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quarta-feira, 13 de maio de 2020

A EUROPA DEPOIS DA REVOLUÇÃO FRANCESA




             Entre 1755 a 1810 o mundo ocidental viu-se agitado por movimentos liberais. Buscavam mudar a ordem estabelecida pelos governos de caráter absolutista, ou tornaram-se independentes de certas forças tutoras aristocráticas, com é o caso da Suíça. Em um e outro lado do oceano, a Revolução estendeu-se como uma onda difícil de frear. Esses movimentos inspiraram-se nas ideias iluministas, especialmente nas expressadas por Rousseau. Além disso, o sistema absolutista estava passando por uma profunda crise. Sua queda apresentou-se praticamente como inevitável. Esta época ficou conhecida como a Era das revoluções. 
                Durante todo o desenvolvimento da revolução, o povo parisiense teve um destacado papel. Apesar de não participar diretamente no governo da França revolucionária, suas manifestações influenciaram marcadamente as decisões políticas. 
               No dia 14 de julho de 1789 o povo tomou de assalto a fortaleza da "Bastilha". Este edifício foi construído no século XIV e era o baluarte do absolutismo e um símbolo do Antigo Regime. Segundo alguns autores, os revolucionários pretendiam apoderar-se das armas que se encontravam no edifício. Entretanto, estas não existiam, e a importância do fato reside no seu simbolismo. Este acontecimento é recordado a cada 14 de julho,que é o dia nacional da França.
                    Enquanto na França a queda da monarquia se delineava bem próxima, o crescente rumor do tumulto popular chegava a abalar os soberanos da Europa, dentro das paredes seguras de suas cortes. Estava patente, já a todos, como as ideias de liberdade e de igualidade, que até então tinham sido consideradas somente como interessantes proposições filosóficas ou projetos utopistas de inocentes eruditos, tinham calado no ´[intimo do povo, a quem séculos de ignorância e servidão não haviam privado de capacidades lógicas e de aspirações a uma sociedade melhor: o povo havia-se rebelado, tornara suas as doutrinas dos reformadores iluministas, interrompendo-as segundo as próprias possibilidades e os próprios interesses, compreendera que havia sofrido, durante inúmeras gerações, uma colossal série de injustiças e estava firmemente decidido a por-lhe cobro no mais breve tempo possível. O ruir da Bastilha provocara, em toda a Europa, ecos sinistros; urgia por um paradeiro em tempo à maré avassaladora, para que, depois de haver submergido, na França, todos os vestígios da velha ordem, não extravasasse além das fronteiras. Áustria e Prússia puseram-se em movimento, certas de que derrotariam facilmente uma nação que parecia presa da mais ampla anarquia; vive-versa, não fizera mais do que apressar a obra de reorganização dos órgãos centrais franceses que, diante do perigo comum, encontraram a nação mais firme do que nunca. O exército, isto é, o povo, não combatia mais, como no passado, contra inimigos desconhecidos e por motivos que ele ignorava; cada soldado tinha a sensação de bater-se pela sua casa e por aqueles direitos que acabara de conquistar. A Assembleia Constituinte da França terminara seus trabalhos em setembro de 1791; e a ela sucedera a primeira Assembléia Legislativa que, todavia, não parecia estar em condições, seja pela estatura política de seus expoentes, seja pela natureza de suas relações com o soberano, de assegurar firme direção ao país. Já a situação, doutro lado, fugia sempre mais ao controle central; de todos os lados, surgiam pequenos ditadores locais, as massas populares obedeciam aos demagogos que as manobravam e atiravam-se, com cega violência, ora ora numa ora noutra direção, segundo o bafejo dos ventos políticos mutáveis. 
                  Em 20 de junho de 1792, a Europa assistira incrédula o povo atacando em massa os palácio das Tulherias, e os verdadeiros responsáveis pelo Estado não mais podiam mover um dedo para detê-lo. Com fúria bestial, a plebe transpôs portas e portões, interrompeu os átrios, massacrou os Suíços que residiam, fiéis às ordens recebidas, matou os heroicos oficiais da Guarda, que tentavam, sozinhos, deter a avalancha. Pelas ruas de Paris, enfurecida a selvagem represália da Comuna, que prendia e mandava para a guilhotina centenas de pessoas, sob a acusação genérica de "inimigos do povo". 
