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domingo, 17 de maio de 2020

O HOMO SAPIENS E AS EPIDEMIAS NO MUNDO

- têrmo


               Com o tácito medo, a medicina apenas balbucia, enquanto os empestados fixavam os olhos  abertos, que ardiam com a doença e não sentiam sono algum." Esse trecho da Rerum Natura, obra do latino Lucrécio (98 x 55 a.C), mostra como o poeta percebia a incapacidade da medicina de resolver o grave problema das grandes epidemias que assolavam o mundo antigo. Lucrécio atribuía às "pestes" - termo que no seu tempo catalogava indiscriminadamente todas as epidemias - a causas naturais que confessava desconhecer. Acreditava que os deuses, deitados numa nuvem macia, não estavam muito preocupados em interromper sua vida mansa, para interferir nos problemas da Terra. Nada parecida é a ideia expressa por Homero na Ilíada. No primeiro canto, encontramos Apolo, irado, a matar com suas flechas milhares de lutadores gregos. Esta é a explicação sobrenatural encontrada para a peste que devastou o exército ateniense e que foi descrita pelos historiador Trucídias (século V a.C.). 
                 No entanto, um contemporâneo de Lucrécio, Marco Terêncio Varro (117 x 27 a.C.), percebeu que, sem dúvida, devia haver relação entre as más condições de higiene e a "malária", que dominava Roma e toda a região rural em surtos endêmicos. Como tentativa de diminuir o mal, Varro aconselhava a drenagem  dos pântanos, afirmando que "talvez vivam nos lugares pantanosos pequenos animais que não possam ser percebidos pelos olhos, mas que penetrem o corpo pela boca e pelas narinas, causando graves desordens". Com isso, mostrou uma boa intuição do princípio de contaminação da "malária". Na verdade, embora tenham aparecido na antiguidade trabalhos que revelam alguma curiosidade científica, predominavam as interpretações supersticiosas para justificar as pestes. explicações como a de Varro não se difundiam, apesar da importância das doenças epidêmicas em toda a civilização clássica. 

A Devastação no Mundo Antigo
             As invasões bárbaras, subversão dos costumes, podridão das velhas estruturas e desorganização são alguns dos inúmeros fatores incriminados como responsáveis pela queda do Império Romano. A medicina pode apontar mais um fator, que nem sempre é lembrado, e que de certa forma concorreu para devastar mais rapidamente  o império. Em cerca de 250 anos, pelo menos cinco pestes alastraram-se pelo mundo antigo. 
                 No ano 79, logo após a erupção do Vesúvio que enterrou as cidades de Herculano e Pompéia, uma violenta epidemia matou milhares  de pessoas na região; 800 mil pessoas na Argélia e 200 mil na Tunísia. Um contingente de 30 mil soldados, enviado para socorrer os empestados, também foi destruído pela epidemia. 
            No ano 164, um exército traz da Síria nova peste, que talvez tenha sido tifo exantemático ou peste bubônica. O que se sabe é que, em menos de dois anos, morreram milhares de pessoas em Roma. A epidemia propagou-se por todo o império e alcançou os confins orientais, como uma frente de incêndio. Mais uma vez, no fim do século III e início do século IV, o mundo romano foi invadido por duas epidemias sucessivas de varíola. E, finalmente em 542, contam os cronistas que cidades do Oriente, antes de grande importância, foram abandonadas após uma violenta peste que se disseminou a partir de Constantinopla, em forma endêmica.
                Com a queda do Império Romano, houve um afastamento periódico da epidemias. O desaparecimento dos grandes aglomerados humanos, provocado pelo fracionamento do império, diminuiu a disseminação das epidemias. 
 
