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domingo, 6 de dezembro de 2020

MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS NA EUROPA - SÉCULO XIX

 


Os ventos da Revolução Francesa se espalharam pelo mundo todo.

           No início do século XIX a velha aristocracia latifundiária  ainda dominava inteiramente a vida social e política na Europa. Na Grã-Bretanha, fidalgos pertencentes a famílias de três ou quatro séculos, orgulhosos  de sua antecedência, consideravam como direito seu inalienável dirigir o governo do país e arcar com as fadigas e riscos do cargo; uma aristocracia, portanto, cônscia não só de seus privilégios, mas também de suas responsabilidades. A vida de um nobre inglês, quer se desenrolasse no burgo que trazia o nome de sua família, quer nos palácios de Londres, era isenta de qualquer preocupação; somente uma elevada consciência de classe impelia, pois, esse homens que nada precisavam pedir à fortuna, a dedicar-se ás lutas parlamentares ou às campanhas coloniais.  O poder estava, na verdade, na mão dos Comuns, a Câmara Baixa; mas os membros desta nação eram eleitos .como hoje, ou como estava nos propósitos dos legisladores de tantos séculos antes. O sufrágio era um direito de classes ou de zonas privilegiadas, os distritos eleitorais permaneceram como os de outrora, apesar das numerosas mudanças verificadas. Em outras palavras, o direito de eleger representantes ao parlamento conservara-se apanágio, em uma quantidade de casos, de obscuras aldeias, importantes ao tempo dos Plantagenetes, mas semi-desertas no século XIX. Naturalmente, a eleição das cadeiras em causa eram concluídas com a corrupção da aristocracia latifundiária, que vinha, assim, a dominar também a Câmara Baixa e, com isso, acontecia que insignificantes povoados mandavam dois representantes, cada um, `+a Câmara, ao passo que cidades como Manchester não possuíam nenhum. Mas, no princípio dos anos 18700, a burguesia, constituída de comerciantes, de armadores e, a seguir, de pequenos e grandes industriais, gradativamente começara a projetar-se e a fazer sentir, cada vez mais forte, sua voz; se os primeiros decênios do século são ainda denominados pelos mais retrógrados entre os nobres de partido tory ( ou seja, conservador), como o Duque de Wellington e Lorde Castlereagh, muitas coisas já iam mudando, Jeremias Bentham, um burguês que sempre vivera à parte, mas que influenciou com seu pensamento meio século de política social inglesa, iniciou a marcha da corrente reformista, provocando o escândalo dos conservadores ao por em dúvida as velhas instruções britânicas. A ele se deve a refomra, ocorrida após sua morte, do colégio penal, a ele sew deve o início daquelas  transformações que iriam conduzir ao sufrágio universal. As ideias que o proscrito Tom Payne lançara  em 1791, em seu livro Direitos do Homem, ideias assaz revolucionárias para serem recebidas sem um profundo pavor pela conservadora Inglaterra, tinham germinado e produzido seus frutos. Um sapateiro, Tomás Hardy, fundava a primeira sociedade operária e, embora perseguido,conseguia prosseguir seu trabalho social e salvar a pele de um processo que lhe moveram alguns fanáticos "torys". Em 1815, um industrial esclarecido, Roberto Owen, apresentava um projeto de lei em que estavam contemplados todos os pontos que ele já realizara, particularmente,entre seus operários. Essencialmente, ele, em companhia de Roberto Peel, propunha adoção de um horário de trabalho limitado a não mais de dez horas (os operários daquele tempo trabalhavam até quinze horas) e a obrigação de não empregar crianças com menos de dez anos. (Em nossos dias pode parecer estranho, mas é a realidade na qual viviam muitas crianças). Isso hoje nos parece óbvio, mas àquela época, provocou tremendo clamor, para não dizer escândalo. Finalmente, William Cobbett, percebendo como a origem de todos os males do país, da miséria de seus operários, da desigualdade das leis, da própria mentalidade de seus governantes estava na fase da organização política, isto é, mo sistema eleitoral, começa a bater se por uma reforma que visava a abolição dos "burgos corruptos" e a estender o sufrágio ao maior número possível de cidadãos, ou, melhor dizendo, de Ingleses, porque não se pode considerar cidadão quem não possui o supremo entre os direitos sociais, o voto livre. O jornal em que Cobbet expunha suas ideias, o Political Register, esgotava suas edições justamente entre as classes que maior necessidade tinham de um alimento dessa espécie. O governo "tory" limitava-se a reprimir, com processos a apreensões, a ideias sediciosas, mas o sentimento inato de justiça dos Ingleses impedia que tal repressão surtisse efeitos catastróficos. Muitos oficiais do governo,acusados de traição, eram absolvidos pelos magistrados, embora as invectivas e os libelos acertassem, sem reservas, ministros e pessoas altamente colocadas, e até o rei. A um dado momento, a pressão tornou-se tão forte que o governo recorreu ao inaudito expediente de suprimir o habeas corpus. Na realidade, a Inglaterra sofria de crise de consciência. Suas instituições, antiquadas, não aguentavam o passo veloz da revolução industrial, que estava transformando o país no mais forte produtor de artigos manufaturados do mundo. 
             Há na História, momentos em que se adverte, distintamente, o amanhecer de grandes eventos, a irrupção de um fato novo que obrigará a humanidade a uma imprevista reviravolta. Percebem-no, naturalmente, muito mais que os contemporâneos, os pósteros, que têm sob os olhos as causas remotas e que as vêem concatenar-se umas às outras para explodir no último episódio: guerra ou convulsão social. Um período dessa espécie, rico de eventos de excepcional alcance, houve nos fins do século XVIII, quando a Revolução Norte-Americana e depois a Revolução Francesa deram aos oprimidos e aos deserdados o sinal de que o tempo da desforra chegara; um segundo movimento de ruptura viu-se em 1848, na explosão dos povos da Europa, ávidos de liberdade. Também nesse caso, como nos demais, a expressão "movimento popular" não é exata: o povo, a grande massa de camponeses e operários, geralmente é inerte e privada de ideias, ou de ideais, que não sejam esses mínimos, que se resumem a um relativo be-estar individual; ele, de fato, move-se e transforma-se naquela tremenda massa de choque que temos visto em ação sob os torreões da Bastilha, somente após o incitamento e o exemplo de uma minoria intelectual, burguesa ou aristocrática. 
             O ano de 1848, que levou à abdicação de Luiz Filipe de Orleãs, teve poucos episódios de violência. O rei, sabiamente, nem pensou em resistir à onda republicana, e preferiu o exílio a uma luta inútil. Os fenômenos de liberdade e de independência nacional, que as sociedades secretas tinham alimentado durante trinta anos, vieram finalmente à luz em forma  de um violento motim popular. Um único anelo de liberdade percorreu a Europa, impeliu os povos da Itália, da França, da Áustria, da Hungria e até da Alemanha, a sair á rua.
            A primeira centelha veio da França, onde, todavia, a revolução teve caráter exclusivamente interno e foi originada por um longo debate parlamentar em volta da nova lei eleitoral. O pacato Luis Filipe de Orleans abdicou, e a monarquia constitucional foi substituída por uma república, em que fora aplicado o sufrágio universal. Isto ocorreu em fevereiro de 1848. Em março do mesmo ano, Milão revoltava-se contra o absolutismo austríaco, e seu exemplo se alastrava por todas a possessões italianas dos Habsburgos.  A constituição concedida por Pio IX, o advento ao trono dos Sabóias do jovem príncipe de Carignano, Carlos Alberto, conhecido pelas suas ideias liberais, tinham despertado e exaltado, no coração dos italianos o fervor libertário e nacionalista que ali fervia desde séculos. Mas os tempos ainda não estavam maduros, pois a Áustria era, ainda, uma forte potência, e as ideias liberais e democráticas ainda não tinham sido assimiladas, a não ser por círculo muito restrito de intelectuais. 
              Em toda a Europa, o ano de 1848 foi, sem duvida, o ano das revoluções, pois até os germânicos organizaram a deles, sem, porém, atingir o objetivo, que era o de reunificar a Germânia sob o cetro do rei da Prússia.
             A Alemanha, dividida em numerosos pequenos potentados, aspirava, como a Itália, à unificação. As revoluções francesa e italiana abalaram também os Tudescos e, uma Assembléia Constituinte, expressão direta do sufrágio popular, reuniu-se em Frankfurt, em maio daquele ano, e redigiu o estatuto, que previa a união dos estados alemães sob um imperador. O mais qualificado para o posto era, certamente, o rei da Prússia, Frederico Guilherme,mas este recebeu o oferecimento da Assembléia com uma negativa e até com evidente hostilidade. Uma atitude igualmente hostil, a respeito do futuro Estado,  teve a Casa da Áustria, que, obviamente, temia o engrandecimento da Prússia. desanimada pela adesão dos dois mais poderosos estados tudescos, a Assembleia acabou por dissolver-se e tudo voltou ao que era antes. Houve uma revolução coordenada e coerente, segundo o caráter germânico, bem diferente dos tumultuosos e sangrentos movimentos da Itália; estes tinham sido sufocados pelos canhões austríacos e pela impossibilidade de ter um chefe a quem obedecer.
             Não só na Itália, a Áustria tinha aborrecimentos políticos; os rumos dos povos agrupados sob a coroa dos Habsburgos estavam, todos, por um motivo ou outro, em rebeldia. Contra a exigências da plena autonomia, apresentados pelos Húngaros, o governo fez agir os Croatas, que desde longo tempo aspiravam, por sua vez, a uma certa autonomia do reino da Hungria. os Húngaros reagiram com força, e os Vienenses, receosos de ver seus privilégios extintos como os de seus irmãos danubianos, saíram a campo e atacaram as tropas que o imperador enviava para a Hungria. Sua revolução não durou muito; batidos os Húngaros, por forças austro-croatas preponderantes, também Viena foi obrigada a ceder. Nesse ínterim, corria o m~es de dezembro de 1848, o Imperador Ferdinando I abdicava em favor do jovem arquiduque Francisco José, que, apesar das aparições de uma atitude liberal, era um convicto defensor do absolutismo monárquico e do poder centralizado. Novas exigências húngaras  não foram aceitas pelo soberano; sob a orientação de um ditador, o patriota Luis Kossuth, toda a Hungria pegou em armas, declarou deposto o domínio dos Habsburgos e enfrentou, com suprema coragem, os exércitos austríacos, eslavos e romenos, que Viena lançava atém de seus confins. Os grandes sucessos húngaros, obtidos nos primeiros meses de 1849, alarmaram tanto a corte que a induziram a pedir auxílio á Rússia. Assim, apear de sua heroica desesperada resistência, os patriotas foram esmagados pela formidável colisão e, em agosto de 1849, rendiam-se às tropas do Tzar. 