            A coerência ideológica e administrativa diferenciou  o império dos demais então existentes, em especial o dos Habsburgos e o Otomano. Para os habitantes da França, Itália, Alemanha, Espanha e Países baixos, significou uma nova e frequentemente traumática experiência de viver em um Estado moderno.
               Todo esse movimento permitiu o surgimento de um grande militar: Napoleão Bonaparte. Quando tornou-se primeiro cônsul e chefe da República Francesa em novembro  de 1799, Napoleão tinha apenas 30 anos. Aos 28 já era general do exército revolucionário, ascensão facilitada pelo caos reinante da guerra contínua entre a França e a aliança de potências anti-revolucionárias, lideradas pela Grã-Bretanha, Áustria e Rússia.
                A contribuição mais importante de Napoleão Bonaparte para a história da Europa moderna não reside na sua brilhante carreira militar, mas na criação, na Europa Ocidental, de um império governado segundo preceitos introduzidos pela Revolução Francesa. Porém, Napoleão demonstrou audácia e habilidade política, explorando suas vitórias militares no norte da Itália em 1796/7. Desenvolveu uma linha pessoal e eficaz de ação diplomática, negociando a paz com os austríacos derrotados. Assim, criou no norte da Itália a República Cisalpina. Apoiado numa reduzida classe social de italianos patriotas pró-franceses e, quando possível, em abastados proprietários rurais, o novo Estado de Napoleão buscava seguir o modelo da França republicana. Desde o início de sua carreira política, a essência do pensamento de Napoleão previa a imposição das instituições francesas nas áreas que passava a controlar. 
                Em 1799, Napoleão chegou  ao poder da França por meio de um golpe organizado por políticos influentes com o propósito de reforçar, e não destruir, o moderado regime republicano que governava a França desde 1795: o Diretório. Quatro anos depois os acontecimentos militares viraram-se contra a França e os políticos republicanos temiam que o regime não resistisse a outra derrota militar ou ao ressurgimento da contra-revolução. A elite política, temendo a restauração do republicanismo extremado, com a reeleição do terror, optou por um executivo mais forte centrado no exército. 
              O general Napoleão Bonaparte tinha, então, 31 anos de idade; nasceu na Córsega e alcançou a fama conduzindo as forças revolucionárias francesas em um ataque relâmpago sobre o norte da Itália, além de invadir o Egito. Seu governo autocrático como primeiro cônsul (1799 x 1804) e como imperador (1804 x 1814) foi aceito pelo povo francês depois do caos do último período da revolução. Durante seus primeiros anos no poder justificou as esperanças  de um governo sadio ao introduzir medidas que formariam o alicerce permanente da maioria das instituições francesas Uma lei administrativa de 1800 reorganizou os departaments pelos quais a revolução dividiu a França, reduzindo o poder de seus conselheiros eleitos localmente e colocando um prefeito para representar a autoridade central em cada parte do país. A "Concordata" de 1801 pôs fim à disputa surgida entre a França revolucionária e a Igreja. O Estado tomava controle dos bens temporários da Igreja enquanto o papa se limitava à direção espiritual. A lei da educação de 1801 criou as escolas secundárias estatais, nas quais havia bolsas de estudo e onde a educação estava orientada para a formação de funcionários e oficiais do Exército capacitados. O Código Civil de 1804 teve ainda melhor recepção entre os franceses, sendo mais tarde conhecido como "Código Napoleônico", confirmado a igualdade perante a lei e os direitos de propriedade emanados da Revolução. Permitiu-se aos membros da antiga nobreza compartilhar os benefícios desta legislação, desde que aceitassem o novo regime. Napoleão consolidou a tal ponto os objetivos mais concretos da revolução, que estes se tornaram inalteráveis inclusive depois de sua queda, ainda que, ao  fazê-lo substituísse  a liberdade individual pela eficiência como objetivo do esforço humano. As funções do Parlamento reduziram-se ao mínimo e a atividade administrativa ocupou o lugar da política. A França passou a ser um país de lavradores e proprietários agrícolas, com o pesado fardo de uma burocracia na qual os homens talentosos podiam competir por postos e recompensas. 