O Centeio Traiçoeiro

                  A História Natural de Plínio (23 x 79 d.C.) (Plínio - o Velho, historiador romano, morreu no Vesúvio) registra que os habitantes do Norte da Itália se alimentavam de centeio, por falta de outros recursos. As guerras e invasões, na decadência do Império Romano, provocaram a difusão desse cereal para suprir a carência alimentar. 
             A partir do século X, aparecem cada vez mais frequentes as descrições de uma nova epidemia, do chamado "fogo sagrado", que depois se popularizou na Europa como "fogo selvagem" ou "fogo de Santo Antônio". Sob forma convulsiva ou gangrenosa, o "fogo de Santo Antônio" predominava na França e Alemanha, justamente onde o centeio era mais usado. Em 994 causou cerca de 40.000 vítimas só na Aquitânia, região da França. Mas, à medida que o tempo transcorria, a mortalidade foi diminuindo e, na segunda metade do século XIII, aparecem cada vez menos menções à doença. 
                 Desde 1039, havia-se estabilizado uma relação entre o aparecimento da doença e o consumo de centeio, nas épocas de escassez. Mas somente em 1630, alguns curandeiros de uma região francesa reconheceram a existência de uma relação causa-efeito entre a ingestão de centeio e a manifestação de certos tipos de gangrena. 
              Na realidade, existe um cogumelo que se desenvolve no centeio, como parasita, em particular nas épocas úmidas. A farinha feita com o centeio assim contaminado apresenta elevado poder intoxicante e provoca alterações orgânicas, sob forma convulsiva gangrenosa, o chamado ergotismo. 

Exílio Forçado
                 A "lepra" é uma doença crônica ou de longa duração, que afeta primeiramente a pele, as mucosas do trato respiratório superior e os nervos periféricos. Acomete a vítima lentamente me agrava-se gradualmente durante a evolução, mas em muitos casos apresenta cura espontânea. O temor que desperta deve-se principalmente às deformações patológicas que pode causar ao paciente. 
                  A forma lepromatosa da lepra apresenta sucessivas erupções que vão deixando a pele do paciente cada vez mais grossa e irregular. A falta de sensibilidade pode levar o doente a ferir-se bastante. Os leprosos podem alcançar  até o tamanho de um ovo de pomba. Um dos cuidados que o leproso deve receber é com os ferimentos e as deformações que ocorrem enquanto a enfermidade se desenvolve . 
                Por muito tempo, acreditou-se que a "lepra" havia sido introduzida na Europa pelos cruzados. Mas os principais responsáveis pela difusão da nova peste foram de fato os fenícios: mercadores eméritos, levavam consigo a doença do Egito para toda a Europa. No entanto, a moléstia não era muito frequente até o século VI, quando as penetrações bárbaras auxiliaram sua difusão. Na Espanha, para onde foi levada pelos muçulmanos no século VIII, tornou-se conhecida como "Mal árabe". 
                 Em 789, a lepra era considerada razão suficiente para se pedir anulação do casamento; a importância do mal tornou-se cada vez maior e, entre 1200 e 1300, atingiu o auge da difusão. Mas até o século XIV o leproso gozou de relativa tranquilidade; e espírito da caridade cristã procurava dar-lhe apoio e evitar ao máximo sua humilhação, pois também era "filho de Deus". No entanto, já se acreditava no caráter contagioso da doença, e por isso foi adotado o costume de expulsar o leproso da comunidade. (A palavra Igreja, quer dizer comunidade). 
                 O doente era enviado para a periferia da cidade, onde passa a residir numa choupana, até a morte. No decorrer do século XIV, a situação do indivíduo contaminado pela lepra tornou-se cada vez mais difícil. talvez o número crescente de doentes, ou o medo de contaminação, tenham contribuído para originar a repugnância que a caridade cristã até então evitara. O leproso passa a ser visto como vítima da justiça divina; e passa a ser incriminado por toda espécie de crimes, sociais ou políticos. na Espanha, por exemplo, são acusados de pacto com os infiéis (árabes) que dominavam a região e torturavam para confessar tentativas de subversão política. 
            O indivíduo contaminado pela lepra, objeto de repugnância e rejeição, precisava denunciar de longe sua presença, com sinais convencionados. Acusados pelos mais variados crimes, os doentes foram mesmo submetidos a cerimoniais de sacrifício, os famosos "combustio leprosorum" (queima dos leprosos). O número de leprosos queimados sem dúvida contribuiu para diminuir o volume de doentes. A partir do século XVI, a lepra perde importância e, quando o médico francês Jacob Bontius descreve lesão da lepra, em 1642, vai observar os casos na longínqua Índia. 

