sociais explica porque a Revolução Francesa atravessou diversas fases, à medida que os acontecimentos favoreciam a ascensão de uma  ou outra facção ao poder. 
              Além do mais, a maior parte dos interesses em jogo não era necessariamente contrária á existência da monarquia, desde que constitucional. Luis XVI perdeu seu trono em 1792 e pouco depois sua cabeça em 1793 devido à sua própria incapacidade de definir-se diante da Revolução. Com eleito, se ele favoreceu a burguesia nomeando Turgot ministro das Finanças em 1774, impediu que as reformas se completassem demitindo-o bruscamente em 1776. Seguiu escolhendo ministros reformistas (Necker -  de 1776 a 1781; Calone de 12783 a 1787; Brienne de 1787 a 1788 e novamente Necker  que seguiu até à revolução), mas permitiu que a oposição da nobreza reduzisse  a nada o programa dos ministros. A convocação dos estados Gerais para 1789 representou a derradeira tentativa de conciliação. O falatório dos tribunos serviu apenas para demonstrar que suas divergências  eram profundas demais. Sem esperar pela conclusão dos parlamentares, esgotou-se a paciência popular. A 14 de julho de 1789, o Terceiro Estado(Povo) passou às armas, atacando a ´risão da Bastilha  e iniciando um novo período da história da França. 
              Foi a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, o sinal para a revolta. A velha e tétrica prisão, onde enlanguesciam os primeiros espíritos revolucionários, era o símbolo do despotismo. A seguir, vieram os turbilhonantes dias de outubro, quando a massa do povo parisiense, onde havia milhares de mulheres famintas, avançou sobre o castelo de Versalhes e, após invadi-lo, obrigou o rei a voltar a Paris. A Revolução Francesa estava em marcha. 
                Quando em 12 de setembro de 1792, numa atmosfera ainda rubra de lutas e sangue, foi proclamada oficialmente a República Francesa, e os princípios de um governo democrático, segundo o qual os homens devem ser livres e iguais em seus direitos de liberdade, de propriedade, de segurança pessoal e de resistência à opressão, foram enunciados, pela primeira vez, no antigo berço da monarquia francesa, o mundo inteiro compreendeu que os dramáticos dias que os cidadãos de paris haviam vivido, não pertenciam somente à história de uma cidade, mas assinalavam o advento de uma nova ordem de coisas, um novo mundo. 
               O processo revolucionário francês é, sem dúvida, o mais importante dentro do agitado panorama político do século XVIII. Foi, além disso, um dos mais polêmicos. A historiografia preocupou-se constantemente dele e são milhares os escritos que apresentam a Revolução Francesa como uma grande façanha ou, ao contrário, como um acontecimento pernicioso e até desnecessário para a França e à cultura ocidental. 
                 É difícil elucidar os motivos que conduziram a esta obsessão pelo tema. Muitos são os fatores que se aglutinam em torno da França e da Revolução, apresentando-a como um tema apaixonante e extraordinariamente complexo. 
                 A monarquia absolutista francesa chegou com Luiz XIV e a sua máxima expressão de grandeza e centralização. Seu sucessor, Luiz XV (1715 x 1774), teve, entretanto, menos êxito. Apesar de o esplendor de sua corte não ter diminuído em relação à época do Rei Sol e ninguém ter questionado o seu absolutismo, a maioria de suas iniciativas em política exterior fracassou. A infrutífera participação da França na Guerra dos Sete Anos e na contenda pela sucessão Austríaca significou ao país mais poderoso da Europa perder seus territórios na Índia e na América do Norte.  