             Logo a elite militar uniu-se aos burocratas, porque a paz que Bonaparte conseguiu no princípio de sua carreira durou pouco e entre 1803 e 1814 esteve constantemente em guerra. Os exércitos franceses, que haviam mostrado seu potencial durante a Revolução, alcançaram seus maiores resultados devido ao gênio administrativo e brilhante liderança de Napoleão como general. Ao abandonar a antiga estratégia militar do cerco, Napoleão procurou derrotar as forças inimigas no campo de batalha depois de manobrar melhor que elas para dividi-las e com isso superá-las em número. Conseguiu vitórias avassaladoras sobre a Áustria, em Austerlitz (1805); Prússia, em Iena (1806); e Rússia, em Friedland (1807), dando-lhe a supremacia na Europa. Uma invasão relâmpago da espanha em 1808 trouxe uma força naval expedicionária britânica a La Coruna, e novamente as hostilidades austríacas em 1809 produziram outra rápida vitória dos franceses em Wagram. Os êxitos militares foram acompanhados por uma agressiva diplomacia. Anexavam-se os territórios na fronteira com a França; a Suíça passou à "proteção" francesa; os príncipes governantes da Alemanha Ocidental aliaram-se a Napoleão em troca da expansão de seus estados; a Espanha, o nordeste da Itália, Nápoles e Westfália transformaram-se em reinos- satélites dirigidos por membros da família Bonaparte; as terras polonesas arrebatadas da Áustria e Prússia receberam como grão-duque um candidato nomeado por Napoleão. Somente a Áustria e a Prússia, muito menores, conservaram uma precária independência junto à enigmática Rússia.
            Napoleão nunca estava satisfeito, e insistiu que todos os seus governantes títeres, inclusive os mais distantes, estabelecessem instituições no estilo francês, caso houvesse alguma possibilidade, e adotassem seu código. Sua intenção era levar a cabo uma revolução social nas regiões mais retrógradas, como a Polônia, e também aproveitar os recursos de todo o império às necessidades da França. O êxito das novas instituições para criar uma sociedade fundamentada na riqueza e no mérito, e não em convenções e privilégios , foi maior nos Países Baixos, nas regiões às margens do reno e no nordeste da Itália, onde, por muito tempo, o feudalismo vinha desmoronando e os exércitos da Revolução Francesa assentavam as bases das idéias francesas, mas em nenhuma parte o resultado foi desprezível. Além disso, a influência de napoleão não se limitou ao continente europeu. Suas reformas, de inspiração secular e, portanto, não ligadas ao cristianismo, foram adotadas como modelo por Maomé (Mohammed) Ali, do Egito, e pelo sultão otomano Mahmud II no século XIX. O "Código Napoleônico" passou a ser modelo às reformas legais na América do Sul e no Japão. 
              Por sorte, para Napoleão, praticamente não existia nessa época um sentimento nacional na Alemanha nem da Itália. Apesar do ressentimento criados pelos abusos econômicos da França, muitos jovens dos territórios anexados ou aliados valorizavam as oportunidades de fazer carreira que foram abertas através das instituições napoleônicas e com a fusão de Estados insignificantes em unidades territoriais maiores. 
              Estas campanhas, que terminaram com uma aliança instável entre a Rússia, na "Paz de Tilsit", em 1807, estenderam o domínio francês à Europa Central. Nessas áreas foram criados reinos satélites; os Grão-Ducado de Berg, governado pelo próprio Napoleão; o Reino de Westfália, administrado por seu irmão, Jerônimo; o Grão-Ducado de Varsóvia; uma limitada restauração da Polônia; na Itália, enquanto o Reino de Nápoles ficou sob as ordens de seu irmão mais velho, José, restou a Napoleão o governo do Reino da Itália, ao norte. Luiz, outro irmão Bonaparte, tornou-se rei da Holanda, reino instituído em lugar da República Batava, o mais antigo Estado-satélite da França. 
           Tais governos presenciaram tentativas de introdução dos aspectos mais importantes do sistema administrativo francês. Na prática, isto significa investidas contra os privilégios feudais da nobreza, a posição ocupada pela igreja na sociedade e as arraigadas tradições nacionalistas. Reformas de inspiração francesa foram também adotadas nos pequenos Estados alemães leais a Napoleão: Baviera, Baden, Württemberg, Nassau e Saxônia.        