             Quando, em 1848, Luis Filipe de Orleans foi obrigado, pelo movimento popular, a abdicar e a procurar hospitalidade na Inglaterra, os destinos da França pareciam decididamente orientados para o regime republicano. No mesmo  ano, em Bruxelas, surgia um breve escrito, o "Manifesto comunista", dirigido por Carlos Marx e Frederico Engels aos "proletários de todo o mundo". A repercussão dessa obra, embora bem distante do desenvolvimento futuro, tinha sido notável nos ambientes socialistas franceses e era legítimo pensar que o novo endereço social tivesse um determinante na formação estrutural do  estado francês. Mas os tempos estavam ainda imaturos para compreensão de uma doutrina que daria seus frutos mais de cinquenta anos depois. Assim, a república nascida da pequena revolta em 1848, estava incerta nos programas, não tinha chefes que pudessem assegurar-lhe uma larga base eleitoral, estava minada pelos descontentes monárquicos, que apareciam de três lados: o dos Borbões, que tinham como pretendente o conde de Chanbord, o dos Orleans e o de Bonaparte, que tinham seu estandarte em Carlos Luís Napoleão, sobrinho do imperador. Este tivera uma vida agitadíssima, justamente por causa do seu nome e de suas não ocultas pretensões ao trono da França. Por três vezes, apesare do banimento que pesava sobre toda sua família, ele reentrara em território francês, tentando um golpe de força, e por duas vezes fora preso, da última vez com um condenação perpétua. A partida de Luis Filipe encontrou-o em Londres, onde se instalara depois de sua fuga - nem heroica nem difícil - da fortaleza de Ham. A ocasião para insinuar-se na vida política francesaera tentadora, e Luis Napoleão só n~çao reentro em Paris como se apresentou candidato para a Assembléia Constituinte. Foi eleito por nada menos do que quatro departamentos, com voto quase plebiscitário, pois o nome de Napoleão exercia ainda uma atração excepcional no ânimo dos Franceses, e a prova se teve poucos meses depois, quando, apresentando-se Luiz Napoleão como candidato à presidência da República, obteve esmagadora maioria. Eis, pois, em poucos meses, passar de proscrito a chefe de Estado e, ainda por cima, com o crisma do sufrágio popular, conhecendo o passado, as ideias e as aspirações deste homem, não era difícil prever seus movimentos futuros. Não tinha, certamente, intenção de ficar tranquilo nem de representar com seu nome ilustre uma república "burguesa". E isso o demonstrou logo, com a expedição, não por certo gloriosa nem digna dos feitos do tio, em socorro de Pio IX e contra os revolucionários romanos. 
            O esplendor de Marengo e de Austelitz estava-lhe sempre diante dos olhos e o deslumbrava - tinha já quarenta anos - ainda que o houvesse tomado mais cauto, não apagara nele as ambições juvenis. Diante de suas poses de autocrata, em aberto contraste com a constituição que jurara defender, a Assembléia Legislativa alarmou-se e procurou reagir, mas Luiz napoleão sabia que estava ao seu lado  o povo, ansioso por sentir-se guiado por uma forte mão, e seus adversários o sabiam tanto quanto ele. Assim, a oposição foi débil e o golpe de estado de 1851 foi recebido quase com alívio. A Assembléia foi dissolvida, os chefes da oposição encarcerados, o exército porto em estado de alarma, debelada as sociedades  secretas e tudo isso em alguns dias. Duas semanas depois, o povo era chamado a sufragar, com o voto, o novo estado de coisas, e houve uma manifestação unânime de solidariedade  ao ditador, que se tornava presidente para um decênio, com poderes quase absolutos. Ainda uma vez o povo curvava a cabeça sob o duro punho do tirano, feliz de poder votar sua admiração ou seu ódio contra uma só pessoa, fisicamente bem tangível e não contra essa abstração que se chama estado democrático. 
          Faltava, para a glória completa do novo autocrata, o fausto do trono. Luis Napoleão só teve o trabalho de percorrer a França para levantar de todos os lados ondas de entusiasmo, especialmente entre o povo miúdo, que, provavelmente, não sabia ao certo quem fosse esse "Napoleão", a quem aplaudia. As águias, que tinham percorrido vitoriosas toda a Europa, voltaram nos emblemas e nos mastros das bandeiras. De qualquer maneira, procurou-se revocar de modo visível uma epopeia que ninguém na França se resignava a considerar sepultada. 
          Finalmente, após este aquecimento de ânimo, o presidente fez com que lhe oferecessem oficialmente a coroa imperial e não controlou oposição alguma, e até o plebiscito que ratificou a decisão foi absolutamente unânime. Subia, assim, ao trono, Napoleão III; terceiro porque se considerava válida a abdicação de Napoleão I em favor do filho, ocorrida em 1814, em Fantainebelau, e não aceita pelos aliados vencedores. Napoleão II, tendo vivido sempre em Viena, com o título de duque de Reichstadt, morrera de tuberculose pulmonar, com pouco mais de vinte anos, quando todo o seu ser tendia para uma emulação da glória paterna. Napoleão III não tinha, certamente, a têmpera nem a excepcional sorte de seu grande predecessor, mas era um homem ambicioso, inteligente e capaz, e sua política interna e externa não foiu mais do que uma confirmação destes seus dotes. 
            Portanto, o segundo golpe de estado acontecera com o consentimento da grande maioria dos eleitores, e, assim, Luis Napoleão III, tornou-se imperador dos Franceses; sua residência transferiu-se dos Campos Elísios para as Tulherias. 
            O desejo de reerguer o prestígio da França e de seguir os feitos de seu predecessor, levou Napoleão II a tentar empresas militares. A primeira foi a campanha da Crimeia, que viu lado a lado os Anglo-Franceses e Piemonteses. 
               Como vimos, Luis Napoleão subira ao trono da França mediante um aparente golpe de força. Na verdade, a oposição fora menosprezada e os consentimentos eram quase gerais. A política interna de Napoleão III correspondeu, de fato, às esperanças de seus partidários e de todo o povo francês, consolidando em poucos anos o orçamento do país, encorajando iniciativas industriais e científicas. As liberdades políticas eram limitadas, mas, segundo alguns sociólogos, nem sempre o gozo desta liberdade constitui o bem supremo para uma nação. Por outro lado, se nos primeiros anos do segundo império, mais ou menos até 1800, a oposição era praticamente impossível pela estrita vigilância da censura na imprensa, no segundo decênio, as reformas em sentido estritamente liberal multiplicaram-se. As sessões da Câmara, a princípio conhecidas apenas pelo público através da uma censuradíssima exposição dos atos administrativos, tornaram-se públicas. As associações liberais ou, antes, antimonárquicas, atentamente vigiadas ou mesmo dissolvidas pela polícia até 1862, floresceram em toda a França, mantendo profícuos contatos com as co-irmãs estrangeiras e imprimiram jornais violentamente antigovernistas (m "A Lanterna", dirigida pelo ex-exilado Rochefort, Napoleão era objeto de duríssima sátira). A "Internacional Socialista", sufocada, nos primeiros anos do império, retomou vigor com a tácita aquiescência do governo. Então, se no primeiro decênio houvera uma quase absoluta supressão da liberdade de imprensa, de associação e de palavra, o governo de Napoleão soube,depois, afrouxar as rédeas e conduzir o Estado  francês àquela bitola de liberalismo iluminado, que os tempos impunham. A Europa, agora, já não mais estava decidida a tolerar monarquias absolutas ou ditaduras; a voz de Carlos Marx abalara o milenário torpor do "quarto estado", o proletariado inculto e explorado, e tornara-o consciente dos seus direitos; a burguesia, nascida da Revolução Francesa, já consolidara seus postulados de livre comércio de ideias e de bens, e, quisessem ou não os monarcas absolutos, tinha nas mãos os destinos das nações, além do seu bem-estar material. 
            Muitos dos progressos econômicos e sociais, muitas das inovações no campo da indústria, das comunicações, da escola, que dão brilho ao reinado de Napoleão III, são devidas, mais que a uma política particularmente sábia, à natural evolução dos tempos; é fato, todavia, que especialmente no  segundo anos do seu reinado, o Imperador soube dar um notável impulso a estas iniciativas e que muitas delas são de inscrever-se, se não ao seu intuito pessoal, à sua agudeza em escolher os próprios colaboradores. Doutro lado, é muito conhecido que a ausência de qualquer oposição, típica dos regimes autoritários, favorece a rápida atuação de projetos, que as longas discussões parlamentares arrastariam por muito tempo; assim como permite verificar-se erros, geralmente  colossais ou trágicos, que muitos vêem, aproximar-se, mas aos quais ninguém põe reparo. A guerra da Crimeia foi uma das empresas sábias de napoleão, que, porém, na política exterior, deixou-se levar demasiado pelos seus sonhos de grandeza, geralmente nada sensatos, e submeteu a França à empresa, de onde ela saiu, no fim, derrotada. 
             A companhia da Itália, mesmo facilitando imensamente a desforra do Piemonte e do povo italiano, não fez senão enfraquecer a Áustria, com grande vantagem pára a nascente potência prussiana e, portanto, potencialmente, a dano da França. Napoleão, depois, desiludiu os patriotas italianos, com o brusco armistício de Vilafranca e com a decidida oposição francesa à ocupação de Roma. Por uma espécie de revide contra a Inglaterra, Napoleão III favorecia a anexação de parte da Prússia, da grande província dinamarquesa do Schleswig-Holstein. 
            A política napoleônica foi totalmente errada ao intrometer-se nos negócios da América do Norte; primeiro, durante a Guerra de secessão, ele concedeu seu apoio aos estados Confederados, apostando abertamente no "cavalo perdedor". Depois, e isto foi mais grave, organizou a malfadada expedição ao México, de Maximiliano de Habsburgo. Toda uma política, portanto,fundada em quimeras, sobre risíveis ambições de glória, sobre ingênuos romantismos e sobre muita retórica. Uma retórica, porém, que custava sangue e estava destinada  a custar sempre mais. Bastante feliz, entretanto, a política colonial, que conduziu á ocupação da Síria, do Líbano, do Sião. Era a época favorável aos grandes avanços nas colônias, e a França tomou, com os demais países europeus, uma forte porção, a ótimo preço e sem qualquer trabalho. Mas agora, o segundo império já estava no fim. O tocar dos canhões de Sadowa já lhe preanunciavam a agonia. 