               A humilhação destas derrotas foi parcialmente compensada pelo bem-sucedido apoio da França à revolução das colônias inglesas entre 1776 e 1783, embora a sua independência de nada tenha servido para recuperar o que perderam em 1763. Pelo contrário, investiu-ser uma quantidade de dinheiro considerável, proveniente do Tesouro do Estado. A França encontrava-se em meio a uma crise financeira de grandes proporções, acentuada pelo crescimento populacional e pela subida dos preços, especialmente dos alimentos, que em algumas regiões se quadruplicou durante o século XVIII. Para evitar a bancarrota, o governo de Luiz XVI (1774 x 1793) chamou uma sucessão de conselheiros especializados que recomendam uma ampla gama de soluções, como, por exemplo, elevar os impostos (que recaíam principalmente no "Terceiro Estado"), ou reduzir os gastos. Todas as tentativas foram inúteis e não foi possível equilibrar o orçamento. Finalmente o governo tentou uma nova saída: cobrar impostos dos setores que estavam isentos: a nobreza e o clero. 
                Os dois grupos estavam dispostos a não perder este importante privilégio, ainda mais se considerarmos que, com o absolutismo dos Capetos, perderam toda a ingerência no governo. Tão profunda era a crise que Luiz XVI decidiu convocar os Estados gerais, a antiga assembléia representativa da França, que não se reunia desde 1614. 
                Esta importante convocação tornou-se realidade em maio de 1789, dentro de uma atmosfera de desespero geral, produto das más colheitas dos anos 1787 e 1788. A coroa perdeu o controle quase imediatamente. Durante três semanas houve disputas entre os três Estados a respeito da forma de votar, a nobreza e o clero eram defensores do voto por classe social; o Terceiro estado, do voto por cabeça. 
              Apoiado por alguns nobres e sacerdotes simpatizantes, a e dada a esterilidade da reunião, o Terceiro estado constituiu-se em junho na "Assembléia Nacional", exigindo garantias efetivas para os direitos básicos dos franceses, uma monarquia constitucional com uma assembléia representativa e outras reformas que aboliram os privilégios dos nobres e dos sacerdotes.
                 Este conceitos ganharam força entre os intelectuais no transcurso do século XVIII e eram perfeitamente conhecidos entre os franceses alfabetizados. 
                 Entretanto, Luiz XVI relutou em aceitar estas reformas. No princípio de julho, decidiu dissolver a Assembléia Nacional pela força, fato que, somado à impaciência do povo parisiense, contribuiu para polarizar os ânimos e agravar a situação que já era crítica.
                  No dia 5 de maio de 1789, em Versalhes, reuniram-se 1145 homens, chamados pelo Rei para deliberar quanto aos destinos da França; daquela França que, por causa da pluri-decenal incúria  de seus ministros e de seus soberanos, já marchava à deriva, como se fora uma nau desgovernada. Duzentos e setenta, entre os deputados reunidos em Versalhes, representavam a intiga e a recente nobreza da França; duzentos e noventa e um eram os representantes do clero, a segunda classe, pela riqueza e privilégios; os remanescentes 584 representavam, na assembléia, os direitos do terceiro estado, isto é, da burguesia e da arraia miúda.
                A abertura dos estados Gerais ocorria em um clima envenenado pelo ódio de classes; as primeiras sessões, em que se discutiu o sistema de votação, não fizeram mais do que aumentar o atrito, revelando o insanável dissídio entre o clero e a nobreza de um lado e o terceiro Estado do outro. Os representantes deste último, que, entre outras coisas, propunham as soluções mais lógicas, acabaram por se separarem do resto da assembléia, reunindo-se, visto que o Rei lhes vedara o acesso na sala de sessões, no recinto dos esportes (aquilo que equivaleria, em nossos dias, a uma quadra de tênis coberta); tendo constatado que eles representavam a grande maioria da população francesa, os deputados do terceiro estado constituíram-se em Assembléia Nacional e, após o discurso que o rei pronunciou, três dias depois, recusaram dissolver-se. Ante esta situação, também os demais deputados aderiram ao movimento. No dia 27 de junho era oficialmente inaugurada a Assembleia Nacional Constituinte, que se propunha reordenar pela base o regime político do País.  