             Em 1807, a tentativa de derrotar a Grã-Bretanha levou a expansão francesa à fase seguinte, com consequências desastrosas. Para executar o plano de guerra econômica contra a Grã-Bretanha (o sistema continental) Napoleão foi levado a realizar novas anexações entre 1808 e 1811, primeiro na costa do mar do Norte, até Hamburgo, e na Itália Central - Toscana e Estados Papais. As exigências do bloqueio também o forçaram a intervir diretamente na Espanha, onde em 1808 foi criado um novo reino satélite sob a tutela de seu irmão José. Murat, cunhado de napoleão, assumiu o governo de Nápoles. Essas anexações não foram tranquilas como as anteriores, mas constituíram um império exterior, onde as instituições francesas não chegaram a se tornar uma realidade e as reformas foram combatidas. Na Espanha a extensão do território e a presença de um exército britânico em Portugal dificultaram a ocupação militar francesa, disseminando a resistência armada da população. Nos Estados Papais, a deposição do papa não só causou a excomunhão de Napoleão, mas gerou uma resistência passiva em massa à introdução de instituições francesas de governo. na costa do mar do Norte, o contrabando, fomentado pela Marinha britânica, atingiu proporções alarmantes. As resistências à convocação militar geraram um banditismo quase generalizado. Em 1809, o Estado-cliente da Baviera defrontou-se com uma revolta popular no Tirol, provocada pela introdução de uma série de reformas de modelo francês; na Itália Central e em áreas rurais perto de Veneza, irrompiam diversas rebeliões, embora sem coordenação. A única resistência popular importante á invasão francesa partiu da Espanha, onde a guerra de guerrilhas dos camponeses incentivou um exército britânico sob o mando de sir Arthur Wellesley (depois duque de Wellington) a desembarcar em Portugal em 1809 e abrir caminho lutando pela Espanha até o sul da França em 1813. Os principais inimigos de Napoleão no continente europeu foram os reis dinásticos da Áustria, Prússia e Rússia. os três, por conveniência, aliaram-se em algumas oportunidades a Napoleão, mas a ambição insaciável deste último levou-o, finalmente, a invadir a Rússia em 1812, e sua derrota fez com que os três  monarcas se unissem contra ele. O dinheiro para manter as forças militares desta aliança provinha basicamente da Grã-Bretanha, o inimigo mais persistente da França. 
              Quando Napoleão lançou a desastrosa invasão da Rússia, em 1812, motivada pela recusa do czar em apoiar o bloqueio anti-britânico, a hegemonia francesa ficou seriamente comprometida em todo o império, com exceção do seu núcleo interior - a própria França, a Renânia e o noroeste da Itália. Mas em 1814 até mesmo a França , exaurida financeiramente e esgotada pelo esforço do bloqueio, voltou-se contra napoleão. Seu breve e audacioso retorno ao poder, em 1815 - os cem dias - terminou com uma fragorosa derrota para os aliados, em Waterloo, embora sua impopularidade na França tenha sido transitória. 
             O rápido colapso do sistema estatal napoleônico entre 1812 e 1814 não é capaz de encobrir a influência fundamental da administração francesa na evolução da Europa moderna. Até mesmo adversários do imperialismo francês na França Ocidental abraçaram os princípios que norteavam suas reformas e não escondiam a admiração pela eficiência do estado napoleônico. Os liberais espanhóis, enquanto resistiam ao cerco francês ao porto de Cádiz, redigiram uma Constituição de inspiração francesa. No início do século XIX, reformistas espanhóis, alemães e italianos conceberam o estado moderno em termos essencialmente napoleônico. Por outro lado, a população européia aprendeu a desconfiar deste mesmo modelo, identificando-o com o serviço militar obrigatório, ateísmo e opressão. O período entre 1799 e 1814 presenciou o surgimento de um conjunto de situações que o "Congresso de Viena" não conseguiu eliminar. 
Tentativa de revolta na Polônia
         O século XIX assinala, em todo o mundo, o despertar do espírito nacional e independentista. A Bèlgica também, numa breve  e quase incruenta revolução, que é apoiada pela França e pela Inglaterra, torna-se independente da Holanda.  