             Em 13 de janeiro de 1858, quando Napoleão II seguia de carruagem para a ópera, foram lançadas contra ele três bombas, que fizeram um massacre entre as multidão, mas que deixaram o imperador milagrosamente ileso. O autor do atentado, Felice Orsini,italiano, era mazziniano. Ele pagou com a morte, enfrentada corajosamente, sem louco gesto. 
              Outros fatos importantes dessa época que precisam ser ressaltados foram: 
 1 - Sob o segundo império, a política colonial teve um enérgico desenvolvimento. Na campanha levad a efeito contra a China, pára que esta abrisse seus portos ao comércio europeu, o general Guillaume derrotava, em Pa-li-k'iao, o exército chinês. Assim, três  meses depois do início das hostilidades, Pequim era ocupada.  
 2 -  Lá pelos fins do século XIX, surgiram, na Síria desordens causadas pela intolerância dos Muçulmanos, que realizaram ferozes massacres de Cristãos e destruíram-lhes as igrejas. Para restabelecer a paz, Napoleão enviou uma expedição militar, que conseguiu obter para o Líbano uma certa autonomia, sob um governador católico. 
 3  - Uma das mais infelizes iniciativas de Napoleão  foi a de oferecer a Maximiliano de Habsburgo o Império do México, prometendo-lhe seu auxílio. Mas, devido a complicações internacionais, as tropas francesas foram obrigadas a retirar-se, e o infeliz Maximiliano, tendo caído prisioneiro dos rebeldes, foi fuzilado em Queretaro, em 19 de junho de 1867.
  4 - A campanha de 1859 foi o período mais glorioso para o Imperador; seus exércitos, descendo à Itália como nos tempos de Napoleão I, derrotaram os austríacos, com o auxílio  do exército piemontês. Mas, na realidade, os resultados foram muito menos brilhantes para a França que para o novo Estado Italiano, que então nascia. 
              A Guerra Franco-Prussiana
             Em 1848, os rebeldes tudescos tinham oferecido a coroa imperial da Alemanha a Frederico Guilherme IV, rei de Prússia, mas este recusara; um Hohenzollern, herdeiro das mais rígidas tradições feudais, não podia aceitar o reino de um grupo de burgueses revoltosos,  ainda que esse reino houvesse sido, sempre, a maior aspiração  sua e da sua Casa. E, até, foi justamente graças ao seu valioso militar que as rebeliões foram sufocadas em vários estados; desta atitude, intransigente e anti-reformista, a Prússia contava obter o favor dos príncipes alemães, e, como se viu mais tarde, o predomínio sobre os estados da Germânia. Nada obteve, porém, apesar de suas lisonjas e suas tentativas, sobretudo pela oposição manifestada pela Áustria. Mas eis que, alguns anos depois, se verificaram fatos que mudaram completamente a situação. A Áustria era batida na Itália pelos Franco-Piemonteses e, se não enfraquecida - tratava-se de uma pequena guerra, terminada rapidamente, sem grandes perdas -, saíra do choque diminuída em seu prestígio e no território; na Prússia, o rei Guilherme I, sucessor de Frederico Guilherme IV, confiava as rédeas do Estado a um homem de rija têmpera, o príncipe Oto Bismarck, típico expoente da casta dominante na Prússia, férvido adepto do centralismo e do absolutismo monárquicos, favorável à força como principal meio para atuar um plano de breve vencimento, que levaria a Prússia e a dinastia dos Hohenzollern ao domínio de toda a Alemanha. De todo despido de escrúpulos acerca dos direitos dos seus vizinhos, ele se serviu do compacto e magnífico instrumento que era o exército prussiano como de um formidável ariete para abrir, ao seu rei, caminho para a grandeza imperial. E conseguiu-o, devemos dizê-lo, sem excessiva fadiga. A marcha começou rumo ao norte; contra a Dinamarca, para arrancar as duas províncias do Schleswig e Holstein, Bismarck obteve aliança da Áustria, que cegamente se meteu numa em presa de onde apenas receberia prejuízo. A Guerra de 1864 foi, naturalmente, breve e desastrosa para o pequeno país escandinavo, que precisou ceder os territórios contestados ao vencedor, que passou a administrá-los. Foi justamente esta repartição que trouxe á tona os primeiros graves dissabores entre Áustria e Prússia. Certo de que a França não se moveria, Bismarck acentuou pesadamente essa dissidência, chegando a exigir, abertamente, a união de todos os Estados alemães sob o cetro prussiano. A primazia da Áustria, tão dificilmente mantida durante tanto tempo, estava para ruir. E ruiu mesmo, miseravelmente, poucos meses depois, ou seja, quando os Habsburgos quiseram conter pela força a expansão do poderio prussiano. O field-marechal austríaco Benedek, que marchou por ordem de Francisco José, contra as maciças forças de 
Von Moltke, viu desenhar-se o desastre e nada pode fazer para impedi-lo; em Sandowa, em julho de 1866, o exército austríaco sofreu um revés tão forte que não deixou vislumbrar mais nenhuma esperança. Magro consolo foram,. para a Áustria, as vitórias de Lissa e Custoza, obtidas contra um exército desorganizado, pouco preparado e mal dirigido como era o italiano (a Itália, como é sabido, era então aliada da Prússia). 
             Após haver tolerado, e quase favorecido, aquela ascensão, Napoleão II encontrava-se agora, além do reno, diante da maior potência militar e industrial que jamais aparecera na Europa. Compreendendo, muito tarde, o perigo, tentou correr aos anteparos, mas depois ofereceu, ele mesmo,m a Bismarck o "casus belli", opondo-se à eleição ao trono espanhol de um príncipe tudesco. Ante a recusa de Bismarck julgou-se no dever de declarar guerra. 
            Em 3 de julho de 1866, perto da aldeia de Sadowa, travava-se uma decisiva batalha entre austríacos e prussianos. Estes comandados pelos famoso general Von Moltke,  conseguiram, com um só dia de incessante luta, cercar as posições do inimigo e pô-lo em fuga. Todavia, a brilhante resistência da artilharia austríaca causou graves perdas aos atacantes.
          Os prussianos iniciaram a ofensiva nos primeiros dias de Agosto e, em dois dias, varreram o grosso das tropas francesas da Alsácia, repelindo-as para atrás dos baluartes de Metz, abrindo caminho rumo a Paris.  Em 18 de agosto, os alemães estão sobre Verdun, em 30, batem De Fally, no Mosa, e, a 31', rechaçam Mac Mahon, em Sedan; a 1º de setembro, esmagam-nas em campo aberto, e, no dia seguinte, Napoleão se rende. Pouco depois, depõe as armas, também, Bazaine, que, encurralado em Metz, com o grosso exército, em vão tentara quebrar a garra prussiana. Vendo que as coisas estavam mal paradas, os Parisienses foram rápidos em separar suas responsabilidades  das de Napoleão III e em declarar, ainda uma vez, a República, decididos a defender-se. Realmente, os Tudescos atacaram a cidade por todos os lados, bloqueando-lhe os abastecimentos e levando à fome. Por três meses ainda se arrastou a guerra, o tempo suficiente para que os Tudescos abafassem todos os focos de resistência, nas várias regiões, e tomar Paris, sem destruí-la. Uma das raríssimas vitórias francesas foi a obtida por Garibaldi, perto de Jijon. Quando a França capitulou definitivamente , em janeiro de 1871, Guilherme I não era mais rei da Prússia, mas Imperador da Alemanha. 
               Outros fatos importantes dessa época foram: 
1  -  Durante a guerra de 1866, a 19 de julho, a Marinha Italiana sofreu uma séria derrota para a frota austríaca, em Lissa, tornada ainda mais grave pelo fato de que os inimigos, pelo número  e qualidade de navios, eram bem inferiores aos Italianos. A nave capitânia, "Rei da Itália", tendo sido avariada no leme, não pode evitar o esporão da "Ferdinand Max", comandada pelo jovem almirante  Tegetthoff, e afundou quase no mesmo instante, com o flanco arrobado. 
2  -  A batalha de Sedan (1º de setembro de 1870) é considerada uma das mais importantes da História, porque influiu decididamente sobre o destino da Europa inteira. O exército francês, mal prepartado e pior comandado, deixou-se bater pelos prussianos, na pequena fortaleza de Sedan, onde foi obrigado a render-se. Napoleão III entregou sua espada a Guilherme da Prússia. 
             A Grã-Bretanha, única entre as grandes nações européias, durante toda a segunda metade do século XIX, apresenta um panorama de paz e de crescente prosperidade, rompido apenas por pequenas guerras periféricas. A Guerra da Crimeia, a estranha e breve guerra, travada por motivos que não estavam claros nem aos próprios combatentes e que aproveitou, entre todos, somente ao Piemonte, foi a última que viu a Grã-Bretanha  em campo, ao lado das outras nações. O governo inglês resolveu participar talvez - que não pareça um paradoxo - somente porque, após quarenta anos de paz ininterrupta, o povo sentia a necessidade de uma empresa de força, de algo que o reanimasse; e a campanha serviu somente para demonstrar a antiquada pobreza do armamento e da organização militar britânica (que a teimosa obtusidade do duque de Wellington quisera conservar imutável desde a época napoleônica) e a necessidade de adequar aos princípios modernos os serviços sanitários do exército (renovados, na ocasião, pela heroica abnegação  de Florence Nightingle) . Depois de então, a Inglaterra conservou um salutar afastamento das questões que ensanguentavam o continente. Realmente, enquanto os povos europeus se batiam nas barricadas, para arrancar aos monarcas absolutos algum farrapo de liberdade, o príncipe Alberto da Saxônia Coburgo Gotha, consorte da rainha Vitória (um rei sem coroa, que viveu na sombra, mas que contribuiu, com constante sabedoria de conselhos, pata iluminar a imperialística política da Rainha), organizava a primeira exposição industrial do mundo; a livre e pacífica Inglaterra mostrava á Europa em efervescência como a ordem e o respeito pelos direitos humanos podem perfeitamente conciliar-se e produziu bens tangíveis.
             Os domínios de além-mar, fonte sempre crescente de benesses para a metrópole, iam lentamente se estendendo e consolidando. No maior e mais rico desses domínios, a Índia, a Inglaterra julgou-se no dever de prosseguir na mesma política liberalizadora que vingava nas ilhas, estendendo aos nativos todas as possibilidades de instrução e de autoconhecimento, que eram acessíveis aos Ingleses. Intervindo para dominar os bandos de Maratas e de outros que infestavam toda a Índia central, os Britânicos asseguraram-se todos os direitos de protetorado sobre a maior parte dos reinos hindus independentes, preparando-lhes a futura anexação de fato. As escolas, as ferrovias, a rede telegráfica e postal, a vigilância sobre as estradas  e a abolição de ritos ferozes, como o uso de queimar ,vivas, a viúvas na pira do marido defunto, foram outros tantos benefícios que encaminharam o país para a independência. 