             A Revolução estava em marcha antes que a corte pudesse certificar-se disso; e o povo, de que a Assembléia representava somente em parte o copo diretivo, vinha bruscamente à ribalta e vibrava um primeiro e terrível golpe. Surgia em Paris, no bairro de Santo Antônio, um enorme edifício cinzento, forte com suas catorze torres, cheio de ameias e canhões: a Bastilha. Fazia mais de quatro séculos que a gigantesca fortaleza, onde qualquer pessoa podia ser trancafiada por uma simples ordem do soberano, representava, em Paris, o símbolo do absolutismo; homens de qualquer condição, literatos, nobres, populares, culpados e inocentes, consumiram a vida e morreram entre aquelas paredes. Em Paris, na noite de 14 de julho, respirava-se ar de barricadas; a revolta dos representantes do terceiro estado tinha agido como um clarim de guerra sobre a alma dos parisienses, e a sedição estava em ato. Pela manhã, os grupos de populares,que durante a noite tinham acampado e rumorejado pelas ruas, uma multidão, verdadeira maré que, como que levada por um obscuro instinto, marchou contra a Bastilha. Aos gritos da plebe, que exigia a libertação dos prisioneiros políticos, a Bastilha Opôs o cego silêncio de suas muralhas; à primeira sraivada, aos primeiros tiros que ecoaram no gigante de pedra, as bocas de bronze dos canhões apareceram nas ameias e a metralha varreu o povo de Paris. O sangue, o troar dos canhões, os gritos levaram ao paroxismo a excitação do povo: aquela que não teria passado de uma demonstração política tornou-se assalto e fúria destruidora. Sob o ímpeto da massa, cederam, em poucas horas, as portas e os torrões da fortaleza; um rio de homens furibundos irrompeu para além dos fossos, abatendo, destruindo, matando. O governador da Bastilha, Delaunay, aguardou friamente o choque; pouco depois, sua cabeça, já decapitada, ondulava, metida em uma lança, por sobre a multidão; três dos suíços que, fiéis à ordem, tinham permanecido no posto, foram massacrados. A noite caiu sobre a vitória do povo e sobre a nova e mais grave derrota da monarquia: pouco tempo depois, no local onde fora a Bastyilha, transformado em uma grande praça, o povo de Paris dançava a "Carmagnole".
               Agora, qualquer ilusão de poder reconduz\ir as coisas à normalidade, reduzindo a revolução ao estado de um simples motim, caíra também nos ambientes mais renitentes da Corte. Procurou-se salvar o salvável; por isso, o rei tentou entender-se com o único homem que poderia salvaguardar os interesses da monarquia, sem fazer sombra aos representantes do povo, o Conde Gabriel Honorato de Mirabeau. Este, nobre de nascimento, mas despido de recursos financeiros, turbulento e malvisto aos expoentes de sua classe, fizera-se eleger deputado do terceiro estado; aqui passou a ser, pelo contraste existente entre sua condição social e suas ideias políticas, o mediador natural entre as duas potências em luta. A tentativa de conciliação deste homem, valorizado por um engenho e por faculdades tribunícia excepcionais, mas viciado pelo escasso respeito que nobreza e povo tinham por ele (era conhecida sua vida, desregrada e não imune de corrupção), naufragou quando estava para dar seus frutos; em abril de 1791, o grande tribuno morria, e a monarquia encontrou-se novamente sozinha diante da crescente e agora já incontível torrente da Revolução.
           Assim, o dia 14 de Julho de 1789, chegou-se a um dos acontecimentos mais simbólicos da Revolução Francesa: a Queda da Bastilha, um fortaleza que representava para os parisienses o baluarte do absolutismo. De alguma maneira, este fato marcou o fim da antiga ordem. 
                Durante o mês de agosto, a Assembléia aprovou uma série de decretos fundamentais que aboliram a isenção de impostos, o recebimento do dízimo, o monopólio aristocrático sobre os cargos públicos e o antigo sistema feudal. Também promulgou a Declaração de Direitos Humanos e do Cidadão, que proclamava a liberdade, a igualdade e respeito pela vida e à propriedade como os fundamentos do novo Estado. Estabeleceu a igualdade perante a lei e o imposto, a liberdade de expressão e os cargos abertos ao talento. Esta declaração foi um manifesto às classes médias que controlavam a Assembléia e a todos os liberais europeus do século seguinte. 