            As nações que não possuem limites naturais bem definidos - essencialmente, mares ou cadeias montanhosas - estão sujeitos, mais do que as outras, a invasão, desmembramentos, reivindicações de territórios de parte dos vizinhos. Casos típicos, na Europa, são oferecidos pelo contínuo remanejamento de fronteiras entre os povos de língua alemã, pelas repetidas invasões sofridas pela Hungria, pelos retalhamentos da Polônia. Esta última, especialmente, situada sobre uma interminável planície, cujos únicos pontos firmes são os rios, todos vadeáveis, e algumas baixas gibosidades colinosas, circundada como é por poderosos e belicosos vizinhos, Russo a oriente, Alemães a ocidente, Austro-Húngaros ao sul, tem sido objeto, no decorrer dos três últimos séculos, de tantas cobiças e de tão repetidos desmembramentos, a ponto de não ter nunca conseguido assumir um configuração territorial estável. Quando subiu ao trono Estanislau Poiatowski, o protegido da Rússia, na constituição polonesa, foram efetuadas algumas reformas, mas, que a mutação dos tempos aconselhava com urgência. O País, de fato, era dirigido por um regime marcadamente feudal, no mais restrito sentido da palavra. As reformas, como sempre acontece, provocaram descontentamentos; disso se aproveitou a Rússia para intervir com aspereza e restaurar as condições precedentes. 
           A violência, ainda exercida por vias diplomáticas, irritou os patriotas poloneses, provocou a formação de bandos armados e, afinal, mergulhou o país na guerra civil, além do conflito com a Rússia. Acreditando ter chegado a ocasião favorável, a Turquia, por sua vez, atacou o império do Tzar, mas sofreu uma série clamorosa de derrotas, que a Áustria, preocupada em ver a Rússia tornar-se senhora do Oriente Médio e dos Balcãs, impeliu Catarina a abandonar suas conquistas meridionais, o que, cedo ou tarde, teria provocado intervenção de toda a Europa, e a compensar-se sobre a Polônia. Esta foi, então, repartida em três partes, que Áustria,Rússia e Prússia dividiram entre si como bons amigos. O governo polonês ficou nominalmente senhor de cerca de dois terços do território (nominalmente, porque, na prática, recebia ordens de Moscou). Como se vê, o hábito de tratar os povos como mercadoria de troca estava no auge também no século do iluminismo. Tudo isto aconteceu em 1772. Cerca de vinte anos depois, uma aliança de países da Europa contra a Rússia dava aos Poloneses a possibilidade de reafirmar a própria independência; mas foi um escasso sucesso, porque, um ano depois, a Rússia anexava a si, com a violência, metade do país, impondo de novo sua vontade ao governo de Varsóvia. Não ainda conformados, os poloneses insurgiam-se, pouco depois, em 1794, sob o comando do general Kosciusko, valente defensor da independência e um dos heróis da guerra de libertação americana. Mas, Rússia, Áustria e Prússia caíram-lhe logo em cima. Infelizmente, o valor e a justiça de uma causa por que se combate, em geral, nada podem contra a esmagadora superioridade de forças. 
          A legião polonesa chocou-se contra  o enorme exército russo, comandado pelo feroz ma hábil Suvarov, e foi derrotada. Kosciuszko, ao tombar ferido de morte, teria exclamado: "Finis Poloniae!" como para significar que, com ele, se extinguia o último hálito de independência.  De fato, a Polônia foi, em 1795, definitivamente repartida entre os vencedores e desapareceu do rol das nações livres. A morte de Kosciuszko, na batalha de Maciejowice, assinalou o fim da revolta polonesa e de qualquer esperança de sacudir o jugo estrangeiro. Repartida entre a Rússia, a Prússia e a Áustria, a Polônia, pouco depois, desaparecia da carta geográfica, seus patriotas partiram para o exílio e,por mais de um século, a nobre nação teria que suportar o peso não leve do governo tzarista. Sabemos com o Napoleão, ao aproximar-se do Vístula, suscitou as esperanças dos Poloneses que, por um momento, viram nele o provável libertador; como um corpo de Poloneses, comandado por um Poniatowski (sobrinho de Estanislau), participasse da expedição à Rússia, foi literalmente destruído durante a retirada. Em 1815, o Tzar Alexandre proclamou-se rei da Polônia e, pelo menos inicialmente, pareceu disposto e inclinado a conceder uma certa liberdade (compatível com a concepção algo restrita que os Russos tinham da liberdade), as bem cedo se demonstrou tão reacionário e duro quanto os seus predecessores, e as sociedades secretas começaram a surgir, na Polônia, bem como nas demais nações européias submetidas ao domínio estrangeiro. 