               Em 1857, os Ingleses tiveram que enfrentar a única séria dificuldade que se lhes apresentou em seu campo expansionista: a revolta dos sipaios, as tropas indígenas da Companhia das Índias (como se sabe, a Índia era administrada diretamente pelo governo, mas por uma Companhia). A revolta foi dominada em poucos meses, embora houvesse levantado contra os invasores meio país. Mas, as "atrocidades" cometidas pelos ingleses nessa contingência (muitas das quais reais e semelhantes ás que se verificavam em todas as guerras, sobretudo nas colônias) foram, depois, exploradas pela propaganda antibritânica, toda vez que se apresentou ocasião. 
               Na verdade, a grande revolta deflagrada na Índia contra os Ingleses, ocorreu em 1875, quando pôs em perigo toda a paciente obra de conquista com que a Companhia das Índias se apoderara do imenso território. Todavia ela não alcançou o objetivo visado, porque não soube unir os esforços de todos os rebeldes, e a guerra resumiu-se no assédio de Déli, que foi ocupada pelos Ingleses, após longa luta. 
              Após haver-se empenhado - mas não muito, porque a rebelião foi dominada pelas tropas aquarteladas na Índia, quase sem necessidade de socorros metropolitanos - em defender e ampliar seus domínios de além-mar, a Grã-Bretanha assistiu, mas com sincera simpatia, aos progressos da unificação italiana. Uma explosão de aplausos saudou a empresa dos "mil" de Garibaldi, e voluntários ingleses chegaram à Sicília, em auxílio do general nicense. A improvisa expansão da Alemanha de Bismarck apanhou os Ingleses desprevenidos. Os Tudescos eram considerados soldados medíocres, bons, quando muito, para desfiles, e certamente não se pensava que pudessem representar algum perigo; a rainha Vitória, de origem germânica, simpatizava por eles. A derrota da Áustria e depois a da França (a França, erradamente, era ainda o espantalho dos ingleses), fizeram com que todos mudassem de ideia, mas não despertaram alarma quanto a uma futura política expansionista da germânia, seja militar, seja comercial, a dano da Grã-Bretanha. Entrementes, lentamente, mas com ponderável decisão, a Inglaterra vinha atuando, graças a homens como Palmerston, Gladstone e depois Disraeli, as reformas que deviam transformar a nação numa verdadeira democracia; o direito de voto, graças a Bright e Gladstone, era estendido aos operários; livros, jornais, através de uma regulamentação do preço do papel, eram postos ao alcance de todos; a Instrução, prêza a absurdos esquemas medievais, era de acordo com o figurino alemão; e finalmente, Gladstone tratava de resolver aquele labirinto de problemas políticos, religiosos e sociais, que era a questão irlandesa. Mas agora, já terminada a guerra franco-prussiana, toda a Europa se preparava para gozar de um longo período de paz e, a Inglaterra, para atingir o máximo de seu poderio. 
               Outros fatos importantes dessa época a serem lembrados: 
1 -   A Inglaterra foi a primeira nação da Europa onde ocorreu, no século XIX, o grande desenvolvimento industrial, com relativa formação de grandes massas de operários. Suas penosas condições de vida, porém, bem cedo deram lugar a agitações, que mais tarde se transformaram nos primeiros sindicatos operários. 
2 -    Um dos mais longos reinados que a História relembra foi o britânico, da rainha Vitória, que durou quase sessenta e três anos. Ela foi a mais representativa figura da época e governou seu país através do mais glorioso período de sua expansão. ua visita a Napoleão II, em paris, consolidou a amizade franco-britânica.
3  -    O ministro inglês Benjamin Disraeli era um judeu de origem veneziana. De 1874 a 1889, ele imprimiu à política exterior  da Grã-Bretanha uma atividade mobilíssima, que fez dessa nação a maior potência do mundo de então. 
             Na França, o grande acontecimento do século XIX foi a 3ª República. Este século, como se viu, reservara á França um destino político extremamente variado e nem sempre favorável; duas vezes, à distância de poucos decênios, o país enfrentara o pavor de uma guerra de  caráter europeu, e duas vezes fora derrotado. Mas, se contra Napoleão I todo o continente tivera que reunir suas forças, contra seu sucessor, a Alemanha sozinha vencera facilmente, destruindo, em poucos dias, o mito do poderio militar francês. O orgulho nacional sofreu terrível golpe, e desde 1871, encontravam fácil aplauso os demagogos que sonhavam com a "revanche"; duas províncias, a Alsácia e a Lorena, tinham sido arrancadas à mãe-pátria pelo tratado de paz e constituíam um foco de irredentismo, que encontrava eco imediato no coração de todos os Franceses. A derrota de 1870 perturbara não somente a economia, mas também as estruturas sociais e o ânimo dos franceses: o primeiro governo da nova República, que tinha à testa Adolfo Thiers, foi obrigado a enfrentar  uma situação financeiramente desorganizada e politicamente tumultuosa. Já sabíamos como as ideias marxistas, de 1848 em diante, houvessem conquistado largas camadas da população operária de toda a Europa, promovendo a formação de numerosos partidos socialistas; ao lado dos socialistas, geralmente em franco contraste entre si, embora propugnando, em parte, o mesmo programa social, tinham-se desenvolvido as "Internacionais" ou anarquistas. 
           Eles, diferentemente dos Marxistas, que aspiravam à libertação das classes exploradas, pregavam a confraternização dos homens, superando as diferenças nacionais, num ideal de absoluta paridade de direitos; a abolição da propriedade, reportando-se ao estranho princípio de Proudhon ("a propriedade é um fruto" ), a reviravolta e o aniquilamento de todas as instituições políticas e religiosas; e tentaram realizar seu programa pela única maneira possível, através da revolução. As idéias dos anarquistas, cujo máximo expoente era o russo Bakunine, fermentaram na França, entre elementos exaltados. 
             Surgiu, assim, graças a um punhado de agitadores de todas as tendências, a "Comuna" de paris, que derivava seu nome do governo municipal da grande Revolução.Encontrando eco entre as classes de descontentes, os "comunardos"(comunistas) conseguiram apoderar-se da capital, obrigando Thiers a refugiar-se em Versalhes, com o governo e o exército. As hostilidades principiaram  em março de 1871; os comunardos (pessoas que fazem parde de uma comunidade) recrutaram, à força, a população e opuseram, durante quase dois meses, uma violenta resistência aos exércitos regulares que tinham atacado Paris; em maio, as tropas de Mac-Mahon entravam na cidade e, durante uma semana, as ruas e as praças ficaram alagadas de sangue, enquanto esplêndidos edifícios ardiam em chamas, destruídos pela fúria vandálica dos comunardos. Um mes depois da entrada dos Tudescos em paris, em 18 de março de 1871, explodiram, na cidade, as desordens dos comunardos. A revolta terminou em maio, com a chamada "semana de sangue", durante a qual os soldados de Mac-Mahon fuzilaram muitíssimos insurretos. Durante a luta, foram incediados alguns dos mais antigos e históricos edifícios da cidade, como o "Tulherias" e o "Hotel de la Ville". Habituada a revoluções, derrotas e mudanças de governo, a França, com o poder de recuperação típico dos velhos povos, restabeleceu-se rapidamente do desastre militar e da rajada comunarda; os quarenta anos seguintes estavam destinados a ser os mais prósperos, de modo a consolidar, estavelmente, a Terceira República, tanto no interior como no exterior. Em 1869, tinha sido aberto o Canal de Suez; a França, principal artífice da empreitada, não soubera, ou não pudera, aproveitar para estender sua já notável influência, no Oriente Médio e no Egito, mas, poucos anos depois, se desforrava, ocupando a Tunísia, o que foi fonte de discórdia com a Itália, que já havia posto suas miras naquele território. O Canal de Suez foi inaugurado em 17 de novembro de 1869, graças ao qual os navios europeus podiam atingir a Ásia num espaço de tempo bem mais breve do que antes. As dificuldades da obra tinham sido, também, de ordem política, porquanto a Inglaterra e a Turquia se haviam demonstrado algo desfavoráveis ao corte do istmo. (Istmo é o corte que separa o o Mar Mediterrâneo do mar Vermelho, ligando o continente africano ao asiático). 
             Outra fonte de desacordo com a Itália, naqueles anos, foi a atitude nitidamente favorável ao papa, assumida pela França, na questão de Roma, e a aberta violação, de parte do governo italiano, do tratado estipulado com Napoleão II; finalmente, a entrada da Itália na Tríplice Aliança (com a Áustria e a Alemanha) impeliu a França a compor seus velhos dissídios com a Inglaterra e alcançar as bases da "Tríplice Entente". No interior, os movimentos anti-conservadores, socialistas, radicais e, portanto, anticlericais, ganhavam, sempre mais terrenos; à arenga em que as diversas tendências explodiram e se bateram, por muitos anos, com a definitiva vitória dos radicais e dos socialistas, foi, a bem dizer, estranho, um processo por traição; um desses processos que interessam durante anos  a uma nação e que tomou o nome de "o caso Dreyfus", do nome do acusado (um oficial de artilharia francês, acusado de haver transmitido documentos aos Tudescos, condenado e depois reconhecido inocente); a revisão do processo foi, principalmente, a obra do escritor Zola e dos radicais-socialistas. Este fato teve enorme repercussão em toda a França e no exterior. A condenação do capitão Alfredo Dreyfus, aconteceu em 1894, era acusado de espionagem em favor da Alemanha. Foi a corajosa iniciativa do escritor Emílio Zola que conduziu a revisão do processo, após alguns anos de luta encarniçada contra os meios conservadores, então no governo. 
              O século XIX viu o enorme desenvolvimento do ferro em todas as suas aplicações como,  por exemplo, as estradas de ferro e a construção da Torre Eiffel, esta conduzida brilhantemente  pelo engenheiro Alexandre Gustavo Eiffel, com 300 m de altura,  para a exposição mundial de 1889. Teve muita discussão entre os que eram a  favor e os contrários, mas daí por diante, constitui um elemento inconfundível de Paris.