               A secularização da Igreja foi outra das obras da Assembléia. A Constituição civil do clero dispunha que todos os bispos e  sacerdotes fossem eleitos pelo povo, e submetidos à autoridade do estado. O tesouro público pagaria seus salários e seria exigido que jurassem à nova Constituição. Esta medida adotada pela Assembléia Nacional foi, talvez, uma das mais polêmicas, já que dividiu profundamente a sociedade e mesmo a igreja.
                Em setembro de 1791, a Assembléia deu por encerrada  sua missão ao ser proclamada a Constituição. este documento convertia a França em uma monarquia constitucional, co o rei cujo poder era limitado por corpos administrativos eleitos entre os cidadãos, com direito a voto, de acordo com o critério censitário. Além disso,  estabelecia a separação dos poderes, impondo assim uma das ideias-chave do pensamento ilustrado.  
               O ano de 1791 foi marcado por violentos distúrbios, produto do rumo que tomavam os acontecimentos. Muitos franceses fugiram do país e começaram a organizar a contra-revolução. 
                A ameaça estrangeira foi um fator fundamental para o posterior desenvolvimento da Revolução. Assumindo esta possibilidade, às vezes mais realista que outras, os revolucionários buscaram aprofundar as mudanças para assegurar os resultados da revolução, que se radicalizou a partir de 1792, deixando de lado os objetivos primitivos. 
                 O "grande Medo", os distúrbios no campo e nas cidades e a declaração de guerra à Áustria, no mês de abril, selariam o desenvolvimento posterior da revolução. 
                  Em agosto decidiu-se pela deposição da monarquia, após Luiz XVI ter protagonizado um vergonhoso episódio ao tentar fugir para a Áustria. Para os revolucionários, a tentativa do monarca de escapar da França confirmou os temores de uma grande contra-revolução orquestrada do exterior. O rei foi feito prisioneiro no Palácio das Tulherias junto com toda sua família. Julgado por traição à pátria, foi condenado a morrer na guilhotina, sentença que foi cumprida em janeiro de 1793. Em outubro deste mesmo ano, a rainha Maria Antonieta teve a mesma sorte. 
                  O período de terror iniciou-se em meio a um ambiente viciado, produto da guerra, que era então continental, e das fortes disputal internas entre os mesmos revolucionários. 
            O líder de governo jacobino foi Maximiliano Robespierre, um advogado das arrás que quis fazer da França um Estado moralista onde a razão tomaria o lugar da religião. O governo republicano deixou nas mãos do comitê da Salvação Pública os destinos da França, Suspendendo, além disso, a vigência da Constituição. Assim, a França era governada por um pequeno grupo de jacobinos que radicalizaram ainda mais o processo, ao apoiar-se na "lei dos suspeitos", para desbaratar qualquer tentativa de complô, e na guilhotina. Inclusive, fizeram com que a França adotasse um calendário próprio, marcando o seu início com o começo da República. 