Fantasia e realidade
             Muitas foram as pestes que atingiram a humanidade, desde suas origens; e também variaram muito as explicações. A fantástica "racionalização" dos gregos, que via o ataque direto dos deuses na origem das epidemias, foi substituída pela intuição de contágio, de Varro e outros, nos tempos romanos. Já na Idade Média, voltou-se a acreditar em influência astrais, e sobrenaturais,m como o castigo divino. 
              Apesar de tudo, ao aproximar-se a época do Renascimento, a tendência a substituir o pecado por agentes locais, como causas das epidemias, é cada vez maior. O ergotismo, ou "fogo Selvagem", passa a ser relacionado com a carência de meios normais de subsistência. E a queima dos leprosos é uma forma de defesa contra a disseminação da doença, que na época era muito mais contagiosa. 
                Mesmo o fato de se invocar santos contra as pestes não significava que se desconhece o caráter contagioso das doenças. Era uma forma de pedir o auxílio divino, para substituir as reconhecidas limitações da terapêutica. De qualquer forma, as causas de cada epidemia eram ignoradas. Os primeiros passos limitaram-se a identificar fatores concomitantes e desencadeantes, ou possível fonte de transmissão. 

Formas de contágio vivo
                "Devido a uma infecção do hálito... um infectava o outro... e não só faziam morrer quem com eles falasse, como também quem quer que comprasse, tocasse ou tirasse alguma coisa que lhe pertencesse" Assim um monge franciscano relata como a peste fora levada para a Sicília por treze galeras venezianas, em 1347. A epidemia mencionada é a peste que surgiu na Ásia Central por volta de 1333 e logo se alastrou pela Crimeia, Constantinopla, Egito, Sicília e daí para a Europa inteira, nas duas formas: a bubônica e a pulmonar. Foi a famosa "peste negra", que eliminou cerca de um quarto da população européia. A epidemia seguiu quase a risca o trajeto das rotas de comércio mais importantes, levada por mercadores e comerciantes. 

Recursos e Defesa
                  Com a peste surgiram numerosos  "regimes", que prescreviam sugestões para manter a saúde. O "Regime para a Peste", escrito por Alberto de Parma em 1349, recomendava uma refeição profilática, composta de três figos, três nozes, vinagre e arruda, "comidos em alegria", pois os pensamentos tristes e meditações provocariam a doença. Para circular pela ruas, era necessário também precaver-se com plantas aromáticas como mirra, incenso, gengibre, arruda e musgos. Mas se tudo isso não conseguisse evitar a manifestação da moléstia, nada melhor que provocar vômitos com água quente e óleo, para estômagos delicados, ou cebola com excremento de galo, para os estômagos mais resistentes. Assim o organismo eliminaria as comidas e bebidas "pestilenciais", causadoras da doença. Gotas de gengibre e teriaga, remédios à base de víbora, que constituía boa fonte de renda para Veneza, era o melhor tratamento. 
                 Receitas desse tipo eram comuns e variadas. No entanto, muitos já intuíam o princípio do contágio, embora ainda não se usasse esse termo. Tanto assim, que eram aplicados os recursos mais variados para evitar a difusão da doença. Entre eles é digna de menção a medida tomada por Barnabó, duque de Milão, que em 1374 introduziu uma medida profilática para defender a cidade das epidemias. Proibiu que entrassem na cidade viajantes ou mercadores vindos de lugares onde houvesse epidemia.  No mesmo ano, Veneza adotou também essa atitude. 
                 No entanto, tais medidas tinham como consequência a paralisação do comércio; para evitar isso, divulgou-se a aplicação de quarentenas. A primeira de que se tem notícia foi na verdade uma "trintena", estabelecida na república de Ragusa, região da  Iugoslávia. Para enfrentar o problema das epidemias, o conselho da república reuniu-se para tomar decisões similares às adotadas em outros lugares. Mas durante a sessão estabeleceu-se que, a parar o comércio, era preferível que a cidade inteira fosse levada pela peste. 
                Com a tentativa de salvar a cidade, mas também o comércio, ficou decidido que era suficiente obrigar, todos os que chegassem à cidade, a uma "purificação" preliminar, obtida com a estada, durante trinta dias, num lugar fora da cidade, sem contato algum com os cidadãos. A decisão foi posta em prática em julho de 1377. Todavia, coube a Marselha, na França, realizar a primeira verdadeira quarentena, Em 1383. 