            Na Itália, na Grécia, na Espanha, os liberais e os independentes levantaram-ser; as revoltas, exceto a grega, foram logo sufocadas, mas já indicam, agora, a quem sofre o jugo da Santa Aliança, que os tempos estão maduros. Em 1830, os Franceses sacodem o absurdo jugo de carlos X; pouco depois, os Belgas, com a ajuda da França e da Inglaterra, tornam-se independentes da Holanda; confiando talvez no auxílio estrangeiro e no bom senso dos Russos (Alexandre I falecera em 1825), os poloneses revoltam-se e atacam o palácio do governador, que a muito custo consegue salvar-se da ira popular. Mas esta também, como todas as outras revoltas polonesas, estava destinada a permanecer estéril de qualquer duradouro resultado. O primeiro sucesso, bem explorado, teria podido causar a expulsão, pelo menos parcial, dos Russos, naqueles momentos, militarmente exaustos por uma das habituais guerras contra os Turcos. Entretanto, as primeiras vitórias foram seguidas por inexplicáveis contemporizações e por inúteis manobras diplomáticas, de modo que, poucos meses depois,os Russos podiam reorganizar suas forças e abafar definitivamente a revolta. Os cárceres, então, encheram-sede patriotas, os patíbulos e os pelotões de execução trabalharam a fundo. E uma vez mais a tirania triunfara sobre as ideias de liberdade. 
Restauração da Monarquia na França
                Depois de Napoleão I foi restaurada a Monarquia. Luiz XVII, surgido na França graças aos exércitos russo, ingleses e prussianos, encontrava-se, debelado o último reduto bonapartista, às voltas com uma situação não muito simples nem feliz. Atrás dele tinham voltado os emigrados, que haviam acumulado, em vinte anos de exílio, um ódio irredutível por tudo quanto soubesse, ainda que muito distante, a democracia, direitos dos homem e assim por diante; reentravam, muitos deles, para vingar-se daqueles que lhes guilhotinaram os parentes, lavar as humilhações, reconquistar os bens desapropriados. A burguesia, tornada muito forte sob o império iluminado de Napoleão e agora único e verdadeiro árbitro dos destinos do país, estava farta de guerras, sangrada economicamente pelos enormes sacrifícios que lhe haviam imposto as permanentes guerras do grande Corso; as guerras custam dinheiro, muito dinheiro, e tinham sido, justamente eles, os mercadores e os artesões da França, a fornecê-lo. O povo, de sua parte, embora estivesse desiludido pelas consequências do grande terremoto revolucionário, desencantado, e não mais muito seguro de que uma era de bem-estar se pudesse abrir para a humanidade somente massacrando a classe dirigente,estava todavia, bem cônscio de seus direitos. Ainda que cansado e ensanguentado como se achava (a campanha da Rússia e a guerra da Espanha, principalmente, tinham aberto um largo vácuo nas classes jovens), estaria disposto a lançar, ainda uma vez, a vida de seus filhos e seus bens nas barricadas, desde que não perdesse as grandes conquistas trazidas pela Revolução.
        O rei era um homem bondoso, como o tinha sido seu irmão, mais disposto a conceder do que a negar e, apesar das aparências, não tão cego para pensar que vinte e cinco anos de história pudessem ser cancelados com uma penada. Assim, assistiu ao curioso fenômeno de um rei que se esforçava em acalmar os demasiado acesos fervores dos monárquicos, de um rei em nome do qual se  cometiam homicídios e abusos (foi o chamado "terror  branco", desencadeado contra os ex-revolucionários e bonapartistas) e que tudo teria feito para contê-los ou repará-los. Reação houve, naturalmente, sobretudo nos primeiros anos; depois, o bom senso prevaleceu, embora por breve tempo, sob os ministérios de Richelieu e de Décazes. Os movimentos da Grécia, da Itália, da Espanha, confirmavam os realistas furiosos na necessidade de esmagar pela raiz a ideia liberal, que parecia germinar a cada repressão sanguinolenta. Apóstolos da liberdade, vinte anos antes, os Franceses não se cobriram certamente de glória, ao debelarem a revolução espanhola, em 1823; no local do Trocadero, combateu também Carlos Alberto de Sabóia Carignano, para lá enviado pelo tio, Carlos Félix, para limpar a consciência, bastante embebida de idéias liberalizantes. 