              O primeiro ato político importante da República Francesa, nascida da primeira plebiscitária votação da Convenção, foi a decisão de submeter o rei a um processo regular, sob a acusação de conivência com o inimigo, de traição a dano da nação, e assim por diante. O processo, na realidade, tinha o objetivo de legitimar a morte do rei aos olhos dos estrangeiros, do país e dos próprios acusadores, porque parecia evidente, a muitos, que a própria existência de Luiz XVI, ou de seu legítimo herdeiro, constituiria um perigo constante para a República; em redor do rei exilado (na França, obviamente, não poderia permanecer) poderiam juntar-se todos os emigrados, os legitimados de todos os países, e não faltaria também, na pátria, a formação de um forte partido favorável à restauração; de outro lado, o clima envenenado daqueles dias, a exasperação dos ânimos, a ferocidade dos maiores expoentes da revolução não permitiam meias medidas; nos momentos de desordem, os Marat e os Robespierre, sempre presentes em qualquer multidão, surgiriam em primeiro plano e imprimiriam aos eventos a selvagem violência que os animavam. Orei, portanto, foi processado, reconhecido culpado, condenado  à morte por uma exígua maioria de votos (parece certo que o veredito das urnas tenha sido alterado por Robespierre, que se opôs também a um  referendum popular). Luis XVI transcorreu os últimos sombrios dias de sua breve existência com a família, na Torre do Templo; em 21 de janeiro de 1793, o desventurado herdeiro de Hugo Capeto subia os degraus da guilhotina. Como se o último freio houvesse cedido, a França, após a morte do rei, rolou sempre mais rapidamente para a desordem, em um horrendo banho de sangue. Dois homens dominavam o cenário político, diferentes em índole e aspecto, mas ambos violentos e perigosos: Jorge Danton, maciço e impiedoso, e Maximiliano de Robespierre, magro, frio e cruel. Com o inimigo às portas, a custo contido pelas milícias republicanas, com a Vendéia (região provavelmente monárquica) em aberta revolta contra o estado, qualquer providência, ainda que atroz e absurda, parecia legítima; assim foi recebido como coisa justa o tribunal revolucionário, encarregado de encher de inocentes as carretas que transportavam os condenados para a guilhotina, e o Comitê de Saúde Pública, transformado, por obra de Danton e de Robespierre, em um órgão de terror. Entre os dois chefes do povo (expoente um, Danton, do "Clube dos Coldeliers" e depois daquele da Montanha, o outro, Robespierre, dos Jacobinos, iam-se verificando atritos sempre mais graves; se, em Danton, a ferocidade era temperada e quase justificada por um caráter generoso e por um profundo amor à pátria, em Robespierre, ela aparecia em sua desumana crueza; este homem, frio como seu olhar, sem afetos nem paixões, incorruptível e desapiedado, era um asceta da revolução, dedicado ao seu objetivo, que pretendia alcançar mesmo à custa de semear seu caminho com cadáveres. Danton acabou sucumbindo ao choque, e com ele pereceram na guilhotina seus adeptos. Agora, já o terror não tinha mais limites; também Maria Antonieta foi executada,  apos um breve processo, e seu filho, o Delfim, confiado a um sapateiro, para que o criasse; provavelmente, o jovem príncipe morreu pouco depois, mas, o fato que nada mais se soube dele, criou as mais estranhas lendas a seu respeito e fez surgir, aqui e acolá, alguns anos depois, vários pretendentes ao trono, que alegavam ser o Delfim. Mortos Danton e Marat (este foi morto na banheira com uma faca, pela Carlota Corday d'Amont, jovem filiada ao partido girondino); Robespierre, chefe efetivo do Comitê de Saúde Pública, imperou no país como um ditador; o ritmo  das execuções foi-se acelerando, assistiu ao massacre de milhares de pessoas que com a política nada tinham que ver, até que se chegou, em 1794, a executar mais de duzentas pessoas por semana somente em Paris. Tempos de ouro, portanto, para os carrascos e coveiros. Era evidente (e somente Robespierre, em sua fria e sanguinária loucura, podia não perceber) que as medidas estavam transbordando; os próprios colegas do ditador sabiam que sua vida estava presa a um fio, enquanto aquele paranoico permanecesse no poder. Bastou que ele afrouxasse por alguns dias seu controle sobre a Assembléia para que esta se lhe voltasse contra, decretando-lhe a condenação à morte. Inicialmente fugiu à revolta dos deputados à Convenção refugiando-se entre amigos, no "Hotel de Ville", onde alcançado. Preso, libertado pelos seus companheiros e novamente aprisionado, o tirano subiu os degraus daquele patíbulo sobre o qual mandara à morte milhares de inocentes. 