O Contágio Existe
               Constatada pelas observações a ideia de que as inúmeras pestes "passavam" do indivíduo doente para o são, faltava descobrir como isso aconteceria, ou seja, quais os agentes causadores. A imaginação era o que mais trabalhava, para descobrir as causas das doenças, pois ainda não existia o microscópio, único recurso para observar mundos diminutos. Mesmo o médico mais "científico" era obrigado a apelar para a fantasia. 
                  O médico alemão Ulrich von Hutten, por exemplo, atribuiu a sífilis a "vermículi alati", pequenos vermes alados. Seu contemporâneo, o italiano Gerolamo Fracastoro (1478 x 1553), mais conhecido pelo poemeto que publicou sobre a sífilis, desenvolveu também uma teoria mais completa sobre a transmissão das epidemias, a chamada teoria do "contágio vivo". 
               Fracastoro distinguiu três tipos de contágio: direto, de doente para sadio; a distância, por meio do ar; e finalmente por meio de veículos, de denominou "fomites". Esses compreendiam a roupa do corpo, lençóis e objetos utilizados pelo doente ou mesmo as paredes do quarto. Convenceu-se disso ao observar que pessoas sadias podiam adoecer por entrar em contato apenas com objetos de uso do doente de tuberculose. Desse fato, Francastoro não só concluiu que a tuberculose é contagiosa, como também chegou à tese do contágio vivo. 
             A admitir a participação dos "fomites", colocou-se outra pergunta: o que passaria da pessoa doente para o fomite e deste para o indivíduo sadio, contaminando-o mesmo sem entrar em contato com o doente? Neste ponto, entra a imaginação do cientista, que nem sempre se distancia muito da realidade. Francastoro atribuiu essa transmissão aos "seminaria morbi" (sementes da moléstia), invisíveis a olho nu. 

Sementes Vivas
                  Francastoro afirma ainda que as sementes são seres vivos, tão pequenos que o olho humano não pode perceber. Instaladas no corpo, teriam a capacidade de viver às custas dos humores vitais do doente. Além do mais, a velocidade e a proporção de sua reprodução seriam tão grandes que impediriam a vitória da força terapêutica da natureza ("vis curatrix"), que seria o próprio sangue (plasma). talvez seja ousado demais supor que nesta última proposição Francastoro já tenha previsto a teoria da formação de anticorpos. No entanto, foi de qualquer maneira uma antecipação, pois só no fim do século XIX é que vai ser constatada a função defensiva do sangue no organismo. Toda a teoria de Francastoro a respeito do contágio através do parasitismo de animais microscópios era prematura ainda para ser aceita, e ele não dispunha de nenhum recurso técnico para comprová-la. 
                  Com a entrada do microscópio no cenário científico, as coisas sofreram substancial alteração. 
              Uma das primeiras notícias a respeito da existência de agentes causadores de doenças foi dada pelo padre jesuíta Athanasius Kircher (1601 x 1680). Ao examinar um preparado de pus e sangue retirado de um portador da peste bubônica, Kircher acreditou ter encontrado os "animaizinhos minúsculos" responsáveis pelo contágio. Na realidade, foi um engano e o agente etiológico da peste só foi descoberto pela atual microbiologia. Mas de qualquer forma, sua "descoberta" constituiu, na época, uma importante contribuição para a "patologia animada". Contribuiu para incentivar ainda mais o uso do microscópio, a grande conquista do século XVII. 