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sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

LESTE EUROPEU - IMPÉRIO OTOMANO - AUSTRIA E RÚSSIA

 


                  A partir dos anos 1650 a ameaça otomana à Europa diminuiu até desaparecer. O sultão Mehmed IV, em cujo reinado o império otomano fez sua grande investida militar no Ocidente, subiu ao trono em 1648, assim que o tratado da Vestfália pôs fim à Guerra dos 30 anos, até a divisão final da polônia em 1795, várias guerras, mudanças de fronteiras, alianças e movimentos populacionais alteraram o equilíbrio de poder no Leste Europeu.
          A dinastia dos grandes vizires recrutados na família Köprulü ainda tentou recrutar o poderio do império que, porém, já estava defasado em relação às diversas inovações militares dos rivais europeus. A batalha de São Gotardo, em 1664, mostrou a superioridade militar dos austríacos. O fracasso otomano no segundo cerco de Viena em 1683, graças à coalizão liderada pelo rei polonês João III Sobieski   (1674 a 16906)m , evidenciou a fraqueza turca. 
           Porém, os otomanos foram bem-sucedidos contra Veneza na retomada de Límnos e Tenedos (Bozca Ada) por Köprolü Mehmed Pasa, em 1657, e com a tomada de Creta, em 1669; mesmo perdendo terreno na Hungria, em 1690 o grande vizir Fazil Mustafá Pasa retomou Nis e Belgrado. A Sérvia, perdida para a Áustria, foi recuperada  nos combates de 1737/39. Houve até um período de paz no século XVIII (1748/68). 
         Mesmo assim, o número de fracassos otomanos foi bem superior ao de êxitos, Foram várias derrotas importantes, como por exemplo, para o príncipe Eugênio de Savóia em Zenta, em 1697, quando cadáveres turcos formavam ilhas no rio Tiza, e em Peterwadeia, em 1716. Eurgênio conquistou Temesvar e, no ano seguinte, Belgrado. Após os acordos de paz de Carlowitz (1699), Prut (1711), Passarowitz (1718), Belgrado (1739), Küçük Kaynarca (1774) e Jassy (a798), os otomanos ficaram sem a Hungria, Banat, Transilvânia e Bucovina. Também perderam para a Rússia a costa setentrional do mar Negro, do rio Dniester ao Cáucaso. Os russos exigiram que o tratado de Küçük  Kaynarca concedesse ao czar  o direito de defender os interesses ortodoxos em terras otomanas, o que culminou com a Crise Oriental de 1853 e a Guerra da Crimeia entre 1854 e 1856. 
             A reconquista da Hungria, junto com as aquisições posteriores à Guerra da Sucessão Espanhola, elevaram os Habsburgos austríacos ao status de grande potência. Mas territórios não significava força. A nobreza húngara resistia a um maior controle absolutista, o que deteve o desenvolvimento do país. Grandes áreas foram devastadas e despovoadas durante as guerras turcas e o principal feito econômico do período foi a recolonização da terra pelos imigrantes, muitos do sudoeste da Alemanha. As primeiras colonizações fracassaram, mas quase 50.000 imigrantes chegaram nas décadas  de 1760 e 1770, e mais 25.000 na década  de 1780. Suas técnicas tornaram a agricultura  mais intensiva e diversificada. 
            A verdadeira fraqueza dos Habsburgos foi revelada com o fim da linha sucessória masculina em 1740. Foi o sinal para que Frederico II da Prússia ocupasse a industrializada província austríaca da Silésia. Apos o tratado de paz de Aix-la-Chapelle, de 1748, Maria Teresa reformou seu exércitos e sua administração, incentivando o desenvolvimento econômico e se aliou à França e à Rússia. Mas a amarga Guerra dos Sete Anos (1756/63) não conseguiu lhe devolver o território perdido. A Prússia surgia como rival, desafiando a tradicional primazia da dinastia dos Habsburgos na Alemanha. 
            A participação bem-sucedida de João Sobieski na aliança contra os turcos encobriu temporariamente a desintegração da Polônia, processo que prosseguiu até o século XVIII. O desastroso reinado de João II Casimiro Vasa (1648/68) testemunhou a rebelião dos cossacos ucranianos, que aceitaram a suserania russa em 1654, e uma invasão cossaco-russa que separou a maior parte da Polônia Oriental. Os suecos, sob o governo de Carlos X Gustavo, ocuparam o norte da Polônia e a Lituânia (16550, até um bem-sucedido contra-ataque polonês. Os russos também foram expulsos, mas mantiveram Smolensk e Ucrânia Oriental. A Guerra Civil e a agitação cossaca continuaram até 1687, quando foi assinado um tratado de paz com a Rússia. 
            Quando Sobieski morreu, em 1696, 18 candidatos saíram em busca dos votos dos nobres, que tinham direito de eleger uma monarquia para a Comunidade Polonesa-Lituana. O vencedor foi Augusto, o Forte, da Saxônia. Ele reinou até 1733 como Augusto II. Sua ambição de tomar a Livônia da Suécia desencadeou a Grande Guerra  do Norte (1700) em aliança com Pedro, o Grande, da Rússia. Os suecos, sob o governo de Carlos XII, devastaram a Polônia , destruindo um terso das cidades e forçando a abdicação temporária de Augusto. O verdadeiro vitorioso foi Pedro I, que devolveu o trono a Augusto, mas tomou a Livônia. Um pântano foi drenado para que São Petersburgo fosse fundada como um porto de águas quentes. A nova cidade tornou-sea capital da Rússia em 1715. 
           Em 1733, um candidato apoiado pelos franceses foi eleito rei da Polônia, mas as tropas russas e saxônicas levaram o filho  de Augusto ao trono como Augusto III. A Polônia já não era uma potência militar na Europa Oriental. Com a tomada da Silésia por Frederico II, a Prússia passou a controlar seus pontos de saída do comércio para a Europa Ocidental, embora a Polônia tivesse acesso ao Báltico por Danzig. 
         O declínio da Polônia foi contrabalançada pela ascensão da Rússia, que colocou exércitos em território polonês e usou portos poloneses na Guerra dos Sete Anos. Augusto III morreu em 1763 e Catarina II da Rússia levou Stanislas Poniatowski II ao trono (1764/95). Mas sua intervenção nas divisões religiosas da Polônia acabaram provocando uma guerra civil e incentivando  a Sublime Porta otomana a declarar guerra em 1768, com o objetivo de deter o iminente avanço russo. Esta guerra revelaria a extensão total do poder militar  russo. Os exércitos russos avançaram pelos principados do Danúbio; a marinha, aparecendo pela primeira vez no Mediterrâneo, destruiu a frota turca em Chesmé (1770) e a queda total do império Otomano parecia certa. A partir de então, o Oriente tornou-se tema principal dos assuntos europeus, á medida que cada grande potência tentava assegurar-se de que os reinos otomanos não caíssem intactos nas mãos de outra. 
          A presença de forças russas perto da desembocadura do Danúbio em 1770 provocou a oposição da Áustria, que tentou envolver a Prússia em um bloco anti-russo. Frederico II, com muito a perder e pouco a ganhar com um conflito nos Bálcãs, propôs a primeira divisão polonesa, deslocando o conflito para uma área monde teria chances  de vitória.  Deste modo, a polônia pagou o preço pela moderação inicial russa em relação á Turquia. Outras perdas vieram em seguida. Após a anexação da Crimeia em 1783, o êxodo dos tártaros, que preferiam viver sob o domínio turco, abriu à colonização russa terras vastas e férteis. 
           A ofensiva seguinte da Rússia contra a Turquia (1787/92 provocou a oposição  britânica. Mas, com o tratado de paz de Jassy em 1792, a Rússia conquistou a costa entre os rios Bug e Dniester, e o controle do comércio na bacia do Dniester. 
          A deflagração da Revolução Francesa diminuiu a influência da França no Leste  Europeu. E quando a Polônia promulgou a  Constituição de 3 de maio de 1791 não tinha defesa contra a Rússia e Prússia, que organizaram uma segunda divisão em 1793. Após a revolta polonesa de 1794, Rússia e Prússia, junto com a Áustria, concluíram a extinção da Polônia em 1795. 

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

REFORMAS, CONTRA-REFORMAS E GUERRAS RELIGIOSAS NA EUROPA

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             Desde o início dos tempos modernos, a religião ocupava um lugar de destaque na vida européia. Dignificava os atos do nascimento e batismo até a morte e enterro, e encenava com a esperança da salvação. Por volta de 1500, a necessidade de renovar a crença na vida após a morte parece ter sido crucial. 
                De início, esta revitalização  espiritual ocorreu nas igreja existentes: Igreja Católica Romana, no Ocidente, e igreja Grega Ortodoxa, no oriente, com fronteiras passando pela Polônia-Lituânia (com dois quintos de ortodoxos) e pelo leste e sul da Hungria, alcançando o Adriático, ao sul de Ragusa. Os únicos grupos importantes fora dessas duas comunidades monolíticas eramos judeus, os lolardos - pequeno grupo fragmentado de hereges ingleses - os muçulmanos no sul da Espanha e os hussitas -incluindo metade da população da Boêmia e Morávia. Assim, em 1500, a heresia quase desaparecera e sem rivais importantes, a Igreja católica tornara-se indulgente. O absenteísmo clerical, por exemplo, aumentou e inúmeros padres ignorantes e imorais desacreditavam a Igreja. Numa época de imensa consciência religiosa, a conjuntura de uma Igreja espiritualmente falida, mas ávida de bens materiais, explica porque uma revolução religiosa ocorreu no século XVI. 
        Em apenas 50 anos, quase 40% dos europeus aceitaram uma teologia reformada. Os primeiros reformistas apareceram na Alemanha e na Suíça de língua alemã, liderados  por Martinho Lutero (1483 - 1546) no norte da Alemanha e por Huldreich Zwinglio (1484 -n 1531 em Zurique - primeiro Estado a repudiar a fidelidade a Roma (1520) - e nas regiões vizinhas, Em 1570, de cada dez súditos do Sacro Império Romano, sete eram protestantes. estes já controlavam a Escandinávia, a Europa Báltica e a Inglaterra. A difusão era limitada na França, Espanha, Itália e Holanda e nas colônias alemãs da Europa oriental. 
            Nova onda protestante surgiu com a obra do francesa João calvino (1509 - 1564), que após 1541 pregou suas ideias na cidade-Estado de Genebra. O calvinismo progrediu logo: na França, havia cerca de cem igrejas  calvinistas em 1559 e talvez 700 em 1562; na Holanda, havia talvez 20 igrejas calvinistas em 1559 e 150 em 1566; na Alemanha , diversos Estados luteranos (principalmente Palatinado e Brandemburgo)  mudaram a religião oficial para o calvinismo; na escócia, um Estrado reformista foi fundado por lei parlamentar em 1560. A Igreja de Calvino também alcançou sucesso no leste europeu, especialmente na Polônia e Transilvânia, que toleravam a existência de outros grupos minoritários; unitários, confrades da Boêmia, anabaptistas e judeus. Na Hungria e em outras regiões sob o controle otomano, o culto católico foi proibido e o calvinismo recebeu proteção oficial. o calvinismo também ganhou mais adeptos entre os eslavos - nobres ou de classe média - do que o luteranismo. 
              Mas a tolerância religiosa era frágil. Em muitos países, incluindo o Sacro Império Romano, resultava mais da fraqueza do que da força, e só ocorria quando o estado não conseguia impor a uniformidade religiosa, considerada essencial á sobrevivência política. As crenças conviviam até que os governos se tornassem fortes para impor um fé única a seus súditos. Nem sempre o catolicismo foi a fé escolhida.
            Nem todos os que desejavam reformar a Igreja, no princípio do século XVI, rejeitavam a autoridade do papa. Inácio de Loyola (1491 - 1556), fundador da Ordem dos jesuítas, foi um dos muitos que decidiram que a melhor maneira de alcançar a salvação seria continuar obediente a Roma e persuadir outros a fazer o mesmo. Finalmente, até o Papado passou a aceitar a necessidade de reformas e delegados de de toda a Europa estiveram presentes no Concílio Geral da Igreja, em Trento, na fronteira  entre a Itália e Alemanha. Após três sessões - (1545 a 1547) (1551 a 1552) e (1562 a 1563) - três resoluções foram tomadas: condenação dos abusos do clero; definição da doutrina precisa da Igreja - a professio fidei tridentina - e a criação de um sistema de supervisão eclesiástica para manter os padrões clericais. Foi ainda organizada uma ofensiva educacional para divulgar a ortodoxia entre leigos. 
              Com a ajuda dessa organização revitalizada a Igreja Católica começou a recuperar parte das perdas. A parcela protestante do continente europeu caiu de  40% para 20% entre 1570 e 1650. na Polônia, maior país do leste da Europa, uma sucessão de reis favoreceu o catolicismo e o número de igrejas protestantes  no país caiu de cerca de 560 em 1572 para 240 em 1650. 
           Quase o mesmo acorreu nas terras dos Habsburgos ao sul; os protestantes foram expulsos da Áustria em 1597 e da Estíria em 1600. Na França, a coroa e a Liga católica travaram batalhas, durante décadas, para conter o desafio protestante. Em 1562, talvez houvesse 1,25 milhão de protestantes na França; mas, perto de 1685, quando os remanescentes foram forçados a escolher entre a conversão ao catolicismo ou a expulsão, só existiam escassos 50 mil.
            A fase decisiva da luta entre protestantes e católicos foi travada no Sacro Império Romano. Começou em 1618 - 21, quando Fernão II, com a ajuda das tropas e do tesouro espanhóis, dos católicos alemães e do papado, derrotou os protestantes da Boêmia. O catolicismo logo se tornou a única religião permitida na Boêmia e Morávia. 
             Encorajado pelo sucesso, o imperador tentou reduzir o poder dos príncipes protestantes na Alemanha. Apesar da ajuda enviada aos príncipes da Inglaterra, Dinamarca e Holanda, as forças do  imperador saíram vitoriosas em 1629. Foi promulgado o Edito da Restituição, exigindo a devolução de áreas da Igreja controladas pelos protestantes. A chegada de considerável ajuda  militar, enviada pelo  rei Gustavo Adolfo da Suécia, salvou os protestantes alemães do colapso; as forças de Fernando foram derrotados em Breitenfeld (1631) e massacradas  em Luytzen (1632) Mas a Espanha interveio em 1634 para ajudar o imperador  e a França em 1636, para ajudar os inimigos dele, transformando a guerra em um conflito generalizado que se estendeu por quase todo o continente. As rivalidades políticas, assim como as religiosas, de mais de um século, foram decididas nas grandes batalhas de Nordlingen (1634), Wittstock (1636), Rocroi (1643) e Jankau (1645), e com a Paz da Vestfália. As fronteiras religiosas e políticas da França Central, então acertadas continuaram inalteradas por cem anos. 