          Os rebeldes espanhóis defendiam-se denodadamente, na fortaleza de Trocadero, contra as tropas da Santa Aliança. E foram justamente as tropas francesas que assumiram o encargo de debelar os fautores daquelas ideias liberais, que na França tinham recebido a crisma de sua validade e universalidade.
            A Revolução de julho (1830) foi o fruto da política insensata dos dois epígonos dos Borbões, Luiz XVII e Carlos X. Humilhada por leis absurdas, a burguesia, nascida dos grandes dias da Revolução Francesa, insurgiu-se e orientou ao assalto o proletariado de Paris, varrendo do trono os anacrônicos representantes de uma época já superada.
           Se Luiz XVII tinha sido um soberano discretamente equânime, tanto que era obrigado, frequentemente, a conter os ministros em seus excessos reacionários, bem diferente foi Carlos X, seu irmão, que lhe sucedeu no trono em 1824. Desde o começo, o novo rei deu provas de suas intensões; a coroação, na catedral de Reims, revocou o fausto medieval que caracterizava aquela de Luiz XVI; da Cãmara foram eliminados todos os deputados não muito ligados; leis anacrônicas tentaram restaurar na França, naquela França que ouvira ecoar os ardentes discursos do Rebesbierre e de Mirabeau, usos já sepultos pelo tempo. Logicamente, a oposição, expulsa do parlamento, reorganizou-se, mais ampla e mais perigosa, entre o povo, nos clubes, nas sociedades secretas. Também na política externa, salvo a esporádica participação na guerra da Grécia, a favor dos rebeldes(participação que fora aconselhada por outros motivos que não de benevolência pelos revoltosos), Carlos X conduziu-se como reacionário; em harmonia com a tendência colonialista do século, deve considerar-se o início da expedição à Argélia, o primeiro passo para a restauração, ou melhor, a criação do império colonial francês.
            Até 1830, todavia, o rei e seus ministros não entraram em choque aberto contra a constituição e o Parlamento, mesmo interpretando muito livremente as normas constitucionais; mas quando, justamente naquele ano, a Câmara tentou impor ao trono a própria autoridade, o soberano lançou fora bruscamente sua máscara, muito transparente,aliás, de monarca constitucional e revelou-se como era na realidade, o mais retrógrado entre os soberanos absolutos. As ordenações reais, dissolvendo a Câmara esquiva, privam a maior parte dos eleitores de seus direitos;  medida inaudita, que não podia deixar de provocar indignação popular. Provavelmente, o rei pensava que a burguesia não se teria lançado ao torvelinho de um revolução e, sobretudo, que não  encontraria nas classes operária e camponesa, pouco atingidas pelas providências, a massa de choque necessária. Entretanto, a revolta ocorreu, imediata, e foi um fenômewno quase exclusivamente parisiense; povo e burguesia tomaram armas, e o rei, ainda uma vez, foi obrigado a fugir da capital (julho de 1830). Foram os liberais - marquês de La Fayette, o duque de Broglie, o banqueiro Laffitte - que se tornaram senhores da situação; foram eles que obrigaram o rei a abdicar, e colocar no trono, em seu lugar, o filho do guilhotinado Filipe "Egalité", Luiz Filipe de Orleans. 
           Luis Filipe de Orleans, herdeiro de um ramo colateral, jura fidelidade à nova constituição. Luis Filipe foi chamado o "rei burguês", devido à simplicidade de seus hábitos. 
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A Arte  Medieval  na França
                   Cinco séculos de quase absoluto silêncio criador sucederam-se à queda do Império Romano do Oriente.; somente na Itália se continuava, embora esporádica e toscamente, a produzir algo de novo, a escrever, a construir. Na França, a primeira nação européia, excluindo-se a Itália, que criou uma arte própria, surgiram, no século XI, as primeiras Igrejas românticas, escuras e maciças, no estilo da basílicas do século IX. Os arquitetos, que havia esquecido as áureas regras de Vitrúvio, (Grande arquiteto romano, que escreveu um "Tratado de Arquitetura) tinham sido obrigados a erigir paredes de enorme espessura, para garantir a estabilidade do edifício, (que frenquentemente ruía devido a erros de cálculo); isto conferia às catedrais românticas aquele aspecto de solidez, que as distingue, ainda hoje, das demais construções. 