A Incômoda Coceira
                 Coçar-se em público, no século XVII, não era sinal de falta de elegância nem de má educação, mas apenas um hábito necessário. Nessa época, mesmo as classes mais favorecidas não primavam pelos bons hábitos de higiene. E com isso se difundia e persistia a sarna, ou escabiose, em caráter quase endêmico. A curiosidade de alguns médicos despertou o interesse pela procura das causas desse incômodo. 
                Já no fim do século, um médico toscano, Giovancosimo Bonomo, juntamente com seu colaborador Giacinto Cestoni, conseguiu localizar os "pellicelli", pequeníssimos germes gerados na pele dos portadores de sarna (ácaro) e que, ao roerem, causariam a agudíssima coceira. Essa foi a explicação que encontraram para justificar as observações efetuadas. 
             Haviam notado que, nos pontos onde a coceira é mais intensa, existem pequenas bolhas não amadurecidas  e, ao abri-las, Bonomo viu sair, após uma "aguinha", um pequeno globo branco. Ao microscópio, percebeu a existência de um "pellicelli" (animalzinho), o pequeno verme gerado na pele do corpo, de acordo com a teoria da geração espontânea. Faltava ainda descobrir como nasceriam os animaizinhos. 
               A resposta aparece um dia a um desenhista que observava "pellicelli" ao microscópio para reproduzi-los:  subitamente, vê um pequeno animal depositar uma fileira de ovos. Contata-se assim que também esses microrganismos se reproduzem como os outros animais, com participação do macho e da fêmea, e não são gerados espontaneamente. Só resta, após isto, conseguir identificar o sexo. 
              Nova dúvida se coloca, quanto à existência dos "pellicelli"; não se sabia se eles seriam a causa da escabiose, ou a consequência do processo de putrefação próprio da doença. Mas novas experiências conseguem confirmar o caráter de agente causador dos animaizinhos e explicar ainda como a doença "pega" tão facilmente. Instalados na pele, os vermezinhos passam facilmente de um corpo para outro. E, como se produzem rapidamente pela deposição de grande número de ovos, fazem com que a doença logo se alastre. 
                 Com o aparecimento dessas novas teorias, no ´seculo XVII, pode-se pensar seriamente na responsabilidade dos pequenos animais, invisíveis a olho nu, pelo elevado grau de contágio de determinadas doenças. O contágio causado por agentes vivos e atuantes passa a ser um fato constatado. 

A Cólera
                   As condições de falta de higiene dos países pobres continuam existindo e matam milhares de pessoas todos os anos. As maiores causas apontados por especialistas são o suprimento inadequado de água e eficiente coleta de lixo, porém, para os políticos, pessoas de baixa renda são apenas número que lhes interessa nas eleições; legalmente compram votos através de benefícios sociais como, por exemplo, o famoso Bolsa Família, que deveria ser emergencial, mas transformou-se  literalmente em forma legal de compra de votos. Portanto é importante que essas comunidades continuem sempre procriando desenfreadamente, pois esses novos moradores são a garantia de seu futuro político. 
                 No século XIX, a cólera era desconhecida fora do Extremo Oriente. A Índia foi o foco original da doença, que se difundiu pela Ásia, chegando depois à Europa e às Américas. O Brasil conheceu-a em 1855, numa epidemia que durou dois anos e matou cerca de 200.000 pessoas. (É importante lembrar que, naquela época, a população do Brasil era um terso da atual). Ela irrompeu no Pará e Amazonas e, posteriormente, atingiu a Bahia e o Rio de Janeiro, onde dizimou, em seis meses, mais de 3.000 pessoas. Outra epidemia foi assinalada em São Paulo, em 1893, difundindo-se depois para o interior, e chegando novamente ao Rio de Janeiro. 
                A primeira pandemia, ataque em escala mundial, verificou-se no ano de 1820. E, em 18545, na terceira vez em que a cólera se espalhava pela Europa, houve 20.000 mortes na Inglaterra e 140.000 na França. Hoje, a doença está praticamente limitada ao mundo subdesenvolvido; entre 1904 e 1923, matou 7 milhões de indianos. (Sempre lembrando que hoje a população mundial é muito maior).  
                 O causador da moléstia é o vibrião colérico, que contamina os alimentos e a água quando os excrementos de uma pessoa afetada estiverem em contado com eles. O vibrião cresce nos intestinos da pessoa infectada, irritando-os, e produz intensa diarreia e vômitos. A pessoa fica desidratada, e o seu plasma sanguíneo pode ser reduzido em dois terços. O sangue torna-se tão concentrado que o organismo deixa de produzir urina e os músculos se contraem, em cãibras violentas.