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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

AS POTÊNCIAS EUROPÉIAS DEPOIS DO SÉCULO XVI

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            A característica principal da história do mundo entre 1500 e 1815 foi a expansão da Europa e a propagação de sua civilização por todo o globo. Antes de 1500, o resto do mundo exerceu pressão sobre a Europa; depois de 1500, a Europa pressionou o mundo. Próximo ao ano de 1775, existia um novo equilíbrio global . 

           Em 1500, a Europa Ocidental ainda se encontrava na periferia do mundo civilizado, ofuscada pelo Império Ming da China, o Estado mais poderoso e avançado da época, e pelos nascentes impérios otomano e safávida no Oriente Médio. Tanto em riquezas como em população, achina, com mais de 100 milhões de habitantes (superior ao total de toda a Europa), estava muito adiante, enquanto o Islã era a religião mais divulgada e encontrava-se  em expansão no cewntro sudeste da Ásia e entre os povos da África do Subsaara. 
              A a´rea ocupada pelas principais civilizações, aproximadamente equivalente á área cultivada com arado, era ainda relativamente pequena em 1.500. Mais de três quartas partes da superfície da terra estavam habitadas por povos recoletores ou pastores nômades - como na Austrália e na maior parte da Sibéria, América do Norte - ou por agricultores que não conheciam o arado, especialmente no Sudeste Asiático, África e América Central e do Sul. A agricultura com arado era muito mais produtiva, e parece provável que entre dois terços ou três quartos da população total estivessem concentrados na área relativamente pequena na qual o arado era conhecido. 
           Esta concentração, tanto de população como de riqueza, coincide com a localização das principais civilizações euro-asiáticas. A comparativa fragilidade das civilizações asteca e inca na América ou dos reinos africanos ao sul do Saara, que se destacavam em muitos aspectos, pode ser explicada em parte por seu isolamento geográfico e falta de estímulos externos, o que produziu um retardamento, como por sua dependência dos cultivos artesanais. Após 1500, quando a expansão da Europa começou pela primeira vez todos os continentes entre si, estas civilizações não euro-asiáticas foram incapazes de opor resistência. 
             É importante, entretanto, não exagerar quanto ao ritmo da mudança. Ainda que na América as civilizações asteca e inca tenham sido destruídas  em 1521 e 1535, respectivamente, o impacto político na Europa foi muitíssimo limitado antes da segunda metade do século XVIII. A china e o Japão permaneceram intactos e na Índia os europeus foram mantidos a uma distância prudente durante os 250 anos posteriores á chegada de Vasco da Gama, em 1498. Ali, como no oeste da África e no Sudeste Asiático, a presença européia esteve reduzida a feitorias comerciais ao longo da costa. A influência cultural da Europa foi inclusive mais insignificante, e o cristianismo teve pouca influência, exceto quando foi imposto pelos conquistadores espanhóis nas Filipinas e América Latina, até que no século XIX recebeu a proteção dos recursos da tecnologia ocidental. 
                 Por outro lado, os descobrimentos europeus não somente abriram novos horizontes, mas levaram a uma redistribuição das raças e até à difusão de animais e plantas, o que foi de muita importância.  A difusão das raças supôs uma expansão paralela de religiões, animais domésticos (cavalos, gado e ovelhas chegavam ao Novo Mundo vindos do Velho Mundo)  e plantas de cultivo. A difusão de plantas comestíveis - quase todas domesticadas pelo homem pré-histórico em diferentes partes do planeta - foi lenta até 1500,quando foram  transplantadas a todos os continentes. Por sua vez, os índios americanos foram os responsáveis por dois importantes cultivos: tabaco e algodão (derivados em grande parte de sua prática comercial de variedades que eles domesticaram, ainda que algumas espécies fossem conhecidas e utilizadas no oriente antes de 1500). A cana-de-açúcar, introduzida pelos europeus no Brasil e nas Índias Ocidentais ao redor do ano de 1640, também chegou a ser básica no comércio exterior. 
             Este intercâmbio de plantas originou um grande aumento no fornecimento de alimentos, tornando possível o crescimento sem precedentes da população humana nos tempos modernos.
          Foi iniciada também uma expansão no comércio internacional.  Antes de 1500, este comércio encontrava-se limitado à Eurásia e África re compreendia principalmente produtos de luxo; depois de 1500, a combinação de uma especialização econômica regional e as melhorias do sistema de transporte marítimo possibilitou a transformação do limitado comércio de artigos de luxo medieval ao moderno comércio massivo de novas necessidades. Daí, o florescente "comércio triangular" de rum, tecidos, armas e outros produtos de metal da Europa para a África; escravos da África  até o Novo Mundo, e açúcar, tabaco, prata e ouro do Novo Mundo para a Europa. 
             Foi somente no século XIX, com a abertura dos canais de Suez e Panamá e a construção das estradas de ferro transcontinentais no Canadá, estados Unidos, Sibéria e África, que as áreas e rotas comerciais, antes separadas, fundiram-se em uma economia única em escala mundial. Porém as primeiras etapas desta integração completaram-se em apenas dois séculos a partir do ano de 1500. 
              No sudeste asiático, as potencias européias continuaram seus movimentos com avanços e retrocessos em suas conquistas e expansão.  Reino Kmer. 
              No início de século XVI, a Birmânia compunha-se de quatro monarquias. AArakan (capital Myohaung); Ava birmanesa, dominando o vale principal do Irrawaddy; Toungoo birmanês, denominado o vale do Sittang; e Mon Pegu, dominando o delta do Irrawaddy e o Tenasserim. Para norte e leste de Ava, uma série de poderosos estados Shan ameaçava a independ~encia birmanesa, mas meio século depois a dinastia  Toungoo conquistou os Estados Sha e Mon.  No vale do Chao Phraya, Ayutthaya, poderoso governadore do Reino Thai, controlava a maior parte da costa oriental da península da Malásia; o reino do laos, de LKuang Prabang, estendia-se no médio e alto vale do rio Mekong. os vietnamitas de Tonquim e norte de annam anexaram em 1471 os territórios  Cha até Qui Nhon e depois incorporaram as terras restantes de Cham ao sul antes de tomar o delta do do Mekongdo Camboja, deixando Phnom Penh, a capital do reduzido Reino Khimer. No arquipélago javanês, o Império Majapahit se desmembrou em centenas de pequenos estados pouco coesos. Mas o Islã espalhava-se por Su,matra, Java, e Bornéu, principalmente a partir de Málaga, que dominava os estados malaios  da península e a costa de Sumatra. 
           Em 1511, em nome do rei de Portugal, Afonso de Albuquerque conquistou o entreeposto de Málaga (Malaca). Mas a família governante fugiu e fundou o Sultanato de Jahore no interior, com o mesmo poder que Málaga exercia sobre os estados da Malásia continental e costa de Sumatra. Portugal queria dominar o coméwrcio das especiarias através de uma cadeia de fortes  unidos pelo poder naval,  Aceh lutava em Suamatra contra Jahore pela liderança do mundo malaio. Coube à Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, fundada em 1602, conquistar os povoados portugueses.
            Os espanhóis se estabeleceram  nas Filipinas e capturaram Manila em 1571, tornando-a capital. Na época da ocupação, as Filipinas não tinham organização política, exceto os estados muçulmanos em Mindanao que, aliados aos sultões do arquipélago de Sulu, mantiveram a independência até o século XIX. De Batávia, seu quartel-general, os holandeses controlavam as Molucas e as ilhas Banda - as ilhas das especiarias. Em 1641, os holandeses tomaram Málagá dos portugueses, mas não conseguiram tomar Manila dos espanhóis. 
             Já os holandeses começaram com postos fortificados protegidos pelo poder naval. O sultão Agung de Mataram (1613 - 1646), lutando pela supremacia de Java, tentou duas vezes sem êxito, conquistar a Batávia. Após 1670, seus sucessores tornaram-se dependentes dos holandeses nas lutas pelo poder, pagando tributo com a cessão de territórios. O Sultanato de Bantam, valioso pelo comércio da pimenta, passou ao controle holandês em 1684. Os funcionários de sua rival mais fraca, a Companhia Inglesa das Índias Orientais, foram expulsos da feitoria e transferidos para o porto da pimenta de Benkulen, na costa oeste de Sumatra. Após o massacre de Amboina, em 1623, a companhia abandonou o comércio com as ilhas das especiarias e passou a depender do abastecimento indireto por Makassar, nas Ilhas Célebes (Sulawesi). Mas em 1667 essa rota foi desativada com a tomada do porto pelos holandeses. 
         As monarquias continentais de Arakan,  Birmânia, Sião, Camboja, Luang Parabang e Annam tinham pouco interesse no comércio europeu. No século 16, elas empregavam aventureiros portugueses como mercenários, mas a tentativa desses em tomar o poder na baixa Birmânia e no Camboja no fim do século gerou xenofobia. No século seguinte, o comportamento dos piratas ('feringhi') portugueses e a tentativa dos holandeses em monopolizar o comércio exterior do Sião acirrou os ânimos. Para enfrentar os holandeses, o rei Narai (1661 - 1688) e seu conselheiro grego Constant Phaulkon pediram ajuda á França. O auxílio de Luiz XIV, com a colocação de guarnições francesas em Bancoc e Mergui, gerou reação popular, que levou à mudança da dinastia governante e à expulsão dos franceses, com muitas mortes. 
             Na Birmânia, os mons se rebelaram em 1740 e elegeram seu próprio rei, em Pegu. A conquista da capital Ava, em 1752, trouxe à cena novo dirigente birmanês, Alangpaya. De Pondicherry, o francês Joseph Dupleix apoiou os mons. De Madras, os ingleses da Companhia das Índias Orientais responderam tomando o cabo Negrais e transformando-o em base naval.  Alaungpaya derrotou os mons e seus aliados franceses. Em 1755, fundou Yangon (ex-Rangum) como porto do sul da Birmânia reunificada e, em 1759, capturou Negrais dos ingleses, que abandonaram a Birmânia. 