            Os erros serviram de guia; gradualmente, também os arquitetos franceses elaboraram seu próprio estilo e elevaram, cada vez mais alto, suas construções, delineando, assim, aquele estilo gótico que fez escola na Europa e que deu maravilhosos exemplos de arquitetura sacra. Essas catedrais, enormes com relação aos edifícios que as circundavam, absorviam, muitas vezes, por vários decênios, as economias e os trabalhos de uma inteira cidade, chamando de toda parte escultores, técnicos em vitrais, entalhadores; assim, a par da arquitetura, prosperou,naquela época, na França, a escultura, enquanto bem escasso relevo teve a pintura, reduzida a bem poucas decorações de altar e preciosas miniaturas de livros, ricas de cores vivas e ingênuos detalhes (basta recordar Dante, que dizia "quel l'arte ch'alluminarè chiamata in Parisi").
             Os castelos franceses da renascença eram, geralmente, construções enormes, em que os adornos do século quatrocentos se sobrepunham à severa arquitetura militar de origem. 
               As construções de imponentes catedrais góticas empenhavam, quase sempre, por muitos decênios, as economias citadinas mobilizando legiões de pedreiros, canteiros, escalpelizadores, vidraceiros e escultores. 
              Nascia, naqueles últimos séculos da Idade Média, o idioma francês, produto da fusão de elementos latinos com o primitivo idioma céltico; floresciam na Provença, delicados poetas, os trovadores, que alegravam as cortes feudais, com suas elegantes canções, baladas e trovas, acompanhadas suavemente pelo alaúde. Bertrand de Born, Arnaud Daniel, Jaufrée Rudel, Bernard de Ventadorn, versejadores de aristocrática pureza, que eram conhecidos também nos países vizinhos. Alguns deles estiveram nas cortes italianas, como Rambaldo de Vaqueiras, e contribuíram para o impulso da lírica peninsular até então presa aos esquemas latinos. Naquela época, floresceram igualmente os longos racontos cavalheirescos, onde se descreviam as proezas dos Pares de Carlos magno ou dos Cavaleiros da Távola Redonda, narrativas originárias da Bretanha e da Provença, e aquele famoso Roman de la Rose, uma espécie de alegoria de mais de vinte mil versos, composto, nos meados do século II, por Guilhaume de Lorris e Jean de Meung e trazido para o italiano por um tal Durante, que alguns chegaram a identificar com Dante Alighieri. 
             Essa notável riqueza artística e literária poderia fazer-nos pensar num período medieval gentil e cortês, como os imaginavam os Românticos do século passado;  na realidade, porém, como já vimos, arte e literatura eram apanágio dos feudatários, ao passo que a burguesia e a plebe jaziam na mais completa ignorância, sobrecarregados de taxas e trabalho, contentando-se, quanto à arte, em admirar os arabescos e os anjos esculpidos nas fachadas dos templos, a assistir, na praça das aldeias ou nas ruas das cidades, aos mistérios (espetáculos sacros, representados por atores nômades) ou ouvir, boquiabertos, um cantastorie, que descrevia as façanhas de Reinaldo ou de Orlando. Mas, já a burguesia começava sua desforra espiritual: as Universidades, surgidas imitando as italianas, criavam, na França, uma aristocracia do pensamento, que logo iria contrapor-se validamente àquela das armas.Alegres e despreocupados, de bolsos vazios, os universitários vagavam pela França cantando suas canções e discutindo teologia e direito. Nascia, com eles, a nova Europa, livre das brumas medievais, pronta para receber o vento fresco da renascença. 
                A arte de miniaturar os grande livros de pergaminho prosperou na França; os livros, escritos a mão, quase sempre sobre pergaminho, eram um gênero de luxo, reservado somente aos nobres e às bibliotecas. Esplendidamente miniaturizados (uma arte tipicamente francesa) eram, via de regra, verdadeiras obras primas, de valor inestimável. 
              O Sorbona, isto é, a faculdade de teologia de Paris, congregava, na Idade Média, a elite da mocidade estudiosa da França. Lembremos que os moços universitários foram os pioneiros da Renascença Francesa. 

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