A Malária
                   Embora receba muitos combates diferentes, a malária continua ceifando vidas. 
                  Por estranho que pareca, ainda há gente que pensa ser a malária uma doença asiática. A denominação da doença, porém, é de origem italiana, onde suas febres características eram atribuídas, pelos religiosos, aos vapores malignos dos pântanos. (em italiano mala aria significa "mal ar"). 
                 Contudo, até agora não foi possível determinar, com precisão,  onde a malária apareceu pela primeira vez. Há registros de sua existência  na Grécia , há mais de 3.000 anos. 
               No Brasil foi a endemia mais disseminada no país, estando agora reduzida e limitada às regiões mais insalubres, notadamente  a Amazônia, seguida dos Estados de Goiás e mato Grosso.
              Entre nós, a doença é conhecida por vários nomes, como maleita, sezão, febre palustre e impaludismo.  Mas seja qual for sua denominação, é sempre a mesma moléstia assassina ou debilitante, transmitida por mosquitos que se reproduzem em charcos ou até mesmo em áreas de água contaminada. 
                Ao picar um indivíduo infectado de malária para alimentar-se do seu sangue, o mosquito ingere os plasmódios ali contidos no sangue da vítima. Chegando ao seu estômago, os parasitos se reproduzem no  quisto. Em seguida passam para as glândulas salivares do inseto e, assim, passa a disseminar a doença nas pessoas que ele pica para extrair-lhe o sangue, seu alimento. 
                   O sintoma mais característico da malária é a febre intermitente provocada pela multiplicação dos Plasmódios no sangue do enfermo. Quando inúmeros desses protozoários completam sua reprodução assexuada, evoluindo sincronizadamente, destroem os glóbulos vermelhos que lhes serviam de suporte e alimento. A principal consequência é que eles, causando a destruição do glóbulos vermelhos, provocam anemia e priva os tecidos de oxigênio. 
              Além de ser uma doença assassina, a malária certamente abre caminho para a instalação de outras moléstias.

Sarampo e Rubéola
                   Embora seja doenças banais da infância, tanto o sarampo como a rubéola podem ser perigosas nos adultos
                    Sarampo e rubéola são moléstias causadas por vírus. Sabe-se que o sarampo foi identificado pelos médicos árabes no século IX, e até cerca de duzentos anos atrás ainda se usavam compostos de excrementos de ovelha em seu tratamento. 
              Visto ao microscópio eletrônico, o vírus do sarampo apresenta forma grosseiramente esferoide. Gosta de temperaturas baixas; a 70ºC abaixo de zero é capaz de sobreviver mais de cinco anos, mas a 56ºC não dura mais do que meia hora. O contágio entre os seres humanos ocorre principalmente através das gotinhas de saliva infectada; perdidas no ar, introduzem-se no trato respiratório. Uma vez instalado no organismo, o vírus leva em média catorze dias "incubado", tempo que aproveita para proliferar, até a pessoa apresentar os primeiros sinais de erupção cutânea. 
                  Mais ou menos no quinto dia após o início dos sintomas, a temperatura atinge o máximo (por volta de 40,5º C)  e surge, então, a terceira fase da moléstia: a erupção cutânea ou exantema.Estas erupções consiste no aparecimento de pequenos pontos vermelhos sobre a pele, usualmente atrás das orelhas. daí se espalham rapidamente pelo roto e depois vão cobrindo o pescoço, o peito e todo o tronco, atingindo finalmente os membros. 
                   Já a Rubéola é uma doença benigna; muitas pessoas nem sabem que a tiveram. mas o que para a média dos adultos pode significar apernas alguns dias de repouso forçado,nas mulheres grávidas apresenta riscos graves.  O vírus atravessa facilmente a placenta e atinge o tecido embrionário, afetando os órgãos em processo de formação. 
                Embora a rubéola tenha sido identificada  na Alemanha na segunda metade do século XVIII, só em meados do século XIX é que se reconheceram suas epidemias na Inglaterra e nos EUA. A origem virótica da moléstia foi sugerida em 1938, mas a confirmação do vírus só se deu em 1962. 