            Nessa ocasião, a Companhia Inglesa das Índias Orientais aumentou o comércio com a China e se interessava por um posto naval mais ao sul; em 1786, adquiriu Penang do sultão de Kedah. A conquista da Holanda pelo exército revolucionário francês, em 1795, levou a Inglaterra a ocupar Málaga e vários territórios holandeses no arquipélago. Em 1811, Java foi conquistada, mas após a queda de napoleão em 1815, os ingleses devolveram os territórios ocupados aos holandeses. Os problemas continuaram quando Raffles adquiriu Cingapura para os britânicos. O conflito só terminou com o tratado anglo-holandês de 1824, que traçou uma linha divisória no estreito de Málaga. os ingleses abandonaram os povoamentos no oeste de Sumatra; os holandeses devolveram Málaga e reconheceram Cingapura como possessão britânica. Bornéu foi omitido do tratado, mas em 1840 James Brooke  assumiu o título de rajá de Saawak. 
             A dinastia agressiva do birmanês  Alaungpaya, após ter fracassado em conquistar o Sião em 1767, voltou-se para o Ocidente, conquistando Arakan, Manipur e Assam; dali ameaçoum  Bengala. A primeira Guerra Anglo-Birmanesa, de 1824 a 1826, levouà anexação de Assam, Arakan e Tenasserim pela Índia britânica, para estabilizar a fronteira nordeste da Índia. a Orizicultura de Arakan reviveu em contato com a Índia, mas a grande expansão da produção birmanesa de arroz e a exploração das florestas de teca só começaram com a ocupação britânica do delta do Irrawady, após a segunda Guerra Anglo-Birmanesa. 
          As atividades européias tiveram pouca influência sobre a economia dos estados do Sudeste Asiático, antes do século XIX, quando a Revolução Industrial criou uma demanda de matéria-prima, mercados e oportunidades de investimento. O impacto do Reino Unido foi mínimo até a fundação de Cingapura, em 1819, como porto de livre comércio. Os espanhóis tentaram isolar as Filipinas, mas os galeões de Manila, comercializando com Acapulco (México), trouxeram o dólar de prata ao comércio do Pacífico Ocidental. Após a ocupação britânica de 1762 a 1764 e a abertura temporária de manila ao comércio, os espanhóis incentivaram o cultivo do tabaco, açúcar, cânhamo e outros produtos; alguns ficaram importantes  no mercado mundial, embora Manila não estivesse oficialmente aberta ao comércio estrangeiro até 1834. 
           No primeiro estágio, portugueses e holandeses forçaram sua entrada no comércio de especiarias e seus concorrentes ingleses, a incorporação  de têxteis indianos para o sudeste da Ásia. Noséculo XVIII, holandeses iniciaram o cultivo do café em Java. Mas a política de comprar barato e vender caro  prejudicava os camponeses. O livre cultivo se manteve até 1830, quando o sistema de culturas foi introduzido e os javaneses obrigados a dedicar um quinto das terras para culturas de exportação designadas pelo governo. 
           A economia agrícola européia, nos primórdios da história moderna, desenvolveu-se lentamente, atendendo basicamente às necessidades geradas pelos crescimento da população, que passou de 70 milhões para 190 milhões entre 1500 e 1800. No noroeste da Europa, em particular na Inglaterra e Holanda, a revolução agrícola, iniciada no século XVI, produziria em 1800  um sistema de comercialização altamente eficiente. Mas, a maioria dos agricultores europeus praticava uma economia de subsistência, em propriedades de 2 a 10 hectares. A maior parte das propriedades estava dispersa entre os vilarejos. Em geral, tinham um pasto adjacente, cercado, e às vezes um pomar. As técnicas e níveis de produtividade pouco haviam mudado desde a época dos romanos e, a cada ano, os camponeses produziam só cerca de 20% mais do que o necessário para alimentar as famílias e o gado, e para armazenar sementes para a próxima safra. Cerca de 80% da população trabalhava na terra. No fim do século XVIII, na Inglaterra e Holanda, a proporção caiu para 33% na Inglaterra  em 1811, pois o desenvolvimento da agricultura permitiu fornecer os alimentos para as cidades industriais em crescimento. 
            Neste período, exceto na Inglaterra e Holanda, o progresso veio com a introdução de culturas mais produtivas, provenientes em geral da América. A batata tornou-se alimento de subsistência na Europa Ocidental. Foi primeiro introduzida na Espanha e Itália. Na Irlanda, permitiu um aumento da população de 2,5 milhões para 8 milhões. O milho americano, assim como a batata, tinha produtividade maior do que a dos cereais comuns - cevada , painço e sorgo - e foi amplamente adotado no sul da Europa.
          O trigo sarraceno, adequado a solos pouco férteis, chegou ao norte da Europa, vindo da Rússia. No mediterrâneo, antes de 1500, vieram da Ásia cana-de-açúcar, arroz e frutas cítricas. Mas a produção de açúcar declinou após 1550, devido à competição da Ilha da madeira e das Canárias e, após 1600, do Caribe e Brasil. 
             A lenta mudança das colheitas contrastava com o rápido desenvolvimento no noroeste. Os holandeses iniciaram o progresso de resgatar terras ao mar. Para não deixar  a terra sem cultivo a cada três anos (sistema tradicional), descobriram que a fertilidade podia ser mantida só pelo rodízio das colheitas, com o plantio alternado de pastos  aráveis e artificiais e plantações para uso industrial, como semente de colza, linho e vegetais para matérias corantes, especialmente a garança. O nabo, alimento das ovelhas, produtoras de adubo, carne e lã, era especialmente importante: assim como ervilha, feijão e trevo, restituía nitrogênio ao solo. |Os agricultores ingleses, encorajados por proprietários de terra progressistas, imitavam e desenvolviam inovações. A irrigação, os sistemas de drenagem e o desdobramento de florestas ampliaram as áreas produtivas; a delimitação do campo e o tratamento do solo (especialmente com esterco ou cal) incentivaram o aperfeiçoamento da lavoura. Na década de 1740, o comércio de cereais era responsável por 1/10 da renda  das exportações inglesas. 
           As  técnicas se difundiram à medida que o crescimento das cidades encorajou a especialização na produção de alimentos. A Holanda concentrou-se na produção de laticínios e, em 1700, exportava 90¢ de seu queijo. Os dinamarqueses enviavam 80 mil cabeças de gado por ano à Alemanha e as indústrias de tecido holandesas, alemães e italianas recebiam importações maciças de lã espanhola. Cresceu o intercâmbio de cereais e madeira do norte da Europa por frutas, vinho e azeite das terras mediterrâneas. Danzig (Gdansk)  e Livorno eram os principais entrepostos.  
                O aumento da produtividade dependia da desagregação das antigas relações feudais, que oprimiam os camponeses. Havia uma divisão  nítida entre leste e oeste. Antes de 1500, o feudalismo se radica com mais força nas antigas áreas povoadas da Europa Ocidental do que nas terras escassamente povoadas da Europa Oriental e da Rússia. Após 1500, a situação mudou; os camponeses do noroeste da Europa trocaram as tradicionais obrigações em serviços, devidas aos senhores feudais, pelo pagamento em dinheiro pelas terras arrendadas (especialmente na Inglaterra e Holanda) e, na França e mais ao sul, pelo sistema de propriedades arrendadas a meeiros. 
             Ao contrário, o poder feudal se difundiu no leste da Europa até se tornar quase uma forma de escravidão. Os senhores feudais ganharam poder, impedindo a migração para as terras desabitadas do extremo leste (como ocorreu na Rússia) e aumentando os lucros através da exportação de cereais (como no leste da Alemanha e da Polônia-Lituânia). Camponeses livres só sobreviviam nas novas terras conquistadas se concordassem em prestar serviço militar, em vez de pagar pelo uso da terra. 
             Os camponeses do oeste da Alemanha ocupavam posição intermediária. Em 1525, tentaram ganhar liberdade total com uma grande revolta e, por pouco tempo, controlaram a maior parte do sul da Alemanha, até seres violentamente derrotados. Entre 1600 e 1800, o camponeses alcançaram maior liberdade. Mas essa lenta emancipação atrasou a revolução industrial alemã. 
               Como já vimos, a população da Europa cresceu rapidamente no século XVI; foi contida pela fome, peste e guerra no século XVII; e não registrou crescimento rápido até meados do século XVIII. Mesmo assim, nesse período, a população total quase duplicou, e as cidades cresceram. Em 1500, apenas cinco cidades: Constantinopla (a maior), paris, Milão, Nápoles e Veneza, tinham mais de cem mil habitantes. Em 1700, este número triplicara, e Londres, paris e Constantinopla haviam ultrapassado a marca do meio milhão de habitantes. 
             Os governo estavam cada vez mais complexos; comércio e finanças se desenvolviam; cresciam o sentimento de que a sobrevivência era  mais garantida nas cidades.  Também surgiram problemas em especial a necessidade de garantir suprimentos abundantes e confiáveis. Até meados do século XVII, havia grande demanda de trigo e centeio do leste da Europa. Grandes carregamentos foram para oeste, alcançando Portugal, Espanha e Itália. Esse  comércio alimentou a crescente força econômica holandesa, que praticamente monopolizava o comércio báltico de transporte de carga.
             Armadores, comerciantes e fabricantes dos Países Baixos (Holanda), em posição de liderança, criaram as condições para uma mudança gradual, mas decisiva do poder comercial. Em 1500, a indústria continuava concentrada no estreito corredor que ia der Antuérpia e Bruges, através de Ulm e Augsburgo, até florença e Milão. Embora os artigos de lã ingleses, os de linho franceses e o ferro espanhol tivessem reputação e mercados internacionais, as atividades não-agrícolas principais - artigos têxteis, armas, papel, vidro e manufatura de roupas - concentravam-se nessa linha norte-sul. Em 1700, esse eixo havia oscilado. Em um dos lados, estavam Inglaterra e Holanda, centro dos maiores produtores têxteis, da maior frota mercante, dos mercadores mais ativos, dos mais avançados fabricantes  de navios e de produtos de metal da Europa. A leste, a linha se estendia pelas zonas de produtos de metal e artigos de lã do Baixo Reno até as concentrações industriais das colônias da Saxônia, Boêmia e Silésia. Por outro lado, as grandes cidades  mercantis do norte da Itália e do sul  da Holanda, poderosas há dois séculos, estavam quase estagnadas. 