              Como podemos ver, as tenções entre os jacobinos não se fizeram esperar. Finalmente, foi o próprio Robespierre quem perdeu a vida na guilhotina. Com sua morte, em julho de 1794, o governo do Comitê de salvação Pública e do Terror jacobino chegou ao seu fim. 
              A reação ao governo de Robespierre não tardou achegar: o chamado "Terror Branco" fez estragos no sul da França e os girondinos voltaram ao poder instaurando o governo do Diretório, em 1795. 
                     Naturalmente, os homens que o substituíram não eram melhores do que ele; a reação contra seus supértites partidários foi implacável e durou muito tempo. Os "termidoranos" (assim denominados devido ao mês em que ocorrera a revolta contra Robespierre; no calendário republicano, o mês de Julho fora rebatizado "termidor") mantiveram-se no poder pouco mais de uma ano; segundo uma lei votada pela Convenção, em 1793, lei que entrou  em vigor exatamente em 1795, a França recebia um governo estável, com um Diretório de duas Câmaras. O úlçtimo fatosaliente da época propriamente revolucionária foi um extremo ataque dos realistas à Convenção, em setembro de 1795; os revoltosos foram dispersos, a tiros de canhão, por um jovem general republicano, Napoleão Bonaparte
             O Diretório governou os destinos da França até 1799, em meio a uma corrupção generalizada. 
              Este período, marcado por campanhas militares no estrangeiro, viu nascer para a vida pública um homem que estaria destinado a desempenhar um papel destacado na França pós-revolucionária: corso Napoleão Bonaparte. 
                                Hoje,  o povo de Paris festeja a data de 14 de julho com uma alegria e pompa sem par, e danças e cantos se improvisam pelas ruas da "cidade-luz". 
              Em 1952, Paris comemorou o seu segundo milênio, com festejos poucas vezes vistos em qualquer outra parte do mundo. 
              E as águas do Sena continuam acariciando certamente a pequena ilha onde surgiu Lutécia. Palpita a vida parisiense na "Cité", totalmente reconstruída e modernizada. Todavia, quando alguém vai flanando pelas suas belas alamedas e para de repente, diante do imponente palácio da Justiça, não pode conter um gesto de emoção. É que o edifício foi levantado exatamente no local em que, em tempos que já vão longe. Constâncio Cloro erigiu seu palácio, onde o primeiro rei francês, Clodoveu, quis que fosse sua mansão. E não será talvez uma advertência para toda a França, essa coincidência, como a lembrar a todos os seus súditos que somente a Justiça tem direito de reinar como soberana incontestável? 

Como foi a tentativa de  fuga de luis XVI
               Enquanto o conde de Mirabeua, do alto de suas improvisadas tribunas, trovejava contra reacionários e mazorqueiros, procurando induzir a corte às mais amplas concessões e ao mesmo tempo conter a fúria sanguinária dos extremistas, os eventos sucediam-se, inevitáveis e definitivos, como catástrofes naturais. Em 5 de outubro de 1789, poucos meses depois  da tomada da Bastilha, o povo de Paris, excitado pela ira dos demagogos e faminto pela carestia que, na desordem geral, estava assolando a França, mandou uma sua delegação a Versalhes, a fim de conversar com o rei: uma delegação, a despeito das normas diplomáticas, muito bem armada, composta de vários milhares de homens e mulheres gritando ameaçadoramente. O própreio soberano - Luis XVI era um homem excessivamente bom e meigo, incapaz de uma ação de força - opôs-se a que as tropas carregassem e dissolvessem a multidão que as acotovelava debaixo de suas janelas; a plebe invadiu os jardins, que séculos de cuidados tinham tornado preciosos como jóias, invadiu os salões recobertos de afrescos e parou somente quando diante dos monarcas que, apesar de tudo, ainda impunham certo respeito. O rei, a rainha e a corte tomaram assim contato, dura e bruscamente, com a Revolução, e quando a maré popular refluiu o paço, eles já estavam certos de que não só seus privilégios, mas sua vida e a própria monarquia estavam em perigo. Um após outro, de cambulhada, os nobres ajuntaram quanto puderam de seus bens e fugiram para o exterior, de modo que bem cedo a família real se encontrou quase completamente isolada. Ainda por algum tempo, Luiz XVI teve a sensação de que a popularidade sua e de sua casa, não houvesse desaparecido; sua adesão à festa programada  para o Campo de Marte, no aniversário da tomada da Bastilha, provocou ovações de parte do povo, mas lhe custou humilhações às quais nenhum soberano da França estava acostumado. 