A tuberculose
               Há menos de um século, a tuberculose matava mais pessoas na Europa do que qualquer outra doença. Mesmo hoje, e também em países desenvolvidos como os estados Unidos, milhares de casos insuspeitos de tuberculose resultam em centenas de mortes anuais. No passado acreditava-se que artistas, poetas e músicos eram mais vulneráveis á tuberculose, devido às tensões do seu gênio. Na verdade a causa de sua vulnerabilidade estava nas condições da vida que levavam. A doença ainda é mais comum em pessoas que vivem amontoadas em ambientes insalubres, entre gente mal alimentada. Nas áreas mais pobres das grandes cidades e nos presídios, por exemplo, a tuberculose é uma ameaça considerável. A causa da TB é uma bactéria, a Mycobacterium tuberculosis, geralmente inaladas em perdigotos (gotículas de saliva contaminadas com o vírus) lançadas por pessoas contaminadas. Também pode ser transmitida por uma vaca, vítima da forma bovina da doença. O leite dessa vaca é outra forma de infecção. 
               Os bacilos da tuberculose, ao penetrarem nos pulmões, provocam uma pequena lesão no tecido pulmonar. Quando os organismos são levados pela bebida ou pela comida, a primeira lesão ocorre no canal alimentar; em casos muito raros, a bactéria penetra na pele. 

Varíola e Varicela
                 Uma das primeiras guerras biológica de que se tem notícia foi promovida pelo colonizador branco na América: a transmissão intencional da varíola para o nativo, através da doação de "presentes" contaminados com a doença.  
              Os brancos tiravam partido do conhecimento de dois fatos: a extrema vulnerabilidade do índio a uma doença inexistente no Novo Mundo e o assustador caráter endêmico que ela representava no Velho Mundo. Embora a designação "peste" englobasse indiscriminadamente as epidemias de cólera, tifo, escarlatina e varíola que dizimaram populações européias da Idade Média e renascença, sabe-se hoje que os surtos de varíola foram os que mais vítimas fizeram durante aquelas épocas. 
             O pavor que a doença inspirou deve-se não só ao seu caráter altamente contagioso, mas também aos terríveis sintomas. 
              A varíola é provocada por vírus - organismos tão pequenos que não podem ser vistos pelo microscópio comum. Os da varíola, chamado Poxvírus variolae,podem se multiplicar em apenas uma célula, mediante alteração, em seu favor, do processo celular de metabolização de proteínas e ácidos nucleicos. Este rearranjo químico acaba por romper a célula, comunicando-se às outras, e alastrando-se, assim, pelo resto dos tecidos. 
               O vírus penetra no organismo através da respiração - gotículas espalhadas pelo ar. Logo as glândulas linfáticas são infectadas e pouco tempo depois o Poxvírus variolae já pode ser detectado no sangue. 
                Em 1796, Edward Jenner realizou a primeira vacinação antivariólica, após ter notado que a infecção por varíola bovina protegia pessoas da varíola. Após inocular um garoto de oito anos com o líquido de uma pústula de varíola bovina. Com isso ele descobriu que era impossível fazer a criança, assim inoculada, contrair a varíola.
                 Já a varicela é menos perigosa, e a maioria das pessoas já a tiveram na infância. Ela tmbém é provocada por um vírus. 

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