               O avanço da tecnologia foi disperso intermitente. As fábricas de seda, movidas pela energia dos moinhos do vale do Pó, foram a maravilha mecânica do século 17, embora pouco imitadas. No início do século XVIII, a expansão da relojoaria criou um conjunto de técnicas de precisão; e abomba para minas, de Newcomen, abriu caminho para o aprimoramento da máquina a vapor. Mas a inovação fundamental da era a vapor, o condensador isolado de James Watt (1769), só terá impacto industrial no fim do século. A expansão da indústria aconteceu com maior número de trabalhadores, usando velhos métodos. Mesmo assim, a organização industrial melhorou com a separação dos processos de produção, o desenvolvimento da produção nas áreas rurais isentas das restrições urbanas e o aproveitamento parcial de mão-de-obra barata das famílias camponesas. A manufatura de lã e linho - e parte da de metal - era controlada por comerciantes, usando força de trabalho caseira dispersa. No século XVIII, esse sistema se tornara a forma típica de produção, excluindo a indústria local e de luxo. 
             Mais impressionante que o crescimento lento e irregular da indústria foi o aumento do comércio internacional. Não mais confinadas à Europa, as potências marítimas, com colônias e portos comerciais na Ásia e nas Américas, atraíram novos produtos tropicais exóticos: chá, café, açúcar, chocolate, tabaco. Eram adquiridos com a troca de manufaturados europeus. As indústrias britânicas de linho e metais prosperaram nos mercados coloniais em expansão. Com os serviços de carregamento, seguro e comércio, os portos ocidentais enriqueceram, de Bordeaux a Londres, de Glasgow a Hamburgo. Tornaram-se sede de ricas empresas  comerciais e grandes interesses navais.  
            Os governos apoiavam os setores de atividade econômica que os favorecessem. Holanda e Inglaterra travaram batalhas para proteger e expandir  interesses comerciais e navais. A França e os países da Europa Central fundaram novas indústrias e subsidiaram as  mais antigas. Mas as guerras custosas exigiam pesados impostos, com ônus sobre as classes produtoras e grandes empréstimos, que minavam a estabilidade precária dos sistemas monetários  europeus, ainda em evolução. As guerras foram nocivas para a Espanha e prejudiciais para a França e países menores. Apenas Inglaterra e Holanda mantiveram os encargos militares dentro de limites financeiros realistas. 
          Comércio e guerra também geraram uma demanda por dinheiro sem precedentes. Após 1550, as colônias espanholas do México e do Peru passaram a fornecer ouro e prata e após 1690, o ouro era proveniente do Brasil. Os lingotes eram redistribuídos na Europa pelos mercadores e pelas transações do governo espanhol, a maior parte para financiar os prejuízos financeiros europeus nas Índias Orientais e no Levante. A quantidade de moeda também aumentou graças  ao crescimento bancário do oeste da Europa; afastando-se dos antigos métodos bancários das cidades da Índia e Alemanha, dependentes dos empréstimos governamentais, os bancos holandeses e ingleses atendiam a interesses privados oferecendo operações de câmbio e de crédito a curto prazo. Por um século - quase desde a fundação em 1609 - o Exchange Bank de Amsterdã ligado aos centros comerciais de importância, foi o foco do comércio continental; a Grã-Bretanha só pode competir quando, após 1694, o Banco da Inglaterra tornou-se um centro para empresas bancárias particulares mais antigas. 
           Com baixas taxas de juros, livre movimentação de capital, pagamento de seguros internacionais e fluxo de depósitos garantido, foram lançadas as bases do sistema  financeiro moderno na Inglaterra e Holanda. 
            Até 1660, as novas monarquias da Europa não haviam se libertado da estrutura de governo que haviam herdado. Riqueza, burocracia, controle da religião e exercícios permanentes não foram suficientes para romper os padrões que caracterizaram a monarquia no período feudal. O Estado ainda dependia da boa vontade dos nobres para fazer obedecer e a incapacidade de conservar este apoio provocava revoltas (na Inglaterra, os Tudor dependiam de juízes de paz não-remunerados, proprietários de terras locais, para fazer aplicar as leis). A aristocracia francesa organizou diversas rebeliões contra a Coroa, culminando com a Fronda (1643 a 1653); parte da aristocracia inglesa se rebelou contra Elizabeth I em 1569/70 (a sublevação do norte) e muitos nobres ingleses apoiaram a resistência do Parlamento a Carlos I após 1640; nobres da Holanda se opuseram ao príncipe, Filipe II da Espanha,  em 1566, 1572 e 1576. 
             Essas rebeliões foram as mais importantes entre as que ameaçaram as novas monarquias do noroeste europeu; insurreições contra o Estado eram constantes nos éculos XVI e XVII. Algumas revoltas nasceram de ataques aos privilégios dos Estados; outras foram causadas por opressão econômica - impostos cobrados em tempos de preços altos e desemprego, como na maioria das revoltas populares da França, ou anexação de terras de uso comum, que causou as revoltas de 1549 e 1607 na Inglaterra. Outras insurreições (a peregrinação da Graça na Inglaterra, em 1536, e a Liga nacional na Escócia, em 1638) foram desencadeadas por políticas religiosas impopulares. Mas as revoltas foram uma resposta a tentativas de inovação. Jaime VI da Escócia disse, pouco antes de se tornar rei da Inglaterra em 1603, que os governos queriam "adoração a Deus, um reino governado  como um todo, uniformidade de leis". O problema eram os meios, não os fins. Nenhum soberano tinha recursos para implantar políticas tão ambiciosas. Careciam de receita e funcionários. Mesmo na França, com o mais numeroso serviço civil da Europa, a maioria dos 40 mil oficiais reais comprara o posto ou o adquirira por hereditariedade, podendo seguir um curso independente da Coroa. Tornaram-se uma casta aristocrática distinta - a nobreza de toga. 
              As barreiras para a centralização eram imensas. Muitos súditos não falavam a mesma língua dos governantes (bretão e provençal na França, córnico e galês na Inglaterra, frísio na Holanda); havia "zonas negras", inacessíveis para serem governadas com eficiência; algumas corporações, como a Igreja, tinham privilégios que as protegiam contra a interferência do Estado;províncias recém-anexadas pela coroa  estavam protegidas por cartas régias que garantiam seu mode de vida tradicional. As mais sérias convulsões políticas ocorreram quando o estado tentou minar ou remover privilégios; os holandeses se rebelaram em 1566, 1572 e 1576 em parte porque acreditavam que o governo central, controlado da Espanha, ameaçava as liberdades tradicionais; mantiveram oposição armada até 1609 quando a Espanha reconheceu a independência das sete províncias ainda rebeldes. Assim nasceu a "Rebelião Holandesa". Na Inglaterra, o Parlamento iniciou uma guerra civil contra Carlos I em 1642 por acreditar que ele pretendia destruir os direitos dos "homens livres" ingleses; esses, com ajuda dos escoceses, mantiveram resistência armada até derrubar o rei. Carlos foi julgado e executado  em 1649. A República Inglesa, que sobreviveu  por anos, logo começou a reduzir a independência da Escócia e Irlanda e criou pela primeira vez um governo unificado para as ilhas Britânicas. O filho de Carlos voltou ao trono, em 1660, com plenos poderes e até um pequeno exército permanente, mas outra revolta em 1688, apoiada pelos holandeses, levou Jaime II ao exílio e garantiu que o poder da coroa na Inglaterra nunca mais seria absoluto. na França, em bora a oposição não tenha ido tão longe, as políticas absolutistas e os impostos abusivos do cardeal Mazarino (1602 a 1661), primeiro ministro  de Luiz XIV, indispuseram os oficiais  da coroa, os nobres e os parisienses; em 1649 eles desalojaram o "rei da capital e o forçaram a fazer concessões. O controle real só foi totalmente restaurado em 1655. 
             Nos três países, porém, a estrutura do Estado sobreviveu. nenhum rebelde questionou seriamente a necessidade de governos fortes, apenas a localização desta força. "A questão nunca foi se devíamos ser governados  por um poder arbitrário, mas em quais mãos ele deveria estar", escreveu  um republicano inglês em 1653. Na Inglaterra, a grande rebelião deu origem a um estrado surpreendentemente moderno. Após 1660, e mais ainda após 1688, o poder foi repartido entre o Parlamento, representando mercadores e proprietários de terras, e a coroa; mas o poder continuou absoluto mesmo  após 1707, quando a escócia foi incorporada para formar a Grã-Bretanha. na França, o fracasso da Fronda abriu caminho para o absolutismo de Luiz XIV. Na França e Inglaterra, o último esforço para resistir à ascensão do poder central e defender a autonomia local fracassara; não haveria outras grandes rebeliões por mais de um século. Já a revolta holandesa conseguiu proteger a independência local contra os abusos centrais. A despeito da preponderância da Holanda na República, as outras seis províncias mantiveram considerável harmonia. Mas o sistema centralizado, remanescente do século XV, enfraqueceu os holandeses, particularmente na concorrência comercial com a França e Inglaterra. estavam em desvantagem num mundo que não permitia lucro sem poder, segurança sem guerra. Quando se libertaram da Espanha (a independência reivindicada em 1609 foi reconhecida em 1648), os holandeses foram atacados por terra pela França (1672/78 e 1689 a 1713) e por mar pela Inglaterra (1652/53 e 1671/74). A pressão e as despesas das guerra foram excessivas e o poder holandês diminuiu. O século XVIII e seus lucros - particularmente no mundo colonial - pertenceriam aos estados modernos recém-unificados, França e Gã-Bretanha.  

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