               De Versalhes, imediatamente após a invasão popular, a corte transferiu-se para Paris, para as Tulherias. Aqui, à medida que os meses passaram, o rei mais  e mais se compenetrava de que não era mais do que um prisioneiro de seus súditos. Haviam passado apenas setenta anos desde a época de ouro de Luiz XIV, mas desde esse tempo as coisas haviam mudado e as ideias revolucionárias, saídas dos restritos cenáculos dos pensadores iluministas, tinham encontrado, na França, terreno fértil. Em Paris, estava adquirindo sempre maior prestígio o clube dos Jacobinos que, nascido  com ideias reformadoras algo moderadas e inicialmente favoráveis à monarquia, na qual reconhecia uma função equilibrada, ia-se inclinando sempre mais para uma política extremista. Mirabeau, o único homem talvez que poderia tentar um extremo salvamento da instituição monárquica, pronunciou seu último grande discurso justamente no clube jacobino, mas, com sua poderosa figura, desapareceu o último aliado dos Burbons. Quando o rei pudesse contar com o esforço de Mireabeau para escoar o trono vacilante pode-se deduzir confrontando duas datas, aquelada morte do tribuno em 2 de abril de 1791, e aquela da derradeira tentativa para evitar os fatos. Já desde muitas partes chegara ao rei o conselho de refugiar-se no estrangeiro, sob a proteção das armas austríacas ou prussianas, e tinham-lhe oferecido auxílios para facilitar a fuga. O rei não quisera nunca aceitar, talvez mais pela sua natural incapacidade de tomar uma decisão irrevogável do que pelo orgulho de soberano. A morte de Mirabeau truncou as hesitações e sacudiu a inércia de Luiz XVI, mas tratava-se de uma decisão tardia, tomada sob a urgência dos acontecimentos e, por isso mesmo, mal preparada. Impelida pela ameaça agora sempre mais grave e iminente, a família real resolveu abandonar Paris a fim de refugiar-se em uma província segura. Na noite de 20 de junho, pouco tempo depois da morte do grande tribuno, a família real,disfarçada e acompanhada de pouquíssimas pessoas de confiança, saía por uma porta secundária das Tulherias, retirando-se em uma ampla carruagem. O objetivo da viagem não era aquela de ultrapassar a fronteira, mas o de alcançar o exército do marquês de Boullè, acampado perto de Montmédy. Nas primeiras horas, a fuga parecia transcorrer favorável, mas, infelizmente, em Varennes, quando se procedia à troca dos cavalos, um homem olhou para dentro das janelinhas, que estavam com as cortinas levantadas, e reconheceu o rei. A notícia espalhou-se num relâmpago; não podia haver equívoco quanto aos motivos que tinham conduzido até lá o rei e os seus, disfarçados. Imediatamente, as autoridades  locais providenciaram para bloquear a estação de muda, pediram reforços de tropas e informaram Paris. A família real foi obrigada a desembarcar e, hospedada em uma estalagem, pouco depois era entreegue à Guarda Nacional e reconduzida a Paris, sob uma boa escolta. A notícia da fuga já se espalhara por toda parte e, durante a viagem de regresso, a família real teve que sofrer os sarcasmos e os escárnios da multidão. Ao reentrar nas Tulherias, o rei sabia que os dias de vida da monarquia estavam contados. E, de fato, a Assembléia Nacional providenciou logo para suspendê-lo de suas funções. Durante três meses, enquanto não foi reintegrado, Luiz XVI foi um rei sem reinado, um monarca em exílio, em seu próprio palácio. 


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